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Direito Civil V Bimestre II 1 Celebração do casamento: Trata-se do terceiro e mais importante momento do casamento, sendo o meio capaz de consolidar a relação matrimonial entre as pessoas. Momentos do casamento: 1. Petição inicial; 2. Publicação dos editais; 3. Oposição ou não de causas de suspensão e/ou impedimentos; 4. Decisão; 5. Habilitação (válida por noventa dias); Após estes passos, passa-se ao pacto antenupcial e em seguida a celebração. A autoridade competente para a realização dos casamentos é o juiz de paz. A habilitação, uma vez conseguida pelos nubentes deve ser levada ao cartório de casamentos no prazo máximo de noventa dias para nutrir o requerimento de celebração do casamento. Portanto, antes da realização da celebração existe um novo requerimento à ser feito, conforme os termos do artigo 1.533 do CC quando trata da petição dos contraentes. Uma vez recebida pelo juiz de casamentos a habilitação, sabe- se que inexistem óbices à realização da celebração. A celebração é ato solene, formal, que preferencialmente deverá acontecer na sede do cartório, respeitando toda a publicidade determinada legalmente. Cabe ressaltar que a publicidade é novamente afirmada ao se determinar que a celebração deverá ser feita à portas abertas. Pode portanto a celebração ser realizada em outro lugar que não o cartório, desde que autorizado pelo juiz de casamentos. O ato de celebração do casamento previsto no CC é ato civil, não devendo ser confundido com às celebrações religiosas. Direito Civil V Bimestre II 2 Sendo a celebração realizada em prédio particular, este deverá permanecer de portas abertas e são exigidas para sua validade à presença de quatro testemunhas, não mais duas como no ato realizado na sede do cartório. O artigo 1.535 CC é de extrema importância, ditando o exato procedimento do ato imediato de celebração de casamento, sendo requisito para o avanço à fase dos registros (art. 1.536 CC). Art. 1.535. Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento, nestes termos: "De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados." O fato do texto acima encontrar-se entre aspas é reafirmar a vontade do legislador em que o ato seja realizado de forma imediatamente fiel ao texto legal. Após este momento entende-se que o casamento encontra-se realizado, não mais havendo possibilidade de arguição de impedimentos, ou suspensão, se não atendidas às formalidades quanto a publicação dos editais. O casamento pode ainda ser realizado mediante procuração, que deverá ser obrigatoriamente por escritura pública, hipótese em que o procurador agirá em nome e por conta do representado, nos exatos termos do próprio contrato de mandato. O procurador deverá receber outorga de poderes especiais para casar. A procuração, como a habilitação terá validade pelo prazo de noventa dias, podendo ser aproveitada a mesma para os atos de habilitação e celebração, se ainda tempestiva até o momento da celebração. Art. 1.542. O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais. § 1º A revogação do mandato não necessita chegar ao conhecimento do mandatário; mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente Direito Civil V Bimestre II 3 tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos. § 2º O nubente que não estiver em iminente risco de vida poderá fazer-se representar no casamento nuncupativo. § 3º A eficácia do mandato não ultrapassará noventa dias. § 4º Só por instrumento público se poderá revogar o mandato. Cabe ressaltar que não há impedimento legal para que um nubente represente o outro, entretanto deve-se considerar que existem interesses pessoais envolvidos, motivo pelo qual a doutrina posiciona-se de forma desfavorável à esta possibilidade. O registro é ato de competência do oficial do cartório. Ademais, pode o juiz de direito realizar a celebração do casamento depende de requerimento para a corregedoria do Tribunal ao qual este juiz encontra-se vinculado, que poderá possibilitar que este realize a celebração. Casamento nuncupativo consiste no casamento realizado próximo à hora da morte. Ademais, pode a celebração ser