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p s ic ol og ia d o d es en vo lv im en to e da a pr en di za ge m A letra grega , adotada como símbolo universal da psicologia, é usada nesta obra para representar o grupo de disciplinas que tratam do comportamento humano. psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem Obra coletiva organizada pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Informamos que é de inteira respon sabilidade do autor a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser repro duzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização da Ulbra. A violação dos direi tos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. apresentação Tempo... Nascimento... Desenvolvimento... Crescimento... Bebê, criança, jovem, adulto e velho! Como nos desenvolvemos? Como aprendemos? As crianças, hoje, se desenvolvem, aprendem como as crianças de ontem? E os jovens, adultos, velhos? Qual a relação entre sociedade, cultura, desenvolvi mento e educação? Múltiplas questões? Bemvindos, caros alunos e alunas, à disciplina de Psico logia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Disciplina que Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em vi visa discutir, problematizar, responder (será?) questões rela cionadas ao desenvolvimento e à aprendizagem, entre outras. Literatura construída a partir de diferenciadas correntes epistemológicas e paradigmáticas. Obra construída em dez capítulos: histórico da psicologia, olhares de Skinner, Rogers, Piaget e Vygotsky sobre o desenvolvimento e a aprendiza gem. Visibilidades sobre a infância – criança, cultura juve nil, adulto e velho. Conceitos sobre inteligência, fracasso e sucesso escolar, inclusão, exclusão. Outras questões... Assim, os convido para que abram a obra, deliciemse e, principalmente, busquem: novas leituras, novas escutas e novos olhares sobre o desenvolvimento e a aprendizagem. Sua relação com nossas histórias de vida, com nossos dese jos e principalmente com o nosso reaprender. Bons estudos. Professora Christiane Martinatti Maia sumário ( 1 ) Algumas (re)paisagens: um pouco de história, 11 1.1 Historicidade: algumas questões..., 14 1.2 Psicanálise, algumas questões..., 17 1.3 Estrutura topográfica do aparelho psíquico, 19 1.4 Desenvolvimento psicossexual, 20 ( 2 ) Teoria behaviorista – Skinner, 27 2.1 Idéias iniciais, 30 2.2 Escola: lugar de estímulos e respostas?, 33 2.3 Outros olhares, 35 Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em viii ( 3 ) Teoria humanista – Rogers, 41 3.1 Olhares iniciais, 44 3.2 A sala de aula, 47 ( 4 ) Teoria psicogenética – Piaget, 53 4.1 As idéias de Piaget, 56 4.2 A construção do número pela criança, 61 ( 5 ) Teoria históricocultural – Vygotsky, 65 5.1 Algumas idéias principais, 68 5.2 Por trás da linguagem, 70 5.3 Brincar, brincando, brinquedo: vamos jogar?, 73 5.4 Algumas questões para a prática educativa, 76 ( 6 ) A construção da inteligência: novas tecituras, 79 6.1 Histórico da inteligência: três pressupostos associados à sua definição, 82 6.2 Teoria das inteligências múltiplas, 86 ( 7 ) Infância, cultura juvenil, adulto e velho: novos rumos conceituais, apenas?, 95 7.1 A criança hoje..., 98 7.2 Cultura juvenil, 102 7.3 Os significados de ser adulto, 104 7.4 Terceira idade ou velhice, 106 ( 8 ) Estudos culturais – problematizando conceitos, 109 8.1 Estudos culturais: novo campo conceitual, 112 8.2 A construção do sujeito, 114 8.3 Identidade: múltipla, fixa ou?, 118 8.4 Mas e a sala de aula: corpos dóceis?, 120 Su m ár io ix ( 9 ) Mitos e desafios: da exclusão à inclusão, 125 9.1 Algumas questões..., 128 9.2 Necessidades educacionais especiais: um pouco de história, 128 9.3 Os sujeitos com necessidades educacionais especiais, 131 9.4 Fracasso e sucesso escolar: algumas questões, 136 9.5 Inclusão e exclusão: eis a questão, 138 ( 10 ) Ludicidade, tecnologias da comunicação e da informação, desenvolvimento e aprendizagem: feitos uns para os outros , 143 10.1 Ludicidade: onde estás que não te encontro?, 146 10.2 Tecnologias da informação e da comunicação, 150 Considerações finais, 155 Referências comentadas, 157 Referências por capítulo, 161 Referências, 165 ( 1 ) algumas (re)paisagens: um pouco de história Christiane Martinatti Maia é graduada em Pedagogia, com ênfase em Séries Iniciais e Magistério das Matérias Pedagó gicas de 2º Grau (1995), pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); especialista em Psicopedagogia, Abordagens Institucional e Clínica pela Faculdade Porto Alegrense de Educação Ciências e Letras (FAPA). Atua na área de pesquisa desde 1991, tendo recebido prêmio de des taque no IX Salão de Iniciação Científica da UFRGS, em 1997, por trabalho de pesquisa apresentado. É coordena dora do grupo de pesquisa: Psicopedagogia, Ludicidade e Pro cessos de Ensinar e Aprender, cadastrado no CNPq desde 2002. Defendeu sua dissertação de mestrado em Educa ção pela UFRGS, em 2000, com a temática: Brincar, não brincar: eis a questão? Um estudo sobre o brincar do por tador de altas habilidades, sendo bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Defende, no ano de 2008, sua tese de doutorado em Educa ção pela UFRGS com a temática: Quem olha quem? Câme ras online na Escola de Educação Infantil! Possui vários artigos publicados, sendo autora e coautora de distintos Cadernos Universitários. É professora da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), campi Canoas e São Jerônimo. Christiane Martinatti Maia ( ) no presente capítulo, será abordada um pouco da história da psicologia da educação, assim como alguns conceitos relacionados ao desenvolvimento e à aprendiza gem. Dessa forma, o objetivo do presente capítulo é apre sentar suas idéias referentes ao desenvolvimento humano visto pelas distintas escolas psicológicas. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 14 (1.1) historicidade: algumas questões... Recuperar a história da psicologia se faz necessário, visto que somente dessa forma compreenderemos sua diversi dade hoje e sua relação com áreas de conhecimento como antropologia, sociologia, educação, filosofia, entre outras. Pois bem, a história da psicologia, a história do pensa mento humano começa com os gregos, responsáveis pela primeira tentativa de sistematizar uma psicologia – o termo vem do grego psyché, que significa alma, e de logos, razão. Assim, etimologicamente, psicologia significa estudo da alma. Bock1 salienta que a alma ou o espírito era concebido como a parte imaterial do ser humano abarcando o pensa mento, sentimentos de amor e ódio, desejo, entre outros. Dessa forma, Sócrates, Platão e Aristóteles conceberam dife rentes conceitos relacionados à alma. Sócrates (469399 a.C.) postulava que a principal carac terística humana seria a razão – limite que separaria o homem dos animais. A razão permite ao homem se sobre por aos instintos, considerados a base da irracionalida de. Discípulo de Sócrates, Platão (427-347 a.C.) procurou defi nir um lugar para a razão em nosso corpo. Assim, o lugar escolhido pelo filósofo foi a cabeça. Sendo a medula o ele mento de ligação entre a alma e o corpo. Ele acreditava que, quando morremos, nosso corpo desaparece, porém nossa alma fica livre para ocupar outro corpo. Aristóteles (384-322 a.C.), um dosmais importantes filó sofos da história, discípulo de Platão, acreditava que a psyché seria o princípio ativo da vida. Assim, colocou que tudo que A lg um as (r e) pa is ag en s: um p ou co d e h ist ór ia 15 cresce, reproduzse e se alimenta possui a psyché ou alma. Dessa forma, vegetais, animais e homem têm alma. “Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela função de alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e a alma sensitiva, que tem a função de percepção e movimento. E o homem teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que tem a função pensante”2. A psicologia moderna, porém, começa a se fazer pre sente apenas no final do século XIX, na Alemanha, através dos estudos de Wundt, Weber e Fechner. Titchner e James também contribuíram com os alemães. Assim, seu status de ciência ocorre a partir de seu desli gamento da filosofia, bem como define seu objeto de estudo como o comportamento, a vida psíquica, a consciência. Após seu nascimento na Alemanha, atualmente é nos Estados Unidos que ocorre a proliferação de estudos e pesquisas na área, sendo as três abordagens a seguir relacionadas à ori gem dos estudos na área da psicologia: Funcionalismoa. – “O que fazem os homens e por que os fazem?”, é a pergunta de James, em sua escola funcio nalista – corrente considerada a primeira sistematiza ção genuinamente de conhecimentos em psicologia. Preocupavase, assim, em compreender como ocorre o funcionamento e a adaptação da mente dos indivíduos no meio no qual encontramse inseridos. Estruturalismob. – Wundt e Titchner buscaram estudar os estados elementares da consciência, como estrutu ras do sistema nervoso central. O método de observação de Titchner e Wundt é o introspeccionismo, e os conhe cimentos psicológicos produzidos são eminentemente experimentais, isto é, produzidos a partir do laboratório. Associacionismoc. – O principal representante é Thorndike, Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 