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ANATOMIA HUMANA Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa Acesse o seu livro também disponível na versão digital. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARBOSA, Carmem Patrícia. Anatomia Humana. Carmem Patrícia Barbosa. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2019. 312 p. “Graduação - EaD”. 1. Anatomia. 2. Humana. 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0437-3 CDD - 22 ed. 701.1 CIP - NBR 12899 - AACR/2 Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por: Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - Núcleo de Educação a Distância Diretoria Executiva Chrystiano Minco� James Prestes Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Débora Leite Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Curadoria e Inovação Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires Gerência de Produção de Conteúdo Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Gerência de Processos Acadêmicos Taessa Penha Shiraishi Vieira Gerência de Curadoria Giovana Costa Alfredo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila Toledo Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard Coordenador de Conteúdo Mara Cecilia Rafael Lopes Designer Educacional Maria Fernanda Vasconcelos, Ana Claudia Salvadego Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa Arthur Cantareli Silva Ilustração Capa Bruno Pardinho Editoração Humberto Garcia da Silva Qualidade Textual DanielaFerreira dos Santos, Pedro Afonso Barth, Ariane Andrade Fabreti Ilustração Bruno Pardinho Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e profissionalismo, não so- mente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in- tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educa- dores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a quali- dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Pró-Reitor de Ensino de EAD Diretoria de Graduação e Pós-graduação Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional. Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis- cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui- lidade e segurança sua trajetória acadêmica. CU RR ÍC U LO Professora Doutora Carmem Patrícia Barbosa Tem Doutorado e Mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) na área de Concentração Biologia Celular, respectivamente nos anos de 2002 e 2013. Especialização em Morfofisiologia Aplicada à Educação Corporal e à Reabilitação pela UEM (2000). Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL/1997). Desde 2002, é professora das disciplinas de Anatomia Humana, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica, Bases Neurofuncionais do Movimento no Centro de Ensino Superior de Maringá (Unicesumar) e desde 2012, é professora na área de Anatomia Humana na UEM, no Departamento de Ciências Morfológicas (DCM) e também no curso de especialização. Foi membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Unicesumar e faz parte do corpo editorial da revista “Saúde e Pesquisa” da mesma instituição. Iniciação Científica do Unicesumar e ArquiMudi da UEM. Tem experiência nos cursos de Educação Física, Odontologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Nutrição, Biomedicina, Fisioterapia e Estética. <http://lattes.cnpq.br/9374304100882579> SEJA BEM-VINDO(A)! Prezado(a) aluno(a), a palavra anatomia é originária do grego e decorre da fusão de “ana” e tomein, que significam, respectivamente, “partes” e “cortar”. Assim, é possível traduzir literalmente a palavra “anatomia” como cortar em partes. Essa palavra foi escolhida por- que, na Grécia Antiga, a atenção era dada exclusivamente ao ato de cortar o que estava implícito no conceito geral da anatomia. Tal fato explica, ao menos em parte, porque, até mesmo nos dias de hoje, muitas pessoas se sentem incomodadas ou têm medo de estudar anatomia. Enquanto ciência, a anatomia tem um significado muito mais amplo, pois estuda macro e microscopicamente a constituição e o desenvolvimento do ser humano. Sua existência sempre esteve relacionada à imensa curiosidade do homem em melhor compreender as estruturas que o formam e as diferenças que existem em relação a seus semelhantes, em termos de constituição e função. O início dos estudos anatômicos foi difícil, pois princípios éticos e religiosos da época impunham restrições ao ato de expor o corpo humano, já que para desvendar os mis- térios desta fabulosa “máquina”, a simples observação superficial não era suficiente. Por isso, a necessidadede aprofundar tal estudo foi posteriormente saciada pela dissecação (ou dissecção). A palavra dissecar tem origem latina e é produto da fusão de dis (separar) mais secare (cortar). Assim, por meio da dissecação, os órgãos do corpo podem ser expostos cirurgica- mente, de maneira metódica, por meio de incisões adequadas que mantêm a organização natural do corpo. Dessa forma, é possível manter os órgãos separados, mas, ao mesmo tempo, em uma relação de dependência entre forma e função. Vale ressaltar que os estudos da anatomia humana são realizados no cadáver - nome dado ao corpo após a morte, enquanto este ainda conserva parte de seus tecidos. Esse termo, segundo a etimologia popular, teve origem na expressão latina caro data vermibus, que significa “a carne dada aos vermes”. Os etimologistas defendem que a palavra deriva da raiz cado, que significa “caído”. Estranho, não é? Esse termo foi escolhido devido ao fato de que, como o estudo anatômico era inicialmente proibido, aqueles que se interessa- vam pela dissecação, muitas vezes, o faziam às escuras, violando sepulturas e dissecando corpos que já estavam em estado de putrefação. APRESENTAÇÃO ANATOMIA HUMANA Complementarmente, estudos realizados em animais originaram a anatomia com- parativa por meio da qual a compreensão da constituição do corpo era realizada primeiramente em animais para posterior comparação com seres humanos. Inclusive, a dissecação de animais prenhes permitiu a observação de fetos e representou o início da embriologia como ciência. A embriologia (estudo da formação dos órgãos e sistemas), a citologia (estudo das células) e a histologia (estudo dos tecidos) tiveram seus desenvolvimentos fortemente marcados pelo surgimento do microscópio. Isto porque este instrumento possibilitou o estudo específico dos elementos constituintes dos seres organizados. Vale ressaltar que, embora todas estas ciências sejam consideradas especializações, são vistas como ramos da anatomia. Em relação aos principais aspectos históricos da anatomia humana, sabe-se que os primeiros esboços anatômicos datam do período paleolítico e que os gregos foram grandes responsáveis por seu desenvolvimento. No Brasil, a Bahia se destacou como “berço do ensino médico” e, na mesma época, iniciou-se o ensino médico oficial no Rio de Janeiro. Atualmente, o estudo da anatomia ainda é realizado por meio da dissecação de cadá- veres humanos considerados normais, embora possam existir variações anatômicas individuais e diferenças morfológicas em decorrência da passagem do estado vivo ao cadavérico. No entanto, é possível aprender anatomia mesmo sem a dissecação por meio da observação do corpo humano, por sua palpação e pelo estudo da anatomia de superfície (a qual avalia os relevos e as depressões que as estruturas anatômicas são capazes de formar). Por todo o exposto, pode-se concluir que esta tão bela e polêmica ciência se encar- rega de estudar o corpo humano em detalhes. Seu estudo pode ser feito de maneira regional, clínica ou sistêmica. Enquanto no estudo regional (ou topográfico) são apresentados os pormenores de uma determinada região do corpo, no estudo clínico, as estruturas e as funções são apresentadas aos profissionais da área da saúde a fim de habilitá-los a compreender o corpo em um contexto clínico geral. APRESENTAÇÃO APRESENTAÇÃO Neste livro, estudaremos a anatomia sistêmica, ou seja, os detalhes de cada sistema que compõe a fabulosa “máquina” chamada corpo humano. Para tanto, estudaremos o aparelho locomotor (composto pelos sistemas esquelético, articular e muscular), o sistema cardiorrespiratório (composto pelos sistemas circulatório sanguíneo, cir- culatório linfático e respiratório), o sistema digestório (responsável pelo processo da digestão), o sistema urogenital (composto pelos sistemas urinários do genital masculino e genital feminino) e sistema neuroendócrino (composto pelos sistemas nervoso e endócrino). Em cada unidade, apresento uma introdução sobre as generalidades de cada tema, um Desenvolvimento para apresentar o conteúdo programático de cada sistema, Considerações Finais que resumirão o estudo teórico e prático do assunto abordado e Atividades de