Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 TÉCNICAS DE MANCHAS DE TINTA PROF. DR. JOÃO CARLOS ALCHIERI UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 2 Índice I. Introdução e Histórico 4 II. Histórico do teste de Psicodiagnóstico de Rorschach 5 III. Medidas Psicológicas 6 V. Especificidade dos Estudos de Validade e Precisão em Rorschach 10 V.1. Estudo de Validade. 11 V.2. Validade de Critério. 15 V.3. Estudos de Precisão. 16 V.4. Tipos de normas utilizadas. 17 VI. Localizações 18 VII. Determinantes 18 VIII. Conteúdos 19 X. A Técnica de Administração 22 X.1. Material Utilizado 22 X.2. Local 22 X.3. Posição do Examinador/Examinando. 23 3.1. Composição 23 3.2. Aplicação 23 X.4. Contato Inicial 24 X.5. Instruções 25 X.6. Anotações 25 X.7. Fases do Exame. 25 7.1. Fase de Associação Livre 26 7.2. Fase do Inquérito 26 7.3. Pesquisas Complementares 29 X.8. Listas de Respostas Populares – P. 30 X.9. Simbologia Adotada 30 X.10. Porcentagens Médias 32 X.11. Folha de Cálculo 33 X.12. Categoria de Classificação e Significações 34 12.1. Localização 35 12.1.a Respostas G(globais) 35 12.1.a.1. G Primárias 35 12.1.a.2. G Combinatórias 35 12.1.a.3. G Confabuladas 36 12.1.a.4 G Contaminadas 36 12.1.b. Global Cortada. 36 12.1.c. Resposta de Detalhe – Dom. 36 12.1.D. Resposta de Pormenor Inibitório – Pi 37 12.1.e. Resposta de Detalhinho – Dd 37 12.1.f. Resposta de Detalhinho Externo – Dde 37 12.1.g. Resposta com Espaço – Gs, Ds, Dds 37 12.1.h.Tipo de Apercepção – Ap 38 12.1.i. Tipo de Sucessão – Ts 39 12.2. Determinantes 40 12.2.a. Resposta de Forma - F+, F-, F 40 12.2.b. Movimento Humano – M 42 12.2.c. Movimento Animal – FM 44 12.2.d. Movimento Inanimado – Fm, mF, m 46 12.2.e. A relação M>FM>m 47 12.2.f. A relação G:M 47 3 12.2.g. Resposta de Cor – FC, CF, C 47 12.2.h. Outras Respostas Cromáticas(Cn,Csim,F-C, F/C). 51 12.2.i. Tv: Tipo de Vivência – M:C 52 12.2.j. Respostas Tridimensionais – FK 54 12.2.k. Difusão – KF, K 55 12.2.l. Bidimensão – Fk, kF, k 56 12.2.m. Textura – Fc, cF, c 57 12.2.n. Cor Acromática – FC´,C´F, C´. 57 12.2.o. Respostas F(C) de Binder 58 12.2.p. Relação (FM + m) : (c + C´) 58 12.3. Conteúdo 60 12.3.a. Respostas de Formas Animais – A e Ad 60 12.3.b. Respostas Humanas – H, (H) e Hd 61 12.3.c Respostas Populares – P 61 12.3.d. Respostas Originais – O 61 12.3.e. Outros Conteúdos 62 12.4. Amplitude das Categorias de Conteúdo 63 12.5. Fenômenos Especiais 63 12.5.a. Consciência da Interpretação 64 12.5.b. Crítica do Sujeito e do Objeto 65 12.5.c. Choque Cromático 65 12.5.d. Choque de Espaço em Branco 66 12.5.e. Choque Acromático 66 12.5.f. Descrições 66 12.5.g. Acentuação da Simetria 67 12.5.h. Perseveração 67 12.5.i. Pedantismo 68 12.5.j. Respostas ou 68 12.5.k. Respostas Infantis 68 12.5.l. Auto-Referências 68 12.5.m. Valorações 69 12.5.n. Confabulações 69 12.5.o. acentuação do Centro ou dos Lados . 69 12.5.p. Ilusão de Semelhança . 69 12.5.q. Negações e Respostas Interrogativas 69 12.5.r. Alterações Mnêmicas das Palavras 70 12.5.s. Interpretações Invertidas 70 12.5.t. Movimentação da Lâmina 70 12.5.u. Respostas EQ de Guirdham 70 12.5.v. Estupor entre os Símbolos Sexuais 71 12.6. O Simbolismo das Figuras 71 12.6.a. Lâmina I: Adaptabilidade ao Meio Social Imediato 73 12.6.b. Lâmina II: Ameaça à Culpabilidade Sexual 74 12.6.c. Lâmina III: Relações Interpessoais – Normalidade 75 12.6.d. Lâmina IV: Interdição Paterna – Lei da Cultura 76 12.6.e. Lâmina V: Ego – Evidência 77 12.6.f. Lâmina VI: Sexualidade 78 12.6.g. Lâmina VII: Figura Materna 78 12.6.h.Lâmina VIII: Afetos em Fase de Sociabilização, Infância. 79 12.6.i. Lâmina IX: Sublimação 81 12.6.j. Lâmina X: Relacionamento com o Meio Social mais amplo.. 82 XI. Casos Ilustrativos 83 XI.1. Personalidade Psicopática 83 4 XI.2. Conflito e Defesa na Personalidade Normal 90 XII. Listas de Exercícios 105 XII.1. Exercícios de Classificação 105 XII.2. Questionários 114 XIII. Casos Clínicos 116 XIII.1. Caso A.L. 116 XIII.2. Caso Jonas . 123 XIII.3. Caso Lúcia 129 XIV. Bibliografia 133 5 RORSCHACH I. Introdução e histórico Título Original: “ Psychodiagnostik” O Rorschach foi elaborado por H. Rorschach, psiquiatra suíço e foi publicado em 1921, e reeditado várias vezes até o momento. O material do teste é impresso na Suíça, por Hans Hüber, Medical Publisher, já no Brasil, ele é distribuído por grande parte das editoras de materiais psicológicos. O objetivo da técnica é diagnosticar a personalidade, em seus padrões de organização, orientação, estratégias defensivas, bem como de quadros psicopatológicos, em crianças, adolescentes e adultos. Também utilizada para detecção da dinâmica interpessoal (administração consensual), uso clínico, terapêutico, em seleção profissional, na área forense e prognóstico terapêutico. É um instrumento que usa estímulos visuais pouco estruturados e indefinidos que possibilitem a demonstração da capacidade de organização perceptual e assim, entendida a projeção de aspectos internos do examinando. O teste de Rorschach se organiza em dez pranchas, de 18,5 cm por 25 cm cada uma, onde cada prancha apresenta um grande borrão de tinta de contorno pouco definido, de textura variável e perfeitamente simétrica em relação ao eixo vertical. Cinco das pranchas são em preto e branco; duas apresentam além do preto e branco a cor vermelha e três são policromadas. As pranchas se organizam em uma ordem determinada de apresentação de I a X. O teste tem aplicação individual e dura aproximadamente uma hora. Pode também ser realizada a administração consensual com casais ou grupos. O examinador coleta os dados anotando o tempo de reação, duração e final de cada lâmina bem como de sua posição e procede a um inquérito, em relação às associações realizadas sobre cada cartão. A aplicação descrita por Rorschach (1974, p.16) prescreve que o examinador apresente as pranchas uma a uma ao examinando, perguntando-lhe: “O que poderia ser isso?”. É permitido ao examinando manipular as pranchas, como lhe aprouver, sendo interdita apenas a contemplação das mesmas de uma distância superior ao comprimento 6 do braço estendido. Rorschach propunha um protocolo para o exame dos resultados dos seus testes seguindo os quatro conjuntos de perguntas abaixo: 1) Qual o número de respostas? Qual a duração do tempo de reação? Quantas recusas houve nas diferentes pranchas? 2) A resposta foi determinada apenas pela forma das imagens fortuitas ou, também, por uma sensação de movimento ou, ainda, pela cor das figuras? 3) A imagem é percebida e interpretada como um todo ou em partes e nesse caso em que partes? 4) O que foi visto pelo indivíduo? A avaliação é feita em função de três elementos: em primeiro lugar verifica-se o tipo de apreensão, isto é, qual a porção da prancha que foi interpretada (apreensão global, de uma parte ou de um detalhe); em segundo, avalia-se o determinante, ou seja, a qualidade perceptiva que condicionou a resposta (forma, cor, etc); e em terceiro, leva-se em conta o conteúdo, a interpretação dada à forma (animal, objeto) e a originalidade da resposta. Todos esses elementos são contabilizados em cálculos visando a totalização de alguns índices. Atualmente existem vários critérios utilizados para interpretaçãodos dados coletados pelo teste de Rorschach. Cunha (1993, pp. 181-182) considera que os dois principais sistemas de interpretação usados são os de Klopfer e de Exner. O de Klopfer é muito bem definido para classificação das respostas e apresenta uma boa fundamentação para um levantamento de hipóteses interpretativas. Ele existe também sob forma informatizada, o que justifica a sua grande popularidade. O sistema de Exner apresenta ótimas qualidades psicométricas, e por ser mais recente, é mais divulgado do âmbito da pesquisa. II. Histórico do Teste de Psicodiagnóstico de Rorschach H. Rorschach (1884-1922), um suíço nascido na Vila Arbon e criado em Schaffhausen. Na juventude, Rorschach manifestava aptidões diversas. Ele tinha capacidades excepcionais nas áreas humanas, científicas e artísticas, mas resolveu dedicar seus estudos a Medicina. Freqüenta o curso de Medicina nas universidades de Neuchâtel, Berlim, Berna e Zurique, formando-se em 1909. Especializou-se em Psiquiatria na 7 Universidade de Zurique e fundou a Sociedade Psicanalítica de Zurique. Sua posição em relação à doutrina freudiana foi sempre muito heterodoxa. Rorschach considerava que o dogmatismo psicanalítico correspondia a uma castração do espírito humano. Depois de formado, Rorschach trabalhou como psiquiatra de 1915 a 1922 quando desenvolveu seus estudos com manchas. A utilização de manchas para avaliação psicológica não foi uma invenção de Rorschach, mas de Justino Kerner (1857) que utilizava uma técnica semelhante para classificar pelas respostas as pessoas. Alfred Binet e Theodor Simon também avançaram estudos nesse sentido, mas coube a Rorschach o grande desenvolvimento do instrumento como material projetivo. Foi ao tomar contato com o trabalho de Szymon Hens, que testou a interpretação de manchas em pessoas normais e psicóticas, que Rorschach interessou-se por este processo. O primeiro aspecto que lhe chamou a atenção foi