16 responsável pela primeira teoria de aprendizagem na psicologia. A premissa dessa escola é a de que a apren dizagem ocorre através de um processo de associação das idéias – das mais simples às mais complexas. Formulou a Lei do Efeito, compreendida como um pro cesso de reforçamento associado à aprendizagem. A partir do século XX, temos três tendências conside radas extremamente importantes. São elas o behaviorismo (comportamentalismo), a gestalt e a psicanálise: Behaviorismoa. – Nasceu nos Estados Unidos, com Watson, elevando o status de ciência à psicologia. Seu principal representante é Skinner. Gestaltb. – Ou a psicologia da forma. Tem seu berço na Europa, surgindo como uma negação da fragmenta ção das ações e processos humanos. Postula a necessi dade de compreender o homem como uma totalidade. Representantes: Lewin, Wertheimer, Koffka, Kohler, Mach e Ehrenfels – os dois últimos relacionados aos antecessores da psicologia da Gestalt. Psicanálisec. – Nasceu com Freud, na Áustria, a partir de sua prática médica. Postula o inconsciente como objeto de estudo. Enfatiza que determinados impulsos instintivos seriam de natureza sexual. A partir do processo histórico relacionado à psicologia abordado até o momento, enfatizarei, a seguir, as idéias pre sentes na psicanálise, propostas por Freud. A lg um as (r e) pa is ag en s: um p ou co d e h ist ór ia 17 (1.2) psicanálise, algumas questões... A personalidade, para Freud, é construída por três sis te mas: id, ego, superego. Ele salientava que cada sistema possui características, funções, mecanismos próprios, interagindo estreitamente entre si. Hall3 destaca que “o comportamento é quase sempre o produto de uma intera ção entre esses três sistemas; e raramente um sistema opera com a exclusão dos outros dois”. Por id, entendese a totalidade do aparelho psíquico do indivíduo, presente desde seu nascimento. “Consiste em tudo que é psicológico, que é herdado e que se acha presente no nascimento, incluindo os instintos”, salienta Hall4. Caracterizase, assim, por uma atividade humana rela cionada aos impulsos básicos, em que o sujeito busca o prazer, a gratificação imediata, não tolerando, dessa forma, a frus tração. Instintos sexuais e agressivos também compõem o id que, para Freud5, não conhece juízos de valor nem o bem e o mal ou alguma moralidade. Como sistema original da perso nalidade origina o ego e o superego. Hall esclarece que o ego passa a existir porque as necessidades do organismo requerem transações apropriadas com o mundo objetivo da realidade. (...) A distinção básica entre id e o ego é que o id só conhece a realidade subjetiva da mente, ao passo que o ego distingue as coisas na mente das coisas no mundo externo.6 Dessa forma, se o id opera com pulsão, desejo, o ego opera com realidade. Ou seja, é no ego que se processam os controles dos impulsos, do desejo, do prazer. Cabe ao ego estruturar questões associadas ao planejamento, a decisão, à Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 18 percepção, entre outros: “Afirmamos que o ego é o executivo da personalidade porque ele controla o acesso à ação, sele ciona as características do ambiente às quais irá responder e decide que instintos serão satisfeitos e de que maneira”7. O ego se estrutura, desse modo, para controlar o id. O superego estruturase a partir do ego e do id frente à ques tão das restrições morais: Ele é o representante interno dos valores tradicionais e dos ideais da sociedade conforme interpretados para a criança pelos pais e impostos por um sistema de recompensas e de punições. O superego é a força moral da personalidade. Ele representa o ideal mais do que o real e busca a perfeição mais do que o prazer. Sua principal preocupação é decidir se alguma atitude é certa ou errada, para poder agir de acordo com os padrões morais autorizados pelos agentes da sociedade.8 Dessa forma, o superego pretende inibir as pulsões, a agressividade, a busca pelo prazer presente do id, transfor mar objetivos realistas presentes no ego em objetivos mora listas, buscando, assim, a perfeição, parafraseando Hall9. Busca constituir o autocontrole. Por fim, pode-se destacar que “o id pode ser pensado como componente biológico da personalidade, o ego como o componente psicológico e o superego como o componente social”, conforme Hall10. A lg um as (r e) pa is ag en s: um p ou co d e h ist ór ia 19 (1.3) estrutura topográfica do aparelho psíquico Em sua teoria, Freud referiase à existência de três sistemas ou instâncias psíquicas: inconsciente, préconsciente e o consciente: No inconsciente, partindo das idéias de Fadiman e Frager11, estão presentes os conteúdos que não são acessíveis à consciência. Geralmente são conteúdos que foram repri midos, censu ra dos e até excluídos de nossa consciência: Aprendemos pela experiência que os processos mentais incons cientes são em si mesmos intemporais. Isto significa em pri meiro lugar que não são ordenados temporalmente, que o tempo de modo algum os altera, e que a idéia de tempo não lhes pode ser aplicada [...]. A maior parte da consciência é inconsciente. Ali estão os principais determinantes da personalidade, as fon tes da energia psíquica, e pulsões ou instintos.12 O préconsciente “seria a franja de penumbra interme diária entre a região iluminada e a escuridão”, segundo D’Andrea13, ou seja, a instância psíquica entre o incons ciente e o consciente. Como parte do inconsciente, tornase também consciente.Lembranças de nossa vida, atos passados e presentes fazem parte dessa instância, os quais poderão estar cons cientes ou inconscientes. “O préconsciente é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções”14. O consciente é uma parte relativamente pequena e incons tante da vida mental de uma pessoa. Corresponde a tudo Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 20 aquilo de que o indivíduo está ciente em determinado instante e cujo conteúdo provém de duas fontes principais: o conjunto dos estímulos atuais, percebidos pelo aparelho sensorial, e as lembranças de experiências passadas, evocadas naquele ins tante. Quanto mais a atenção do indivíduo estiver voltada para os fatos da realidade presente, menos haverá lugar para lembranças do passado [...]. Corresponde a tudo o que ocupa a atenção de um indivíduo em determinado instante.15 Sendo assim, no consciente, temos acesso a todas infor mações, lembranças presentes em nosso aparelho psíquico, a qualquer hora, em qualquer momento. (1.4) desenvolvimento psicossexual No desenvolvimento psicossexual, D’Andrea, Fadiman e Hall16 destacam que Freud postulava as fases do desen volvimento sexual do indivíduo em cinco fases: oral, anal, fálica, latência e genital. a) Fase oral Desde o nascimento, necessidade e gratificação estão ambas concentradas predominantemente em volta dos lábios, língua e, um pouco mais tarde, dos destes [sic]. A pulsão básica do bebê não é social ou interpessoal, é apenas receber alimento para atenuar as tensões de fome e sede. Enquanto é alimen tada, a criança é também confortada, aninhada, acalentada e A lg um as (r e) pa is ag en s: um p ou co d e h ist ór ia 21 acariciada. No início, ela associa prazer e redução da tensão ao processo de alimentação.17 Percebese, assim, que a zona de erotização, nessa fase, se concentra na boca: amamentação, comida, bebida, mor der, chupar etc. Conforme crescemos, essa necessidade, a fixação na fase oral, tende a desaparecer frente a novos estímulos, interesses. Porém, em uma perspectiva freudiana, o indivíduo poderá ficar centrado nessa fase, desenvolvendo hábitos relacionados ao fumo, comer em excesso, beber em dema sia, roer unhas entre outras questões. Utilizando, dessa forma, a boca para aliviar tensões, segundo o teórico. b) Fase anal À medida que a criança cresce, novas áreas de tensão e gra tificação são trazidas à consciência. Entre dois e quatro anos, as crianças geralmente aprendem a controlar os esfíncteres anais e a bexiga. A criança presta uma atenção especial à micção e a evacuação. O treinamento da toalete desperta um interesse natural pela autodescoberta. A obtenção do controle fisiológico é ligada à percepção de que esse controle é uma nova fonte de prazer.18 Desse modo, as crianças começam a associar o con trole de esfíncteres a elogios, geralmente oriundos dos pais. Freud destacava a importância de um aprendizado relacio nado à higiene, ao controle dos esfíncteres através de elo gios, tentativas, e não em cima dos erros, das dificuldades apresentadas pelas crianças na hora da higiene. Porém, se os pais forem omissos ou controladores em demasia isso poderá acarretar problemas futuros na criança como: pri são de ventre, retenção das fezes etc. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 22 c) Fase fálica Bem cedo, já aos três anos, a criança entra na fase fálica que focaliza as áreas genitais do corpo. Freud afirmava que essa fase é melhor caracterizada por ‘fálica’ uma vez que é o perío do em que uma criança se dá conta de seu pênis ou da falta de um. É a primeira fase em que as crianças tornamse conscientes das diferenças sexuais.19 Nessa fase, para Freud, meninos e meninas refletem sobre a ausência do pênis ou o temor pela perda deste. Nas meninas, Freud acredita, existe um sentimento de inveja do pênis, principalmente relacionado à micção e à masturbação. Salientava, ainda, que o clitóris é percebido como uma parte inferior feminina. Ainda hoje vários teóricos e pesquisadores debatem essa questão – Erikson, Jung, entre outros. Porém, os meninos focalizariam seus temores na idéia da castração do pênis, ou seja, o medo da perda do pênis ao pecar. A manifestação edipiana teria início, para o teórico, na fase que ocorreria por volta do 3º4º ano até o 6º7º ano de vida. Essa fase, para Freud, seria a mais importante para o desenvolvimento da personalidade. Partindo das idéias de D’Andrea20, a criança nessa fase, desenvolveria um grande interesse, desejo pelo genitor do sexo oposto, apresentando uma rivalidade pelo genitor do mesmo sexo. Ansiedade, medo e culpa constituemse nessa fase: “(...) para o menino que deseja estar perto de sua mãe, o pai assume alguns atri butos de um rival. Ao mesmo tempo, o menino ainda quer o amor e a afeição de seu pai e, por isso, sua mãe é vista como uma rival. A criança está na posição insustentável de querer e temer ambos os pais”21. Freud denominava essa situação de complexo de Édipo, inspirada na peça de Sófocles: “Na tragédia grega, Édipo mata seu pai (desconhecendo sua verdadeira identidade) A lg um as (r e) pa is ag en s: um p ou co d e h ist ór ia 23 e, mais tarde, casa-se com a mãe. Quando finalmente toma conhecimento de quem havia matado e com quem se casara, o próprio Édipo desfigura-se arrancando os dois olhos”22. O complexo se manifesta em meninos e meninas, porém com soluções distintas: os meninos reprimem seus senti men tos pelo medo da castração, sendo na menina a repressão menos severa, podendo se estender por mais tempo, segundo Freud. Assim, a maioria das crianças modifica a caracterís tica de apego aos seus pais, voltandose para outras questões, como atividades escolares, companheiros etc. d) Fase de latência Denominase fase de latência o período que vai, aproxi madamente, dos cinco aos dez anos de idade. Esse período caracterizase por uma aparente interrupção do desenvol vimento sexual, em que os impulsos eróticos exercem menor influência na conduta, e o ego encontra uma trégua para os conflitos emocionais que vinham se desenrolando nas fases anteriores23. Desse modo, a criança utiliza sua força psíquica para fortalecer o ego e o superego em desenvolvimento, voltan dose para o estreitamento de laços afetivos, busca de ami zades e outras atividades. Mudanças endocrinológicas nessa fase possibilitam novas transformações. e) Fase genital A fase final do desenvolvimento biológico e psicológico ocorre com o início da puberdade e o conseqüente retorno da ener gia libidinal aos órgãos sexuais. Neste momento, meninos e meninas estão ambos conscientes de suas identidades sexuais distintas e começam a buscar formas de satisfazer suas necessi dades eróticas e interpessoais.24 Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 24 A busca pelo companheiro, processo de identificação sexual, relações afetivas sólidas são características presentes nessa fase, para Freud. As relações entre os sujeitos seriam privilegiadas. Mas o teórico também explorou questões associadas a obstáculos ao crescimento, em que o ego, visando proteger a personalidade de ameaças, acaba a distorcendo. As distor ções provocadas pelo ego são intituladas mecanismos de defesa. Assim, por mecanismo de defesa entendese: Sob a pressão de excessiva ansiedade, o ego às vezes é forçado a tomar medidas extremas para aliviara pressão. [...] todos os mecanismos de defesa tem [sic] duas características em comum: eles negam, falsificam ou distorcem a realidade e eles operam inconscientemente, de modo que a pessoa não tem consciência do que está acontecendo.25 Alguns mecanismos de defesa associados ao desenvol vimento e a aprendizagem são: Regressãoa. – “[...] as pessoas tendem a regredir a um estágio no qual estiveram previamente fixadas”26. Ou seja, se caracteriza pelo retorno a um estágio anterior do desenvolvimento. Porém, destacase que o indiví duo não regride completamente, mas inclui caracterís ticas infantilizadas em seu comportamento. Projeçãob. – “É o processo mental pelo qual atributos da própria pessoa, não aceitos conscientemente, são imputa dos a outrem, sem levar em conta os dados da realidade”27. Por exemplo: “Ele me odeia”, em vez de “eu o odeio!” Identificaçãoc. – Nesse mecanismo, o indivíduo identi fica-se, liga-se a um objeto, a outro indivíduo ou a um grupo de indivíduos. Busca semelhanças em comporta mento, pensamento e ação, relacionando características A lg um as (r e) pa is ag en s: um p ou co d e h ist ór ia 25 internas e externas entre os indivíduos. Constituída de modo inconsciente, torna-se significativa para a forma ção da personalidade, segundo D’Andrea28. Fantasiad. – “É um conjunto de idéias ou imagens men tais que procuram resolver os conflitos intrapsíquicos, através da satisfação imaginária dos impulsos. [...] reves tese de caráter patológico quando tende a impedir con tinuamente a resolução dos conflitos”29. Os sonhos e a fantasia servem para aliviar a angústia, segundo Freud. Racionalizaçãoe. – “É uma tentativa de explicação conscien te, visando justificar manifestações de impul sos ou afetos inconscientes e não aceitos pelo ego”30. O indivíduo, dessa forma, fica preso pela fixação em determinados sentimentos que geram hostilidade, não permitindo o seu crescimento. Repressão ou recalque f. – “É o processo automático que mantém fora da consciência, impulsos, idéias ou senti mentos inaceitáveis, os quais não podem tornarse cons cientes através da evocação voluntária”31. Caracterizase pelo esquecimento de determinados sentimentos, de certos fatos para que não soframos. Constituise de forma in consciente. Por fim, destaca-se que algumas questões da obra de Freud ainda permanecem atuais, porém há necessidade de uma releitura de sua obra frente à realidade hoje: nossas crianças, jovens, adultos e velhos. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 26 atividade Cada Um Ricardo Reis Cada um cumpre o destino que lhe cumpre E deseja o destino que deseja Nem cumpre o que deseja Nem deseja o que cumpre Como as pedras na orla dos canteiros O Fado nos dispõe, e ali ficamos Que a Sorte nos fez postos Onde houvemos de sêlo Não tenhamos melhor conhecimento Do que nos coube que de que nos coube Cumpramos o que somos Nada mais nos é dado Cada um? O que somos? O que desejamos? O que cum primos? O que nos é dado? O que construímos? Frente às idéias centrais do poema de Ricardo Reis e aos questiona mentos realizados, construa um pequeno texto explorando as idéias de Freud a respeito da construção de nossa perso nalidade. Bom trabalho! ( 2 ) teoria behaviorista – skinner ( ) no presente capítulo, serão abordadas as idéias de Skinner relacionadas ao desenvolvimento e à aprendi zagem. Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresen tar suas idéias referentes ao desenvolvimento humano e à aprendizagem do sujeito. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 30 (2.1) idéias iniciais Skinner nasceu em 1904, no estado da Pensilvânia, EUA, falecendo no ano de 1980. Graduouse em Harvard, em Psicologia. É considerado um teórico da aprendizagem, na psicologia. A visão que Skinner possuía de sujeito era a mesma visão empirista de Locke1 – uma tábula rasa que gradual mente seria preenchida com informações do meio. Assim, para Skinner, o sujeito seria produto das forças do meio no qual vive. E a questão da personalidade? Fadiman e Frager2 destacam que, para Skinner, a per sonalidade era definida como uma coleção de padrões de comportamento, sendo que situações distintas evocariam diferentes padrões de respostas. Assim, o que se observa no sujeito é o seu comportamento, não havendo necessi dade de discutirmos o self, a personalidade. Nessa premissa, Skinner3 acreditava que “o que o ho mem faz é o resultado de condições que podem ser especi ficadas e que, uma vez determinadas, poderemos antecipar e até certo ponto determinar as ações”. E a questão da aprendizagem? A aprendizagem ocorre através da influência dos estímulos do meio. Dessa forma, propunha que todo o comportamento do homem fosse condicionado. Assim, Skinner apresenta dois tipos de com portamento: o respondente e o operante. Ao comportamento respondente ou reflexo estariam rela cionadas as interações estímuloresposta (ambientesujeito) incondicionadas, ou seja, comportamentos ou reações pro vocadas por estímulos antecedentes do ambiente. Exemplos? Arrepio de frio, lágrimas provocadas pela cebola na hora do Te or ia b eh av io ri st a – Sk in ne r 31 preparo de alimentos, entre outros. No comportamento operante, o que irá propiciar a apren dizagem dos comportamentos é a ação do organismo sobre o meio e o seu efeito4. O comportamento operante inclui todos os movimentos de um organismo dos quais se possa dizer que, em algum momento, têm efeito sobre ou fazem algo ao mundo ao redor. O comportamento operante opera sobre o mundo, por assim dizer, quer direta ou indiretamente.5 Assim, devemos compreender o comportamento ope rante como comportamentos realizados diariamente de forma desejada, tais