Estudo para reforçar o conteúdo estudado. Desejo a você um excelente aproveitamento desta tão apaixonante ciência. Na ver- dade, ela sempre foi não só apaixonante, mas também intrigante. Prova disso pode ser dada ao ler o texto do salmista (nos versos 13 a 16 do capítulo 139) que, mesmo sem grandes recursos tecnológicos ou científicos, não se conteve de tanta admiração ao analisar o milagre da criação e do funcionamento do corpo humano. Que você se encante conhecendo seu próprio corpo e que a todo momento descubra as melhores formas de favorecer seu desenvolvimento, tanto no adulto quanto na criança, por meio do pleno conhecimento. Bom estudo! SUMÁRIO 10 UNIDADE I INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR 16 Anatomia Humana: Conceito e Introdução ao Estudo 18 Divisões do Corpo Humano 20 Planos e Eixos do Corpo Humano 21 Sistema Esquelético 47 Sistema Articular 56 Sistema Muscular 84 Considerações Finais 92 Referências UNIDADE II SISTEMAS CARDIOVASCULAR E RESPIRATÓRIO 99 Sistema Circulatório 126 Sistema Linfático 142 Sistema Respiratório 157 Considerações Finais 165 Referências SUMÁRIO 11 UNIDADE III SISTEMA DIGESTÓRIO 170 Função Geral e Divisão do Sistema Digestório 172 Órgãos do Sistema Digestório 188 Órgãos Anexos 192 Considerações Finais 197 Referências UNIDADE IV SISTEMA UROGENITAL 202 Sistema Urinário 211 Sistema Genital Masculino 225 Sistema Genital Feminino 239 Considerações Finais 245 Referências SUMÁRIO 12 UNIDADE V SISTEMA NEUROENDÓCRINO 250 SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) 270 SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO (SNP) 285 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA) 288 SISTEMA ENDÓCRINO 301 CONSIDERAÇÕES FINAIS 309 REFERÊNCIAS 311 CONCLUSÃO GERAL U N ID A D E I Professora Dr.ª Carmem Patrícia Barbosa INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Objetivos de Aprendizagem ■ Apresentar o conceito, a importância, os principais aspectos históricos da anatomia humana e a nômina anatômica atualizada. ■ Elucidar as principais subdivisões do corpo humano. ■ Apresentar os planos de tangenciamento e de secção do corpo humano, bem como os eixos de movimento. ■ Estudar as generalidades sobre os ossos, as funções do esqueleto, as divisões do esqueleto, os tipos de ossos quanto à forma, à constituição e à arquitetura dos ossos, o crescimento, a nutrição e a inervação óssea, os processos de ossificação, fratura e reparo ósseo, os acidentes anatômicos dos ossos e os principais ossos do corpo humano. ■ Definir articulações e compreender suas funções, classificações, tipos, vascularização, inervação, movimentos, fatores que afetam, envelhecimento e características das principais articulações do corpo humano. ■ Elucidar funções musculares, tipos de músculos, tipos de contração do músculo estriado esquelético, vascularização e inervação muscular, classificação funcional do músculo estriado esquelético, órgãos anexos, generalidades e principais músculos do corpo humano. Plano de Estudo A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: ■ Anatomia humana: Conceito e introdução ao estudo ■ Divisões do corpo humano ■ Planos e eixos do corpo humano ■ Sistema esquelético ■ Sistema articular ■ Sistema muscular INTRODUÇÃO Prezado(a) aluno(a), o aparelho locomotor é constituído pelos sistemas esque- lético, articular e muscular.Eles agem de maneira integrada e sob o comando do sistema nervoso para permitir correção postural, equilíbrio e movimento voluntário. Enquanto o sistema esquelético é formado por ossos e cartilagens, o arti- cular é formado por articulações, e o muscular, por músculos e órgãos anexos. O sistema esquelético é estudado pela osteologia, o articular, pela artrologia, o muscular, pela miologia, e os movimentos pela cinesiologia (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora cartilagem e osso sejam formas especializadas do tecido conjuntivo, a cartilagem é flexível e o osso é rígido. As articulações ou junturas são repre- sentadas por estruturas que conectam duas ou mais partes rígidas do esqueleto (ossos, cartilagens e dentes) e embora possam ser chamadas de junturas, não devem ser chamadas de juntas. Os órgãos anexos do sistema muscular incluem fáscias de revestimento, bolsas sinoviais e bainhas fibrosas e sinoviais. Ossos, articulações e músculos têm funções diferentes, mas complementa- res. Ossos suportam e dão forma ao corpo, protegem órgãos internos, atuam nos movimentos, armazenam íons, fabricam células do sangue e absorvem toxinas. A maioria das articulações e dos músculos relaciona-se ao movimento, coorde- nação e tônus muscular, peristalse e produção de calor (TORTORA et al., 2010). O texto abordará estes importantes sistemas e suas especificidades. Será fundamentado em autores como Dangelo e Fattini (2011), Moore et al. (2014), Miranda Neto e Chopard (2014) e outros. A nomenclatura está de acordo com a nômica anatômica atualizada. Todavia é necessário utilizar um atlas de anato- mia como Narciso (2012) ou Rohen, Yokochi e Lütjen-Drecoll (2002). Veremos aspectos relevantes do aparelho locomotor e a prática do exer- cício físico, a visão geral da nomenclatura anatômica, segmentação do corpo e planos e eixos. Fique atento(a) e aproveite. Bom estudo! Introdução Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 15 INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E16 ANATOMIA HUMANA: CONCEITO E INTRODUÇÃO AO ESTUDO FATORES GERAIS DE VARIAÇÃO ANATÔMICA O termo “anatomia humana” é mal visto por muitas pessoas. Talvez até para você, caro(a) aluno(a), isto porque muitos pensam que falar em anatomia é sinônimo de falar de pessoas mortas ou mutiladas. Na verdade, a anatomia não tem nada de assustador, muito pelo contrário. É uma ciência que muito nos tem esclare- cido ao longo dos anos. A anatomia estuda a estrutura do ser humano e as relações entre as partes que o formam. O termo “anatomia” deriva de duas palavras gregas, ana e tem- nein, que significam, respectivamente, “em partes” e “cortar ou incisar”. Assim, esta ciência está amplamente embasada no ato de cortar o corpo humano pelo método da dissecção (ou dissecação) a fim de melhor compreender sua estru- tura externa e interna (FREITAS, 2004). Na anatomia, estudamos o corpo humano considerado “normal”, já que a patologia e outras ciências se dedicam ao estudo das doenças que o acometem. No entanto para definir “normal” em anatomia, é necessário considerar o con- ceito estatístico e o conceito idealístico. O idealístico considera normal aquilo que é melhor para o desempenho da função da estrutura anatômica. Por exem- plo, para que a mão consiga desempenhar adequadamente sua função de pinça fina, é ideal que o indivíduo tenha cinco dedos em cada uma delas. Já o conceito estatístico considera normal aquilo que a maioria dos indivíduos apresenta. Por exemplo, a maioria das pessoas tem cinco dedos em cada mão, por isso, é nor- mal ter cinco, e não três ou quatro dedos (WATANABE, 2000). Quando comparamos diferentes indivíduos em um pequeno grupo, sem- pre podemos identificar a existência de pequenas diferenças morfológicas entre eles (faça isso onde você estiver agora e perceba como as pessoas são mesmo diferentes). De acordo com Watanabe (2000), quando tais diferenças não prejudicam a função desempenhada pela estrutura anatômica, diz-se que são apenas “variações anatômicas”. No entanto quando tais diferenças atra- palham a função da estrutura, elas são ditas “anomalias” e, inclusive, podem Anatomia Humana: Conceito e Introdução ao Estudo Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 17 ser denominadas de “monstruosidades” se impedirem que o indivíduo per- maneça vivo. Uma variação anatômica pode ser, por exemplo, as diferentes tonalidades na cor dos olhos de dois irmãos. Uma anomalia pode ser a miopia que um deles apresenta. Uma monstruosidade pode ser exemplificada quando dois irmãos nascem grudados e um deles tem que ser sacrificado para que o outro viva (é o que ocorre com gêmeos siameses ou xifópagos). Para que estes conceitos de “normal”, “variação anatômica”, “anomalia” e “monstruosidade” possam ser empregados, é necessário saber que alguns fato- res podem causar variação. Isto ocorre, por exemplo, com a idade do indivíduo, com seu sexo, grupo étnico, biótipo e entre outros. Por exemplo, é normal que um bebê apresente os ossos do crânio separados, mas não é normal que isso ocorra em um adulto. É normal que uma mulher tenha os ossos da pelve mais abertos a fim de facilitar o parto pélvico, mas não é normal que isso ocorra em um homem. É normal que um indivíduo negro tenha a pele escura e os cabelos enrolados, mas não é normal em um japonês. É normal que um indivíduo longilíneo tenha os