o fato de algumas pessoas identificarem a mancha de uma forma global e outros se prendiam nos detalhes. A partir daí, Rorschach passou a desenvolver experimentos com pacientes esquizofrênicos, neuróticos e a comparar à atribuição dos significados por eles feitos. Em 1918, o próprio Rorschach confeccionou e elaborou as lâminas do teste, que passou a experimentar no Hospital de Herisau. A amostra de que se serviu para o trabalho experimental foi de 288 doentes mentais e 117 indivíduos normais, incluindo estudantes de medicina, enfermeiros, crianças e pacientes adultos. Iniciou com várias lâminas em preto e vermelho; posteriormente, reduziu a 15 em cores preto, vermelho e policromáticas. Finalmente em 1920 estava com as lâminas cromáticas. Em 1922 seu trabalho foi reconhecido como de valor científico, quando apresentava perante a Sociedade de Psicanálise uma interpretação às cegas e à luz do que passou a se denominar Psicodiagnóstico de Rorschach, de um caso do paciente de Oberholzer, em tratamento psicanalítico, cujo diagnóstico interpretado por Rorschach, baseado na nova técnica, coincidiu com o diagnóstico clinico de Oberholzer. A primeira edição completa e perfeita da obra, após uma série de dificuldades, veio a público no fim de junho de 1921. Por ocasião de sua morte, conta-se que Rorschach estava elaborando novas teorias e tentando resultado sobre pessoas de nível superior. Houve muitas dificuldades para se conseguir publicar a obra de Rorschach. A primeira edição completa e perfeita da obra veio ao público em junho de 1921. E nove meses depois Rorschach faleceu. O seu 8 método, contudo, continuou a ser estudado por seus colegas Emil Oberholzer e Eugene Bleuler. Todavia, foi com o impulso de Margarida Loosli-Usteri que o Rorschach ultrapassou da língua alemã. Em 1936 surge nos Estados Unidos a Revista Rorschach Research Exchange. No ano de 1943 houve o primeiro Congresso de Rorschach em Munsterlingen. Em 1952 foi fundada a Sociedade Internacional de Rorschach. Cronologia da utilização do Rorschach no Brasil 1930 - O teste é introduzido por Aníbal Silveira em São Paulo e José Leme Lopes no Rio de Janeiro. Ambos eram psiquiatras e usavam o teste apenas no campo clínico. 1945 - Com o pós-guerra, o Rorschach passou a ser utilizado em exames de avaliação psicológica em geral. 1948 - É publicado o primeiro artigo que temos notícia sobre o uso do Rorschach no Brasil, na Revista de Neurobiologia. 1950 - Ginsberg publica na Revista de Neurobiologia um estudo com 100 jovens baianos. Será a primeira de uma séria de publicações desse autor sobre o teste de Rorschach. 1955 - Após a APA divulgar recomendações para a utilização de testes psicológicos começam a ser feitas as primeiras pesquisa sobre o Rorschach no Brasil. 1964 - É publicado a obra de A. Silveira Prova de Rorschach: Elaboração do Psicograma, pela tipografia Edanee. 1966 - A pesquisa sobre o Rorschach se encontra bastante desenvolvida e acontece as Primeiras Jornadas brasileiras sobre Psicodiagnóstico de Rorschach, onde é lançada a tarefa de elaborar uma norma brasileira para utilização do teste. 1967 - Em decorrência das Jornadas do ano anterior, é publicado um volume com vários estudos inéditos sobre o uso do Rorschach na realidade brasileira, pelo Editora CEPA. É publicada no Rio de Janeiro a obra Teoria e Prática do Teste de Rorschach de I. Adrados. 1971 - É publicada a obra O Método de Rorschach de C. Sousa pela Editora Vetor. 1975 - André A. Jacquemin publica livro sobre a utilização do Rorschach em crianças brasileiras. 9 III. Medidas Psicológicas Dentro da evolução da técnica de Rorschach no campo da Psicologia, podemos observar que ele iniciou dentro de uma concepção basicamente clínica e dinâmica, com uma preocupação em avaliar a personalidade no seu conjunto. Com o desenvolvimento tecnológico, e também a Psicologia, especialmente a norte-americana, na grande maioria de suas escolas, foi levada ao uso da quantificação e da estatística no estudo do comportamento humano. Isto resultou em grande valia para o surgimento de grandes pesquisadores norte-americanos, como Watson, Skinner, que para o mundo inteiro se tornaram expoentes na Psicologia, contribuindo com o seu prestígio científico. Mas foi em função desse “... ter que acompanhar a evolução técnica e científica... ”, que surgiram os nomes de pesquisadores como Beck, Pietrowski e Klopfer liderando as escolas que, se por um lado detinham a fundamentação clínica (Rappaport, Schaffer, Schachtel) através de formação recebida em centros europeus, por outro, tinham que dar um cunho quantitativo aos trabalhos com o Rorschach nos Estados Unidos. Nos últimos anos, o que se observa é que existem autores como Klopfer, Hertz, que se voltaram cada vez mais para a linha quantitativa - qualitativa, ou seja, passaram a ver com uma maior profundidade os aspectos não só quantitativos do Rorschach na avaliação de uma personalidade, mas, principalmente, tomando todos os dados numa tentativa de visão integrada da pessoa. Pode ser essa uma das razões porque nos últimos tempos o Rorschach nos EUA, inclusive, tem passado a tomar enfoques altamente dinâmicos, sem deixar de lado a fundamentação científica. O Rorschach nessa visão integrativa, realmente polariza muita atenção e cuidado, pois são muitas as variáveis qualitativas, tornando-se assim, tarefa árdua e de difícil classificação e categorização. São vários os fenômenos específicos. Cada resposta é geralmente classificada quanto à sua localização, seus determinantes, seu conteúdo, popularidade-originalidade e nível formal; classificadas as respostas levantam-se as freqüências e são feitos vários cálculos para chegar a determinadosindícios; a interpretação leva em conta aspectos quantitativos e qualitativos. O psicólogo ao elaborar a interpretação de um protocolo de Rorschach, com finalidade clínica, seletiva ou mesmo de peritagem, deverá levar em consideração alguns aspectos de extrema importância: não 10 é um instrumento para avaliar apenas anomalias de personalidade, por isso, deverá o examinador procurar outros dados que indiquem algumas funções da personalidade consideradas dentro do normal, mesmo que o quadro não seja promissor; a personalidade é um todo, estrutural, dinâmico, funcional e como tal. Os elementos quantitativos são sem dúvida, grande suporte nesse processo de diagnóstico, mas que sejam bem relacionados entre si e integrados aos aspectos qualitativos apresentados no próprio método. Para tanto, será imprescindível o recurso a outros instrumentos de avaliação, entrevista psicológica, outros testes, a conduta da pessoa examinada e sua vida pregressa. O psicólogo deverá ter sempre presente que está trabalhando com um instrumento muito sensível à coleta de dados quantitativos do examinando para estudos de pesquisa, mas também extremamente flexível para a avaliação psicodinâmica de personalidade. Quando H. Rorschach apresentou seu trabalho à Sociedade de Psicanálise da Suíça, não o considerava um teste, mas um método para o diagnóstico da personalidade. Graças às pesquisas de Hertz, Beck e ao empenho de Klopfer em dar uma estruturação quantitativa a essa técnica, o Rorschach passou a ser usado como instrumento de pesquisa e facilmente adaptado a tratamentos estatísticos. Entretanto, sabe-se que na avaliação da personalidade existem elementos que não podem ser avaliados simplesmente pelo padrão estímulo-resposta, característica de um teste em seu sentido exato; há dados qualitativos no psicodinamismo de uma pessoa que não se avaliam através de instrumentos objetivos que busquem respostas do indivíduo em sua estruturação de personalidade baseada apenas em padrões preestabelecidos. Por este motivo, embora seja um instrumento projetivo, bastante fortalecido pelo sistema quantitativo na apuração dos dados e avaliação da personalidade, permite ao examinador considerar os elementos psicodinâmicos da pessoa examinada de forma bem mais abrangente e global. O Rorschach permite avaliar a personalidade, considerando as variáveis quantitativas e qualitativas, não se detendo apenas nos dados restritos, secos e absolutos dos números. Um dos problemas que enfrentamos no Brasil para a utilização do Rorscharch, segundo Cunha (1993), é a falta de normas locais. Há trabalhos muitos importantes desenvolvidos por vários psicólogos brasileiros, mas com base em amostras locais, o que não deixam de representar notáveis contribuições, mas ainda não suficientes quando se considera a extensão do país. É um método que exige especialização, constante estudo e 11 atualização. A bibliografia é extensa, mas pode-se dizer que forma os pesquisadores, psicólogos clínicos e professores universitários os grandes responsáveis pelo crescimento e amadurecimento do Rorschach como técnica científica na avaliação da personalidade, no Brasil e em outros paises. V. Especificidades dos Estudos de Validade e Precisão em Rorschach Os estudos de validade e precisão são muito adequados a verificação de testes psicométricos tradicionais. Todavia, quando se examina um teste projetivo, muitas dificuldades são colocadas. Klopfer (1956, p.267) chama