suspensa em dois casos, sendo o primeiro a oposição de impedimentos e em segundo lugar, quando não ficar devidamente exposta a vontade dos nubentes conforme previsto no artigo 1.538 do CC. Art. 1.538. A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: I - recusar a solene afirmação da sua vontade; II - declarar que esta não é livre e espontânea; III - manifestar-se arrependido. Parágrafo único. O nubente que, por algum dos fatos mencionados neste artigo, der causa à suspensão do ato, não será admitido a retratar-se no mesmo dia. Sendo a celebração ato formal, devem os nubentes manifestar com objetividade sua vontade de casar-se. Casamentos especiais: Tratam-se de casamentos extraordinários, tratando primeiramente do casamento nuncupativo. A esta modalidade de casamento também se atribui a nomenclatura de “in extremis vitae momentis”. Esta espécie de casamento tem por finalidade firmar um vínculo e possibilitar a transmissão patrimonial. Direito Civil V Bimestre II 4 Para o casamento nuncupativo não há necessidade do cumprimento de todos os atos preparatórios do casamento, tratando- se de procedimento bastante célere, conforme regulado no artigo 1.540 do CC. Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo grau. Nesta modalidade casamento, faz-se necessária a presença de seis testemunhas, não havendo a exigência de autoridade competente para tal. Após à realização da celebração a pessoa casada e as seis testemunhas deveram comparecer perante a autoridade judicial em até dez dias para a realização dos procedimentos previstos no artigo 1.541 do CC. Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de: I - que foram convocadas por parte do enfermo; II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo; III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e mulher. § 1º Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o requererem, dentro em quinze dias. § 2º Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes. § 3º Se da decisão não se tiver recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro do Registro dos Casamentos. § 4º O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao estado dos cônjuges, à data da celebração. § 5º Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo antecedente, se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na presença da autoridade competente e do oficial do registro. Após realizada acelebração do casamento nuncupativo, não evoluindo à óbito o enfermo, perde-se o objeto do casamento nuncupativo, e se a outra parte ainda não ratificou o ato, devem Direito Civil V Bimestre II 5 as partes realizarem o casamento pela via ordinária. Se já ratificado, o casamento é valido. O casamento nuncupativo normalmente é realizado pelo regime de bens ordinário (comunhão parcial de bens). Considera-se como data do casamento nuncupativo aquela em que foi realizada a celebração. Casamento sob moléstia grave: Nesta modalidade, também se dispensa a realização dos atos preparatórios, entretanto não possui rito tão célere quanto ao do casamento “in extremis vitae momentis”. Nesta modalidade o nubente não se encontra em situação de iminente risco de morte, entretanto encontra-se debilitado em razão de enfermidade grave, nos termos do artigo 1.539 do CC. Para esta modalidade, exige-se a presença da autoridade competente para a celebração do casamento. Trata-se daquele que acontece quando um dos nubentes está impossibilitado (situação de saúde) de comparecer perante a autoridade competente para realizar a celebração do casamento. Diferentemente do casamento nuncupativo em que não há tempo para se chamar a autoridade competente, motivo pelo qual se dispensa os atos preparatórios, no casamento sob moléstia grave exige-se a presença da autoridade competente, ainda que a noite para a realização da celebração, na presença de duas testemunhas, sem a dispensa dos atos preparatórios. No entanto, não podendo a autoridade competente comparecer, diante da possibilidade de ocorrência de danos, esta nomeara outra pessoa para o ato, que lavrara o termo avulso, procedendo posteriormente com o registro no livro de casamentos. O casamento sob