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CP - AULAS 1-4

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Objetivos
Compreender a importância do estudo da Ciência Política para o papel desempenhado pelo Direito na Sociedade. 
Analisar a palavra política e sua função no espaço social. 
Compreender a complexidade do campo político sob a perspectiva dos sujeitos políticos e suas ações sociais. 
Mostrar ao aluno a importância da disciplina para a formação humanística e crítica sobre realidade social. 
Apresentar ao aluno o Plano de Ensino e o Mapa Conceitual da disciplina.
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AULA 1
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 Breve introdução
Ciência Política e Teoria Geral do Estado
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AULA 1
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Aplicação Prática
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AULA 1
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 Aula 2
Discurso Político
(continuação)
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AULA 1
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Ciência Política
É o estudo da política — dos sistemas políticos, das organizações políticas e dos processos políticos. Envolve o estudo da estrutura e dos processos de governo — ou qualquer sistema equivalente de organização humana.
 Objeto: Estudar instituições, corporações (ou empresas), uniões (ou sindicatos), igrejas ou outras organizações, cujas estruturas e processos de ação se aproximem de um governo. Alguns entendem que seu objeto é o Estado e, para outros, o poder. 
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AULA 1
Ciência Política
Atuação: Os cientistas políticos estudam a distribuição e transferência de poder em processos sociais. 
 Os cientistas políticos olham os ganhos (como o lucro privado de pessoas ou das empresas ou da sociedade) e as perdas (como o empobrecimento de pessoas ou da sociedade).
Cientistas políticos medem o sucesso de um governo e de políticas específicas examinando muitos fatores como estabilidade, justiça, riqueza material e paz. 
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AULA 1
Teoria Geral do Estado
É a ciência que investiga e expõe os princípios fundamentais da sociedade política denominada Estado. 
Objeto: Estudar o Estado, sua origem, estrutura, formas, finalidade, evolução, sistemas de governo, regimes políticos
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AULA 1
O que é o discurso político?
O discurso político, como sistema de pensamento, é o resultado de uma atividade discursiva que procura fundar ou consolidar um ideal político em função de certos princípios que devem servir de referência para a construção das opiniões e dos posicionamentos. 
É por meio dele que se determinam as filiações ideológicas. 
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AULA 1
 Política e Sociedade
Teorias Naturalistas
Teorias Contratualistas
.
65
AULA 1
65
 
Aplicação Prática
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AULA 1
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 Aula 4
Sociedade Política - Estado
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AULA 1
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Objetivos
Compreender categorias e conceitos fundamentais ao fenômeno jurídico-político.
Analisar as estruturas e as articulações do discurso político pela lógica da sociedade política Estado, do poder político e suas limitações.
Estimular a utilização de raciocínio jurídico-político, de argumentação, de persuasão e de reflexão crítica, elementos essenciais à construção do perfil do profissional do Direito.
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AULA 1
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O que se quer construir?
O discurso político dedica-se a construir imagens dos atores e ao uso de palavras/estratégias de persuasão e sedução empregando diversos procedimentos retóricos
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AULA 1
Qual seu objetivo?
O objetivo do discurso político é o de influenciar ou buscar adesão sempre de um maior número de pessoas, bem como buscar a legitimidade: comando reconhecido como não arbitrário
 Se o comando é reconhecido como não arbitrário, consolida-se a legitimação do sistema de pensamento construído ideologicamente, fazendo com que os seus comandos sejam dotados de autoridade. 
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AULA 1
Como pode ocorrer um discurso político?
Um discurso político pode se realizado através de um debate, um comício, uma entrevista, um texto escrito, um papo amigável do candidato etc.
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AULA 1
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A palavra política e a questão do poder
AULA 1
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A palavra política e a questão do poder
 Epimeteu criou os animais e deu-lhes os atributos. Quando chegou ao homem, não havia mais nenhuma qualidade para dar-lhe. 
 Pediu socorro ao seu irmão Prometeu, que então roubou o fogo dos deuses e o ofertou aos homens, ensinando-lhe também como trabalhar com ele.
 Zeus pune Prometeu pelo crime, deixando-o amarrado a uma rocha durante toda a eternidade enquanto uma grande águia comia, durante todo o dia, o seu fígado-que crescia novamente no dia seguinte.
AULA 1
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A palavra política e a questão do poder
AULA 1
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A palavra política e a questão do poder
AULA 1
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A palavra política e a questão do poder
IDADE MÉDIA
• Assim como as antigas civilizações a sociedade medieval buscava no “Divino” a legitimidade para o exercício do Poder.
• Em 476 o ultimo imperador romano, Romulo Augusto, é deposto pelo general germânico Odoacro. 
• Em 489 Teodorico, rei dos Ostrogodos, assassinou Odoacro e se proclamou rei da Itália. A sede real estava em Ravena. 
• Roma foi dada ao papa Feliciano III.
• Nasciam e cresciam as boas relações entre os bárbaros e a Igreja.
AULA 1
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A palavra política e a questão do poder
• No ano de 728 o rei Lituprando dos Lombardos veio negociar com o papa Gregório II. Lituprando ao ver o Papa se prostrou diante dele... 
Assim, o reino terreno se curvava diante do representante do reino divino.
• No ano de 800 papa Leão III coroou Carlos Magno Imperador do Ocidente.
•Em 816 Ludovico (filho de Carlos Magno), sucedendo a seu pai, vem para ser coroado pelo Papa e, ao vê-lo, deita-se por terra e beija-lhe os pés. 
•A partir de então o poder político passa a ser legitimado pelo poder “Divino”.
•Grandes teóricos deste sistema são: Santo Agostino e São Tomás de Aquino.
AULA 1
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A palavra política e a questão do poder
MODERNIDADE
• Maquiavel: a vontade soberana do príncipe.
•Jusnaturalistas: o poder é exercido pela razão natural.
O Contrato Social: o poder é exercido pelo governante a partir de um “pacto”. 
AULA 1
A palavra política e a questão do poder
A questão do poder e da legitimidade política tem sido longamente discutida, começando por Platão, passando por Kant até chegar, mais recentemente,a Weber, Arendt e Habermas (Contemporaneidade).
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AULA 1
Max Weber
O poder político está diretamente relacionado à dominação e à violência, seguindo uma hipótese geral: as relações humanas se fundam nas relações de dominante a dominado.
O poder é, portanto, poder de dominação. No campo político, é o Estado que impõe sua autoridade através de uma violência que carrega a aparência da legalidade, obrigando o outro a assumir-se dominado e, portanto, a submeter-se: 
“o Estado só pode existir se os homens dominados se submetem à autoridade reivindicada o tempo todo pelos dominadores”
A crença é condição fundamental para que a relação entre aquele que manda e aquele que obedece se realize (legitimidade). É preciso acreditar voluntariamente no mandante.
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AULA 1
Baseada nas tradições e mais diretamente relacionadas às monarquias absolutistas do período conhecido como Idade Moderna. 
Aula 6
A DOMINAÇÃO TRADICIONAL
AULA 1
A dominação carismática é poderosamente influenciada por fatores emocionais, na medida em que é construída por um tipo de “devoção afetiva” por parte dos dominados. Portanto, este indivíduo, que possui o carisma é reconhecido como um líder por seus seguidores e, assim, a autoridade carismática é legitimada. 
Esta forma de dominação se apresenta, geralmente, em períodos de ruptura institucional. 