atenção para o fato da pesquisa em métodos projetivos – como o Rorschach - se processar de maneira muito distinta daquela feita com instrumentos psicométricos. Em primeiro lugar a noção de scoring tal como se apresenta nos testes clássicos só tem um paralelo parcial em três dos fatores do Rorschach: no estabelecimento das áreas de detalhe mais comuns, na determinação da originalidade da resposta e na classificação de forma e de nível. Nos outros fatores o escore é uma formulação dada para facilitar o manuseio de aspectos qualitativos. Ele aponta para a freqüência em que um tipo de resposta particular aparece no registro de cada sujeito ou no registro de diferentes sujeitos. Os escores do Rorschach não implicam inequivocamente em uma interpretação. Por exemplo, um escore alto em G corresponde ao fato do sujeito ter tentado usar ao máximo o conteúdo total dos borrões, em qualquer cartão, para formular qualquer resposta. Isso pode indicar uma lesão cortical que lhe empeça de ver as manchas enquanto partes significativas, ou o fato do sujeito ser dotado de uma imaginação formidável e gostar de usar todos os elementos em um conjunto significativo, ou ainda, tratar-se de um sujeito com inteligência medíocre que não conhece o limite razoável para uma organização plausível. Para resolver estes problemas pode-se recorrer a combinação dos escores de diferentes fatores. Por exemplo, no caso do escore alto em G, pode-se usar o escore em M – tendência de identificar seres humanos, formas humanas, posturas humanas ou ações humanas. O escore em M pode diferenciar o sujeito extremamente criativo daqueles com 12 lesões cerebrais ou baixa inteligência. Todavia, não distingue os dois últimos um do outro. V.1. Estudos de Validade Rorschach descreve na sua obra Psicodiagnóstico (1974, p. 15), como atingiu a confecção final dos dez cartões e como foi validada a sua utilização diagnóstica. Em um primeiro estudo – no qual não se revela a amostra utilizada – ele verificou que as formas de borrão demasiadamente complexas dificultam o cômputo dos fatores do teste. Também foi notado que as manchas devem obedecer a condições de ritmo espacial, as quais garantem a força plástica das manchas, para que os indivíduos possam interpretá- las. Foi constatado que as figuras não simétricas não possuíam um ritmo plástico necessário, sendo rejeitadas por grande número de examinados. Outras vantagens da simetria, apontadas pelo autor, é que ela iguala canhotos e destros e estimula a interpretação da figura como uma só cena. Rorschach relata a verificação empírica da utilização dos dez cartões padronizados, numa amostra de 405 indivíduos. O autor chama a atenção para o fato da amostra ser muito pequena e serem escassos representantes de algumas categorias. Ele não especifica qual o método usado para diagnosticar os indivíduos da amostra. Todavia apreende-se do texto que os sujeitos já haviam sido classificados nas categorias abaixo, antes da aplicação do teste. 13 Homens Mulheres Total Normais Cultos 35 20 55 Normais Incultos 20 42 62 Psicopatas 12 08 20 Alcoólatras 08 - 08 Débeis, imbecis 10 02 12 Esquizofrênicos 105 83 188 Maníaco-depressivo 04 10 14 Epiléticos 17 03 20 Paralíticos 07 01 08 Dementes senis 07 03 10 Dementes arterioscleróticos 03 02 05 Korsakoff e semelhantes 03 - 03 Total 231 174 405 A partir dos sete parâmetros formulados por Rorschach, foram distribuídos os sujeitos do teste levando em conta as categorias expostas na tabela. Os parâmetros identificados por Rorschach foram: número de respostas; tempo de reação; recusas; atitudes dos momentos de forma, movimento e cor no processo perceptivo; modos de apreensão das imagens; conteúdo material das interpretações e respostas originais. Estes parâmetros podem se subdividir em fatores os quais são passíveis de cálculo. Foi observado por Rorschach que cada uma das categorias de indivíduos selecionadas apresentava respostas semelhantes em cada um dos fatores. Por exemplo, o fator respostas de forma, que se insere na categoria atitudes dos momentos de forma, movimento e cor no processoperceptivo, distribuíram-se da seguinte maneira (1974 p.265): 14 Normais Retardados Esquizofrênicos Maníacos- depressivos Epiléticos Orgânicos 100- 80% F+ Inteligentes, meticulosos depressivos - Paranóides extremamente coerentes, latentes e curados Melancólicos - - 80- 70% F+ Inteligentes, estouvados, inteligência média - Relativamente muito coerentes - - - 70- 60% F+ Não- inteligentes, disposição maníaca - Muito incoerentes - Epileptóides Korsakoff dementes arterioscleró- ticos 60- 50% F+ - Débeis Muito incoerentes, débeis congênitos Maníacos Epiléticos - 50- 30% F+ - Débeis Imbecis Muito congênitos Abúlicos - Epiléticos dementes Paralíticos 30- 0% F+ - Profundamente imbecis - - - Dementes senis 15 Como se verifica na tabela acima, pessoas com diferentes diagnósticos apresentaram escores diferentes nesse fator do teste. O autor distribuiu os indivíduos examinados nos vários fatores encontrados e num segundo momento verificou quais os caracteres poderiam ser diagnosticados na prova. Por exemplo, ele notou que o indivíduo inteligente evidencia-se na prova nos seguintes fatores (1974 p. 57): Uma elevada percentagem de imagens bem percebidas; Um número maior de afluxos cinestésicos ao processo de percepção: um número maior de respostas globais; Um tipo de apreensão rico, G, ou G – D, ou G – D – Dd; Uma sucessão dos modos de apreensão de rigidez ótima (ordenada); Uma pequena percentagem animal e maior variabilidade nas interpretações; Uma percentagem nem muito grande, nem muito pequena de respostas originais. Quando Rorschach obteve esses resultados e, a partir deles, estabeleceu critérios de diagnósticos, o teste de pesquisa, transformou-se num teste de exame. Com a difusão do uso do teste diagnóstico, muitos autores se interessaram em estudar a sua validade, bem como a sua precisão. Grande parte destes estudos foram feitos nas décadas de trinta, quarenta e cinqüenta. Klopfer (1956, p.270) defende que não se podem separar os estudos de validade do Rorschach da pesquisa de Psicologia da Personalidade e do Desenvolvimento. Todavia, a maioria dos estudos toma os escores classificatórios dos fatores como parâmetros para estabelecer correlações com diagnósticos clínicos. Esse procedimento não é coerente com as características dos escores do Rorschach, os quais não correspondem a um grupo clínico específico. Em pesquisas que se usa um grupo de sujeitos diagnosticados com um quadro e um grupo controle, na maioria das vezes, os escores estudados excedem a fronteira do grupo experimental e se manifestam igualmente no grupo de controle. Os pesquisadores, para tentar superar esta dificuldade, passaram a recorrer a padrões de escores para unidade de testagem. Mas infelizmente, estes padrões de escores são encontrados apenas em uma pequena parte do grupo experimental. 16 V.2. Validade de Critério A técnica de Rorschach repousa sobre uma racionalidade fenomenológica. Ele pressupõe que a amostra de comportamento exibida na testagem pode se generalizar para outros momentos. Sendo assim, se um sujeito mostra durante o teste uma grande capacidade para organizar a percepção das manchas, provavelmente ele terá grande capacidade para organizar a percepção no seu dia-a-dia. Klopfer (1956, p.406) diz que o método de Rorschach pertence mais à família dos appraisal (estimação/avaliação) do que a família dos testes psicométricos. Pois em ambos os indivíduos são observados em um ambiente controlado, onde a estrutura individual do sujeito é a variável independente e a performance resultante a variável dependente. E as generalizações são feitas por esta amostra de comportamento observado. O Rorschach manipula n variáveis no sentido de descrever um indivíduo em termos de um padrão dinâmico de variáveis inter-relacionadas. O grande número de variáveis do teste leva a uma grande complexidade nos processos de validação. Acrescenta-se a isso, o fato da interpretação final do Rorschach não ser uma soma de fatores e sim, uma formulação dinâmica e integrada de como uma personalidade funciona. Klopfer discute uma série de estudos de validação feitos sobre o Rorschach, os quais passamos a enumerar. VERNON (1935) comparou o teste de Binet com a combinação de vários fatores M alto, F alto, W alto e A baixo. A correlação encontrada foi de 0.78, que é muito boa. Todavia a correlação com os fatores isolados se mostrou muito pobre. Esse mesmo autor conseguiu uma correlação de 0.833 + 0.0315 entre diagnósticos feitos por aplicadores de Rorschach e de terapeutas que tratavam o indivíduo. KRUGMAN (1942) comparou o diagnóstico feito por base em observação de crianças com distúrbios de comportamento e o diagnóstico feito com Rorschach. Este autor encontrou uma correlação de 0.830. HUNTER (1939) comparou as avaliações feitas pelo método de Rorschach em crianças de colégios particulares com as avaliações feitas pelos professores. Ele verificou que, em um total de 50 avaliações, apenas cinco foram compatíveis. 