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Manual Técnico Ana Lúcia Alvares Capelozza Ana Lúcia Alvares Capelozza nasceu em São Paulo, capital, em 1959. Ingressou como estudante na faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo, em 1978, com pós-graduação (mestrado e doutorado) em Diagnóstico Oral e especialização em Radiologia Odontológica. Professora associada do Departamento de Estomatologia da Faculdade de Odontologia de Bauru (USP), ministra aulas nos cursos de graduação, pós-graduação e especialização em diversas áreas. Com várias orientações e pesquisas na área de radiologia odontológica, prioriza o ensino em radiologia em seu tabalho. Manual Técnico de Radiologia Odontológica Cópia ilegal de livros é crime punido com 2 a 4 anos de prisão (Código Penal, art. 184, J* 1.°). A n a L ú c ia A l v a r e s C a p e l o z z a Manual Técnico de Radiologia Odontológica Edição - 2009 Nova tiragem - Dezembro/2015 Nova Ortografia cultura e qualidade Capa: José Sérgio de Souza Maurício Luzia de Oliveira Composição: José Sérgio de Souza Maurício Luzia de Oliveira Danillo Kenedy M. da Rocha Revisão: Débora Maia Escher dos Santos Dheyne de Souza Santos Coordenação Editorial: Maurício Luzia de Oliveira Direitos desta edição reservados: AB Editora Proibida a reprodução total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou por qualquer meio mecânico ou eletrônico, inclusive através de cópias reprográficas, gravações ou apostilas, sem a expressa autorização da Autora e da Editora. (Lei n. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998) O conteúdo técnico-científico dos textos, incluindo os gráficos, as figuras, as fotos e as tabelas, é de exclusiva responsabilidade da autora. CIP-Brasil Catalogação na fonte Capelozza, Ana Lúcia Alvares C23 8m Manual técnico de radiologia odontológica/Ana Lúcia Alvares Capelozza - Goiânia: AB, 2009. 168 p. ISBN 978-85-7498-176-5 1. Radiologia 2. Radiologia odontológica (procedimentos) I. Capelozza, Ana Lúcia Alvares II. Título. CDU: 57-77:616.314 Vendas: (62)3219-8600 Informações: (62)3219-8696 Fax:(62)3219-8644 www,abeditora.€om,br abeditora@abeditora.com.br • livros@abeditora.com.br Rua 15, n. 252 • Centro • CEP: 74030-030 • Goiânia-GO Vara meu pai, L u iz Gasati Vivares, com quem aprendi muito mais que radiologia. IPara minha família, com amor. Vara meus alunos, com fé. v PREFÁCIO A figura do técnico em radiologia odontológica vem se tomando cada dia mais indispensável num trabalho que faz radiografias para realização de um serviço profissional especializado. O cirurgião bucomaxilofacial, o ortodontista e o estomatologista são os maiores solicitadores de radiografias especializadas para fins de diagnóstico, planejamento e acompanhamento de seus pacientes, na maioria das vezes com equipamentos sofisticados, não usuais nos consultórios odontológicos. As radiografias panorâmicas e cefalométricas são um bom exemplo. A professora Dra. Ana Lúcia discorreu com proficiência sobre as técnicas que, dentro do conhecimento atual, são usadas em radiologia odontológica, fornecendo ao técnico de laboratório o necessário para seu aprendizado e execução. As noções de radiobiologia e radioproteção tão indispensáveis para aqueles que pretendem trabalhar com radiações ionizantes foram tratadas com a necessária clareza e simplicidade. Com bastante propriedade, introduziu um capítulo sobre anatomia radiográfica, que trata da aparência normal dos tecidos vistos nas radiografias, padecendo da superposição de estruturas, da ausência da terceira dimensão e da relação com o posicionamento do paciente. Os muitos anos de experiência no ensino de graduação e de pós-graduação em radiologia odontológica, além de uma natural tendência para ensinar, certamente irão fazer deste livro uma leitura extremamente útil para o estudante que pretende tomar-se um profissional competente. Prof. Dr. Luiz Casati Alvares vii APRESENTAÇÃO A radiografia em odontologia é um meio auxiliar de diagnóstico muito importante e a interpretação das imagens intra e extraorais depende de vários fatores, dentre eles a qualidade da imagem. Para a obtenção de radiografias que permitam o diagnóstico e o plano de tratamento corretos são necessários conhecimentos técnicos e da anatomia radiográfica dos dentes e do crânio. Nosso objetivo com este trabalho é oferecer ao técnico em radiologia odontológica informações necessárias para a realização de radiografias com qualidade para o diagnóstico. As informações contidas neste manual serão transmitidas ao leitor de maneira simples, com textos explicativos, além de figuras e fotografias que, com certeza, facilitam a compreensão do conteúdo. O manual é dividido em oito capítulos. Por meio deles, o leitor será conduzido a uma sequência iniciada pela importância da radiografia em odontologia, noções básicas sobre a produção dos raios X, como utilizá-los nas diferentes técnicas intra e extrabucais e como processar as imagens obtidas. Nosso estudo termina com o ensino dos reparos anatômicos que auxiliam na identificação das radiografias. IX SUMÁRIO C a p ít u l o I HISTÓRICO, NATUREZA E PRODUÇÃO DOS RAIOS X ................ 1 1. Histórico das radiações X ..................................................................... 1 2. Natureza dos raios X ............................................................................ 4 3. O que são os raios X ............................................................................. 5 4. Como funcionam os aparelhos de raios X .......................................... 6 5. Componentes de um tubo de raios X ................................................... 7 6. Como os raios X são produzidos......................................................... 8 7. Componentes dos aparelhos de raios X odontológicos..................... 9 8. Cuidados com os aparelhos de raios X ................................................ 12 C a p ít u l o II RADIOPROTEÇÃO EM ODONTOLOGIA........................................... 13 1. Noção geral............................................................................................ 13 2. Unidades de radiação............................................................................ 14 3. Efeitos biológicos dos raios X ............................................................. 16 4. Radioproteção em odontologia............................................................ 16 4.1. Ambiente de trabalho................................................................. 17 4.2. Feixe de radiação......................................................................... 21 4.3. Filtração total............................................................................... 22 4.4. Colimação..................................................................................... 23 4.5. Localizadores............................................................................... 24 5. Posicionadores............................................................................ 26 6. Mantenedores de filme......................................................................... 28 7. Duração da exposição........................................................................... 28 8. Botão disparador.................................................................................... 30 9. Considerações sobre as técnicas radiográficas e a proteção ao paciente.................................................................................................. 30 9.1. Indicações..................................................................................... 30 9.2. Protetores ..................................................................................... 31 9.2.1. Proteção do operador e da equipe................................... 32 xi Manual técnico de radiologia odontológica 10. Monitoração.......................................................................................... 33 10.1. Filmes mais sensíveis.................................................................. 34 10.2. Processamento do filme.............................................................. 34 11. Comunicação efetiva com o paciente................................................. 35 C a p ít u l o III A IMPORTÂNCIA DA RADIOGRAFIA E A RESPONSABILIDADE DO OPERADOR....................................................................................... 37 1. Noção geral........................................................................................... 37 2. Importância da radiografia................................................................... 37 3. Benefícios das radiografias.................................................................. 37 4. Condições que podem ser identificadas na imagem radiográfica....... 38 5. O operador de raios X ........................................................................... 44 C a p ít u l o IV TÉCNICAS RADIOGRÁFICAS INTRAORAIS EM ODONTOLOGIA....................................................................................... 45 1. Noção geral........................................................................................... 45 2. Técnicas radiográficas intraorais......................................................... 45 2.1. Técnica periapical....................................................................... 45 2.2. Técnica da bissetriz..................................................................... 45 2.2.1. Indicações........................................................................ 46 2.2.2. Descrição da técnica......................................................... 