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MÓDULO 1 - CIDADANIA POLÍTICA
Para chegarmos à análise do tema “Participação Política” ou “Cidadania Política” é necessário fixarmos 3 conceitos e, no módulo seguinte, mais 3 conceitos.
Por enquanto, é importante aprendermos: 1) cidadania; 2) política; 3) Estado.
1) CIDADANIA
O conceito de "cidadania" varia um pouco entre os países, mas é mais ou menos assente que se refere ao direito de votar e ser votado, o direito de escolher (sufragar) e ser escolhido (sufragado), o direito de eleger e ser eleito. Cidadão, pois, seria o direito de votar e ser votado. Mas este conceito é restrito. Ficou restrito com o tempo e com as mutações históricas da sociedade brasileira, que imprimem às normas, com o passar dos anos, novos significados, sem alteração das palavras da lei ou da Constituição. Basta ver que, hodiernamente, a união estável não abrange somente as palavras “homem” e “mulher” da legislação. O STF, interpretando as normas sobre união estável e o verdadeiro significado por detrás das palavras “homem” e “mulher”, acabou por concluir pela possibilidade de união estável de pessoas do mesmo sexo (união homoafetiva).
Assim, cidadania, hoje, significa algo mais amplo, pois os tempos mudaram. Não é mais apenas o direito de “votar e ser votado”. Cidadania significa “o direito de ter direitos”. Assim, pessoas como crianças, conscritos, analfabetos e idosos, que estavam excluídos do conceito restrito anterior, hoje são cidadãos. Notamos, entretanto, que o estrangeiro não é cidadão. Nos termos do art. 14, CF, não pode votar no Brasil nem ser votado. Isto significa que não tem o direito de ter “todos” os direitos. Ele não alcançará “todos” os direitos. Este vínculo com o Estado lhe é negado e, tanto pelo conceito direito de “votar e ser votado” como “direito de ter direitos”, vê-se que o estrangeiro não poderá alcançar nunca a plenitude dos direitos brasileiros. É certo que poderá votar se se naturalizar, mas não poderá, por exemplo (art. 12, § 3º, CF), mesmo naturalizado, ocupar cargos públicos que a CF soberanamente reserva apenas aos brasileiros natos.
A palavra “cidadão”, do latim "civitas" (cidade), significa ser livre na cidade, ou seja, ser livre no país para participar da vida estatal desta cidade/país. Era, entre os gregos, um status. Livre para “ligar-se” ao Estado, isto é, participar da vida estatal, escolher seus representantes livremente, votar, ser votado, dar palpites, participar do governo, ser um membro ativo na Sociedade, participar de referendos, plebiscitos (art. 14, CF) e propor a criação de leis (iniciativa popular - art. 61, par. 2º, CF), um membro ativo por escolha livre.
A demonstração de que alguém é cidadão, todavia, faz-se mediante emissão do título de eleitor. Assim como a condição de motorista de automóveis é provada com a carteira de habilitação. A cidadania traduz uma capacidade, uma potencialidade, uma possibilidade de participar da vida estatal. Se o poder está nas mãos do povo ("demo" - povo; "cracia" - poder), então este poder é exercido através da cidadania. Só pode exercer o poder de votar, ser votado e participar amplamente dos negócios públicos aquele que é cidadão.
Não nos esqueçamos que a cidadania está logo no art. 1º, II, CF, como Princípio Fundamental da República Federativa do Brasil. A cidadania, em verdade, traduz e revela na prática duas necessidades do homem: é uma subdivisão ou desdobramento da dignidade da pessoa humana e liberdade.
2) POLÍTICA
O vocábulo “política” advém do grego “politiké”, que significa “afazeres da cidade” ou “negócios do Estado”. A cidade, na Grécia, era denominada polis, e todos que participavam das decisões sobre seus rumos eram cidadãos políticos ou politizados. Esta palavra se estendeu ao latim “politicus”, ao francês “politique” , ao inglês “politics” e ao português “política”.
A política serve para participarmos e influenciarmos nas decisões do poder. A sociedade e seu aspecto mais desenvolvido, o Estado, são fatos humanos, e estes humanos precisam participar ativamente dos rumos de sua sociedade ou Estado.
Assim, nossa Constituição concebeu, nos artigos 14 a 16, os Direitos Políticos, que são os direitos de participação no poder pelo voto, plebiscito, referendo e iniciativa popular.
A palavra política encontra significado dúbio nos dicionários, podendo significar a arte do diálogo ou arte da retórica. Porém, para nós, é a arte de administrar um Estado , a  arte de governar e permitir que os cidadãos participem dos afazeres do Estado. O relacionamento entre órgãos e cidadãos também faz parte da política, além do relacionamento dos órgãos entre si. O gerenciamento do Estado é um ato político. A arte de guiar o governo abre espaço para opiniões e votos, que são manifestações políticas. Na organização da coisa pública, participam cidadãos e poder.
O vocábulo “poder”, em DE PLÁCIDO E SILVA aparece como: derivado de posse (latim potestas); dar autoridade, facultar domínio, força, órgão para quem vai uma parcela de soberania do Estado.
No Dicionário Jurídico da Academia Brasileira de Letras Jurídicas aparece como: capacidade de impor a vontade.
3) CIDADANIA, POLÍTICA E ESTADO
O Estado é uma pessoa imaginária que surgiu pela primeira vez na obra “O Príncipe”, de Maquiavel, em meados de 1500. Maquiavel fala em um organismo controlador da vida dos homens, com poder soberano sobre todos.
Estado seria um lócus de exercício de poder, um lócus p/ a comunidade produtor de decisões. Assim, o Estado é uma pessoa jurídica de direito público.
O Estado pode ser observado sobre 3 aspectos: normativo, sociológico e filosófico. O aspecto normativo enfoca apenas o Estado como conjunto de normas. O aspecto sociológico enfoca o Estado como produto de forças sociais e históricas. O aspecto filosófico preocupa-se com os valores fundamentais do povo, a moral e a ética.
