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O Rorschach 
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
	
  
 
 
O	
  Rorschach	
   Sebenta	
  Testes	
  Projectivos	
  
	
  	
  
Instituto	
  Superior	
  de	
  Psicologia	
  Aplicada	
  
	
  
 
O Rorschach 
2	
  
	
  
Índice 
 Página 
1. O Rorschach 2 
2. Conteúdo Manifesto 7 
3. Conteúdo Latente 8 
4. A cotação 12 
4.1. Princípios Elem. da cotação dos protocolos de Rorschach 12 
4.2. Modos de Apreensão 14 
4.3. Determinantes 17 
4.4. Conteúdos 22 
4.5. Banalidades 23 
4.6. Outros factores 24 
4.7. O Psicograma 25 
5. O Rorschach na prática Clínica 30 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. O Rorschach 
 
O Rorschach 
3	
  
	
  
As técnicas projectivas procuram essencialmente aceder por aproximação 
à realidade psicológica dum sujeito, realidade essa que é imutável, e cuja 
essência é inatingível. Usam-se principalmente no contexto clínico mas 
também podem ser utilizadas em situações de recrutamento de pessoal ou na 
educação. 
 
Técnicas Projectivas 
 
	
  
 
 
 
 
 
 
No contexto clínico podem ser utilizadas técnicas psicométricas e/ ou 
técnicas projectivas (técnicas de Manchas ou Técnicas Temáticas). Neste 
contexto parte-se de um problema, formula-se uma hipótese, e escolhe-se o 
instrumento a utilizar, seguindo-se a metodologia e a conclusão (a qual 
permite aceder ao sentido do problema e necessita de referenciais teóricos). 
 
§ Problema 
§ Hipótese 
§ Metodologia 
§ Conclusão 
 
O trabalho do psicólogo nestas técnicas é fundamentalmente o da 
atribuição de sentido. 
As técnicas projectivas de manchas e as temáticas são complementares, 
pois têm sensibilidades diferentes, a escolha entre uma e outras é feita em 
função do problema e das hipóteses. 
No contexto clínico pergunta-se ao sujeito “O que poderia ver aqui?”. Na 
resposta do sujeito é por vezes difícil aceder-se ao mundo interno, o que 
acontece quando a percepção prevalece sobre a projecção. A apreensão 
da realidade e a transformação entre a realidade e o mundo interno sujeito é 
Técnicas de Manchas 
ø Rorschach 
Técnica paradigmática, pois é a 1ª 
a aparecer; é objecto de muitos 
estudos e é a técnica mais 
utilizada na investigação 
Técnicas Temáticas 
	
  
øTAT – foi o 1º a aparecer, serve 
para crianças e para adultos (é 
a base de todas as outras 
técnicas que lhe sucederam) 
øCAT – para crianças com 4 
anos 
øPata Negra - crianças 
øEra uma vez - crianças 
Escolha do instrumento a utilizar 
 
O Rorschach 
4	
  
	
  
o chamado processo de construção (o qual é diferente para cada indivíduo), 
que é transmitido ao clínico em forma de produto. 
A análise do Rorschach tem o objectivo de conhecer o funcionamento 
mental do sujeito, o que é possível sabendo o funcionamento do teste, o qual 
é possível saber pelo processo de resposta Rorschach (o qual consiste na 
elaboração, construção e elaboração da imagem). 
 
Funcionamento mental Funcionamento do teste 
 
Processo Resposta – Rorschach 
 
 Objecto de cotação 
 
- Durante a aplicação do Rorschach: 
• Devem utilizar-se fontes de luz unidireccionais e devem ser evitadas as 
passagens da luz do dia para a luz artificial. 
• O material necessário deve estar colocado em cima da mesa: o 
Rorschach com os dez cartões virados para baixo, na ordem de 
apresentação e em posição direita; papel e lápis/ caneta; um 
cronómetro discreto e de fácil acesso. 
• O sujeito deve estar colocado do lado esquerdo, sensivelmente à frente 
(ou à direita caso seja esquerdino). 
 
Deve manter-se o controlo da situação - é o psicólogo que entrega o 
cartão e o recebe, estando sempre atento ao comportamento, continuando 
sempre a entregar todos os cartões, que é a forma de regular o ritmo de 
progressão (há cartões angustiantes que caso o psicólogo não controle o 
tempo, podem não ser bem explorados). 
- Instrução: 
A instrução deve ser adequada ao sujeito e deve ser introduzida na 
relação. Rorschach considera que as instruções devem ser curtas, o que vai 
cumprir o objectivo das técnicas projectivas, ou seja, estimula o sujeito de 
forma adequada – cria um espaço de liberdade no sujeito, onde estão 
presentes os dois objectivos principais das técnicas projectivas; a instrução 
será: “O que é que se poderia ver aqui?” ou “O que e que isto poderia ser?”. 
Outros psicólogos, como por exemplo Chebert, consideram que a instrução a 
dar deverá ser diferente, contendo objectivos mais explícitos: “Vou mostrar-lhe 
10 cartões e peço-lhe que me diga tudo o que eles lhe fazem pensar e tudo o 
que se pode imaginar a partir de cada um deles”. 
§ Modo de apreensão 
§ Determinante 
§ Conteúdo 
 
O Rorschach 
5	
  
	
  
É importante reter que todas as indicações devem ser formuladas como um 
pedido, assim abre-se um espaço de liberdade que é a base das técnicas 
projectivas. 
- 1ª Fase da Aplicação do Rorschach: 
• Dar a instrução ao sujeito 
• Entregar o cartão I na posição direita (pode entregar-se na mão ou 
colocá-lo em cima da mesa) 
• Accionar o cronómetro 
• O psicólogo deve escrever tudo o que o sujeito diz na folha de 
anotações 
• Devolução dos cartões 
 
Apesar de a regra ser a da não intervenção, por vezes, podem fazer-se 
intervenções durante a passagem dos cartões, quando o sujeito fala de algo 
paralelo na passagem dos cartões pode-se intervir; na fase inicial (1º, 2º e no 
máximo 3º cartão), quando o sujeito está a ter dificuldades, é útil e desejável 
que se faça um intervenção do tipo “Se pensar um pouco talvez consiga ver 
outras coisas”, isto, por exemplo, no caso de usar uma única imagem, ou de 
não nos dar imagem nenhuma, “Porque temos tempo...”. Se o sujeito falar 
muito rápido pode pedir-se para que repita a última palavra, ou fale mais 
lentamente. 
NOTA: O uso do talvez permite que o sujeito veja, ou não veja, o que 
mantém a liberdade. 
O trabalho do psicólogo é um trabalho de atribuição de sentido, pelo que a 
sua atitude deve ser uma atitude de neutralidade: de acolhimento e de 
aceitação das imagens e da resposta do sujeito. 
A primeira fase termina com a Prova Complementar de Escolha: 
É pedido ao sujeito que dos 10 cartões escolha os 2 dos quais gostou menos, 
e os dois dos quais gostou mais, e indique os motivos que o levaram a escolher 
os cartões, devemos tentar que os motivos apresentados sejam de ordem 
estética ou afectiva. É de notar a ordem pela qual o sujeito nos diz os cartões 
apesar de não ser muito relevante. 
Se os motivos de preferência forem iguais “Gostei mais dos cartões IX e X 
porque são coloridos”, há que aceitar, pois isso implica conceder o espaço de 
liberdade ao sujeito. Há sujeitos que escolhem apenas um cartão de cada, ou 
outros que escolhem 3 cartões, devemos aceitar esta escolha, tal como 
devemos aceitar se o sujeito insistir que são todos os cartões, pois cada 
escolha é objecto de atribuição de sentido. 
 
 
 
 
 
 
 
O Rorschach 
6	
  
	
  
- 2ª Fase – Inquérito (s): 
Explorar modalidades perceptivas 
O inquérito tem o essencial do processo de resposta do Rorschach, 
processo este que vai ser cotado através do inquérito para que consigamos 
aceder ao funcionamento mental. 
Os inquéritos são feitos no final para não perturbar o processo associativo, 
isto no caso dos adultos. No caso das crianças muito novas o inquérito faz-se 
no final de cada cartão ou de cada elaboração, porque neste caso está a 
favorecer-se o processo associativo (as crianças não têm tantas defesas como 
os adultos). 
O objectivo do inquérito é aceder ao processo de resposta Rorschach, o 
qual é reflectido na cotação (esem inquérito não é possível cotar). 
No inquérito procura-se informação complementar à informação 
espontânea, ou seja, retomam-se todos os cartões, um a um, e relemos as 
elaborações espontâneas de cada um e pedimos para que o sujeito as 
explique: “ No cartão I o que é que o fez pensar numa borboleta?”, 
normalmente isto é suficiente para que o sujeito diga tudo aquilo com que 
relaciona a imagem: 
• Localização da imagem (modo de apreensão) 
• Determinante da imagem (forma/ cor movimento) 
• Conteúdo 
 
Nos cartões em que há participação da cor não temos a certeza se este 
elemento participa ou não na resposta do sujeito. Para isso devemos ter uma 
folha A4 com os cartões diminuídos a preto e branco para mostrar ao sujeito 
durante o inquérito. Exemplo: “Ainda vê aqui a borboleta?” “Sim, sim. Veja 
aqui as asas recortadinhas.” Neste caso o que predomina é a forma e não a 
cor. 
Se o sujeito refere algo como «estranho» ou «esquisito» o psicólogo não deve 
deixar escapar estes elementos, pois por aqui pode revelar-se algo mais 
importante do que a imagem em si, deve saber-se porque é que há a 
introdução de algo desta forma. Exemplo “A borboleta está voar mas vai 
perdendo bocados do corpo”. 
Se o sujeito durante o inquérito diz algo diferente daquilo que disse na 
elaboração espontânea, ou altera o que viu, trata-se de uma resposta 
adicional (R. A.), e o inquérito deve ser feito em relação à segunda imagem. 
 