moléstia grave encontra-se regulado no artigo 1.539 do CC. Art. 1.539. No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever. § 1º A falta ou impedimento da autoridade competente para presidir o casamento suprir-se-á por qualquer dos seus substitutos legais, e a do oficial do Registro Civil por outro ad hoc, nomeado pelo presidente do ato. § 2º O termo avulso, lavrado pelo oficial ad hoc, será registrado no respectivo registro dentro em Direito Civil V Bimestre II 6 cinco dias, perante duas testemunhas, ficando arquivado. Casamento religioso com efeitos civis: Não se deve confundir o casamento civil com casamento religioso com efeitos civis. O casamento civil é aquele que pode acontecer dentro do ambiente religioso e em paralelo com esse. O casamento religioso com efeitos civis comporta duas espécies: Casamento religioso com efeitos civis com habilitação prévia; Casamento religioso com efeitos civis sem habilitação prévia; Nos dois casos, sempre se exigirá a habilitação, podendo no segundo caso ser requerida posteriormente. O casamento religioso com efeitos civis com habilitação prévia encontra-se regulado pelo artigo 1.525, 1.532, 1.515 e 1.516, todos do CC. O parágrafo 1º do artigo 1.516 versa sobre a primeira espécie. Neste caso, atendidos os procedimentos preparatórios, munidos da habilitação, realiza-se, sem a presença da autoridade competente para o casamento, somente a celebração religiosa, que terá seus registros próprios que deverão ser posteriormente apresentados ao oficio competente, por meio do celebrante (autoridade eclesiástica) ou por qualquer interessado. A autoridade eclesiástica é considerada apta a tomar dos nubentes a declaração de vontades, bem como documentar em seus registros a celebração, que servirão posteriormente aos registros civis. Cabe ressaltar que, anulado o casamento religioso, cabe ação judicial sobre a decisão eclesiástica. Para a segunda espécie de casamento religioso com efeitos civis, inexiste o procedimento preparatório, os nubentes estão desprovidos de habilitação e a cerimônia de casamento religiosa é realizada, gerando de tal o registro eclesiástico do casamento, que gera uma certidão a ser posteriormente levada ao registro civil, solicitando-se habilitação para obter a confirmação do Direito Civil V Bimestre II 7 casamento religioso, hipótese em que este passará a ter efeitos civis. A data do casamento será a da celebração, retroagindo a data do registro, se nos casos da segunda espécie. Casamento acontecido em país estrangeiro: O procedimento que regula tal casamento encontra-se na LICC, entretanto é bastante excepcional. Devem os nubentes comparecerem perante a autoridade consular, munidos dos documentos necessários, onde se lançam os editais e posteriormente se realiza a celebração. Após realizada a celebração, o casamento será registrado no exterior, e, em caso de mudança das pessoas para o Brasil, devem estas registra-lo neste país, no prazo de 180 (cento e oitenta dias), no cartório de onde residirem ou na capital do Estado em que residirão. Provas no casamento: Conforme os termos do artigo 1.543 do CC, que dispõem que o casamento é provado por meio da certidão do registro, entretanto existem algumas hipóteses em que a certidão não estará disponível, o que passamos a ver agora. A certidão é prova material e obvia do registro de casamento e, não estando está disponível, deve-se encontrar outros meios comprobatórios do casamento. Por este meio, busca-se provar o fato do casamento, bem como às formalidades que foram atendidas, garantindo-lhe a necessária existência. Fatos e formalidades são provados mediante a coexistência de três elementos, a saber: Nominar; deve-se comprovar a existência do ato de casamento, e não qualquer outro tipo de união; Tratar; demonstra-se o tratamento entre os cônjuges quanto a tal nomenclatura, no ambiente familiar; Reputar; deve-se demonstrar o modo em que a sociedade considera tal relação familiar, tendo por critério balizador a reputação desta união como casamento; Direito Civil V Bimestre II 8 O elemento de nomenclatura está relacionado às formalidades, e pode ser comprovado por meio testemunhal