O Estado é a organização mais complexa que existe. Em primeiro lugar, como mais simples, temos a família. Em seguida a tribo, a sociedade e o Estado. O Estado atual brasileiro, como pessoa distinta das que o compõem, é laico e tem princípios próprios.
   
MÓDULO 2 - TIPOS DE DEMOCRACIA E EVOLUÇÃO DA CIDADANIA
DEMOCRACIA REPRESENTATIVA VERSUS DEMOCRACIA PARTICIPATIVA
Antes de analisarmos a evolução da democracia brasileira, cumpre informar ao leitor que há dois tipos de democracia distintos: democracia representativa e democracia participativa.
A democracia representativa é a mais comum dentre todos os países do globo. Significa que votamos em um representante para que ele possa nos representar no Poder Legislativo. Está presente em todos os níveis da Federação: federal, estadual, municipal e distrital. O sistema representativo consagra a denominada democracia indireta, pois não participamos diretamente da feitura das leis, mas sim nossos representantes.
Ao contrário, na democracia participativa, o povo é quem participa diretamente da feitura das leis e fiscaliza cotidianamente o Poder Legislativo. Este tipo de democracia é raro no mundo, haja vista que é de difícil implementação. Não é tarefa fácil conceber a presença de um número muito grande de populares dentro do Poder Legislativo, a trabalhar como legisladores.
EVOLUÇÃO DA CIDADANIA POLÍTICA NO BRASIL
Diz o artigo 1º, no caput, que somos uma República Federativa. A República (res publica, do latim – res: coisa) é forma de governo. Temos apenas 2 formas de governo: república ou monarquia. Adotamos a primeira. A República denota organização do Estado e, também, forma de relação do Estado com os cidadãos.
Assim, a cidadania tem sua relação com a República.
São características da República: tripartição dos Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário), periodicidade dos mandatos políticos, eletividade (voto) e alternância no poder, responsabilidade dos agentes públicos, inclusive com o próprio impeachment do Presidente da República, prestação de contas, publicidade dos atos e transparência administrativa, mecanismos fiscalizatórios (como ação civil pública e ação popular), proteção dos Direitos Fundamentais,observância estrita do princípio da legalidade e despesas objetivando o bem comum.
Mas, somos, também, uma Federação (Federalismo). Federalismo é forma de Estado, divisão eminentemente territorial de um Estado. Um Estado pode ser Unitário ou Federal. Adotamos este último, em que os Estados-membros cedem parcela de sua soberania para formar a União, entidade primordialmente concebida para proteger fronteiras. O Estado Unitário não tem, em seu território, divisão em Estados-membros. “Foeder”, em latim, significa pacto. Os Estados-membros firmam um pacto para criação da União. É o pacto federativo. Sua característica essencial é ser indissolúvel após formado.
O Federalismo surgiu em 1787 nos Estados Unidos da América, criando-se a figura da União (governo federal) para proteger fronteiras e os Estados-membros de invasões estrangeiras. Com o tempo, a União foi ganhando mais e mais competências, como, por exemplo, emitir moeda, legislar sobre telecomunicações, etc.
O caput do artigo 1º traz, ainda, a determinação de sermos um Estado Democrático de Direito. O Brasil é, pois, um Estado Democrático (participação do povo nos afazeres do Estado) e, também, em Estado de Direito (em que prevalecem a ordem e as leis). Costumam os doutrinadores dizer que, hodiernamente, o Brasil evoluiu para um Estado Democrático e Social de Direito. O termo “Social” indica que o Estado Brasileiro deve desenvolver prestações positivas a favor dos cidadãos, e não ser mero agente passivo e observador da sociedade. Prestações positivas na área da saúde e educação, por exemplo, com medidas efetivas e protetivas dos cidadãos (benefícios).
A DEMOCRACIA necessita de organização (leis). Somos, sem dúvida, um Estado de Direito. Mas com preocupação social. Temos mecanismos de controle do poder político, o que denota um traço bem amplo da democracia, para além do voto. Liberdade política e igualdade política (participação real do povo). O Estado Democrático e Social de Direito objetiva o bem comum. Rege-se pelo princípio da Justiça - jurisdição com escopo social (dar a cada um o que é seu – pacificação com justiça e educação), escopo político (não lesar a ninguém – afirmação do Estado e seu ordenamento) e escopo jurídico (viver honestamente – atuação da vontade concreta da lei). Rege-se, também, pelo princípio da segurança jurídica (devido processo legal, respeito à coisa julgada, ato jurídico perfeito e direito adquirido), dentre outros princípios.
O artigo 1º traz os fundamentos da República Federativa do Brasil. Não confundir com os objetivos da República Federativa do Brasil, que estão no art. 3º. Os fundamentos são: soberania (nenhum outro Estado internacional pode interferir nas nossas questões internas, somos soberanos p/ decidir nossos próprios rumos, p/ ditar nossas próprias regras), cidadania (o vocábulo cidadania indica o direito de ter direitos, é muito mais do que simplesmente o direito de votar e ser votado), dignidade da pessoa humana (todos têm direito a experimentar um conforto mínimo/são valores morais e espirituais que a pessoa cultiva e que devem ser protegidos/autodeterminação da própria vida e respeito à vida alheia), valores sociais do trabalho e livre iniciativa (trabalho voltado para o desenvolvimento coletivo e, quando a Constituição menciona o vocábulo “livre iniciativa” ela quer dizer “capitalismo; nosso modelo de economia, de Estado, é capitalista, ou seja, não se admite, salvo raras exceções constitucionais, a intervenção do Estado na economia) e pluralismo político (temos, no Brasil, vários partidos políticos/liberdade de convicção). São essas as bases de nosso Estado.
O parágrafo único do artigo 1º em questão determina que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido, direta ou indiretamente. É o fundamento da democracia (“demo”: povo/”cracia”: poder). A vontade do povo deve prevalecer. As leis são formadas pela vontade popular. Nossa democracia é semidireta, pois tem traços da democracia direta (quando o povo “faz a lei” diretamente – art. 61, § 2º: participação popular), mas é eminentemente indireta, ou seja, as leis são feitas por representantes por nós escolhidos, por meio do voto.