como: ler um livro, escrever uma carta, tocar um instrumento, inscreverse em aulas de canto etc. Bem, se o comportamento operante representa nossa resposta espontânea aos estímulos, segundo Skinner, o condicionamento operante é compreendido como “plane jar um mundo no qual uma pessoa faz coisas que afetam esse mundo, que, por sua vez, afeta a pessoa”6. O condicionamento operante é o processo de modelar e manter por suas conseqüências um (determinado) comportamento particular. Por conseguinte, leva em conta não somente o que se apresenta antes que haja uma resposta como também o que acontece após a mesma. [...] quando um dado comportamento é seguido por uma dada conseqüência, apresenta maior proba bilidade de repetirse. Denominamos reforço à conseqüência que produz tal efeito.7 Desse modo, podemos entender reforço como qual quer estímulo que possibilite o aumento da probabilidade da resposta. Para Skinner, os reforços podem ser positivos e negativos. Por reforço positivo compreendese um estímulo que promove o comportamento desejado: a recompen sa8. Representa prazer, ganho, busca por recompensa ou noto rie dade. Exemplos? Funcionário do mês, aluno destaque, viagem Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 32 no fim do ano relacionada à aprovação na escola etc. O reforço negativo visa reduzir, extinguir ou eliminar determinada resposta. Para Skinner9, “os reforços negati vos denominamse adversos no sentido em que constituem aquilo de que os organismos fogem”. Pretende fortalecer, assim, a resposta que o remove, o enfraquece. Tapetinho ou cadeirinha do pensar em casa ou na escola – lembraramse de programas televisivos, não? O castigo, o nãoviajar etc. representamreforços negativos. O teórico enfatiza, ainda, tipos de reforçadores primários e secundários. Recompensas físicas diretas caracterizam os reforços primários, ou seja, satisfazem à nossa necessidade primária, tais como: fome, sede etc. No reforço secundário temos estímulos neutros, que se associam a reforços primá rios, atuando como recompensa, como o dinheiro, que, asso ciado a reforços primários, tornase um dos mais utilizados atualmente. O bônus financeiro no fim do mês é um exem plo, bem como o aumento da mesada de crianças e jovens pelos pais devido à realização de atividades propostas, ou seja, a resposta satisfatória. Porém, é importante destacar que Skinner condena a punição, pois acredita que punições estabelecidas aos sujei tos informam somente o que não fazer, não informando o que fazer. Destaca, ainda, que esse tipo de procedimento é o maior impedimento para uma real aprendizagem, pois os comportamentos punidos não desaparecem; pelo contrá rio, retornam associados a novos comportamentos. Prisão, reprovação, açoite e castigos físicos desmedidos são exem plos de punição para o autor. Te or ia b eh av io ri st a – Sk in ne r 33 (2.2) escola: lugar de estímulos e respostas? Toda prática tradicional possui uma premissa compor tamen talista, vale lembrar: estrelinhas no caderno; balas e doces no término de atividades; correção da atividade revendo sempre o erro, buscando o acerto; temas de casa validados com “muito bem”, “parabéns”, “continue assim”. O que seria isso? Reforço positivo! E quanto ao reforço negativo? Ausência de recreio, corre ção das atividades com conceitos como: “Ruim”, “péssi mo”, “precisa melhorar”. E a famosa cadeirinha do pensamento que ainda hoje habita o universo da sala de aula. Não sabem o que é isso? Pois bem, pode ser também o tapetinho do pensamento – tão usado em programas televisivos que bus cam ensinar os pais a controlar seus filhos. Pois o tapetinho ou a cadeirinha representa um espaço no qual a criança ficaria um tempo sentada pensando... Só não esqueçam: para vários teóricos, em determinada faixa etária, a criança não reflete sobre os seus erros, pois ainda seria egocêntrica – tudo para o meu eu. Porém, para Skinner, essas horas são cruciais para a modelagem de novos com portamentos. Sendo assim, na perspectiva skinneriana, o ensino na escola se processará através da relação estímuloresposta, sendo o professor o responsável pelo estabelecimento de reforços positivos e negativos a fim de se estabelecerem comportamentos desejados. Frente à questão didáticometodológica, Moreira10 des taca a instrução programada como exemplo de aplicação Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 34 da abordagem skinneriana na escola, cujos princípios básicos são: Pequenas etapas: a informação, o conteúdo é apresena. tado por um certo número de pequenas e fáceis etapas: “O uso de pequenas etapas facilita a emissão de respos tas a serem reforçadas e diminui a probabilidade de cometer erros”11. Ou seja, os erros são minimizados, e os acertos, maximizados. Um exemplo dessa questão é a estruturação dos livros didáticos, em sua maioria, bem como o planejamento do professor que enfatiza as lições do mais fácil para o mais difícil. Resposta ativa: participação ativa do sujeito no processo b. de aprendizagem. Seria realizada através de questiona mentos do professor ao longo das atividades realizadas. Outro exemplo são os ditados. Verificação imediata: parte do princípio de que o aluno c. aprende de forma mais adequada quando verifica a res posta imediatamente. É realizada através do ques tionamento do professor logo após a finalização das atividades. Visa a correção do erro também. Ritmo próprio: cada aluno tem o seu ritmo para aprend. der. Skinner destaca que o professor deve respeitar o ritmo de aprendizado de seu aluno, a fim de possibilitar a participação deste em seu processo de aprendizagem. Destaca ainda que, caso o professor faça o contrário, o aluno visualizará essa questão como um reforço nega tivo ou até uma punição. Teste do programa: teste realizado por meio da atuação e. do aluno. Salienta a importância da clareza das ques tões apresentadas aos alunos. Geralmente são questões com lacunas e/ou devem ser preenchidas, pois trazem o gabarito, a resposta no final da atividade para que o Te or ia b eh av io ri st a – Sk in ne r 35 aluno corrija, verificando o que acertou e modificando o que errou. (2.3) outros olhares De acordo com Skinner12, Não temos razão para supor que qualquer prática cultural esteja sempre certa ou errada de acordo com algum princípio ou valor independente das circunstâncias ou que qualquer um possa, a qualquer momento, fazer uma avaliação absoluta de seu valor de sobrevivência. Conquanto isso seja reconhe cido, estaremos menos inclinados a lançar mão de respostas fixas para escapar da indecisão. É importante destacar que, para o teórico, a cultura na qual estamos inseridos é importantíssima para o estabele cimento e/ou modificação de comportamentos. Nessa cul tura sustentamse valores morais, éticos, estéticos, entre outros, os quais podem, inclusive, ser modificados frente às ações dos sujeitos presentes nestas: O sistema ético skinneriano é composto por uma ciência dos valores e por uma filosofia moral. Apoiado no modelo de sele ção por conseqüências, esse sistema apresenta tanto sentenças descritivas – através das quais aponta as variáveis seletivas que controlam o comportamento ético – quanto sentenças prescritivas ou mandos, através das quais destaca e promove a sobrevivência das culturas enquanto objetivo ético funda mental. Por ser inspirada, mas não justificada pelo modelo de seleção por conseqüências, a sobrevivência das culturas não Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 36 constitui um valor naturalmente verdadeiro. Esse valor pode, portanto, ser legitimamente questionado e debatido, mesmo pelos próprios behavioristas radicais. Ainda que haja bons argumentos para defendêlo.13 Percebese, assim, que frente ao ponto de vista do teó rico é necessário estabelecer normas, regras sociais que deveriam ser cumpridas pelos sujeitos de determinada sociedade. Mas e na família, no nosso cotidiano? Mariana, no sábado, sempre realiza as compras de casa. Neste dia, então, levou sua filha de 4 anos, Ana, ao mercado. Acontece que Ana, ao ingressar no corredor das guloseimas – biscoitos etc. – jogou-se no chão. Chorava, esperneava e gritava, dizendo à sua mãe que não sairia dali antes desta lhe comprar chocolates. Mariana, então... Como finalizarmos essa história com uma premissa skinneriana? Para o teórico, a manha, a birra é aprendida, ou seja, são comportamentos adquiridos, dessa forma, a mãe de Ana, Mariana, deveria ignorar o quadro apresentado pela filha, falando com esta de forma ríspida, assim como retiran dose do corredor, para que a menina fosse atrás da mãe. Mas e se Mariana comprasse os doces? Na visão de Skinner, cada vez que Ana fosse ao mer cado com sua mãe faria a mesma coisa, pois os chocolates acabariam se transformando em um reforço – positivo – para a menina. Outros exemplos? Quando a criança começa a chorar e não é fome, frio, dor nem há necessidade de trocar as fraldas. Para o teórico se trata de manha. Assim, os adultos que convivem com a criança devem ignorar o choro, evitando pegar a criança no Te or ia b eh av io ri st a – Sk in ne r 37 colo ou, inclusive, mudá-lade lugar, pois se assim o fize rem a criança irá associar choro (comportamento operante) a colo, mudança de lugar (reforço). Ou