17 PALMER (1951) pediu para 28 terapeutas reconhecerem o relatório do Rorschach de seu paciente entre outros cinco relatórios, nem muito semelhantes, nem muito distintos. Um total de 11 terapeutas fez o reconhecimento correto, o que corresponde a uma correlação de 0.434. Este último estudo foi muito criticado, pois não se pode avaliar em nível de acerto ou de erro de cada predição. Além disso, tanto o acerto, quando o erro pode ter se baseado em pequenas coincidências. Esses estudos que visam validar hipóteses são geralmente difíceis de conseguir. E os estudos de validade sobre interpretações finais são ainda mais difíceis. Segundo Klopfer (1956, p. 417) o instrumental estatístico de que se dispõe não é capaz de manipular padrões de variáveis inter-relacionados. Outros estudos de validação do Rorschach foram feitos sem recorrer aos escores do teste. Esses estudos são chamados “testing of limits” não constam da aplicação do teste em si, mas sim da exploração do material. PASCAL e col.(1950) pediu para que 237 participantes para apontar quais as partes das manchas que podiam ser órgãos genitais masculinos ou femininos. Esse estudo forneceu indicações para quais os pontos que tinham significação sexual. MEER e SINGER (1950), pediram para 50 participantes para identificarem um cartão que representasse um cartão pai e um que representasse um cartão mãe. Pediu também que eles organizassem os cartões por ordem dos que mais gostavam. Os cartões identificados como cartões pai são os de número II e IV. Os cartões identificados como cartões mãe foram os de número VII e X. V.3. Estudos de Precisão H. Rorschach, devido a sua morte precoce, não efetuou nenhum teste de precisão com o seu instrumento. Contudo, outros autores que se seguiram dedicaram-se a estes estudos. Klopfer (1956, p.274) afirma que os estudos com precisão do Rorschach provaram que ele é suficientemente sensível para entre duas aplicações demonstrar mudanças de humor ou resultados de intervenções terapêuticas. Ao mesmo tempo, ele reflete os aspectos mais estáveis da organização da personalidade de um indivíduo, de 18 forma que é possível ao examinador verificar se diferentes registros correspondem a uma mesma pessoa. O exame da precisão do Rorschach é complicado devido ao pequeno número de itens que ele apresenta. O número limitado de cartões ficou assim fixado porque foi difícilconseguir manchas que propiciassem um estímulo de qualidade. O teste das duas metades não é apropriado para o Rorschach porque uma metade ficará com três cartões coloridos e outro com dois. O teste de formas alternativas também levanta problemas porque não se pode garantir que a forma alternativa seja totalmente confiável. E o teste-reteste, obviamente, é contaminado pela memória do teste anterior. Mesmo assim muitos destes estudos foram feitos. VERMON (1933) aplicou o teste das duas metades e encontrou uma correlação 0.91 para a categoria número de respostas, mas as outras categorias ficaram com correlações muito baixas. HARROWED e STEINER fizeram a aplicação de formas alternativas, utilizando o Rorschach e sete dias depois a forma alternativa de Behn. Na amostra de crianças pré- escolares utilizadas se encontrou coeficientes de precisão bastantes altos exceto nos fatores W e Fc. Todavia estes resultados serviram para apontar que a forma de Behn não pode ser considerada uma forma alternativa do Rorschach totalmente satisfatória. KELEY e col. (1941) estudou 12 sujeitos submetidos a terapia elétrico-convulsiva, que teriam total amnésia do teste se esse fosse feito antes de uma sessão de choque. Os autores fizeram uma aplicação do Rorschach imediatamente antes da sessão do choque e novamente duas horas depois. Os dois psicogramas resultantes foram idênticos. Os únicos fatores que sofreram uma pequena oscilação foram os R, D, F nas pranchas VIII, IX, X e P%. Isso apontou para o fato desses fatores serem menos estáveis que os demais, mas isso não foi significativo para o contexto geral do teste. V.4. Tipos de normas utilizadas Existem vários sistemas de classificação atualmente usados para a codificação das respostas quanto a localizações, determinantes e conteúdos. As diferenças entre um e outro sistema de classificação são irrelevantes, e referentes à maneira como esses dados 19 se expressam (codificação), não implicando em discrepâncias na interpretação e diagnóstico. Na literatura atual temos como principais sistemas de classificação o Rorschach, seu próprio criador (1922) e Loosli-Usteri (1941) na Suíça; Ombrendane-Canivet (in Anzieu, 1960), na França; o de Klopfer (1942) considerado o mais adotado na América do Sul e inclusive com influências na Inglaterra; os de Hertz (1944), Beck (1945), Rappaport (1946), Piotrowski (1957) e Exner (1974, 1995) nos Estados Unidos; Endara (1961) no Equador e Anibal Silveira (1961) no Brasil. A classificação das respostas do Rorschach, que é a base teórica para a condução do inquérito e conseqüentemente para a interpretação, implica num aperfeiçoamento e padronização técnica do instrumento e seu domínio por parte do profissional. Na interpretação do Rorschach, a resposta é um conteúdo verbalizado, é uma idéia, um conceito vinculado diretamente à determinada área-estímulo do Cartão. Podemos dizer que a resposta, no Rorschach, responde a pergunta que tecnicamente se faz, “o que o examinando viu no Cartão ou na área do Cartão?”. VI. Localizações: Denominam-se localizações as áreas da mancha ou do Cartão em que o examinando situa a resposta verbalizada. Dividem-se essas áreas em respostas globais, codificadas como G, respostas de detalhe comum que levam como código D, e respostas de detalhe incomum que são registradas como Dd e que, segundo Klopfer, subdividimos em quatro subcategorias: Detalhe raro (dr), Detalhe diminuto (dd), Detalhe interno (di) e Detalhe externo (de) ou de borda. VII. Determinantes: O termo determinante foi usado por Rorschach para identificar, numa verbalização, quais fatores psíquicos levaram ou determinaram o examinando a dar essa 20 ou aquela resposta. Rorschach parecia atribuir aos determinantes a expressão de algo estrutural da personalidade, ou seja, os determinantes são a expressão da memória viva das experiências passadas e projetadas pelo examinando sobre as manchas. São as expressões do modo como o examinando estabelece a relação entre o mundo externo através das manchas e o seu mundo interno. VIII. Conteúdos: O conteúdo é aquilo que foi verbalizado, o que foi percebido, como algo específico e que será registrado de acordo com sua categoria. O conteúdo responde à pergunta: “o que viu o examinando na resposta dada?”. A classificação e interpretação dos conteúdos, num protocolo de Rorschach, parece não ter evoluído quanto a análise quantitativa. Sob o ponto de vista qualitativo, muitos trabalhos têm sido publicados e estudos de alto valor interpretativo têm surgido. Canivet (1956) estudou as categorias dos conteúdos e sua interpretação, classificando-os em: elementos, fragmentos, geográfica, botânica e paisagens. Em geral, as categorias dos conteúdos que os manuais sobre o Rorschach apresentam, leva em consideração não um critério estatístico para um devido levantamento, mas sim os conteúdos que mais aparecem na prática. Ao terminar a aplicação num sentido geral, inicia-se o processo de registro para cada resposta, quanto à localização, determinante e conteúdo. Esse registro envolve a tabulação dos dados conforme as seguintes linhas básicas (protocolo 1, p.53): Levantamento dos histogramas correspondentes aos determinantes principais e aos adicionais, usando-se um tipo de hachura para os principais e outro para os adicionais, a fim de facilitar a leitura visual. Faz-se o levantamento do total de respostas, contando-se tão somente as respostas da coluna principal tanto das localizações, dos determinantes, dos conteúdos. Convém lembrar que cada resposta dada na fase de aplicação recebe, como principal, uma só localização, um só determinante e um só conteúdo. 21 Calcula-se o tempo médio por resposta: total do tempo de duração de todos os Cartões dividido pelo total de respostas. Calcula-se o tempo médio de reação em função dos dois grupos de Cartões: acromáticos e cromáticos; divide-se o total de reação nesses Cartões pelo número de Cartões em que houve verbalização de resposta. Na interpretação de um protocolo de Rorschach, com finalidade clínica, de auxílio na orientação vocacional ou para fins de seleção de pessoal, convém o psicólogo examinador levar em consideração alguns aspectos fundamentais: 1. O Rorschach não é um instrumento para avaliar apenas anomalias. O examinador deve procurar identificar também funções da personalidade consideradas normais. 2. A personalidade é um todo estrutural, dinâmico e funcional e como tal, não pode ser medida com aquela precisão estatística. Os elementos quantitativos, utilizados no trabalho com o Rorschach, são grande suporte nesse processo de diagnóstico, mas devem ser bem relacionados entre si e integrados aos aspectos qualitativos apresentados no próprio método. 3. É necessário que o examinador utilize outros instrumentos de avaliação juntamente com a aplicação do Rorschach na elaboração de um psicodiagnóstico. 