O artigo 2º consagra a tripartição dos Poderes proclamada por Montesquieu, em 1748, pouco antes da Revolução Francesa. Temos os seguintes Poderes no Brasil: Legislativo, Executivo e Judiciário. Tivemos, por ocasião da Constituição de 1824, 4 Poderes, a saber: Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. O Poder Moderador era exercido pelo Rei e anulava certas decisões do Judiciário ou interferia no Legislativo e Executivo.
Os 3 Poderes hoje consagrados são independentes e harmônicos entre si. Significa dizer que não há interferência de um Poder em outro, salvo casos previstos na Constituição. Os Poderes têm funções típicas (Legislativo: legislar; Judiciário: julgar; Executivo: executar as leis e administrar) e atípicas (Legislativo – julgar o Presidente da República em crimes de responsabilidade; Judiciário – conceder aposentadoria a um de seus servidores; Executivo – elaborar um ato normativo). Os Poderes seguem o princípio da correção funcional, pelo qual um não interfere na atuação típica de outro. Mas o Presidente deve, por exemplo, acatar decisões do Supremo Tribunal Federal. É o que a doutrina costuma chamar de sistema de freios e contrapesos.
O artigo 3º, a seu turno, enumera os objetivos da República Federativa do Brasil. São: a) construir uma sociedade livre, justa e solidária; b) garantir o desenvolvimento nacional; c) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; d) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
MÓDULO 3 - LIMITAÇÕES DA CIDADANIA NA PRIMEIRA REPÚBLICA E O PERÍODO DE 1934 A 1964
A REPÚBLICA VELHA E A CIDADANIA
Um dos traços mais marcantes da República Velha (1889 até a Constituição de 1934 – para alguns, até 1930) foi a proibição do voto feminino. Uma das maiores expressões de democracia e liberdade é o voto, e isto era negado às mulheres.
A Constituição de 1891 extinguiu o Poder Moderador, que era exercido pelo Rei e apequenava o Poder Legislativo e Judiciário, pois revia ou desautorizada suas decisões. A Monarquia foi extinta em 1889 e iniciamos a fase da República ("res publica" = "coisa de todos"). Inauguramos, também, o Presidencialismo e firmamos o modo de atuação dos poderes no Brasil em 3 Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Hoje vemos claramente em nosso art. 2º, CF, que os 3 Poderes são harmônicos entre si e independentes.
O voto direto para Presidente da República surgiu pela primeira vez no Brasil. A Igreja foi afastada do Estado, pois a primeira Constituição de 1824, a Constituição Imperial, continha preâmbulo ressaltando que o Estado era religioso. Com a República, até mesmo o ensino religioso foi proibido nas escolas públicas).
A cidadania saiu-se fortalecida, também, porque na Constituição de 1891, mantidas pela Constituição de 1934, surgem as cláusulas pétreas. O Judiciário também foi fortalecido. O habeas corpus surge pela primeira vez na Constituição, haja vista que antes se encontrava apenas na legislação infraconstitucional (Código Criminal de 1830).
1934 A 1964
Chegamos à avançada e democrática Constituição de 1934. Foi uma Constituição de curta duração. Pela primeira vez no Brasil tivemos o voto feminino e a criação da Justiça Eleitoral. Esta Constituição fundou as bases do sistema tributário moderno. Foram inseridos no texto constitucional o Mandado de Segurança e a Ação Popular. Foi uma Constituição fortemente voltada para o aspecto social (além de capítulos especiais sobre família, educação e cultura). Surgiu em 1934 o Ministério Público, a sindicalização, a Previdência Social, a Justiça Militar e o Ministério do Trabalho. Houve forte proteção ao trabalhador. Pela primeira vez, também, regulamentou-se os Partidos Políticos. Também foram elevados ao status de normas constitucionais a ordem econômica, a família, a educaçãoe a cultura, em capítulos próprios.
Infelizmente, em 1937, tivemos talvez a mais dura e antidemocrática das Constituições brasileiras, fruto de um golpe de Estado. Getúlio Vargas, então Presidente, deu um Golpe de Estado e outorgou arbitrariamente esta nova Constituição. Era a primeira Ditadura que o Brasil enfrentava. A Constituição era muito autoritária e o Senado, nesta época, foi dissolvido. O Poder Executivo, exercido unicamente pelo Presidente, anulava decisões do Judiciário, submetendo-as ao Legislativo para nova votação e anulação. Em estado de emergência, o Judiciário não poderia apreciar atos administrativos do Executivo. Foram retirados do texto constitucional o Mandado de Segurança e a Ação Popular. Esta Constituição previa a pena de morte para crimes políticos e homicídios cometidos de forma perversa ou por motivo fútil. Havia o instituto da censura, afetando rádios, televisões, cinemas, teatros, etc. Esta Constituição foi inspirada no modelo fascista da Itália. A eleição era indireta.
Porém, em 1946 houve a retomada da democracia (retorno ao Estado Democrático de Direito). Reabre-se o Senado. Retornam ao texto constitucional o Mandado de Segurança e a Ação Popular. Voltamos a ter eleições diretas. Surgiu o controle de constitucionalidade pela via concentrada das leis e atos normativos, fortalecendo-se o Judiciário e, em especial, o Supremo Tribunal Federal. Surge pela primeira vez no texto constitucional o princípio da inafastabilidade da jurisdição (atual art. 5º, inc. XXXV). Esta Constituição tinha um forte traço social, equilibrado com a livre iniciativa (capitalismo). O direito de greve foi agregado ao texto constitucional. O final da Segunda Guerra Mundial influiu para fixarmos traços democráticos (liberdades). Exclui-se a pena de morte prevista na CF de 1937. Surgem regras sobre Direito Econômico, com penas para abusos econômicos.
MÓDULO 4 - A CIDADANIA E O NOVO REGIME DEMOCRÁTICO: CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
Sem dúvida alguma, ao lado dos instrumentos habituais da cidadania (voto, plebiscito, referendo e iniciativa popular), os direitos e garantias fundamentais representam, a partir de 1988, verdadeiros e novos instrumentos de exercício da cidadania.