Inquérito de Limites 
Foi um inquérito introduzido por Klopper, tem uma presença mais activa por 
parte do psicólogo com o objectivo de explorar modalidades perceptivas, ou 
conteúdos evitados pelo sujeito. 
Conduzir o sujeito para os encarnados presentes nos cartões bicolor, e 
perguntar se há algo que se possa dizer sobre o vermelho. Isto só é feito 
 
O Rorschach 
7	
  
	
  
quando o sujeito não interpreta o vermelho, e só se faz no final para se poder 
esperar a resposta adicional. 
 
Conteúdos mais frequentes 
Normalmente estes conteúdos são chamados de banalidades pois são tão 
frequentes que o seu não aparecimento leva a que nos interroguemos quanto 
à causa e sejamos levados a fazer um inquérito de limites relativo a estes 
cartões. 
Figuras humanas presentes no cartão III, onde se aplica o inquérito de limites 
“Será que se podia ver aqui uma figura humana?”. Este cartão é um cartão 
bissexual que favorece a representação de si. 
Cartão V: borboleta, pássaro e morcego, “Será que aqui se pode ver uma 
borboleta?” 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Rorschach 
8	
  
	
  
2. Conteúdo Manifesto 
- Dimensão Estrutural: 
Os cartões diferenciam-se pelo seu carácter unitário, inteiro e maciço 
ou pela sua obediência a uma configuração bilateral. 
 
• Cartões unitários (I, IV, V, VI e IX) – reflectem a imagem do corpo 
humano organizado simetricamente em torno de um eixo. 
 
• Cartões com configuração bilateral (II, III, VII e VIII) – reflectem as 
representações de relações. 
 
• Cartões fechados (I, IV, V e VI) 
 
• Cartões abertos (II, III, VII, VIII, IX e X) 
 
- Dimensão Sensorial: 
 
Os cartões diferenciam-se pelas cores e tonalidades. 
 
• Cartões cinzento-escuros ou com contraste negro-branco – quando 
atingem a sensibilidade do sujeito dão origem a manifestações da 
ordem da inquietude, ansiedade e angústia mais ou menos intensas. 
§ A sensibilidade ao negro remete para a ansiedade, 
tristeza e depressão (cartões compactos, excepto cartão I 
(fechado/aberto)). 
 
• Cartões vermelhos (II e III) – a presença do vermelho solicita «afectos 
brutos», na reactivação de movimentos pulsionais (emoções violentas, 
sexualidade, agressividade). Estes cartões, pela sua configuração 
bilateral, são indutores de representações de relações. 
 
• Cartão VIII – configuração bilateral e uma construção oca e aberta; 
presença de cinzento-claro esbatido e grande participação do branco. 
 
• Cartões pastel – tintas pálidas e filtradas – indutores de afectos. 
§ Cartão VIII – estrutura clara, sendo as diferentes partes 
delimitadas umas relativamente às outras, sem invasão das 
cores. 
§ Cartão IX – mistura de tintas, dando uma impressão de 
interpenetração, acentuada pela presença de um branco 
azulado, ao centro. Situa-se simultaneamente no registo 
fechado (facilitando a abordagem global), aberto (tendo 
em conta o branco central) e bilateral (na parte superior). 
§ Cartão X – multiplicidade de cores e dispersão das 
manchas. 
 
 
 
 
O Rorschach 
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3. Conteúdo Latente 
Cartão I – cartão compacto, negro, que 
facilita uma apreensão global (G), baseando-
se na forma (F). O estímulo tripartido remete 
para a relação e interacção. Este cartão 
reflecte um sentimento de identidade 
(quando a linha média não é vivida como 
eixo do corpo mas como linha de separação 
entre duas entidades, dá conta de 
dificuldades de diferenciação entre o sujeito e 
o outro) (Chabert). A um nível menos evoluído, o cartão reactiva a relação 
com a mãe pré-genital nos seus aspectos positivos e/ou negativos, nas 
imagens de segurança ou ameaça. 
 
Cartão II – a parte central vazia reenvia para o 
regressivo e o luto; o vermelho reenvia para o 
sangue e as pulsões. Este cartão reaviva as 
pulsões libidinais e agressivas do sujeito. Se o 
sujeito lida mal com as pulsões agressivas, 
evita o vermelho interpretando só o preto. A 
problemática da castração é claramente 
visível, bem como a angústia que lhe está directamente ligada e os processos 
defensivos que o sujeito utiliza face a essa angústia. Quando as personagens 
se apresentam em duplo pode dar conta de problemas ao nível da 
identidade. Este cartão permite ao sujeito reviver alguns dos conflitos da sua 
infância, revelando uma relação simbiótica ou destruidora com a mãe. 
Cartão III - Este cartão permite uma 
identificação (uma identidade sexual) quer 
masculina (através do pénis) quer feminina 
(através dos seios). O resultado simbólico resulta 
da disposição destas silhuetas que estão muito 
próximas da realidade e o sujeito vai poder 
exprimir a necessidade de representação de si 
por um lado, e a representação de si face ao 
outro, e ainda a descoberta desse outro e o tipo 
de relação que é procurada com esse outro, uma relação de apoio 
(representação de si e representação da relação). O clima emocional é 
positivo e este cartão agrada normalmente aos sujeitos. É frequentemente 
escolhida como o cartão preferido. O próprio estímulo, por estar próximo da 
realidade objectiva, isto é, por evocar facilmente as silhuetas humanas, 
também pode levantar problemas por isso, podendo rapidamente adquirir 
uma tonalidade negativa se o sujeito se vê confrontado com um outro e esse 
outro tem dificuldades relacionais. 
Cartão IV – Este cartão está ligado à força, ao 
poder, à autoridade. Alguns autores também 
lhe chamam o cartão do superego. Um 
 
O Rorschach 
10	
  
	
  
superego que tanto pode ser materno como paterno. Sendo simbolicamente 
representativa dessa autoridade, podem haver reacções quer positivas quer 
negativas, na forma como os sujeitos se vão posicionar face a essa 
autoridade: sujeitos que ou se identificam com essa autoridade ou a ela se 
submetem. Os sujeitos vão exteriorizar representações de autoridade paterna, 
angústia infantil e sentimentos de culpa diante do superego, complexo de 
castração, transformação da agressão em depressão e eventualmente ideias 
de suicídio. Há sujeitos que dão respostas que valorizam o aspecto da força e 
outros que se refugiam numa atitude contrária à da força, dando respostas 
que dão conta dessa inconsistência, dessa passividade e do receio à figura de 
autoridade Há sujeitos que, devido ao impacto fantasmático e doloroso que acartão lhes provoca, põem em funcionamento o mecanismo de defesa – 
isolamento. Este é um mecanismo da série neurótica e mais especificamente 
das personalidades obsessivas. Isola para não ter de se confrontar com a 
angústia provocada pelo aspecto fantasmático do estímulo, que reenvia, do 
ponto de vista simbólico, para a força, para o poder. 
Cartão V - Este não é um estímulo que levante 
grandes questões, pois está muito próximo da 
realidade objectiva (tal como na cartão 3), 
surgindo com frequência respostas banais de 
animais voadores. 
Quanto ao valor simbólico, pelas 
características maciças e unitárias deste 
estímulo, este cartão apela sobretudo ao 
sentimento de integridade física e psicológica. 
É chamado o cartão da identidade, a representação de si (ego ideal), onde o 
sujeito expressa a ideia que faz de si próprio, o que nos remete para uma 
integridade ao mesmo tempo psíquica e somática. 
Este sentimento de integridade ao mesmo tempo física e psíquica, tem a ver 
com a representação de si e, se houver uma recusa, isso é um alerta para uma 
eventual luta do sujeito contra a desorganização de si, contra o caos interno. 
Também pode acontecer que o sujeito fuja da representação através de 
respostas impessoais ou a manifeste através de uma resposta simbólica. 
 
Cartão VI - Do ponto de vista simbólico, é uma 
cartão muita saturada em factores com 
implicações sexuais e/ou enérgicas-
dinâmicas. Mas nesta cartão, tal como na 4, o 
que está mais facilmente implicado na análise 
do estímulo é muito mais a dimensão fálica, 
do que a representação do corpo feminino. 
Este cartão reenvia o sujeito para a 
problemática sexual: angústia predominante 
na neurose: angústia de castração; estados 
limite: angústia de perda do objecto; psicose: angústia de fragmentação. A 
recusa da interpretação dos cortes é sinal de problemas sexuais. 
 
O Rorschach 
11	
  
	
  
A reacção emocional é frequentemente negativa, ao ponto de não ser 
invulgar que este cartão seja recusado. Isto acontece devido ao significado 
simbólico deste cartão. Face ao impacto provocado por esta mancha, pode 
haver respostas adaptativas, sendo a mais comum “pele de animal”. 
Cartão VII - As reacções a este estímulo são 
variadas, podendo o sujeito percepcionar a 
figura, o fundo, ou os dois. 
Quanto ao valor simbólico, trata-se de 
uma cartão feminina, materna, onde o 
sujeito é confrontado com a sua primeira 
relação; o vazio central é vivenciado como 
colo materno. Pode encontrar-se dois tipos 
de resposta: Securizantes – encontram-se 
sentimentos de vivência, de segurança, com cinestesias femininas. O não 
aparecimento destas cinestesias, supõe uma perturbação das relações 
mãe/filho. A, H e obj. Ameaçadoras ou abandónicas – quando estas imagens 
são percepcionadas de uma forma negativa, surge a vivência de abandono, 
reflectindo a patologia da vinculação. 
 
Cartão VIII - Os D rosas laterais são as partes 
da cartão mais interpretadas e é aqui que 
aparecem as respostas banais “mamíferos”, 
que são determinadas quase sempre pela 
forma. Estes detalhes estão muito próximo da 
realidade e isso permite ao sujeito evitar a 
integração da cor, ou seja, evitar lidar com 
os afectos. 
A reacção emocional é geralmente positiva, 
mas a introdução da cor pode ser perturbadora para o sujeito, daí que, a 
tonalidade emocional também possa ser negativa. Neste caso as cores 
remetem para imagens do interior do corpo através de anatomias, mesmo 
que sejam intelectualizadas; se não for esse o caso temos imagens de corpos 
devorados, danificados, destruídos. As cores também podem ser utilizadas 
com o branco no seu carácter esbatido. Uma resposta típica é “mármore” ou 
“pôr-do-sol no gelo”. 
Quando não é vista a resposta animal, vulgar, tem-se um problema análogo 
ao do cartão V (sinal de debilidade patológica da ligação do sujeito à 
realidade). Também são significativos os graus de agressividade atribuídos aos 
animais, ou à sua desvitalização sob a forma de emblema. 
 