ou qualquer outro hábil a comprovar a existência do ato de casamento. Nos termos do artigo 1.547, entre as provas favoráveis e contrarias, deve-se considerar a existência do casamento se comprovado que os cônjuges viveram ou vivem na posse do estado de casados. Posse do estado de casados: Coexistência dos elementos nominativo, de trato e reputação, quando não seja possível comprovar a existência do casamento. Por posse do estado de casados, deve-se considerar a existência da relação de casamento, que não pode ser documentalmente comprovada. “É possível pensar-se em responsabilidade civil por rompimento de noivado ou de casamento?” São requisitos para a possibilidade de indenização no rompimento do noivado ou casamento: Promessa de casamento/crença na estabilidade da união; Frustração/rompimento; Dano efetivo; Para que seja possível a responsabilização civil, deve a promessa ou a crença ser frustrada/rompida, causando um dano. Entende-se por dano efetivo aquele que pode ser provado, inexistindo dano presumido. O dano efetivo poderá ser classificado como moral ou material. Ainda, para considerar o dano como efetivo, deve-se ponderar que este trouxesse mal, trouxesse desconforto à qualquer pessoa. O dano moral se dará na ocorrência de injusta exposição da pessoa a um sofrimento anormal. O sofrimento anormal é reconhecido quando se viola algum direito da personalidade, além da liberdade do sujeito. A tristeza pelo abandono, efetivamente comprovada, pode ser objeto de indenização por dano moral. O mesmo atendimento é aplicável aos noivados e aoscasamentos. Direito Civil V Bimestre II 9 A comprovação do dano efetivo sofrerá total influência da força normativa dos fatos. Inexiste lei que determine especificamente o cabimento de dano moral ou material nos casos que resultam da frustração ou rompimento das relações de união, entretanto a responsabilidade civil genérica atende a estas situações. O dano material ocorre nas hipóteses em que o rompimento da relação se deu após o dispêndio de economias para equipar o lar. O dano efetivo deve ser comprovado também na responsabilidade civil pelo dano material. O dano material pode ser também por lucro cessante. Inexistência, nulidade e anulabilidade: O contrato existe quando possui todos os elementos relacionados à vontade, não somente sobre os vícios do negócio. A doutrina não é majoritária em considerar a inexistência como elemento apto a desconsiderar um negócio jurídico, acreditando a maioria que a nulidade absoluta é suficiente para sanar eventuais problemas. Sendo inexistente o negócio jurídico, inexistem quaisquer efeitos. O negócio jurídico pode existir e ser nulo, entretanto nunca será nulo se não existir. O reconhecimento da inexistência é de grande valia, vez que esta jamais poderá ser alcançada pela prescrição ou pela decadência. A inexistência do casamento, para Maria Helena Diniz, mostrou-se primeiramente na França, quando dos casamentos de pessoas do mesmo sexo. O casamento nulo por sua vez encontra-se previsto nos artigos 1.548 e 1.549 do Código Civil. Casamento Putativo: Trata-se do casamento, eivado de nulidades, causas de inexistência ou de anulabilidade, entretanto, em razão da boa-fé de ambas ou de uma das partes, é considerado pelas mesmas como valido. Nesta modalidade de casamento existe uma crença, uma imaginação, uma confiança das partes em sua regularidade. Direito Civil V Bimestre II 10 O casamento putativo gera os efeitos de um casamento valido, desde que não demonstrada a má-fé de um ou dos dois cônjuges. Este casamento será considerado válido até o transito em julgado da sentença que anula o mesmo. O casamento putativo, após sua anulação, em razão de causas de nulidade ou de anulabilidade produz efeitos “ex-nunc”. Ao cônjuge de boa-fé, aplicam-se efeitos “ex-tunc”. Estando somente um dos cônjuges de boa-fé, para este os efeitos serão aproveitados, bem como para a prole em todos os casos. Direito patrimonial no casamento: Pacto antenupcial; Disposições gerais acerca dos regimes; Regimes em espécie; Pacto antenupcial: Trata-se de ato apto para regrar as relações patrimoniais do casamento, não podendo regrar