46 2.2.3. Regulagem do aparelho................................................... 46 2.2.4. Posicionamento do paciente............................................ 48 2.2.5. Posicionamento do filme...................... 49 2.2.6. Técnica radiográfica............................... 50 2.2.7. Executando a técnica passo a passo.............................. 53 2.3. Técnica periapical com o uso de posicionadores...................... 55 2.3.1. Executando a técnica passo a passo............................... 55 2.4. Técnica periapical do paralelismo (localizador longo)............. 56 2.4.1. Indicações........................................................................ 56 2.4.2. Descrição da técnica......................................................... 57 2.4.3. Regulagem do aparelho................................................... 57 xii Sumário 2.4.4. Técnica radiográíica......................................................... 58 2.4.5. Executando a técnica passo a passo................................ 59 2.5. Técnica interproximal................................................................. 61 2.5.1. Indicações.......................................................................... 61 2.5.2. Descrição da técnica......................................................... 61 2.5.2.1. Regulagem do aparelho..................................... 61 2.5.3. Técnica radiográíica......................................................... 62 2.5.3.1. Executando a técnica passo a passo................. 62 2.6. Técnicas radiográficas oclusais................................................... 63 2.6.1. Indicações gerais.............................................................. 63 2.7. Oclusal total de maxila................................................................ 63 2.7.1. Descrição da técnica......................................................... 63 2.8. Oclusal para região de incisivos................................................. 65 2.8.1. Descrição da técnica......................................................... 65 2.9. Oclusal para região de caninos................................................... 66 2.9.1. Descrição da técnica......................................................... 66 2.10. Oclusal total de mandíbula.......................................................... 66 2.10.1. Descrição da técnica........................................................ 66 2.11. Oclusal parcial de mandíbula...................................................... 67 2.11.1. Descrição da técnica........................................................ 67 2.12. Oclusal total da região de sínfise................................................ 68 2.12.1. Descrição da técnica........................................................ 68 C a p ít u l o V TÉCNICAS RADIOGRÁFICAS EXTRAORAIS EM ODONTOLOGIA........................................................................................ 71 1. Noção geral............................................................................................ 71 2. Radiografia panorâmica....................................................................... 71 2.1. Indicações ................................................................................... 71 3. Descrição da técnica............................................................................ 72 3.1. Regulagem do aparelho............................................................... 73 3.2. Técnica radiográíica..................................................................... 73 3.3. Preparo dos equipamentos.......................................................... 74 3.4. Preparo do paciente...................................................................... 74 xiii Manual técnico de radiologia odontológica 4. Telerradiografia em norma lateral (perfil).......................................... 77 4.1. Indicações ................................................................................... 77 4.2. Descrição da técnica................................................................... 78 4.3. Regulagem do aparelho............................................................... 79 4.4. Preparo dos equipamentos.......................................................... 79 4.5. Preparo do paciente..................................................... 80 4.5.1. Posição da cabeça............................................................. 80 4.6. Incidência do feixe...................................................................... 81 4.7. Descrição da técnica radiográfica ............................................. 82 5. Posteroanterior de mandíbula (PA de mandíbula) ou telerradiografia em norma frontal.................................................. 83 5.1. Indicações.................................................................................... 83 5.2. Descrição da técnica................................................................... 83 5.3. Regulagem do aparelho............................................................... 84 5.4. Técnica radiográfica................................................................... 84 5.4.1. Preparo dos equipamentos............................................. 85 5.4.2. Preparo do paciente......................................................... 85 5.4.2.1. Posição da cabeça.............................................. 85 5.5. Incidência do feixe...................................................................... 86 6. Radiografia axial, projeção submentoniana, submentovertex, projeção de H irtz................................................................. 88 6.1. Indicações.................................................................................... 88 6.2. Descrição da técnica................................................................... 88 6.3. Regulagem do aparelho............................................................... 88 6.4. Técnica radiográfica................................................................... 88 6.4.1. Preparo dos equipamentos............................................. 89 6.4.2. Preparo do paciente......................................................... 89 6.4.2.1. Posição da cabeça.............................................. 89 6.5. Incidência do feixe...................................................................... 90 7. Posteroanterior para seio maxilar e PA de seio maxilar ou projeção de Water’s .............................................................................. 91 7.1. Indicações.................................................................................... 91 7.2. Descrição da técnica................................................................... 91 xiv Sumário 7.3. Regulagem do aparelho............................................................... 92 7.4. Técnica radiográfica..................................................................... 92 7.4.1. Preparo dos equipamentos.............................................. 92 7.4.2. Preparo do paciente......................................................... 92 7.4.2.1. Posição da cabeça.............................................. 92 7.5. Incidência do feixe....................................................................... 93 8. Projeção de Towne (Towne reversa).................................................... 94 8.1. Indicações.................................................................................... 94 8.2. Descrição da técnica.................................................................... 94 8.3. Regulagem do aparelho............................................................... 95 8.4. Técnica radiográfica.................................................................... 95 8.4.1. Preparo dos equipamentos............................................... 95 8.4.2. Preparo do paciente.......................................................... 95 8.4.2.1. Posição da cabeça.............................................. 95 8.5. Incidência do feixe....................................................................... 96 9. Projeções para avaliação da articulação temporomandibular (ATM)................................................................. 97 9.1. Indicações.................................................................................... 97 9.2. Regulagem do aparelho............................................................... 97 9.3. Proj eção lateral da ATM.............................................................. 98 9.4. Técnica radiográfica supracraniana (transcraniana).................. 98 9.4.1. Descrição da técnica......................................................... 99 9.5. Técnica radiográfica infracraniana (transfacial ou transfaringeana)..............................................................................100 9.5.1. Descrição da técnica...........................................................100 9.6. Técnica radiográfica panorâmica................................................. 101 9.7. Técnica radiográfica lateral para exame do corpo damandíbula..................................................................................102 9.7.1. Indicações............................................................................102 9.7.2. Descrição da técnica...........................................................103 9.8. Técnica radiográfica lateral para exame do ramo da mandíbula....................................................................................... 