4. O examinador e intérprete do Rorschach deve, na elaboração do diagnóstico, ter sempre presente que está trabalhando com um instrumento muito sensível à coleta de dados quantitativos do examinando para estudos de pesquisa, mas também extremamente flexível para a avaliação psicodinâmica de personalidade. Na interpretação dos dados um fator a ser considerado é o número de respostas. A maioria dos autores estabelece como normal um faixa entre 15 e 30 respostas. O estudo da realidade brasileira indica a distribuição normal de incidência em 19 respostas e o desvio padrão de 5,8 (Vaz, 1997, p. 82). Através dessas pesquisas Vaz considerou que, na aplicação em brasileiros, deve-se manter uma expectativa entre 15 e 30 respostas.Todavia, para adolescentes e jovens adultos se espera de 15 a 24 respostas. O número de respostas dentro da média pode ser visto como um sinal de que a pessoa teve condições de adaptação ao teste, isso pode ser interpretado como capacidade satisfatória de produção e desempenho e de adaptação a tarefas. Respostas abaixo da 22 média, que oscilem entre 10 e 15 respostas quando forem de boa qualidade e bem comentadas podem ser consideradas ainda dentro do padrão normal. Respostas entre 9 e 10 podem significar, especialmente em situações de seleção, defesas do tipo paranóide, resistência à técnica ou ao examinador. O número inferior a 9 respostas é comum em deficientes mentais. O tempo de reação é outra variável medida. Ele é contado do momento em que o sujeito recebe o Cartão até o momento em que ele emite a primeira resposta. Rorschach em seus estudos considerou normal o tempo médio de reação entre 20 a 30 segundos. Contudo, com o passar tendeu-se a observar uma maior rapidez nas respostas. Segundo vários autores, isso se deve as condições modernas de vida. Vaz aponta (1997, p. 83) que para a realidade gaúcha o tempo de reação normal oscila entre 10 e 25 segundos. Este mesmo autor chama a atenção para o fato de se poder observar uma diferença no tempo de reação entre os Cartões cromáticos e acromáticos. Considera-se que pessoas com uma reação média muito acelerada apresentam uma ansiedade elevada, enquanto que pessoas com um tempo de reação muito longo apresentam uma depressão situacional. Nos casos em que a média do tempo de reação entre os Cartões cromáticos e acromáticos exceder 10 segundos pode se considerar que: se a diferença pender para os acromáticos, um indicativo de ordem depressiva, e se a diferença pender para os cromáticos, tratar-se-á de um indício de dificuldades no relacionamento do examinando com o mundo, pautadas por tensões. O tempo de duração médio foi considerado entre 20 e 30 segundos. Pessoas ansiosas tendem a um tempo médio inferior a 20 segundos, enquanto pessoas depressivas ou bloqueadas apresentam um tempo elevado, chegando a superar os 60 segundos. O teste de Rorschach apresenta características muito específicas na confecção, aplicação, validação e precisão. Muito dos critérios aplicados aos testes psicométricos não são adequados ao Rorschach. Isso, porém, não interferiu na sua grande utilidade que é comprovada pelo seu uso em larga escala. Ele é usado tanto nas áreas de assistência social como na de seleção de pessoas, na orientação profissional e na clínica. Ao avaliar as qualidades psicométricas do teste de Rorschach nos deparamos com algumas dificuldades. Em primeiro lugar, os estudos de validade e precisão foram na sua 23 maioria feitos nas décadas de trinta, quarenta e cinqüenta. Os relatos que conseguimos obter deles, oram indiretos, e por isso não podemos avaliar seus critérios como tamanho da amostra, a sua heterogeneidade, etc. Mas a partir desses relatos verificou-se que muitos estudos mostram engenho e perspicácia, um exemplo é o de Keley que usou pacientes em tratamento de choque elétrico para verificar a precisão do Rorschach. Os estudos mais comuns na atualidade sobre o Rorschach são os de padronização. Cícero Vaz compendia esses estudos em sua obra. Devido ao fato desses estudos serem numerosos, e na maioria das vezes restritos a uma faixa etária e/ou a uma região geográfica não apresentamos seus resultados aqui. Em vez disso optamos por apresentar a padronização oferecida por Vaz que é bastante recente e significativa. X. A Técnica de Administração X.1. Material Utilizado - Jogo de 10 Lâminas; - Folha de Localização; - Folha de Respostas (ou 2 fls de papel pautado); - Cronômetro ou relógio que marque os segundos; - Lápis coloridos; - Mesa, cadeiras, mesa auxiliar. X.2. Local As mesmas condições exigidas para aplicação de testes psicológicos em geral: sala tranqüila onde não hajam interrupções, bem iluminada (de preferência naturalmente indireta ou de modo a não alterar muito as cores das figuras), arejada, etc. X.3. Posição do examinador/examinando 24 Não existem normas a respeito. Uma boa sugestão é sentar frente-a-frente; o examinador poderá assim observar melhor as reações, expressões fisionômicas e as verbalizações sutis. 3.1. Composição O material do teste compreende dez Lâminas com Manchas de Tinta, de 18,5 por 25cm, cinco das quais são acromáticas e cinco cromáticas (duas, em vermelho e preto e três policromáticas). As manchas são, em geral, escassamente estruturadas, embora possam ser consideradas simétricas em termos do eixo vertical. São apresentadas, uma a uma, ao examinando, em ordem. Protocolo de localização das respostas, onde serão assinaladas as áreas em que o examinando situou as respostas dadas; Folhas de Aplicação. Como manual pode ser usado o livro do Prof. Dr. Cícero E. Vaz, “O Rorschach – Teoria e Desempenho”. 1 - Aplicação 2 - Psicograma 3 - Interpretação Cuidados que devemos ter: - Não deixar a lâmina mais do que quatro minutos; - Gastar 45 minutos na aplicação, 5 minutos no rapport e 3 minutos no inquérito. No inquérito é importante reler as verbalizações. 3.2.Aplicação Instrução: Nestas Lâminas as pessoas enxergam toda classe de coisas; agora me diga o que é que o Senhor vê ou o que lhe lembra. Inquérito: Perguntas "onde" e "como" viu? Por favor, onde viu...? Solicitando a seguir que fizesse o contorno com o lápis na folha de localização, após registramos no contorno o que viu. 25 Pergunta-se, para clarear dúvidas quanto ao conteúdo: Como viu...? Ou o que o levou a ver...? X.4. Contato inicial O clima de aplicação não deve ser nem muito tenso, nem muito descontraído; uma conversa inicial, em tom informal e social é importante para se obter este clima. Durante o "rapport" são observadas as condições físicas do examinando, verificando-se se não estaria cansado, muito tenso, alcoolizado, faminto. Em caso afirmativo, deve-se adiar a prova. Em qualquer caso deve-se perguntar se o sujeito está tomando alguma medicação, e em caso afirmativo, perguntar para quê. Apresenta-se ao sujeito o objetivo da prova dizendo que se trata de um teste "de imaginação" para pessoas menos escolarizadas, ou "de personalidade" para pessoas mais instruídas. X.5. Instruções "Vou lhe mostrar dez figuras (não falar borrão nem mancha) e gostaria que você falasse o que vê nelas. Não se preocupe em dar respostas certas ou erradas. Qualquer resposta é válida, porque as pessoas vêem coisas diferentes nelas. Irei anotar o que você for falando e também vou estar marcando o tempo (indicar a folha/caneta e o cronômetro); não se preocupe com isso, é para meu controle. Quando você não estiver vendo mais nada, coloque a figura invertida neste canto da mesa. Certo? Podemos começar?". Mostra-se a primeira lâmina acionando-se o cronômetro e dizendo: "Esta é a primeira figura". X.6. Anotações 26 Além das respostas do sujeito, devemos anotar os tempos iniciais e finais (TR e TT) lâmina após lâmina. A posição da figura em que as respostas são dadas é indicada do seguinte modo: - posição de entrega da lâmina; - virada para a direita do examinando; - virada para a esquerda do examinando; - de cabeça para baixo; - girar ansioso para a direita; - girar ansioso para a esquerda. Comentários do sujeito, bem como reações e expressões significativas devem ser indicadas entre parênteses paraque sejam diferenciadas das respostas. Deve-se anotar exatamente como o sujeito fala, incluindo-se erros gramaticais, expressões próprias, etc. As perguntas que fazemos no inquérito ao sujeito devem ser indicadas, por exemplo, com um (?). X.7. Fases do Exame São basicamente duas - a fase da administração propriamente dita (ou performance, ou fase de associação livre) e a fase do inquérito - podendo-se complementar o exame com investigações opcionais, como sugerindo a Seleção de Lâminas, o Teste de Limites ou o Rorschach Temático, entre outras técnicas usadas para se aprofundar o exame. Estas técnicas, além da performance e do inquérito, não são recomendáveis em todos os casos, principalmente quando, após mais de uma hora de produção, o sujeito já mostra sinais de cansaço. 