relações pessoais, podendo ser realizado no momento da habilitação ou posteriormente, desde que antes da celebração. O pacto antenupcial encontra-se previsto no artigo 1.653 e seguintes do CC. São requisitos do pacto antenupcial: Solenidade e formalidade; vez que deve, obrigatoriamente ser realizado mediante escritura pública; Necessita da concretização do casamento para gerar efeitos, do contrário é ineficaz; O pacto antenupcial realizado por instrumento particular é nulo, e ineficaz se o casamento não se concretiza. Ademais, o pacto antenupcial é facultativo, entretanto, não sendo realizado, incorrem os cônjuges no regime legal, qual seja o de comunhão parcial de bens. Portanto, é o objetivo do pacto antenupcial alterar o regime da comunhão parcial de bens. “Bens comunicáveis: Bens que serão de ambos após o casamento”. Direito Civil V Bimestre II 11 O regime de casamento vincula as pessoas durante o casamento, quando da dissolução deste e até mesmo na ocorrência da morte, vez que o regime opera efeitos na sucessão. Ademais, o regime do casamento pode ser alterado em face do princípio da mutabilidade justificada. Quanto ao maior de 70 (setenta) anos, este é obrigado a casar-se sob o regime obrigatório estabelecido pelo artigo 1.641 do CC (separação de bens), entretanto para a doutrina, com fulcro no constitucionalismo entende que tal obrigação é inconstitucional, em razão de estar limitando, condicionando a vontade das partes, especialmente do maior de 70 (setenta) anos que é plenamente capaz para os atos da vida civil. Tal corrente entende que este artigo é limitativo da vontade, da liberdade. Para a doutrina mais tradicional tal artigo é constitucional e deve ser observado com o fito de proteger o patrimônio das pessoas maiores de 70 (setenta) anos. O regime de separação de bens no casamento é obrigatório nas hipóteses previstas no artigo 1.641 do C.C. Nas hipóteses do inciso “III”, deve-se compreender qualquer suprimento judicial. Os artigos 1.642 e 1.643 tratam das questões referentes à administração do patrimônio. Diferenças entre outorga uxória e autorização marital: Ambas se tratam de autorizações para alienação de bens, que acarreta a situação patrimonial, que em regra só pode ser concretizada com a autorização do outro cônjuge. Quando a autorização for realizada pela mulher ao marido, ter-se-á outorga uxória. Se concedida pelo homem para a mulher o caso será de autorização marital. Entretanto, existem situações que dispensam a concessão de autorização, tais quais reguladas pelo artigo 1.642 do CC. Art. 1.642. Qualquer que seja o regime de bens, tanto o marido quanto a mulher podem livremente: I - praticar todos os atos de disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, com as limitações estabelecida no inciso I do art. 1.647; II - administrar os bens próprios; Direito Civil V Bimestre II 12 III - desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenham sido gravados ou alienados sem o seu consentimento ou sem suprimento judicial; IV - demandar a rescisão dos contratos de fiança e doação, ou a invalidação do aval, realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647; V - reivindicar os bens comuns, móveis ou imóveis, doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, desde que provado que os bens não foram adquiridos pelo esforço comum destes, se o casal estiver separado de fato por mais de cinco anos; VI - praticar todos os atos que não lhes forem vedados expressamente. Em alguns casos faz-se necessária a concessão de autorização (em confronto com o inciso II) para evitar a frustação à execução sob alegação de ser o bem objeto da execução tratado como bem de família. Outras situações que dispensam a concessão de autorização são reguladas pelo artigo 1.643 do CC, entretanto as dívidas contraídas sob fundamento deste artigo torna os cônjuges devedores solidários. O artigo 1.647 regula que ressalvados os casos do artigo 1.648 (ausência de motivo justo para negar autorização) não podem os cônjuges, salvo quando o regime de casamento for o de separação de bens (já que podem os cônjuges dispor livremente de seu patrimônio individual nesse