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MUSICOTERAPIA VISAO COGNITIVISTA

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MÚSICA EM MUSICOTERAPIA NA ABORDAGEM MÚSICO-CENTRADA: UMA 
VISÃO COGNITIVISTA
1
. 
Clara Márcia de Freitas Piazzetta
2
 
 
Vivemos porque conhecemos e conhecemos porque 
vivemos e todo ato de conhecer faz surgir um mundo. 
(Maturana & Varela) 
 
RESUMO: Este ensaio aborda o tema música em Musicoterapia na visão da Teoria da Complexidade. 
Fundamenta-se na Teoria Músico-centrada e, a partir do princípio musicoterapêutico viver na música reflete a 
utilização plena do poder da música nas experiências musicais compartilhadas. Deste modo apresenta as 
contribuições da aproximação entre Teoria da Metáfora e Teoria da Música para o campo da Musicoterapia 
Músico-centrada. 
PALAVRAS-CHAVE: musicoterapia, teoria da Metáfora, musicing, música em musicoterapia. 
 
ABSTRACT: This essay broach the music in Music Therapy in the Theory of Complexity view. Grounded in the 
Theory Music-centered and consider, from the music therapy‟s principle living in the music, the fulfilling use of 
music power into the shared musical experience. By that means present the contributions by the approach 
between Theory of Metaphor and Music Theory for Music-centered Music Therapy. 
KEY WORDS: music therapy, theory of metaphor, musicing, music in music therapy 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 Música é uma construção exclusiva da mente humana, descrita na Teoria da Música, 
primeiramente a partir de regras e conceitos construídos por estudos analíticos de obras 
musicais. Estudos filosóficos, antropológicos e neurocientíficos mais recentes buscam 
responder: para que serve a música? De onde ela surge? Porque o homem precisa dela? 
(BLACKING, 1973; ZUCKERKANDL, 1973; ZATORRE & PERETZ, 2001). Assim, há 
uma aproximação entre a Ciência Cognitiva e a Teoria da Música (SASLAW, 1996; 
ZBIKOWISKI, 1997, 2002; BROWER, 2000) e esta pode ser entendida também, ao 
considerar-se a cultura em que está inserida. 
 Com isso, a busca por entendimentos e compreensões no campo da Música acolhe a 
relação homem-música e seu campo perceptivo. A mudança de paradigma científico em 
andamento vem ao encontro dessa demanda, e os estudos parecem se aproximar mais do 
campo das relações homem-música e dos mistérios da música. Percebe-se que as explicações 
baseadas na lógica e na razão dão espaço para as descrições do fenômeno e seu 
processamento inserido em um sistema. As Ciências Cognitivas, mais especificamente as 
denominadas embodied mind embasam a crença de que o corpo tem um papel importante na 
cognição (MATURANA & VARELA, 2001; LAKOFF & JOHNSON, 1980). Portanto, o que 
se experimenta com a escuta e o fazer musical são objetos de estudos da Neurociência 
(BAECK, 2002; CORREA,1999; SACKS, 2007). Segundo Sekeff (2002) na experiência 
musical ouve-se um discurso do que faz sentido às pessoas, que a escuta revela e oculta do 
inconsciente de cada um. 
 Na abrangente área da Musicoterapia, definições e conceitos, também envolvem o 
campo relacional humano e estão diretamente ligados à forma que cada autor os produz. 
Contudo, o tema música é estudado com mais profundidade nos escritos da chamada 
Musicoterapia Músico-Centrada. A teoria dessa abordagem, descrita por Aigen (2005), coloca 
a Música, considerando-se a relação do cliente com ela, como elemento principal no 
tratamento e, desta forma, aproximando-se dos conceitos e teorias da Ciência Cognitiva, 
aplicados à Teoria da Música. 
 
1
 Trabalho apresentado no Simpósio de Cognição e Arte Musical – SIMCAM, São Paulo, 2008. 
2
 Clara Márcia de Freitas Piazzetta, Mestre em Música/Musicoterapia (EMAC-UFG/GO, 2006); Especialista em 
Música Popular Brasileira (FAP-PR, 2004); Graduada em Musicoterapia (FAP –PR, 1988); Musicoterapeuta 
Clínica e integrante do NEPAM-CNPq. 
 2 
 Esse texto tem por objetivos: apresentar e refletir o tema música em Musicoterapia à 
luz da teoria da Complexidade; apresentar as contribuições da aproximação entre Teoria da 
Metáfora e Teoria da Música para o campo da Musicoterapia Músico-Centrada. 
 Com isso traz alguns aspectos dessa abordagem que são pouco difundidos no Brasil. 
Não busca a verdade sobre música em Musicoterapia, mas sim, possibilita estar em um 
caminho que se revela ao caminhante no momento da caminhada por, afastar-se do campo de 
significados representados e aprofundar-se do ambiente de interações e relações consensuais. 
Os sentidos e significados da experiência musical são únicos para cada pessoa e emergem 
junto com a experiência. O ambiente nesse trabalho é de musicalidades em ação onde, mente 
e corpo, personalidade e musicalidade, estão integrados. Fazer música faz bem às pessoas 
pelo simples fato de ser música e pelo que podem aprender, delas mesmas, nessa experiência 
(Elliott, 1995). 
 