membros longos em relação ao corpo, mas não é em um indivíduo brevilíneo. Por fim, é importante destacar que o estudo da anatomia humana pode ser feito de diferentes formas conforme o objetivo do estudo. Por exemplo, a anato- mia pode ser estudada a partir dos sistemas que compõem o corpo humano (esta é a anatomia sistêmica que aprenderemos aqui). Por outro lado, seu estudo pode abranger regiões específicas e, então, passa a ser chamada de anatomia topográ- fica (a odontologia, por exemplo, estuda anatomia topográfica da cabeça). Além disso, seu estudo pode ser feito por meio de imagens (anatomia radiológica ou de imagem) em comparação a seres de outras espécies (anatomia comparativa), com fins artísticos (anatomia artística), em comparação aos diferentes tipos raciais e morfológicos etc. (anatomia antropológica e biotipológica) (WATANABE, 2000). NOMENCLATURA ANATÔMICA Cientistas e profissionais da área da saúde usam uma linguagem própria ao se referirem às estruturas do corpo humano e à forma como a dissecção é feita. Por INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E18 isso, estar atualizado em relação à nomenclatura utilizada é essencial ao estu- dante de anatomia humana, bem como aos profissionais da saúde. Na anatomia, esta nomenclatura engloba termos gerais e especiais originados da língua grega, latina e outras. Em conjunto, a Nômina Anatômica, publicada com o nome de Terminologia Anatômica, tem o objetivo de evitar que estruturas do corpo humano recebam diferentes denominações em diversos centros de estudos e pes- quisas em anatomia no mundo (DI DIO, 2002). Considerado um documento oficial que deve ser obedecido por professores e alunos da disciplina de anatomia humana, a Terminologia Anatômica é constitu- ída por cerca de 6.000 termos esporadicamente revistos e atualizados, os quais são traduzidos pelas sociedades de anatomia de cada país. No Brasil, a terminologia é traduzida pela Comissão deTerminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia (SBA) (CFTA, 2001; FREITAS, 2004; TORTORA et al., 2010). Este conjunto de termos empregados fundamenta-se na forma da estru- tura ou em parte dela (como o músculo deltoide, por exemplo), sua situação (artéria vertebral), sua função (glândula lacrimal) e outras peculiaridades. Vale destacar que a utilização de abreviações é permitida a fim de facilitar seu uso prático. Assim, utiliza-se a. (para artéria), v. (para veia), n. (para nervo), m. (para músculo), lig. (para ligamento), gl. (para glândula) e g. (para gân- glio). O plural destes termos normalmente emprega a duplicação da letra utilizada na abreviação, por exemplo, aa. (para artérias), vv. (para veias) etc. (WATANABE, 2000). DIVISÕES DO CORPO HUMANO A posição anatômica de descrição, ou posição de referência, foi instituída e se tornou de grande valia para evitar erros na nomenclatura e no posicionamento do corpo a ser estudado. Em tal posição, supõe-se que o cadáver está ereto, com a cabeça em nível horizontal, olhos voltados para frente, pés plantados no chão Divisões do Corpo Humano Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 19 e direcionados para frente, membros superiores ao lado do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente (MOORE et al., 2014). A partir da posição anatômica, as várias regiões do corpo são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, membros superiores e membros inferiores. A cabeça é subdividida em crânio facial ou viscerocrânio e crânio neural ou neurocrânio. Enquanto o crânio facial é anterior, menor, constituído por 14 ossos, cujas funções se relacionam a abrigar e proteger os órgãos dos sen- tidos e possibilitar a fonação e a mastigação, o crânio neural é posterior, maior, constituído por oito ossos, os quais estão diretamente relacionados à proteção do sistema ner- voso localizado em seu interior (TORTORA et al., 2010). O pescoço é dividido em pescoço ante- rior (visceral) e posterior (muscular), também denominado nuca. Segundo Freitas (2004), o tronco também é subdividido em tórax (limitado supe- riormente pela clavícula e inferiormente pelo músculo diafragma), abdome (limi- tado superiormente pelo músculo diafragma e inferiormente pela abertura superior da pelve) e pelve (localizada entre os ossos do quadril). Os membros superiores e infe- riores também são subdivididos em uma região conectada ao tronco, denominada cíngulo (ou cintura) e uma parte livre. A raiz ou cíngulo do membro supe- rior é a cintura escapular e sua parte livre inclui braço, antebraço e mão (sendo sua parte anterior denominada palma e a posterior, dorso). A raiz ou cíngulo do membro inferior é a cintura pélvica e sua parte livre inclui coxa, perna e pé (sendo sua parte superior denominada dorso e a inferior, planta). Articulações conectam as várias partes dos membros, por exemplo, as articulações do ombro, cotovelo, quadril e joelhos (FREITAS, 2004). Figura 1 - Posição anatômica de descrição Figura 2 - Partes do corpo humano INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E20 PLANOS E EIXOS DO CORPO HUMANO De igual modo, a partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a existên- cia de planos imaginários que tangenciam a superfície externa do corpo a fim de facilitar a localização das estruturas corpóreas. Tais planos são denominados superior ou cranial, inferior ou podálico, lateral direito, lateral esquerdo, ante- rior ou ventral e posterior ou dorsal (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Assim, pode-se afirmar que os olhos são estruturas superiores à cicatriz umbilical, já que se localizam mais próximos ao plano superior ou cranial do que à cicatriz umbilical. De igual modo, pode-se afirmar que as escápulas são estruturas posteriores em relação ao osso esterno, uma vez que estão mais pró- ximas do plano posterior. Embora os planos de tangenciamento facilitem a localização das estruturas corpóreas, o estudo da anatomia também se faz por meio do corpo seccionado, lembra? Assim, planos de secção de referência também tiveram que ser padro- nizados. Os termos “plano sagital”, “plano transversal” (ou horizontal) e “plano coronal” (ou frontal) foram adotados. O plano sagital é uma secção longitudi- nal que divide o corpo ou qualquer uma de suas partes em porções direita e esquerda. Se este plano passar exatamente sobre a linha mediana do corpo, ele é chamado de plano sagital mediano, o qual divide o corpo em duas metades iguais denominadas antímero direito e antímero esquerdo. O plano coronal é uma secção longitudi- nal que divide o corpo em porção anterior e posterior denominadas paquímero anterior ou ventral, e paquímero posterior ou dorsal. Por fim, o plano transversal divide o corpo em porção superior e inferior denominadas metâ- mero superior ou cranial, e metâmero inferior ou podálico (FREITAS, 2004).Figura 3 - Plano Sagital, Coronal e Transverso Plano Coronal Plano Sagital Plano Transversal Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 21 Um dos objetivos do estudo da anatomia humana é empregar os conhecimen- tos adquiridos também no corpo vivo. Dessa forma, existem termos usados para descrever os diferentes movimentos dos membros e de outras partes corpóreas que podem ser realizados nas articulações móveis do corpo. Tais movimentos são des- critos como pares de opostos, ou seja, flexão e extensão, abdução e adução, rotação medial e lateral, supinação e pronação etc. (MOORE et al., 2014; TORTORA et al., 2010). Todos esses movimentos serão abordados, posteriormente, nesta uni- dade, pois são de extrema relevância ao profissional que trabalha com anatomia. Os movimentos sempre ocorrem em um dos planos (sagital, coronal ou transversal) e por meio de linhas imaginárias denominadas eixos, os quais são perpendiculares aos planos. Assim, os movimentos de flexão e extensão ocor- rem no plano sagital a partir do eixo coronal; a abdução e a adução ocorrem no plano coronal a partir do eixo sagital; a rotação medial e lateral ocorrem no plano transversal a partir do eixo longitudinal (GRABINER et al., 1991). SISTEMA ESQUELÉTICO: GENERALIDADES SOBRE OS OSSOS Ossos são peças rígidas, com formatos variados. Eles são muito plásticos, ou seja, adaptam-se às estruturas vizinhas, inclusive permitindo que tais estruturas lhes imprimam marcas em decorrência do contato. Isto pode ser visto, por exemplo, ao examinar a face interna da calota craniana. Nessa região, aparecem claramente os sulcos venosos e arteriais, além das impressões dos giros. A criança apresenta um total de 350 ossos, mas o indivíduo adulto tem este número reduzido para 206. Você pode se perguntar: “O que ocorre para este número reduzir tanto”?. Na verdade, há uma fusão em vários ossos do corpo, por exemplo, no