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CURSO DE EXTENSÃO: ORGANIZAÇÃO CURRICULAR DA EDUCAÇÃO BÁSICA CATARINENSE MÓDULO 2 diversidades Reitor JOÃO NATEL POLLONIO MACHADO Vice-Reitor UDO SCHROEDER Pró-Reitor de Ensino de Graduação, Ensino Médio e Profissionalizante MAURO SCHARF Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura ALEXANDER CHRISTIAN VIBRANS Diretora do Centro de Ciências da Educação, Artes e Letras RITA BUZZI RAUSCH Coordenadora do Proesde/Licenciaturas ELENIR RODERS BUDAG Produção Universidade Regional de Blumenau - FURB Centro de Ciências da Educação, Letras e Artes – CCEAL Programa de Extensão Vozes Plurais – FURB Conteúdo: Coletivo de autores do documento “Proposta Curricular de Santa Catarina: formação integral na Educação Básica” Coordenação do caderno ANDREA SOARES WUO Assessoria Pedagógica CLÁUDIA RENATE FERREIRA Projeto Gráfico - Coordenação MOISÉS CARDOSO Revisão Gramatical: ANDREA SOARES WUO Diagramação: JULIANE REGINA SCHMITT GRUPO DE TRABALHO Adaptação, revisão e organização de conteúdo Adecir Pozzer Ana Paula Narsizo Andrea Soares Wuo Clarice Klann Constantino Cláudia Renate Ferreira Daniela Tomio Elcio Cecchetti Georgia Carneiro Fontoura Karla Lucia Bento Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes) Lilian Blanck de Oliveira Leonel Piovezana Nanblá Gakrán Marcos Rodrigues da Silva Simone Riske Koch Walderes Cocta Priprá de Almeida UNIDADE 2 QUEM SÃO OS SUJEITOS DAS DIVERSIDADES? 2.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAL 2.2.2 EDUCAÇÃO PARA DIVERSIDADE SEXUAL 2.2.3 EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO 2.3 A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS (ERER) 2.4 ATIVIDADE FINAL APRESENTAÇÃO 2.2 EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES DE GÊNERO, EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE SEXUAL, EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO 2.2.1 EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES DE GÊNERO REFERÊNCIAS 07 08 20 21 38 09 24 29 33 37 Sumário 05 Unidade 2 QUEM SÃO OS SUJEITOS DAS DIVERSIDADES? 07 Apresentação Como pensar numa proposta curricular de Educação Básica para formação integral, tendo em mente os sujeitos das diversidades em suas inter- relações com o ambiente? Para esta reflexão, inicialmente convidamos você para leitura de algumas manchetes de notícias veiculadas em jornais de Santa Catarina, do nosso tempo: Possivelmente você dever ter lido e até mesmo discutido estas notícias em seus coletivos, algumas delas até podem ser locais e você ter (com)vivido diretamente as consequências destes acontecimentos. O que observa em comum nos fatos noticiados? Quais as conexões entre estes fatos com a Educação na escola? - Alerta: SC é o quarto do país na venda de agrotóxico à agricultura (24/06/2015) - Chuva provoca deslizamentos em rodovias do Vale do Itajaí (14/10/2015) - Cidades do Oeste de SC registram estragos e ventos de até 124km/h (21/10/2015) - SC registra 19 mortes em acidentes de trânsito no feriadão de carnaval (11/02/2016) - Depósito de fertilizante explode em Santa Catarina; com fumaça tóxica, em pessoas são atendidas (25/09/2013) - Proprietário de latifúndio em Araquari, SC: “Se colocarem índios aqui, a bala vai comer solta. Que não sejam loucos” (26/11/2012) - Com delegacias lotadas, presos na Capital são transferidos para unidades no interior do Estado (11/02/2016) - Em Santa Catarina, todo o lixo produzido é depositado em aterros sanitários. Mas como produzir menos lixo? (05/06/2013) - Um em cada três pontos analisados em praias de Santa Catarina está impróprio para banho (19/01/2016) A história do Brasil é marcada pela história da segregação e marginalização de determinados grupos sociais em detrimento de outros. Indígenas, afrodescendentes, pessoas com deficiência, mulheres, homossexuais, transexuais e tantas outras identidades foram historicamente marginalizadas do processo social. A história da educação desses grupos no Brasil exprime a invisibilidade imposta por uma escola cujos conteúdos e valores “pautavam-se por uma visão etnocêntrica, masculina e burguesa”, negando toda forma de expressão que se distanciasse dessa perspectiva. Nas últimas décadas, as demandas de movimentos e grupos sociais por políticas de inclusão social, contribuíram para a construção de uma série de políticas públicas que promovam “impactos sobre o seu percurso formativo; a representação de suas identidades plurais no currículo escolar; o respeito a seus marcos históricos e civilizatórios; o reconhecimento de seus processos históricos sociais diferenciados; as suas concepções de educação e de escola, enfim, questionam a ausência de suas especificidades nos currículos oficiais.” (SANTA CATARINA, 2014, p.57). 2.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL FORMAL 08 09 Objetivo de aprendizagem Conhecer as concepções adotadas pela PCSC (2014) que orientam: a educação ambiental formal a educação para as relações de gênero; a educação para a diversidade sexual (orientação sexual e identidade de gênero); a educação e prevenção; a educação ambiental formal; a educação das relações étnico-raciais e suas relações com a organização curricular da Educação Básica Catarinense. O que você já conhece sobre esses diferentes grupos? Discuta com @s colegas seus conhecimentos prévios e busque novos conhecimentos JORNAL DE SANTA CATARINA Compartilhe com os colegas o que pensou! 10 11 Para aprofundar as respostas, estabeleça relações com alguns excertos do texto da Proposta Curricular de Santa Catarina - PCSC (2014): O termo socioambiental é definido como: Um campo de interações entre a cultura, a sociedade e a base física e biológica dos processos vitais, no qual todos os elementos constitutivos dessa relação modificam- se dinâmica e mutuamente. Tal perspectiva considera o meio ambiente como espaço relacional, em que a presença humana, longe de ser percebida como extemporânea, intrusa ou desagregadora, aparece como um agente que pertence à teia de relações da vida social, natural, cultural, e interage com ela. (CARVALHO, 2004 apud SANTA CATARINA, 2014, p. 63-64 ). Uma formação mais integral do cidadão supõe considerar e reconhecer o ser humano como sujeito que produz, por meio do trabalho, as condições de (re)produção da vida, modificando os lugares e os territórios de viver, revelando relações sociais, políticas, econômicas, culturais e socioambientais. (SANTA CATARINA, 2014, p. 26) SEUS REFERENCIAIS: AMPLIE 1 - Investigue o texto da PCSC (2014) e elabore, a partir de uma síntese, cinco argumentos que justificam a Educação Ambiental nos espaços formais de educação da escola pública catarinense. [...] termo que está em processo de subtração total da definição da Educação Ambiental é a palavra conscientização, pois, consciência é produto do conhecimento e não se conscientiza ninguém. O sujeito pode ter consciência, mas não ser ético em mudar comportamentos. Neste sentido, usa-se a informação como estratégia para a sensibilização socioambiental que possibilitará a mobilização social na mudança positiva de comportamentos diante das questões ambientais. (SANTA CATARINA, 2014, p. 64, grifo nosso) Nesta direção, respondendo a pergunta inicial, podemos compreender o papel da Educação Ambiental formal, na constituição de um currículo e uma gestão democrática que favoreçam tempos e espaços/territórios na escola em que a cotidianidade e a intencionalidade na organização dos percursos formativos de seus sujeitos tornem-se vivências contextualizadas e inspiradoras, de aprendizagens, com referências à sustentabilidade socioambiental local e do planeta. Diferente de outros tempos em que a Educação Ambiental na escola se reduzia ao trabalho com datas comemorativas, priorizando dimensões naturalistas e conservacionistas de meio ambiente, como por exemplo, odia da árvore, o dia do meio ambiente ou em “projetos pontuais”, geralmente desenvolvidos pelos/ as professores/as das Ciências da Natureza, cujos objetivos das práticas geralmente tinha como foco a “conscientização”... ... a PCSC (2014, p. 64) preconiza que a “Educação Ambiental é um processo e não um evento”, de compromisso a ser percorrido pelo