Aula 8
A DOMINAÇÃO CARISMÁTICA
AULA 1
Relacionada ao Estado de Direito e a presença de uma burocracia em termos administrativos, cujo princípio de legitimidade se baseia na racionalidade e nas disposições legais. 
Aula 8
A DOMINAÇÃO RACIONAL LEGAL
AULA 1
Hannah Arendt
O poder político o poder político resulta de um consentimento, de uma vontade dos homens de ser e de viver juntos.
Nessa perspectiva, o poder político não pode se justificar pelo temor da dominação do outro, não pode ser exercido pela violência, pois ele é um poder que resulta da vontade comum, poder recebido, concedido pelo povo ou pelos cidadãos: 
“Quando declaramos que alguém está no poder, entendemos por isso que ele recebeu de um certo número
de pessoas o poder de agir em seu nome”
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AULA 1
Hannah Arendt
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•A política se situa sempre no campo da “Discussão” e não simplesmente do “Discurso”. (diálogo-monólogo). 
•Os regimes totalitários – responsáveis pelos horrores do século XX – esvaziaram a política de sua essência, a saber, a liberdade de expressão.
•A política não tem um caráter instrumental, de ser meio... mas ela é um fim em si mesma.
•Através da política o “Singular (o sujeito individuo)” aparece no âmbito social e se apresenta em sua dimensão de “cidadão”.
•Neste caso, a política não garante nossa liberdade, mas ela mesma é em sua essência o exercício de nossa liberdade.
AULA 1
Hannah Arendt
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•Segundo ela, o que fundamenta o regime totalitário é o “Discurso” e a ausência de uma visão critica sobre este.
•O “Discurso” manipula a massa... retira o sujeito de sua dimensão de singular para colocá-lo na dimensão de número.
•Hitler subiu ao poder explorando o “Discurso” diante da solidão organizada das massas populares.
•O populismo sustenta o Totalitarismo e daí o “Conformismo social”. 
AULA 1
Jürgen Habermas
Habermas propõe distinguir um “poder comunicacional” e um “poder administrativo”. 
O poder comunicacional existe fora de toda dominação, sendo o povo o seu iniciador – e ao mesmo tempo o seu depositário. Abre-se um espaço de discussão no qual os cidadãos trocam suas opiniões pela via argumentativa, formando assim “a opinião pública”. 
Por outro lado, o poder administrativo implica sempre relações de dominação. Trata-se, assim, de organizar a ação social, de regular por leis, evitar e reprimir (por sanções) tudo o que poderia se opor à vontade de agir.
O poder comunicacional faz aflorar a legitimidade e o poder administrativo se funda nessa legitimidade.
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AULA 1
 Discurso Político como Processo de Inserção Social
Todo indivíduo necessita de referências para desenvolver um convívio em sociedade. 
E tais referências são resultado dos contatos estabelecidos com grupos de pessoas que estão inseridas num sistema de pensamento que mais o atrai. 
Ex. Um discurso político pode se realizar como um debate, um comício, uma entrevista, um texto escrito, um papo amigável do candidato, com direito a tapinhas nas costas etc. Cada realização vai exigir uma forma diferente que está de acordo com a situação." 
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AULA 1
 Espaço Político 
A política parte do desejo de organizar a vida dos indivíduos em comunidade, e nesse propósito faz uso da regulamentação social: 
regulando as relações de força com vistas a manter certas situações de dominação ou de conflito e até mesmo, tentar estabelecer relações igualitárias entre os indivíduos; 
legislando e sancionando, de modo a orientar os comportamentos dos indivíduos para preservar o bem comum;e 
distribuindo tarefas e responsabilidades, por meio de um sistema de delegação e de representação (por nomeação ou por eleição). 
Esses três modos de regulação mostram que a política é um espaço de ação que depende dos espaços de discussão e de persuasão. 
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AULA 1
 Espaço Político 
O espaço político não corresponde ao espaço geográfico, embora algumas vezes possam coincidir. 
Ele é fragmentado em diversos espaços de discussão, cujas opiniões ora se confundem ora se contrapõem, e dizem respeito a tudo que acontece na vida em sociedade. 
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AULA 1
 A questão da legitimidade
Legitimidade não é legalidade.
Legitimidade é todo comando que você reconhece como não arbitrário (ao qual você adere racionalmente).
O comando não precisa ser necessariamente legal, pois legalidade não é sinônimo de legitimidade (exceto para os positivistas, onde só há o legal e o ilegal, justo e legítimo é o que está na lei).
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AULA 1
 A questão da legitimidade
“Legitimidade não é legalidade: se os indivíduos das classes mais desfavorecidas em matéria de cultura reconhecem quase sempre, ao menos da boca para fora, a legitimidade das regras estáticas propostas pela cultura erudita, isso não exclui que eles possam passar toda sua vida, de facto, fora do campo de aplicação dessas regras sem que estas por isso percam sua legitimidade, isto é, sua pretensão a serem universalmente reconhecidas.” (BOURDIEU, Pierre. Campo Intelectual e Projeto Criador. In: Problemas do Estruturalismo. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1968, p. 128.
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AULA 1
Caso Concreto 1
Leia, atentamente, a palestra “O papel da universidade na sociedade brasileira: educação e pesquisa no ensino superior” de Sidnei Ferreira de Vares, e responda: 
Inicialmente, bom dia a todos. Gostaria de agradecer imensamente a presença de vocês e agradecer também ao convite que me foi feito pelo CIEE. Acredito que esse tipo de encontro, que, aliás, o Centro de Integração Empresa Escola sempre se esforça para realizar, contribua no sentido de uma discussão séria acerca dos problemas sociais e educativos que marcam a sociedade brasileira. Este esforço, portanto, não pode passar em claro. Bem, o objetivo do encontro desta manhã é discutir o papel da universidade na sociedade brasileira, como o próprio título da palestra apresenta sem muitos rodeios. Esse não é, efetivamente, um tema simples, pelo menos não para alguém que há alguns anos vivencia o dilema das universidades brasileiras de perto, sobretudo no que se refere ao Ensino Superior Privado. Sou professor universitário há 10 anos e muito cedo iniciei na profissão. Disso, certamente, decorrem algumas observações críticas em relação à maneira como o ensino superior se desenvolveu no Brasil, e também à maneira como atualmente está estruturado.
Minha proposta aqui é discutir o papel da universidade a partir de uma suspeita, reforçada ao longo de minha atuação como docente, a saber, a de que a universidade brasileira não cumpre o objetivo que deveria cumprir. Os motivos para essa “falta” são variados, mas, apontarei pelo menos três deles, a saber, (a) o desenvolvimento histórico e social da universidade no Brasil; (b) certa tendência antropofágica inerente à cultura brasileira (para me utilizar da expressão modernista), que geralmente retraduz elementos importados a sua maneira, mas que nunca são totalmente incorporados; (c) por fim, gostaria de ressaltar certa visão mercadológica, que invadiu o espaço universitário nas últimas décadas, e que acarretou uma série de problemas de ordem prática e ética.
Comecemos, portanto, com a análise histórica do desenvolvimento da universidade brasileira. Antes, porém, gostaria de me deter um pouco no surgimento da universidade, para depois falar de seu amadurecimento no Brasil. As primeiras universidades que se têm notícia surgiram no continente europeu entre os séculos XI e XII. Alguns estudiosos apontam a universidade de Bolonha como a primeira, e outros a de Paris. Esse é uma discussão vazia. O importante é saber que datam desse período. A maneira como surgem também não deixa de ser interessante. Algumas resultam de editos reais, outras de editos papais e há ainda aquelas derivam da reunião de professores, geralmente de escolas catedráticas, e que decidem fundar uma universidade.