7.1. Fase da Associação Livre 27 O objetivo nesta fase é o de obter uma amostra do comportamento do S. O examinador deverá registrar verbalizações e respostas não-verbais do sujeito, intervindo o mínimo possível (a nível consciente, pelo menos). Nesta fase, quem fala é o sujeito, que deve assumir o controle e o manejo da situação. Deve-se evitar ao máximo, interferências. Caso o sujeito pergunte pode virar? consentir brevemente dizendo à vontade ou como quiser. Se começar a contar uma história, corrigi-lo repetindo as instruções: Não é para contar uma história. Gostaria que v. me dissesse o que está vendo nessa figura. Se o sujeito apanha a figura e diz É uma mancha de tinta, concordamos com ele sim, é uma mancha, o que você vê nela?. Caso o S. logo na primeira lâmina dê uma única resposta, de baixa qualidade, devolver-lhe perguntando Pode olhar um pouco melhor. O que mais vê aí? (anotar estimulação na Folha de Respostas). 7.2. Fase do Inquérito A função principal do Inquérito é obter informações do sujeito com respeito à maneira como ele viu cada percepto. São informações essenciais para uma correta classificação e seus respectivos valores interpretativos. Respostas claras e classificáveis nem sempre requerem inquérito. Outra função do inquérito é proporcionar ao sujeito nova oportunidade para ampliar e completar as respostas dadas na aplicação propriamente dita, como pode acontecer com sujeitos cautelosos, que demoram até se sintam familiarizados com o teste. Pode ocorrer do sujeito, durante o inquérito, apresentar algumas respostas, que devem ser somadas à parte, como pontos adicionais. Em resumo, o inquérito deve esclarecer os vários aspectos de cada resposta quando são necessários para a classificação: localização na mancha, determinante empregado e conteúdo. Deve também oferecer ao sujeito uma oportunidade de juntar elaborações espontâneas às suas respostas ou qualquer idéia nova que possa expressar. O objetivo nesta segunda fase é o de averiguar aspectos percepto-cognitivos subjacentes à resposta. Além de localizá-las, o examinador deverá identificar e explorar também as características do estímulo que determinaram o percepto (costuma-se dizer 28 que é preciso ver o que o sujeito viu), avaliando o grau de adaptabilidade do conceito à área da mancha. Depois que o sujeito passou, respondendo, pelas 10 figuras, tendo o examinador registrado as percepções do sujeito, é indispensável que seja realizado o inquérito. Recolhendo a décima figura, dizemos ao sujeito: “Agora que você já respondeu a todas as figuras, vamos repassar as suas respostas juntas porque eu quero estar seguro de que estou entendendo exatamente o que você viu”. Um comentário assim destaca o caráter cooperativo do inquérito. Não há consenso entre os autores do Rorschach quanto ao uso das lâminas durante o inquérito. Alguns sugerem que as lâminas fiquem todas à disposição do sujeito; preferimos o uso eventual e seletivo das mesmas, recolhendo todas após a performance e providenciando apenas a figura específica nos casos em que o sujeito encontra dificuldades em localizar uma ou outra de suas respostas com base nas reproduções reduzidas, em branco-e-preto, da folha de localização. Também nos casos em que a produção foi escassa, ou lâminas que foram rejeitadas pelo sujeito, podemos dizer-lhe que agora tem nova oportunidade de comunicar se vêem algo mais nelas. Sugerimos que a atividade do inquérito, em exames de jovens e adultos "normais", possa ser partilhada, por exemplo, entregando ao sujeito a Folha de Localização, anotando a localização da primeira resposta, e encarregando-o, a seguir, de continuar circulando seus perceptos; enquanto o sujeito trabalha sobre a Folha de Localização, o examinador trabalha com a Folha de Respostas. Para o caso de várias respostas num mesmo borrão, deve-se registrar em diferentes cores para facilitar a visualização das localizações. Respostas Adicionais: pode ocorrer do sujeito oferecer novas respostas durante a fase do inquérito, havendo mesmo casos de pessoas inibidas ou cautelosas na primeira etapa que só se soltam aos poucos. Estas respostas devem ser registradas pelo examinador indicando-se Adicional para que sejam posteriormente somadas à parte. Além de localizar, outra parte do inquérito refere-se àquilo que determinou a visualização das respostas. Precisamos ser esclarecidos se o indivíduo viu o que viu pela forma, cor, movimento, claro-escuro, etc. Entretanto, não podemos perguntar diretamente 29 pelo que tenha levado o sujeito a ver as coisas que viu; não devemos perguntar, obviamente, foi pela cor quer você viu isso? Foi pela forma?..., Pois estaríamos sugerindo completamente. A habilidade na condução de um inquérito é a mesma do método de investigação clínico, exige preparo, experiência. Piaget, comentando as dificuldades do exame clínico, afirmou certa vez: "O bom experimentador deve, efetivamente, reunir duas qualidades muitas vezes incompatíveis: saber observar, ou seja, deixar o sujeito falar, não desviar nada, não esgotar nada, e ao mesmo tempo saber buscar algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar. É preciso ter-se ensinado o método clínico para compreender a verdadeira dificuldade. Ou os alunos que se iniciam sugerem ao sujeito tudo aquilo que desejam descobrir, ou não sugerem nada, pois não buscam nada, e, portanto também não encontram nada". Examinadores experientes dispensam o uso de inquérito em muitas das respostas, indagando precisamente acerca daquelas que exigem efetivamente esclarecimentos, evitando assim, de modo habilidoso, cansar o sujeito com bordões repetitivos do tipo o que te levou a ver...? o que te levou a ver...? Perguntas normalmente feitas durante o inquérito são: O que lhe parece...?, O que lhe fez lembrar um(a)...neste desenho? Por que lhe parece um(a)...aqui na figura? Explique melhor... O que lhe sugere? O que levou você a ver... O que lhe deu esta impressão? Adjetivos utilizados pelo sujeito devem sempre ser pesquisados. Ex: Um peixe gostoso - Gostoso porquê?; Uma máscara horrorosa - Horrorosa porquê?. Havendo respondido pessoas, deve-se perguntar seriam homens ou mulheres? Quando são vistos monstros, com forma humana ou animal indefinida, sempre é bom pedir algo do tipo comente um pouco mais este monstro...o que deu esta impressão? 30 - pois o sujeito poderá oferecer indícios sugestivos que irão permitir a discriminação mais precisa de (H) ou (A). 7.3. Pesquisas complementares As pesquisas complementares devem ser usadas com parcimônia, apenas em casos especiais (com exceção da Seleção de Lâminas que pode ser utilizada sempre).A Seleção de Lâminas é um procedimento simples, rápido e que acrescenta dados importantes. Deve-se "abrir" as lâminas sobre a mesa, diante do S. e pedir que escolha a mais bonita, ou a que mais gostou, invertendo-se, duas a duas, o critério para a que menos gostou, ou a mais feia, anotando-se pelo menos 3 escolhas positivas e 3 negativas. O Teste de Limites é uma técnica aplicada nos casos em que ocorrem bloqueios e reticências de um sujeito tanto na fase da administração como no inquérito, exigindo um meio adicional de esclarecer o padrão de reação do sujeito. O exame de limites não é uma técnica simples, pois para bem manejá-la o examinador deverá ter conhecimento pleno das omissões visíveis nos resultados das fases anteriores do teste. Quanto maior seja a experiência do administrador de Rorschach, maior quantidade de matizes obterá no exame de limites. Algumas situações em que pode ser indicado este exame são as seguintes: Quando o sujeito ofereceu nenhuma ou bem poucas respostas populares, pode-se pegar a lâmina V, a mais popular de todas e oferecendo-lhe, perguntar: Nesta figura as pessoas costumam ver morcego ou borboleta - o que você acha disso?; ou quando o sujeito não tenha oferecido nenhuma resposta cromática, pode-se pedir para que agrupe em duas pilhas as lâminas, observando se ele dividirá do modo mais óbvio, que é reunindo cromáticas x acromáticas. Em caso negativo, podemos realizar diante dele esta divisão pedindo-lhe que diga qual o critério que utilizamos. Em caso de suspeita de cegueira para cores (daltonismo), podemos oferecer ao sujeito a lâmina X, pedindo que nomeie as cores que está vendo. O Rorschach Temático é uma técnica ainda em desenvolvimento que consiste basicamente em pedir para o sujeito contar histórias reunindo as respostas por ele oferecidas em cada lâmina durante a primeira fase. 31 X.8. Lista de Respostas Populares - P São populares (P) respostas que surgem com muita freqüência no Rorschach, e são originais (O) aquelas que ocorrem muito raramente. As respostas populares dizem respeito à participação do pensamento do sujeito no do grupo a que pertence. L.I. Morcego, borboleta, pássaro (sempre com corpo central e asas laterais); D. central: mulher; L.II. Dois animais quadrúpedes (ursos, coelhos, touros, etc), figuras humanas, dois palhaços; L.III. Duas figuras humanas; D central: borboleta ou gravata; L.IV. Pele de animal, monstro ou gorila; L.V. Qualquer criatura alada com corpo central e asas laterais, borboleta ou pássaro. L.VI. Pele de animal; L.VII. Figuras femininas; 2/3 superiores: dois animais; L.VIII. D. lateral: animais quadrúpedes; L.IX. Não há; L.X. D.azul lateral: caranguejo, polvo, aranha; D. verde central inferior: cavalos marinhos; X.9. Simbologia Adotada São diversos sistemas de classificação de