coletivo da escola, na relação com seus territórios. Compreendemos que o conceito de território amplia a concepção de “espaço físico da escola”, pois inclui e estende as relações dos sujeitos de educação no espaço escolar com a sua rua, o bairro, a cidade, o estado... no planeta. É a compreensão de que uma formação integral dos sujeitos de diversidades se constitui inseparável das transformações ocorridas nos ambientes em que (com)vivemos. Você já deve ter percebido que a discussão evidenciada na PCSC (2014) ressignifica a ideia de “fazer projetos de Educação Ambiental na escola” para “fazer da Escola um projeto de Educação Ambiental”, uma “Escola sustentável”. Considerando as citações, note que os problemas em nosso estado, apontados nas notícias, não se reduzem a dimensão natural do meio ambiente, mas nas interações com outros aspectos que dizem respeito fundamentalmente aos nossos padrões de produção e consumo. Daí que as nossas relações com os outros no/com o ambiente são estabelecidas, também, nas dimensões sociais e culturais e modificam-se ao logo da história da nossa existência. Neste contexto, vivemos um tempo em que os problemas socioambientais nos desafiam à sensibilidade, a elaborar novos conhecimentos e valores, a valorizar também os conhecimentos de antigas tradições em suas relações com a natureza (como dos povos indígenas de SC), a usar a criatividade, a aumentar a nossa capacidade de autoconhecimento e de participação, de forma colaborativa e responsável, para decidir sobre o presente e o futuro em uma sociedade sustentável1. Em outras palavras, temos um duplo desafio: o enfrentamento das mudanças ambientais globais (e locais) e o compromisso de garantir que a escola seja um espaço, em seus territórios, e um tempo de convivência que possibilite aos seus sujeitos de diversidades percursos formativos significativos, contribuindo-lhes para uma formação integral e integrada com a natureza e as outras dimensões do meio ambiente. 1 Na PCSC (2014) há o entendimento de sustentabilidade descrito no Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global e fortalecido no Programa Nacional Escolas Sustentáveis (BRASIL, 2012). Nesta direção, demarca-se a sustentabilidade na constituição de um novo modelo de sociedade e não de desenvolvimento, como na lógica do mercado. “Segue-se aqui um rumo de uma sociedade socialmente justa e ecologicamente equilibrada, que conserva em si relação de interdependência e diversidade, requerendo um comprometimento de todos na responsabilidade individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário”. (SANTA CATARINA, 2014, p. 64) 12 13 O texto de Educação Ambiental da PCSC na versão de 2008, já destacava a sua promoção na escola, considerando a gestão, o currículo e formação docente/discente e comunidade. Com a crise socioambiental de nosso tempo, a socialização de novos marcos legais e orientações, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Ambiental; o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global; a Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola: Com-Vida e o Programa Nacional Escolas Sustentáveis, dentre outros, mobilizaram um coletivo de profissionais da Educação na atualização da PCSC (2014, p. 65), identificando o “o cuidado e a educação, corroborando com o paradigma atual para escolas sustentáveis que embasam questões como currículo, gestão, espaço físico e comunidade”. Note com o conceito, que uma escola não se constitui “sustentável” somente porque faz coleta seletiva de resíduos sólidos, economiza energia, capta água da chuva, reduz o consumo de papel, produz alimentos com a horta. Ações como estas são muito importantes, mas prescindem e se sofisticam quando possuem uma intencionalidade pedagógica, ou seja, a pergunta que precisamos nos fazer como profissionais da Educação é: como estes tempos e espaços favorecem processos colaborativos e criativos para aprendizagem de conceitos sistematizados, nas diferentes áreas de conhecimento, e no desenvolvimento do pensamento dos sujeitos das diversidades que “habitam” a escola a partir de relações socioambientais sustentáveis para consigo, com o outro e o ambiente? Uma resposta para isso é estarmos atentos para três dimensões em uma Escola Sustentável: o espaço (em seus territórios), o currículo e a gestão democrática. 2.1.1 O QUE É UMA ESCOLA SUSTENTÁVEL? Imagine uma escola sustentável... A partir disso, preencha o espaço abaixo, da forma que preferir, com palavras ou desenhos que expressam os elementos/aspectos/ processos que permitirão que isto realmente se concretize! E ao final desse texto, retorne ao seu desenho, observe os elementos/aspectos/processos que você elegeu inicialmente em sua compreensão de uma escola sustentável e considerando a sua leitura, o compartilhamento de ideias, o que você mudaria/ampliaria agora no espaço e na gestão da escola? { A T I V I D A D E 2 Para complexificar o seu conceito de Escola sustentável, estabeleça relações com um conceito sistematizado na obra Vamos cuidar do Brasil: com escolas sustentáveis (2012)2: Escola Sustentável: Trata-se de um local onde se desenvolvem processos educativos permanentes e continuados, capazes de sensibilizar o indivíduo e a coletividade para a construção de conhecimentos, valores, habilidades, atitudes e competências voltadas para a construção de uma sociedade de direitos, ambientalmente justa e sustentável. Uma escola sustentável é também uma escola inclusiva, que respeita os direitos humanos e a qualidade de vida e que valoriza a diversidade. (BRASIL, 2012, p. 10) 2 A obra “Vamos cuidar do Brasil: com escolas sustentáveis” pode ser obtida na íntegra aqui: promea-rio.com.br/docs/26.Livreto_Escola_ Sustentavel_isbn_final.pdf SEUS REFERENCIAIS: AMPLIE 3 - Investigue o texto da PCSC (2014) e identifique quais aspectos precisam ser considerados nas três dimensões de uma Escola Sustentável (o espaço, o currículo e a gestão democrática), estabelecendo relações com os pressupostos pedagógicos destacados no texto: o cuidado, a integridade e o diálogo. 14 15 Em sua leitura, você certamente evidenciou que a Educação Ambiental formal, na direção de uma escola sustentável, exige de nós, profissionais da Educação, conhecer e comprometer(se) “politicamente” com o contexto (natural, social, cultural...) onde atuamos profissionalmente. Ainda, valorizar e investir em ecotécnicas aplicadas. Estas consistem em um “Conjunto de intervenções tecnológicas no ambiente que se baseia na compreensão dos processos naturais e tem como foco a resolução de problemas com o menor custo energético possível e com uso eficiente de bens naturais”. (BRASIL, 2012, p. 21) Nesta direção, planejar de forma coletiva e colaborativa uma intencionalidade para os percursos formativos dos sujeitos em uma escola sustentável implica no (re)conhecimento do espaço/território “habitado”e das relações que se dão no tempo em que estamos, juntos, aprendendo. Dentre as suas ideias, a autora compartilha uma proposta de planejarmos e desenvolvermos ações de Educação Ambiental Formal a partir da flor da sustentabilidade. Cada pétala da flor revela uma dimensão do ambiente aser observada atentamente em nossas relações sociais e escolhas pedagógicas: água, energia e tecnologia, segurança alimentar, economia local, espécies e ecossistemas e interações humanas. Importante considerar que estas dimensões podem ser ampliadas/ modificadas de acordo com a compreensão do coletivo, mas são essenciais para (re) conhecermos o espaço/território escolar e, com isso, planejarmos os percursos formativos. Observe um exemplo disso, concretizado pelo coletivo de uma escola pública: Este é apenas um dos modos5 de planejar coletivamente e criativamente percursos formativos na escola, envolvendo a gestão e o trabalho interdisciplinar entre as áreas do conhecimento com foco na Educação Ambiental. Mais do que mudar apenas valores, a educação ambiental assume a sua parte no enfrentamento dessa crise, radicalizando seu compromisso com mudanças também de comportamentos, sentimentos e atitudes, em conjunto e com reflexos para a totalidade dos habitantes de cada território. Ela se propõe a fomentar processos continuados, estimulando o respeito à diversidade biológica, cultural e étnica, juntamente com o fortalecimento da resistência da sociedade a um modelo devastador das relações humanas e dos seres humanos (SORRENTINO; TRAJBER, 2007, p. 19). 