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AULA 1
Caso Concreto 1
Naquela ocasião a universidade atende um número muito restrito de alunos, quase sempre derivados da elite da época, isto é, da nobreza ou da burguesia que começava a se constituir. Ademais, sua estrutura física tinha pouco a ver com as universidades atuais. As aulas não eram realizadas necessariamente numa sala e a relação entre professor e alunos era certamente mais orgânica. O papel da universidade era o de exatamente integrar o conhecimento total. O método, embora rígido, estava calcado no trivium e quadrivium, que desde a antiguidade marcara a educação. Mas, há algo importante e que merece ser ressaltado: a universidade aparece com um espaço de produção de conhecimento.
Claro, alguns poderão objetar, essa produção tinha limites. Limites técnicos e mesmo culturais, haja vista a influência da religiosidade naquele período. De certo, essa influência atravancou o desenvolvimento da universidade, pelo menos até a modernidade.
Mas, a partir do século XVII, a Europa passa de fato a ter uma produção científica de maior qualidade. Bem, no Brasil o chamado ensino superior é bem mais tardio. As primeiras faculdades datam do século XIX. A Faculdade de Medicina de Salvador e a de Direito do Largo São Francisco são exemplos disto. Até aquele instante não existiam faculdades e, portanto, os filhos das famílias mais abastadas tinham que estudar nas universidades europeias se desejassem fazer carreira acadêmica. Esse não é um fato irrelevante. São mais de 800 anos de atraso em relação à Europa. As diferenças são ainda mais gritantes quando se considera o surgimento da primeira universidade brasileira, a USP, em 1934, isto é, primeira metade do século XX. Com um caráter elitista, a universidade brasileira, pelo menos tinha algo importante nas suas raízes, a saber, ela procurou se desenvolver à luz da tradição europeia. Isso pode ser facilmente observado quando, por exemplo, se percorre a história da USP. E quanto aos professores franceses que vieram trabalhar no Brasil no intuito de contribuir para a estruturação aquela universidade? Gérard Lebrun, Claude Leffort, Claude-Levi Strauss, entre outros. Claro que essa presença trouxe resultados muito bons. Até os anos de 1960, pelo menos, a universidade brasileira tinha, apesar de sua incipiente estrutura, uma produção de altíssima qualidade, muito mais pela influência estrangeira no Brasil, do que propriamente por conta de uma inclinação cultural do povo brasileiro à ciência. Todo rigorismo intelectual e as técnicas de pesquisa desenvolvidas nesse período, devem muito aos ilustres estrangeiros que aqui estiveram, conquanto nomes como Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes, Cruz Costa, Gilberto Freire, etc., também figurassem entre aqueles. Isso não tem nada a ver com “puxa-saquismo” ou com uma visão eurocêntrica. Simplesmente tem a ver com o que de fato aconteceu.
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AULA 1
Caso Concreto 1
Isso, porém, não ofusca o brilho da geração de intelectuais brasileiros que seguiu e que contou com a ilustre presença de nomes como Otavio Iani, Fernando Henrique Cardoso, Alfredo Bosi, Antônio Candido, Darcy Ribeiro, enfim, um grupo brilhante de intelectuais. Contudo, a partir dos de 1960, mais precisamente com a instauração do regime militar, a universidade entrou num processo de sucateamento, que muito tem a ver com a série de acordos entre o MEC e a USAID (United States Agency for International Development), e que implicou na tecnização do ensino superior brasileiro, acompanhando o desenvolvimento industrial daquele período. No final dos anos 60, o regime militar facilitou a abertura de muitas universidades particulares. Aliás, muitas das universidades que estão no mercado atualmente, datam dessa época. A abertura dessas universidades, em si, não foi negativa, se tomarmos por base o fato de que, naquele tempo, o número de vagas nos estabelecimentos públicos ainda era muito diminuto. De todo modo, a divisão entre a rede pública e a privada fica mais delineada nesse momento. Deixemos, contudo, para falar das condições das universidades brasileiras no atual período, no final da explanação.
Passemos agora a analisar o segundo ponto que destaquei acima, isto é, certa tendência “antropofágica” que caracteriza alguns dos traços de nossa cultura. Durante a semana de 1922 a referida expressão foi projetada para se referir à maneira como os brasileiros se apropriavam de elementos culturais exportados. Trata-se, nesse sentido, de um termo de valência positiva, pois demonstra a capacidade de nossa cultura de retraduzir influências, dando-lhe um toque tupiniquim. Contudo, no campo da educação as coisas não foram tão positivas assim. Todo o sentido da universidade europeia, principalmente no que toca a ideia de universalização do saber, não se consolidou. Desde o século XIX, quando as primeiras faculdades são fundadas, elas se dirigiam a uma parcela minoritária da população, de modo que, longe de alcançar a todas as classes, a universidade brasileira caminhava para se tornar um antro elitista. Ademais, toda a estrutura que caracteriza as universidades europeias, simplesmente não se reproduziu aqui. Aliás, com raras exceções, podemos afirmar que até hoje as diferenças estruturais são muito significativas. Bibliotecas, laboratórios, professores estrangeiros, enfim, um conjunto de elementos que faltam às universidades brasileiras, mas não às estrangeiras. Em outros termos, nossa capacidade de retradução nesse caso foi muito pequena, para não dizer nula.
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AULA 1
Caso Concreto 1
Mas o pior ainda está por vir. Refiro-me ao papel que a economia, representada, sobretudo, pelas grandes corporações, adquiriu no âmbito da educação. A partir do final dos anos de 1990, alguns grupos educacionais, ancorados nas brechas da lei, garantidas por governos que estão muito mais interessados em números e estatísticas, do que propriamente no alargamento da qualidade do ensino superior, perceberam o filão que representava a expansão das vagas com vistas às classes mais carentes. Nesse momento, muitas universidades, sobretudo particulares, passam a adotar métodos de captação de alunos sem maiores critérios. Vestibulares são substituídos por redações. O número de vagas entre universidades e centros universitários aumenta vertiginosamente, a ponto de termos hoje, em algumas áreas e cursos, mais vagas do que candidatos. E tudo isso sem o devido acompanhamento sério do MEC e do Ministério do Trabalho, o que resultou no sucateamento da remuneração docente e na qualidade duvidosa dos cursos oferecidos. A estratégica adotada, por um lado, foi a do barateamento dos preços das mensalidades, somada aos baixos salários dos professores e o descuido com a devida titulação docente, e, de outro, a uma propaganda agressiva e ilusória que pretende, a partir da inserção de um discurso de características teológicas, vender a ideia de que a felicidade individual (entenda-se a ampliação das oportunidades profissionais, o que implica em melhores empregos, salários, cargos, etc., típicos apelos da sociedade capitalista), só poderá ser alcançada via universidade.
O “capital cultural instituicionalizado”, como diria Pierre Bourdieu, através do diploma, se converte em diploma e abre portas. Isso é a pura lorota! O ensino superior fica assim reduzido a um “meio” e não a um “fim”. A mensagem é clara: adquira, o quanto antes, um diploma superior e conquiste o sucesso profissional (mais ganhos). Discurso atrativo, mas mentiroso. Sabe-se que na prática as coisas não funcionam bem assim. O diploma universitário não é uma garantia de estabilidade ou ascensão social. Este é um mito que os meios propagandísticos não cessam de difundir. Enquanto isso, preocupações básicas como qualidade de ensino, plano de carreira do professorado, desenvolvimento de projetos de pesquisa, iniciação científica, ficam a sombra. A discussão acerca da universidade fica reduzida a cooptação de alunos e as estratégias de marketing no sentido de “vender” o ingresso no paraíso via universidade.