104 9.8.1. Indicações............................................................................104 9.8.2. Descrição da técnica...........................................................104 xv Manual técnico de radiologia odontológica 9.9. Técnica radiográfica para projeção do contorno anterior da face............................................................................................ 105 9.9.1. Indicações........................................................................... 105 9.9.2. Descrição da técnica.......................................................... 105 C a p ít u l o VI MÉTODOS DE LOCALIZAÇÃO EM ODONTOLOGIA......................107 1. Método de localização de Clark........................................................... 107 1.1. Indicações......................................................................................107 1.2. Descrição da técnica.....................................................................108 2. Método de localização do ângulo reto (técnica de Miller-Winter)..... 109 2.1. Indicações......................................................................................109 2.2. Descrição da técnica..................................................................... 111 3. Método de localização de Donovan...................................................... 112 3.1. Indicações......................................................................................112 3.2. Descrição da técnica..................................................................... 112 4. Localização de cálculos salivares submandibulares............................114 4.1. Descrição da técnica..................................................................... 115 C a p ít u l o VII PROCESSAMENTO RADIOGRÁFICO.................................................. 117 1. Noção geral............................................................................................. 117 2. Formação da imagem latente.................................................................117 3. Etapas do processamento radiográfico................................................. 119 3.1. Abertura do filme.......................................................................... 119 3.2. Revelação.......................................................................................119 3.3. Lavagem intermediária.................................................................120 3.4. Fixação...........................................................................................121 3.5. Lavagem final................................................................................ 121 3.6. Secagem.........................................................................................121 3.7. Processamento manual passo a passo..........................................121 3.8. Processamento automático........................................................... 122 3.9. Montagem e identificação das radiografias.................................. 123 C a p ít u l o VIII ANATOMIA RADIOGRÁFICA................................................................127 xvi Sumário 1. Anatomia radiográfica periapical.......................................................... 127 1.1. Maxila............................................................................................128 1.2. Mandíbula......................................................................................132 2. Anatomia radiográfica interproximal................................................... 136 3. Anatomia radiográfica oclusal..............................................................137 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 143 REFERÊNCIAS......................................................................................... 145 xvii Capítulo I HISTÓRICO, NATUREZA E PRODUÇÃO DOS RAIOS X 1. Histórico das radiações X Os raios X foram descobertos em 1895 pelo professor de Física Willhelm Conrad Rõntgen, após vários experimentos feitos por ele em seu laboratório, no Instituto de Física da Universidade de Würzburg, na Alemanha. Na época do descobrimento, o professor tinha 50 anos e seus estudos eram direcionados ao comportamento dos gases e descargas elétricas em tubos a gás (figura 1). Utilizando uma bobina de Rumkorff, que fornecia a alta tensão ao tubo do tipo Hittorff-Crooks (figura 2), o professor Rõntgen percebeu uma grande luminescência, e como pretendia testar a fluorescência do platinocianeto de bário, que era menor do que a do tubo, resolveu cobri-lo com um papel preto, de tal maneira que a luminescência do tubo não impedisse a visualização de seus experimentos na placa. Quando escureceu a sala para verificar se o tubo estava bem coberto pelo papel, observou que havia uma fluorescência tênue a quase 1 metro de distância sobre a bancada do laboratório. Assim, percebeu que a luz era proveniente da placa de platinocianeto de bário, que emitia luz por estar sendo atingida por algum tipo de radiação desconhecida até então, originada do tubo, que atravessava o invólucro preto e sensibilizava a placa. Rõntgen já sabia que os raios catódicos sensibilizavam filmes foto gráficos, então, resolveu averiguar se esses raios, que passavam pelo papel preto, eram capazes de sensibilizar filmes e fez uma série de experimentos com diferentes materiais metálicos, como: peso de balança, espingarda, trava de portas, entre outros objetos. Finalmente, notando que podia enxergar os ossos de sua mão quando segurava objetos entre o tubo e a placa de platinocianeto de bário, solicitou a sua esposa Bertha, que morava junto ao laboratório (procedimento 1 Manual técnico de radiologia odontológica comum na época) que colocasse sua mão sobre um filme fotográfico em um chassi de papel preto e ligou o tubo, fazendo uma exposição de 15 minutos. O filme revelado mostrava a primeira radiografia de um ser humano e, com a mão de Bertha, uma nova era na ciência foi inaugurada (figura 3). O professor descreveu então várias propriedades dos raios chamados por ele de X e, por seu trabalho, recebeu o primeiro Prêmio Nobel da Física, em 1901. Apenas 14 dias após a descoberta dos raios X, o Dr. Otto Walkhoff fez a primeira radiografia dental, na Alemanha, com aproximadamente 25 minutos. Em 1896, um cirurgião-dentista de Nova Orleans (EUA), Dr. Edmund Kells, fez a primeira radiografia de um paciente, usando seu próprio equipamento e técnica. O professor Willhelm Conrad Rõntgen, descobridor dos raios X, faleceu em 1923 aos 78 anos, tendo vivido mais 28 anos após a sua descoberta. O primeiro aparelho de raios X dental, com o tubo imerso em óleo, foi desenvolvido por Coolidge, pela General Eletric (G. E.) em 1918, chamado de Victor CDX. Melhorias nos aparelhos, incluindo a variação da quilovoltagem, marcadores de tempo eletrônicos, geradores de corrente contínua, filtros acompanhados por melhorias na sensibilidade do filme, foram feitos em 1957. A primeira publicação dos resultados dos estudos feitos por Yrjo V. Paatero, na Finlândia, sobre o método pantomográfico, data de 1949 e o nome da técnica foi atribuído por ele para unir as palavras panorâmica e tomografia. Assim, outra técnica, hoje muito utilizada em odontologia, estava lançada. O primeiro aparelho comercial, lançado no 7.° Congresso Internacional de Radiologia, em 1953, em Copenhague, fabricado por uma companhia suíça, recebeu o nome de Panoramix, e seguiu os princípios de outro pesquisador da época, Dr. Ott, o qual foi dentista em Berna (Suíça) e desenvolveu, em 1948, o protótipo de um pequeno tubo de raios X. Este era colocado dentro da boca, sensibilizava dois filmes, colocados por fora dela, na maxila, e na mandíbula. 2 Capítulo I Histórico, natureza e produção dos raios X FIGURA 1 - PROFESSOR RÕNTGEN NA ÉPOCA DA DESCOBERTA (1895) E COM APROXIMADAMENTE 78 ANOS FONTE: arquivo do Prof. Casati (FOB-USP) FIGURA 2 - TUBOS HITTORFF-CROOKS (SIMILARES AOS UTILIZADOS PELO PROF. RÕNTGEN NOS EXPERIMENTOS) FONTE: arquivo do Prof. Casati (FOB-USP) 3 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA 3 - MÃO DE BERTHA RÕNTGEN FONTE: arquivo do Prof. Casati (FOB-USP) 2. Natureza dos raios X Para trabalharmos corretamente com os raios X, primeiro é preciso compreendê-los. Os raios X são radiações eletromagnéticas, assim como a luz, ondas de rádio e televisão e a radiação utilizada nos fornos de micro-ondas. Entretanto, com comprimento de onda menor, que permite que os tecidos sejam atravessados por ele. Trabalhos científicos, agências governamentais, mídia pública e sites na internet discutem frequentemente os efeitos danosos das radiações. Essas informações, disponíveis à população em geral, associadas ao desconhecimento dos técnicos e profissionais que trabalham com esse tipo de energia, resultam muitas vezes em recusa de alguns pacientes em fazer um exame radiográfico que, quando prescrito corretamente, só traz benefícios ao paciente. 4 Capítulo I Histórico, natureza e produção dos raios X Como profissional da área de saúde, o técnico em radiologia precisa compreender a formação dos raios com os quais trabalha, para se tranquilizar e tranquilizar os pacientes, pois a desinformação pode resultar na perpetuação de conceitos errôneos de que os raios X utilizados em odontologia fazem mal à saúde e, consequentemente, na recusa do paciente em fazer radiografias. 