caso), sem autorização um do outro (1) alienar ou gravar de ônus real bens imóveis, (2) pleitear como autor ou réu acerca desses bens, (3) prestar fiança ou aval, (4) fazer doação de bens comuns ou dos que possam integrar futura meação. Ao ato praticado sem a autorização, sendo esta necessária e após conhecida pelo outro cônjuge, o prazo para postular em juízo a fim de anular tal ato será decadencial por 02 (dois) anos. Pelo pacto antenupcial, podem as partes optarem por um dos quatro regimes de casamento, a saber: Comunhão parcial de bens; Comunhão universal de bens; Participação final nos aquestos; Separação de bens; O regime automático para o CC/2002 é o da comunhão parcial de bens. Direito Civil V Bimestre II 13 Ademais, podem as partes pelo pacto antenupcial criarem regime misto, excetuando (ou incluindo) umou outro bem por meio de um ou outro regime. Aquestos, bens comunicáveis e bens particulares: São aquestos os bens adquiridos na constância do casamento, que podem ou não ser comunicáveis. Bens comunicáveis são aqueles que serão de propriedade de ambos os cônjuges, adquiridos anteriormente ou durante o casamento e que mesmo estando em nome de apenas um deles são de ambos, comunicando-se. Já os bens particulares são aqueles que pertencem unicamente a um dos cônjuges (ou de cada um deles), não se comunicando. Regimes de casamento: São princípios que regem os regimes de bens no casamento: Princípio da variedade dos regimes; possibilidade de escolher entre qualquer um dos regimes ou ainda criar um misto, que melhor aprouver aos cônjuges; Princípio da liberdade de escolha; excetuada as situações especificas, são livres os cônjuges para escolherem o regime de sua vontade; Princípio da mutabilidade justificada; possibilidade de, após concretizado o casamento, alterar o regime de bens, quando de comum acordo entre os cônjuges, por meio de processo judicial; O regime dotal previsto no Código Civil de 1916 consistia na concessão de dote pela família da mulher ao homem, sendo este dote considerado patrimônio comum dos cônjuges para que pudessem começar sua vida de casadas, entretanto tal regime não existe mais, tendo sido substituído pelo da participação final nos aquestos. Regime da comunhão parcial de bens: É também chamado por parte da doutrina como regime da comunhão de aquestos. Este regime pode ser automático (legal) quando as partes não optarem por outro no pacto antenupcial. Ademais, será também obrigatório: Quando não houver pacto antenupcial; Direito Civil V Bimestre II 14 Quando o pacto antenupcial for nulo, inexistente ou ineficaz; Quando eleito pelas partes no pacto antenupcial; Esse é o regime que melhor atende aos interesses econômicos das partes, premiando o esforço comum. Inserir aqui, matéria do dia 03.06.2015. No regime da comunhão universal de bens, existem situações em que os bens não se comunicam, sendo elas (art. 1.668 CC): Bens doados ou herdados com clausula de incomunicabilidade e os sub-rogados em seu lugar; Bens gravados de fideicomisso e o direito do herdeiro fideicomissário antes da realização da condição suspensiva; As dívidas anteriores ao casamento, salvo se provierem de despesas com seus aprestos (preparativos), ou reverterem em proveito comum; As doações antenupciais feitas por um dos cônjuges ao outro com a clausula de incomunicabilidade; Os bens referidos nos incisos V a VII do artigo 1.659 (bens de uso pessoal, livros, instrumentos de profissão, proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge, pensões, meio-soldos, montepios e outras rendas semelhantes) do CC. Logo, os bens gratuitos podem se comunicar, salvo na existência de clausula de incomunicabilidade. A clausula de incomunicabilidade pode ser estabelecida sobre qualquer regime. Bem sub-rogado no lugar: Bem incomunicável, que após ser vendido e ter seu valor empregado em outro bem, que mantém-se incomunicável; ocorre portanto uma troca do bem incomunicável; tal condição deve ser registrada publicamente. Fideicomisso se trata de um modelo negocial (contrato) que gera efeitos após a morte, sendo subdivido em três partes, a saber: Fideicomitente: Testador/doador, que deseja