Cartão IX - Este cartão apela à regressão e 
nem todos os indivíduos se podem permitir 
tal coisa. Tem um grande impacto 
emocional no sujeito e não há resposta 
banal para este cartão. A solicitação para 
 
O Rorschach 
12	
  
	
  
esta regressão traduz-se numa sequência de imagens de conteúdos naturais, 
frequentemente ligadas ao meio aquático, que tem a ver com a imagem 
materna. Este cartão remete para uma simbologia pré-genital, ou seja, uma 
temática ligada ao nascimento e nem todos os indivíduos têm muita 
facilidade em lidar com esta simbólica, pelo que muitas vezes o que 
aparecem são fantasias pré-genitais ligadas à gravidez/parto. 
É um cartão frequentemente recusado, e, certamente, a mais difícil. Os sujeitos 
têm dificuldade em interpretá-la. Os sujeitos que gostam deste cartão 
apresentam respostas de cor elaboradas, isto porque vêem, na relação 
afectiva com o ambiente social, uma estimulação fecunda e propícia. 
Cartão X -Dadas as suas características de 
dispersão, remete o sujeito para fantasmas 
de fragmentação. Solicita o indivíduo para 
essa angústia de fragmentação, testa os 
limites. Se o sujeito é sensível a esta 
problemática, tem dificuldade em unir, 
tornando-se mais fácil detalhar a mancha 
sem sentir incómodo com isso. Através do 
mecanismo de isolamento, o sujeito pode 
apreender e interpretar imagens numa 
perspectiva mais agressiva, entre animais, ou entre animais e pessoas. 
Estimula quase sempre respostas em D. Uma resposta G revela uma 
capacidade intelectual organizadora de alto nível (G secundária) 
Há sujeitos que se perturbam com o cartão, devido à cor (reagindo, nesse 
caso, como aos cartões já interpretadas), ou devido à extrema dispersão das 
manchas (sentindo verdadeiro choque ao despedaçamento). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O Rorschach 
13	
  
	
  
4. A cotação 
4.1. – Princípios Elementares de Cotação dos protocolos de Rorschach 
 Cotar um protocolo é reduzir as respostas a sinais convencionais, isto é, 
codificá-las. 
 A cotação não é mais do que um esboço cómodo que serve de 
quadro e de ponto de partida para a reflexão e que facilita a comparação 
dos protocolos: 
• Pelo seu carácter objectivante a cotação fornece um quadro às 
impressões e à intuição do psicólogo; 
• A cotação é o ponto de partida da reflexão, na medida em que ela é 
a resultante da dinâmica instaurada entre a actividade perceptiva e a 
vivencia emocional e que ela reflecte também a integração da 
dimensão afectiva na organização mental. 
 
A cotação realiza-se após uma leitura atenta do conjunto do texto e 
depois de terem sido anotadas as impressões que dele se destacam 
(tonalidade emocional, verbalização, atitude, etc.) 
 A leitura do texto, a cotação e o estabelecimento do psicograma 
constituem um preliminar da análise propriamente dita. 
 É necessário cotar todas as respostas, isto é, cada imagem ou 
associação ou transformação de nova imagem, quer seja dada de forma 
afirmativa, negativa ou interrogativa. É também necessário anotar os 
elementos qualitativos (referências pessoais, observações de simetria, 
observações críticas, reacções choque, etc.) e os comentários pessoais. 
 A cotação tenta dar conta de todos os aspectos “objectivos” de uma 
resposta. Esta decompõe-se em vários elementos que se podem evidenciar 
com a ajuda de quatro tipos de questões que s colocam para cada uma das 
respostas: 
• Qual a parte da mancha que é interpretada? Onde se situa a imagem 
dada? 
• O que é que determinou a resposta ou qual (is) a (s) particularidade (s) 
objectiva (s) ou subjectiva (s) do estimulo que provocou a 
interpretação? Porquê e Como? 
• Qual o conteúdo da resposta? O quê? 
• A resposta é frequente numa determinada população, isto é, banal? 
 
Cada uma destasquestões corresponde a uma série de símbolos 
convencionais, entre os quais é preciso escolher aquele (s) que podem dar 
 
O Rorschach 
14	
  
	
  
conta, o mais fielmente possível, da resposta do sujeito tal como ele a viu e 
enunciou, sem que a subjectividade do próprio psicólogo interfira. 
É evidente que não se poderá elucidar os mecanismos em jogo, nem 
responder às três primeiras questões sem se interrogar o próprio sujeito: é este o 
objectivo do inquérito. 
Todavia, é necessário ter presente que a cotação propriamente dita se 
refere às respostas dadas espontaneamente e que no inquérito é preciso 
distinguir entre o que corresponde a uma simples explicitação da resposta 
espontânea (que serve de base à cotação) e o que constitui uma nova 
abordagem ou uma reelaboração, que não deverá ser cotada, ou então só 
deverá ser considerada em tendência, embora entre na análise propriamente 
dita. 
O tempo de latência corresponde ao tempo a partir do momento que se 
dá o cartão ao sujeito e ele dá uma resposta cotável. 
 
A folha de Protocolo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Símbolos 
^ - Direito 
� – Inverteu 
<- Rodou para a direita 
Cotação	
  
Respostas	
  RCH	
  (como,	
  
porquê,	
  etc…	
  
Discurso	
  
Espontâneo	
  
 
O Rorschach 
15	
  
	
  
> - Rodou para a esquerda 
 - Quando o sujeito rodou muito o cartão 
Como se escreve a cotação? 
 
 G F+ A Ban 
 M.A. Det. Cont. Banalidade 
 
 
4.2. Modos de Apreensão 
O verdadeiro sentido dos modos de apreensão só se encontra se 
soubermos qual o determinante e o conteúdo a eles associado. 
Os modos de apreensão estão relacionados com a estratégia perceptiva 
que o sujeito utiliza ao abordar a mancha, a qual se traduz na forma de como 
o sujeito situa ou localiza as interpretações. 
 
Estratégia Perceptiva Funcionamento do Teste 
 
 
 
 
 
 
Cinco Símbolos representam os diversos modos de apreensão: 
1. G - resposta global, a qual se subdivide em G primário (que se 
divide ainda em G simples e G simples adaptativo) e G 
secundário 
2. D – resposta de detalhe frequentemente interpretada 
3. DD – resposta de detalhe raramente interpretada 
4. DBL – interpretação de detalhe branco 
5. DO – detalhe oligofrénico 
 
 
- Resposta global: 
As respostas globais são respostas que compreendem a totalidade da 
mancha. São respostas como: “borboleta”; “uma mancha negra de tinta-da-
dão conta das relações que 
o sujeito estabelece 
com a realidade e com os 
objectos de realidade, ou seja, 
como o sujeito se situa na 
realidade. 
	
  
 
O Rorschach 
16	
  
	
  
china”; “bailarino a rodopiar sobre si mesmo, com duas bailarinas a apoiarem-
se sobre ele, com as suas capas a esvoaçar; “caranguejo com duas pinças”, 
“uma aranha com uma mosca na barriga”; etc. Os produtos finais são 
semelhantes apesar do processo de resposta ser diferente. 
Para uma resposta ser considerada global é necessário que o sujeito 
interprete a totalidade da mancha, excepto no cartão III, onde se considera 
resposta global, se o sujeito considera dois negros laterais como duas figuras 
humanas. 
- G primário: 
G simples 
Um exemplo de um G simples será a resposta “borboleta” (é a imagem mais 
neutra), ou o morcego, aqui existe uma clara diferenciação entre sujeito e 
objecto, há uma identidade definida, o sujeito vê-se como inteiro e repara no 
meio envolvente. A estratégia perceptiva utilizada é a abordagem directa e 
imediata da mancha, sem elaboração, destacando a figura do fundo. Pelo 
facto da figura ser fechada este cartão () e outros (I, IV, V) favorecem o 
aparecimento de imagens G simples. 
Os G simples do ponto de vista do funcionamento mental dão conta de 
uma adaptação perceptiva de base que faz pensar se o sujeito se encontra 
minimamente inserido na realidade – G simples adaptativo. 
 
G simples Adaptativo 
Exemplos: 
-Lata de sardinhas bom petisco 
-Maxilar com dois caninos, um deles cariado 
-Borboleta no chão espalmada e morta à qual falta um bocado das asas – 
Aqui não há diferenciação, o que pode fazer pensar nas dificuldades ao nível 
da identidade, ou da imagem corporal. 
 
-Resposta de detalhe frequentemente Interpretada: 
Estas respostas usam partes da mancha que do ponto de vista estritamente 
perceptivo se impõem, são frequentemente isoladas e frequentemente 
interpretadas. 
Estas imagens são favorecidas ao aparecerem nos cartões bicoloridos e nos 
cartões pastel. 
Nestas interpretações está implícita a atitude de querer explorar os objectos 
da realidade interna e/ ou externa. Subjacente às respostas de detalhe existe 
uma função socializadora (querer conhecer o outro). 
 
 
 
 
Esta imagem não 
tem carácter 
adaptativo 
 
O Rorschach 
17	
  
	
  
-Resposta de detalhe raramente Interpretada: 
Nestas respostas são usadas partes da mancha que do ponto de vista 
perceptivo não se impõem, assim sendo são raramente isoladas e raramente 
interpretadas. 
Não existe nenhum cartão que favoreça o aparecimento dos DD, podendo 
aparecer em qualquer um. 
Os DDs podem dar conta de uma determinada problemática, porque 
normalmente há um conteúdo que se repete ao longo de um protocolo em 
DDs, o qual é algo que angustia o sujeito. São característicos de um 
pensamento minucioso e exaustivo. Quando estes se repetem ao logo dos 
cartões podem demonstrar um funcionamento mental obsessivo. 
Relativamente aos DDs interpretativos delirantes o critério que os analisa é o 
critério estatístico. 
 