3 TRAJBER, R. SORRENTINO, M. Políticas de Educação Ambiental do Órgão Gestor. In: MELLO, S.S. de; TRABJER, R. (Orgs). Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília: Ministério da Educação, CGEA: Ministério do Meio Ambiente, DEA; UNESCO, 2007. Você encontra aqui: portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao3.pdf 4 A obra “Criando Habitas” pode ser obtida na íntegra aqui: www.imprensaoficial.com.br/PortalIO/download/pdf/projetossociais/criando1.pdf Obras inspiradoras que nos propiciam r efletir como “habitamo s” os espaços na escola são da autora Lúcia Legan 4: A flor da sustentabilidade foi idealizada como o marco inicial do projeto de escola sustentável, o coletivo da escola se mobilizou para observar, discutir, sistematizar e compartilhar dimensões do espaço, da gestão e currículo da Escola. Para isso, estudantes coletaram informações com registro fotográfico, entrevista com pessoas da escola que exercem diferentes funções. Com base nas informações, a intenção foi planejar percursos formativos para e com os sujeitos a fim de aprenderem os conceitos (das diferentes áreas de conhecimento), sofisticar o pensamento e vivenciar valores pessoais e coletivos, atentos a esta realidade. Notem que assim, a escola vai se tornando um espaço e um tempo de aprendizagem significativos e contextualizados de forma socioambiental. Fonte: Arquivo pessoal Flor da sustentabilidade da EBM Leoberto Leal, Blumenau, SC 5 Convidamos você a ler outra experiência, em que o roteiro de sistematização de informações do ambiente escolar é diferente. O texto é construído como se estivéssemos caminhando na escola, vale a pena conhecer: “Investigar e aprender em espaços educadores sustentáveis de uma escola pública” (ADRIANO, TOMIO, 2015). Você encontra aqui: educere.bruc.com.br/anais/p1/trabalhos.html?q=Daniela+Tomio 16 17 Em busca de uma síntese, compartilhamos a sistematização das autoras Trabjer e Czapski (2013, p. 17-8)8 que propuseram 10 itens como fundamentais na discussão e reflexão sobre o assunto para construir o Projeto Político-Pedagógico de uma escola sustentável: 1. integridade – é preciso conciliar discurso e ações; a teoria do que se faz em sala de aula e o que se realiza no cotidiano da instituição; 2. conhecimento e saberes – valorização da diversidade com múltiplos saberes: populares, científicos, artes dos povos tradicionais e originários; 3. cultura – sustentabilidade não se constrói com ações pontuais, mas com a transformação da cultura escolar e comunitária. Por essa razão, se necessita construir uma visão complexa da questão ambiental, a partir das interações dinâmicas entre ambiente, cultura e sociedade; 4. ética do cuidado – o meio ambiente é a comunidade de vida da qual somos só uma parte, mas com a responsabilidade de cuidar. Cuidar da vida, da comunidade escolar, de nós; 5. transformação – a implantação de políticas de sustentabilidade nos confronta com inúmeras contradições, principalmente no que se refere aos aspectos de mudanças de visão de mundo, bem como de viabilização econômica ou tecnológica; 6. democracia – para se construir uma escola sustentável, é preciso dialogar com os vários atores e interesses envolvidos, tornando a escola uma referência para a comunidade; 7. responsabilidade socioambiental – a noção de sustentabilidade ultrapassa em muito os limites da escola. Trata-se de desenvolver uma cidadania ambiental, com responsabilidade individual e coletiva, local e global; 8. criatividade – estamos em plena transformação. Não há soluções prontas e cada escola pode encontrar caminhos inovadores em sua relação com a sustentabilidade; 9. metas – é preciso estabelecer ações e responsabilidades com metas estabelecidas coletivamente, a curto, médio e longo prazos; 10. transversalidade – a sustentabilidade depende da coerência e articulação entre a organização curricular, a gestão escolar e o espaço educador. Nesta linha, surge na escola a Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola (Com-Vida)6 que é “um colegiado formado por estudantes,professores, funcionários e gestores da escola, assim como por membros da comunidade, que assumem atribuições de levantar os problemas socioambientais da escola e do entorno, dialogar e buscar respostas para eles”. (SANTA CATARINA, 2014, p. 65). Localmente, localize Santa Catarina. Já temos também relevantes experiências de escolas nesta direção da Educação Ambiental Formal7. Você pode descobri-las e compartilhá- las com os outros, com base na atividade a seguir: Agora, estabeleça relações dos pressupostos que você organizou até aqui, assistindo alguns vídeos de experiências pelo Brasil e mundo com coletivos que fazem da escola sustentável um objetivo na direção da formação integral das crianças, adolescentes, jovens e adultos, que em suas diversidades, compartilham de um espaço de aprendizagem. SEUS REFERENCIAIS: AMPLIE 4 - Retome a leitura na PCSC (2014) e explicite os princípios da COM-VIDA: Projeto Escolas Sustentáveis pelo Mundo www.youtube.com/channel/UCXsBCe1_bq55KQjZIud8XWA Em vez de uma horta na escola...uma escola na horta www.youtube.com/watch?v=BfRcNbv3WpQ Green School Bali www.youtube.com/user/greenschoolbali/videos 6 Você encontra materiais muito interessantes e que lhe permitem entender melhor a COM-VIDA aqui: Formando Com-vida, Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola : construindo Agenda 21 na escola: conferenciainfanto.mec.gov.br/images/pdf/com_ vida_isbn_final.pdf 7 Vale destacar aqui uma escola pública de Santa Catarina que tem se destacado nacionalmente e internacionalmente pelo relevante trabalho que tem desenvolvido em seu projeto de Escola Sustentável. Você pode ler sobre a EBM Visconde de Taunay (e outras escolas) na obra: Novos Talentos: Processos Educativos em Ecoformação (SHROEDER, SILVA, 2014). SEUS REFERENCIAIS: AMPLIE 4- Na internet, em sites e redes sociais, é possível observar muitos exemplos de projetos de Escolas Sustentáveis que o coletivo vem buscando aprimorar as suas relações no/com o ambiente. Pesquise duas escolas sustentáveis, públicas, do estado de Santa Catarina. Busque mais informações sobre elas e compartilhe com o grupo do PROESDE as experiências que descobriu. 8 No texto: TRAJBER, Rachel; CZAPSKI, Silvia Macrocampo Educação Ambiental – Mais Educação: A educação integral em escolas sustentáveis. Brasília: Secretaria de Educação Continuada,Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, 2013. (Cadernos Pedagógicos Mais Educação) Você encontra aqui: portal.mec.gov.br 18 19 É interessante destacar que em termos mais amplos da Educação Ambiental, além do espaço formal da escola, é possível você conhecer e compartilhar experiências em um Portal organizado pela “Comissão Interestadual de Educação Ambiental de Santa Catarina – CIEA- SC: Ainda, em outros capítulos você recebeu indicações de leituras específicas sobre as diversidades culturais, assim como sugestões para ampliar o seu repertório da diversidade biológica, especificamente do estado de Santa Catarina, sugerimos algumas obras que podem tornar o planejamento de aulas, projetos... contextualizados com a nossa biodiversidade, considerando conhecimentos científicos, disponíveis online: Compartilhe outras referências de sua universidade; dicas de vídeos, locais para visitar... com os colegas do PROESDE e assim ampliar o nosso repertório científico e cultural. Por fim, com base nas atividades que desenvolveu, individualmente ou no diálogo conosco e com os colegas, esperamos que você tenha ampliado a sua compreensão das orientações sobre a Educação Ambiental Formal sistematizada na Proposta Curricular de Santa Catarina e possa, com isso, contribuir por meio de sua ação para uma cultura e sociedade sustentável, no exercício da sua profissão e cotidianidade, nas relações consigo, com os outros e com/no mundo. Polinize estas ideias! É possível encontrar uma infinidade de materiais acadêmicos, paradidáticos e na internet