3. O que são os raios X Os raios X são radiações eletromagnéticas com comprimento de onda menor que o da luz visível, que tem a capacidade de ionizar partículas ou átomos, o que os classificam como radiação ionizante. O que ocorre é uma transferência de energia de um ponto ao outro, sem nenhum meio que contenha massa. As radiações eletromagnéticas podem ser encontradas na natureza, como, por exemplo, a radiação cósmica, ou produzida artificialmente pelo homem, como os raios X gerados em nossos aparelhos. Para compreender melhor o espectro das radiações eletromagnéticas e onde se encontram os raios X, observe a figura a seguir. FIGURA 4 - ESPECTRO DAS RADIAÇÕES ELETROMAGNÉTICAS 5 Manual técnico de radiologia odontológica As radiações eletromagnéticas apresentam várias características comuns, mas cada uma delas pode apresentar características peculiares à sua frequência, o que resulta no que vimos anteriormente, no espectro das radiações eletromagnéticas: • propagam-se a 300 mil quilômetros por segundo; • caminham em linha reta e podem ser defletidas de sua trajetória original, porém a nova trajetória será linear; • são absorvidas ou espalhadas quando interagem com a matéria, mas podem ser refletidas, refratadas ou difundidas; • produzem interferências e podem ser polarizadas; • não são afetadas por campos elétricos e magnéticos. 4. Como funcionam os aparelhos de raios X Os aparelhos de raios X, que utilizamos em odontologia, são equipados com um tubo ou ampola do tipo autorretificador, e podem operar com corrente alternada, permitindo a construção de aparelhos de pequeno porte, e também podem ser transportados ou fixados em parede. Dentro da cabeça do aparelho, encontram-se transformadores que têm a função de elevar, reduzir e regular tensão e correntes alternadas. Os aparelhos odontológicos possuem dois transformadores, um de alta tensão, para que se obtenha a diferença de potencial para a geração dos raios X (DDP), e um transformador de baixa tensão, para o aquecimento do filamento de tungstênio, onde se formam os elétrons que serão acelerados pela DDP, que é estabelecida pela quilovoltagem do aparelho. Na corrente alternada, a polaridade se inverte a cada instante. Se consi derarmos um dos terminais, este é positivo (+) por um determinado espaço de tempo (1/120 do segundo, com 60 períodos por segundo), e no instante seguinte, após 1/120 do segundo, passa a ser negativo. O espaço de tempo entre o início de uma polaridade positiva até o início da próxima polaridade positiva é denominado de ciclo. No Brasil, nossos aparelhos trabalham com 60 ciclos. 6 Capítulo I Histórico, natureza e produção dos raios X 5. Componentes de um tubo de raios X FIGURA 5 - TUBO DO APARELHO DE RAIOS X Vácuo Transformador de alta tensão Transformador de baixa tensão Tubo de raios X Filamento de tungstênio Cabeça do aparelho Janela para Filtro saída do feixe de alumínioj de raios X Colimador Janela para saída dos raios X no tubo Posicionador FONTE: adaptado de Haring & Lind, 1996 • Fonte de elétrons Os elétrons são provenientes do filamento de tungstênio (cátodo) e seu aquecimento é feito pelo transformador de baixa tensão. A miliamperagem (mA) determina a quantidade de elétrons que passará para o ânodo. Assim, quanto maior a corrente, maior será o número de elétrons, que nos aparelhos odontológicos varia de 7 a 10 mA. • Aceleração dos elétrons Depende da tensão aplicada ao tubo de raios X (60 kV, 70 kV, 90 kV) e é gerada com o uso de um transformador de alta tensão. A quilovoltagem (kV) determina a velocidade dos elétrons, de maneira que, quanto maior a kV, maior a potência dos elétrons e maior o poder de penetração dos raios X nas estruturas. • Vácuo O vácuo é necessário para que haja uma trajetória livre dos elétrons, entre o cátodo e o ânodo. 7 Manual técnico de radiologia odontológica • Anteparo para os elétrons Constituído nos aparelhos de ânodo fixo, por uma placa de tungstênio, encrustada em cobre. No ponto focal, os elétrons são desacelerados e sua alta energia de movimento é convertida em calor e raios X. Em função da complexa física envolvida na produção dos raios X, o ponto de impacto dos elétrons no ânodo deve ser de número atômico e ponto de fusão altíssimos. O tungstênio tem número atômico 70 e ponto de fusão 3.400°. Quanto menor o ponto focal, melhor a imagem. Nos aparelhos de raios X odontológicos, a área do ponto focal varia de 0,7 mm x 0,7 mm a 0,8 mm x 0,8 mm. • Dissipação do calor produzido A dissipação do calor produzido pelo impacto dos elétrons, no ponto focal de tungstênio, é feita por um radiador que, por meio de suas aletas, dissipa esse calor ao óleo que envolve o tubo de raios X, dentro da cabeça do aparelho. 6. Como os raios X são produzidos Para que se produzam os raios X, são necessários: • elétrons; • aceleração dos elétrons; • anteparo para deter os elétrons. Quando o operador do aparelho de raios X aperta o botão disparador do aparelho, os elétrons são acelerados por uma diferença de potencial de alta voltagem, a quilovoltagem (kV), onde um quilovolt é igual a 1000 V (os aparelhos brasileiros variam de 60 a 70 kV e os aparelhos importados podem chegar a 90 kV). Esses elétrons se chocam em um anteparo, ponto focal do aparelho, perdem sua energia cinética, que se transforma em energia térmica (calor, 99,8%) e em energia eletromagnética (raios X, 0,2%). Agora que já foi esclarecido sobre a produção dos raios X odontológi cos e sobre as partes que compõem o aparelho de raios X, será demonstrada a produção dos raios X, que pode ser assim compreendida: 8 Capítulo 1 Histórico, natureza e produção dos raios X • a energia elétrica que chega ao hospital ou à clínica permite a geração dos raios; • quando ligamos o aparelho de raios X, a corrente elétrica chega ao aparelho e caminha do painel de controle até o tubo pelos fios que se encontram dentro do braço do aparelho; • a corrente'chega até o circuito do filamento e um transformador de baixa tensão reduz a voltagem de 110 ou 220 volts para 3 a 5 volts; • o filamento do cátodo usa de 3 a 5 V para aquecer o tungstênio e uma nuvem de elétrons se forma ao seu redor; • o circuito de alta voltagem é ativado quando o disparador é apertado pelo operador. Os elétrons produzidos no cátodo são então acelerados pela DDP de 60 ou 70 kV, através do vácuo para o ânodo; • o focalizador de molibdênio, localizado no cátodo, direciona os elétrons para o ponto focal de tungstênio no ânodo; • quando os elétrons se chocam com o ânodo, ocorre a produção de calor e de raios X; • o calor produzido é então dissipado pela estrutura de cobre do ânodo, pelo radiador e pelo óleo que se encontra na cabeça do aparelho; • os raios X saem pelo tubo e, posteriormente, passam pelo diafragma ou colimador (que determina o tamanho do feixe), pelo filtro de alumínio, que filtra a radiação de maior comprimento de onda, que chegaria ao paciente, mas não seria capaz de atravessar suas estruturas, e sai pela abertura do localizador do aparelho de raios X. 7. Componentes dos aparelhos de raios X odontológicos Os aparelhos de raios X odontológicos podem ser divididos em dois tipos: aparelhos para fixação na parede e aparelhos de coluna móvel. Os aparelhos que são fixados na parede são vantajosos, pois ocupam menos espaço e não sofrem o risco de queda por movimentação errônea do operador. Eles são compostos pelas seguintes partes: corpo, braço articulado e cabeçote (figura 6). 9 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA 6 - APARELHO DE RAIOS X ODONTOLÓGICO PARA FIXAÇÃO NA PAREDE FONTE: <http ://www. gendex. com/us/products/intraoral> Os aparelhos de coluna permitem ao operador mover o aparelho, fazendo com que ele seja utilizado em locais diferentes (figura 7). FIGURA 7 - APARELHO DE RAIOS X ODONTOLÓGICO, COLUNA MÓVEL 10 Capítulo I Histórico, natureza e produção dos raios X • Braço do aparelho Responsável pela sustentação da cabeça do aparelho onde está localizado o tubo de raios X. Também é responsável pela passagem dos fios elétricos que levam a energia ao tubo, pela movimentação e pelo posicionamento da cabeça do aparelho. • Cabeçote do aparelho Onde estão localizados o tubo de raios X, os transformadores e o localizador. • Corpo do aparelho Onde está o painel de controle do aparelho. O painel de controle pode ser fixado na parede, montado no aparelho móvel ou disponibilizado em um controle remoto, que pode ficar fora da sala de exposição (figura 8). FIGURA 8 - CONTROLE ELETRÔNICO DO APARELHO SPECTRO 70x (DABIATLANTE) FONTE: <http://www.dabi.com.br> No painel de controle dos aparelhos de raios X encontram-se: • a chave de liga e desliga, com um indicador luminoso; • o botão para o disparo do aparelho, com indicador luminoso; • os marcadores de tempo de exposição, que é o intervalo de tempo durante o qual os raios X são produzidos. Geralmente variam de 0,1 a 3 segundos de exposição. 11 Manual técnico de radiologia odontológica • Base do aparelho Os aparelhos móveis possuem uma base que permite a sustentação e a movimentação do aparelho. 8. Cuidados com os aparelhos de raios X Os operadores de aparelhos de raios X devem cuidar da manutenção e da limpeza dos equipamentos. Seguem algumas sugestões para que a manutenção seja feita correta mente. Esses cuidados aumentarão o tempo de uso dos aparelhos e diminuirão as despesas com consertos e visitas técnicas. • atenção durante o deslocamento dos aparelhos móveis. Ao transportar o aparelho, o operador deve sempre manter o braço do aparelho junto ao corpo dele, para que não haja desequilíbrio e queda, preferencialmente com o localizador voltado para cima; • pancadas na cabeça do aparelho em portas ou paredes podem da nificar o tubo. Existe uma junção no cátodo do tubo, entre cobre e vidro, facilitando trincas nesse local; • os transformadores de alta e baixa tensão e o tubo ficam imersos em óleo, para maior segurança contra choques elétricos e para auxiliar na dissipação de calor. Se, por qualquer motivo, houver vazamento de óleo na cabeça de seu aparelho, o lugar ocupado pelo óleo passa a ser ocupado por ar, que não é um bom isolante térmico e as tensões utilizadas no tubo são muito altas, variando entre 50 e 90 mil volts. Dessa forma, deve-se retirar o seu aparelho imediatamente da tomada e não o utilizar mais sem revisão técnica; • o operador deve sempre seguir as recomendações de uso do fabri cante, manter o equipamento em local protegido de sol e chuva, com temperatura próxima a 25°C (ambiente), que são recomen dações dadas pela maioria dos fabricantes; • cuidar da limpeza externa do aparelho, não usar soluções que possam danificar a pintura do aparelho e não permitir o acúmulo de poeira. 