seja, a criança sem pre irá chorar para receber colo etc. Mas e nós, adultos? Como modificar o nosso compor- tamento? Na realidade, há necessidade de transformar nossos objetivos em questões públicas, ou seja, se desejamos estu dar para um concurso ou realizar uma reeducação alimen tar, devemos tornar nossos objetivos públicos, pois assim seremos cobrados pelos nossos familiares, amigos etc. Registrar nossos objetivos em um bloco de notas ou em um blog – diário virtual, destacando nosso empenho frente a uma conquista. Dessa forma, há necessidade de criar refor ços para atingirmos nossos objetivos. Por fim, se parabenizar, através de uma festa, compra de roupas novas, investindo em novos reforços positivos. É importante destacar, ainda, algumas questões que po dem afetar o condicionamento operante, o comportamento desejado, segundo Fadiman e Frager14: o condicionamento pode ocorrer e ocorre sem consciêna. cia: o que percebemos dependeria de nossas percepções passadas; o condicionamento se mantém a despeito da consciênb. cia: “Podemos ser condicionados apesar de sabermos o que está acontecendo e decidirmos conscientemente não permanecer condicionados”15; o condicionamento é mais eficaz quando o sujeito tem c. consciência e coopera: “O condicionamento eficaz é uma colaboração”16. Finalizando, Skinner destaca que o corpo é aquilo que se comporta, ou seja, tudo pode ser observado, analisado Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 38 com base na leitura de nosso corpo: inclusive o comporta mento social, cultural. As emoções, o intelecto, a vontade, o relacionamento social são aprendidos e demonstrados através do corpo. Só não esqueça: como criar, imaginar, viver e desejar em um corpo amordaçado, aprisionado por condiciona mento, por reforços? Difícil imaginar? Basta olhar para o seu lado... atividade Busque analisar a crônica de Martha Medeiros utilizando a premissa skinneriana, ou seja, como a sociedade modi fica nossos corpos, mentes e desejos? Beleza X inteligência A capa da última edição da Revista da MTV traz a per gunta: Você abriria mão da sua inteligência para ser mais bonito? Li a reportagem com a esperança de encontrar uma res posta óbvia, mas nossos óbvios nunca batem com os dos outros. O óbvio que encontrei foi que, dos 2.359 brasi leiros entre 15 e 30 anos pesquisados pelo Dossiê Universo Jovem, cerca de 60% responderam que pessoas bonitas têm mais oportunidades na vida, e, portanto, sim, topa riam ficar um pouco mais burros se em troca ficassem um pouco mais belos. Te or ia b eh av io ri st a – Sk in ne r 39 Esta é uma obviedade que, em tese, se justifica: aparên- cia conta muito no jogo da sedução e na conquista de um emprego. Todos tratam melhor os magros e lindos. Na escola, te imitam. Nas festas, te cercam. Nada mal. Marcia Tiburi, durante o programa Saia justa, disse para Luana Piovani que ela havia sido bem tratada pelo mundo em função da beleza, mas que a vida não é assim tão fácil para quem não nasce com tais atributos. Foi extremamente sin cera, mesmo que a outra não tenha ficado muito feliz com a observação. Luanas enfrentam menos percalços do que as não tão formosas, porém tão talentosas quanto. Não é demérito ser bonita, não é pecado, ao contrário, é uma gló ria, uma bênção, e beleza e inteligência podem muito bem conviver em paz no mesmo corpo, há vários exemplos de gente linda e sabida. Mas tendo que optar entre uma coisa e outra, alto lá, melhor pensar direitinho. A minha resposta óbvia à enquete seria: toda pessoa inteligente é bonita, não importa seu aspecto físico. Logo, não tem cabimento trocar neurônios por olhos azuis. É rara uma pessoa inteligente que não seja cativante. Por outro lado, conheço vários belos que só provocam bocejos. Há mais de 20 anos, quando ainda era publicitária, acompa nhei a gravação de um comercial de tevê interpretado por um deus grego, o homem mais estonteante que havia visto. No final da gravação, ele me pediu carona. Eu, longe de ser uma Luana e desacostumada com estas generosi dades cósmicas, vibrei. Sabia que o rapaz morava num bairro distante, mas estava disposta a leválo até Pernambuco, se ele pedisse. Em três minutos de conversa dentro do carro, eu queria cortar os pulsos. Inventei um mal súbito, aleguei falta de combustível, sei lá, não lembro, só sei que acabei deixandoo num ponto de táxi e fui pra casa dormir. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 40 Burrice é pior que um nariz torto, é pior que cabelo ruim, é a pior das cicatrizes. Inteligência, por sua vez, torna qualquer pessoa iluminada. Qualquer uma. Faça uma lista dos seres humanos que você mais admira: a maio ria não é linda, se analisadas apenas pelo padrão estético. Mas, sendo inteligentes, ninguém lhes tira o carisma. Só não percebem isso aqueles que, não tendo mesmo muita massa cinzenta, topam a troca. Fonte: MEDEIROS, 2005. ( 3 ) teoria humanista – rogers ( ) no presente capítulo, serão abordadas as idéias de Rogers relacionadas ao desenvolvimento e à apren di za gem. Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresentar suas idéias referentes ao desenvolvimento humano e à aprendiza gem do sujeito. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 44 (3.1) olhares iniciais Carl Rogers nasceu em Ilinois, EUA, em 1902, falecendo no ano de 1987. Representante da psicologia humanista, é responsável na educação pela antipedagogia ou pedagogia não diretiva, com uma premissa basicamente fenomenoló gica, pois enfatiza as experiências das pessoas, seus valo res e sentimentos. Ou seja, visualiza o aluno como pessoa. Rogers também se identificou com a orientação humanista da psicologia contemporânea. A psicologia humanista se opõe ao que considera como triste pessimismo e desespero inerentes à visão psicanalítica do ser humano, por um lado, e à concep ção de robô do ser humano retratada no comportamentalismo, por outro. [...]. O fracasso em realizar esse potencial se deve as influências coercitivas e distorcedoras do treinamento parental, da educação e de outras pressões sociais.1 Acredita, assim, que a pessoa “contém dentro de si as potencialidades para a saúde e o crescimento criativo”2, que não se desenvolvem apenas pelas influências negati vas da família e da sociedade. Sendo assim, para o teórico, o homem é um ser racional, livre (não determinado), reali zador do seu destino. Autorealização, crescimento pessoal, liberdade para es colher situações, são as características do sujeito enquanto pessoa para Rogers. Ele acredita que as pessoas têm den tro de si a capacidade de descobrir que a angústia as têm infelizes, possibilitando, dessa forma, um processo de mu dança em suas vidas. Te or ia h um an ist a – R og er s 45 É importante destacar que as idéias de Rogers se rela cionam à sua experiência profissional, refletindo sua tera pia centrada no cliente, em vez de paciente, por acreditar que o termo cliente designa participação ativa, voluntária e responsável do indivíduo – este busca o terapeuta – e por que não paciente? Porque o indivíduo fica associado à doença, explica Moreira3. Para Hall4, nessas circunstâncias [...] o terapeuta foi capaz de estabelecer um relacionamento intensamente pessoal e subjetivo com o cliente – relacionan dose não como um cientistacom um objeto de estudo, não como um médico, esperando diagnosticar e curar – mas como uma pessoa com outra pessoa. Significa que o terapeuta acha que o cliente é uma pessoa de autovalor incondicional; de valor independentemente de sua condição, comportamento ou sentimento. Moreira destaca ainda, que para Rogers “o homem é intrinsecamente bom e orientado para o crescimento: sob condições favoráveis, não ameaçadoras, procurará desenvol ver suas potencialidades ao máximo”5. Por isso, destacase que sua teoria é humanística e fenomenológica, “no sentido de que, para compreender o comportamento de um sujeito, é importante entender como ele percebe a realidade”6. O organismo se realiza segundo as linhas determinadas pela hereditariedade. Ele se torna mais diferenciado, mais expan dido, mais autônomo e mais socializado à medida que ama durece. Esta tendência básica de crescimento – realizarse e expandirse – é vista com mais clareza quando o indivíduo é observado durante um longo período de tempo. Existe um movimento para a frente da vida de todas as pessoas [...]7 Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 46 O conceito de self é importante no trabalho do teórico, destacandose como um processo contínuo de reconheci mento que o sujeito realiza: Dentro do campo de experiências está o self. O self não é uma entidade estável, imutável; entretanto, observado num dado momento, parece ser estável. Rogers concluiu que a idéia do eu não representa uma acumulação de inumeráveis aprendizagens e condicionamentos efetuados na mesma dire ção... Essencialmente é uma gestalt cuja significação vivida é suscetível de mudar sensivelmente (e até mesmo sofrer uma reviravolta) em conseqüência da mudança de qualquer des tes elementos. O self é uma gestalt organizada e consistente num processo constante de formarse e reformarse a medida que as situações mudam. [...] O self, ou autoconceito é a visão que uma pessoa tem por si própria, baseada em