osso frontal, no sacro e nos ossos do quadril. Além disso, você precisa saber que este número pode sofrer variações de acordo com caracterís- ticas individuais. Por exemplo, se a pessoa tiver um dedo ou uma costela a mais INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E22 ou a menos. Além disso, esse número total de ossos no indivíduo adulto tam- bém pode ser influenciado pelo critério de contagem que foi adotado. Muitas vezes, escuto pessoas dizendo queseus pesos na balança não estão altos porque estão “acima do peso”, mas que seu peso está alto porque elas têm os ossos largos e pesados. Sorrio quando ouço isso porque tenho a impressão de que as pessoas se veem como o Wolverine e seus ossos de adamântio. Acho que as pessoas imaginam que os ossos pesam muito mais do que verdadeiramente pesam. Você sabe qual é o peso real dos seus ossos? Na verdade, o peso médio dos ossos de um homem adulto de cerca de 80 kg é de 12 kg. Assim, não é tanto quanto a maioria das pessoas julgam ser. Por fim, gostaria de esclarecer que, além dos ossos convencionais conheci- dos por nós desde a vida inteira, existem também alguns ossos especiais, por exemplo, os ossos suturais (que ficam entre as suturas do crânio) e os ossos hete- rotópicos que se formam nos tecidos moles (como nas coxas de jóqueis em áreas onde a hemorragia se calcifica). FUNÇÕES DO ESQUELETO Se você acha que a função dos ossos se restringe a possibilitar movimentos, você está muito enganado(a). Na verdade, o esqueleto desempenha várias funções, inclusive algumas consideradas vitais (MOORE et al., 2014). De fato, os ossos se relacionam ao movimento, embora não os produzam. Isto porque quem faz o movimento acontecer são os músculos e, por isso, estes são considerados os elementos ativos do movimento (por outro lado, ossos são elementos passivos do movimento). Dessa forma, os ossos são tracionados pelos músculos em um efeito de alavanca. É o que ocorre, por exemplo, quando o mús- culo quadríceps femoral traciona a tíbia e gera movimento de extensão do joelho. Outras duas funções dos ossos podem ser identificadas quando observamos atentamente o corpo humano na posição bípede (em pé). A habilidade dos ossos em suportar o peso corporal e dar forma aos diferentes segmentos do corpo é extraordinária. Tais funções são prontamente percebidas quando imaginamos um osso fraturado (o fêmur, por exemplo) e temos a clara certeza de que é impossível Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 23 descarregar peso naquele membro inferior. Além disso, se você comparar a forma arredondada do seu crânio à forma alongada de seus dedos, terá clareza de que os ossos são os responsáveis diretos por tais diferenças. Quando os ossos protegem os órgãos internos, armazenam íons essenciais, sintetizam células sanguíneas e absorvem toxinas, certamente, concluímos que suas funções também são vitais. Ao observarmos, por exemplo, a importante ação das costelas e do osso esterno envolvendo o coração e os pulmões, e do crâ- nio envolvendo o encéfalo, fica claro o quanto os ossos nos são relevantes. Além disso, eles atuam como reservatórios de cálcio, fosfato e magnésio, os quais são essenciais à transmissão sináptica e à contração muscular. A síntese de células sanguíneas ocorre por meio da medula óssea vermelha que se localiza no interior dos ossos (este assunto será esclarecido adiante). E, por fim, eles são hábeis em absorver toxinas e metais pesados da corrente san- guínea, diminuindo os efeitos deletérios destes compostos em outros tecidos (principalmente no fígado e nos rins). DIVISÕES DO ESQUELETO O esquelético pode ser dividido em duas partes fun- cionais, porém interligadas: o esqueleto axial e o esqueleto apendicular. O esqueleto axial é formado pelos ossos localizados na região central do corpo, como aqueles da cabeça (ossos do crânio), pescoço (osso hioide e vértebras cervicais) e no tronco (osso esterno, costelas, vértebras e sacro). O esqueleto apendicular é formado pelos ossos localizados nas extremidades do corpo, ou seja, nos membros superiores e inferiores, incluindo aqueles que formam os cíngulos (escápula, clavícula e ossos do quadril) (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 4 - Esqueleto axial x Esqueleto apendicular INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E24 TIPOS DE OSSOS QUANTO À FORMA Ao avaliar o comprimento, a largura e a espessura dos ossos, podemos agrupá- -los em seis tipos principais: longos ou tubulares, curtos, laminares ou planos, irregulares, sesamoides e pneumáticos (WATANABE, 2000). Os ossos longos ou tubulares têm predomínio do comprimento em relação à largura e à espessura. Apresentam uma cavidade central (chamada cavidade medular) que abriga a medula óssea. Além disso, sua parte central é chamada de diáfise e suas extremidades são as epífises. Enquanto a epífise proximal fica mais próxima do cíngulo do membro, a epífise distal fica mais distante dele. A região de transição entre epífise e diáfise recebe o nome de metáfise. O fêmur é um exemplo deste tipo de osso. Alguns ossos têm características semelhantes, mas não apresentam cavidade medular e, por isso, são chamados de alongados ao invés de longos. O ossos curtos têm os três diâmetros (comprimento, largura e espessura) equivalentes apresentando forma cuboide. É o que ocorre, por exemplo, com os ossos carpais e tarsais. Por outro lado, os ossos laminares ou planos são largos e pouco espessos. Geralmente, esses ossos têm função protetora, como os ossos planos do crânio (o parietal é um bom exemplo). Já os ossos irregulares (como o próprio nome já revela) têm formatos varia- dos sem predomínio específico do comprimento, da largura ou da espessura. São exemplos os ossos da face e as vértebras. Os ossos sesamoides são também chamados de ossos intratendíneos ou periarticulares, pois se desenvolvem em alguns tendões e são encontrados onde os tendões cruzam as extremidades dos ossos longos. Assim, eles protegem os tendões contra desgastes e podem mudar seu ângulo de inserção. A patela é um deles. Todavia algumas pessoas podem apresentar ossos sesamoides nas mãos e pés como variação anatômica. Os ossos pneumáticos apresentam cavidades contendo ar em seu interior. Localizam-se no crânio, por exemplo, o osso frontal, a maxila, o esfenoide e o etmoide. Suas cavidades são revestidas por mucosa e são chamadas de seios. Devido ao fato de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal, podem ser chamados, em conjunto, de seios paranasais. Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 25 Figura 5 – Comparação entre os tipos de ossos: a) exemplo de osso irregular, b) exemplo de osso sesamoide e c) exemplo de osso longo INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E26 CONSTITUIÇÃO E ARQUITETURA DOS OSSOS Quando você observa atentamente um osso, é comum achar que se trata de um tecido inerte, seco, e até sem vida. Todavia, muito pelo contrário, o tecido ósseo é vivo, dinâmico e se desenvolve e cresce por meio de um metabolismo muito ativo. Pra você ter uma ideia, os ossos são renováveis, em média, a cada dois anos. Isto significa que o fêmur ou o crânio que você tem hoje, não são os mes- mos que você tinha há dois anos e nem serão os mesmos que você terá daqui a dois anos. Fantástico, não? A constituição do tecido ósseo também é fabulosa, pois os ossos são cons- tituídos a partir de três componentes principais: água, matriz óssea orgânica e matriz óssea inorgânica (DANGELO; FATTINI, 2011). A água representa cerca de 25% da estrutura óssea. Todavia é importante ressaltar que esta proporção é maior em recém-nascidos e crianças, e vai dimi- nuindo à medida queo envelhecimento ocorre. Por isso, o envelhecimento faz com que os ossos fiquem mais sujeitos a sofrere faturas as quais, em idosos, são chamadas de “fratura em galho seco”. Crianças têm “fratura em galho verde”. Além disso, ossos de idosos normalmente apresentam maior dificuldade para consolidação de fraturas, uma vez que a quantidade de matriz orgânica diminui. A matriz orgânica também representa cerca de 25% da estrutura óssea e é constituída por proteoglicanas e colágeno. Assim, esta matriz é rica em proteínas que dão resistência à tensão e à tração as quais os ossos estão sujeitos diariamente. Por isso, a matriz orgânica está diretamente relacionada à maleabilidade óssea, ou seja, sua ausência pode causar doenças, por exemplo, a doença dos ossos de vidro. Nesse caso, os ossos não resistem à tensão e à tração que os músculos lhes impõem e se tornam fragilizados e quebradiços, mesmo aos menores esforços. Sobre a matriz orgânica se deposita a matriz inorgânica. A matriz inorgânica representa cerca de 50% da estrutura óssea. É consti- tuída por sais minerais (principalmente fosfato de cálcio e carbonato de cálcio) os quais formam a hidroxiapatita, que dá ao osso resistência à compressão. Deficiência nos componentes dessa matriz também pode tornar os ossos fragi- lizados e quebradiços. Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 27 O tecido ósseo pode se organizar em dois tipos principais de ossos: os compac- tos ou corticais e os esponjosos ou trabeculares. No osso compacto, as trabéculas ósseas estão justapostas e formam uma estrutura pouco porosa e com alta capa- cidade de resistência para sustentação de peso. Assim, atuam como colunas que suportam a descarga de peso. Em contrapartida, no osso esponjoso, as trabéculas ósseas não estão justapos- tas, mas deixam espaços entre si, os quais são preenchidos por ar. Essa disposição origina uma estrutura altamente porosa e adaptada à absorção de impacto, uma vez que o ar presente em meio às trabéculas ósseas funciona como um coxim aerífero que amortece a descarga de peso. Figura 6 - Osso compacto e esponjoso INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E28 É importante que você saiba que a distribuição de tecido ósseo compacto e esponjoso nos ossos não é uniforme, mas depende das solicitações biomecâni- cas impostas aos ossos, ou seja, varia de acordo com a função exercida pelo osso, com a tração e com a pressão a que os ossos são submetidos. Assim, embora todos os ossos tenham uma fina camada superficial de osso compacto ao redor de uma massa central de osso esponjoso, ossos longos adaptados à descarga de peso (como o fêmur, por exemplo) apresentam maior quantidade de osso com- pacto próximo da parte média da diáfise onde tendem a se curvar. O mesmo não acontece, por exemplo, nos ossos longos que não recebem grandes descar- gas de peso (por exemplo, úmero) ou nos ossos carpais e tarsais. O efeito piezoelétrico explica parcialmente as diferenças na arquitetura dos ossos submetidos ou não à descarga de peso e à tração óssea. Embora a descarga e a tração ocorram constantemente em nosso dia a dia, normalmente elas são maiores ao realizarmos exercícios físicos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Segundo o efeito piezoelétrico, regiões ósseas onde ocorre compressão ficam sujeitas a potenciais elétricos negativos, enquanto nas demais regiões do osso apa- recem potenciais elétricos positivos. Onde há potencial elétrico negativo, células ósseas sintetizadoras de ossos são ativadas fazendo deposição óssea proporcio- nal ao estímulo dado. Dessa forma, a tensão óssea estimula a síntese de matriz orgânica e a deposição de sais minerais (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Esse princípio é facilmente identificado em atletas, os quais têm estrutura óssea diferenciada em relação aos indivíduos sedentários e é aplicado à reabi- litação física de pacientes tetraplégicos que perdem a capacidade de manter o ortostatismo. Para estes pacientes, a pedestação por meio de mesas ortostáticas possibilita a manutenção da saúde óssea minimizando o aparecimento de fra- turas espontâneas. A arquitetura dos ossos planos do crânio merece destaque, pois é adaptada à proteção do encéfalo alojado em seu interior. Em tais ossos, uma camada de osso esponjoso, chamada díploe, fica interposta entre duas lâminas de osso com- pacto (uma lâmina externa e outra interna). Assim, quando uma força é imposta à lâmina externa de osso compacto, a díploe absorve parte desta força (uma vez que em seu interior existe ar interposto às trabéculas ósseas) minimizando as chances da lâmina interna de osso compacto se fragmentar e lesionar o tecido Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 29 nervoso adjacente. Na díploe, há medula óssea vermelha e por ele passam as veias. O tecido ósseo compacto está disposto em unidades chamadas ósteons ou sis- tema de Havers. Em volta destes canais, existem lamelas concêntricas (anéis de matriz extracelular rígida e calcifi cada), entre as quais há pequenos canais (lacu- nas) contendo osteócitos que se comunicam entre si. Canalículos minúsculos com líquido extracelular irradiam-se pelos ossos fazendo difusão de oxigênio e nutrientes por todo o osso e drenando resíduos. Vasos sanguíneos, linfáticos e nervos provenientes do periósteo penetram no osso compacto por meio de canais perfurantes transversos ou canais de Volkmann. O tecido ósseo esponjoso, ao contrário, não contém ósteons. Ele é leve (o que reduz o peso total dos ossos) e tende a se localizar onde não há grandes forças ou onde as forças são aplicadas a partir de muitas direções (MOORE et al,. 2014). Figura 7 - Díploe Figura 8 - Ósteon INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E30 A manutenção da saúde dos ossos depende da atuação das células que os com- põem: os osteoblastos, osteócitos e osteoclastos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os osteoblastos são células jovens, originadas de células osteoprogenitoras, com grande capacidade de divisão celular e, portanto, formadoras de osso. Elas sintetizam e secretam fibras colágenas e outros componentes orgânicos neces- sários à formação da matriz extracelular e iniciam a calcificação. À medida que são recobertos por matriz, tornam-se presos em suas secreções e se transfor- mam em osteócitos. Os osteócitos são considerados células ósseas maduras relacionadas à manu- tenção do tecido ósseo e, por isso, são as principais células desse tecido. Assim como os osteoblastos, não sofrem divisão celular (apenas células osteoprogeni- toras se dividem). Os osteoclastos são células grandes que resultam da fusão de até 50 monó- citos. Por meio de sua margem pregueada (lacunas de Howship), elas liberam enzimas proteolíticas que englobam e solubilizam cristais que contêm cálcio dis- solvendo as matrizes ósseas. Assim, estão diretamente relacionadas à renovação óssea, uma vez que o tecido ósseo sofre reabsorção e reelaboração durante toda a vida, fazendo com que o esqueleto seja constantemente renovado (lembra que, em média, o esqueleto se renova a cada dois anos?). No entanto, sua ação exces- siva pode causar osteopenia, que pode evoluir para osteoporose. ESTRUTURA DO OSSO LONGO Ósteon Cartilagem Osso Ósteon Medula ósseaamarela Osso compacto Periósteo Osteoclasto Osteócito Célula osteoprogenitora Osteoblasto Canal Osteônico Células do tecido ósseo Osteócito Osteoblasto Célula osteoprogenitora Osteoclasto Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 31 A ação das células ósseas depende de diversos fatores como idade, hereditariedade, nutrição, doença, trauma, gravidez, esforço funcional e influência hormonal. Em relação aos hormônios, os ossos sofrem forte influência do hormônio do crescimento (GH), dos hormônios sexuais (testosterona, estrógeno e progeste- rona), da calcitonina (hormônio tireoidiano) e do paratormônio (ou hormônio paratireoidiano). Enquanto o GH, os hormônios sexuais e a calcitonina atuam como hormô- nios osteogênicos ativando osteoblastos, o paratormônio estimula a degradação da estrutura óssea por estimular os osteoclastos. Isto explica o fato da osteopo- rose (doença que torna os ossos progressivamente mais porosos) ser mais comum na velhice e nas mulheres após a menopausa. Nelas, há redução do estrógeno e da renovação da matriz orgânica. Além disso, no indivíduo com osteoporose, devido à atuação excessiva dos osteoclastos, causando osteólise, o nível de cálcio no sangue pode subir, causando complicações como depósito do cálcio nas articulações e rins, e hipercoagulação sanguínea (causando embolia pulmonar, acidente vascular encefálico isquê- mico etc.). Vale lembrar que deficiência na ingestão de determinados nutrientes pode enfraquecer os ossos. É o caso, por exemplo, das proteínas (uma vez que amino- ácidos são necessários para formar colágeno), vitamina C (que estimula a síntese do colágeno), vitamina D (que é responsável pela absorção do cálcio e do fos- fato do intestino; é ativada pela exposição ao sol) e vitamina A (que ajuda a fazer com que os ossos respondam adequadamente à tensão). ESTRUTURA DO OSSO LONGO Ósteon Cartilagem Osso Ósteon Medula óssea amarela Osso compacto Periósteo Osteoclasto Osteócito Célula osteoprogenitora Osteoblasto Canal Osteônico Células do tecido ósseo Osteócito Osteoblasto Célula osteoprogenitora Osteoclasto Figura 9 - Células ósseas INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E32 Ainda em relação à constituição e arquitetura dos ossos, é importante estudarmos a medula óssea (alojada no interior de alguns ossos), e as camadas de revesti- mento dos ossos (o pericôndrio, o periósteo e o endósteo). A medula óssea está presente em praticamente todos os ossos do feto e em alguns ossos dos adul- tos (como costelas, osso