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tradução tratado de viticultura

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JULIANA MARTINS
TRATADO DE VITICULTURA
DOM PEDRITO
2019
A VIDEIRA
 A videira é uma planta sarmentosa e de hábito trepador que necessita fixar-se em alguma base, seja ela natural ou artificial, através dos organismos que lhe são oferecidos. Quando faltam essas bases, a videira se estende por toda a superfície do terreno, ocupando toda a extensão do lugar. 
 A botânica sistemática relaciona a videira a uma das mais importantes agrupações do reino vegetal: as cosmofitas (planta com raíz, caule e folhas, autótrofas com reprodução sexual). São do tipo espermatófitos (plantas com flores e sementes) e do subtipo angiosperma (plantas com a semente dentro do ovário). Pertencem a classe das dicotiledôneas (duas folhas embrionárias), ordem ramnáceas (plantas lenhosas com um ciclo de estames localizado nas pétalas), família Vitáceas (flores com corola, cálice pouco desenvolvido, com fruto em formato de baga) e genêro Vitis.
ORIGEM DAS VITÁCEAS
 Segundo P. Galet, os primeiros fósseis das Vitáceas parecem ter vindo de Nebraska (EUA) e de Portugal, ainda que estas fontes não são totalmente seguras pois há alguns autores que acreditam ser outro tipo de espécie como bananeira, limo ou até mesmo Acer. O conhecimento atual dos fósseis das Vitáceas impedem de que haja um conhecimento certo da origem da família Vitácea além do período Eoceno sendo encontradas entre os paralelos 40 e 70 graus de altitude Norte. Atualmente compreende tais gêneros: Vitis (28 espécies), Cissus (18 espécies), Amelopsis (4 espécies), Tetrastigma (4 espécies) e Cayratia (1 espécie), e os gêneros mais antigos: Cissites (12 espécies) e Paleovitis (1 espécie).
 Com o objetivo de conhecer a origem da família Vitácea e a ordem em que foram aparecendo na Terra, P. Galet baseou-se na teoria de Wegener sobre a formação dos continentes. De acordo com Wegener, no inicio a terra era chamada de Pangeia que era considerada um único continente, esse continente o qual foi se afastando na maneira que ia evoluindo de acordo com o tempo geológico, graças a separação do fundo dos oceanos.
Mais a frente, esse supercontinente, se separou em duas grandes massas, formando a Laurásia no hemisfério Norte e a Gondwana no hemisfério Sul. Assim mais tarde, a Laurásia passou a ser o continente Norte-Atlântico, formado pela atual América do Norte, Groelândia e Europa ocidental, enquanto o Este se constituiu na Angara, formado por Europa Oriental, Sibéria, China, Japão e Coréia. 
 A Gondwana foi constituída pela atual América do Sul, África, Madagascar, India, Austrália. As Vitáceas que habitam nesse continente são essencialmente tetrâmeras, e representam 86 das 100 famílias.
Ainda é possível supor que os gêneros mais antigos são os que se encontram nos 4 continentes do hemisfério austral: Cissus e Ampelopsis que já deveriam existir antes da fragmentação da Gondwana. Logo a frente, antes da separação da Austrália apareceram a Cayratia e Tetrastigma conhecidas somente na Ásia, Oceania e um pouco na África. Os últimos gêneros formados foram os Clematicissus na Austrália, Acaerosperma e Pterisanthes na Ásia, Rhoicissus na Áfria e Pterocissus na América Central. 
O Gênero Vitis
 Seguindo a classificação de espécies de acordo com as mais modernas realizado por P. Galet em 1967, dentro do gênero Vitis existe a seção Muscadínea (40 cromossomos, gavinha comum, casca viscosa e nó sem diafragma) com três espécies, destacando-se a Vitis rotundifolia e a seção Vitis (com 38 cromossomos, gavinhas separados em dois ramos, casca esfoliante e nó com diafragma) onde são agrupados de acordo com o nível de importância. 
 Na seção Vitis se destacam a Vitis vinífera e suas sucessoras: Vitis silvestris, Vitis candicans, Vitis labrusca, Vitis belandieri, Vitis aestivalis e Vitis lincecumii, Vitis cordifolia e Vitis monticolia, Vitis riparia e Vitis rupestris e Vitis amurensis. 
 A classificação da seção Vitis é baseada na morfologia, na lanugem e tipos de folhas:
Candicansae
 Americanas com brotação semelhante ao algodão, folhas cuneiformes, grossas e cobertas de cera.