A universidade está longe de ser um paraíso, embora também não seja um inferno. Ela é, sim, um espaço de formação e produção de conhecimento, e se os alunos não tiverem plena consciência disso, fica difícil, senão impossível, desenvolver um trabalho razoável. Ela não pode ser vista com um “meio”, mas como um “fim”. Seu papel é o de promover pesquisa, estudos em áreas específicas, com vistas ao desenvolvimento humano e tecnológico. Um país soberano depende estritamente disso. Mas do que meras estatísticas e índices de produção, precisamos reaver a essência mesma da universidade e, nesse sentido, revisitar suas origens está longe de ser um retrocesso, mas pode ser visto como uma oportunidade única para avançar.
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AULA 1
Caso Concreto 1
1) Qual o espaço social da palavra política ele se refere? 
2) A qual tipo de discurso político ele se refere? Justifique as suas respostas.
Disponível em: <
http://revistaparametro.wordpress.com/2012/03/31/o-papel-da-universidade-na-sociedade-brasileira-educacao-e-pesquisa-no-ensino-superior/
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AULA 1
Retórica
A Retórica surgiu na antiga Grécia, ligada à Democracia e em particular à necessidade de preparar os cidadãos para uma intervenção ativa no governo da cidade. 
"Rector" era a palavra grega que significava "orador", o político. No início esta não passava de um conjunto de técnicas de bem falar e de persuasão para serem usadas nas discussões públicas
AULA 1
Aristóteles e a Retórica
Aristóteles foi o primeiro filósofo a expor uma teoria da argumentação. 
O seu objetivo é o de obter uma comunicação mais eficaz para o Saber que é pressuposto como adquirido. 
A retórica, torna-se numa arte de falar de modo a persuadir e a convencer diversos auditórios de que uma dada opinião é preferível à sua rival.
Nem todo o discurso é retórica. Uma descrição ou a reportagem de um acontecimento não é necessariamente retórica (aí, teríamos um discurso puramente constatativo ou denotativo).
AULA 1
A retórica política
A retórica é uma dinâmica de comunicação dos atores políticos, da qual resultaria a identificação imaginária da verdade política. 
Os atores do campo político fazem parte de um enredo permeado pelo desafio retórico do reconhecimento social, isto é, o consenso, a rejeição ou a adesão.
Suas ações realizam vários eventos: audiências públicas, debates, reuniões, e hoje principalmente, a ocupação do espaço midiático. 
Precisam de filiações, estabelecendo organizações, que se sustentam pelo mesmo sistema de crença política articuladora de ritos e mitos pela via dos procedimentos retóricos.
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AULA 1
A retórica política
A retórica além de ser a arte da persuasão pelo discurso, é também a teoria e o ensinamento dos recursos verbais da linguagem escrita ou oral  que tornam um discurso persuasivo para seu receptor. 
Segundo Aristóteles, a retórica é a arte de descobrir, em cada caso particular, os meios disponíveis de persuasão.
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AULA 1
A Persuasão política
A política só pode ser exercida na condição mínima de ser fundada sobre uma legitimidade adquirida e atribuída. 
O discurso político que tem legitimidade é aquele que não é arbitrário, mas consentido pela sociedade.
Mas isso não é suficiente, pois o sujeito político deve também se mostrar crível e persuadir o maior número de indivíduos de que ele partilha certos valores compatíveis com esses indivíduos. 
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AULA 1
A Persuasão política
É o que coloca a instância política na perspectiva de ter que articular opiniões a fim de estabelecer um consenso. 
O político encontra-se em dupla posição: deve convencer todos da pertinência de seu projeto político e fazer o maior número de cidadãos aderirem a esses valores. 
Ele deve, portanto, fazer prova da persuasão para desempenhar esse duplo papel de representante e de fiador do bem-estar social. 
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AULA 1
 A Persuasão Política
Persuasão é 
Convencimento?
AULA 1
Caso Concreto 2
Tema: Retórica
Leia, atentamente, o texto “A retórica e o espetáculo na política contemporânea” de Verbena Córdula, e responda: 
1) O que você entendeu por retórica? 2) Qual é a relação, que você entendeu,  entre retórica e espetáculo na política? Justifique as suas respostas.
O campo da comunicação de massa é imprescindível ao processo de construção da cidadania política. Mas, temos que considerar que essa comunicação é constituída por discursos e, conforme adverte o linguista e doutor em Comunicação Milton José Pinto (2002), "os modos de dizer podem ser explicitados em modos de mostrar, de interagir e seduzir" (p. 27). Pois bem. Os horários reservados à propaganda eleitoral gratuita na televisão e no rádio brasileiros podem ser ótimos objetos para esse exercício interpretativo sugerido por ele.
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AULA 1
Caso Concreto 2
Ainda de acordo com Pinto, é preciso ter à disposição conhecimentos e técnicas de análise linguística e semiótica adequados a essa tarefa. O pesquisador da Comunicação e Cultura Jesús Martín-Barbero (1987) adverte que pensar a política a partir da comunicação significa colocar em primeiro plano os ingredientes simbólicos e imaginários presentes nos processos de formação do poder. Por essas e outras razões nunca foi tão pertinente a discussão acerca das novas configurações das eleições na sociedade midiatizada como agora, quando das campanhas veiculadas na televisão e no rádio (e principalmente na primeira). É inegável a estreita relação entre política e comunicação de massa, sobretudo se pensarmos em termos de visibilidade dos chamados atores ou agentes políticos.
Conforme Michel Foucault (1984) não podemos reconstruir um sistema de pensamento a partir de um conjunto definido de discursos, mas esse conjunto deve ser tratado de modo a nos permitir ir além dos enunciados, buscando a intencionalidade do sujeito falante, sua atividade consciente, o que quis dizer. Nessas palavras de Foucault está embutida a advertência de que não existe discurso livre de ideologia. É importante percebermos que a produção discursiva interfere nas relações sociais estabelecidas entre os sujeitos, pois quem constrói enunciados objetiva aceitação, credibilidade.
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AULA 1
Caso Concreto 2
Comunicação ainda incipiente
Aristóteles, em sua Retórica, afirmou que mostrar-se a si mesmo sob determinado aspecto é fazer supor aos ouvintes que temos para com eles determinada disposição. Essas palavras de um filósofo da Antiguidade continuam tendo validade no mundo contemporâneo, posto que a retórica forma parte do jogo político. Na política contemporânea é condição sine qua non, entre outras questões, que os atores representantes da instância política joguem com as estratégias discursivas com a finalidade maior de construir o consenso. Para isso, em grande medida buscam parecer, conforme assinala o professor da Universidade de Paris-Nord Patrick Charaudeau (2005).
O professor da Universidade Federal das Bahia Wilson Gomes (2004) diz que o advento da televisão acarretou mudanças na atividades política atual e demandou a formação de novas competências e habilidades no campo político, salientando que, em consequência disso, as estratégias eleitorais pressupõem uma cultura política baseada principalmente no consumo de imagens públicas. Gomes afirma ainda que o processo de produção e de veiculação de imagens e de disputa pela imposição das imagens predominantes assumem posição de destaque na atividade estratégica da política.