12 C apítulo II RADIOPROTEÇÃO ODONTOLOGIA - 1. Noção geral Para que o operador trabalhe com segurança, utilizando radiações ionizantes, são necessários alguns conhecimentos básicos sobre as radiações. • O que são radiações ionizantes? Por ionização entende-se o processo em que um átomo ou uma molécula eletricamente estável se toma instável. Os átomos que constituem nosso corpo apresentam o mesmo número de prótons, localizados no núcleo do átomo, e de elétrons, localizados nas camadas orbitais. Quando um fóton de raios X choca-se com um desses elétrons orbitais, ele tem a capacidade de removê-lo de sua órbita, o que toma o íon positivo e, portanto, instável, em que o número de prótons é maior que o número de elétrons (figura 1). FIGURA 1 - FÓTON DE RAIOS X ^ -------• ♦ / N \ Radiação secundária í í r 3 I Elétron * de alta energia FONTE: a autora 13 Manual técnico de radiologia odontológica O fóton de raios X, ao chocar-se com um elétron, remove-o da órbita. Se a energia não for totalmente empregada na remoção do elétron, o restante é espalhado como radiação secundária. Os efeitos acima descritos nos organismos vivos podem ser físicos e químicos e são capazes de modificar a forma e a função celular. Se considerarmos que nosso corpo é composto basicamente por água, com certeza essa é a molécula que será mais afetada. A figura 2 ilustra o que pode acontecer quando uma molécula de água for atingida por um fóton de raios X e quais as possíveis combinações resultantes dessa ionização. FIGURA 2 - DECOMPOSIÇÃO QUÍMICA DA ÁGUA, APÓS A IONIZAÇÃO FONTE: a autora Para compreendermos o efeito das radiações X sobre os tecidos, é necessário conhecermos as unidades de medida de radiação. 2. Unidades de radiação • R (Rõntgen) Quantidade de radiação capaz de provocar em um centímetro cúbico de ar, nas condições normais de tem peratura e de pressão, o aparecimento de íons carregados por uma unidade eletrostática de carga. 14 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia • Gray (Gy) Mede a quantidade de radiação absorvida. • Sievert (Sv) Utilizada para comparar os efeitos biológicos dos diferentes tipos de exposição às radiações. Os tecidos respondem de maneira diferente às mesmas doses e alguns tecidos são mais sensíveis às radiações do que outros. É fácil compreender o comportamento dos tecidos, se compreen dermos a Lei de Bergonie e Tribondeau, postulada em 1906. Ao estudar o efeito das radiações ionizantes em ratos, os dois cientistas chegaram à conclusão de que as células apresentam diferente sensibilidade à radiação, em função de fatores intrínsecos. Assim, concluíram então que a radiossensibilidade dos tecidos e das células é proporcional à sua capacidade de reprodução e inversamente proporcional ao seu grau de diferenciação. São mais radiossensíveis, portanto: • as células que apresentam maior atividade mitótica; • as células menos diferenciadas ou indiferenciadas; • as células que têm um ciclo vital com maior número de divisões. A susceptibilidade às radiações ionizantes dependerá ainda dos seguintes fatores: • dose: intensidade x tempo. Quanto maior a dose, maior o dano; • área exposta: quanto maior a área exposta, maior o dano; • tempo: os efeitos são maiores quando as doses são aplicadas com pequenos intervalos de tempo. O período latente para a radiação solar pode ser medido em horas, pelo eritema solar, mas o período de latência para as radiações X varia de acordo com a dose recebida. Existem casos relatados de período latente de até 25 anos, razão pela qual o operador não deve expor suas mãos durante a exposição radiográfica e deve ser prudente no uso das radiações ionizantes. 15 Manual técnico de radiologia odontológica 3. Efeitos biológicos dos raios X Os efeitos biológicos podem ser divididos em dois grandes grupos: efeitos somáticos e efeitos genéticos. • Efeitos somáticos Os efeitos somáticos são aqueles que ocorrem e tornam-se evidentes no indivíduo irradiado. QUADRO 1- SUSCEPTIBILIDADE ÀS RADIAÇÕES IONIZANTES DE ACORDO COM A QUANTIDADE DE RADIAÇÃO E A ÁREA IRRADIADA DOSE DE RADIAÇÃO ÁREA EXEMPLOS Grande Corpo todo Explosões atômicas Acidentes nucleares Acidentes radioativos Grande Limitada do corpo Radioterapia Pequena Corpo todo População em geral (radiação natural) Indivíduos que trabalham com radiação ionizante (proveniente da radiação secundária, dos tecidos do paciente) Pequena Limitada do corpo Operadores que fazem a manutenção do filme na boca do paciente, durante a exposição FONTE: a autora • Efeitos genéticos São os efeitos que não se manifestam no indivíduo irradiado, mas sim nos seus descendentes. Devemos nos lembrar de que os efeitos genéticos são decorrentes da ação deletéria da radiação ionizante sobre o núcleo dos gametas, onde se encontra o código genético. Muitos estudos foram realizados na população sobrevivente às explosões atômicas e, nos descendentes, esses resultados permitem estimar que a taxa duplicadora de mutação é de 4 Sv nas gônadas. 4. Radioproteção em odontologia Após a descoberta dos raios X pelo professor Rõntgen, em 1895, foram identificadas algumas manifestações clínicas que indicavam que os raios X 16 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia apresentavam risco potencial à saúde. Muitos trabalhos foram então descritos na literatura e a partir dos resultados destes foi estabelecido o conceito de risco/benefício e os limites para o uso dessas radiações para a população, para o paciente e para o operador. Na época da descoberta dos raios X e no início do século passado, os tempos de exposição eram muito maiores e muitas repetições eram feitas. Atualmente, o benefício com o uso de doses pequenas, como as utilizadas em odontologia, supera os riscos. Várias normativas foram criadas em diferentes partes do mundo, estabelecendo as doses máximas permitidas e as doses limites para o operador, para o paciente e para os membros da equipe que trabalham com radiação ionizante. Essas normativas incluem também os critérios para a prescrição das imagens radiográficas intra e extraorais. No Brasil, a Portaria n. 453, de l.° de junho de 1998, do Minis tério da Saúde e da Secretaria de Vigilância Sanitária, considerando os riscos inerentes ao uso das radiações ionizantes e a necessidade de se estabelecer uma política nacional de proteção na área de radiodiagnóstico, dispõe sobre o uso dos raios X para diagnóstico em todo o território nacional. Os capítulos IV e V dessa Portaria tratam dos requisitos específicos para radiodiagnóstico médico e odontológico, respectivamente. 4.1. Ambiente de trabalho O equipamento de radiografia intraoral deve ser instalado em ambiente com dimensões suficientes para permitir à equipe manter-se à distância de, pelo menos, 2 metros do cabeçote e do paciente. O equipamento de radiografia extraoral deve ser instalado em sala específica, atendendo aos mesmos requisitos do radiodiagnóstico médico. As salas equipadas com aparelhos de raios X devem dispor de: sinalização visível nas portas de acesso, contendo o símbolo internacional para identificar ambientes com produção de radiação ionizante (figura 3), acompanhado da inscrição: “raios X, entrada restrita” ou “raios X, entrada proibida a pessoas não autorizadas”. 17 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA 3 - SÍMBOLO INTERNACIONAL DA RADIAÇÃO IONIZANTE FONTE: <http://www.anvisa.gov.br> O acesso à sala onde há aparelho de raios X deve ser limitado durante os exames radiológicos e a sala não deve ser utilizada simultaneamente para mais de um exame radiológico. É necessário um quadro com as seguintes orientações de proteção radiológica, em lugar visível: “Não é permitida a permanência de acompanhantes na sala durante o exame radiológico, salvo quando estritamente necessário”; “Paciente, exija e use corretamente vestimenta plumbífera para sua proteção durante exame radiográfico”; “Acompa nhante, quando houver necessidade de contenção de paciente, exija e use corretamente vestimenta plumbífera para sua proteção durante exame radiológico” . Para cada equipamento de raios X deve haver uma vestim enta plumbífera que garanta a proteção do tronco dos pacientes, incluindo tireoide e gônadas, com pelo menos o equivalente a 0,25 mm de chumbo. Os protetores utilizados em odontologia estão disponíveis comercial mente, como: protetores para glândula tireoide e aventais de borracha plumbífera para proteção do tórax e das gônadas. Os protetores para glândula tireoide, conhecidos também como “colar de chumbo”, têm como objetivo impedir que a radiação ionizante chegue à glândula tireoide, especialmente nas técnicas intraorais, em que o feixe pode estar direcionado à glândula e pode ser encontrado acoplado ou não ao avental de borracha plumbífera. 