doar um bem a uma pessoa que ainda não existe (prole eventual); Direito Civil V Bimestre II 15 Fiduciário: Pessoa que recebe temporariamente a doação feita pelo fideicomitente, ficando com a propriedade plena (porém resolúvel) deste bem até o momento em que a prole venha a se concretizar; em razão de possuir a propriedade plena e resolúvel, pode fazer uso de todos os direitos de proprietário, entretanto só poderá fazer negócios resolúveis. Fideicomissário: Recebedor da doação, que será feita pelo fiduciário; Fora as citadas exceções, todos os bens presentes (considerado o momento do casamento) e futuros se comunicam no regime da comunhão universal de bens. Ainda que incomunicáveis os bens, assim não são os frutos. Pelo regime da separação de bens, os cônjuges determinam que nenhum bem é comunicável, nem os anteriores e nem os posteriores ao casamento. O regime da separação de bens é aquele o qual os nubentes optam por terem tão somente patrimônios particulares, formando assim duas massas de bens, a do cônjuge varão e a do cônjuge virago, que livremente (desnecessidade de outorga uxória ou autorização marital) administrarão, podendo alienar ou gravar de ônus reais seu patrimônio. Neste regime, ambos os cônjuges ficam obrigados a colaborarem com as despesas do lar na proporção de seus rendimentos e de seus bens, salvo disposição expressa em contrário a ser feita no pacto antenupcial (o que é invalido, vez que contraria o princípio constitucional da solidariedade familiar). Regime da participação final nos aquestos: Previsto nos artigos 1.672 e seguintes do CC. Trata-se do regime que unifica dois regimes durante o casamento e quando da sua extinção. Tal regime mostra-se eficiente aos casais que possuem empresas, vez que poderão realizar as negociações com total liberdade quanto ao seu patrimônio, devendo prestar contas somente quando da dissolução. O regime da participação final nos aquestos é o que tem por objetivo conceder autonomia para administração individual do Direito Civil V Bimestre II 16 patrimônio de cada um dos cônjuges sobre os bens adquiridos na constância do casamento, se móveis, mas se imóveis será necessária a especifica autorização contida no pacto antenupcial. Em verdade é uma mescla dos regimes da comunhão parcial de bens e o da separação de bens. Durante o casamento o regime que vigora é semelhante ao da separação de bens, mas quando da dissolução do vínculo será reestabelecido o regime da comunhão parcial dos bens e as partes deverão prestar contas, para fins de divisão de todo o patrimônio adquirido na constância do casamento. Portanto, os bens são dos dois cônjuges, entretanto a administração é de cada um deles separadamente. Bem de família: Regulados pelo Código Civil e também pela lei 8.009/1990. Nó código civil de 1916 tratava-se de um bem imóvel escolhido pela família para eleger como patrimônio mínimo que não poderia ser penhorado por dividas, ou alienado sem a autorização do outro cônjuge. Constituía-se pela eleição de um imóvel, mediante uma conduta positiva, por meio de escritura pública que passava a dar segurança ao mesmo. Logo, sob a vigência do código de 1916 inexistia a proteção ao patrimônio mínimo da família se o mesmo não estivesse protegido por força do ato positiva, o que de regra, era bastante custoso e deixava de proteger os menos favorecidos. No ano de 1990, com o advento da lei 8.009, passou-se a proteger o patrimônio mínimo dos devedores, vez que impedia à execução sobre o único bem da família, ou de bens que salvaguardem o sustento da família, regulando ainda que no caso de vários bens, seria o de família aquele que tivesse o menor valor. Hoje, o bem de família protege automaticamente esta da perda de seus bens imóveis ou moveis essenciais à sobrevivência das execuções, sendo considerado bem de família automático. Logo, aquilo que for considerado necessário à vida pode ser entendido como bem de família. Direito Civil V Bimestre II 17 Em que pese a proteção do bem de família visando preservar o mínimo existencial, existem algumas exceções, todas previstas em lei. Em que pese a proteção constitucional, os tratados internacionais