Labruscae
 Brotação semelhante ao algodão, com folhas cuneiformes, grandes, grossas e redondas. 
Caribaeae
 Espécies americanas de regiões quentes, com brotação semelhante ao algodão e folhas cuneiformes. 
Arizonae
 Envolve 4 espécies do oeste dos EUA, isoladas nas Montanhas Rochosas pois são sensíveis as doenças que provém do Atlântico. 
Cinereae
 Quatro espécies americanas, com galhos macios e férteis, cachos médios e frutos pequenos que tem amadurecimento tardio. 
Aestivalae
 Seis espécies americanas com folhas cerosas, grandes e redondas. Cachos medianos com frutas grandes, são viníferas. 
Cordifoliae
 Cinco espécies americanas com brotação macia, folhas cordiformes, lisas e cachos pequenos. 
Flexuosae
 Vinte espécies asiáticas com folhas cordiformes ou cuneiformes muitas vezes na mesma cepa. 
Spinosae
 Três espécies chinesas que carregam espinhos e pelos glandulares.
Ripariae
 Duas espécies americanas que não possuem pelos lenhosos.
Viniferae
 Todas as cultivares Vitis vinífera L. espécie de origem indo-europeu.
Origem do gênero Vitis
 Segundo J. Branas, a origem do termo Vitis é devido a sua localização numa área primitiva situada no hemisfério Boreal, onde todas as espécies atuais ou extintas derivam de um arquétipo cuja existência surgiu pela meiose das híbridas Vitis vinífera e Vitis rotundifolia.
 Esta área estaria limitada entre o polo e a linha do Equador, com as espécies resistentes ao frio em seu Norte como Vitis labrusca por exemplo e ao Sul, espécies adaptadas ao tempo mais quente como é o caso da Vitis caribae. As espécies sensíveis tanto ao frio quanto ao calor do inverno não poderiam sobreviver a estas condições extremas, sendo esta a razão pelo material das Muscadíneas ser muito mais pobre. 
 O gênero Vitis é conhecido desde o período terciário. Trata-se de uma videira (Euvitis) que cresceu em bosques com o clima parecido com o do sul da China. Durante o período Cenozoico, devido ao superaquecimento em algumas regiões, as videiras precisaram continuar sua evolução mais ao Norte em regiões mais frias e cobertas de gelo: Escandinava, Alaska, Groelândia etc. Esta evolução continuou nessas regiões até o início do período Neolítico, época que o gênero Vitis se encontra dividido em duas partes, uma parte americana e uma parte euroasiática, ao mesmo tempo o clima esfriava rapidamente. Ao mesmo tempo que o clima ia esfriando progressivamente, as videiras estavam se multiplicando pouco a pouco no sul. 
 Durante o período Mesozoico, as partes da Euvitis, americana e asiática separam-se e evoluem adaptando-se as novas condições climáticas do local. Assim é determinado um paralelo e uma afinidade entre as muitas espécies do grupo Labrusca separadas, uma parte na Ásia e a outra na América. As regiões inferiores da China e dos EUA estão ocupadas por grupos que apresentam características semelhantes.
É conveniente tratar de alguns detalhes em relação a essa evolução. Na Eurásia, apenas a Vitis vinífera é de fato importante, pois seus antecessores apareceram na Europa no final do período Mesozoico. As Vitis previniferas ocupam lugares quentes das encostas do Maciço Central. Estas videiras apresentam analogias com a Labruscoideas asiáticas.
Na América, toda a evolução do gênero Vitis está ligada ao desenvolvimento do parasitismo de alguns cogumelos e da filoxera. As espécies mais arcaicas: Labruscoideas vinda da Califórnia e de onde há uma propagação difícil. As Labruscoideas não são resistentes à filoxera, as mais resistentes de todas elas, as Vitis Labrusca, são destruídas facilmente em solo contaminado. As videiras que cresceram perto da bacia do Mississipi e do Texas desenvolveram uma alta resistência, parecidas com as que se separaram no período primitivo. Todas as Euvitis são interférteis e é possível que alguns cruzamentos tenham gerado nascimento a espécies que podem servirde ligação para uma suposta evolução.
 As espécies que sobreviveram ao frio em América e Ásia, voltaram a ocupar seus antigos espaços ao terminar a Era glacial, ainda quando em sua totalidade, tais como Vitis riparia e Vitis labrusca na América, Vitis amurensis na Ásia, enquanto na Europa só perduraram as que sobreviveram ao clima mediterrâneo: Vitis vinífera silvestris. 