18 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia FIGURA 4 - PROTETORES UTILIZADOS EM ODONTOLOGIA Legenda: A e B - Protetores para glândula tireoide. C - Avental de borracha plumbífera e protetor para glândula tireoide. D - Avental de borracha plumbífera e protetor para glândula tireoide acoplados. FONTE: arquivo de imagens Profa. Ana Capelozza (FOB-USP) Os serviços de radiologia das clínicas e hospitais devem possuir instalações adequadas para o processamento dos filmes. A câmara escura deve ser construída de modo a prevenir a formação de véu nos filmes; deve ser equipada com lanterna de segurança apropriada ao tipo de filme e possuir um sistema de exaustão adequado. O processamento das imagens radiográficas extra e intraorais podem ser realizados em dois tipos de câmara escura: labirinto e quarto. FIGURA 5 - CÂMARA ESCURA LABIRINTO 19 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA 6 - CÂMARA ESCURA DO TIPO QUARTO 1 - Lanterna de segurança 2 - Ventilador 3 - Varal para secagem das radiografias 4 - Porta-colgaduras 5 - Anteparo para escorrer a água do grampo 6 - Cronômetro 7 - Negatoscópio 8 - Bancada de trabalho 9 - Divisória 10 - Torneira 11 - Tanque de processamento 1 2 -P ia 13 - Armário 14 - Tabela temperatura/tempo FONTE: a autora Para radiografias intraorais, a legislação brasileira (Portaria n. 453 do Ministério da Saúde) permite a utilização de câmaras portáteis de revelação manual, desde que confeccionadas com material opaco. FIGURA 7 - ESQUEMA DA CAIXA DE PROCESSAMENTO MANUAL A - Á gua F - Fixador R - R evelador FONTE: a autora As caixas de processamento manual opacas, com o visor transparente e com coloração vermelha, impedem a entrada da luz branca capaz de velar ou escurecer a imagem radiográfica. 20 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia FIGURA 8 - CAIXAS DE PROCESSAMENTO MANUAL FONTE: A - <http://www.grx.com.br> B - <http://www.shopdental.com.br> Para revelação manual, deve estar disponível no local um cronômetro, um termômetro, um grampo para processamento individual e uma tabela de revelação para garantir o processamento nas condições especificadas pelo fabricante. FIGURA 9 - ACESSÓRIOS UTILIZADOS EM CÂMARA ESCURA I .egenda: A - Relógio marcador de tempo. B - Termômetro (FOB-USP). C - Grampo individual para processamento manual. FONTE: <http://www.shopdental.com.br> e arquivo da autora 4.2. Feixe de radiação Para as técnicas radiográficas intraorais, a tensão no tubo de raios X deve ser maior ou igual a 50 kVp, preferencialmente maior que 60 kVp e, nos aparelhos extraorais, a tensão do tubo não deve ser inferior a 70 kVp. 21 Manual técnico de radiologia odontológica 4.3. Filtração total O feixe de raios X é composto por raios de diferentes comprimentos de onda. Os raios de maior comprimento de onda não são capazes de atravessar os tecidos do paciente e impressionar o receptor de imagem, entretanto contribuem para o aumento da dose recebida pelo paciente. O filtro de alumínio responsável por essa filtração é colocado logo na saída do feixe útil da radiação, antes do diafragma ou colimador, impedindo, assim, que o paciente receba radiação desnecessária. Os equipamentos com tensão de tubo inferior ou igual a 70 kVp devem possuir uma filtração total permanente não inferior ao equivalente a 1,5 mm de alumínio, enquanto os equipamentos com tensão de tubo superior a 70 kVp devem possuir uma filtração total permanente não inferior ao equivalente a 2,5 mm de alumínio. FIGURA 10 - FILTRO DE ALUMÍNIO Filtro de IWWWVVVV/XX y IWWV 1 alu/míni0 IWWWVWV/XX oo mm L W W W W V Y /^ 5"3 mmy— r Í W W W V A / 1 mm L Ondas de maior e menor Ondas de menorl yA comprimento 13 comprimento Legenda: A - Localização do filtro de alumínio na cabeça do aparelho de raios X. B - Filtro de alumínio impedindo a passagem das ondas de maior comprimento. FONTE: a autora FIGURA 11 - FILTRO DE ALUMÍNIO DO APARELHO DE RAIOS X FONTE: aparelho GE-CDX 9 0 II, disciplina de Radiologia (FOB-USP) 22 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia 4.4. Colimação Todo aparelho de raios X deve possuir um sistema de colimação para limitar a área do paciente ao mínimo necessário para cobrir a área em exame. Para isso, utiliza-se um dispositivo de 2 mm de chumbo chamado de diafragma ou colimador, que é colocado na abertura do cabeçote do aparelho, o qual possui uma abertura central que limita o tamanho do feixe. O diâmetro da área exposta nas radiografias intraorais não deve ser superior a 6 cm na extremidade de saída do localizador. Valores entre 4 e 5 cm são permitidos apenas quando houver um sistema de alinhamento e posicionamento do filme, como na colimação retangular, em que ocorre uma redução na área exposta do paciente, que varia de 60 a 70%. Nas radiografias extraorais, é obrigatório o uso de colimadores retangulares. FIGURA 12 - COLIMADOR E LOCALIZADOR REDONDOS E TAMANHO DO DIÂMETRO DO FEIXE FIGURA 13-COLIM ADOR DE UM APARELHO DE RAIOS X ODONTOLÓGICO FONTE: a autora FONTE: aparelho GE-CDX 9 0 II, disciplina de Radiologia (FOB-USP) 23 Manual técnico de radiologia odontológica 4.5. Localizadores Os aparelhos de raios X intraorais devem possuir um localizador de extremidade de saída aberta para posicionar o feixe e limitar a distância foco-pele, que deve ser de, no mínimo, 18 cm para tensão de tubo menor ou igual a 60 kVp, e de, no mínimo, 20 cm para aparelhos com 60 e 70 kVp; para os aparelhos com kVp, maior que 70, a distância foco-pele deve ser de, no mínimo, 24 cm. Os localizadores nos aparelhos odontológicos podem ser curtos ou longos, redondos ou retangulares. Os localizadores curtos são utilizados mais frequentemente nas clínicas de radiologia e também nos consultórios odontológicos, nas técnicas periapical, interproximal e oclusal, e podem ter o formato redondo ou retangular. Os localizadores longos são utilizados na técnica periapical do para lelismo, para aumentar a distância foco-filme, pois nessa técnica, para que haja o paralelismo entre o dente e o receptor de imagem, é necessário o aumento da distância entre o objeto e o filme, o que aumenta a distorção da imagem, que é então compensada pelo aumento da distância do ponto focal até o receptor e também diminui a área da face do paciente exposta às radiações ionizantes. FIGURA 14-LOCALIZADORES DE APARELHOS DE RAIOS X ODONTOLÓGICOS 1 - 2 - _______________ 3 - Localizador curto 4 - Goniômetro Legenda: A -A parelho com localizador curto e seus principais componentes. B - Aparelho de raios X com localizador longo. FONTE: a autora A 1 24 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia FIGURA 15- COMPARAÇÃO ENTRE OS FEIXES DE RAIOS X EM LOCALIZADORES CURTOS E LONGOS Localizador curto Feixe de raios X divergente Local izador longo Feixe de raios X mais paralelo FONTE: a autora Os localizadores retangulares são utilizados para a mesma função que os localizadores curtos, mas a grande vantagem de optarmos pelo uso de colimação retangular é a diminuição da área irradiada da face do paciente ao tamanho da área irradiada. FIGURA 16 - LOCALIZADOR RETANGULAR DA RINN. ELGINI. L FONTE: adaptado de Haring & Lind, 1996 25 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA 17- COLIMAÇÃO DO APARELHO E ÁREA IRRADIADA Legenda: A - Colimação retangular. B - Colimação redonda. FONTE: a autora 5. Posicionadores A recomendação para o uso de posicionadores dos receptores de imagem, nas tomadas radiográficas intraorais, é descrita na Portaria n. 453, a qual não obriga o uso de localizadores retangulares, apenas localizadores abertos; entretanto, é grande a dificuldade na realização da técnica com localizadores retangulares sem o uso de posicionadores, dispositivos utilizados para manter o receptor de imagem intraoral e alinhá-lo com o feixe de raios X. FIGURA 18 - POSICIONADORES PARA TÉCNICA PERIAPICAL Legenda: A - Posicionadores para radiografias intraorais, periapicais. Cone indicador, Hanshin Techinical Laboratory, Ltda. Japão. B - Posicionador de filmes radiográficos (adulto), Indusbello, Ind. de Instrumentos Odontológicos Ltda. FONTE: a autora 26 Capítulo II Radioproteção em odontologia FIGURA 19- POSICIONADORES PARA TÉCNICA DO PARALELISMO E TÉCNICA INTERPROX1MAL Legenda: A - Posicionadores para técnica radiográficaperiapical do paralelismo (localizador longo) e interproximal Fabinject dental. B - Posicionador para radiografias interproximais, autoclavável (Indusbello, Ind. de Instrumentos Odontológicos Ltda.). FONTE: a autora Devemos aqui considerar que, mesmo nas técnicas mais utilizadas com os localizadores redondos, são descritos erros de posicionamento entre o localizador e o filme que resultam em uma imagem conhecida pelos técnicos e pelos profissionais como “Meia Lua”. FIGURA 20- “MEIA LUA”, IMAGEM RESULTANTE DA FALTA DE ALINHAMENTO DO FEIXE DE RAIOS X COM O FILME Legenda: A - Esquema. B - Imagem radiográfica interproximal. FONTE: a autora 27 Manual técnico de radiologia odontológica 6. Mantenedores de filme São dispositivos que mantêm o filme na boca, mas não estão acoplados a nenhuma haste que permita também o alinhamento do receptor (filme ou sensor) com o feixe de raios X, e também evitam radiação desnecessária no dedo do paciente. FIGURA 21 - MANTENEDORES DE FILME Legenda: A - Snap-A-Ray Film H older (Dentsply-Rinn) . B - Posicionador em bloco de espuma. FONTE: a autora 7. Duração da exposição O tempo de exposição é fornecido pelo fabricante do filme e deve ser adequado, portanto, à sensibilidade do filme, à quilovoltagem e à miliamperagem do aparelho, bem como à área a ser radiografada e à técni ca utilizada. A duração da exposição pode ser indicada em tempo ou em número de pulsos; e o medidor de tempo (timer) deve ser eletrônico e não deve permitir exposição com duração superior a 5 segundos. O tempo de exposição deve ser o menor possível, para que se obtenha uma imagem de boa qualidade. Isso inclui o uso de receptor de imagem mais sensível, o qual possa fornecer o nível de contraste e detalhe necessário. A maioria dos aparelhos disponíveis no mercado, atualmente, não permite o ajuste de miliamperagem e quilovoltagem. Assim, o operador deverá estar atento apenas à sensibilidade do filme e à área radiografada do paciente, bem como à técnica que será utilizada. 