sobre Educação Ambiental formal. Esteja sempre atento/aquando selecionar os seus materiais aos conceitos de meio ambiente, sustentabilidade, escola, formação integral e diversidade que veiculam e que aqui discutimos. Você pode encontrar importantes referências em EA nas Bibliotecas digitais do Ministério da Educação: Estas e muitas outras ações de educação, pesquisa, divulgação em EA que acontecem em nosso estado são mediadas pelo “Programa Estadual de Educação Ambiental de Santa Catarina - ProEEA/SC”, regulamentado pelo Decreto Nº 3.726, de 14 de dezembro de 2010. O ProEEA/SC é um instrumento da “Política Estadual de Educação Ambienta de Santa Catarina – PEEA/SC”, sancionada pela LEI Nº 13.558, de 17 de novembro de 2005. Para saber mais sobre estes importantes documentos de EA de SC consulte: PPEA/SC: www.sed.sc.gov.br/secretaria/documentos/doc.../633-lei-no-135582005 ProEEA/SC: http://educacaoambiental.sds.sc.gov.br/Documentos/PROEEA.pdf Mapa de Projetos de EA em Santa Catarina Fonte: Portal de Educação Ambiental de Santa Catarina9 (2016) 9 Conheça o Portal de Educação Ambiental de Santa Catarina: educacaoambiental.sds.sc.gov.br portal.mec.gov.br/busca-geral/194-secretarias-112877938/secad-educacao-continuada- 223369541/13639-educacao-ambiental-publicacoes E do Ministério do Meio Ambiente: www.mma.gov.br/publicacoes/educacao-ambiental/category/100-publicacoes-especiais Biodiversidade Catarinense: Características, Potencialidades e Ameaças www.youblisher.com/ p/659662-Biodiversidade- Catarinense biodiversidade.ufsc.br/ resultados.html Livros e cartilhas www.iff.sc.gov.br A vida marinha em Santa Catarina Para conhecer as nossas florestas - Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina FINALIZANDO 20 21 Em meio a corredores e quadrados nomeados de salas, cercados por muros e portões, está a conhecida escola, povoada por vozes e corpos que são sujeitos mas também assujeitados. Assujeitados, pois não se permite a autonomia dos sujeitos, em que não há uma liberdade destes de exercer, por exemplo, a sua sexualidade como bem entender ou até mesmo não exercê-la, ou seja, para além da moral instituída. Alguns deles são professores, outros são alunos. São múltiplas vozes que falam, outras calam, ou são silenciadas. Corpos que se projetam ou se fecham, complementam-se ou isolam- se, identificam-se na pertença ou desejam desaparecer em função da diferença. O que os regula? Qual é a norma? Cor da pele, altura, situação financeira, estereótipo sexual? Há igualdade ou diferença entre os gêneros? Quais sexualidades se projetam e quais são silenciadas, caladas? São inúmeras inquietações, pois gênero e sexualidade permeiam todo o ser humano e, por conseguinte, toda a sociedade. Mas qual a relação entre gênero, sexualidade e escola? Ora, tanto gênero quanto a sexualidade frequentam a escola e a sexualidade sempre foi uma das preocupações da escola. Em nosso tempo ainda mais, pois os discursos de gênero e de diversidade sexual ganham notoriedade e ecoam por seus corredores. É necessário problematizar as verdades “naturais” e ampliar as lentes para um olhar para a desnaturalização das identidades sexual e de gênero, ou seja, de que cada sujeito constitui-se de forma diferente ao longo de sua vida. Todos somos sujeitos da diversidade! Assim, convido você para discutirmos a educação para as relações de gênero, sexualidade e prevenção através de um olhar plural e desnaturalizante. Vamos lá? A Educação para as Relações de Gênero, nos currículos escolares, só pôde ser pensada no Brasil, a partir das décadas de 1970 e 1980, quando os estudos feministas sobre a mulher passaram a se utilizar da categoria “gênero”. Ao longo da história construíram-se significados culturais que hierarquizavam diferenças dentro de uma concepção engessada e dual, estabelecendo-se diferenças entre homem e mulher pautadas em características biológicas. Os estudos feministas demonstram que a desigualdade estabelecida entre homens e mulheres tinha uma trajetória histórica marcada por assimetrias nas relações de poder que construíram e até hoje constroem o “lugar” social das mulheres e dos homens. Gênero é uma palavra usada para entender que ser homem e ser mulher são construções da história e da cultura. O conceito de “gênero” não é o mesmo que “sexo” (nossa biologia). É com o movimento feminista que o gênero passa a ser usado como distinto de sexo, pois visa “rejeitar um determinismo biológico implícito no uso de termos como sexo ou diferença sexual” (SCOTT, 1995, p. 72). O conceito de gênero enfatizará “deliberadamente, a construção social e histórica produzida sobre as características biológicas” (LOURO, 1997, p. 22). É no âmbito das relações sociais que se constroem os gêneros, porém não se deve pensá-los como se referindo a construção de papeis masculinos e femininos, pois essa concepção poderia se mostrar redutora ou simplista. Mas sim, compreender o gênero como constituinte da identidade dos sujeitos. 10 Adaptação: Clarice Klann Constantino. 2.2 EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES DE GÊNERO, EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE SEXUAL, EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO10 VOCÊ JÁ PENSOU SOBRE ISSO? VAMOS FALAR SOBRE GÊNERO? Por que é necessário discutir sobre educação para... relações de gênero? diversidade sexual? prevenção? Reflita sobre as questões e compartilhe suas ideias com coleg@s! 2.2.1 EDUCAÇÃO PARA AS RELAÇÕES DE GÊNERO Falar em gênero é perceber como, para homens e mulheres, para meninos e meninas, a cultura, a sociedade e o atual tempo histórico, constroem diferentes formas de “ser masculino” ou “ser feminino” (masculinidades e feminilidades). (SANTA CATARINA, 2014, p. 58) “ 22 23 É necessário desconstruir a oposição entre masculino-feminino, pois usualmente se concebe homem e mulher como polos opostos dentro de uma lógica de dominação- submissão. Indispensável é a propositura da desconstrução dessa dicotomia, evidenciando-se que cada polo não é uno, mas sim plural. Por que é importante debater gênero na escola?Debater gênero é construir uma educação inclusiva e com menos preconceitos. As escolas são um espaço transformador e ideal para a promoção do convívio e do respeito às diferenças. Promover a igualdade de gênero não significa anular as diferenças, mas garantir que a escola seja um espaço democrático onde essas diferenças não se transformem em desigualdades. Debater é reconhecer esta categoria identitária como importante na vida das pessoas. LGBT – originalmente a sigla significa Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis. Vista como uma forma reduzida a chamada comunidade homossexual, o “T” pode ser entendido com uma referência aos sujeitos “trans” (travestis, transexuais e transgêneros). Diferentes autores, comumente, usam a sigla LGBTTTI (que, além de visibilizar todos os sujeitos trans, o “I” refere-se aos intersexuais). “ Partindo da perspectiva dos Estudos Culturais e Feministas, compreendem-se os sujeitos [...] como tendo identidades plurais, múltiplas; identidades que se transformam, que não são fixas ou permanentes[...] ao afirmar que o gênero institui a identidade do sujeito (assim como a etnia, a classe ou a nacionalidade, por exemplo) pretende referir-se a algo que transcende o mero desempenho de papéis, a ideia é perceber o gênero fazendo parte do sujeito, constituindo-o. (LOURO, 2012, p.28-29). As identidades de gênero se constituem e se transformam continuamente, uma vez que são atravessadas por diversos discursos e práticas sociais. Construções estas que não são permanentes, mas que se transformam ao longo do tempo. A concepção fortemente polarizada dos gêneros esconde a pluralidade existente, pois existem, por exemplo, diferentes modos de ser homem e mulher e diferentes possibilidades de masculinidade e feminilidade. Atividades escolares são reveladoras de onde e como se constroem as diferenças, as oposições e as desigualdades de gênero no cotidiano escolar. Brincadeiras e jogos podem revelar como as relações de gênero são construídas e como papeis específicos são divididos em uma lógica dualista meninos/ meninas, homens/mulheres. Ao estabelecer- se, por