-Interpretação de detalhe branco: 
Estas são respostas em que o sujeito usa o espaço branco, situado no interior 
ou no exterior da mancha, que do ponto de vista estritamente perceptivo se 
impõem com inversão figura fundo. 
Os cartões que favorecem o seu aparecimento são os cartões II e VII, 
dependendo do cartão e conteúdo os valores interpretativos também 
mudam: no cartão II terá um valor claramente defensivo, e no cartão VII 
considera-se o sujeito capturado pelo vazio – o que remete para vivências de 
falta, ou seja, carências afectivas. 
 
- Detalhe Oligofrénico: 
Foi constatado que estas imagens surgiam em sujeitos com défices 
cognitivos, apesar deste tipo de respostas não serem específicas deste tipo de 
sujeitos. Essencialmente Rorschach constatou que onde sujeitos normais viam 
figuras inteiras, outras pessoas viam apenas partes dessas figuras, o que atribuiu 
a restrições do campo perceptivo e do conteúdo – é esperado que não 
ocorram estas restrições (d e db). Os conteúdos mais frequentemente 
interpretados são animais (A), ou partes de animais (Ad), figuras humanas (H) 
ou partes de figuras humanas (Hd), bot (botânica), obj (algo fabricado pelo 
homem). Os Do’s estão sempre associados a Ad e Hd. 
Exemplo: no cartão III, se mencionar a cabeça como parte de um todo será 
um Do. 
 
-Modos de Apreensão Associados: 
Estes modos de apreensão são o resultado de diversos momentos 
perceptivos. Assim podemos referir-nos a: 
-G Primário: 
G barrado 
 
O Rorschach 
18	
  
	
  
Escomotizado técnico: o sujeito interpreta o todo, mas retira uma 
pequena parte (parte que, do ponto de vista estritamente perceptivo não 
se impõe – Dd). Ao nível interpretativo, este modo de apreensão dá-nos 
conta de que o sujeito evita essas partes por terem, grande parte das vezes, 
um valor sexual ou agressivo. (G) 
 
 
G sincréticos 
Existem três tipos de G sincréticos e todos eles nos remetem para problemas 
de separação e individualização: 
• G confabulados: são resultado de uma generalização abusivaa partir 
de um detalhe da mancha. Podem remeter para dificuldades claras ao 
nível da diferenciação. Isto porque a generalização começa a partir de 
uma parte da mancha que do ponto de vista estritamente perceptivo 
se impõe. (DG; DdG; DblG) 
• G contaminados: são o resultado de uma fusão ou sobreposição de 
imagens ou associações distintas, sendo que o resultado final vai ser 
uma combinação perfeitamente absurda. (D/G; Dd/G; Dbl/G) 
• G informulados: são o resultado de uma enunciação dos diversos 
elementos constitutivos de um todo sem, no entanto, se lhe referir (ao 
todo). Como se o todo fosse constituído por partes que se colam, o que 
denuncia uma fragilidade muito grande ao nível da identidade. (D(G); 
Dd(G)) 
 
G imprecisos 
Estas são respostas associadas a formas que o sujeito não precisa e dividem-
se em dois tipos: 
• G vago: o sujeito introduz o vago para não ver coisas significativas e 
para não ter que se revelar, ou seja, este tipo de respostas aparece 
associado ao recalcamento. (F+/-) G 
• G impressionistas: o sujeito deixa impressionar-se pela cor. (C; C, E) G 
 
-G Secundário: 
Estas respostas são o resultado de uma articulação/combinação dos 
diversos elementos da mancha até que o sujeito tem em conta a totalidade 
da mesma através de um processo de elaboração. 
Este tipo de imagem remete-nos para um pensamento rico (creativo, com 
capacidade de ligar) e reflexão do sujeito. ((D)G; (Dd)G; (Dbl)G; (Do)G; G bl) 
 
4.3. Determinantes 
Determinantes são as características do estímulo responsáveis por 
determinadas elaborações, e para as quais consideramos dois eixos: 
 
O Rorschach 
19	
  
	
  
• Eixo mais preceptivo onde incluímos: forma (F), Cor (C), e esbatimento 
específico, textura (E) 
• Eixo mais projectivo onde se incluem (K), claro ou escuro (Clob) e 
esbatimento tridimensional (E) 
 
 
 
- Forma F: 
As respostas formais são determinadas pela configuração da mancha 
(exemplo: borboleta é uma resposta que é determinada pela configuração 
da mancha). 
F+ é uma forma boa ou adequada 
F- é uma má forma ou forma inadequada 
F+-, neste caso, o sujeito é incapaz de precisar a forma/ imagem o que 
origina uma resposta indeterminada ou imprecisa (exemplo: cartão VII, 
resposta de detalhe em que isola uma parte e diz que é uma ilha). 
As respostas formais relacionam-se com a leitura que o sujeito faz da 
realidade, por isso, a percentagem das boas formas de Rorschach dá-nos 
conta da adaptação/ inserção do sujeito na realidade. 
 
- Cor C: 
• Cromática - (C) vermelho pastel 
• Acromática – (C’) negro, branco e cinzento 
 
A sensibilidade à cor ou às cores dá conta da sensibilidade ao mundo 
interno e externo, às cores ligam-se afectos, emoções... (exemplos: cartão II – 
“este vermelho parece-me sangue” DC; cartão IX – “pôr-do-sol” DC) 
Podem integrar um F, o qual pode ser secundário à cor (exemplos: cartão II 
– “mancha de sangue” C’F ou CF; cartão VII – “nuvens cinzentas”), ou então 
pode a cor ser secundária à forma, o que determina a imagem é a forma, 
mas a cor também contribui (exemplo: cartão V – “morcego negro” FC’; 
cartão VII – “nuvem com a forma da cabeça duma mulher”). 
NOTA: Quando o sujeito refere a cor apenas para a localização, a cor não 
entra na determinação da resposta. 
O estilo cromático vai-se modificando ao longo do Rorschach, o sujeito 
pode ser mais, ou menos sensível à modificação do estímulo. Quando o sujeito 
não é sensível a essa mudança, mostra que o sujeito não tem sensibilidade 
interna ao mundo externo (é como se os afectos e as emoções não 
circulassem, o que traduz uma dificuldade em relacionar-se com os afectos); 
se a cor entra como determinante da resposta está demonstrada a 
sensibilidade do sujeito relativamente aos afectos. O facto de a cor estar 
integrada numa forma demonstra maturidade afectiva. 
• Vermelho – pulsões sexuais ou agressivas, as quais podem surgir em 
contextos de castração ou separação (exemplos: cartão 2: animais que 
 
O Rorschach 
20	
  
	
  
estão a brigar em com o outro e salta sangue por todo o lado, ou dois 
cachorros que se lamentam porque lhes cortaram o rabo). 
• Pastel – sensibilidade ao meio, tendências ligadas à ternura, etc. 
• Negro - está relacionado com afectos mais depressivos (luto, morte) 
• Cinzento – está relacionado com afectos depressivos (mais ou menos 
negro) 
• Branco – relaciona-se com afectos que dão conta da inexistência 
(interpretação do branco como cor associada a temas de frio DBL), às 
vezes a pureza é de tal forma pura e imaculada que no limite toca no 
nada e não é nada; o branco remete para vazio 
 
-Esbatimento: 
São respostas determinadas pelas diferentes tonalidades – exemplo: cartões 
VII, algo de nebuloso, nevoeiro (GE), ou cartão VI, estas mudanças lembram-
me lama, lodo (GE). 
As respostas de esbatimento podem ser EF, quando a forma é imprecisa e 
secundária, ou FE, quando o esbatimento é secundário. 
Exemplos: 
Cartão VII: 
- “Nevoeiro” (GE) 
- “Farrapos de nuvens pela diferença de tonalidades” (EF, há 
uma não definição dos limites) 
- “Cabeça duma mulher desenhada numa nuvem” (FE, o 
sujeito precisou a imagem) 
- “Cão fofinho de peluche” (GFE) 
 
Respostas que incluem tecido, veludo, peluche, são imagens que remetem 
para o toque e para o tacto – são respostas de esbatimento. 
Pele de animal pode ser Fe ou EF, há que fazer o inquérito para perceber se 
o esbatimento participa ou não na resposta (exemplos cartão VI – pele de 
animal, vê-se muito bem a cabeça e as quatro patas, está estendida no chão 
GF+; pele de animal, vê-se muito bem a cabeça, as quatro patas e o pelo 
GFE, pois demonstra sensibilidade à nuance, às diferentes tonalidades e ao 
esbatimento; ao longe parece uma pele de animal, é fofinha GEF) 
No esbatimento estão presentes diferentes cores e tonalidades, as cores 
ligam-se aos afectos, à sensibilidade ao mundo interno (pastel); por isso as 
respostas de tonalidade também se referem a afectos porém não a uma 
afectividade franca, mas a uma subtileza, perspicácia, a presença deste tipo 
de resposta (na ausência de resposta de cor) pode mostrar uma afectividade 
abafada, reprimida. 
Respostas de Esbatimento 
1. Textura - A textura remete para uma dimensão táctil muito importante, 
os afectos. Exemplo: cartão VI “O cãozinho de peluche é tão fofinho, 
 
O Rorschach 
21	
  
	
  
apetece tocar!”. Afectos: nos primeiros objectos e nas primeiras relações 
muitas mensagens passam pelo tacto (o qual tem um papel 
fundamental). A presença deste tipo de resposta (em detrimento de 
outros) dá conta da imaturidade e carências afectivas. 
2. Tridimensional ou perspectiva 
3. Difusão – refere-se a imagens nas quais o grau de organização é muito 
ténue. Estas imagens indicam recalcamentos: o sujeito introduz algo 
vago para não ver coisas mais significativas. 
Exemplos: “Algo nebulosos”, “Farrapos de nuvens a dispersarem-
se”, “Fumo”, “Espirais de fumaça” 
 
-Clob: 
Para ser cotado com clob é necessário que a imagem se situe em D ou em 
G, é obrigatório que haja um sentimento de perigo, ameaça ou destruição 
(não se pode cotar Clob sem que exista um destes sentimentos). O que está 
subjacente são os medos, estes demonstram a presença duma angústia muito 
intensa, há que entender a dimensão projectiva é uma dimensão muito 
importante a qual se encontra aqui. 
Exemplos: 
Cartão IV - “Algo demoníaco, um pesadelo terrível!” 
Cartão I – “Uma impressão de terror, de fim de mundo.” 
Existem respostas que integram também um F, uma resposta do tipo F clob 
demonstra uma angústia contida e controlada (cartão IV: “É um homem 
terrível!”; “O abominável homem das neves”; “Um gigante”; cartão I “Parece 
uma bruxa”). Quando se verificam muitas respostas do tipo ClobF estádemonstrada uma fragilidade e que as dificuldades de contenção e de 
controlo são muito maiores (exemplo: “Ih! Qualquer coisa terrível! Pegajoso, 
repelente, nojento! Parece uma aranha!”. Este exemplo é claramente um 
ClobF porque foram os diversos sentimentos do sujeito que o levaram a 
associar a uma aranha, e não houve sensibilidade relativamente à 
configuração da mancha). 
 