2. MUSICOTERAPIA MÚSICO-CENTRADA 
 
 A prática científica da Musicoterapia iniciou-se em meados do século XX e o IX 
Congresso Mundial de Musicoterapia (Washington, 1999) reconheceu cinco modelos 
teóricos: “Modelo Nordoff Robbins ou de Musicoterapia Criativa e Improvisacional; Modelo 
GIM (Guided Imaginery and Music); Modelo de Musicoterapia Analítica; Modelo Benenzon; 
Modelo de Musicoterapia Behaviorista”(SHAPIRA, 2002, p. 11). 
 Desses cinco, o Modelo Nordoff Robbins e Modelo GIM têm por base o 
questionamento
3: “O que é único sobre a experiência com música que a torna importante para 
a terapia?” (BRANDALISE, 2001, p. 28). O termo musicoterapia músico-centrada associado 
aos conceitos apresentados nas abordagens Nordoff Robbins e GIM é uma sugestão da Mt. 
Bárbara Hesser. Sua intenção era apresentar elementos que ampliassem a visão de Música em 
Musicoterapia presente nas demais abordagens, ou seja, “uma ferramenta no auxílio à 
contemplação de objetivos da terapia”. A manutenção do termo propunha-se a “focar a 
atenção no porquê e no como poderia se pensar e utilizar o poder da música, em sua 
capacidade plena, no trabalho. (...) chamar nossa atenção para a função central da música no 
tratamento musicoterápico” (HESSER, apud BRANDALISE, 2003, p. 12). 
 O livro Musicoterapia Músico-Centrada (BRANDALISE, 2001) apresenta uma 
proposta de sistematização desse modelo e Music-centedered Music Therapy (AIGEN, 2005) 
traz as bases filosóficas e teóricas da Música como fundamentações para uma teoria da 
Musicoterapia. 
 Nessa abordagem o processo musicoterapêutico ocorre com o equilíbrio dos três 
elementos: o cliente, o terapeuta e a música. O princípio que move esse sistema é a 
experiência de estar na música, (living in the music
4
) “terapeuta e paciente vivendo/sendo da 
forma mais intensa possível suas Experiências Criativas na Música” (BRANDALISE, 2003, 
p. 20). 
 O ponto de partida dessa abordagem são os trabalhos de Nordoff & Robbins. Aigen 
(2005) agrega os conceitos de musicing e teoria da Metáfora aos já existentes: music child
5
 
que denota uma organização da capacidade receptiva, expressiva e cognitiva da criança que 
pode tornar-se fundamental na organização da personalidade; conditional child que diz 
respeito às condições de ação e integração do cliente; clinical musicianship sendo o processo 
de formação musical/musicoterapêutica do profissional (NORDOFF ROBBINS,1977; 
 
3
 Estas inquietações levaram à organização do Second World Symposium on Music Therapy, com o tema: Music 
in the life of Man realizado na New York University em 1982. Esse evento é um marco no desenvolvimento da 
Musicoterapia Mundial. 
4
 Aigen (1996, p.12). 
5
 Esta abordagem desenvolveu-se como o trabalho musicoterapêutico voltado à clientela de crianças autistas em 
meados de 1970. Este conceito music child é entendido, hoje, relacionado à musicalidade do ser humanocomo 
um todo independente de idade cronológica. São aspectos cognitivos e emocionais saudáveis de cada pessoa 
diretamente relacionado à relação homem-música. 
 3 
TURRY, 2001). Os aportes filosóficos: “notas musicais são condutores de força. Escutar 
música significa escutar uma ação de forças” (ZUCKERKANDL, 1973, p.22), também 
delimitam Música em Musicoterapia. 
 Aigen (2005) traz, a partir da nova Musicologia, o conceito de Musicing: música 
integra a vida cotidiana das pessoas e seus afazeres. Desta forma, a palavra música passa a 
ser classificada como um verbo, uma ação, ao invés de um substantivo, um objeto. Com isso 
busca elementos que fundamentam este princípio living in the music. Musicing “na dimensão 
da performance musical é uma forma particular de ação humana intencional” que favorece o 
auto-conhecimento (ELLIOTT, apud AIGEN, 2005, p. 65) e o trabalho de Lakoff e Johnson 
(1980), aplicado à Teoria da Música por Zbikowski (1998, 2002) e Saslaw (1996) 
complementam a fundamentação teórica da visão de Música em Musicoterapia defendida 
neste princípio de „viver na música‟. 
 