exemplo, o futebol como brincadeira exclusiva de meninos e bonecas somente para meninas percebe-se a delimitação normativa estabelecida em conceitos preestabelecidos e de relações de poder. A escola exerce papel fundamental na construção das identidades de gênero e sexuais e não deve silenciar sobre essas questões. Falas, orientações, comportamentos, avaliações, brincadeiras, auxiliam na construção da identidade dos sujeitos e @s educador@s podem não perceber que constroem mesmo que de forma sutil feminilidades e masculinidades normalizadoras. Com isso, institui-se um modelo a ser seguido e todos aqueles que não se encaixam nele são considerados os outros, os anormais, inferiores, diferentes. Por exemplo, há homens que se afastam da visão hegemônica de masculinidade e são considerados como “diferentes”, “anormais”, vivenciando práticas de discriminação. As condições históricas e culturais de cada sociedade passam a ser determinantes na construção do gênero. Ao se falar em gênero, não se fala apenas de macho ou fêmea, homem e mulher, a partir do olhar biológico. O gênero remete, também, a outros corpos. Remete a construções sociais, históricas, culturais e políticas que dizem respeito a disputas materiais e simbólicas que envolvem processos de configuração de identidades em outros sujeitos. É a partir da categoria gênero que sujeitos LGBT podem ser compreendidos no mundo social atual, o que torna essa categoria imprescindível aos sujeitos da diversidade sexual. Dica de leitura: ROUDINESCO, Elisabeth. A Família em Desordem. Rio de janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2002 24 25 desviante ou até mesmo transgressor. Impõe-se na sociedade que a norma a ser seguida é a heterossexualidade, isto é, uma heteronormatividade em que a atração somente pode acontecer entre sexos/ gêneros opostos. No entanto, há casos em que o sujeito não se reconhece em ser “A” ou “B”, isto é, em ser homem ou mulher e/ ou tampouco sente atração sexual pelo sexo oposto, conforme preceitua a norma. Há ainda aqueles que sequer sentem atração sexual (BEZERRA, 2015). O sujeito simplesmente entende que ele não se “encaixa” em nenhum desses padrões. E é a partir do momento em que ele não segue a norma, que ele pode vir a ser estigmatizado, ficar exposto ao preconceito, às agressões verbais e físicas etc. É importante o debate nos espaços escolares envolvendo a desconstrução do ideal de orientação sexual hegemônico que tem a heterossexualidade como norma a ser seguida. Tanto sexualidade quanto homossexualidade são objetos da biopolítica, ou seja, de uma política sobre a vida. Saberes que fazem com que através da norma se estabeleça um regime de verdade e faz com que se discipline e se regulamente toda a vida. A sexualidade, então, desenvolve-se na história, em meio a um jogo de estratégias e manobras, ou seja, jogos de verdade, na imanência de complexas relações de poder (FOUCAULT, 2012). Homossexualidade e heterossexualidade, ou mesmo qualquer outra forma de sexualidade, fazem parte de um dispositivo, fazem parte das estratégias de poder que visam regular a vida do sujeito, seja na esfera privada, seja na esfera pública. Tod@s estamos envolt@s pela trama da sexualidade enquanto dispositivo de poder. Um poder que age sobre a vida dos sujeitos e da população e que coloca o sexo como ponto central para que o dispositivo da sexualidade atue. É através do sexo que é possível compreender e exercer um controle sobre os corpos, seus prazeres e seus desejos, tornando-os úteis (FOUCAULT, 2012). Vive-se em uma sociedade normalizadora em face à biopolítica instalada, na qual as práticas sociais parecem girar em torno da norma, a qual aparece como natural, em que se padronizam condutas, gestos, atos e pensamentos em consonância com as relações de poder. A sexualidade é vista comumente como algo “natural” e privado. Ela aparece como fonte da identidade de homens e mulheres, colocando-se como “norma” a ser seguida a heterossexualidade, ou seja, de que um homem somente pode sentir atração ou afeto por uma mulher e vice-versa. Impõe-se uma vigilância pública e uma espécie de adequação dos corpos para que estes ajam de acordo com o que “naturalmente” se espera. No entanto, a sexualidade não é um dado da natureza que deve ser descoberto pelos cientistas, mas uma invenção da sociedade moderna, e é objeto de saber e objeto de intervenção das técnicas de poder. A sexualidade é uma invenção social, um dispositivo histórico, ou seja: A sexualidade como dispositivo estratégico de poder utiliza o sexo como mecanismo, produzindo discursos que agem sobre o corpo e a vida dos sujeitos. Saberes produzem verdades a serem seguidas, replicadas e disseminadas por todos. Pensar a sexualidade com fundamento ou origem somente na natureza é considerá- la como identidade única, universal e imutável a todos. Crer que a sexualidade é algo que todos possuem “naturalmente”, não permite compreender a ideia de que cada sujeito se constitui de modo diverso ao longo de sua vida e que através dos processos culturais vai se modificando. Tod@s possuem capacidades biológicas, mas os sujeitos vão se constituindo de forma diferente ao longo da vida e, por essa razão a sexualidade humana não é universal e imutável. Com os processos culturais permite- se a transformação do sujeito, daquilo que ele é, age e pensa. O sujeito aprende na escola, na família, na igreja etc., enfim, de que se nasce homem ou mulher e de que um homemsomente pode sentir atração, desejo ou prazer com o sexo oposto, ou seja, uma mulher e vice-versa. Qualquer fala diferente disso soaria como estranha, absurda ou anormal e o sujeito será considerado anormal, Um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode tecer entre esses elementos. (FOUCAULT, 2000, p.244) “ 2.2.2 EDUCAÇÃO PARA DIVERSIDADE SEXUAL Heteronormatividade: Termo que se refere aos ditados sociais que limitam os desejos sexuais, as condutas e as identificações de gênero que são admitidos como normais ou aceitáveis àqueles ajustados ao par binário masculino/feminino. Desse modo, toda a variação ou todo o desvio do modelo heterossexual complementar macho/fêmea – ora através de manifestações atribuídas à homossexualidade, ora à transgeneridade – é marginalizada/o e perseguida/o como perigosa/o para a ordem social. (BRASIL, 2009). Disponível em: <http://estatico.cnpq.br/portal/premios/2014/ ig/pdf/genero_diversidade_escola_2009.pdf> 26 27 Padrões de diferenciação são disseminados e, mesmo que o sujeito tenha a noção dos padrões ditados em uma sociedade normalizadora, ele não os problematiza. Inferioriza-se, simultaneamente, a mulher e todos os que não são heterossexuais. Ao se inferiorizar estabelece-se uma ordem sexual. Assim, mais uma estratégia de poder sobre a sexualidade atua na sociedade: o preconceito. Verifica-se que o outro não pode aparecer, deve permanecer escondido, ficar à sombra sob o medo de apanhar, ser ofendido física ou verbalmente. A inferiorização também acontece por meio da injúria. Uma lógica normativa da heterossexualidade se manifesta, uma vez que o sujeito recusa a si e passa a recusar o outro que é igual a ele. Por essa razão, a importância de se problematizar a sexualidade na escola, já que a recusa em debater a temática possibilita que o estigma e o preconceito continuem operando. Com o preconceito tem-se os estereótipos, pois o insulto, inclusive às formas de se vestir, denotam a presença da norma social, dos papéis e padrões definidos. Padrões firmam também a hierarquia, tal qual o preconceito. A normalização estabelece uma linha de comportamentos a ser seguida na sexualidade, em que masculino e feminino são compreensíveis, mas não se reconhece outras sexualidades. O modo como se vive a sexualidade é uma das consequências da estratégia disciplinar. Um controle é exercido sobre o corpo, o qual se reveste de medo, de vergonha, de culpa, de sentimento de inferioridade etc. Silenciar o diferente é garantir o controle que o poder exerce sobre a sexualidade e, por conseguinte, sobre a vida das pessoas. Ao colocarmos a sexualidade na esfera privada “acreditando que as questões da sexualidade são assuntos privados, deixamos de perceber sua dimensão social e política” (LOURO, 1999, p. 27). Assim, aqueles que se percebem como “diferentes” da norma heterossexual somente terão como alternativas o recolhimento, o silêncio do sofrimento ou até mesmo a dissimulação. A produção da norma propaga a rejeição do outro, daquele que é diferente. Colocar em discussão o tema da sexualidade faz com que também se problematize o campo social e político, pois a rejeição da sexualidade considerada diferente da norma pode se manifestar na forma de homofobia. A Homofobia é “uma manifestação arbitrária que consiste em designar o outro como contrário, inferior ou anormal [...]” (BORRILLO, 2010, p.13). A homofobia desempenha um papel importante, atuando como meio de inferiorização do outro, do diferente, uma vez que é consequência da hierarquização das sexualidades para firmar a heterossexualidade na condição de um status de superioridade, colocando-a no plano do natural e de que deve ser seguida por todos. A homofobia participa de um senso comum e por essa razão deve ser discutida nas escolas. É preciso problematizar a norma e os padrões estabelecidos como forma de combate ao preconceito!