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AULA 1
Caso Concreto 2
A despeito da importância e inegável potencial da comunicação de massa na sociedade contemporânea, sua utilização nos processos eleitorais pode ser considerada (com raras exceções) incipiente, pois a quase totalidade da ênfase é dada aos processos de fabricação de imagens e de discursos que, em última instância, são apresentados como produtos a serem consumidos pelo(a)s eleitore(a)s/consumidore(a)s.
A retórica e a poética
Esta constatação nos força a refletir, de modo pessimista, sobre a função que atualmente exercem os meios de comunicação de massa nesses processos eleitorais. Isto porque as discussões importantes em torno das propostas que deveriam ser estruturadas pelo(a)s candidato(a)s – tanto aos cargos legislativos como também aos executivos – perdem lugar para a exposição exacerbada de imagens/discursos pré-fabricados pois, como bem afirma Charaudeau (2005), "é preciso que o político saiba inspirar confiança, admiração, isto é, que saiba aderir à imagem ideal do chefe que se encontra no imaginário coletivo dos sentimentos e das emoções" (p. 81).
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AULA 1
Caso Concreto 2
Charaudeau nos adverte ainda que o discurso político não se pauta mais pelo conteúdo das ideias, mas pela simulação. O também teórico francês Gilles Lipovetsky (1990) complementa esse pensamento quando diz que o discurso político, ao ser construído de forma espetacular, torna-se menos enfadonho e, em consequência, aqueles que não se interessam por ele podem encontrar algum interesse – mesmo que seja no político, alimentado entre outras cosas pelo que ele denominou de o "show do homem na arena".
Considerando essas assertivas devemos atentar para
o fato de que, na contemporaneidade, o espetáculo assumiu tal protagonismo que torna-se imprescindível analisar as questões referentes ao campo político levando em conta essa característica. E para dar conta do simulacro muitas vezes os discursos políticos são apresentados cheios de recursos espetaculares, colocando em evidência a lógica dos meios de comunicação de massa e também a lógica da publicidade.
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AULA 1
Caso Concreto 2
Conforme o professor Wilson Gomes a retórica e a poética são imprescindíveis à política porque produzem representações, espetáculos teatrais. Ele diz ainda que enquanto a retórica produz um efeito persuasivo, a poética produz efeito emocional. Tomando como base essa afirmação e usando como exemplo a propaganda eleitoral gratuita na televisão podemos citar vários modelos de discursos espetacularizados.
Modos de dizer e de seduzir
Nesta reflexão, vejamos dois exemplos a partir de discursos veiculados em programas de José Serra (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT), candidatos à Presidência da República nas eleições 2010, ambos referentes à temática saúde pública.
58
AULA 1
Caso Concreto 2
Em um dos seus programas, o candidato "tucano" José Serra coloca em evidência uma suposta cidadã que venceu o câncer de mama por conta do tratamento dispensado por um hospital público, revelando, assim, conforme a propaganda do PSDB, o compromisso deste partido e do seu candidato com a saúde pública. As palavras e a ênfase dadas à imagem da referida cidadã/eleitora não fazem mais do que construir um cenário espetacular no qual, conforme a afirmação de Gomes, a retórica serve para persuadir e a poética para produzir emoção. Quantas pessoas/eleitore(a)s não se emocionam com aquela cena? Todavia, por outro lado, a história de êxito que ilustra a propaganda peessedebista contrasta com inúmeras histórias cotidianas contadas através dos próprios meios de comunicação de massa que mostram, em todo o país, tragédias vividas por cidadãos e cidadãs ao buscarem atendimento na rede pública de saúde. É bom lembrar que candidato Serra foi titular do Ministério da Saúde e o seu partido, o PSDB, governou por dois mandatos consecutivos. Mas o "tucano" prefere produzir um discurso espetacular em vez de explicitar para o(a) eleitor(a)/espectador(a) quais as estratégias que pretende utilizar para dotar o Brasil da infraestrutura em saúde pública de que o país necessita. No referido programa, toda a ênfase é dada ao caso da ex-paciente e à sua cura.
59
AULA 1
Caso Concreto 2
A candidata petista Dilma Rousseff também tomou a saúde como prioridade (para os seus discursos). Em um dos programas produzidos para sua campanha na Bahia, Rousseff enfatiza a construção do Hospital Estadual da Criança no município de Feira de Santana, local onde esteve presente e conversou com médicos sobre a importância da obra. É interessante salientar, no entanto que, embora muito pertinente, a construção de um único hospital infantil em um estado com 417 municípios pouco representa se levamos em conta as reais necessidades da população baiana, hoje estimada em aproximadamente 14 milhões de habitantes, sobretudo considerando os quase oito anos de mandato petista junto ao governo federal, somados a quase quatro no governo do estado. O programa dá saliência, também, às falas de supostos moradores da cidade sobre a satisfação em receber a referida obra e, em seu discurso, Rousseff ressalta que irá investir consideravelmente na saúde pública, coincidindo com o discurso do candidato adversário. Mas, da mesma forma, minimiza a principal discussão: suas estratégias para concretizar a promessa. É interessante ressaltar que no discurso a candidata petista "defende" enfaticamente o SUS, embora seu tratamento contra o câncer não seja realizado em um hospital do SUS, mas em uma das instituições hospitalares mais luxuosas e caras do país.
60
AULA 1
Caso Concreto 2
A retórica era tão importante na Grécia que os filósofos sofistas transformaram a educação dos meninos gregos na arte ou técnica de ensinar a falar bem, de construir discursos persuasivos. Na Roma Antiga também não foi diferente. As escolas de retórica se proliferaram e estavam comprometidas, principalmente, com a preparação de rapazes para a vida pública. E na atualidade a retórica não assume importância menor, principalmente com o auxílio dos meios de comunicação de massa e dos aparatos que os constituem. Em se tratando de discursos políticos, seu valor torna-se ainda maior, pois para persuadir os receptores aqueles que constroem os discursos políticos necessitam captar seu imaginário, construir inúmeras cenografias etc... 
Considerando os aspectos desta reflexão, pode-se inferir que a comunicação midiática deve ser analisada a partir de um processo de questionamento particular e constante, qual seja o do estatuto do sujeito nos variados espaços que ele possa ocupar – seja como produtor, como ator, como receptor ou mesmo como produtor/receptor. Portanto, torna-se imprescindível, conforme adverte Pinto, desvendar os modos de dizer, os modos de interagir e os modos de seduzir.
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AULA 1
Caso Concreto 2
O que você entendeu por retórica? 
A arte da palavra. Ela articula e organiza os recursos discursivos, no intuito de persuadir ou convencer um auditório de suas idéias ou proposições. 
Qual é a relação, que você entendeu,  entre retórica e espetáculo na política? Justifique as suas respostas.
A importância para política é fundamental, pois na disputa de poder entre os sujeitos políticos é o bom uso desta técnica que permitirá reconhecer e manipular as teses e estratégias no jogo pela busca de adesão e legitimidade.
62
AULA 1
Teorias Naturalistas
A doutrina não é pacífica acerca da origem da sociedade. 
Os pensadores se dividem, ora sustentando que a sociedade é fruto da própria natureza humana, ora defendendo que ela nada mais é do que um ato da vontade humana.