- Respostas Cinestésicas: 
São respostas em que há atribuição de movimento a uma forma específica. 
- Conteúdo humano K 
- Conteúdo animal Kan 
- Objecto ou fenómenos naturais Kob 
- Partes do corpo humano (Hd) ou corpo inteiro em Dd (Kp) 
 
- K: 
Cota-se K quando houver atribuição de movimento a uma forma humana 
(uma figura humana inteira em movimento), também se cota K se uma figura 
K menores	
  
ou	
  
pequenas	
  
cinestesias	
  
K 
maiores 
 
O Rorschach 
22	
  
	
  
humana se uma figura humana se encontrar com uma atitude de intenção 
duma relação. 
Exemplos: 
Cartão VII: Duas mulheres que se olham; Uma mulher a ver-se ao espelho 
Cartão I: Um homem a orar aos céus K (sonhar, dormir, pensar... são 
cotados com K) 
Um palhaço também se cota como K porque está sempre a rir, assim 
como uma bailarina (está sempre associada a movimento). 
EXCEPÇÂO: cartão III, os negros laterais cotam-se sempre como K sem ser 
necessário que estejam associados a movimento ou a relação. 
- Kan: 
Cota-se Kan no caso de haver atribuição a movimento a um animal inteiro 
ou quando o animal inteiro se encontra numa atitude humana. 
Cartão I: uma borboleta a voar 
Cartão IV: (as partes mais claras dos detalhes laterais inferiores) “Parece 
um cão que está sentado a pensar na vida.” 
Excepção: No cartão VIII, dois animais a subir ou a andar nas partes 
laterais não são cotados como kan, mas como F+; mas se o cartão se 
encontrar na posição lateral cota-se Kan. 
 
- Kob: 
A cotação Kob refere-se a objectos vistos em movimento ou a fenómenos 
naturais em movimento, sendo que a força impulsionadora do movimento tem 
de se encontrar no interior do objecto. 
Exemplos: 
Cartão II: Um foguetão a subir, vê-se o fogo da propulsão (KobC) 
Cartão X: Fogo-de-artifício (KobC) 
Cartão VI: (posição invertida) explosão duma bomba atómica (é sensível 
às diferentes tonalidades e ao fumo - KobE) 
Cartão IX: (posição invertida) erupção vulcânica, vê-se muito bem a lava 
incandescente. 
 
- Kp: 
Refere-se a partes do corpo humano vistas em movimento ou o corpo 
humano em movimento visto em DD 
Exemplos: 
Cartão VII: Um homem que balança, hesita em atirar-se ou não. 
Cartão IV: dois olhos que me perseguem 
Cartão IX: Uma cabeça está escondida por trás duma moita a espreitar. 
 
O Rorschach 
23	
  
	
  
4.4. Conteúdos 
Resposta à questão o quê? 
A categoria de conteúdos a que pertence a resposta é indicada por 
uma abreviatura. 
As 15 categorias geralmente admitidas não esgotam a riqueza das 
respostas, apenas constituem um inventário de imagens correntes. É possível 
um reagrupamento posterior por grandes temas. Sendo artificial querer fazer 
entrar algumas respostas num grupo, é melhor deixá-las tal como aparecem, 
por exemplo, “máscara”, “explosão”. 
Entre as respostas humanas ou animais, cota-se (H) ou (Hd) e (A) ou (Ad) 
aquelas que pertencem ao domínio do irreal, do sobrenatural ou da lenda 
(mas não as da História). Por exemplo: “ogre”, “dragão”, “duende”. 
“Palhaços” são cotados H e as respostas “pele de animal” são cotadas 
A por convenção. 
- Conteúdos mais frequentes que surgem na aplicação do Rorschach: 
H - Figura humana inteira, personagens históricas, palhaço 
Hd - Partes de figura humana 
(H) - Figuras humanas irreais, sobrenaturais, de lendas 
A - Figuras animais inteiras, peles de animais 
Ad - Partes de figuras animais 
(A) - Figuras animais irreais 
Obj - Objecto 
Art - Arte (pinturas abstractas, desenhos) 
Elem - Elementos fundamentais (ar, água, fogo...) 
Anat - Interior do corpo (tripas, rins) 
Alim - Alimentos 
Sg - Sangue 
Sx - Referências sexuais explícitas 
Nat -Fenómenos da natureza (nuvens…) 
Frag - Bocados de qualquer coisa inumana 
Geo - Geografia (ilha, mar) 
Bot - Botânica 
 
O Rorschach 
24	
  
	
  
Másc - Máscara 
Geol - Geologia (gruta, buraco na terra) 
Abs - Abstracto (Primavera...) 
Arq - Arquitectura (Torre Eiffel) 
Emb - Emblema (águia do Benfica) 
4.5. Banalidades 
 São os conteúdos que aparecem 1 em cada 6 numa determinada 
população, numa mesma localização. 
 A banalidade refere-se, assim, à frequência de uma certa localização 
com um determinado conteúdo, isto é, ao reconhecimento perceptivo de 
uma certa realidade, qualquer que seja a eventual elaboração do próprio 
conteúdo. 
 Estas respostas são designadas pela menção Ban após o conteúdo. 
 O determinante formal é, por definição, dominante e em F+ (FC+, K+, 
etc.), releva de uma confrontação de resultados que não foram verificados 
estatisticamente e de uma geração a outra verificam-se alterações, pelo que 
se justificaria a realização de trabalhos estatísticos sobre esses dados. 
- Lista Francesa de Banalidades ao Rorschach: 
Cartão Modo de Apreensão Banalidade 
I - G - Pássaro, morcego, borboleta 
II - D negros - Duas cabeças de animais ou 2 animais 
III - G - Homens, personagens 
 D. verm. médio - Borboleta, laço 
IV - G - Pele de animal 
V - G - Pássaro, morcego, borboleta 
VI - G ou D inf. - Pele de animal 
VII - Não há 
VIII - D. rosa lat. - 2 animais (excepto peixes ou pássaros) 
IX - D. rosa - Cabeça de homem, de bebé 
X - D. azul lateral - Caranguejo, polvo, aranha 
 D. verde médio - Cabeça de Coelho 
 D. cinzento sup. - 2 animais 
 
 
O Rorschach 
25	
  
	
  
4.6. Outros Factores 
Recusa – Há recusa sempre que o sujeito devolve o cartão sem ter dado uma 
resposta cotável. Não há assim nem tempo de latência nem tempo total. 
Tempo de Latência – tempo que decorre entre a apresentação do cartão ao 
sujeito e a primeira resposta cotável. 
Tempo total por cartão – tempo que decorre entre a apresentação do cartão 
ao sujeito a fim das associações dadas nesse cartão. 
Elementos Qualitativos 
Choque ou Equivalente de Choque – Trata-se de perturbações do processo 
associativo que se referem a diferentes elementos e mais especificamente a 
factores temporais, à sequência dos modos de apreensão e à qualidade 
formal dos determinantes. 
Segundo a intensidade da perturbação e a maneira de dela se defender, 
distingue-se: 
• Choque Manifesto – que se exprime verbalmente de uma forma directa 
(“Oh! Que horror!”, “É horroroso!”), ou através do silêncio ou da recusa. 
• Equivalente de choque – que são objectivava de diferentes maneiras: 
numerosas manipulações, alongamento do tempo de latência (o 
tempo mais longo ou claramente superior ao tempo médio), 
comentários verbais, críticas objectivas e subjectivas, redução ou 
aumento espectacular do número de respostas, brusco 
empobrecimento da qualidade das respostas, em síntese, qualquer 
modificação importante na reactividade. 
• Os fenómenos de choque mais correntemente descritos são: 
§ Choque Cor (cores pastel e vermelho) 
§ Choque Clob, também designado por choque negro 
Há outras características do material que podem provocar reacções de 
choque. 
Preservação – quando uma resposta formalmente adequada num cartão se 
repete duas vezes de forma arbitrária (F-) nos cartões seguintes. 
Observação Cor – observação subjectiva de prazer ou de desprazer sobre as 
cores. 
Observações de Simetria – presença de observações sobre a simetria das 
manchas. A indicar como Sim. 
Crítica Subjectiva – crítica de si, da sua eficácia ou dificuldade. 
Crítica de Objecto – crítica às característicasdo estímulo. 
 
O Rorschach 
26	
  
	
  
 É obvio que a cotação é redutora e não consegue dar conta de toda a 
riqueza e complexidade dos protocolos. 
 Nem a cotação, nem o psicograma têm sentido tomados 
isoladamente, é indispensável proceder a uma análise qualitativa que integre 
todos os dados com o objectivo de uma síntese clínica. 
 
4.7. O Psicograma 
A análise quantitativa é realizada pela elaboração do Psicograma. O 
psicograma é a recapitulação dos dados obtidos. Uma vez terminada a 
cotação, agrupam-se todas as categorias de respostas numa folha de modo 
a que se possam comparar com os valores normativos, tornando-se evidentes 
os traços salientes (tudo o que se afasta da norma). A interpretação do 
protocolo do sujeito irá incidir sobre esses traços salientes. 
Na primeira coluna anota-se o número de respostas, as recusas e os 
diferentes tempos observados. 
R - número de respostas total (cerca de 20 a 30). 
Recusa - número de recusas e quais os cartões recusados. 
TT - soma dos tempos totais em cada cartão. È exprimido em minutos e 
segundos (20 a 30 minutos). 
T/R - é dada pela soma do tempo total a dividir pelo número de respostas (40 
a 60 segundos). 
T/Lm - é dado pela soma dos tempos de latência a dividir pelo número de 
cartões interpretados. É exprimido em segundos. 
 