esterno, ossos do quadril, crânio e ossos dos membros superiores e inferiores). Nos ossos longos, o osso esponjoso da diáfi se é substi- tuído pela cavidade medular, a qual abriga a medula óssea. Essa medula pode ser vermelha ou amarela. A vermelha é um órgão hematopoiético, ou seja, pro- duz células sanguíneas. A amarela perde esta função em decorrência do próprio envelhecimento e se torna altamente gordurosa. Uma medula óssea anormal ou cancerosa pode ser substituída por uma medula óssea vermelha saudável a fi m de reestabelecer as contagens nor- mais de células sanguíneas por meio de um transplante de medula óssea. A medula óssea vermelha saudável pode ser fornecida por um doador, do qual é retirada, sob anestesia, da crista ilíaca, e injetada na veia do receptor em um processo muito semelhante a uma transfusão de sangue. Um procedimento mais moderno envolve o transplante de células do cordão umbilical (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora as vitaminas A e D sejam importantes para os ossos, o excesso de vitamina A acelera a ossifi cação causando cessação precoce do crescimento corporal. Além disso, defi ciência de vitamina D pode causar raquitismo na criança e osteomalácia no adulto. Ambas são doenças caracterizadas pela baixa absorção de cálcio pelo intestino e má calcifi cação da matriz óssea, causando amolecimento e deformação dos ossos. Fonte: Guyton e Hall (2011). Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 33 Pericôndrio, endósteo e periósteo são camadas de tecido conjuntivo fi broso que revestem os elementos do esqueleto. O pericôndrio faz o revestimento das carti- lagens nutrindo suas faces externas; o endósteo reveste internamente a cavidade medular e contém uma única camada de células formadora de osso; o periósteo faz o revestimento externo dos ossos, é capaz de depositar mais osso (sobretudo durante a consolidação de fraturas ou o crescimento ósseo), formar uma interface para fi xação dos tendões e dos ligamentos, proteger o osso e ajudar na nutrição do tecido ósseo. O periósteo se fi xa ao osso subjacente pelas fi bras perfurantes (de Sharpey) – feixes espessos de colágeno que se estendem do periósteo até o interior da matriz óssea (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Estrutura óssea Linha epifi sial Periósteo Osso esponjoso Vasos sanguíneos Medula óssea amarela Cartilagem articular Figura 10 - Tipos de medula óssea PericôndrioEndósteoPeriósteo Figura 11 - Pericôndrio, periósteo e endósteo INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E34 CRESCIMENTO ÓSSEO As estruturas responsáveis pelo crescimento ósseo em comprimento e em espes- sura são diferentes. Enquanto o crescimento em espessura dos ossos é possibilitado pelo periósteo, o crescimento em comprimento é feito pela lâmina epifisial (WATANABE, 2000). O periósteo já foi mencionado anteriormente como sendo uma bainha de tecido conjuntivo que circunda a superfície externa dos ossos em partes não cobertas pela cartilagem articular. Já a lâmina epifisial é uma fina camada de cartilagem hialina localizada na metáfise. Por volta dos 18 anos de idade para mulheres e 21 anos para homens, ela se fecha, ou seja, suas células param de se dividir e o osso substitui a cartilagem, permanecendo apenas a linha epifisial. A clavícula é o último osso a parar de crescer. Epífise Cartilagem articular Osso esponjoso Periósteo Osso compacto Cartilagem epifisial Epífise Diáfise Figura 12 - Periósteo e lâmina epifisial NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO ÓSSEA Você já sofreu alguma fratura? Se já, sabe que dói muito e que pode ocorrer san- gramento e hematoma na região. Mas você sabe por que tais coisas acontecem? A dor se deve ao fato dos ossos serem abundantemente inervados e o sangra- mento ocorre porque eles são muito vascularizados. Vasos sanguíneos e nervos penetram a estrutura óssea a partir do periós- teo. Assim, as artérias periosteais penetram a diáfise dos ossos longos passando Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 35 por canais perfurantes e irrigam o periósteo e a parte externa do osso compacto. Além disso, próximo ao centro da diáfise, uma grande artéria nutrícia penetra o osso pelo forame nutrício, chega à cavidade medular, divide-se em ramos dis- tal e proximal para irrigar o tecido ósseo compacto, esponjoso, medula óssea até as linhas epifisiais. É importante ressaltar que enquanto alguns ossos têm ape- nas uma artéria nutrícia(como a tíbia, por exemplo), outros têm várias (como o fêmur). As extremidades dos ossos são irrigadas por artérias metafisárias e epi- fisiárias (MOORE et al., 2014). Vasos sanguíneos e nervos responsáveis pela irrigação, drenagem e inervação óssea Figura 13 – Artérias ósseas A drenagem venosa dos ossos é feita por veias que seguem trajetos muito seme- lhantes aos das artérias. Assim, as veias que drenam os ossos podem ser uma ou duas veias nutrícias (que acompanham as artérias na diáfise), veias metafisá- rias e epifisiárias (que acompanham as artérias metafisárias e epifisiárias) e veias periostais (que acompanham as artérias periostais). De igual modo, os nervos dos ossos acompanham os vasos sanguíneos que os suprem. Assim, o periósteo é rico em nervos periostais sensitivos (alguns res- ponsáveis pela dor) e nervos vasomotores responsáveis pela vasoconstrição e vasodilatação dos vasos, regulando o fluxo de sangue para a medula óssea. Vale lembrar que no periósteo também tem vasos linfáticos. INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E36 OSSIFICAÇÃO E FRATURA Você já se perguntou se os fetos têm ossos prontos? Ou se todos os ossos dos fetos são de cartilagem? Que tipo de substância pode originar osso? Bom, para responder a estas e outras perguntas, primeiro é importante você saber que os ossos não nascem prontos. Eles são gradativamente formados por um processo contínuo chamado ossificação ou osteogênese, que se inicia na sexta semana de desenvolvimento. A ossificação ocorre a partir de células mesenqui- mais presentes no esqueleto do embrião, no local onde os futuros ossos serão formados (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Embora alguns ossos (como o esfenoide e o temporal) tenham uma ossifi- cação mista, normalmente, ela ocorre de duas formas: a intramembranosa e a endocondral. Na ossificação intramembranosa, o osso se forma diretamente den- tro do mesênquima, em uma região chamada centro de ossificação. Ela ocorre nos ossos do crânio e na mandíbula, os quais são ditos ossos conjuntivos. Já na ossificação endocondral, primeiro células mesenquimais se aglomeram na forma do futuro osso e se diferenciam formando um modelo de cartilagem hia- lina envolto por pericôndrio. Esse tipo de ossificação ocorre principalmente nos ossos longos, os quais ditos ossos condrais. Depois do osso formado, pode haver, em casos de traumas ou doenças, a ruptura do osso, caracterizando algum tipo de fratura. Elas são denominadas conforme a gravidade, a forma ou a posição da linha de fratura. Assim, os tipos mais comuns são fratura exposta, fechada, cominutiva, em galho verde, impac- tada ou por estresse (fissuras microscópicas, sem ruptura visível). O reparo de uma fratura é um processo relativamente lento e sua recuperação deve ser sem- pre acompanhada por um profissional habilitado que assista a todas as etapas descritas, porque se elas não forem respeitadas, pode haver formação de um osso defeituoso. Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 37 ACIDENTES ANATÔMICOS Os acidentes anatômicos constituem os elementos descritivos para o estudo dos ossos. Eles surgem onde há inserção de tendões, fixação de fáscias, ligamentos, onde artérias penetram os ossos etc. Podem ser de vários tipos, por exemplo, saliências, depressões e aberturas. As saliências (como os processos, tubérculos, eminências, cristas, espinhas etc.) geralmente estão relacionadas a pontos de inserção de músculos e fás- cias. As depressões (como as fossas, sulcos, incisuras etc.) geralmente servem para adaptação a estruturas vizinhas. Já as aberturas (como os forames, canais etc.) geralmente servem para a passagem de estruturas como vasos e nervos (WATANABE, 2000). PRINCIPAIS OSSOS DO CORPO HUMANO Ossos da cabeça Os ossos da cabeça são chamados, em conjunto, de crânio. Esta estrutura que se parece com um capacete ou com um estojo ósseo, tem por principal função proteger o encéfalo (parte do sistema nervoso central popularmente conhecida como “cérebro”) que fica alojado em seu interior. No entanto o crânio apresenta outras importantes funções, por exemplo, abrigar e proteger os órgãos dos senti- dos (olhos, mucosa olfatória, órgão auditivo, órgão gustativo e do equilíbrio) por meio de cavidades especiais (como a orbital, a nasal, o meato acústico interno e a cavidade oral). Por fim, o crânio também possibilita a mastigação e a fona- ção por meio dos movimentos da Articulação Temporo-Mandibular (ATM). (DANGELO; FATTINI, 2011). O crânio tem um teto em forma de cúpula (chamado de calvária) e um asso- alho (chamado de base), e é formado por 22 ossos que se articulam, sendo apenas um deles amplamente móvel, a mandíbula. Vale lembrar que, no interior de dois destes ossos (os ossos temporais), estão presentes os ossículos da audição chamados de martelo, bigorna e estribo, os quais não entram nesta contagem (DI DIO, 2002). INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E38 Dos 22 ossos, oito formam o crânio neural (osso frontal, occipital, esfenoide, etmoide, parietais e temporais) e 14 formam o crânio facial ou visceral (mandí- bula, vômer, nasais, palatinos, maxilas, zigomáticos, lacrimais e conchas nasais inferiores). Lembre-se de que a maxila e a mandíbula têm estruturas destinadas à sustentação dos dentes (processos alveolares) e, por todo o crânio, há muitos forames para a passagem de vasos e nervos. Figura 14 - Crânio Exceto a articulação da mandíbula com o osso temporal (que é chamada de Articulação Temporo-Mandibular ou ATM), as outras articulações do crânio ocorrem por meio de suturas (como a sagital, a coronal, a lambdoidea, a esca- mosa, a internasal e a intermaxilar). Estas suturas não estão presentes desde o nascimento, pois, inicialmente, entre os ossos do crânio, existem espaços preenchidos com mesênquima não ossificado chamados de fontículos (popularmente chamados de “moleiras”). Os fontículos permitem relativa flexibilidade e possibilidade de crescimento ao crânio fetal. Os principais são o fontículo anterior (entre o osso frontal e os parietais), o poste- rior (entre os parietais e o occipital), os ântero-laterais (entre frontal, parietal, esfenoide e temporal) e os póstero-laterais (entre parietal, occipital e tempo- ral). Esses sofrem ossificação e desaparecem durante o crescimento do crânio. Parietal Occipital Mandíbula Temporal Frontal Esfenoide Zigomático Nasal Maxila Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 39 Alguns ossos do crânio (frontal, esfenoide, etmoide e maxilas) apresentam cavi- dades ocas contendo ar, as quais são revestidas por mucosa e chamadas de seios paranasais (em decorrência de drenarem seu conteúdo mucoso para a cavidade nasal). Tais ossos são classificados como pneumáticos e ajudam a diminuir o peso da cabeça sobre as vértebras cervicais e a amplificar o som da voz como uma caixa acústica. A inflamação de tal mucosa é chamada de sinusite (TORTORA et al., 2010). Ossos do pescoço Fazem parte dos ossos do pescoço o hioide, as vértebras cervicais, o manúbrio do esterno (que será descrito junto com o esqueleto do tórax) e as clavículas (que serão descritas junto ao esqueleto do membro superior) (MOORE et al., 2014).Figura 15 – Fontículos Osso hioide Figura 16 - Ossos do pescoço INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E40 O osso hioide é móvel e fica situado na parte anterior do pescoço. Ele é sus- penso por músculos e ligamentos e não se articula com nenhum outro osso do corpo. Assim, além de fixar os músculos da região anterior do pescoço, ele ajuda a manter as vias aéreas abertas. As vértebras cervicais são sete pequenos ossos irregulares chamados, respectivamente, de C1 (ou atlas), C2 (ou áxis), C3, C4, C5 e C6 e C7 (ou vértebra proeminente). Ossos do tronco Os ossos do tronco incluem o osso esterno, as costelas, as vértebras torácicas, as vértebras lombares, as vértebras sacrais e as vértebras coccígeas (DI DIO, 2002). Esqueleto apendicular Clavícula EscápulaOssos dos membros superiores Ossos do quadril Ossos dos membros inferiores Esqueleto axial Osso esterno Cartilagens costais Costelas Vértebras torácicas Figura 17 – Ossos do tronco Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 41 O osso esterno é um osso ímpar, plano, localizado na região central e anterior do tórax. Ele é dividido em três partes até a meia idade, quando ocorre sua ossifica- ção. A parte mais larga e superior é chamada de manúbrio e nela se identificam as incisuras claviculares e a incisura jugular. Ele se une ao corpo, que é mais longo e estreito, e onde se identificam as incisuras costais. O processo xifoide é a menor e mais variável parte do esterno. Ele se ossifica por volta dos 40 anos e, nos idosos, pode-se fundir ao corpo (antes é cartilagíneo). As costelas são 12 pares de ossos planos, curvos, com alta resiliência e que contêm medula óssea. Podem ser verdadeiras, falsas ou flutuantes. As verda- deiras (do 1° ao 7° par) fixam-se diretamente ao osso esterno por meio de suas próprias cartilagens costais. As falsas (do 8° ao 10° par) têm conexão indireta com o osso esterno, pois suas cartilagens costais são unidas (formando a margem costal). As flutuantes ou anesternais (11° e 12° par de costelas) não se conectam ao osso esterno. As 12 vértebras torácicas são chamadas de T1, T2, T3, T4, T5, T6, T7, T8, T9,T10, T11 e T12, as 5 lombares são chamadas de L1, L2, L3, L4 e L5, as 5 sacrais são chamadas de S1, S2, S3, S4 e S5 e as 3 ou 4 coccígeas são chamadas de Co1, Co2, Co3 e Co4 (variação anatômica). No entanto, as vértebras sacrais e as coc- cígeas, por ossificação de seus discos intervertebrais, originando o sacro e o cóccix, respectivamente. As lombares são as maiores e mais resistentes vértebras da coluna. Seus pro- cessos espinhosos são quadriláteros, largos, espessos e servem para fixação dos grandes músculos do dorso. O sacro é um osso triangular que se posiciona na parte posterior da cavidade pélvica, medialmente aos ossos do quadril, servindo como forte fundação para o cíngulo do membro inferior. Na mulher, ele é mais curto, largo e curvo a fim de favorecer a expulsão do bebê durante o trabalho de parto normal. O sacro apresenta forames sacrais anteriores e posteriores, pelos quais passam nervos e vasos sanguíneos. INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E42 Para finalizarmos a apresentação do esqueleto do tronco, é importante apresentar- mos as curvaturas da coluna vertebral (CV). Em vista anterior e posterior, a CV deve ser retilínea, mas em vista lateral, ela apresenta curvaturas fisiológicas que permi- tem a adequada distribuição do peso corpóreo e, consequentemente, o equilíbrio. Tais curvaturas começam a se formar ainda na vida embrionária, quando a CV do feto apresenta- -se convexa (em vista posterior) devido à curvatura do próprio útero e é chamada de curvatura primá- ria. Quando o bebê começa a sustentar a cabeça, uma curvatura cervical côncava surge e é chamada de lordose cervical. Ao ficar em pé e sustentar o peso corpóreo (em torno de um ano de idade), apa- rece uma curvatura côncava nas vértebras lombares (lordose lombar). As regiões torácica e sacral são convexas, posteriormente, e, por isso, são chama- das de cifoses. Assim, no adulto normal, existem quatro cur- vaturas fisiológicas na CV: lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar e cifose sacral. No entanto o aumento destas curvaturas pode se tornar patológico, passando a caracterizar um quadro de hipercifose ou hiperlordose. Além disso, o desvio látero-lateral da CV também é patológico e é chamado de escoliose (que pode ser “C” à direita ou à esquerda, e em “S”). Entre os corpos das vértebras, ficam interpostos os discos intervertebrais. Esses discos são constituídos pelo anel fibroso de fibrocartilagem (externamente) e núcleo pulposo (internamente). Ele é altamente hidratado e, por isso, é capaz de absorver impactos impostos à coluna vertebral e permitir movimentos. Fonte: Kahle et al. (2006). Figura 18 – Curvaturas normais da CV Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 43 Ossos do membro superior O membro superior é composto por vários ossos (32 no total) que se articulam entre si para permitir ampla mobilidade e realização dos movimentos das mãos, inclusive os de pinça fina. O cíngulo do membro superior é composto pela claví- cula e pela escápula e tem a função de unir a parte livre do membro ao esqueleto axial. A parte livre do membro apresenta um osso no braço (o úmero), dois ossos no antebraço (o rádio e a ulna), 13 ossos nas mãos (oito ossos carpais e cinco ossos metacarpais) e 14 ossos nos dedos (cinco falanges proximais, cinco falanges distais e quatro falanges médias). Apenas os ossos carpais são classifi- cados (quanto à forma) como curtos, sendo os demais classificados como longos (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Clavícula Úmero Escápula Rádio Ulna Ossos carpais Ossos metacarpais Fa la ng es Figura 19 - Ossos do membro superior INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E44 A clavícula é um osso fino, em forma de “S”, que fica sobre a primeira costela. Sua posição lhe permite se articular com o esterno e com a escápula, além de servir como ponto de fixação para alguns ligamentos. Em contrapartida, a escápula é um osso grande, plano, triangular e posterior, que se articula com a clavícula e com o úmero. Além disso, ela permite a fixação de muitos músculos. Já o úmero é o osso mais longo do membro superior. Sua extremidade proximal se articula com a escápula e sua extremidade distal se articula com o rádio e com a ulna. Ele também permite a fixação de vários músculos que agem sobre o braço, antebraço e mão. Enquanto a ulna (o maior osso do antebraço) tem localização medial, o rádio é o osso lateral do antebraço, cuja extremidade distal se articula com três ossos do carpo (semilunar, escafoide e piramidal) para formar a articulação radiocar- pal. Rádio e a ulna se articulam entre si pela membrana interóssea do antebraço que serve como ponto de fixação de alguns músculos profundos do antebraço. Os ossos da mão compreendem os ossos carpais e metacarpais. Os carpais são oito ossos curtos interligados por ligamentos nas articulações intercarpais. São dis- postosem duas fileiras com quatro ossos cada. Na fileira proximal, estão os ossos escafoide, semilunar, piramidal e pisiforme; na fileira distal, estão os ossos trapézio, trapezoide, capitato (maior) e hamato. Os ossos metacarpais são cinco ossos longos numerados de I a V, a partir da posição lateral. Consistem de uma base (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal). Articulam-se proximalmente com os ossos do carpo e distal- mente com as falanges. Os ossos dos dedos são as falanges. São 14 ossos longos que apresentam base, corpo e cabeça e são chamados de proximal, média e dis- tal. O polegar tem apenas as falanges proximal e distal. Ossos do membro inferior O membro inferior é composto por vários ossos que se articulam entre si para permitir ampla mobilidade e o suporte de peso corporal durante a marcha, assim como o equilíbrio do corpo na postura estática. O cíngulo do membro inferior é composto pelos ossos do quadril e pelo osso sacro e tem por função unir a parte livre do membro ao esqueleto axial. Já a parte livre do membro apresenta um Sistema Esquelético: Generalidades sobre os ossos Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 45 osso longo na coxa (o fêmur), dois ossos longos na perna (a tíbia e a fíbula), um osso sesamoide na região do joelho (patela), 12 ossos no pé (sendo sete ossos tarsais e cinco ossos metatarsais) e 14 ossos nos dedos (cinco falanges proxi- mais, cinco falanges distais e quatro falanges médias). Os ossos do quadril e o sacro são irregulares, os tarsais são curtos, os metatarsais e as falanges são lon- gos (DANGELO; FATTINI, 2011). Ossos do quadril Fêmur Patela Tíbia Fíbula Ossos tarsais Ossos metatarsais Falanges Figura 20 - Ossos do membro inferior O osso do quadril do recém-nascido é formado por três ossos separados por cartilagem: ílio, ísquio e púbis. Eles se unem completamente por volta dos 23 anos de idade e se articulam anteriormente na sínfise púbica e, posteriormente, unem-se ao sacro. Assim, o anel ósseo completo formado pelos dois ossos do quadril e sacro fazem uma estrutura em forma de bacia, chamada pelve óssea, que dá suporte à coluna vertebral e aos órgãos pélvicos. INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E46 Como visto, existem importantes diferenças entre o cíngulo do membro superior e inferior. Enquanto o cíngulo do membro superior não se articula diretamente à coluna vertebral, o do membro inferior o faz pela articulação sacroilíaca. Além disso, o encaixe na escápula para o úmero é raso e o fêmur no osso do quadril é profundo. Assim, enquanto o membro superior é adaptado a amplos movimentos, o membro inferior é adaptado ao suporte de peso e à esta- bilidade articular (GRABINER et al., 1991). O fêmur é o maior, mais pesado e mais resistente osso do corpo. Sua extre- midade proximal articula-se com o acetábulo do osso do quadril, e a distal articula-se com a tíbia e a patela. Já a patela é um osso triangular e sesamoide que se desenvolve no tendão do músculo quadríceps femoral, aumentando a força de alavanca deste músculo, mantendo a posição de seu tendão na flexão do joe- lho e protegendo a articulação. Enquanto a tíbia é o osso medial e sustentador de peso do membro inferior, a fíbula é paralela e lateral à tíbia. Superiormente, a tíbia se articula com o fêmur e com a fíbula, e inferiormente, se articula com o osso tálus e com a fíbula (pela membrana interóssea da perna; sindesmose tibiofibular). Os ossos do pé incluem os ossos tarsais e metatarsais. Os tarsais (tálus, cal- câneo, navicular, cuboide, cuneiforme lateral, cuneiforme medial e cuneiforme intermédio) unem-se pelas articulações intertarsais. Os metatarsais apresentam uma base (proximal), um corpo (intermédio) e uma cabeça (distal), e são nume- rados de I a V a partir da posição medial. Articulam-se proximalmente com os ossos tarsais e distalmente com as falanges. As falanges (proximal, média e distal) apresentam base, corpo e cabeça, e as articulações que formam entre si são chamadas de interfalângicas. Vale lem- brar que o hálux (popularmente chamado de “dedão”) apresenta apenas falanges proximal e distal. Sistema Articular Re pr od uç ão p ro ib id a. A rt . 1 84 d o Có di go P en al e L ei 9 .6 10 d e 19 d e fe ve re iro d e 19 98 . 47 SISTEMA ARTICULAR DEFINIÇÃO DE ARTICULAÇÃO Quem nunca ouviu a vó ou o vô reclamando que está com dor nas “juntas”? Quem nunca ouviu dizer que se estalar o dedo engrossa as “juntas,” ou se ficar muito tempo sem movimentar uma articulação, a “junta” seca? Será que essas suposições são fato ou boato? A fim de respondermos estas e tantas outras questões sobre este tema tão complexo, vamos fazer um estudo completo sobre as articulações. Em primeiro lugar, você só pode chamar de articulações ou junturas. Junta não! Em segundo lugar, elas são definidas como o conjunto de estruturas ana- tômicas que promovem a conexão entre duas ou mais peças do esqueleto. Se a articulação ocorrer entre apenas dois ossos, ela é classificada como simples, mas se acontecer entre mais de dois ossos, ela é chamada de composta (WATANABE, 2000). O restante, abordaremos nos tópicos que seguem. FUNÇÕES DAS ARTICULAÇÕES A maioria das articulações relaciona-se à produção de movimentos, uma vez que as peças ósseas são tracionadas pelos músculos (durante a contração) e se movem ao redor dos pontos de junturas entre os ossos. Todavia, algumas arti- culações não são muito móveis, mas dão estabilidade às zonas de união entre os vários segmentos do esqueleto, ou seja, estão mais relacionadas à postura e ao equilíbrio (MOORE et al., 2014). Quando as articulações perdem suas funções em decorrência de doenças articulares graves (por exemplo, artrite), um procedimento cirúrgico chamado de artroplastia pode ser feito. Nele, a articulação lesada é substituída por uma articulação artificial. INTRODUÇÃO À ANATOMIA HUMANA E APARELHO LOCOMOTOR Reprodução proibida. A rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. IU N I D A D E48 CLASSIFICAÇÃO DAS ARTICULAÇÕES As articulações podem ser classificadas segundo vários critérios, sendo os dois mais utilizados o critério funcional (com base nos tipos de movimentos que permi- tem) e o critério estrutural (baseado em características anatômicas) (GRABINER, et al., 1991). A classificação funcional está relacionada ao grau de movimento que a arti- culação permite. Assim, pode ser chamada de sinartrose (quando a articulação é fixa, sem movimento), anfiartrose (quando a articulação permite pouco movi- mento) ou diartrose (quando a articulação é muito móvel). Já a classificação estrutural é baseada na presença ou ausência de um espaço (a cavidade articu- lar) entre os ossos da articulação, e no tipo de tecido que une os ossos. Assim, a articulação pode ser fibrosa, cartilagínea ou sinovial. A articulação fibrosa tem ossos unidos por tecido conjuntivo fibroso rico em fibras colágenas não tem cavidade articular entre os ossos e permite apenas pequenos deslocamentos e movimentos vibratórios. A articulação cartilagínea tem ossos unidos por cartilagem hialina ou fibrocartilagem, não tem cavidade articular entre os ossos e também permite apenas pequenos deslocamentos e movimentos vibratórios. Em contrapartida, a articulação sinovial tem ossos uni- dos por tecido conjuntivo denso não modelado em forma de cápsula articular, tem cavidade articular e apresenta alguns elementos articulares característicos e outros especiais.
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