“ Uma Educação para a Diversidade Sexual reconhece que, nos sujeitos LGBT, a identidade de gênero assume ainda mais importância na medida em que estão sujeitos a discriminações homofóbicas, lesbofóbicas, transfóbicas e exclusão social (SANTA CATARINA, 2014, p.59-60). Conforme orienta o Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH 311 é preciso garantir, em todas as instituições públicas, o respeito à livre orientação sexual e à identidade de gênero das pessoas, e desenvolver políticas afirmativas e de promoção de uma cultura de respeito, favorecendo a visibilidade e o reconhecimento social desses sujeitos. Em Santa Catarina o Conselho Estadual de Educação, desde 2009, aprovou a Resolução nº 132 de 15 de dezembro de 2009 (SANTA CATARINA, 2009), a fim de minimizar os processos de discriminação e preconceitos a travestis, transexuais e transgêneros, garantindo-lhes o acesso e a permanência na Educação Básica. Esta normativa dispõe sobre o nome social nos registros escolares internos e dá outras providências, e passou a vigorar a partir de 2011, afirmando em seu artigo 1º: Implementar políticas de prevenção à evasão motivada por preconceito e discriminação à orientação sexual ou à identidade de gênero passa pelo reconhecimento desses sujeitos e pelo seu direito a estar na Educação Básica (SANTA CATARINA, 2014, p. 60). Artigo 1º: Determinar, quando requerido, que as escolas/instituições vinculadas ao Sistema Estadual de Educação de Santa Catarina que, em respeito à cidadania, ao pluralismo, à dignidade humana, além do nome civil, incluam o nome social de travestis e transexuais nos registros escolares internos. (SANTA CATARINA, 2009, p.1). 11 Brasil, (2010). Dica de leitura: LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação – uma perspectiva pós-estruturalista. Rio de Janeiro, Vozes, 2012. Diante das leituras efetuadas, construa um mapa conceitual sobre gênero e sexualidade. A T I V I D A D E 3 28 29 SEUS REFERENCIAIS: AMPLIE Para saber mais... ...sobre a relação entre currículo e heteronormatividade no espaço cotidiano escolar acesse: periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/rec/article/view/4281/3238 ... sobre heteronormatividade: ensaiosdegenero.wordpress.com/tag/heteronormatividade/ … sobre Avessos do excesso: a assexualidade: repositorio.unesp.br/handle/11449/132159 ... sobre Gênero e Diversidade Sexual na Escola: reconhecer diferenças e superar preconceitos portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=32141- genero-e-diversidade-sexual-na-escola-pdf&category_slug=janeiro-2016- pdf&Itemid=30192 ... sobre Teoria Queer: www.scielo.br/pdf/ref/v9n2/8639.pdf ...sobre Teoria Queer na educação: periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/S0104-026X2006000100018/7616 ...sobre o Programa Nacional de Direito Humanos: www.pndh3.sdh.gov.br/portal/sistema/sobre-o-pndh3 2.2.3 EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO12 A Educação Sexual, em toda a Educação Básica, aponta para a necessidade de superar padrões estereotipados das relações de gênero e do modelo familiar único, pautado na família nuclear. O contexto atual requer o reconhecimento dos diversos arranjos (organizações, configurações) familiares da contemporaneidade, o que possibilitará a reflexão e problematização do conceito de família, ampliando os recursos para discutir gênero, diversidade sexual e direitos humanos. Entende-se, baseado no direito da pessoa humana à livre expressãode seus afetos e desejos, ser necessário ampliar o entendimento das identidades sexuais e de gênero como expressões legítimas e constituintes existenciais da vida dos sujeitos. Na abordagem das temáticas sobre diversidade sexual, sexualidade e reprodução é importante discutir as expectativas e os valores associados à reprodução ou até mesmo a sua ausência. Os Direitos Reprodutivos são direitos relativos à autonomia e autodeterminação das funções reprodutivas pautados em princípios e normas de direitos humanos (VENTURA, 2009). Envolvem direitos relativos, como por exemplo: “[...] a gravidez é uma questão de escolha futura, e que pode ser planejada na vida das pessoas. a reprodução não deve ser vista, apenas como sinônimo de sexualidade normal, mas sim como um direito de escolha da pessoa” (SANTA CATARINA, 2014, p.61). { DIREITOS REPRODUTIVOS COMO DIREITOS HUMANOS! Mas afinal o que são direitos reprodutivos? Direitos Reprodutivos: • direito de decidir sobre a reprodução sem sofrer discriminação, violência ou coerção de qualquer natureza; • direito de exercer a orientação sexual sem qualquer discriminação, violência ou opressão; • direito de ter acesso à informação sobre reprodução e sexualidade; • direito de ter acesso aos meios para o exercício saudável e seguro da reprodução e sexualidade. “A educação configura-se como processo de construção de um indivíduo que formata sua subjetividade na relação com outros sujeitos e com o meio. A escola, como espaço privilegiado desta construção, possui a responsabilidade social de trabalhar o conhecimento científico para qualificar a vida coletiva e cidadã”. (SANTA CATARINA, 2011, p. 22) ““ 12 “A prevenção, focada nas violências na escola, significa evitar ou impossibilitar a ocorrência deste fenômeno.” (SANTA CATARINA, 2011, p. 23) 30 31 O AMPARO LEGAL DOS DIREITOS REPRODUTIVOS: Sugere-se a discussão a partir das práticas sexuais como foco de análise (discutindo, também, outras possibilidades, além do sexo vaginal) e não, apenas, a partir da orientação sexual hegemônica (heterossexualidade). Portanto, é preciso considerar o enfoque das práticas sexuais (seguras e inseguras as DSTs/HIV/AIDS, gravidez, HPV, outras doenças) em todas as possibilidades de relacionamentos (sejam eles, hétero, bi ou homossexuais) como forma de maximizar a mudança comportamental desejada nas Políticas Públicas de Educação e Saúde e, assim, minimizar a vulnerabilidade de nossos jovens (SANTA CATARINA, 2014, p. 61). Importante se faz o caráter de uma educação interdisciplinar permanente, “[...] em toda a Educação Básica, em todas as áreas e em todos os componentes curriculares a fim de que a igualdade nas relações de gênero se torne uma realidade na Formação Integral de nossas crianças e jovens” (SANTA CATARINA, 2014, p. 61). Por exemplo, @ professor@ de artes pode estimular uma pesquisa sobre gênero e sexualidade e a forma como se dá a sua representação através de expressões artísticas. O professor pode ainda realizar a organização de atividades pedagógicas nas quais meninas e meninos participem juntos possibilitando a reflexão das vivências sexuais, da superação das violências e comportamento de coerção, refletindo acerca dos processos socioculturais e políticos que nos constituem. Importante destacar que vivemos em um Estado laico, no qual e os princípios religiosos devem limitar-se ao âmbito privado, não devendo interferir nas políticas públicas e nas garantias democráticas de liberdade, dignidade e igualdade. Trata-se de dever ético do educador@ e garantia constitucional fazer valer esses direitos