2.1 Música em Musicoterapia neste tempo da Complexidade 
 
 O objetivo primário da Musicoterapia acontece no campo da Música e Saúde, numa 
construção transdisciplinar entre Arte, Ciência e Saúde. Portanto, trabalha-se não apenas a 
música, mas a “experiência musical compartilhada” (BRUSCIA, 2000) e por esta 
especificidade, a visão da função da música para o ser humano pode ser ampliada. 
 As reflexões quanto aos entendimentos do tema, música em Musicoterapia e suas 
semelhanças e diferenças com o entendimento de música na Música, acontecem neste tempo 
da complexidade. Momento em que: a construção do conhecimento admite o sujeito como 
observador
6
 (MORIN, 2001) e existe um princípio dialógico, onde o pesquisador pode 
trabalhar com conceitos antagônicos que se complementam, admite-se a recursividade 
organizacional, ou seja, “um processo recursivo é um processo em que os produtores e os 
efeitos são ao mesmo tempo causas e produtores daquilo que os produziu” (ibid, 2001, p. 
108). Propõe-se, também, a compreensão do todo não pela soma de suas partes, mas por 
considerar-se que, em cada parte está o todo – Princípio hologramático. 
 A obra de Lupasco, no âmbito da mecânica quântica, traz o conceito de terceiro 
incluído e a lógica do Estado T. Estes favorecem a compreensão dos mecanismos existentes 
nos conceitos de Morin (2001). 
(...) o terceiro incluído está associado à dialética quântica, (...). Ela dá acesso à “lógica 
concreta que reina, freqüentemente, nas profundezas da alma, a lógica mais 
particularmente psíquica” (grifo do autor, NICOLESCU, In NICOLESCU & 
BADESCU, 2001, p.110 e 115). 
 O „terceiro incluído‟ permite a compreensão da lógica do „Estado T‟, “um terceiro 
unificador: ele une e e não-e” (grifo do autor NICOLESCU, 2001, p. 111). No princípio 
dialógico conceitos antagônicos são também complementares. Já, na compreensão de „níveis 
de realidade
7‟ como “um conjunto de sistemas que não varia sob a ação de um número de leis 
gerais. (...) ocorre uma ruptura das leis e ruptura dos conceitos (como, por exemplo, a 
causalidade)” (NICOLESCU, 2001, p. 121-122). Na recursividade organizacional não se 
trabalha com relações de estímulos e respostas pois, “sem a conciliação das tensões de um 
primeiro nível (A e não-A) em um estado T situado em um segundo nível (mas, 
absolutamente, não secundário), sua síntese seria apenas uma imensa explosão de energia” 
(GRACIUNESCU, In, NICOLESCU, 2001, p. 175-176). Nicolescu (2001) exemplifica que 
“o terceiro dinamismo, o do estado T, é exercido em um outro nível de Realidade, onde o que 
surge como desunido (onda ou corpúsculo) está, de fato, unido (quânton) e o que parece 
 