respostas; adotamos a maior parte da lista seguinte da simbologia de B. Klopfer e D. Kelly, com adaptações. T = Tempo total (soma dos períodos de exposição das 10 figuras) R = Número de Respostas Tv = Tipo Vivencial, expresso pela fórmula M:C Tp = Tipo de percepção, expresso pela fórmula G:D:Dd G = Resposta global D = Resposta de detalhe Dd = Resposta de detalhe inusitado (ou detalhinho) 32 Gs = Global com espaço em branco Ds = Detalhe com espaço em branco Dds = Detalhe inusitado com espaço em branco DG = Globais confabuladas ou contaminadas Pi = Pormenor inibitório F = Resposta de forma F+ = Forma bem vista F- = Forma negativa (inadequada) F. = Objeto ou conceito sem forma definida. M = Resposta de movimento humano FM = Resposta de movimento animal Fm, mF, m = movimento inanimado com forma, forma secundária e ausência do aspecto formal FC, CF, C = respostas cromáticas com forma, forma secundária, e ausência do aspecto formal (cor pura) Cn = cor nomeada FK = Respostas tridimensionais KF, K = Respostas de difusão (nuvem, neblina, fumaça, etc) com alguma forma ou sem forma definida. Fk, kF, k = Respostas bidimensionais com forma, forma secundária ou ausência de forma Fc, cF, c = Respostas de textura com forma, forma secundária ou ausência de forma FC', C'F, C' = Respostas acromáticas com forma, forma secundária ou ausência de forma F(C) = Formas identificadas dentro do sombreado P - Respostas populares O - Respostas originais H - Humano Ex: pessoas, mulher, criança, palhaço, etc. (H) - Humano fantasmagórico Ex: duende, gigante, bruxo, espantalho, monstros humanizados, fantasmas, etc. Hd - Detalhe humano Ex: boca, braço, cabeça, pé, etc. A - Animal Ex: urso, macaco, rato, etc Ad - detalhe animal Ex: pata, focinho, rabo, pele, etc 33 Sg - Sangue Ex: manchas de sangue Rad - Radiografia Mapa - Mapa Pais - Paisagem Obj - Objetos manufaturados, de modo geral. Pl - Plantas Sexo - Ex: útero, vagina, pênis, pélvis. Explo - Explosões Cena - Cenário Ex: sala com mesas e cadeiras Abst - Abstrações Ex: forças mágicas, sonho, alegria, etc. Arte - Ex: vaso chinês, pintura abstrata, aquarela. Arq - Arquitetura Ex: edifício, túmulo, ponte Cc - Ciência - conceitos e instrumentos científicos Ex: microscópio, satélite, homeostase, fotossíntese, etc. X.10. Porcentagens Médias (adultos escolarizados - valores aproximados) R = 20 – 60 T/R = 15-50" G = 30% D = 60% DG+Dd+Ds+Dds = 10% F = 50-70% F+ = 80-90% M:C:Ch = 2,3 ou 4 de cada tipo num universo de R=30 H = 10-20% A = 30-40% P = 20-30% VIII+IX+X = 33% G:M = 2:1 (ideal 6:3) M>FM H>Hd A>Ad C = 1 CF = 1-2 FC = 3 (Obs: Ch = somatório das respostas de esfumaçado que incluem K, k, c, C e F(C), com forma, forma secundária ou puras ponderadas respectivamente por 0,5, 1 e 1,5) 34 X.11. Folha de Cálculo Nome: Idade: Sexo: Est.Civil: Profissão: Grau de Instrução: Data da Aplicação: Aplicador: T = Tv: M : C R = T/R = Tp: G D Dd G = G : M G = G = % Gs = VIII + IX + X = % D = D = % Dd = Dd = % (FM + m) : ( c + C") Ds = : F+ = = % (H + A) : (Ad + Hd) F. = : F- = F = = % M : C : Ch M = FM = (x0,5)Fm = FC = Fc = FK = Fk = FC'= F(C)= (x1,0)mF = CF = cF = KF = kF = C'F= (x1,5) m = C = c = K = k = C' = m = C= c= K= k= C' = H = = % Hd = (H) = Anat = Rad = Boneco = A = = % Ad = Vest = Sg = Sexo = Fogo = Explo = Obj = Alimen = Pl = Nat = Pais = Nuvem =Geo = Ciên = Simb = Abst = Arte = Arq = Cena = P = O = 35 X.12. Categorias de Classificação e Significações A presente coletânea de signos e significações foi pesquisada em parte dos livros listados na Bibliografia. Procuramos reunir expressões que os autores empregam na atribuição de significação aos signos do Sistema de Classificação criado por H. Rorschach (e por eles ampliado). Para efeitos de interpretação, a noção de sistema, como conjunto de elementos interligados, não deve ser esquecida; o valor dos signos pode ser comparado com o valor das moedas; como estas, não possuem valor em si mesmos, isoladamente, mas extraem- no de suas correlações com outros signos. Os termos da lista de significações abaixo não devem ser usados irrefletidamente; ao interpretar um protocolo, deve-se ter presente a necessidade em selecionar, dentre as significações propostas, aquelas que mais se aproximam do caso em estudo. Ao pesquisar a significação para qualquer signo do Rorschach, sugerimos que não se busque uma expressão pronta, a primeira que aparece, sem avaliar outras expressões, não só as que estão reunidas sob o mesmo signo mas opondo estas com outras significações, indagando sempre se as expressões selecionadas ajustam-se à interpretação do caso em questão; não se trata, pois, de copiar significações, mas construir expressões próprias, tarefa para a qual oferecemos algumas sugestões. Assim como só podemos fazer idéia do valor de uma moeda quando a relacionamos com o que ela pode ser trocada, de modo semelhante, em busca de palavras para expressar, p.ex., o que é o G dilatado de determinado protocolo, sugerimos que se procure também pelas significações opostas e relacionadas, isto é, pelo G rebaixado, pela ausência de G, pelos contrastes entre G e D, pelo Tipo de Apercepção... 12.1. Localização 12.1.a. Respostas G (globais) São aquelas que abrangem toda figura. As respostas globais revelam a capacidade de examinar o ambiente de modo amplo, em sua totalidade. Ex.: L.I: máscara; L.II: dois palhaços batendo palmas; L.X: cena do fundo do mar 36 Existem vários tipos de respostas G: 12.1.a.1. G primárias (também chamadas de puras, ou ordinárias): geralmente só um conceito é utilizado para interpretar a mancha, em cuja construção a forma básica da mancha é o elemento capital, podendo haver ou não participação de outros determinantes: cor, cinestesia, sombreado. São respostas simples e de boa qualidade formal. Podem ser produzidas por pessoas de diferentes níveis intelectuais. Indicam certa capacidade de abstração e síntese, limitada porém pela falta de imaginação. Ex: L.I: borboleta; L.V: morcego preto 12.1.a.2. G combinatórias: alguns elementos são combinados e organizados em um conceito mais amplo que engloba as anteriores. Geralmente incluem elementos cinéticos, cromáticos ou claro-escuro, além de serem freqüentemente originais. Podem ser de dois subtipos, demarcados pela velocidade com que o sujeito atinge a integração do percepto: - sucessivo-combinatória: a percepção é gradual, o examinando vai percebendo os detalhes sucessivamente, terminando por englobá-los numa única resposta. Não raro, durante o exame, o sujeito verbaliza detalhe após detalhe, que são enumerados pelo examinador como respostas separadas, até que, ao final, especifique (ou encontre) a globalização, revelando não tratar-se de várias respostas, mas uma única G-sucessivo- combinatória. - simultâneo-combinatória: o conceito integrado é dado imediatamente. Ex: L.II: russos dançando ao redor de uma fogueira As globais combinatórias indicam níveis superiores de inteligência. Não aparecem em protocolos infantis, nem em quadros depressivos. Nelas o sujeito revela capacidade de análise e síntese, obedecendo às regras da boa lógica. 12.1.a.3 G confabulatórias: com base em um detalhe da mancha, o sujeito engloba o restante, por extensão ou inferência. É simbolizada por DG. Procedem do pensamento sincrético (indiferenciação entre o todo e as partes). Geralmente não é fácil identificar estas respostas sem inquérito. Ex.L.I: Um caranguejo (Inq: por causa das garras dele, então o resto da figura é o que falta ao caranguejo; Ex.L.VII: Mulher (Inq:aqui está a vagina (DCI) e em cima são os ovários e o útero) 37 As respostas confabulatórias sugerem insuficiência do juízo lógico. Resultam de síntese apressada e arbitrária. Não são incomuns em crianças antes dos dez anos. Em adultos, são freqüentes em quadros psiquiátricos. 12.1.a.4. G contaminadas: são condensações esquizofrênicas que fundem duas respostas como numa dupla exposição fotográfica. Ex. L.IV: Pele de animal com botas; Ex. L.V: Um homem-borboleta sem pés. 12.1.b. Global cortada: G/ Ocorre quando o sujeito usa dois terços ou mais da mancha, sem globalizar e cuja incidência esteja numa razão crítica inferior a 4%. Respeitada esta condição, pode-se dizer que G = G - Dd. Muitas G/ num protocolo indicam inibição do pensamento, senso crítico acentuado. 12.1.c. Respostas de Detalhe - D Uma parte da mancha, seccionada com freqüência igual ou superior a 4% da população. O tamanho da área selecionada em relação à figura como um todo não é levado em consideração, mas a freqüência com que em geral a parte é escolhida. (Todas as respostas D estão assinaladas no Atlas em anexo). As respostas D, como partes da figura que mais facilmente são notadas, constituem a maioria das respostas na média dos protocolos. As respostas D indicam pensamento de tipo concreto, sentido de realidade, inteligência prática. Outras expressões que emprestam significação à D: apreciação dos elementos óbvios e evidentes da realidade, expressão simbólica do concreto, senso de realidade objetivo, capacidade de verificação dos elementos essenciais aos fatos, pensamento indutivo. 