experiências passa das, estimulações presentes e expectativas futuras.8 Com base no conceito de self, Rogers construiu o conceito de self ideal, compreendido como “o conjunto das caracte rísticas que o indivíduo mais gostaria de poder reclamar como descritivas de si mesmo”9. Sendo assim, destacava que a distância entre o self e o self ideal poderia acarretar no indivíduo insatisfação, desconforto, dificuldades e até um obstáculo no seu crescimento pessoal: “Aceitarse não é resignarse ou abdicar de si mesmo; é uma forma de estar mais perto da realidade, de seu estado atual”10. Valor próprio, consideração, autoestima e percepção positiva de si mesmo. Palavraschave para a realização pes soal na premissa Rogeriana: o organismo possui uma só tendência e esforço básico – realizarse, manterse e desen volverse na experiência11. Te or ia h um an ist a – R og er s 47 Nesse sentido, acreditava que o ensino deveria ser cen trado no aluno, e não mais no professor: pois é o aluno que aprende. Sustentava, assim, a aprendizagem significativa, compreendida por um envolvimento pessoal, sendo auto iniciada, penetrante e avaliada pelo educando. (3.2) a sala de aula Pensem no seguinte cenário: uma sala de aula em que não existem conteúdos mínimos para o aprender, o planeja mento não está relacionado ao professor, muito menos ao processo avaliativo. Seremos chamados de facilitadores, sim, porque nossa função será apenas a de auxiliar nossos educandos com materiais de pesquisa, ou seja, partilhar com eles a responsabilidade pelo processo de aprendiza gem, prover os recursos de aprendizagem. A facilitação da aprendizagem é o maior objetivo da educação para Rogers. Moreira12 nos auxilia nos princípios de aprendizagem propostos pelo teórico: “Seres humanos têm uma potencialidade natural para a. aprender”, ou seja, nascemos com uma tendência natu ral para aprender “em contato com os problemas da existência, todos querem estudar, desejam crescer, pro curam descobrir, esperam dominar, almejam criar”13. “A aprendizagem significante ocorre quando a matéria b. de ensino é percebida pelo aluno como relevante para seus próprios objetivos”14: perceber a relevância do que se está estudando, ou seja, conteúdo associado à valo rização de seu eu, de suas necessidades pessoais. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 48 “A aprendizagem que envolve mudança na organizac. ção do eu – na percepção de si mesmo – é ameaçadora e tende a suscitar resistência”15: sempre que aprendemos, para Rogers, ocorre uma mudança na organização de nosso self e na percepção de si mesmo – por isso, pode ocorrer resistência ao aprender. “As aprendizagens que ameaçam o eu são mais facild. mente percebidas e assimiladas quando as ameaças externas se reduzem a um mínimo”16: Rogers exemplifi cava essa questão através de um aluno com dificuldades na leitura. Quando forçado a ler em público, expondo suas dificuldades, se sentiria frustrado, desmotivado e ameaçado. Ao realizar um movimento contrário de não exposição do aluno o professor facilitador estaria contri buindo para a diminuição das ameaças externas. “Quando é pequena a ameaça ao eu, podese perceber e. a experiência de maneira diferenciada e a aprendiza gem pode prosseguir”17: relacionado ao princípio ante rior, destaca a questão de que quando o aluno se sente seguro, e não ameaçado, a aprendizagem é facilitada. “Grande parte da aprendizagem significante é adquif. rida através de atos”18: ou seja, através da prática. Envol ver os alunos com questões e problemas de todos os tipos: sociais, políticos, literários etc. Aprenderá atra vés de pesquisas. “A aprendizagem é facilitada quando o aluno participa g. responsavelmente do processo de aprendizagem”19: a aprendizagem significante seria maximizada, pois o aluno busca o conhecimento relacionado aos seus interesses e seu ritmo pessoal. Caracterizase por uma aprendizagem voluntária. “A aprendizagem autoiniciada que envolve a pessoa do h. aprendiz como um todo – sentimentos e intelecto – é Te or ia h um an ist a – R og er s 49 mais duradoura e abrangente”20: caracterizase por uma aprendizagem que envolve os aspectos cognitivo e afe tivo. Desse modo, o aluno percebe a aprendizagem como sua – podendo mantêla ou abandonála frente a uma aprendizagem que considere mais significativa. “A independência, a criatividade e a autoconfiança são i. todas facilitadas, quando a autocrítica e a autoavalia ção são básicas e a avaliação feita por outros é de impor tância secundária”21: liberdade! Essa é a idéias central deste princípio, associado à questão da autoavaliação. “A aprendizagem socialmente mais útil, no mundo mo j. derno, é a do próprio processo de aprender, uma con tínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo, do processo de mudança”22: o indivíduo deve aprender a aprender – buscar o conhecimento. Ou seja, o professor não ensina, facilita a aprendiza gem do aluno. Família, professor facilitando o processo da busca. O indivíduo se estruturando, se preparando para buscar o conhecimento por si mesmo. Aprendizagem significante ou significativa. Retomando: o que seria uma aprendizagem significa tiva para Rogers? Aprendizagem significante é, para Rogers, mais do que uma acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação da ação futura que escolhe, ou nas suas atitudes e na sua personalidade. É uma aprendizagem penetrante que não se limita a um aumento de conhecimentos.23Dessa forma, percebemos que, para o teórico, o ensino deve ser centrado no aluno, o qual seria o centro da sala de Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 50 aula. O professor passa a ser um facilitador: “Autenticidade e capacidade de aceitar o aluno como pessoa e de colocarse no lugar do aluno são mais relevantes, para criar condições para que o aluno aprenda, do que sua erudição, suas habi lidades e o uso que faz de recursos instrucionais”24. Deveremos trabalhar com apreço, confiança e aceitação no espaço educativo: perceber e aceitar que nosso aluno possui sentimentos, valores que deverão ser creditados. Sermos autênticos, reais, não disfarçando o que estamos sentindo em determinado momento, claro que o respeito para consigo e para com o outro deverá estar presente. E, por fim, aceitarmos nosso aluno como ele é, não como gostaríamos que fosse. Buscando a construção da compreensão empática – aceitação de como sou. Continuando, caberá ao aluno a confiança em sua capa cidade de aprender por si mesmo, planejar/escolher seu próprio programa de estudos, disciplina e autoavaliação, sendo a aprendizagem significativa adquirida na prática. Resumindo, ao aluno cabe a busca do conhecimento e, ao professor, facilitar sua busca. Porém, algumas regras são necessárias para um am biente de aprendizagem significativa, propostas pelo pro fessor facilitador: estruturar a aprendizagem com base em problemas reais; a. promover recursos, tais como: livros, laboratórios, CDs, b. DVDs, entre outros; a construção de um contrato de trabalho pelo professor c. facilitador, realizado antecipadamente; divisão do trabalho em pequenos grupos;d. orientação de pesquisa; e. construção da autoavaliação pelo aluno. f. Te or ia h um an ist a – R og er s 51 Essa proposta de aprendizagem é possível no Brasil? Quais as críticas que poderíamos realizar frente às idéias da antipedagogia ou pedagogia não diretiva? A prática laissezfaire se esconde por trás das ações do professor facilitador: deixar fazer o aluno, que finge que aprende. A falta de um planejamento criativo, ousado e problematizador da realidade atual. Uma bagagem hereditária de conhecimentos relaciona dos ao aluno. Em um contexto social, econômico e cultural como o do Brasil, como exigir de nossos alunos conheci mentos prévios, organização afetiva e processos de auto avaliação? Mas a teoria de Rogers nos possibilita um olhar que ainda não lançamos e necessário para nossa prática peda gógica, nossa vida: acreditar no outro, acreditar em minhas possibilidades e potencialidades. Acreditar que eu e o outro somos capazes de nos trans formar, de criar, de recriar, de realizar e de nos reinventar quando necessário. ( 4 ) teoria psicogenética – piaget ( ) no presente capítulo, serão abordadas as idéias de um teórico relacionado à psicologia da educação: Piaget. Dessa forma, o objetivo deste capítulo é apresen tar suas idéias referentes ao desenvolvimento humano e à aprendizagem. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 56 (4.1) as idéias de piaget O que é conhecimento? Como aprendemos, como conhece mos? Como alcançamos o conhecimento válido? Qual a relação entre conhecimento e ação sobre o objeto? Biólogo por formação, Piaget tornouse um estudioso das questões epistemológicas, ao fazer essas indagações. Assim, o autor define a epistemologia genética como a dis ciplina que estuda os mecanismos e os processos mediante os quais se passa dos “estados de menor conhecimento aos esta dos de conhecimento mais elevado – proximidade ao conheci mento científico”1. Pelo método psicogenético, estudou como os sujeitos passam de um estado menor para um de maior de conhecimento – transcurso do desenvolvimento. Mas como nos desenvolvemos e aprendemos, para Piaget, a partir desses conceitos? Para o teórico, o nível de competência intelectual do sujeito, em determinado momento de seu desenvolvimento, “dependeria de seus esquemas, do número dos mesmos e da maneira como se combinam e se coordenam entre si”2. Assim, ele destaca que o desenvolvimento cognitivo no sujeito é uma sucessão de estágios e subestágios, nos quais os esquemas se organizam e se combinam entre si, formando estruturas. Nasciam, teoricamente, os estágios ou períodos de desenvolvimento: sensóriomotor, préoperacional, opera ções concretas, operações formais. O estágio sensóriomotor estendese aproximadamente entre o nascimento da criança até os dois anos. Nesse está gio, a criança conhece o mundo através da manipulação, ou seja, conquista através da percepção e dos movimentos todo o universo que a cerca. Te or ia p si co ge né tic a – Pi ag et 57 O estágio préoperatório ou préoperacional estendese dos dois aos sete anos, aproximadamente. Esse período, para Piaget, é marcado pelo surgimento da linguagem, o que acarretará modificações significativas nas áreas intelec- tual, afetiva e social. O egocentrismo nessa fase se faz presente, e o pensa mento é caracterizado por apresentar uma relação entre rea lidade e fantasia. A maturação neurofisiológica se completa, permitindo o desenvolvimento de novas habilidades. O estágio operatórioconcreto coincide com o início da escolarização formal, pois estendese dos 7 aos 11 anos, apro ximadamente. Esse período é caracterizado pelo início da construção lógica, ou seja, consegue realizar uma ação física ou mental dirigida para um objetivo, revertendoa para seu início. Existe a necessidade de trabalharmos com o concreto. Por fim, no estágio operatório-formal, após os 12 anos, o sujeito utiliza o pensamento formal, abandonando a pre sença dos objetos – manipulação física dos objetos (concreto). A linguagem e a afetividade estão em contínuo desenvolvi mento, sendo que o sujeito busca, agora, construir e respei tar valores morais e sociais. Cada estágio, para Piaget, “marca o advento de uma etapa de equilíbrio, uma etapa de organizações das ações e operações do sujeito descrita mediante uma estrutura lógico matemática”3. O teórico destacava que nos estágios a ordem de sucessão é constante, caracterizamse por uma forma de organização e as estruturas que correspondem a um estágio se integram ao estágio seguinte. Piaget salienta que quatro fatores de desenvolvimento estão presentes na mudança das estruturas: Maturação: compreendida como o desdobramento das a. possibilidades mentais relacionadas aos aspectos físi Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 58 cos do sistema nervoso. Produto de interações entre o genoma – conjunto de genes – e o ambiente. O orga nis mo, com a experiência física sobre os objetos, gera condições de aprendizagem. Experiência física sobre os objetos: “O sujeito age sobre o b. objeto e, pela abstração das suas ações se exercendo sobre os objetos, descobre as propriedades físicas deste objeto, bem como as propriedades observáveis das ações”4. Experiência com sujeitos: ocorre, para Piaget, através c. da interação do sujeito com o meio social, da trans missão social presente também no processo educativo. Porém, destaca o teórico, que o sujeito deveria assimi lar conceitos presentes no meio social. Equilibração: atua a título de coordenação. É um fator d. interno, porém não geneticamente programado, conce bido como o motor do desenvolvimento, para Piaget, con forme destacado por Rangel, se caracterizaria da seguinte forma: “Fator essencial e determinante ao desenvolvimento do indivíduo neste processo contínuo de adapta ção ao meio em que vive”5. Salienta ainda, a pesquisadora, que “este processo de regulação e de compensação se dá através dos mecanismos de assimilação e acomodação”6. Chiarottino7 acrescenta que o ser humano, segundo Piaget, nasce com a possibilidade de, em contato com o meio, construir seus esquemas de ação e de coordenálos em sistemas. Ao se construírem em nível exó geno esses esquemas dão origem a uma transformação em nível endógeno ou neuronal que permitirá novas concepções de estí mulo do meio. A esses, o organismo responderá, construindo outros esquemas de ação, provocando, concomitante mente, novas transformações em nível neuronal, que se cons tituirão nas estruturas mentais. Te or ia p si co ge né tic a – Pi ag et 59 Percebemos, assim, que o sujeito, ao interagir com o mundo e com os objetos presentes nele, age sobre ele sofrendo a influência da ação deste sobre si, em um cons tante processo de adaptação, entendida como trocas de ação entre o sujeito e o meio “entendemos um indivíduo ativo, capaz de transformar esta realidade na qual interage e de transformar a si mesmo, construindo seus conhecimentos, ou seja, a sua própria inteligência”8. Dois mecanismos estão presentes na ação do sujeito sobre os objetos de conhecimento: a assimilação e a acomo dação, que geram a equilibração. Por assimilação compreendese o mecanismo que o sujeito aplica ao procurar compreender o seu mundo. Assimilação da realidade aos seus esquemas ou estruturas cognitivas. São em três tipos: Funcional/reprodutora: repetir uma ação para colocála a. em exercício com a função de consolidála. Recognitiva: discriminar os objetos assimiláveis a um b. esquema dado. Generalizadora: estender o domínio de esquema às c. situações novas vivenciadas. Por acomodação podemos compreender o movimento de ajustamento dos esquemas ou estruturas cognitivas às resistências provocadas pelas novas situações, não passí veis de uma assimilação pura. Surge a partir das perturba ções provocadas pelas situações que o sujeito enfrenta. Assim, através da assimilação e da acomodação, o su jeito chega ao processo de equilibração: “Que viabiliza o ajustamento interno e a modificação das estruturas do conhecimento”9. Longo e complexo, se manifesta desde o estágio sensóriomotor ao operatórioformal. Mas e a construção do desenvolvimento moral para Piaget? Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 60 Piaget realizou um estudo acerca da construção da moral no sujeito, enfatizando três fases: A primeira, a anomia, é caracterizada por uma ausên cia de respeito e conhecimento de regras sociais e morais, visto que se estende até o seis anos de idade, sendo o pen samento da criança caracterizado pelo egocentrismo: tudo para si. Não existem regras racionais: Embora não se possa falar ainda em regras propriamente ditas, Piaget acreditava que essas regularidades constitui riam a base sob a qual assentariam as futuras normas racio nais: ‘Ora, o que é essa regra racional senão a regra motora primitiva, mas subtraída do capricho individual e submetida ao controle da reciprocidade?’10 A segunda fase, a heteronomia, caracterizase pelo res peito às regras ditadas por adultos associados ao convívio da criança, do sujeito. O certo e o errado estão relacionado ao que o sujeito pensa que o adulto acharia melhor. A cooperação, ao contrário da coação social, não determina o conteúdo das normas e dos valores que devem ser observa dos; uma relação de respeito mútuo não impõe senão a norma da própria reciprocidade, que obriga cada um a se colocar no ponto de vista do outro. Em sua pesquisa sobre as regras do jogo, Piaget constatou que é no bojo dessas relações que as regras deixam de ser percebidas pelo sujeito como existentes em si mesmas e passam a depender apenas da livre decisão coletiva. A criança compreende a diferença entre uma norma e uma lei e que nem sempre o que a norma determina é justo.11 Por fim, temos a autonomia, caracterizada pela recipro cidade, pela construção dos valores morais e sociais pelo sujeito: Te or ia p si co ge né tic a – Pi ag et 61 Em uma troca espontânea de valores, o indivíduo age (presta um serviço ou faz um favor para o outro) tendo por fim o seu sucesso (ser reconhecido, ser valorizado). Nesse caso, a satis fação do outro é apenas um meio para atingir esse fim. Pelo contrário, a ação moral caracterizase pela satisfação inde finida de outrem. Indefinida, porque o esforço do indivíduo para satisfazer o outro não é determinado pelo próprio inte resse (sucesso, reconhecimento etc.), mas sim pelas possibili dades de satisfazer o outro, isto é, a satisfação do outro deixa de ser um meio e torna-se um fim. Por outro lado, o indiví duoalvo dessa ação, aquele que recebe o serviço, o favor etc., não a julga em função de sua satisfação pessoal: o resultado obtido não é valorizado segundo a sua escala de valores, mas segundo a intenção do sujeito que age.12 (4.2) a construção do número pela criança A educação matemática, para Piaget, deve estar compro metida com o desenvolvimento progressivo e parcialmente espontâneo das estruturas operatórias do pensamento infantil. Dessa forma, a construção de conceitos matemáticos se processa pela ação da criança, através de sua experimen tação ativa, para posterior formalização desses conceitos através da linguagem dos sinais operatórios. Ou seja, apren demos agindo, inicialmente, através da experiência física que é a ação sobre os objetos propriamente ditos, buscando descobrir as propriedades físicas dos objetos (assimilação). Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 62 Assim, para o teórico, o conhecimento lógicomate má tico representa ações do sujeito sobre os objetos, assi mi lando noções de número, massa, volume, área, com pri mento, classe, ordem, tempo, velocidade e peso. Piaget13 propõe três conceitos básicos para a constru ção de número: Conservação: invariância do número. Capacidade de a. compreender que certos atributos de um objeto são cons tantes, ainda que este tenha a aparência transformada. Seriação: relação de ordem entre os elementos. Modelo b. de agrupamento que consiste em ordenar os elementos segundo as grandezas crescentes ou decrescentes. Classificação: inclusão de um elemento em um outro c. mais amplo que o contenha. Operação lógica que con siste na capacidade de separar objetos, pessoas, fatos ou idéias em classes ou grupos, tendo por critério uma ou várias características comuns. Processo de agrupamento de elementos obedecendo a uma determinada classe ou espécie. Inclusão de classes: “há mais gatos ou animais na mesa?” Mas e a aprendizagem, a construção do conhe ci mento? Para Piaget, a aprendizagem é um processo limitado a um problema ou uma situação, sendo provocada por situa ções diversas; já o conhecimento, o conhecer, estaria rela cionado à ação sobre o objeto. Seria modificar, transformar o objeto, compreendendo esse processo de transformação. Desse modo, qualquer aprendizagem depende do ní vel cognitivo inicial do sujeito, pois somente progridem os sujeitos que se encontram em um nível operatório próximo ao da aquisição da noção que será aprendida14. Sendo assim, o objetivo da educação, em uma premissa piagetiana, seria potencializar, favorecer a construção das Te or ia p si co ge né tic a – Pi ag et 63 estruturas cognitivas, contribuir para o desenvolvimento dos estágios propostos. Como? Associando os conteúdosescolares à competência cog nitiva dos sujeitos. Relacionando as questões curriculares a noções universais. Que a metodologia de ensino explicite que o conhecimento é resultado de um processo de cons trução, ou seja, apropriação progressiva do objeto (suas características) pelo sujeito. Mas como? Por quê? Na realidade, as idéias de Piaget destacam que o conhe cimento é construído pelo aluno, e não transmitido pelo professor – visão tradicional de ensino. Portanto, cabe a professores e familiares proporem aos sujeitos atividades lúdicas, experiências físicas sobre os objetos, assim o sujeito agiria sobre eles construindo conceitos, assimilando, aco modando e equilibrando. Que as atividades propostas aos sujeitos, em uma visão Piagetiana, sejam construídas com ousadia, desejo, originalidade e, principalmente, ação sobre os objetos de conhecimento! atividade Com uma premissa piagetiana, leia o trecho destacado da música de Gabriel, O Pensador, Estudo Errado, problemati zando questões associadas ao desenvolvimento e a aprendi zagem e pense como poderíamos modificar a letra da música, inclusive a intitulando de Estudo Certo. Bom trabalho. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 64 Estudo Errado Gabriel, O Pensador Eu tô aqui Pra quê? Será que é pra aprender? Ou será que é pra aceitar, me acomodar e obedecer? [...] Então eu fui relendo tudo até a prova começar, voltei louco pra contar: Manhê! Tirei um dez na prova, me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova; decorei toda lição, não errei nenhuma questão, não aprendi nada de bom, mas tirei dez (boa filhão!). Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci; decorei, copiei, memorizei, mas não entendi [...]. Encarem as crianças com mais seriedade; pois na escola é onde formamos nossa personalidade, vocês tratam a edu cação como um negócio onde a ganância a exploração e a indiferença são sócios; quem devia lucrar só é prejudi cado; assim cês vão criar uma geração de revoltados; tá tudo errado e eu já tou de saco cheio; agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio [...] ( 5 ) teoria históricocultural – vygotsky ( ) neste capítulo serão abordados o desenvolvimento e a aprendizagem na premissa vygotskyana. Olhares acerca da linguagem, do brincar e da importância da mediação social. Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 68 (5.1) algumas idéias principais Maia1 destaca que Lev Vygotsky, pesquisador russo, nas décadas de 1920 e 1930, buscava compreender a relação existente entre linguagem, desenvolvimento e aprendiza gem frente ao processo históricocultural e ao processo de intervenção social. Vygotsky parte do pressuposto de que o aprendizado é um processo profundamente social, e o desenvolvimento, “um complexo processo dialético, caracterizado pela perio dicidade, irregularidade no desenvolvimento das diferen tes funções, metamorfose ou transformação qualitativa de uma forma em outra, entrelaçamento de fatores externos e internos e processos adaptativos”2. Para esse pesquisador, o desenvolvimento não é linear. Aprendizado e desenvolvimento estão interrelacionados desde o nascimento do sujeito, sendo os atos intelectuais decorrentes de práticas sociais. A interação social e o pro cesso de intervenção social são fundamentais para o desen volvimento do sujeito. Vygotsky busca, assim, formular a origem dos pro cessos psicológicos superiores e inferiores. Para ele, os pro cessos psicológicos superiores se originam na vida social, na partici pação do sujeito em atividades compartilhadas com outros – representa a maturidade biológica, o desen volvimento cultural, a apropriação dos signos. Os processos psicológicos inferiores são caracterizados por um desenvol vimento cultural primitivo, pelo uso das ferramentas e por uma linguagem interna primitiva – ato de balbuciar. O pesquisador propõe, então, que “o indivíduo humano se faz humano apropriandose da humanidade produzida his Te or ia h ist ór ic o cu ltu ra l – Vy go ts ky 69 toricamente. O indivíduo se humaniza reproduzindo caracte rísticas historicamente produzidas do gênero humano”3. Nesse sentido, busca valorizar a transmissão da expe riência históricosocial, do conhecimento socialmente exis tente, visto que o processo de internalização – reconstrução interna de uma operação externa – está presente através da transformação de um processo interpessoal num processo intrapessoal – estágios de internalização promovidos na relação com os aprendizes mais experientes. Vygotsky propõe, ainda, a investigação da riqueza de informações da criança, bem como o estudo de suas outras capacidades que não têm ligação direta com o conheci mento que ela possui, mas que desempenham papel importante em seu desenvolvimento cultural: A criança atravessa determinados estágios de desenvolvimento cultural cada um dos quais se caracterizando pelos diferentes modos pelos quais a criança se relaciona com o mundo exte rior; pelo modo diferente de usar os objetos; por formas diferen tes de intervenção e diferentes técnicas culturais [...].4 Os mecanismos de mudanças individuais têm suas raí zes na cultura e na sociedade, sendo a linguagem um pro cesso extremamente social que, através da interação social, transformase em um processo profundamente pessoal, precedindo, dessa forma, o pensamento. Vygotsky introduziu, ainda, os conceitos de zona de desenvolvimento proximal e zona de desenvolvimento real, que têm relação direta com o processo educativo: “O desen volvimento real caracteriza o desenvolvimento mental retros pectivamente, enquanto a zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente”5. Assim, na zona de desenvolvimento real, encontramos o saber que já foi construído, elaborado, apropriado pelo sujeito, Ps ic ol og ia d o de se nv ol vi m en to e d a ap re nd iz ag em 70 o que cada um sabe, as funções mentais. A zona de desenvol vimento proximal se caracteriza pela apropriação do conhe cimento, o que ainda não se conhece e, com a ajuda de um interventor, desenvolvese. Permitenos delinear o futuro ime diato do sujeito, seu estado dinâmico de desenvolvimento6. Nesse sentido, Vygotsky7 chama a atenção para questões da aprendizagem escolar, atribuindo um valor signi ficativo a ela. Coloca que a aprendizagem escolar é responsável por produzir “algo fundamentalmente novo no desenvolvi mento da criança”. Para o autor, a escola necessária é a escola voltada a uma educação social. (5.2) por trás da linguagem Ferreira8 destaca que, para Vygotsky, “a cultura não é um sis tema estático ao qual o indivíduo se submete, mas um ‘palco de negociações’, onde seus participantes estão em constante processo de recriação e ressignificação de informações, con ceitos e significados”, pois os significados das palavras são dinâmicos e não estáticos, modificando-se à medida que os sujeitos desenvolvemse, bem como de acordo com as várias formas pelas quais o pensamento funciona. Vygotsky expõe o seu conceito de pensamento verbal: O pensamento verbal não é uma forma de comportamento natural e inata, mas é determinado por um processo histórico cultural e tem propriedades e leis específicas que não podem ser encontradas nas formas naturais de pensamento e fala.9 Destaca ainda, o autor, que a relação entre pensamento e palavra se constitui em um processo contínuo, dinâmico, Te or ia h ist ór ic o cu ltu ra l – Vy go ts ky 71 pois
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