A Sociedade Natural, imaginada pela Teoria do Impulso Associativo Natural (Aristóteles, IV a.C.; Cícero, I a.C.; São Tomás de Aquino, Séc. XIII), seria decorrente da impossibilidade do homem viver isoladamente. 
Somente um ser de natureza superior ou um bruto buscaria viver isolado dos demais. A vida isolada é algo excepcional, como no caso dos deficientes mentais (corruptio naturae), dos "náufragos" retidos em uma ilha deserta (mala fortuna) ou dos santos eremitas que vivem em profunda união com a divindade (excellentia naturae).
66
AULA 1
Concepção Naturalista
ARISTÓTELES
A família é a associação natural e responsável por necessidades cotidianas do homem (animal político, por natureza).
União de várias famílias: ALDEIA
União de várias aldeias: CIDADE ou ESTADO
O Estado é uma forma natural de associação cuja natureza é a sua finalidade, ou seja, a perfeição e a auto-suficiência.
AULA 1
Contratualismo
Conjunto de teorias políticas que vêm a origem da sociedade e o fundamento do poder político num contrato, isto é, num acordo tácito ou expresso entre a maioria dos indivíduos, acordo que assinalaria o fim do estado natural e o início do estado social e político.
68
AULA 1
Concepções Contratualistas
Teoria Política Moderna e Teoria do Estado: Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau.
Ponto de partida: “estado de natureza” – ou seja, um momento pré-político no qual os seres humanos, iguais por natureza, viveriam em absoluta liberdade.
AULA 1
Hobbes (1588-1679)
A concepção de Hobbes (no século XVII), segundo a qual, em estado de natureza, os indivíduos vivem isolados e em luta permanente, vigorando a guerra de todos contra todos. “O homem é o lobo do homem". Nesse estado, reina o medo e, principalmente, o grande medo: o da morte violenta. 
Para se protegerem uns dos outros, os humanos inventaram as armas e cercaram as terras que ocupavam. Essas duas atitudes são inúteis, pois sempre haverá alguém mais forte que vencerá o mais fraco e ocupará as terras cercadas. A vida não tem garantias; a posse não tem reconhecimento e, portanto, não existe; a única lei é a força
do mais forte, que pode tudo quanto tenha força para conquistar e conservar.
(1651)
AULA 1
Hobbes (1588-1679)
O Estado com autoridade absoluta seria necessário para evitar a guerra entre os indivíduos – ORDEM GARANTIDORA DA SEGURANÇA
Leis:
NATURAIS “Tem sido leis desde toda eternidade”
CIVIS (positivas) “Foram tornadas leis pela vontade daqueles que tiveram o poder soberano sobre os outros”
AULA 1
Síntese da teoria de Hobbes
Rompe com a concepção de que o Estado é algo natural ou inerente ao ser humano.
Estado de natureza: ausência de ordem e de lei – guerra de todos contra todos como a atitude mais racional possível.
Concepção egoísta de ser humano
Uma sociedade sem Estado: seria como uma multidão submetida a uma guerra de todos contra todos, sendo necessário abandonar tal estágio para alcançar a paz em contraposição à guerra.
Passagem do estado de natureza para o estado civil como forma de colocar fim ao conflito.
72
AULA 1
Síntese da teoria de Hobbes
Indivíduos celebram o contrato social, abrindo mão de seus direitos, da liberdade e da igualdade do estado de natureza, em troca de paz e segurança.
O Estado, segundo Hobbes, colocaria fim à guerra e ao medo original de todos contra todos, submetendo a sociedade ao seu poder soberano. 
O Estado surge como alternativa para a paz, domando as paixões individuais tendentes a produzir a guerra.
73
AULA 1
Locke (1632-1704)
John Locke (séc. XVII) e a sua teoria liberal. 
Para esse autor, o Estado existe a partir do contrato social. Tem as funções que Hobbes lhe atribui, mas sua principal finalidade é garantir o direito natural da propriedade.
O poder civil nasce do consentimento dos indivíduos para o controle da anarquia e da guerra (PODER DA MAIORIA)
O estado de natureza, regido por leis naturais, seria de paz absoluta, contudo, falta um poder imparcial (equivalente divino) para mediar os conflitos individuais.
AULA 1
Síntese da teoria de Locke
Refuta a teoria do direito divino dos reis
Defesa da liberdade e da tolerância. O governo depende de consentimento dos governados.
Estado de natureza ideal: perfeita liberdade e igualdade. Inconvenientes do Estado de natureza levam ao estado civil.
Contrato social: conservação dos direitos naturais. 
Quando o governo viola a lei estabelecida e atenta contra os direitos naturais deixa de cumprir sua finalidade, tornando-se ilegítimo e degenerando-se em tirania.
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AULA 1
O DIREITO DE RESISTÊNCIA EM LOCKE:
Locke afirma que, quando o Executivo e o Legislativo violam a lei estabelecida e atentam contra a PROPRIEDADE, o governo deixa de cumprir o fim a que havia sido destinado, tornando-se ilegal e degenerando em TIRANIA – o que define a tirania é o EXERCÍCIO DO PODER PARA ALÉM DO DIREITO, VISANDO O INTERESSE PRÓPRIO E NÃO O BEM PÚBLICO OU COMUM.
A violação da propriedade (vida, liberdade e bens) e o uso contínuo da força sem amparo legal colocam o GOVERNO em ESTADO DE GUERRA contra a SOCIEDADE e os GOVERNANTES em rebelião contra os GOVERNADOS – nestas condições o povo é investido do legítimo DIREITO DE RESISTÊNCIA à OPRESSÃO e à TIRANIA.
A DOUTRINA DA LEGITIMIDADE DA RESISTÊNCIA AO EXERCÍCIO ILEGAL DO PODER, reconhece ao povo, quando este não tem mais a quem recorrer para sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição do governo rebelde – tal doutrina remontava ao período das Guerras de Religião na Europa e ao ser resgatada e revalorizada por Locke no Segundo Tratado sobre o governo civil, transformou-se no “motor” das revoluções liberais que eclodiriam posteriormente na Europa e na América.
O Estado de guerra assim imposto ao povo pelo governo, configura a DISSOLUÇÃO DO ESTADO CIVIL e o retorno ao ESTADO DE NATUREZA – a inexistência de um juiz comum faz com que o impasse só pode ser decidido pela força.
AULA 1
Rousseau (1712-1778)
A concepção de Rousseau (no século XVIII), segundo a qual, em estado de natureza, “os indivíduos vivem isolados pelas florestas, sobrevivendo com o que a Natureza lhes dá, desconhecendo lutas e comunicando-se pelo gesto, pelo grito e pelo canto, numa língua generosa e benevolente”. 
Esse estado de felicidade original, no qual os humanos existem sob a forma do bom selvagem inocente, termina quando alguém cerca um terreno e diz: "É meu". 
A divisão entre o meu e o teu, isto é, a propriedade privada, dá origem ao estado de sociedade, que corresponde, agora, ao estado de natureza hobbesiano da guerra de todos contra todos. 
AULA 1
O estado de natureza de Hobbes e o estado de sociedade de Rousseau evidenciam uma percepção do social como luta entre fracos e fortes, vigorando a lei da selva ou o poder da força. Para fazer cessar esse estado de vida ameaçador e ameaçado, os humanos decidem passar à sociedade civil, isto é, ao Estado Civil, criando o poder político e as leis. 
A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse natural de bens, riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro – o soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando-se autoridade política. O contrato social funda a soberania.