Os Direitos e Garantias Fundamentais são verdadeiras limitações ao Poder estatal. São normas de competência negativa para os Poderes Públicos. E normas positivas para os cidadãos. Protegem, pois, a dignidade da pessoa humana e efetivam o exercício da cidadania.
Os Direitos Fundamentais têm vinculação com as qualidades inerentes ao ser humano. Não importam as riquezas do homem, mas seus atributos enquanto ser. Seus direitos são respeitados apenas e tão-somente porque é homem. No moderno conceito de cidadania que a CF/88 trouxe, esta é o direito de ter direitos.
Os Direitos Fundamentais, portanto, nada mais são do que os Direitos Humanos ou Direitos do Homem escritos na Constituição sob o capítulo de Direitos Fundamentais.
Os Direitos Fundamentais têm um aspecto negativo e um positivo. Em sentido negativo, é uma limitação ao Estado. Em sentido positivo, espaço de livre desenvolvimento da pessoa. Inclusive no que diz respeito ao controle de sua vida privada, intimidade e, também, direito ao voto, plebiscito, referendo e todas as formas de cidadania.
Os Direitos Humanos ou Direitos Fundamentais possuem, pois, dupla faceta: uma negativa e outra positiva. A negativa se dá em relação ao Estado. Para o Estado, os Direitos Fundamentais são como um freio ou breque, um limite ou barreira a ações autoritárias que visem a interferir na liberdade individual. São normas de competência negativa, para evitar influências na esfera jurídica individual. A faceta positiva diz respeito a ações do indivíduo: este pode agir e exigir seus direitos e até mesmo ações positivas e concretas por parte do Estado. É um aspecto positivo, pois o indivíduo pode tomar uma atitude real e afirmativa, isto é, tem a faculdade de agir, tem direitos e faculdades jurídicas. Tem cidadania!
Outro aspecto muito importante que diz respeito à cidadania na CF/88 são os partidos políticos. Os partidos políticos afirmam e reafirmam o exercício da cidadania, pois é através deles que escolhemos nossos representantes por meio do voto.
Os partidos políticos gozam de ampla liberdade no Brasil. São constituídos, pela legislação eleitoral infraconstitucional, da mesma forma que as associações civis sem lucro, isto é, têm de criar um Estatuto e registrá-lo no Cartório de Pessoas Jurídicas e no TSE. Os partidos políticos têm ampla liberdade estatutária e total independência e autodeterminação de ideias (desde que não contrariem a CF, isto é, não poderia um partido político pregar e distribuir panfletos patrocinando a pena de morte ...).
O art. 17, CF impõe um requisito importante para criação dos partidos políticos: caráter nacional. A norma constitucional é importante para limitar e impor uma restrição quantitativa. Do contrário, teríamos milhões de pequenos partidos, em cada comunidade, em cada rua, em cada esquina. Isto, logicamente, iria de encontro à finalidade política de participação do povo de modo equitativo e organizado no poder. É a cidadania equitativa.
O artigo 17, CF impõe que os partidos políticos não recebam dinheiro ou ajuda financeira do governo. Os partidos políticos são financiados por dinheiro dos associados/filiados e doadores, que devem registrar suas doações junto ao TSE. Os doadores podem ser pessoas físicas ou jurídicas. O exercício da cidadania também se faz pela doação e fiscalização dos partidos políticos.
O ato de fiscalizar, desde os órgãos públicos até os partidos políticos, é sempre um ato de cidadania.
Os partidos políticos prestam contas à Justiça Eleitoral e não podem se revelar como uma organização paramilitar (art. 5º, XVII, CF). Os partidos políticos são pessoas privadas, mas exercem parcela de autoridade pública. Isto porque nossa participação na política e na vida do Estado, como cidadãos, nos dá o controle das candidaturas, por meio do partido político ao qual nos filiamos ou no qual votamos.
Ainda, nosso partido de escolha terá papel importante no controle da perda do mandato de um deputado federal, senador, deputado estadual ou distrital e vereadores. O art. 55, CF traz as hipóteses de perda do mandato. Perderá o mandato o deputado ou senador que infringir as disposições do art. 54, CF quanto às incompatibilidades de funções. Desta forma, a cidadania se faz presente quando controlamos e fiscalizamos nossos deputados, senadores, etc.
Diz o artigo 1º, CF que somos um Estado Democrático. Democracia advém do grego: “demo” = povo; “cracia” = poder. Nosso poder, como diz o parágrafo único deste art. 1º, está nas mãos do povo.
E o inciso V deste artigo 1º consagra como princípio fundamental do Brasil o pluralismo político (temos, no Brasil, a liberdade para ter vários partidos políticos/liberdade de convicção). São essas as bases de nosso Estado político e da cidadania. A vontade do povo deve prevalecer. As leis são formadas pela vontade popular.
Seguindo em frente em nossa CF, os partidos políticos estão mais especificados no art. 17, o qual está dentro do segundo Título da Constituição: o Título dos Direitos Fundamentais. Assim, os partidos políticos são Direitos Fundamentais.
Em resumo, os partidos políticos são a forma mais atual de participação do povo na vida política do Estado. E, se você for filiado, sua participação será maior, pois você comparecerá à assembleia do partido e escolherá o candidato ou um dos candidatos em quem o povo votará.
MÓDULO 5 - REGIME MILITAR E CONFINAMENTO DA CIDADANIA
O REGIME MILITAR E A OPRESSÃO DA CIDADANIA
O golpe militar foi decretado no Brasil em 31/03/64. Os militares tomaram o Poder, afastaram o Presidente e submeteram o Congresso à sua disciplina. Foi baixada pelos militares a Constituição de 1967. Os militares passaram a governar por meio de Atos Institucionais.