Refugiadas as Vitis viníferas silvestris, durante o período Quartenário, na bacia mediterrânea e no Sul do Mar Cáspio, a imigração, terminado o período frio, fazia a bacia mediterrânea Leste-Oeste ser chamada de Proles orientalis, vindas do sul do Mar Cáspio e próximo ao Oriente Médio, com uvas de mesa, e Proles pontica correspondente a bacia do 	Mar Negro com aglomerados compactos e uvas de tamanho pequeno.
 Durante a emigração, foi produzido cruzamentos com Vitis vinífera silvestris escondidos na bacia mediterrânea constituída pelas Proles occidentales que avançava pelo leste caracterizada por ter aglomerados compactos e uvas pequenas. 
 Atualmente, 90 por 100 da superfície mundial do vinhedo está ocupado por videiras euroasiáticas, dedicadas a produção de vinho, suco, uva de mesa e pacificação. A maior parte deste vinhedo corresponde as variedades mais antigas, provenientes da seleção natural e observação direta de plantas que nasceram das sementes obtidas pela fecundação natural e das mutações das gemas dos países da bacia mediterrânea. Novas variedades Vitis viníferas sativa foram criadas no decorrer do século XIX e XX por selecionadores e métodos conhecidos, alcançando um grau de difusão relativa, já que se estima ocupam somente como máximo, 3 por 100 da superfície total dos vinhedos euroasiáticos, devido a sua lenta dispersão devido ao baixo coeficiente de multiplicação da videira, a lenta multiplicação de uma planta nascida da semente, o espírito conservador dos viticultores e sua preferência e apego pelas variedades que produzem vinhos famosos.
CARACTERÍSTICAS GERAIS DAS PRINCIPAIS ESPÉCIES DO GÊNERO VITIS
Vitis rotundifolia
 Planta com resistência a todos os parasitas, com exceção a podridão negra, sensível ao calcário e carente ao magnésio, sensível ao frio, de difícil hibridação com a Euvitis porém quando consegue fornece resultados muito agradáveis por transmitir suas características de resistências. Bagas de médias a grandes, com coloração geralmente marrom escuro. Cultivada nos Estados Unidos.
Vitis candicans
 Resistente a filoxera, ao míldio e ao oídio, pouco resistente ao calcário, sensível a carência ao magnésio, bem adequada a seca. Raiz difícil. Cachos pequenos com 3 a 10 bagas, bagas negras e sabor herbáceo. Alguns de seus híbridos para porta-enxertos apresentam resistência a salinidade ao cloreto de sódio. Cultivada no vale das colinas cinzas no Texas, Oklahoma e Arkansas. 
Vitis labrusca
 Pouco tolerante a filoxera, sem pelos nas folhas, as vezes atacada pelo Míldio, resistente ao Oídio e sensível a podridão negra, resiste bem a podridão cinzenta. Cacho mediano com bagas médias, azul negras e com sabor estranho. Cultivada desde a Inglaterra até a Georgia, principalmente no Apalache.
Vitis cinérea
 Resistente a filoxera, pouco resistente ao calcário. Cultivadas na Lousiana e Wisconsin.
Vitis berlandierri
 Boa resistência a filoxera, muito resistente ao calcário. Cachos grandes com 50 bagas de coloração azul. Variedades mais utilizadas: Resseguier n°2, Angeae, Laffont e Las Sorres.
Espécie ideal para porta-enxertos. Cultivada no Texas, Arkansas e no México. 
Vitis aestivalis
 Pouco tolerante a filoxera, resistente ao míldio, variável mas bem débil ao oídio, resistente a seca e sensível ao calcário. Cachos médios, bagas médias e grossas, cor azul escuro e sabor herbáceo. Servem de progenitores para outros híbridos. Cultivadas em Massachussets, Michigan e Georgia.
Vitis lincecumii
 Pouca resistência a filoxera e ao calcário, porém resistentes a seca, com frutos grossos. Cultivada no Sudeste do Missouri. 
Vitis cordifolia
 Tolerante a filoxera, resistente ao míldio, oídio e a seca, má resistência ao calcário. Cachos grandes e bagas pequenas. Utilizado para obtenção de porta-enxertos.