28 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia Na técnica radiográfica periapical, as áreas que necessitam de maior tempo de exposição são a região posterior da maxila, seguida de sua região anterior e às regiões posterior e anterior da mandíbula. Cabe salientar ainda que, no caso de áreas desdentadas, deverá ser feita uma redução de 25% no tempo de exposição; para pacientes adultos com cabeça grande, o tempo de exposição recomendado pelo fabricante deverá sofrer um aumento de 25% e, para crianças, a redução do tempo de exposição recomendado pelo fabricante do filme deverá ser de aproxima damente 30% do tempo de exposição recomendado para o paciente adulto. Para a técnica radiográfica do paralelismo, no qual o tamanho do localizador passa de 20 para 40 cm, o tempo de exposição deverá ser quadruplicado. Atualmente, o filme mais sensível disponível no mercado é o filme Insight da Kodak, do grupo F de sensibilidade, se o processamento radiográfico for automático e em processadoras de rolo. No quadro 2 encontram-se os tempos de exposição sugeridos pelo fabricante. QUADRO 2- EXPOSIÇÃO PARA PACIENTES ADULTOS E LOCALI- ZADORES CURTOS (20 CM) FATORES DE EXPOSIÇÃO 60 kV 7m A 65k V 7,5 mA 65k V 8 mA 70 kV 7 mA 70 kV 8 mA Região Exposição em segundos Exposição em segundos Exposição em segundos Exposição em segundos Exposição em segundos Anterior (maxila) 0,25 0,14 0,14 0,12 0,11 Pré-molar (maxila) 0,33 0,19 0,18 0,16 0,14 Posterior (maxila) 0,37 0,22 0,20 0,19 0,16 Anterior (mandíbula) 0,21 0,12 0,11 0,10 0,09 Pré-molar (mandíbula) 0,23 0,13 0,12 0,11 0,10 Posterior (mandíbula) 0,25 0,14 0,14 0,12 0,11 Interproximal 0,25 0,14 0,14 0,12 0,11 FONTE: <http://www.kodakdental.com> O operador deve observar e ouvir o paciente durante as exposições, pois uma comunicação efetiva diminui a ansiedade. O esclarecimento ao paciente sobre os procedimentos que serão realizados faz com que o paciente colabore, permanecendo imóvel durante a exposição e diminuindo, assim, o número de repetições. 29 Manual técnico de radiologia odontológica 8. Botão disparador Deve ser instalado em uma cabine de proteção ou disposto de tal forma que o operador que o maneje possa ficar a uma distância de, pelo menos, 2 m da cabeça do aparelho e do paciente durante a exposição. É proibido o uso de sistema de acionamento de disparo com retardo, a fim de evitar que, após o acionamento desse botão, o paciente se movimente e o procedimento não possa ser interrompido, para correção. O disparador deve ser colocado fora do ambiente onde haverá exposição aos raios X, com divisória de madeira com lâmina de chumbo no interior e visor para acompanhamento do paciente durante a exposição de vidro plumbífero. FIGURA 22 - LOCAL PARA EXPOSIÇÃO RADIOGRÁFICA FONTE: imagens obtidas na Clínica de Radiologia da FOB-USP 9.Considerações sobre as técnicas radiográficas e a proteção ao paciente No Brasil, as imagens radiográficas devem ser obtidas seguindo as normas da Portaria n. 453, 1998, do Ministério da Saúde. 9.1. Indicações Os exames radiográficos devem ser realizados sempre após o exame clínico, considerando as necessidades de saúde geral e dentária do paciente. Exames radiográficos anteriores podem ser úteis e tornam, assim, desneces sário um novo exame. 30 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia Para radiografias intraorais, devem-se utilizar preferencialmente as técnicas radiográficas periapical do paralelismo, com localizadores longos, técnica periapical da bissetriz com localizador curto e com posicionador e técnica interproximal com posicionador. Os posicionadores de filme permitem o alinhamento do filme com o dente e o feixe de raios X. Diminui também o número de repetições e a exposição desnecessária do dedo do paciente aos raios X durante as tomadas radiográficas intraorais. A extremidade do localizador nas técnicas descritas acima deve ser colocada o mais próximo possível da pele do paciente, para garantir menor tamanho da área irradiada. 9.2. Protetores Os protetores são vestimentas de proteção individual que protegem a glândula tireoide, o tronco e as gônadas dos pacientes durante as exposições. Eles devem ser acondicionados de forma a preservar sua integridade, sobre superfície horizontal ou em suporte apropriado. FIGURA 23 - SUPORTE PARA AVENTAL DE BORRACHA PLUMBÍFERA FONTE: imagens obtidas na Clínica de Radiologia da FOB-USP 31 Manual técnico de radiologia odontológica 9.2.1. Proteção do operador e da equipe Aparelhos intra e extraorais panorâmicos ou cefalométricos devem ser operados dentro de uma cabine ou em área com biombo fixo de proteção com visor apropriado. Este deve ter, pelo menos, a mesma atenuação calculada para a cabine, posicionada de modo que, durante as exposições, nenhum indivíduo possa entrar na sala sem o conhecimento do operador. FIGURA 24- VISOR PARA ACOMPANHAMENTO DO PACIENTE DURANTE A OBTENÇÃO DA IMAGEM FONTE: imagens obtidas na Clínica de Radiologia da FOB-USP Durante as exposições intraorais, o operador deve manter-se a uma distância de, pelo menos, 2 metros da cabeça do aparelho e do paciente. Se a carga de trabalho for superior a 30 mA/min por semana, o operador deve manter-se atrás de uma barreira protetora com uma espessura de, pelo menos, 0,5 mm equivalentes ao chumbo. O operador ou qualquer membro da equipe não deve se colocar na direção do feixe primário, nem segurar o cabeçote ou o localizador durante as exposições. Nenhum elemento da equipe deve segurar o filme durante a exposição. 32 Capítulo II Radioproteção em odontologia FIGURA 25- POSIÇÃO DO OPERADOR NA TÉCNICA PERIAPICAL Legenda: A - Região posterior. B - Região anterior. FONTE: a autora Somente o operador e o paciente podem permanecer na sala de exames durante as exposições. Caso seja necessária a presença de indivíduos para assistirem uma criança ou um paciente debilitado, devem fazer uso de avental plumbífero com, pelo menos, o equivalente a 0,25 mm Pb e evitar localizar-se na direção do feixe primário, considerando sempre que nenhum indivíduo deve realizar regularmente essa atividade. 10. Monitoração A monitoração do operador e da equipe deve ser feita por firmas especializadas, utilizando-se dosímetros. Não é recomendado que o operador substitua os dosímetros por clipes ou grampos fixados sobre filmes radiográficos, pois o filme radiográfico periapical foi feito para exposições diretas e, portanto, sua sensibilidade não é suficiente para registrar doses pequenas de exposição ocupacional em consultórios odontológicos, não sendo considerado, portanto, um método eficaz de radioproteção. 33 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA 26 - DOSÍMETRO FONTE: a autora 10.1. Filmes mais sensíveis A sensibilidade do filme é um fator determinante na escolha do tempo de exposição, e está diretamente relacionada à quantidade de exposição (quanto maior a sensibilidade do filme, menor o tempo de exposição e, portanto, menor a dose de radiação ao paciente). Atualmente, estão disponíveis no mercado filmes de três grupos de sensibilidade: • grupo D, também conhecido como filmes Ultra-speed; • grupo E, também conhecido como Ekatspeed e Agfa Dentus M2 Comfort; • grupo F, também conhecido como Insight, que pode ser utilizado como filme de sensibilidade E, para processamento manual, e como filme de sensibilidade F, para processamento automático em processadoras de rolo. 10.2. Processamento do filme O processamento padronizado do filme é considerado um fator importante na redução da dose ao paciente, pois segue as recomendações do fabricante quanto à concentração, temperatura das soluções e o tempo de permanência nelas, evitando, assim, exposições excessivas ao filme, que podem ser compensadas com um menor tempo de permanência dos filmes na solução reveladora. 34 Capítulo 11 Radioproteção em odontologia O método de processamento padronizado é conhecido também como método temperatura-tempo e em toda câmara escura deve ser afixada uma tabela que estabeleça o tempo de permanência do filme no revelador, de acordo com sua temperatura. A temperatura do revelador deve ser medida diariamente antes do início do processamento, preferencialmente com uma medida pela manhã e outra no início da tarde. Essas orientações valem para as câmaras escuras portáteis, muito comuns nos consultórios odontológicos, e para o processamento em tanques nas câmaras escuras. 11. Comunicação efetiva com o paciente Considerado o mais simples de todos os métodos de proteção ao paciente, não necessita de nenhum investimento, consiste apenas em explicar ao paciente todas as etapas às quais ele será submetido durante a radiografia, enfatizando a necessidade de sua colaboração. A atenção do operador para com o paciente resulta em maior tranquilidade e colaboração e menor índice de repetição. O desconhecimento sobre os efeitos dos raios X nos tecidos, associado muitas vezes a informações incorretas, resulta em uma relação de desconfiança entre paciente e profissional. O operador deve estar sempre atento e ouvir seu paciente antes e durante as exposições. Veja na figura 27 o resultado de uma comunicação não efetiva com o paciente, que acreditou, pela resposta do cirurgião-dentista, que os raios X fazem mal à saúde. FIGURA 27 - ERRO NA COMUNICAÇÃO COM O PACIENTE FONTE: Rubens Kazuo Kato (FOB-USP) 35 Capítulo III A IMPORTÂNCIA DA RADIOGRAFIA E A RESPONSABILIDADE DO OPERADOR 1. Noção geral Para que se tenha sucesso na obtenção de uma radiografia são necessários conhecimentos técnicos, consciência da importância da realização da radiografia para o tratamento do paciente e principalmente conhecimento sobre os benefícios para o paciente na realização desses serviços. O insucesso na realização das radiografias está muitas vezes relacio nado à falta de habilidade do operador na relação paciente-profissional. Neste capítulo, serão discutidas as perguntas mais frequentes feitas pelos pacientes e que devem ser esclarecidas pelos profissionais antes de sua realização, revisando a importância e os benefícios da obtenção das imagens. 