O mais duro golpe contra a cidadania foi a supressão do voto direto. As eleições eram indiretas. Os direitos e garantiasindividuais foram amesquinhados, permitindo-se prisões injustas e desrespeito ao Judiciário. Reduziram-se as competências estaduais e municipais. O Poder Executivo, exercido pelos Militares, legislava por Decretos-leis a Atos Institucionais, em desrespeito ao Legislativo. Estes dois instrumentos eram baixados pelos Generais e juntas militares que ocupavam a Presidência da República. O mais duro Ato Institucional foi o de nº 5, que previa suspensão de direitos políticos, possibilidade de fechamento do Congresso Nacional, cassação de mandatos dos parlamentares, suspensão das garantias da magistratura e de funcionários públicos. Proibiu-se o habeas corpus em matéria de crimes políticos.
A Emenda 1/69, considerada por muitos como nova Constituição, manteve o golpe militar. Criou os Tribunais de Contas Municipais em Municípios com mais de 2 milhões de habitantes, a possibilidade de perda do mandato parlamentar em casos de atentado à ordem vigente e a exigência do prévio esgotamento das vias administrativas para ingresso em juízo (em diminuição à inafastabilidade da jurisdição). Mas o período da Ditadura Militar terminou em 1985, com a eleição de um civil – Tancredo Neves. José Sarney, que sucedeu Tancredo (por motivo de falecimento deste), convocou uma Assembleia Nacional Constituinte e em 1988 tivemos a promulgação da atual Constituição.
A penúltima Constituição que tivemos, então, foi a de 1967, e que infelizmente também foi ditatorialmente outorgada (seguida da Emenda 01/69). Tivemos, aqui, novo golpe, desta vez dado pelos Militares, e nova Ditadura. As eleições eram indiretas. Os direitos e garantias individuais foram amesquinhados, permitindo-se prisões injustas e desrespeito ao Judiciário. Reduziram-se as competências estaduais e municipais. O Poder Executivo, exercido pelos Militares, legislava por Decreto-lei a Atos Institucionais, em desrespeito ao Legislativo. O mais duro Ato Institucional foi o de nº 5, que previa suspensão de direitos políticos, possibilidade de fechamento do Congresso Nacional, cassação de mandatos dos parlamentares, suspensão das garantias da magistratura e de funcionários públicos. Proibiu-se o habeas corpus em matéria de crimes políticos.
Nesta fase da história do Brasil, os poderes do Presidente da República e Ministros militares eram enormes. Havia novamente a pena de morte, prisão perpétua, banimento e confisco nos casos de guerra e atos revolucionários ou subversivos, mais ou menos um remodelamento da Constituição de 1937. O abuso de direitos individuais culminava com a suspensão de direitos políticos. O mandato presidencial era de 5 anos e as eleições no Brasil eram indiretas.
Todavia, em 1978 iniciou-se o processo de redemocratização do Brasil, até chegarmos à Constituição de 1988. Em 1978, o AI 5 foi revogado. Os direitos políticos foram paulatinamente restaurados. Ficou igualmente proibida a dissolução do Legislativo pelo Executivo.
A Lei da Anistia foi promulgada e publicada em 28.08.79, concedendo perdão aos que cometeram crimes políticos e eleitorais entre 1961 e 1979, e quem teve seus direitos políticos cassados foi perdoados. Todos os servidores públicos que sofreram algum tipo de punição foram perdoados.
A Reforma Partidária começou em 1979, e ficou definitivamente instalado no Brasil o pluripartidarismo. Em 1980, voltam as eleições diretas, porém apenas para Governadores. Em virtude disso, surge o movimento “Diretas Já”, pedindo eleições diretas para Presidente da República e em todo país.
Uma lenta volta da cidadania plena.
Em 1985 foi eleito, de forma indireta, Tancredo Neves, vindo a falecer logo em seguida. O Vice-Presidente da República, José Sarney, assumiu, então, o posto, e tínhamos, assim, após mais de 20 anos de Ditadura Militar, um governo civil que segue até os dias de hoje.
MÓDULO 6 - INSTRUMENTOS E AÇÕES DA CIDADANIA POLÍTICA
Vamos estudar, neste módulo, os dois principais remédios constitucionais da cidadania: AÇÃO POPULAR e MANDADO DE INJUNÇÃO.
Há outros 4 remédios constitucionais para defesa dos direitos fundamentais, mas que não são exclusivos da cidadania: mandado de segurança (individual ou coletivo), habeas data, habeas corpus e ação civil pública.
AÇÃO POPULAR:
A ação popular está prevista no art. 5º, inciso LXXIII, CF: “Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência”.
Os legitimados são quaisquer pessoas que objetivem anular ato lesivo ao patrimônio público, moralidade, meio ambiente e patrimônio histórico e cultural (pode-se, por exemplo, propor ação popular contra a construção de uma obra pública por parte do Prefeito). Protege-se a coisa pública.
A ação segue o rito da Lei nº 4.717/65 (Lei da Ação Popular) e, adicionalmente, os requisitos do Código de Processo Civil.
Revela participação do cidadão nos negócios públicos. Daí seu caráter político e fiscalizatório. Há possibilidade de liminar e o pedido inicial dá-se no juízo de primeira instância, não havendo foro privilegiado para a ação popular.
A ação popular é o mais completo instrumento de defesa da cidadania, pois o proponente da ação participa, com seu aforamento, do controle direto dos atos públicos dos governantes e de outras autoridades que causem prejuízos econômicos ou não ao patrimônio público. É uma ação constitucional e, portanto, dizemos que é um remédio processual constitucional. A ação popular é parte intrínseca da República, pois uma das características principais da República, além da alternância do poder e o voto, é a fiscalização dos atos públicos, a transparência e a fiscalização da prestação de contas dos governantes.
O legitimado para propor a ação popular, segundo a Lei da Ação Popular (Lei nº 4.717/65), deve apenas apresentar o título de eleitor com a petição inicial. A ação é gratuita e o Ministério Público deve sempre ser intimado para participar, mas não como parte, e sim como fiscal da lei (custos legis).
A ação popular não controla apenas a Administração Pública e seus atos, mas todas as entidades ligadas à Administração Pública. A ação popular é importante instrumento de proteção da coletividade.