sem distinção para tod@s no âmbito público, evitando-se afirmações morais e religiosas universalizantes acerca da diversidade sexual e de gênero. “O Estado passa a ter deveres de não intervenção na vida sexual e reprodutiva das pessoas, mas também deveres de proteção, promoção e provisão dos recursos necessários para a efetivação desses direitos” (VENTURA, 2009, p.20). Enquanto os direitos reprodutivos encontram-se legitimados, os Direitos Sexuais encontram-se reconhecidos e relacionados aos direitos reprodutivos, utilizando-se a expressão “direitos sexuais e reprodutivos”. No entanto, considera-se essa medida como limitadora, pois a abordagem conjunta de direitos reprodutivos e sexuais restringe os direitos sexuais colocando- os somente no âmbito das ações de saúde reprodutiva e de prevenção. Os direitos sexuais vão além do direito à saúde e merecem uma visão mais ampla, autônoma e positiva como por exemplo, os direitos sexuais de adolescentes, de pessoas com orientação homossexual, transexuais, travestis, trabalhadoras e trabalhadores sexuais, e outros segmentos (VENTURA, 2009). Exemplos: A discussão das práticas sexuais em todas as possibilidades de relacionamento... Uma educação interdisciplinar para a educação de gênero e sexualidade.... formalmente encontram-se inscritos na esfera internacional desde a Declaração Universal de Direitos Humanos (1948). Ainda, estão inscritos em diversos Pactos e Convenções de Direitos Humanos e na lei constitucional brasileira. • 1966 — o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos garantiu o direito à vida e à liberdade (artigo 6º); à privacidade (artigo 17); ao casamento e à constituição de família, à igualdade entre homens e mulheres (artigo 3º). • 1965 — a Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial garantiu o direito à liberdade (artigo 5º, letra b), à igualdade no acesso à saúde (artigo 5º, letra e, n. IV); à igualdade no casamento e na constituição da família (artigo 5º, letra d, IV). Direitos sexuais: constituem também o direito de cada sujeito de ver reconhecidos e respeitados o seu corpo, o seu desejo e o seu direito a amar. { Dica de leitura: Ventura, Miriam. Direitos Reprodutivos no Brasil . UNFPA – Fundo de População das Nações Unidas, UFPA, 2009 (e-book) Acesse o livro Direitos Reprodutivos no Brasil através do link: www.unfpa.org.br/Arquivos/direitos_reprodutivos3.pdf 32 33 Em nossa sociedade, a centralidade da cultura europeia na produção de conhecimentos no Brasil oculta (e nega) outros conhecimentos que fazem parte de nosso patrimônio histórico e cultural. Reconhecer e valorizar as diversidades étnico-raciais na realidade escolar brasileira é tarefa urgente para rompermos com o processo de dominação e submissão que determina historicamente a condição de marginalização social, política e cultural dos povos indígenas e negros. Essas políticas de reparação [...] devem oferecer garantias a essa população de ingresso, permanência e sucesso na educação escolar, de valorização do patrimônio histórico- cultural afro-brasileiro, de aquisição das competências e dos conhecimentos tidos como indispensáveis para continuidade nos estudos, de condições para alcançar todos os requisitos tendo em vista a conclusão de cada um dos níveis de ensino, bem como para atuar como cidadãos responsáveis e participantes, além de desempenharem com qualificação uma profissão (BRASIL, 2013, p.133) A escola é aqui considerada como o espaço efetivo de combate do racismo e superação das desigualdades sociais. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana: A escola tem papel preponderante para eliminação das discriminações e para emancipação dos grupos discriminados, ao proporcionar acesso aos conhecimentos científicos, a registros culturais diferenciados, à conquista de racionalidade que regeas relações sociais e raciais, a conhecimentos avançados, indispensáveis para consolidação e concerto das nações como espaços democráticos e igualitários. Para obter êxito, a escola e seus professores não podem improvisar. Têm que desfazer a mentalidade racista e discriminadora secular, superando o etnocentrismo europeu, reestruturando relações étnico-raciais e sociais, desalienando processos pedagógicos. (BRASIL, 2013, p.136) Leia o trecho retirado da PCSC (2014) a seguir e reflita sobre as questões colocadas: No espaço escolar, observe e analise as relações de gênero e de sexualidade que perpassam o ambiente escolar. • Você percebe a diversidade além do binarismo e da heteronormatividade? • Observe os estereótipos e como eles são vistos e discutidos no ambiente escolar por alunos e professores. • Em caso de violência e preconceito observe se o tema é debatido e problematizado no ambiente escolar. A ERER se aloja na ideia da desconstrução dos modelos e instituições escolares assumidos como únicos e propõe aconstrução de possibilidades educativas que levem em conta a pluralidade étnica. Esse processo de desconstrução e construção, levando em conta a identidade cultural brasileira e as suas pertenças, pode se constituir em prática constante de reflexão, no interior da escola (SANTA CATARINA, 2014, p. 67). Reflita, agora, sobre essas questões: • Como essa “desconstrução dos modelos e instituições escolares” poderá acontecer em seu ambiente escolar? “ Lei que instituiu a Política de Prevenção à Violência: www.leisestaduais.com.br/sc/lei-ordinaria-n-14408-2008-santa-catarina-institui-a-politica-de-prevencao-a-violencia-contra-educadores-na-rede-de-ensino-fundamental-e-medio-do--estado-de-santa-catarina Caderno Escola sem Homofobia: revistaescola.abril.com.br/pdf/kit-gay-escola-sem-homofobia-mec.pdf A ESCOLA: INTERROMPENDO O CICLO DE VIOLÊNCIA SEXUAL: http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/guiaescolar/guiaescolar_p029_037.pdf http://portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/guiaescolar/guiaescolar_p039_045.pdf Guia Escolar: Identificações de sinais de Abuso e Exploração Sexual de Criança e Adolescente: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=32151-guia- escolar-rede-de-protecao-pdf&Itemid=30192 LEI 11.340 – LEI MARIA DA PENHA Aprovada em 7 de agosto de 2006 (BRASIL, 2006) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm SEUS REFERENCIAIS: AMPLIE Compartilhe suas reflexões com @s coleg@s e enriqueça seu ponto de vista. 2.3 A EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS (ERER) A educação e prevenção aponta para o combate de toda e qualquer forma de preconceito, de bullying, de violência e de relações de poder que violem os direitos humanos. [...] a diversidade como princípio formativo requer minimizar as vulnerabilidades a que estão expostos, com base no respeito à diversidade sexual, de gênero, às etnias, às religiões, às culturas, evitando toda forma de preconceito, de violência, de relações de poder, que viole os direitos humanos (SANTA CATARINA, 2014, p. 62-63). Por meio de políticas públicas e projetos, a Secretaria de Estado da Educação implementou o NEPRE - Núcleo de Prevenção e Educação na Escola, o qual possui amparo legal pela Lei n. 14.408, de 10 abril de 2008. A partir de uma perspectiva de temas transversais, o NEPRE aborda temáticas relacionadas ao uso de substâncias psicoativas (drogas lícitas e ilícitas), sexualidade e as expressões da violência. Em 2011 criou-se o documento que orienta a criação dos Núcleos de Educação, Atenção e Atendimento às Violências/NEPRES, no Órgão Central, nas Gerências Regionais de Educação/GEREDs e em cada uma das escolas da rede estadual de educação. Educação e Prevenção: ações que fazem a diferença nos espaços escolares de Santa Catarina... Acesse o documento sobre Política de Educação, Prevenção, Atenção e Atendimento às Violências na Escola na íntegra pelo link: http : / /www.sed .sc .gov .br/secretar ia/ politica-de-educacao-prevencao-atencao-e- atendimento-as-violencias-na-escola 34 35 Segundo Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva (2007), relatora das Diretrizes Curriculares Nacionais da ERER (DCNERER): A ERER refere-se a uma política curricular determinada pelas Leis nº 10.639/2003 e nº11.645/2008 (BRASIL,2003b,2008b); Do que trata esta proposta? Qual sua finalidade? Como