AULA 1
A Teoria de Rousseau
Rousseau, em contraposição às concepções hobbesianas, pensa uma sociedade pré-estatal como harmônica e buscará delinear o retorno ao momento pré-estatal.
“O que o homem perde pelo contrato social é a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo quanto deseja e pode alcançar; o que ganha é a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui (importa distinguir a liberdade natural, que tem por limites apenas a força do indivíduo, e a liberdade civil, que é limitada pela vontade geral, e ainda entre posse, que não passa de efeito da força ou do primeiro ocupante, e a propriedade, que só pode fundar-se em título positivo)” (Rousseau, O Contrato Social).
79
AULA 1
A Teoria de Rousseau
“Bem compreendidas, essas cláusulas se reduzem todas a uma só, a saber, a alienação total de cada associado, com todos os seus direitos, a toda a comunidade. 
Pois, em primeiro lugar, cada qual dando-se por inteiro, a condição é igual a todos, e, sendo a condição igual para todos, ninguém tem interesse em torná-la mais onerosa para os demais” (Rousseau, O Contrato Social).
80
AULA 1
A Liberdade em Rousseau
Obedecer à lei que se prescreve a si mesmo, é a conjugação perfeita entre liberdade e obediência, é um ATO DE LIBERDADE 
“Um povo só será livre quando tiver todas as condições de elaborar suas leis em um clima de igualdade, de tal modo que a obediência a essas mesmas leis signifique, na verdade, uma submissão à deliberação de si mesmo e de cada cidadão, como parte do poder soberano, o que significa dizer, uma submissão à VONTADE GERAL e não à vontade de um indivíduo em particular ou de um grupo de indivíduos.” 
AULA 1
O Contrato Social
O contrato social é um acordo de vontades que significa que a sociedade humana é originada e construída de modo artificial ou não natural, ou melhor, como produto de um acordo realizado pelos os homens enquanto expressão e manifestação da sua racionalidade e da sua vontade. 
Sendo assim, a sociedade nasce conjuntamente com o próprio Estado, sendo este a condição para a sua própria existência e permanência. 
O Estado é então uma instituição necessária para que os humanos respeitem o próprio contrato e convivam uns com os outros realizando o Bem Comum.
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AULA 1
Caso Concreto 3
Leia, atentamente, os trechos abaixo e defina o que vem a ser a categoria homem civil para Rousseau.
“O homem nasce livre, e por toda a parte encontra-se a ferros. O que se crê senhor dos demais não deixa de ser mais escravo do que eles. (...) 
A ordem social, porém, é um direito sagrado que serve de base a todos os outros. (...) 
Haverá sempre uma grande diferença entre subjugar uma multidão e reger uma sociedade. Sejam homens isolados, quantos possam ser submetidos sucessivamente a um só, e não verei nisso senão um senhor e escravos, de modo algum
considerando-os um povo e seu chefe. Trata-se, caso se queira, de uma agregação, mas não de uma associação; nela não existe bem público, nem corpo político.” (Jean-Jacques Rousseau, Do Contrato Social. [1762]. São Paulo: Ed. Abril, 1973, p. 28,36.).
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AULA 1
Caso Concreto 3
“O homem natural é tudo para si mesmo; é a unidade numérica, o inteiro absoluto, que só se relaciona consigo mesmo ou com seu semelhante. 
O homem civil é apenas uma unidade fracionária que se liga ao denominador, e cujo valor está em sua relação com o todo, que é o corpo social. 
As boas instituições sociais são as que melhor sabem desnaturar o homem, retirar-lhe sua existência absoluta para dar-lhe uma relativa, e transferir o eu para a unidade comum, de sorte que cada particular não se julgue mais como tal, e sim como uma parte da unidade, e só seja percebido no todo.” (ROUSSEAU, J. J. Emílio ou da Educação. São Paulo: Martins Fontes, 1999)
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AULA 1
Caso Concreto 3
Defina o que vem a ser a categoria homem civil para Rousseau? 
Para Rousseau, o homem civil  seria o ser livre e autônomo que rompeu com a escravidão de seus desejos, e passou, a partir do contrato social, a viver de acordo com a lei proveniente da vontade geral.
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AULA 1
Conceito de Estado
Ordem jurídica soberana que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território. Deriva do latim “status” = estar firme.
Kelsen: ordem coercitiva que regulamenta a conduta humana, projetada sobre um determinado território e um determinado povo. 
Comunidade em que indivíduos vivem em determinado território sob um governo independente e eficaz.
AULA 1
Conceito de Estado
Trótski: “todo Estado funda-se na coação”.
Max Weber: O Estado, do mesmo modo que as associações políticas que lhe foram historicamente precedentes, é uma forma de dominação de homens sobre homens, fundada em um meio de coação legítima (considerada legítima, aceita). Para que ele subsista, as pessoas dominadas têm que se submeter à autoridade invocada pelas que dominam no momento dado. Assim, o Estado seria uma associação de dominação institucional, que dentro de determinado território pretendeu com êxito monopolizar a coação física legítima como meio de dominação e reuniu para este fim, os meios materiais de organização. 
AULA 1
Teorias sobre a origem do Estado
Origem familiar: poder político é derivado do núcleo familiar. Autoridade suprema é ascendente mais velho. Sociedade política se constituiria como ampliação da esfera familiar de poder
Origem patrimonial: Estado como garantidor da propriedade. Platão: o Estado se originaria da união de profissões econômicas distintas. O Estado nasceria das necessidades dos homens e do benefício da divisão do trabalho.
Origem violenta: o poder político é resultante primariamente da dominação de um grupo social sobre os demais pelo emprego da força. Inspiração no evolucionismo de Charles Darwin. “Seleção natural” das forças sociais. Conceito de força inclui não só a violência mais também a força.
AULA 1
Teorias sobre a origem do Estado
Formação natural: Estado é fenômeno natural, próprio da natureza gregária do ser humano. Aristóteles: o homem é um animal político. Platão: analogia entre o Estado e o organismo individual humano.
Formação contratual: plasmada na ideia de consentimento entre os governados para a formação do poder político do Estado. Hobbes, Locke e Rousseau: a ideia de contrato social. Distinção entre estado de natureza e estado civil. Diferenças entre o contratualismo em Hobbes (negativo – legitimação do absolutismo) e o de Rousseau (positivo – democrático – instauração da igualdade social).
AULA 1
Teorias sobre a origem do Estado
O Estado como dominação de classe: tradição socialista e marxista. O Estado é produto da sociedade ao chegar a uma determinada fase de desenvolvimento. O Estado seria então o instrumento para proteger os interesses da classe dominante. 
O Estado como fenômeno histórico e social: o Estado seria produto de circunstâncias e relações históricas, a partir da relação entre sociedade e de indivíduo e também da maneira como o poder político se legitimaria e se manifestaria.
AULA 1
Evolução do Estado
Estado Teocrático ou Politeísta (Antiguidade oriental): antigas civilizações do Oriente e do Mediterrâneo (3.000 a.C.). Confusão entre família, religião, Estado e organização econômica. Natureza unitária: inexiste divisão interior da sociedade política. Religiosidade: autoridade do governante e normas de comportamento eram expressões do poder divino.
Estado Antigo (Pólis grega): Cidades–Estado. Ideal de auto-suficiência. Elite com intensa participação nas decisões do Estado nos diversos assuntos públicos. Isonomia (“igualdade de todos perante a lei.”), isotimia (livre acesso ao exercício das funções públicas) e isagoria (o direito de palavra de todos na Ágora. 