Vitis monticola
 Resistente a filoxera e ao míldio porém sensível ao oídio e resistente ao calcário e a seca. Cachos pequenos, tintos com mosto de gosto herbáceo.
Vitis amurensis
 Variedade resistente ao frio do inverno, sensível a filoxera e ao clorose. Utilizado como forma de fornecer híbridos resistentes ao frio.
Vitis riparia
 Boa tolerância a filoxera, boa resistência ao míldio e ao oídio, baixa resistência ao calcário e a seca. Cachos pequenos de bagas pequenas e negras.
Usada para a produção de porta-enxertos.
Vitis rupestris
 Boa tolerância a filoxera, resistente ao míldio e ao oídio e a podridão negra, sensível a seca.
Cachos pequenos, bagas pequenas, azul-negras. Se utiliza para a produção de híbridos diretos e para porta-enxertos.
Vitis vinífera silvestris
 Dioicas com flores masculinas que necessitam do gineceu, e se agrupam em cachos compactos. Bagas sempre da cor tinta ou brancas. Resistente a míldio e oídio. 
VARIEDADES E CLONES
 Em cada uma das espécies mencionadas, há um número gigante de variedades. As variedades podem ter surgido de uma maneira natural, com uma posterior seleção e multiplicação feita pelo homem, ou terem sido criadas com o objetivo de atender as suas necessidades. A videira é uma planta alógama com um elevado grau de heterose que resultam em prática de fertilização variada de caracteres em meiose, com formas características muito variáveis, mesmo que, no geralos casos são perpetuados na cultura pela multiplicação vegetativa. Pelo contrário, a multiplicação sexual de uma linha pura, daria origem a indivíduos idênticos aos seus pais. 
 A Viticultura cria novas variedades híbridas de Vitis VI nifera, porta-enxertos e produtores diretos por processos de auto-fertilização, hibridações ou mutações de indução seguido de uma rigorosa seleção, onde depois são estudados seus caracteres ampelográficas, sensorial e enológico. As flores são hermafroditas, com carácter mais ou menos marcada para a fertilização, inflorescência é produzida após o ensacamento e essas transformações são feitas com a aplicação de agentes indutores, tais como a colchicina e radiação gama, entre outros. 
 As hibridas podem ser realizadas entre variedades da mesma espécie, no caso de hibridação intraespecífica geralmente usa-se para criar novas Vitis vinifera, ou entre diferentes espécies do mesmo género de hibridação interespecífica, que ocorre nos porta-enxertos e híbrido. A maioria das videiras que cultivamos, se não todas, são mestiças naturais que o homem selecionou e cultivou para seu benefício próprio. Na verdade, na generalidade dos casos, não é uma variedade estrita, mas uma população de variedades muito semelhantes, multiplicada vegetativamente, que se em algum tempo ela era pura, o curso dela se transformava em uma população.
 A seleção clonal siginifica estudar uma população de acordo com alguns efeitos pretendidos, onde caracteriza-se uma planta ou grupo de plantas vegetativamente e depois multiplica-se um sem mistura, de modo que cada clone de uma variedade descende de um planta selecionada. 
 As primeiras uvas colhidas por seres humanos em tempos antigos tinham vindo de cepas que naturalmente desenvolvidas entre a vegetação, de maior probabilidade de ser milhas, mas com o tempo mutações e seleções poderia produzir variações entre eles, até para constituir populações de clones ou variedades muito próximas, conhecidas com o mesmo nome. Variedades de Vitis vinifera, criadas por hibridação dirigida, são geralmente designadas por um nome e clones com o nome da variedade que compõe a população selecionada, seguida por um número. A grande maioria dos porta-enxertos foi obtida por hibridização ou autofecundação, totalmente necessária, pois não apresentam as espécies escolhidas, todas as características que se desejam de porta-enxertos: resistênciaà filoxera e nemátodos, adaptação ao ambiente e afinidade com o vinho enxertado. Poucos são aqueles que são cultivados diretamente, como V. riparia Gloria de Montpellier; algo V. berlandieri Resseguier nº 2 e V. rupestris de Lot. Os porta-enxertos utilizados, na prática geral dos casos, são nomeados apenas com um número, dois números separados, ou com um número seguido de uma letra, que geralmente correspondem àqueles que o criador fez aparecer em seus protocolos (número da hibridização), número da pepita de hibridação, número ou letra que corresponde a ela na seleção, etc. Tudo isso é guiado pelo nome do hibridizador e, que às vezes, apenas abrevia sua inicial.

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