A competência é a do lugar do ato impugnado, e se a pessoa envolvida for a União ou suas entidades, competente será a Justiça Federal. Como o legitimado deve ser cidadão (possibilidade de votar e ser votado), excluem-se da legitimidade para propor a ação popular os estrangeiros, mas permitindo-se sua propositura pelos naturalizados, pois estes possuem título de eleitor. A Súmula 365 do STF, a seu turno, pacificou entendimento de que pessoa jurídica não pode propor ação popular. No caso de suspensão ou perda dos direitos políticos (perda ou suspensão da cidadania), o indivíduo perde a legitimidade para propor ação popular, temporária ou definitivamente (art. 15, CF).
O objeto principal da ação popular consiste na anulação do ato lesivo ao patrimônio público, praticado com ilegalidade, abuso ou desvio de poder, e a condenação da autoridade pública a devolver o dinheiro aos cofres públicos ou reparar o dano. De notar-se que a lesão ao patrimônio público pode ser não apenas financeira ou econômica, mas moral, incluindo-se lesão ao patrimônio cultural, histórico e meio ambiente. Protege-se não apenas a economia, mas a moralidade administrativa.
A contestação da ação por parte da autoridade pública dá-se em 20 dias e a sentença pode decretar a anulação do ato lesivo, a devolução do dinheiro aos cofres públicos, perdas e danos, danos morais, reconstrução de obra ou recomposição do meio ambiente e patrimônio histórico-cultural, isentando o autor de custas e honorários. A ação será gratuita, desde que não seja uma lide temerária ou haja má-fé por parte do cidadão proponente. A ação popular, em suma, serve para proteger estes tipos específicos de direitos difusose coletivos dos cidadãos, direitos esses ligados à cidadania. A ação popular não protege todos os direitos previstos na CF de 1988, apenas aqueles constantes do rol do art. 5º, inc. LXXIII, CF.
A ação popular surgiu no texto da Constituição de 1934. Na Constituição de 1937, foi suprimida do texto por Getúlio Vargas durante, retornando em 1946 para, então, permanecer como remédio constitucional importantíssimo até os dias de hoje, plasmada de modo mais completo e definitivo na nossa atual Constituição de 1988.
MANDADO DE INJUNÇÃO:
O mandado de injunção encontra-se no inciso LXXI, do art. 5º, da CF: “Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania”.
Aqui o legislador constituinte colocou à disposição dos cidadãos um instrumento para buscar a elaboração de um ato normativo infraconstitucional que está faltando. Sem este ato por parte do legislador ordinário, o cidadão não consegue exercer alguns de seus direitos e prerrogativas.
O ato ou lei que está faltando é suprido quanto a seus efeitos, de efeitos concretos, pelo Judiciário. O ato que esteja faltando, que inexista, deixa a Constituição sem complemento e, daí, torna inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais previstos no inciso acima.
O mandado de injunção serve para forçar o Legislativo a legislar e fazer o ato infraconstitucional que está faltando para o exercício pleno da cidadania e de direitos fundamentais. Supondo que a CF dissesse que os idosos deveriam ter médicos públicos gratuitamente em casa (norma constitucional Y), isto de nada adiantaria se a lei infraconstitucional não criasse concurso público para esses médicos, não criasse um salário para esses médicos, não regulamentasse a carreira desses médicos, etc. Seria preciso forçar o surgimento de uma lei que implementasse o referido direito previsto na Constituição e, assim, complementasse a norma constitucional e implementasse no mundo real o direito concreto.
O mandado de injunção, pois, objetiva suprir a lacuna legislativa.
Qualquer pessoa é legitimada, nata, naturalizada ou estrangeira, para propor o mandado de injunção. Inclusive, é legitimada, também, a pessoa jurídica.
Há uma grande corrente doutrinária que sustenta que a sentença do juiz ou acórdão determinando a edição da norma pode valer como direito concreto se a norma não for editada. Se a lei faltante que se busca for federal, o Congresso Nacional ocupará o polo passivo e o mandado de injunção será impetrado diretamente no STF.
Há corrente que diz que o Judiciário pode reconhecer a mora do Congresso Nacional e apenas fixar prazo para edição da lei, mas sem sanção.
Há corrente que diz que, como o juiz pode preencher as lacunas da lei (art. 4º, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro), então a sentença ou acórdão, independentemente da fixação de prazo para edição da norma infraconstitucional, também pode entregar ao impetrante o direito concreto, valendo como norma ou como título líquido para obtenção de indenização.
O mandado de injunção tem natureza de garantia instrumental constitucional contra falta de norma regulamentadora. É, portanto, instituto de direito processual constitucional.
Busca-se reparar o dever do Legislativo de legislar, o dever do Executivo em editar atos normativos, e assim por diante. É um remédio constitucional. Requer apreciação de matéria de fato. Se o ato normativo infraconstitucional, contudo, for feito no curso do mandado de injunção, julga-se prejudicado o remédio constitucional e o processo será arquivado.
O mandado de injunção, assim como a ação popular, tem nítido caráter de fiscalização, embora seu objeto seja a edição de uma norma infraconstitucional que esteja faltando, e não a anulação de ato público lesivo ou devolução de dinheiro aos cofres públicos.
O foro é qualquer juízo, a depender de quem deva editar o ato. O art. 102, I "q", CF, como dito acima, assenta que, se o ato faltante for federal, o foro será o STF: "o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal".
O foro será o STJ, por exemplo, no caso de entidades federais não previstas na competência do STF (art. 105, I, CF), ou do TJ no caso de ato estadual que deveria ser feito pela Assembleia Legislativa do Estado.
Os efeitos são discutidos na doutrina e jurisprudência, como visto. Há bastante polêmica. Não poderia o mandado de injunção, por sentença ou acórdão, substituir-se à ação legislativa, para não ferir a separação dos Poderes. Mas, como dito acima, há corrente significativa no sentido contrário, pelo menos no sentido de entregar apenas ao proponente da ação o direito buscado, suprindo a lacuna que o Legislativo não quer suprir.