AULA 1
Evolução do Estado
Estado Antigo (Civitas romana): base familiar da organização e noção de superioridade do povo. Magistrados como governantes superiores. Concentração política. Império Romano. 
Estado Medieval (Sistema feudal europeu): Cristianismo (aspiração à universalidade). Multiplicidade de centros de poder. Coexistência entre o poder da Igreja e o poder temporal. Sistema social decorrente de uma organização administrativa e militar ligada à situação patrimonial. Soberano, Suserano e Vassalos. Fragmentação do poder. Relação de dependência pessoal.
AULA 1
Evolução do Estado
Estado Moderno: formação do Estado Nacional. Articulação do povo ao território e à soberania representada pelo monarca absoluto. Distinção entre Estado e sociedade civil. Absolutismo monárquico: identificação plena do Estado à pessoa do Príncipe. Desvalorização fundiária pelo metalismo inerente ao Mercantilismo e Grandes Navegações
Estado Contemporâneo (Estado liberal, Gendarme, de Polícia): a partir da Revolução francesa (1789). Soberania nacional. Ascensão social da burguesia como classe dominante. Limitação do poder estatal e garantia dos direitos individuais. Surgimento do Estado de Direito como governo das leis. Igualdade formal. Liberdade civil. Consolidação do sistema capitalista. 
AULA 1
Evolução do Estado
Estado Contemporâneo (Estado social, Intervencionista, Providência, Welfare State): a partir do final da primeira guerra mundial. Fruto do abismo social promovido pelo incremento do Liberalismo e da Revolução Industrial. Surge o Estado como garantidor do bem estar social por meio de prestações positivas. Direitos sociais. Igualdade material. Intervenção estatal na economia.
Estado Contemporâneo (Estado pós-social, Neoliberal, Gerencial, Gestor, Globalizado): Estado mínimo e privatizações. Novas formas de regulamentação e execução de políticas sociais.
AULA 1
Causas de formação de Estados
Formação originária: a partir de agrupamentos humanos não integrados em qualquer Estado. 
Formação derivada: a partir de Estados preexistentes, por fracionamento ou união de Estados. 
Outros processos: formação atípica. Alemanhas Ocidental e Oriental no século XX. Vaticano. Israel.
AULA 1
março de 15
99
Origem do Estado - Teorias
CONTRATUALISTAS
TEORIAS
NÃO-CONTRATUALISTAS
NATURALISTAS
ORIGEM FAMILIAR
ORIGEM VIOLENTA
PATRIARCAL
MATRIARCAL
FORÇA
CONQUISTA
ORIGEM PATRIMONIAL
AULA 1
99
março de 15
100
Evolução do Estado
ANTIGÜIDADE REMOTA
ANTIGÜIDADE CLÁSSICA
ESTADO MEDIEVAL
ESTADO MODERNO
ESTADO CONTEMPORÂNEO
ESTADO LIBERAL CLÁSSICO (NÃO-INTERVENTOR)
WELFARE STATE (INTERVENTOR, PROVIDÊNCIA)
ESTADO NEOLIBERAL (GESTOR, GERENCIAL)
AULA 1
100
 
Aplicação Prática
101
AULA 1
101
Caso Concreto 4
Analise a expressão "monopólio legítimo da força" utilizada por Max Weber para caracterizar o Estado, a partir da leitura de trecho do texto “Estado em questão” de Maysa Rodrigues.
“(...) Max Weber e o conceito de Estado
A definição weberiana de Estado é talvez uma das mais famosas na Sociologia. No artigo Política como Vocação, o autor afirma que o Estado é "uma relação de homens que dominam seus iguais,
mantida pela violência legítima (isto é, considerada legítima)". Assim, na conceituação de Weber, o Estado é um aparato administrativo e político que detém o monopólio da violência legítima dentro de um determinado território, a partir da crença dos indivíduos em sua legitimidade.
Dois pontos são fundamentais na descrição do autor. Primeiramente, o monopólio estatal da violência legítima não significa que apenas o Estado fará uso da força, pois indivíduos e organizações civis poderão eventualmente fazer uso da violência física. Entretanto, apenas o Estado é autorizado pela sociedade para usá-la com legitimidade. Assim, organizações como a máfia italiana ou o crime organizado no Brasil são exemplos de grupos que fazem uso da força sem, todavia, terem o apoio do resto da sociedade para fazê-lo, de forma que a legitimidade do Estado não é questionada. Já, os grupos separatistas que fazem uso da violência para organizar revoluções de cunho político podem, eventualmente, colocar a legitimidade estatal em questão se obtiverem o apoio da maior parte da população.
102
AULA 1
Caso Concreto 4
103
Em segundo lugar, essa autorização social do uso da força ocorre porque os dominados aceitam obedecer a seus dominantes. Essa aceitação, por sua vez, tem três possíveis justificativas. Pode ocorrer devido a uma "autoridade do passado eterno, ou seja, dos costumes consagrados por meio de validade imemorial", chamada de dominação tradicional. Outra possibilidade é que ocorra devido ao carisma de um líder (dominação carismática). E, como conhecemos nos Estados modernos, ocorre através da legalidade, ou seja, é "fundada na crença da validade legal e da competência funcional baseada em normas racionalmente definidas" (dominação legal).
Apesar das particularidades, nos três casos a dominação fundamenta-se exclusivamente na crença da maior parte das pessoas que fazem parte de um determinado Estado na legitimidade do poder daqueles que a domina. Essa definição implica que um Estado não mais se manteria se, do dia para a noite, a parcela majoritária das pessoas que sustentam a sua existência deixasse de acreditar na validade do sistema que a governa, passasse a fazer uso da força e a acreditar que pode fazê-lo legitimamente. 
AULA 1
Caso Concreto 4
104
Sendo assim, a instituição estatal somente se sustenta com a aceitação e com o apoio dos dominados. Weber, de certa maneira, se amparara em um elemento psicológico para justificar a dominação estatal. Por causa disso, o Estado tem que se apresentar permanentemente aos cidadãos como legítimo, para manter a crença em sua validade.
No caso do Estado burocrático, sustentado pela dominação legal, estabeleceu-se uma série de normas e limites para a legitimidade do uso estatal da violência. Dessa forma, a força física só poderá ser usada dentro de determinados preceitos, sob o risco de que o Estado perca sua legitimidade se desafiá-los. No Estado contemporâneo, a instituição de leis que prescrevem as situações em que a violência poderá ser usada estabelece uma boa possibilidade de que todas as pessoas sejam tratadas da mesma forma e que tenham algum controle sobre as determinações que os rege. Esses elementos foram fundamentais para que o conjunto da sociedade abrisse mão do uso legítimo da violência e se submetesse a dominação estatal na sociedade moderna. (...).”Disponível em:
<http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/34/artigo213698-2.asp>
AULA 1
Padrão
105
Segundo a teoria weberiana, deve-se entender que o monopólio da violência se apresenta como condição necessária, mas não inteiramente suficiente, para que o Estado exerça seu poder de império sobre pessoas ao longo de um determinado tema. 
É nesse sentido que deve ser analisada a teoria da legitimidade weberiana: 'O Estado só pode existir sob a condição de que os homens dominados se submetam à autoridade continuamente reivindicada pelos dominadores' (Weber, 1982:73)" (GUANABARA, op. cit., p.3).
AULA 1

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