tais determinações foram conquistadas? Leia a página 66 da PCSC (2014) para saber mais. A grande mudança, após a 10.639/03, é que falar da África e do negro em sala de aula, de uma forma respeitosa para com nossa história e riqueza, deixou de ser “coisa” de alguns militantes. Mas, não foi só nisso que avançamos. Uma reflexão pertinente nos ajuda a pensar a sair da “zona de conforto” possibilitando a construção de conhecimentos que contemple as diversidades etnico-raciais, como pode ser observar pela emergência de programas de formação de professores, de materiais didáticos e paradidático bem como pesquisas e publicações no âmbito acadêmico. Em 2008 este projeto de afirmação dos valores presentes na diversidade étnico- racial altera-se com a Lei nº 11.645. O que foi acrescentado? Veja: No documento “Proposta de Plano Nacional de Implementação das Diretrizes curriculares Nacionais da educação das relações Étnico-raciais e para o ensino de História e cultura Afro-Brasileira e Africana – Lei 10.639/2003” (BRASIL, 2008), são apresentadas três abordagens de diversidade adotada pelo MEC nas políticas públicas de educação. Analise essas três abordagens e compare-as. Por que a ERER deve adotar a terceira abordagem? A primeira abordagem tem por base o binômio inclusão/exclusão, e busca incorporar os excluídos a um modelo instituído de política a partir da perspectiva socioeconômica, desconsiderando suas identidades específicas. A segunda abordagem é baseada na ação afirmativa ou na discriminação positiva. Nela, a compreensão é que a situação de pobreza e/ ou desigualdade social em que se encontram determinados grupos sociais como os negros, índios e mulheres não pode ser atribuída exclusivamente aos indivíduos isoladamente. A terceira abordagem da diversidade é a chave das “políticas de diferença”, que se distinguem das políticas de inclusão social e das políticas da ação afirmativa não pela ênfase no particularismo, mas pela demanda pelo igual reconhecimento do direito das diversas culturas a se expressarem e atuarem na esfera pública. É esta abordagem que precisa ser desenvolvida para a implementação da ERER. (BRASIL, 2008) As leis nº 10.639/2003 e nº 11.645/2008 O movimento social e negro percebeu e opinou sobre o sucesso desta Lei, afirmando que: A educação das relações étnico-raciais tem por alvo a formação de cidadãos, mulheres e homens empenhados em promover condições de igualdade no exercício de direitos sociais, políticos, econômicos, dos direitos de ser, viver, pensar, próprios aos diferentes pertencimentos étnico-raciais e sociais. Em outras palavras, persegue o objetivo precípuo de desencadear aprendizagens e ensinos em que se efetive participação no espaço público. Isto é, em que se formem homens e mulheres comprometidos com e na discussão de questões de interesse geral, sendo capazes de reconhecer e valorizar visões de mundo, experiências históricas, contribuições dos diferentes povos que têm formado a nação, bem como de negociar prioridades, coordenando diferentes interesses, propósitos, desejos, além de propor políticas que contemplem efetivamente a todos (SILVA,2007, In: PCSC p. 66). Faça uma reflexão sobre o excerto de Silva (2007) – Qual a importância de se “educar para as relações étnico-raciais” para a sociedade,para a sua comunidade, para a comunidade escolar e para as populações negras e indígenas? Como este conteúdo está sendo apresentado em sua comunidade escolar, no plano de ensino e nos momentos junto à comunidade? A T E N Ç Ã O “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- brasileira e indígena. § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” 36 37 Por se tratar de uma política curricular, a ERER contesta a ausência dos sujeitos étnicos de matriz africana e indígena no “território do conhecimento”. E, sendo o currículo um espaço de tensões e disputa, trazem seu histórico registros de exercícios de diálogo, por diversos segmentos da sociedade brasileira, em defesa de uma escola manifestamente plural. Nesse percurso, a abertura proposta pela ERER para os currículos encaminha novos saberes, novas formas de ensinar e novos comportamentos para aqueles a quem se dará essa oportunidade de aprender. São novas perguntas levantadas pelos estudantes as quais serão necessárias novas respostas. Na sua opinião, como essa reeducação seria possível? Busque saber mais sobre práticas que proporcionam a ERER na escola e compartilhe com @s colegas. A PCSC (2014) apresenta três princípios que orientam a ERER, na busca da superação das desigualdades que envolvem a produção dos saberes dos diversos povos e culturas que constituem a nação. Leia as páginas 66 e 67 da PCSC (2014) para compreender esses princípios e registre as ideias: • A busca de uma consciência política e histórica da diversidade; • O fortalecimento da diversidade de identidade de direitos; • Ações educativas de combate ao racismo e às discriminações. a) abordagens curriculares e metodológicas utilizadas podem contribuir para a aplicabilidade da ERER; b) temas abordados que contribuem para a valorização e reconhecimento das culturas de matriz africanas e indígenas; c) desafios da escola para realizar uma “educação para as relações étnico- racial”. Leia o trecho retirado da PCSC (2014) e reflita sobre a importância do estabelecimento de uma educação para as relações étnico-raciais: [...] ainda precisamos afirmar lugares positivos para as temáticas que nos trazem a ERER em nossa prática e reflexão pedagógicas. A ERER propõe a REEDUCAÇÃO dos sujeitos sociais e da escola. Reeducar tendo como referência os estudos das populações africanas e indígenas, seu legado, suas influências e suas contribuições às formas de ser da população brasileira e catarinense. Indica (re)conhecer que a perspectiva eurocêntrica da escola não favorece a presença e a contribuição de outros sujeitos étnicos na intencionalidade do fazer pedagógico. Que sendo pública, a escola é de todos e para todos e o eurocentrismo é um obstáculo para a igualdade. (SANTA CATARINA, 2014, p. 68). É significativo refletir sobre o quão importante é a articulação dos saberes da escola com os saberes trazidos pelos sujeitos da escola. É ético que a escola garanta que essa mensagem produza outros saberes, outras racionalidades, outras interatividades e posturas no âmbito das relações étnico-raciais (SANTA CATARINA, 2014, p. 67).{ A ERER no cotidiano escolar Nosso compromisso na aplicabilidade de uma Educação das Relações Étnicos- Raciais (ERER) está em propor e observar as abordagens curriculares e as escolhas metodológicas, bem como o (re)conhecimento da influência que as pertenças e condições sociais exercem nas trajetórias educativas dos sujeitos da escola. (SANTA CATARINA, 2014, p. 69). Em seu cotidiano escolar, conheça mais sobre a ERER e busque identificar: BRASIL. Pluralidade Cultural. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. ______ . IBGE. Estados 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/estadosat Acesso em 23/06/2011. ______ . Lei nº. 11.645/2008. Inclusão no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Disponível em: http://www.planalto.gov.br Acesso 13/07/2009. SEUS REFERENCIAIS: AMPLIE Quem são os sujeitos das diversidades em seu ambiente escolar? Como a escola lida com as temáticas abordadas nesta unidade: a educação ambiental formal, a educação para as relações de gênero, a educação para a diversidade sexual, a educação e prevenção, a educação para as relações étnico-racial? Faça uma entrevista com um(a) professor(a) que atue na Educação Básica e busque identificar seus conhecimentos, opiniões e práticas desenvolvidas em relação aos sujeitos da diversidade abordados na PCSC (2014). 2.4 ATIVIDADE FINAL 38 REFERÊNCIAS ADRIANO, G. A. C.; TOMIO, D. Investigar e aprender em espaços educadores sustentáveis de uma Escola pública. In: XII CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE., 2015. Anais... Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2015. p. 237557 – 23770 BORRILLO, Daniel. Homofobia: história e crítica de um preconceito. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. 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