Daí o entendimento de que a sentença ou acórdão dá o direito provisoriamente, até que seja editado ato pelo Poder Legislativo. O mandado de injunção visa suprir lacuna legislativa, mas realmente não pode forçar o Legislativo a legislar, pois um Poder não pode invadir a esfera de atuação típica de outro Poder.
A lacuna é sempre da lei, nunca do sistema. Há sempre uma solução no sistema. Utilizando-se de todas nossas leis e métodos de interpretação, sempre se encontra uma solução.
Enfim, a legitimidade é universal. Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode impetrar mandado de injunção. Até mesmo entes despersonalizados, como um espólio. O mandado de injunção produz efeitos sobre o caso concreto – atua sobre obrigação de fazer e não fazer. Tem eficácia plena e natureza jurídica de garantia instrumental constitucional. É julgado com base em juízo de equidade/valoração de elementos/justo legal e material. O juiz pode usar princípios gerais de direito, equidade, analogia, costumes, etc e analisar a fundo o caso concreto.
Não existe lei específica para o mandado de injunção, ditando seu trâmite processual, competência, detalhes, etc. Conforme a doutrina e jurisprudência, segue-se a lei do mandado de segurança e, após, subsidiariamente, o CPC. Todavia, não é possível o mandado de injunção contra particulares, ainda que apareçam somente como litisconsortes passivos, e também fica excluído o mandado de injunção coletivo. Admite-se liminar. Os efeitos da sentença ou acórdão em mandado de injunção são sempre inter partes (só vale para quem impetrou a ação) e ex nunc (para frente; não é possível retroagirem os efeitos da sentença ou acórdão). Mesmo quando o mandado de injunção entrega diretamente o direito, suprindo a lacuna legislativa, não é geral para a comunidade ou país. Apenas surte efeitos para quem o impetrou. 
 
MÓDULO 7 - DIREITOS POLÍTICOS
VOTO, PLEBISCITO, REFERENDO, INICIATIVA POPULAR E PERDA DOS DIREITOS POLÍTICOS
O voto está no capítulo constitucional dos direitos políticos (arts. 14, 15 e 16, CF). Os direitos políticos consagram a possibilidade de o indivíduo intervir no governo do país. São normas que dão efetividade ao parágrafo único do art. 1º da Constituição. “Polis”, do grego, significa cidade, tendo a palavra evoluído para “politiké”, ainda em grego, e, depois, para “política”, em Português, ou seja, interferência dos indivíduos nos negócios da cidade, na vida estatal. A política pode ser conceituada como “afazeres do Estado”. O indivíduo participa das decisões estatais. E a interferência e participação na política cria os direitos políticos. São direitos subjetivos, isto é, dos sujeitos.
Dispõe a art. 14: “A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: I - plebiscito; II - referendo; III - iniciativa popular”. O sufrágio é o direito de manifestação, não se confundindo com o voto, que é instrumento.Sufrágio compreende o direito de eleger e ser eleito.
O plebiscito e o referendo (regulados pela Lei nº 9.709/98) são consultas à população para que delibere sobre matéria legislativa. O plebiscito ocorre antes do projeto de lei ser publicado e transformar-se em lei, e o referendo ocorre quando a lei já está vigente. Quanto à iniciativa popular, seus requisitos vêm traçados no art. 61, § 2º, permitindo ao povo a apresentação de projeto de lei.
Quanto ao voto, apresenta este as seguintes características: a) personalidade (é pessoal, não admitindo procuração); b) obrigatoriedade (para os maiores de 18 anos e menores de 70, desde que alfabetizados); c) liberdade (o cidadão tem a liberdade de anular o voto, escolher um ou mais candidatos ou votar em branco); d) sigilosidade (o voto é indevassável); e) direto (o voto é dado diretamente no representante escolhido, e não para que este escolha um outro representante); f) periodicidade (o voto é periódico no Brasil); g) igualdade (todos os votos têm o mesmo valor – é a regra do “one man one vote”).
A capacidade eleitoral ativa é a possibilidade de votar, enquanto a capacidade eleitoral passiva é a possibilidade de ser eleito.
No Brasil, a capacidade eleitoral ativa está nos parágrafos 1º e 2º do art. 14. O voto é obrigatório para os maiores de 18 e menores de 70, desde que alfabetizados, e facultativo para os analfabetos, maiores de 70 e jovens entre 16 e de 18 anos de idade. Os estrangeiros não podem votar. Não têm, portanto, capacidade eleitoral ativa. Ainda, é restringido o direito de voto aos militares durante o período de serviço militar obrigatório – conscritos (restringe-se temporariamente a capacidade eleitoral ativa).
Já a capacidade eleitoral passiva diz com a elegibilidade. Assim determina o § 3º do art. 14:
“São condições de elegibilidade, na forma da lei:
I - a nacionalidade brasileira;
I - o pleno exercício dos direitos políticos;
III - o alistamento eleitoral;
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição;
V - a filiação partidária;
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz de paz;
d) dezoito anos para Vereador”.
Estas são as regras gerais da capacidade eleitoral passiva (elegibilidade). Mas esta capacidade sofre várias restrições. São as inelegibilidades, a serem vistas no Módulo 6.
Por fim, temos a perda ou suspensão dos direitos políticos (art. 15). O primeiro caso é o cancelamento de naturalização por sentença transitada em julgado. A ação é proposta pelo Ministério Público Federal junto à Justiça Federal (art. 109, inc. X). Esta hipótese é de perda. O indivíduo retorna à condição de estrangeiro. O segundo caso é a incapacidade civil absoluta, superveniente, ou seja, o indivíduo vê-se privado de sua capacidade civil, como, por exemplo, em caso de interdição. Esta hipótese é de suspensão. O terceiro caso decorre de condenação criminal transitada em julgado. É, também, hipótese de suspensão, retornando os direitos políticos após extinta a punibilidade. O quarto caso decorre da recusa de cumprimento a todos imposta ou cumprimento prestação alternativa nos casos de escusa de consciência (art. 5º, inc. VIII, CF). É hipótese de perda. O último caso decorre de improbidade administrativa, conforme art. 37, § 4º. O agente público tem seus direitos políticos suspensos caso seja condenado por causar danos ao erário.