12.1.d. Respostas de Pormenor Inibitório - Pi Respostas de Pormenor Inibitório são partes de figuras muito freqüentemente vistas, porém anormalmente destacadas, pois o comum seria a interpretação da figura inteira Ex.L.III: Cabeças Este tipo de respostas Rorschach chamou de "Detalhe Oligofrênico" - símbolo Do - pois observou certa freqüência em quadros de inteligência subnormal. Mas, verificou-se 38 depois, não é exclusivo. O símbolo "Pi", que adotamos de A. Silveira, parece mais apropriado para a respectiva significação: inibição, idéias prevalentes, acentuação da preocupação com seus próprios problemas. 12.1.e. Respostas de Detalhes - Dd São detalhes percebidos com menos freqüência por um número significativo de testados, mas não atingem o critério de 4% de escolha da população. São indicativos de meticulosidade, de atenção aos detalhes incomuns. Quando o conteúdo é rico, indica capacidade de observação, perseverança, aplicação ao trabalho; quando pobre, sugere limitação intelectual, inibição, infantilismo. 12.1.f. Respostas de Detalhinho Externo - Dde Uma sub-categoria dos Dd, também chamada detalhes marginais, em que são usadas as orlas dos borrões, geralmente vistas como perfis ou contornos geográficos. Quando numerosas indicam inibição neurótica, tendência a se manter na periferia dos problemas receando encará-los de frente. 12.1.g. Respostas com espaço - Gs, Ds, Dds Gs: aqui o sujeito, além de abranger toda a figura, também inclui os espaços em branco (todos ou alguns) à sua resposta. Ex.: L.I: Borboleta com pintas brancas; L.V: Uma ilha e a água (partes escuras + branco) Ds: Parte branca freqüentemente vista de algumas figuras. Admitimos apenas três Ds emtodo teste, nas lâminas II, VII e IX. A rigor, respostas space sugerem uma inversão; ao responder diante do "não- borrão", o sujeito está opondo-se ao que foi solicitado. A significação destas respostas é a de oposicionismo, e são relacionadas com o Tv (M:C). Em tipos introversivos, a oposição é voltada sobre si mesmo, resultando em sentimentos de inferioridade, auto-exigência acentuada, sentimentos de insuficiência, auto-desconfiança, atitude escrupulosa. Em tipos extrovertidos, a oposição volta-se sobre o meio, assinalando espírito de contradição, criticismo, obstinação, inclinação à polêmica e à oposição, mania de discutir. Em tipos coartados, indicam negativismo, teimosia. Em tipos ambiguais, podemos falar talvez em 39 ceticismo, indecisão, ambivalências afetivas, obsessão da exatidão, afã de ver as coisas de todos os lados, mania de querer saber tudo, perseverança, colecionismo. 12.1.h. Tipo de Apercepção - Ap Trata-se da quantidade relativa das respostas G, D e Dd do protocolo. Em média, são encontrados aproximadamente G = 20-30%, D = 60-70%, Dd = 5- 15%. Quando a proporção difere desta, indicamos o aumento relativo da categoria utilizando setas (há quem prefira usar pontos de exclamação ou sublinhado). Quando não aparecem respostas de qualquer categoria, utilizamos parênteses. G D Dd (e semelhantes) : capacidade de globalização, de síntese, com certa dose de imaginação. Observação adequada do ambiente, desde o todo aos detalhes menos comuns. Flexibilidade mental. G (e semelhantes): indica um pensador abstrato e teórico, que se orienta por idéias gerais ou noções de classe. Quando elaboradas, sugerem ambição de qualidade. Em pré- escolares são comuns muitas G pouco elaboradas, bem como em adultos inibidos, imaturos ou pouco inteligentes. D (e semelhantes): indica preeminência do pensamento concreto, até a ponto de dificultar a apreensão de fatos gerais, por prender-se em demasia a fatos isolados. Indica falta de imaginação, um tipo técnico, sujeito prático e de bom senso, que usa o raciocínio indutivo mais que o dedutivo. Quando pouco elaboradas, sugerem inibição, rigidez. Dd (e semelhantes): sugerem criticismo, traços obsessivo-compulsivos. Quando elaborados, indicam boa capacidade de observação - e também, especialmente quando numerosas, a necessidade de ser completo, de examinar todas as possibilidades da situação. Quando mal elaboradas, sugerem falta de adaptabilidade, subnormalidade mental. GDd (e semelhantes): revela desinteresse pelo comum, pouca praticidade. Aparecem em pessoas que têm ocorrências originais, porém são inconstantes quanto à elaboração mental, com atenção dispersa e generalizações inoportunas. GD (e semelhantes) : em pessoas normais, é comum desaparecer as respostas Dd, compensando-se esta ausência com G e D melhor elaboradas; neste caso, indica 40 adaptabilidade, capacidade de observação. Quando mal elaboradas, temos o indicativo de alguma rigidez mental. DDd (e semelhantes): indicam pouca capacidade de planejamento, senso prático, apego às minúcias. A qualidade das respostas deve ser levada em consideração, indicando senso de observação ou rigidez mental. 12.1.i. Tipo de Sucessão - Ts Diz respeito à seqüência em que são localizadas as respostas nos cartões. Quando sucedem em uma lâmina respostas G-D-Dd, dizemos que a sucessão é ordenada, caso contrário, (D-G-Dd, Dd-G-D, etc) temos uma sucessão desordenada. Esta separação ordenada-desordenada não é muito rígida. Por ex., também podemos considerar ordenada uma seqüência como G-D, ou D-Dd, ou G-D-Dd-D. E desordenadas seqüências tais como G Dd D, D-G-D-Dd, ou Dd-G-D. Quando aparece uma só resposta na figura, ou quando, mesmo numerosas, são de mesma categoria (ex: G-G-G), chamaremos de sucessão assistemática. O Tipo de Sucessão (Ts) é estabelecido de acordo com a proporção de cartões ordenados: Sucessão rígida (9-10 figuras são ordenadas sistematicamente): como o nome indica, caracteriza sujeitos a quem falta a necessária flexibilidade para adaptação às diferentes circunstâncias. Rorschach lembra o "mestre-escola" estrito e sistemático em toda e qualquer situação. Sucessão ordenada (6-7-8 figuras ordenadas sistematicamente): sugestiva de senso de organização e ordem no trabalho, com capacidade para modificar em função das contingências, aumentando a eficiência. Sucessão relaxada (5-4-3 figuras ordenadas sistematicamente): freqüentes em protocolos de pessoas normais, este traço, porém já é indicativo de certa falta de organização afetiva. Sucessão confusa (0-1-2 figuras ordenadas sistematicamente): indicativa de desordem e falta da lógica no funcionamento intelectual. 12.2. Determinantes 41 12.2.a. Respostas de Forma - F+, F-, F. O sujeito justifica o que viu unicamente pelo formato, contorno da figura ou pela semelhança de suas partes com o objeto mencionado. Muitas vezes o sujeito apenas descreve seu percepto. Ex.L.I:borboleta - duas asas, o corpo, as antenas... Ex.L.II: Dois ursos; as patas, o rabo, o focinho... Uma resposta de forma pode ser F+, F- ou F. F+: a resposta tem forma definida e se adequou à mancha. F-: a resposta não se adequou à mancha F.: a resposta emitida não tem forma definida e por isso cabe em qualquer parte da figura. Ex: ilhas, nuvens, água, etc. As respostas de forma constituem, normalmente, a maioria dos determinantes (cerca de 60%). Decidir entre a classificação F+ ou F- nem sempre é fácil. O principal critério para a classificação F+ é estatístico; diversos "dicionários" podem ser encontrados na praça listando, a partir de amostras com grande número de protocolos, as formas mais freqüentes. Porém, por maior o número de respostas previstas não são contempladas muitas respostas originais, dadas por um número de pessoas estatisticamente insignificante. Como primeiro recurso, para o caso de dúvida na classificação (se positiva ou negativa), deve-se procurar alguma resposta aproximada. Digamos, p.ex., que o sujeito localizou um leão numa parte da figura acerca da qual o dicionário não prevê leão, mas gato como F+; o leão, por semelhança com gato, pode, pois, receber a classificação F+. Não havendo sequer conteúdos aproximados, os autores sugerem que duas ou três pessoas "normais" sejam consultadas: se a maioria achar que o borrão (ou parte deste) é parecido, classifica-se F+. Com um pouco de prática torna-se mais fácil afirmar acerca da qualidade formal dos perceptos. A lista de exercícios do presente texto prevê apenas formas positivas - salvo quando indicado - para que o aprendiz vá adquirindo noção do que são "boas formas" no Rorschach. As respostas de forma constituem, em média, 50-70% do total. Além de formas puras, o determinante formal compõe com todos os demais: M, FM, Fm, FC, CF, FK, etc... 42 Para entendermos o significado das respostas de forma, é preciso lembrar que o sujeito é convidado a produzir respostas sobre borrões informes sem significado em si mesmos. As respostas de forma recebem, pois, a consigna de colocar ordem em um caos em miniatura, caos desagradável, em todos os sujeitos. Para isso, o sujeito deve realizar, com êxito, um ato criador, quer dizer, ato formativo. A atribuição de uma forma ao caos é sempre aliviante. O reconhecimento dos objetos pela forma é um processo lógico, um modo habitual de percepção comum a todos os povos. A descrição formal representa uma maneira adaptada (lógica) de evitar a expressão de cargas emocionais e afetivas melhor que qualquer outro determinante. As F tem um caráter menos pessoal, representam
Compartilhar