Localizações = N x 100 
 
Na segunda coluna faz-se a reorganização dos modos de apreensão. 
 
 
 
 
 
 
 
G 20% a 30% 
D 60% a 80% 
Dd 6% a 10% 
Dbl 3% 
Do 
	
  	
  
	
  R	
  
 
O Rorschach 
27	
  
	
  
Na terceira coluna anota-se o número total de cada determinante. No 
caso de os determinantes serem duplos, cada determinante é recenseado na 
sua categoria, por exemplo, um KC é, em geral, decomposto em K e FC, 
enquanto um kobC é, em geral, decomposto em kob e C ou CF. 
Na quarta coluna anota-se o número total de conteúdos do protocolo. 
Os H e os A devem ser destacados. 
Os conteúdos não previstos na folha do psicograma devem ser 
acrescentados. É evidente que a soma de cada coluna deve ser igual ao 
número de respostas (excepto nos determinantes quando há determinantes 
duplos, pelo que se deve proceder a essa verificação. 
Na quinta coluna anota-se as percentagens dos vários tipos de F, A e H 
e o número de banalidades. 
A percentagem de F está relacionada com o recurso ao formal, ao 
intelectual ou ao socializado. Em princípio menos afectivo, a-conflitual. Se os 
valores dos F se situarem abaixo da norma há uma perturbação do 
funcionamento cognitivo. Se, pelo contrário, se situarem acima da norma há 
facilidade do funcionamento cognitivo. 
A normalidade da percentagem de A revela uma boa participação no 
pensamento colectivo. 
O número de banalidades de um protocolo não se expressa em termos 
de percentagem, uma vez que o seu número varia em função de R. As 
banalidades são 12 e só devem aparecer uma vez numa localização. Se o 
sujeito só expressa banalidades dá conta duma socialização de superfície, o 
que significa que o sujeito dá pouco de si. Regra geral, a normalidade é de 5 a 
7 banalidades. Contudo, é variável consoante o número total de respostas do 
sujeito. 
F% = Número total dos F x 100 à (50% a 70%, mas situa-se a 60%) 
 
 F+% = Número de (F+) + ½ (F±) x 100 à (80% a 85%; não é muito válido 
quando o número total de F é 
baixo) 
 
A% = A+ Ad x 100 à (35% a 50%) 
 
 H% = H+ Hd x 100 à (12% a 18% ≈ 16% ) 
 
-Sucessão: 
- rígida – ordenada – relaxada – incoerente 
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  R	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  R	
  
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  Número	
  total	
  de	
  F	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  R	
  
 
O Rorschach 
28	
  
	
  
Refere-se à ordem perceptiva das respostas num cartão, a qual deverá ir 
sempre do geral para o particular. Se esta ordem for igual em todos os cartões 
trata-se duma sucessão rígida; se for sistemática ao longo de 7/ 8 cartões, é 
uma sucessão ordenada; se a ordem for sistemática ao longo de 3/ 4 cartões, 
estamos perante uma sucessão relaxada ou frouxa; se esta ordem variar 
sistematicamente designa-se por incoerente. Nos dois primeiros casos existe 
controlo sobre os processos cognitivos. 
 
-Tipo de Apreensão: 
Anotam-se as localizações apresentadas no protocolo segundo a ordem 
convencional (G-D-Dd-Dbl-Do); sublinham-se aquelas cujas percentagens são 
superiores à norma e sobrelinham-se as que são inferiores à norma. 
 
G D Dd Dbl 
20 a 23% à G 60 a 68% à D 6 a 10% à Dd 3% à Dbl 
30 a 45% à G 68 a 80% à D 10 a 15% à Dd 3 a 6% à Dbl 
45 a 60% à G 86 a 90% à D 15 a 25% à Dd 6 a 12% à Dbl 
+ de 60% à G + de 90% à D + de 25% à Dd + de 12% à Dbl 
 
- Tipo de Ressonância Íntima (T.R.I.): 
 É a comparação entre o número de cinestesias maiores (K) e a soma 
ponderada das respostas cor (C) 
 
T.R.I. = K / �C 
 
 
 
 
 
Do ponto de vista patológico, a perturbação histérica domina para os 
estímulos externos e o autismo é a patologia máxima associada à introversão. 
O T.R.I. permite aceder ao mundo interno/externo, ou seja, da atitude que 
o sujeito tem para consigo próprio e para com o mundo. O mundo (externo ou 
interno) é enriquecido pelo outro, e o T.R.I. vai permitir perceber se o sujeito 
investe mais no externo ou no interno. Dependendo desta relação, Rorschach 
As	
  respostas	
  são	
  ponderadas	
  da	
  seguinte	
  forma:	
  
1	
  Ponto	
  –	
  cada	
  cinestesia	
  
0,5	
  Pontos	
  –	
  cada	
  FC	
  ou	
  FC’	
  
1	
  Ponto	
  –	
  cada	
  CF	
  ou	
  CF’	
  
1,5	
  Pontos	
  –	
  cada	
  C	
  ou	
  C’	
  
Será	
  o	
  sujeito	
  orientado	
  para	
  a	
  
estimulação	
  exterior	
  (extratensivo),	
  
interior	
  (intratensivo)	
  ou	
  misto?	
  
 
O Rorschach 
29	
  
	
  
distingue 4 tipos de ressonância íntima, distinguindo-os segundo a sua 
frequência de aparecimento entre indivíduos normais e, sobretudo, em 
doentes mentais, e apresenta as variáveis psicológicas do teste que 
acompanham esses tipos. É, portanto, em termos de dados do teste que o TRI 
é definido, e não em função do processo psicológico. 
 
- Tipo Extratensivo: 
 
É puro ou misto, conforme o pólo K seja nulo ou não. 
 
Os tipos extratensivos são dominados por cargas afectivas ou uma 
excitabilidade cuja utilização é frequentemente inadequada. Falta-lhes 
perspectiva na apreciação da realidade objectiva, mas podem ser 
espontâneos nas suas reacções. Sendo impulsivos, podem, no limite, ser 
instáveis. Estas respostas mais emotivas do que pensadas aparecem 
atenuadas no tipo extratensivo misto. 
A instabilidade torna-os muito maleáveis; o objecto, a realidade exterior, 
domina-os com facilidade, mas o relaxamento das funções cognitivas e do 
controle produz efeitos de regressão, uma regressão salutar ao serviço do Ego. 
 
 
- Tipo Introversivo: 
 
Também pode ser puro e misto, conforme as reacções cor C estejam ou 
não expressas nele. 
No caso do tipo puro a adaptação feita mais pelo pensamento do que 
pelo afecto. São sujeitos bastante virados para si próprios. Preocupam-se com 
a sua própria personalidade. Os indivíduos observam o objecto, reflectem, são 
capazes de protelara acção e a gratificação, e parecem ter um carácter 
reservado. Neste sentido, podem ter um bom conhecimento de si mesmos, 
talvez estejam conscientes das suas dificuldades, mas podem absorver-se na 
sua contemplação imaginária e o seu mundo interior prevalece sobre a 
realidade exterior. 
A reacção do tipo misto é mais impulsiva, sendo os indivíduos muito 
centrados em si mesmo mas capazes de incidentes explosivos. 
A sintomatologia dos tipos introversivos será, sobretudo, ideacional e só 
ocasionalmente comportará descargas afectivas. Encontram-se, portanto, os 
introversivos nas neuroses obsessivas e fóbicas, nos estados esquizóides e certas 
esquizofrenias paranóides. 
 
 
- Fórmula Complementar (F.C.): 
É a comparação entre o número de cinestesias menores (kan, kob e kp) e 
a soma ponderada das respostas esbatimento (E) 
 
F.C. = (kan+kob+kp) / �E 
 
As	
  respostas	
  são	
  ponderadas	
  da	
  seguinte	
  forma:	
  
0,5	
  pontos	
  –	
  cada	
  FE	
  
1	
  ponto	
  –	
  cada	
  EF	
  
1,5	
  pontos	
  –	
  cada	
  E	
  
 
O Rorschach 
30	
  
	
  
Ao calcular a FC, vamos verificar se ela 
confirma ou informa o TRI. Quando o TRI é 
contraditório com a FC, isso indica que há uma 
parte inconsciente (recalcada) do sujeito que 
tende a ir contra o consciente. 
 
- Reactividade Cor (R.C.%): 
Percentagem das respostas dadas nos três últimos cartões em relação 
com o número total de respostas. 
Dá-nos conta do potencial afectivo do sujeito. É importante que 
algumas destas respostas integrem a cor como determinante, pois são elas 
que dão conta da mobilização dos afectos. Há outros cartões que também 
nos dão conta dos afectos (II, III), pelo que se deve fazer a ligação disto com 
aqueles cartões e perceber se houve respostas determinantes com a cor 
vermelha ou não. 
 
R.C.% = Número de respostas ao VIII, IX e X x 100 à (30 a 40%) 
 
- Índice de Angústia (I.A.%): 
 Há autores que usam o IA; normalmente é igual a 16%. 
 
I.A.% = Anat + Sg + Sexo + Hd x 100 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
K	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  TRI	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  C	
  
	
  K	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  FC	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  C	
  
Consciente	
  
Inconsciente	
  
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  R	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  R	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  	
  
 
O Rorschach 
31	
  
	
  
5. O Rorschach na prática Clínica 
O objectivo do Rorschach é apreender a realidade psicológica do sujeito, 
isto é, a sua subjectividade (o que é, como se vê a si próprio na relação 
consigo e com o mundo, a natureza dos conflitos) e tentar descobrir as 
modalidades de funcionamento mental dominantes. 
• Os mecanismos de defesa; 
• A angústia presente; 
• Identidade (o que sou eu? – a nível da consciência como humano); 
• Identificação (ao nível do género); 
• Limites do corpo; 
• Relação de objecto. 
 