O art. 16 traz o princípio da anualidade, a fim de preservar as eleições de regras modificadoras repentinas. Até 1 anos antes das eleições, a lei que alterar o processo não poderá ser aplicada.
MÓDULO 8 - PARTICIPAÇÃO POPULAR NO ESTADO
A iniciativa popular na feitura de leis, emendas, etc é, sem dúvida, um dos maiores meios de participação do povo no Estado. A iniciativa popular controla a elaboração e funcionamento do Legislativo, além de exprimir a vontade popular e ditar os rumos jurídico-sociais de determinada sociedade.
Seus requisitos vêm traçados no art. 61, § 2º, permitindo ao povo a apresentação de projeto de lei. A iniciativa popular refere-se à democracia direta, em que o povo participa diretamente do processo legislativo e apresenta um Projeto de Lei ao Congresso Nacional, por exemplo, mediante os seguintes requisitos: o projeto de lei deve ser subscrito por 1%, no mínimo, do eleitorado nacional, distribuído em pelo menos 5 Estados-membros diferentes, e com não menos de três décimos por cento dos eleitores em cada um deles.
O mesmo vale para as esferas estadual, municipal e distrital.
A Lei da Ficha Limpa começou como Projeto de Lei de iniciativa popular!
Cada eleitor, ao assinar o documento que pretende apresentar um projeto de lei, seja eletronicamente ou em papel, deve assiná-lo e fornecer endereço, título eleitoral e demais dados de identificação. A proposta deve ser protocolada no Legislativo competente com todas as assinaturas e requisitos vistos acima.
Assim que o projeto de lei de iniciativa popular começar a tramitar, é possível ao cidadão utilizar a tribuna e fazer o uso da palavra.
Outro modo de participação popular no Estado é a fiscalização do Executivo e protocolo de pedido de impeachment no Legislativo competente.
Em 2015 tivemos o pedido de impeachment da Presidente Dilma Roussef protocolado pelo jurista Helio Bicudo, representando grande parte da população brasileira.
O Presidente da República pode cometer crimes comuns e crimes de responsabilidade. Estes últimos são infrações político-administrativas (art. 85, CF). Atentar contra a Constituição, por exemplo, é um crime de responsabilidade. O crime de responsabilidade seria, na linguagem de quem não conhece o Direito, um “crime civil”.
Os crimes comuns preveem prisão em estabelecimento prisional. Até mesmo o Presidente da República pode ir preso e cumprir a pena na prisão. Nos crimes de responsabilidade, todavia, não há prisão, mas a perda do cargo e inabilitação para concorrer a cargos públicos por 8 anos (art. 52, § único, CF). É o famoso impeachment.
No crime comum, o Presidente é julgado pelo STF (art. 102, I “b”, CF). Nos crimes de responsabilidade, o Presidente é julgado pelo Senado (art. 52, I e art. 86, ambos da CF). Há diversas autoridades nomeadas em diversos artigos da Constituição que também podem cometer crimes de responsabilidade e sofrer impeachment, como Ministros do STF, Procurador-Geral da República, Governadores, etc.
O Presidente do STF presidirá o julgamento do impeachment (art. 52, parágrafo único, CF). O crime comum pode resultar em prisão, multa ou restrição de direitos. O crime de responsabilidade é punido com a perda do cargo, denominada impeachment, e inabilitação, por 8 anos, para o exercício de funções públicas (52, parágrafo único, CF).
É facultado a povo fazer uso da palavra quando o processo estiver sendo julgado no Senado, por intermédio daquele que protocolou o pedido.
Pois bem. O impeachment, conforme art. 85, CF, pode resultar de atos que atentem contra a CF, além de improbidade, atos contra a segurança do país, atos contra os direitos individuais, políticos, sociais, etc.
Cabe a qualquer cidadão a fiscalização do Presidente da República. Não existe forma prevista na CF ou em lei para denúncias contra o Presidente. Uma denúncia pode ser descoberta pela mídia e o STF e Congresso serem alertados. Nós, cidadãos comuns, podemos formular denúncia perante o Congresso, o Ministério Público ou até mesmo uma Delegacia de Polícia, pedindo o encaminhamento a Brasília, ao Congresso, ao Senado, à Câmara, Procuradoria-Geral da República, etc. Como no caso do jurista Helio Bicudo, que protocolou pedido de impeachment da Presidente Dilma Roussef.
O importante é nosso exercício da cidadania por meio da fiscalização popular e denúncia popular. O exercício dos direitos políticos vai além do voto. “Polis”, em grego, significa “cidade”. Daí segue-se que “política”é a participação mais completa possível nos afazeres do Estado.
Fiscalizar as autoridades passíveis de impeachment é mais do que uma missão: é exercício de cidadania. Ou, em outras palavras, exercício de direitos políticos.
Além de atentar contra a constituição, são crimes de responsabilidade (art. 85, CF) atentar contra: I - a existência da União; II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais; V - a segurança interna do País; V - a probidade na administração; VI - a lei orçamentária; VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
A acusação contra o Presidente, tanto nos crimes comuns quanto nos de responsabilidade, precisa ser admitida por 2/3 da Câmara dos Deputados para ter início (juízo de admissibilidade – art. 51, I e art. 86, ambos da CF).
O que se disse acima pode ser repetido nas Constituições Estaduais, para os Governadores, e nas leis orgânicas, para os Prefeitos e Governador Distrital.
Todos nós temos, como dever de cidadania, fiscalizar e denunciar atos atentatórios à dignidade da Constituição e das leis, iniciando o processo de impeachment. Não é somente através do voto que escolhemos nossos representantes. É através de rígida fiscalização moral e de probidade que poderemos manter nos Poderes e órgãos públicos representantes compromissados com a honestidade, caráter e respeito ao povo.

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