6
 Observador é um pesquisador inserido no campo de pesquisa, ou seja, como nos fala Maturana & Varela (2001, 
p.31) “tudo o que é dito é dito por alguém”. 
7
 Nicolescu entende por „Realidade‟ “o que resiste às nossas experiências, representações, descrições, imagens 
ou formalizações matemáticas” (NICOLESCU, 2002, p. 121). 
 4 
contraditório é percebido como não-contraditório” (NICOLESCU, 2001, p. 125). As relações 
de cumplicidade e complementaridade ganham visibilidade. 
 No campo da Musicologia, Cazaban (1992) e Vial-Henninger (1996), desenvolveram 
pesquisas com esta fundamentação na compreensão da relação espaço e tempo. “Basta dizer 
que o terceiro incluído induz à descontinuidade do espaço e do tempo” (NICOLESCU, 2001, 
p, 119). O discurso de sentidos na experiência musical permite que passado (memória), 
presente e futuro (desejos e expectativas) aconteçam ao mesmo tempo. 
 Retornando ao tema música em Musicoterapia, a relação triádica: terapeuta - cliente – 
música, descrita na proposta de Brandalise (2001) como o „triangulo de Carpente & 
Brandalise‟, é organizada de tal modo que “a relação entre a música do terapeuta e a música 
do paciente faz emergir outra peça musical” (BRANDALISE, 2003, p. 20). Do mesmo modo 
a descrição do musicing (ELLIOTT, 1995) coloca em movimento uma energia 
transformacional. A partir do descrito acima, o conceito de níveis de Realidade aplica-se à 
experiência musical compartilhada onde o campo do sentido e da significação emerge na 
experiência. 
 Musicing ou musicalidades em ação rompe com a visão de música como um objeto, 
como algo que existe apenas separado do ser humano. Para entender a dimensão de 
musicalidade, associada ao modo de ser de cada pessoa, faz-se necessário conceber que a obra 
musical é apreciada por existir música dentro e fora das pessoas ao mesmo tempo. É 
necessário dialogar com conceitos aparentemente antagônicos: música como substantivo e 
música como verbo. 
 Craveiro de Sá (2003) ressalta que música e terapia estão unidas na Musicoterapia, de 
modo que uma não é ferramenta para a outra. “Música e musicoterapia são, portanto, dois 
domínios diferentes que se cruzam, que se interconectam” e conclui “a música na 
musicoterapia, na maioria das vezes, não é a mesma música na música” (CRAVEIRO DE SÁ, 
2003, p. 27-28). O que diferencia música em um ambiente e em outro? Não se trata do 
mesmo elemento? Por vezes que sim. Porém, o campo de sentidos e re-significações 
emergentes, presente na musicoterapia, estabelece o limite. “Num setting musicoterápico, a 
música encontra-se num território aberto e flexível „entre‟ a significação e o sentido” (ibid, 
2003, p. 28). 
 A Teoria da Metáfora ou Teoria dos Schema (LAKOFF & JOHNSON, 1980), na 
Teoria da Musicoterapia Músico-Centrada contempla este espaço da construção de sentidos a 
partir de experiências corporificadas, encarnadas, ou seja, viver na música. 
 