 Identificar o tipo de estrutura mental (diagnóstico psicológico): 
• Psicótica 
• Neurótica 
• Estados-limite 
 
Podemos admitir a situação de teste Rorschach como um triângulo, onde 
vão aparecer vários aspectos. Por um lado, num dos vértices, teremos a 
problemática do testador. Esta não é anódina, há sempre algo de 
intrusividade; pode ser um estilo mais directo ou autoritário, mas há sempre um 
estilo. No outro vértice poderemos pôr a comunicação da dinâmica 
interpessoal na interpretação, isto é, os aspectos transferenciais e contra-
transferenciais. Há um interpenetração de dinâmicas de uma parte e de 
outra: o que o sujeito vê em mim e que se repercute na forma como se 
relaciona com o teste e, por outro lado, a forma como eu o vejo a ele e que 
se repercute na forma de eu interpretar os protocolos. Finalmente, num 
terceiro vértice temos a dinâmica do teste, isto é, o regressivo e progressivo no 
próprio teste. 
Quer isto dizer que o Teste Rorschach é feito de movimentos progredientes, 
ou regras. O que nós assistimos às vezes é a melhores níveis de funcionamento 
nuns cartões do que noutros. Por exemplo, um sujeito pode dar 3 ou 4 
respostas perante um mesmo estímulo, começando por uma resposta de boa 
qualidade que se vai degradando. Por outro lado, pode suceder o inverso. 
Portanto, pode haver uma degradação da resposta ou um melhoramento da 
resposta inicial. 
Quando há uma degradação da resposta, o sujeito tentou fazer face 
àquele estímulo, mas os mecanismos de defesa que utilizou não foram 
suficientemente sólidos para que ele se aguentasse e daí surgir a queda na 
qualidade da resposta. São movimentos regredientes. 
Há indivíduos que ficam perturbados inicialmente, e depois são capazes de 
mobilizar mecanismos de defesa adequados para aguentar e melhorar o nível 
da resposta. São movimentos progredientes. Em termos de prognóstico e 
diagnóstico, é muito melhor um indivíduo que é capaz de encontrar recursos 
em si, do que um indivíduo que acaba por mergulhar pela fantasmática que 
está em jogo e que não tem capacidade de distinguir o fantasma da 
realidade. 
 
O Rorschach 
32	
  
	
  
São, pois, três vértices de uma mesma questão que estão sempre em jogo 
nesta questão da avaliação psíquica através do uso das técnicas projectivas. 
Produz-se, antes de mais, num contexto, segundo numa interacção e 
finalmente numa intersubjectividade. 
É redutor pensarmos que as respostas produzidas pelo sujeito são produto 
unicamente do confronto entre o sujeito e a mancha, de onde estaria 
evacuado todo o olhar e a presença do próprio examinador. Esta interacção, 
esta intersubjectividade, tem expressão no próprio comportamento e na 
própria forma do indivíduo se expressar. 
 
- A análise do protocolo tem duas vertentes: 
Modelos quantitativos e explicativos 
 
Medida psicológica e demonstração a partir de certos princípios 
psicométricos e estatísticos. É uma medida objectiva e é expressa no 
psicograma. 
Modelos Interpretativos Hermenêuticos 
 
Análise subjectiva das respostas, expressa em três eixos: 
• Expressão dos aspectos intelectuais; 
• Dinâmica afectiva; 
• Socialização. 
 
Estão ligados à significação, relação entre teoria, teste e psicopatologia. 
O conhecimento objectivo é fundado no real e nos sinais exteriores 
(atribuição de nota); o conhecimento intersubjectivo tenta perceber o 
processo que levou à resposta, em vez de a avaliar. A objectividade pura 
esconde os fenómenos - os instrumentos de medida não devem passar de 
auxiliares de observação que revelam dados cujo valor se apura na análise e 
interpretação, que têm de estar submetidos a uma teoria, modelos e métodos, 
para os descodificar. 
 
- Processo-resposta Rorschach: 
 
O Rorschach é um instrumento para conhecer o que o seu uso provoca; 
permite revelar os processos mentais que fundam a relação de objecto e do 
sujeito com ele próprio, a representação do objecto e a representação da 
relação. Permite conhecer as suas capacidades criativas e de recriação (liga 
interno e externo e vai criar um novo objecto, uma criação sua). 
A realidade interna éúnica em cada sujeito, não é partilhável; a 
realidade externa é partilhável, mas é interpretada pela realidade interna. É 
 
O Rorschach 
33	
  
	
  
na interacção e inter-relação destas duas realidades que reside o ponto fulcral 
do Rorschach. 
A partir desta conceptualização, o sujeito formulará o processo-resposta 
Rorschach – ligação, transformação e criação entre o mundo interno e o 
externo (subordinado pela intersubjectividade). A reposta é um novo objecto 
resultante desta confrontação, tentando dar sentido ao que não tem sentido – 
revela a natureza dos objectos internos (foram mobilizados pelos objectos 
externos porquê?). 
Chegamos assim à natureza do Eu � mais importante que prestar 
atenção à resposta do sujeito é tentar perceber esse processo associativo, que 
vai desde a percepção do estímulo até à resposta final. 
A partir de um protocolo de Rorschach bem sucedido, podemos saber 
qual o modo de funcionamento mental dominante (e conflitos dominantes) 
do sujeito noutras situações. 
É através da simbolização que podemos explicitar o processo-resposta 
Rorschach. A simbolização é fundamental dado que lidamos com material 
verbal, que veicula uma imagem, um conceito e um símbolo (susceptível de 
interpretação). 
A resposta Rorschach (símbolo) é permitida por: 
• Contexto; 
• Relação interpessoal; 
• Características do próprio estímulo; 
• Instrução dada ao sujeito. 
 
Revela a forma do sujeito pensar, como articula as ideias entre si. Esta 
actividade de pensar faz-se através do processo de ligação e transformação 
de diversos universos psíquicos, recriação e criação. A resposta final é a 
recriação do objecto (produto entre o interno e o externo). Tem um conteúdo 
explícito e um conteúdo latente. 
 
- Projecção: 
 
A projecção é utilizada para apreender o real, e pode ser de natureza: 
• Avaliativa – atribuição de significados e valores. 
Ou 
• Evacuativa – mecanismo patológico (pertence à serie psicótica, em 
particular à paranóia) - é um mecanismo de defesa psicótico que 
consiste na atribuição ao exterior das coisas que o sujeito rejeita em si 
próprio. 
 
 
O Rorschach 
34	
  
	
  
A percepção e a projecção estreitamente relacionadas, sendo que uma 
não existe sem a outra, permitem a delimitação entre mundo interno e mundo 
externo e também a representação do mundo interno e externo. 
No Rorschach, o estímulo é a mancha, o qual tem características 
perceptivas bem precisas, apesar de ambíguas. A ambiguidade e as 
características da mancha vão levar o sujeito a usar a projecção, para lhe dar 
um sentido: 
• Atribuindo a imagens ambíguas o estatuto de imagens bem definidas; 
• Articulando o imaginário com a realidade ambígua que lhe é próxima e 
transformando essa realidade; 
 
Está presente quando os sujeitos utilizam estratégias defensivas e pode ser 
associada a uma situação de conflito. A ambiguidade do estímulo leva à 
mobilização da imaginação por parte do sujeito de uma forma activa, o que 
provoca, numa mesma resposta, a conciliação entre forças inconscientes e 
conscientes, tendo em conta a realidade interna e externa; O sujeito articula o 
imaginário com a realidade ambígua que lhe é próxima e transforma a 
realidade noutra realidade. A resposta global vai ter de levar em conta a 
fantasia. 
O processo projectivo leva a que só sejam acolhidas e investidas pelo 
sujeito as percepções e as representações que reactivam traços mnésicos 
individuais ou que integram essas reacções num sistema prévio. 
Na situação projectiva o sujeito tem de se mobilizar para ordenar as 
percepções internas e externas, ver o estímulo, sentir e pensar o estímulo, e 
conciliar estas duas coisas numa só resposta; por isso se vão operar oscilações 
entre a realidade interna e a externa. 
 Real Externo � Pressão Interna 
A resposta final desejada deverá conter as duas realidades, conciliando 
as duas pressões; deve mostrar que o sujeito tem a capacidade de regredir, 
dando uma resposta secundarizada, perceptível e inteligente (deve conter 
elementos reais propostos pela situação, que sejam coloridos pelos afectos) - a 
situação projectiva pode ser assimilada a uma situação de conflito, porque as 
características ambíguas dos estímulos levam o sujeito a ter de mobilizar 
activamente a imaginação e o sujeito vai ter de, num mesmo movimento, 
numa mesma resposta, conciliar imperativos inconscientes e imperativos 
conscientes; vai ter de ter em atenção a sua realidade interna e a realidade 
externa, desta forma a resposta final vai ter de ter em conta a realidade e a 
fantasia. A boa distância permite que a resposta, mantendo presente a 
realidade, mostre igualmente as ressonâncias fantasmáticas, ou seja as 
produções do sujeito deverão conter os elementos reais que são propostos, 
mas coloridos pelo afecto, isto é, com ressonância afectiva e fantasmática e 
sendo os afectos emoções, há-os mais emotivos ou menos emotivos (Se o 
sujeito diz “Estão aqui dois homens (ou duas mulheres) a dançar numa festa 
com borboletas a esvoaçar à volta”, a imagem “Seres humanos” proposta 
pela pessoa, coaduna-se com a realidade mas está colorida pelo afecto; as 
 
O Rorschach 
35	
  
	
  
percepções estão sempre ligadas a representações. Há um encadeamento 
de percepção, representação e afecto e o sujeito durante o encadeamento 
associa sempre um afecto a essa representação que lhe surge no espírito). 
 