direcionados à proteção dos direitos humanos também protegem o patrimônio mínimo e o mínimo existencial. No código civil de 2002, não sefala em bem imóvel, nem em automática garantia do mínimo existência, entretanto possibilita à família instituir uma quota parte (podendo alcançar 1/3 do patrimônio líquido) sobre o patrimônio para tê-lo como de família, meio pelo qual se de maior proteção aos devedores e seu patrimônio. Para se destinar a quota parte do patrimônio como bem de família existem três possibilidades: Eleição por escritura pública; Constituição por testamento; Constituição por meio de doação; O artigo 1.711 do CC regula tais possibilidades. Ademais, a quota parte é instituída sobre o total do patrimônio ao tempo da instituição. Sendo o bem de família um imóvel, deve tal informação ser averbada junto ao registro do mesmo. Ainda são exceções à impenhorabilidade do bem de família às dívidas fiscais e as referentes as despesas condominiais. O bem de família portanto, é aquele que tem por finalidade proteger a um mínimo existencial que salvaguarde a dignidade da pessoa humana da entidade familiar, derivando da necessidade de proteção da família e a estabilidade de vida dos membros deste grupo. Dissolução da sociedade conjugal e do casamento (vinculo matrimonial): A sociedade conjugal trata dos aspectos patrimoniais ligados ao relacionamento e também os aspectos de convivência, apreço e apoio entre os cônjuges. O casamento (vinculo matrimonial) se trata do todo do relacionamento, sendo que a sociedade conjugal encontra-se inserida neste. Direito Civil V Bimestre II 18 Tal divisão se faz necessária vez que a sociedade conjugal pode ser extinta sem que o casamento o seja, como nos casos da (extinta) separação judicial. Cabe ressaltar que desde os primórdios do casamento até o ano de 1977 o casamento era indissolúvel, sendo tratado como um dogma de eternidade, em razão dos pensamentos nutridos pela religião. Antigamente o casamento era uma demonstração religiosa, não um contrato de direito. No ano de 1916, com o advento do Código Civil, o casamento mantinha-se indissolúvel, sendo tratado ainda como dogma religioso, entretanto a sociedade conjugal já era passível de rompimento por meio do desquite. A sociedade conjugal consiste nos vínculos de afeto, assistência e de patrimônio entre os cônjuges, estando inserida no casamento, que consiste no vinculo civil. Por meio do desquite, rompia-se a sociedade conjugal, entretanto o casamento, o vínculo matrimonial continuava válido, não podendo ser rompido em nenhuma hipótese. Isso se dava em razão da forte influência sacramental sobre o casamento. Com o advento da EC-09/77, passou-se a minimizar os aspectos religiosos, primando pela liberdade dos cônjuges e a possibilidade de se constituir uma nova família, passando a permitir o divórcio. Após a aprovação da emenda, criou-se a lei do divórcio, que previa ser possível o rompimento do casamento por meio do divórcio, fazendo desaparecer o desquite e o nascimento da separação judicial. Porém, antes de se atingir o divórcio, deveriam os cônjuges submeterem-se aos requisitos da separação, judicial ou direta. Antes de 2009 era impossível a realização do divórcio por qualquer meio que não judicial. No ano de 2010 surgiu a EC-66/10, retirando da carta maior a separação judicial, tornando possível o divórcio pela simples vontade dos cônjuges. Por meio do divórcio, dissolve-se a sociedade conjugal e o vínculo matrimonial, sem exigência de se comprovar qualquer responsabilidade. Direito Civil V Bimestre II 19 Formas de dissolução da sociedade conjugal: Morte; Nulidade ou anulabilidade do casamento; Separação; Divórcio; Formas de dissolução do vínculo matrimonial: Morte; Nulidade ou anulabilidade do casamento; Divórcio; Para fins de divórcio, o ausente é considerado morto. Retornando o ausente, a corrente majoritária posiciona-se pela manutenção do vínculo matrimonial contraído após a decretação de ausência. O divórcio passa a ser valido após o registro da sentença no cartório competente. Espécies de separação: Sanção; Falência; Remédio;
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