2.2 Teoria das Metáforas na Musicoterapia Músico-Centrada. 
 
 O trabalho de Lakoff & Johnson (1980) defende que o funcionamento do pensamento 
humano é basicamente metafórico, ou seja, utiliza-se de uma coisa para entender outra. É uma 
pesquisa de base presente em uma grande variedade de áreas, entre elas a teoria da música 
(ZBIKOWSKI, 1998; SASLAW, 1996). Com isso, “metáfora começa a ser vista como um 
elemento importante no processo de compreensão e entendimento da própria compreensão 
humana e não mais como um simples ornamento do discurso” (CARVALHO, 2007, p. 1). 
 Esse autor descreve algumas características da metáfora conceitual: “é uma ponte que 
liga domínios semânticos diferentes (...) uma maneira de expressar o pensamento abstrato em 
termos simbólicos”. Sua função é “a de estender as capacidades de comunicação e 
conceitualização do ser humano” e “enfim, é vista como um elemento de elo entre os 
argumentos lógicos e emocionais” (Ibid, p.2). 
 Com a Metáfora Conceitual criou-se uma possibilidadede descrição do 
funcionamento do pensamento humano re-admitindo o corpo nesse sistema. Lakoff & 
Johnson (1980), seguindo o campo de abordagens cognitivas, descreveram um conjunto de 
sinais gráficos denominados Schematas. Esses, também, denominados „esquemas encarnados‟ 
são “padrões recorrentes de nossas interações perceptuais e ações motoras que dão coerência e 
 5 
estrutura às nossas experiências” (JOHNSON, apud PEÑALBA, 2005, p.5). Segundo Peñalba 
(2005), esta proposta de Johnson (1987) delimita-se como: “estruturas de conhecimento inter-
relacionadas e dinâmicas; modificáveis por meio da experiência; constituem-se pela 
recorrência de experiências passadas” (PEÑALBA, 2005, p. 5). 
 No campo da Teoria da Música esta abordagem, dentre as teorias da mente, é a que 
melhor acolhe o campo musical, por apresentar-se como “uma alternativa aos modelos 
tradicionais de análise musical” (PEÑALBA, 2005, p. 12). Zbikowski (1998, 2002) pondera 
que esta abordagem demonstra que a compreensão lingüística e a musical ocorrem pelo 
mesmo processo de pensamento. 
nós podemos iniciar um movimento além do falso dualismo mente/corpo, mental/ 
físico, cognitivo/emotivo, ciência /arte (...) o significado musical não é algum 
cidadão forçado a morar na segunda classe saindo do domínio prístino do 
significado cognitivo, ao contrário ele é paradigmático do modo como 
significados emergem para nós como criaturas encarnadas. O fato que música 
habita este domínio de significados lhe dá o poder profundo para nos afetar e 
transformar nosso pensamento pelo seu movimento interno e propriedades 
dinâmicas (JOHNSON, apud AIGEN, 2005, p.174). 
 Aigen (2005) traz esta fundamentação para compor a Teoria da Musicoterapia por 
algumas razões: é uma abordagem retirada de estudos musicais; providencia uma 
fundamentação para a aquisição de insigth no significar-fazendo atividades construtivas e 
criativas musicais; por conectar os mecanismos desta experiência com as capacidades 
humanas mais globais. 
 A proposta músico-centrada concentra-se no argumento do inerente valor clínico da 
experiência musical compartilhada. Assim, a “experiência musical pode ser justificada por ela 
mesma no sentido que o entendimento de seus benefícios não requer análise comportamental, 
fisiológicas, construções psicológicas redutivas ou generalizações em áreas funcionais não 
musicais”(AIGEN, 2005, p.165). 
 Deste modo, a Teoria dos Schemas revela-se como uma possibilidade explicativa para 
esta forma de ver música na Musicoterapia. A crença de que o conhecimento humano é, em 
maior parte, não literal e metafórico favorece a compreensão de que a experiência musical de 
musicalidades em ação ou o significar-fazendo seja o lugar de „viver na música‟. Assim, nas 
experiências musicais clínicas ocorre a emergência de sentidos. A análise musical desta 
experiência pela teoria da Metáfora pode demonstrar “a conecção entre os constituintes da 
música e a experiência musical por um lado e, o equilíbrio do funcionamento humano por 
outro” (AIGEN, 2005, p. 166). 
 O autor destaca que esta Teoria das Metáforas vem complementar o aporte filosófico 
de Zuckerkandl (1973). A primeira “examina como nós experimentamos, conceitualizamos e 
falamos sobre música a fim de ganhar insigth sobre a natureza da música”; já o aporte 
filosófico “traz os elementos tonais, harmônicos e rítmicos que constituem a natureza da 
música”(AIGEN, 2005, p. 166). O autor conclui que a filosofia de Zuckerkandl e a Teoria das 
Metáforas ocupam lugares em pólos opostos no campo teórico músico-centrado. Eles estão 
separados por seus campos conceituais, contudo estes aportes são como “uma ponte um para o 
outro” (ibid). 
 Os schemas, para Aigen (2005), embasam o fato que “quando pessoas são 
„musicalidades - em ação‟, quando elas estão engajadas com a música de algum modo, elas 
estão exibindo a presença mediadora da capacidade cognitiva que é essencial para todo o 
aspecto de funcionamento humano” (AIGEN, 2005, p.175). Eles representam as bases 
emocional, psicológica e do desenvolvimento de necessidades e aspirações do ser humano. 
 
3. CONCLUSÃO 
 
 6 
 Música em Musicoterapia, no contexto da teoria Músico-Centrada não é apenas uma 
ferramenta aos objetivos da terapia. Música e terapia não estão uma a serviço da outra e 
entender esta dimensão de complementaridade entre áreas distintas, de modo que, uma 
terceira, a Musicoterapia, possa emergir é tarefa complexa que une Arte e Ciência. Por este 
caráter emergente as possibilidades de compreender Música, inserida neste campo, seguem 
delimitações diferentes de entendê-la na Música, sem que isso seja contraditório. Assim, viver 
na música, um princípio e o coração da filosofia músico-centrada encontra, neste tempo de 
complexidade, aportes teóricos na Teoria da Metáfora aplicada á música. Deste modo, busca 
colocar em palavras o ambiente do sentir, ser e fazer integrando corpo e mente, emoção e 
ação num significar-fazendo. Pode-se dizer, confirmando o aforismo de Maturana & Varela 
(2001) vivemos porque conhecemos e conhecemos porque vivemos e todo ato de conhecer faz 
surgir um mundo. 
 A Teoria da Musicoterapia, que aprofunda a compreensão do que seja música nesse 
campo não descreve apenas „porque‟, mas também „como‟ o poder da música e seu espaço 
relacional são aliados importantes e inerentes ao desenvolvimento da saúde e bem estar do ser 
humano. 
 
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