Percepção Representação Afecto 
 
 (Retroacção) 
 
Cada cartão tem características precisas (embora ambíguas) que se 
centram em dois eixos: 
1. Eixo da Representação de Si 
2. Eixo da Representação da Relação 
O conteúdo latente dos cartões pode perturbar o sujeito de tal forma 
(pressões fantasmáticas) que ele se refugia no imaginário e perde o contacto 
com o princípio da realidade (quase delirante); o contrário também acontece 
– agarra-se à realidade e revela um funcionamento mental muito 
empobrecido. 
Os cartões II e III (com vermelhos) e VIII, IX e X (cores pastel), têm 
características que permitem ao sujeito situar-se diferentemente e são 
susceptíveis de permitir ao sujeito uma compreensão simbólica sentida em dois 
eixos: o eixo da representação de si e o eixo da representação da relação. 
Basicamente, quando o indivíduo se revê, se projecta nestas manchas de 
tinta, é natural que se reveja como ser humano e possa ver essas figuras 
humanas em relação. É da maneira como o sujeito vai jogar com estes 
elementos projectivos, que nós percebemos quais são os seus estilos 
relacionais. 
A realidade objectiva entra em confronto com a realidade interna, sendo 
uma projecção. No limite, o real não existe, apenas a realidade individual - 
produto da projecção do eu sobre o exterior. 
Percepção e projecção participam ambas na delimitação entre o mundo 
interno e o mundo externo. Quando dizem que as figuras humanas estão a 
sangrar, o envelope físico não está constituído, o processo projectivo leva 
também a que só sejam acolhidas, investidas pelo sujeito as percepções, as 
excitações que reactivam traços mnésicos individuais. 
O material que interessa ao psicólogo é o que reactivar no sujeito traços 
mnésicos, lembranças que são importantes para o sujeito - em todos os sujeitos 
há estímulos que irão ser integrados num sistema pessoal. 
Ainda na situação projectiva, o sujeito vai ter de se mobilizar para ordenar 
as percepções interna e externa, aquilo que ele observa e aquilo que ele 
pensa sobre o que observa. Assim, vai oscilar entre a realidade e a fantasia, 
entre a realidade objectiva e subjectiva. É por isso que vamos observar 
 
O Rorschach 
36	
  
	
  
oscilações no discurso do sujeito, movimentos mais ou menos subtis entre a 
realidade interna e a realidade externa, de modo a dar uma resposta quecontenha essa realidade externa e, ao mesmo tempo, a sua realidade interna. 
De um lado temos o percepto, do outro a pressão interna - a boa distância 
será aquilo que permite que a resposta, mantendo presente a realidade, 
mostre igualmente a ressonância fantasmática do sujeito. 
Podemos ter duas situações extremadas: uma pressão fantasmática pode 
ser de tal forma que o sujeito deixe de poder contar com a realidade externa, 
por outro lado, há indivíduos que são incapazes de se alimentarem dessa 
ressonância fantasmática e então só existe realidade externa. Nesses casos, 
pode acontecer que só dêem uma resposta por cartão sem interjeições nem 
adjectivações. 
Uns deixam-se ultrapassar pela ressonância fantasmática ao ponto de ser 
quase delirante, outros não conseguem sair da realidade externa, não há 
nada de si, só o real. A capacidade de ler os fenómenos é mais protectora 
para as pessoas. 
 
Cartão I 
 Mancha cinzenta escura centrada, onde existem 4 lacunas com grandes 
aberturas de bordos muito irregulares. Normalmente os modos de apreensão 
são G, baseando-se na forma (determinante F). O sujeito é sensível à condição 
tripartida do estímulo (1 central, 2 laterais). Esta composição tripartida vai 
permitir pôr esses diferentes elementos que compõem o estímulo em relação, 
seja essa relação entre seres humanos ou entre animais. 
Exemplo: “Dois anjos a elevarem uma mulher”. Pode ser uma relação 
com seres humanos ou animados, ou então uma resposta securizante ou de 
perigo. 
 Neste cartão não há grande reacção à textura (determinante sensorial), e 
quando isso acontece são respostas vagas F± e sem grande rigor intelectual 
ou estrutura definida (ex. “Rochedos”, “Nuvens”). A partir do momento em que 
o sujeito precisa a sua resposta quanto à forma, só se pode cotar F+ ou F- 
 As lacunas centrais são pouco interpretadas, embora haja 4 buracos ou 
espaços brancos, e que ora passam despercebidas, ora acabam por ser 
integradas na própria imagem, podendo trazer consigo elementos de 
inquietude, desagradáveis, persecutórios (ex. “Uns olhos de um lobo”). 
 A tonalidade emocional é quase sempre mais disfórica que eufórica (há 
pouco entusiasmo), visto apresentar uma tonalidade depressiva, no entanto, a 
partir dos buracos brancos podem também aparecer respostas securizantes, 
como por exemplo “as janelas da minha casa”. Quando o sujeito refere que “É 
uma máscara” remete para o voyeurismo, porque permite ver sem ser visto. 
 Este cartão está ligado ao desconhecido, o sujeito não sabe o que vai 
acontecer a seguir, é o primeiro contacto com o psicólogo, daí que possa 
gerar uma certa inquietude. O sujeito pode tomar uma atitude passiva, 
 
O Rorschach 
37	
  
	
  
socializada, e como tal, dar respostas banais (G F+ ban), ou então mobilizar 
as suas forças face ao desconhecido, traduzindo-se em respostas K. A 
cinestesia é projectiva e como esta é criativa, há mobilização de recursos. Este 
cartão reenvia para a relação com o imago (representação inconsciente) 
materno todo-poderoso, podendo ter respostas a um nível mais evoluído, mais 
relacional, mais lúdico, ou menos evoluído, mais perturbado, mais ameaçador. 
 De acordo com o que o sujeito disser podem-se levantar hipóteses quanto à 
relação com esse imago interiorizado. Essas hipóteses, essas pistas, têm que ser 
trabalhadas e têm que encontrar sentido na relação com o sujeito. 
 As duas respostas mais comuns são “animal alado” G e “personagem 
feminino” D central. A ausência das mesmas levanta um problema, cuja 
solução só será possível considerando-se o restante do protocolo. 
 O “Animal alado” ilustra como o sujeito reage de imediato às situações 
novas. Neste sentido, foi possível situar um choque inicial e uma dificuldade de 
dar início. Uma resposta banal é a defesa mais comum contra este tipo de 
choque. 
 Algumas respostas possuem um significado especial, a ser confirmado pelo 
resto do protocolo: 
G (cabeça de gato ou de outro animal) à medo do mundo exterior; 
G (pássaro batendo as asas) à tendências paranóides; 
D lat (perfis) à atitudes de críticas sistemáticas; 
D lat (feiticeiras) à imagem materna ameaçadora; 
D centr· (vestes transparentes) à tendência a adivinhar o que está por trás do 
personagem vivido pelas pessoas; 
 (monges, figuras religiosas) à recusa a diferenciar os sexos; 
 (órgão feminino), visto por uma mulher à fixação incestuosa; 
D sup (mãos) à ou pedido de socorro ou ameaça; 
D sup (boca aberta) à agressividade oral; 
Dbl centr (fantasma andando, homem invisível) à tendências paranóicas; 
Dd cinza claro central (tomahawk, machado) à psicopata agressivo; 
 
Quanto à significação global do cartão, foram feitas as seguintes hipóteses: 
• Situação do primeiro confronto: “quem és?” 
• Autoridade paterna: o choque indicaria, se confirmado no cartão IV, 
uma perturbação no relacionamento com a figura paterna; 
• Distúrbio nas relações pré-genitais com a mãe (confirmar nas cartões VII 
e X) se o D central for visto como “vestimenta, esqueleto, vaso, 
arquitectura”, A ou Pl (substituto desvitalizado da mulher); “barco” G: 
 
O Rorschach 
38	
  
	
  
símbolo da vida intra-uterina, dependência total da mãe; “montanha” 
G: símbolo dos seios, desvalorização da imagem materna, busca do 
apoio fundamental. 
 
 A diversidade de tais hipóteses é explicada por um fenómeno mais básico: 
o sujeito entra em contacto com o examinador, começando a desenvolver, 
em relação ao mesmo e à prova, um processo dinâmico de transferência, no 
sentido psicanalítico do termo. 
 
Cartão II 
 Este cartão é composto por uma mancha que inclui a cor negra e 
vermelha, de estrutura simétrica, que engloba um grande espaço vazio – o 
branco. A resposta global G, quando é dada, é sempre como resultado da 
mistura das cores (ex. pintura rupestre à G impreciso). É raramente adequada 
se o determinante for formal, sendo assim, será um F-. Há uma estrutura 
bilateral em volta da parte central vazia, onde se insere o vermelho. Este é 
importante na medida em que reaviva as pulsões libidinais e agressivas do 
sujeito. Exemplo da boa integração destas pulsões através de dois elementos 
que lutam: “São dois palhaços que lutam”; ou “Dois elefantes jogando à bola”. 
Se o sujeito lida mal com as pulsões agressivas, evita o vermelho interpretando 
só o preto. 
 Do ponto de vista emocional, os sujeitos reagem a esta cartão porque é a 
primeira a incluir a cor vermelha. A resposta global G mais frequente é: “Dois 
homens” ou “Dois animais” em interacção, no entanto, a cinestesia pode ser 
bloqueada pela perturbação devida à cor. O branco pode ser interpretado 
como um buraco, uma falha (ex. entrada para uma gruta). Também pode ser 
vista como um objecto, sendo muitas vezes visto como “Um foguetão a 
levantar voo num céu cheio de nuvens”. A um nível mais evoluído de 
respostas estas remetem para situações de luta, de competição, e a um nível 
mais primário, menos evoluído, estas remetem para situações com temáticas 
destrutivas, ligadas por exemplo, a explosões e rebentamentos. A 
problemática da castração é claramente visível, bem como a angústia que 
lhe está directamente ligada e os processos defensivos que o sujeito utiliza 
para fazer face a essa angústia. 
 Neste cartão, assiste-se à emergência duma temática obstétrica, pré-
genital (nascimento), o sujeito revive alguns dos conflitos da sua infância, 
revelando uma relação simbiótica ou destruidora com a mãe (ex. “Um feto 
que quer sair do corpo da sua mãe mas não consegue”; “Um útero 
esvaziado”). Se mobilizado pela cor (choque cor), reage quer através da 
passividade ansiosa, quer através duma explosão de agressividade (fogo, 
sangue), ocorrendo tais reacções tanto em pessoas normais, como em 
neuróticos. O centro evoca representações sexuais, com bastante 
naturalidade.

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