2. Importância da radiografia O operador deve estar familiarizado com os termos utilizados na área radiológica e deve adequar esses termos ao grau de compreensão de cada paciente, sempre com informações corretas e claras. A radiografia é uma imagem fotográfica produzida em um filme, pela passagem dos raios X através dos dentes e das estruturas da face. Em odontologia, a radiografia é essencial no diagnóstico de várias doenças e permite que o cirurgião-dentista identifique muitas condições que até então não poderíam ser visualizadas. 3. Benefícios das radiografias As radiografias só devem ser realizadas quando existe uma indicação, desse modo elas sempre trarão benefícios ao paciente. O primeiro benefício é a detecção ou comprovação de uma doença, minimizando ou prevenindo problemas, contribuindo, assim, para a melhoria e para a manutenção da saúde bucal do paciente. 37 Manual técnico de radiologia odontológica 4. Condições que podem ser identificadas na imagem radiográfica O exame radiográfico é um método auxiliar de diagnóstico muito importante, sendo utilizado, com frequência, para avaliação de: • cárie dental; • anomalias dentárias: dentes supranumerários, anodontias (ausências dentárias), dentes fusionados, dilacerações das raízes dos dentes, dentes invaginados, dentes retidos, dentes unidos pelas raízes; • doença periodontal; • raízes residuais; • lesões no periápice; • cistos e tumores odontogênicos. Os profissionais podem utilizar imagens radiográficas, com exemplos de doenças que auxiliam a compreensão do paciente. As figuras de 1 a 3 mostram algumas das lesões mais comuns dos maxilares em radiografias interproximais (IP), periapicais (P) e panorâ micas (PN). A figura 1 mostra cáries interproximais no 2.° pré-molar superior, cárie na superfície mesial do l.° molar superior, cárie oclusal no segundo molar inferior e cárie na superfície distai do 1.° molar inferior. FIGURA 1 - RADIOGRAFIA IP, LADO ESQUERDO FONTE: a autora 38 Capítulo III A importância da radiografia e a responsabilidade do operador FIGURA2 -RADIOGRAFIA PP INFERIOR, REGIÃO DE MOLARES, LADO ESQUERDO FONTE: a autora A figura 2 mostra cárie extensa na superfície ocluso-distal no 1.° molar, com comprometimento da polpa e lesão na região periapical: osteíte condensante. FIGURA 3 - RADIOGRAFIA PP DE INCISIVOS SUPERIORES FONTE: a autora A figura 3 mostra restaurações estéticas e lesão apical no incisivo central superior esquerdo. 39 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA4 -RADIOGRAFIA PP DA REGIÃO DE CANINO INFERIOR LADO ESQUERDO FONTE: a autora A figura 4 mostra o l.° pré-molar retido entre os dentes canino e 2.° pré-molar. FIGURA5 -RADIOGRAFIA PP DA REGIÃO DE CANINO SUPERIOR LADO ESQUERDO FONTE: a autora A figura 5 ilustra um caso de dilaceração da raiz do incisivo lateral. 40 Capítulo III A importância da radiografia e a responsabilidade do operador FIGURA 6 - RADIOGRAFIA PP DE INCISIVOS SUPERIORES FONTE: a autora A figura 6 ilustra lesões de cárie nas superfícies mesiais dos incisivos centrais, dente supranumerário (mesiodens) entre os incisivos centrais. FIGURA 7 - RADIOGRAFIA PP DA REGIÃO DE INCISIVOS INFERIORES FONTE: a autora A figura 7 mostra a geminação do incisivo central com um dente supranumerário. 41 Manual técnico de radiologia odontológica FIGURA 8 - RADIOGRAFIA PP DE INCISIVOS SUPERIORES FONTE: a autora Na figura 8, podemos observar as imagens do dente invaginado no incisivo lateral esquerdo, com lesão apical. FIGURA 9 - RADIOGRAFIA PP DA REGIÃO DE PRÉ-MOLARES SUPERIORES LADO DIREITO FONTE: a autora Na figura 9, observamos a reabsorção óssea vertical envolvendo o 2.° pré-molar e o l . ° molar. 42 Capítulo III A importância da radiografia e a responsabilidade do operador FIGURA 10-RADIOGRAFIA PP DA REGIÃO DE PRÉ-MOLARES INFERIORES LADO DIREITO FONTE: a autora A figura 10 ilustra a anodontia do 2.° pré-molar inferior direito. Veja abaixo algumas radiografias panorâmicas de diferentes pacientes com diferentes alterações, na figura 11. FIGURA 11 - RADIOGRAFIA PN C FONTE: a autora As imagens radiográficas da figura 11 nos permitem avaliar várias e diferentes lesões e anomalias dentárias, como é o caso da radiografia A, de um paciente jovem, 16 anos, canino superior do lado esquerdo retido, área de esclerose óssea na região periapical entre os pré-molares inferiores, lado direito. 43 Manual técnico de radiologia odontológica A radiografia B ilustra a imagem de um paciente adulto, de 55 anos, na qual podemos observar várias restaurações metálicas e vários dentes com tratamento endodôntico (obturação dos canais). Podemos observar ainda: l.° e 2.° pré-molares superiores direitos e l.° molar inferior direito com lesão apical. Dentes ausentes: 3.0S molares superiores e 3.° molar inferior esquerdo, l.° pré-molar superior esquerdo, l.° molar inferior esquerdo, l.° pré-molar inferior esquerdo, l.° pré-molar inferior direito,l.° molar inferior direito. Na radiografia C, um paciente adulto, de 43 anos, sofreu um trauma por arma de fogo. Nela, podemos observai* parte de um projétil e fragmentos, remanescentes na região da maxila, lado direito. Observamos, ainda, a ausência dos dentes da região afetada e do l.° pré-molar e 3.° molar superior esquerdo. 5. O operador de raios X Em odontologia, podemos considerar como operadores dos aparelhos de raios X odontológicos os cirurgiões-dentistas e os técnicos em radiologia odontológica. O operador deve ter conhecimento técnico suficiente e habilidade para realizar radiografias intra e extraorais e deve saber de suas responsabilidades na execução. O operador deverá ser capaz de posicionar, expor e processar corretamente o filme, montar e identificar as radiografias, orientar seus pacientes antes e durante a radiografia, fazer a manutenção da limpeza das condições técnicas do aparelho e da câmara escura. Os operadores de aparelhos de raios X são responsáveis, ainda, pela implantação de sistemas de monitoração do uso dessas radiações, pela proteção de sua equipe e do paciente. Cabe ao operador o estabelecimento de protocolos que permitam a realização de radiografias com qualidade, bem como o controle da qualidade dessa imagem. Os cirurgiões-dentistas são responsáveis pela prescrição e interpretação das imagens e são responsáveis também pelos danos que podem ser causados aos pacientes no caso de não prescreverem um exame radiográfico importante. 44 Capítulo IV TÉCNICAS RADIOGRÁFICAS INTRAORAIS EM ODONTOLOGIA 1. Noção geral As técnicas radiográficas em odontologia podem ser divididas em dois grandes grupos: técnicas intraorais e técnicas extraorais. Nas técnicas intraorais, o filme é colocado na cavidade bucal e têm indicações diferentes, já as técnicas extraorais são realizadas com o filme fora da boca, em toda região da cabeça e obtidas com uso de aparelhos de maior potência. 2. Técnicas radiográficas intraorais Utilizadas com muita frequência em odontologia, podem ser divididas em técnica periapical, oclusal e interproximal. 2.1. Técnica periapical As técnicas radiográficas periapicais têm como objetivo mostrar o dente em toda sua extensão, o tecido ósseo ao redor e a região periapical em cada radiografia, podendo-se avaliar de dois a quatro dentes. Essa técnica pode ser obtida de diferentes maneiras: com o paciente fazendo a manutenção do filme, com posicionadores ou, ainda, usando posicionadores específicos para técnica do paralelismo. Filme: periapical, tamanho aproximadamente 3x4 cm. Embalagem com: 150 filmes, com um ou dois filmes por embalagem. Processamento: manual ou automático. 2.2. Técnica da bissetriz A técnica da bissetriz é uma das mais utilizadas e pode ser realizada com ou sem o uso de posicionadores. 45 Manual técnico de radiologia odontológica 2.2.1. Indicações O principal propósito dessa técnica é o de visualizar o dente, o osso e a região periapical. Essa técnica é indicada, portanto, para: • avaliação de dentes que sofreram infecção e que apresentam inflamação na região do periápice; • avaliação das lesões do periápice como cistos e granulomas periapicais; • avaliação de dentes supranumerários, retidos e de outras anomalias dentárias; • avaliação da morfologia e do comprimento das raízes antes do tratamento do canal radicular ou de extrações; • avaliação pré e pós-operatória na colocação de implantes dentários. 2.2.2. Descrição da técnica Para obtenção de uma boa imagem radiográfica, alguns princípios técnicos devem ser rigorosamente seguidos, como regulagem do aparelho, posicionamento do paciente e do filme e a técnica radiográfica utilizada. 2.2.3. Regulagem do aparelho Cada região da boca é composta por estruturas anatômicas específicas. Assim, devemos ajustar o tempo de exposição dos aparelhos de raios X periapicais para cada uma dessas regiões. A maxila, por exemplo, possui reparos anatômicos que se sobrepõem aos dentes em maior número do que na mandíbula, como, por exemplo, o processo zigomático da maxila na região dos molares superiores.
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