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Assédio à empregada doméstica MONO

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�PAGE �52�
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS
CAMPUS DE POÇOS DE CALDAS
Assédio sexual à trabalhadora doméstica
Eliana Damasceno
POÇOS DE CALDAS – MG
Novembro de 2006 
�
Eliana Damasceno
Assédio sexual à empregada doméstica
POÇOS DE CALDAS – MG
Novembro de 2006 
�
Eliana Damasceno
ASSÉDIO SEXUAL À EMPREGADA DOMÉSTICA 
Poços de Caldas, 2006
Data da Aprovação: ............./................/................
Média:.............................
Examinadores:
....................................................................................
 Orientadora: Profª. Cláudia Coutinho Stephan
....................................................................................
.....................................................................................
Curso de Direito 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Campus Poços de Caldas
�
À minha família pelo apoio irrestrito!�
À todos os professores que de alguma forma contribuíram para conclusão desta monografia e, em especial à professora Cláudia Coutinho pela atenção dispensada.
 
�
“Quando já não nos rebelamos contra as atrocidades do outro,
permitimos que a crueldade permaneça, que as mentiras 
prosperem e que estes atos se banalizem”
(Freud)
�
RESUMO
Esta monografia traz uma abordagem sobre o assédio sexual à empregada doméstica. Seu objetivo foi chamar a atenção para o problema que, com certeza, está longe de ser acordado entre os legisladores, julgadores e a sociedade com um todo. A pesquisa se desenvolve sobre a profissão dos empregados domésticos e sua definição legal. Inicia com um breve histórico sobre a origem da profissão e, a partir de uma análise dos fundamentos constitucionais da dignidade da pessoa humana, cidadania e o valor social do trabalho, discorre sobre o conceito do assédio sexual no ambiente residencial, seus elementos caracterizadores e sua natureza jurídica. Aborda os avanços e as conseqüências da legislação pertinente e comenta a regulamentação das formas de assédio sexual ao empregado doméstico. Demonstra que este tipo especial de trabalhador é discriminado apesar de leis e regulamentos. As questões são tratadas no corpo do presente estudo, que discute ainda, a repercussão do veto presidencial ao artigo 216-A, do Código Penal, que permitiu a impunidade de condutas que tipicamente são de assédio sexual não derivadas de vínculo empregatício, como exemplo o assédio em face de uma diarista, que não é empregada nos moldes do direito do trabalho. Na seqüência, faz uma breve exposição sobre a recente legislação de combate à violência contra mulher e por fim, faz considerações sobre a superioridade dos princípios constitucionais, aos quais deve se subsumir todo o ordenamento jurídico, abordando, inclusive, sobre o principio fundamental da igualdade, de modo a dar efetividade ao principio da isonomia e alcançar o objetivo maior da Constituição Federal: a dignidade da pessoa humana.
Palavras-chave: Dignidade da pessoa humana; assédio sexual; empregada doméstica
�
SUMÁRIO
	1
	INTRODUÇÃO ................................................................................................
	9
	2
	EMPREGADO DOMÉSTICO ..........................................................................
	11
	2.1
	Breve histórico ...........................................................................................
	11
	2.2
	Conceito ......................................................................................................
	14
	2.3
	Empregado doméstico versus diarista ....................................................
	16
	3
	ASSÉDIO SEXUAL ........................................................................................
	20
	3.1
	Conceito .....................................................................................................
	21
	3.2
	O dano moral como conseqüência do assédio sexual .........................
	27
	3.3
	Elementos caracterizadores .....................................................................
	29
	3.3.1
	Sujeitos do assédio sexual ....................................................................
	29
	3.3.2
	Conduta de natureza sexual ..................................................................
	29
	3.3.3
	Intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual ...........................
	30
	3.3.4
	Prevalência do agente de sua condição de superior hierárquico ou de ascendência em relação à vítima .....................................................
	
31
	3.3.5
	Rejeição à conduta do agente ...............................................................
	32
	3.4
	Consumação e tentativa ............................................................................
	33
	4
	A LEI 10.224/01 E O VETO PRESIDENCIAL ................................................
	34
	5
	ASSÉDIO SEXUAL E ASSÉDIO MORAL ......................................................
	37
	6
	EMPREGADO DOMÉSTICO COMO SUJEITO PASSIVO DO DELITO DE ASSÉDIO SEXUAL ........................................................................................
	
39
	7
	ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI Nº 11.340/06 .......................
	45
	8
	CONCLUSÃO .................................................................................................
	48
	9
	REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ...................................................................
	51
�
INTRODUÇÃO
A figura típica do crime de assédio sexual, que pune a violação da livre manifestação sexual, tem como prisma, garantir o direito à liberdade sexual, a livre disposição do próprio corpo como inerente ao direito à integridade física.
O assédio sexual encontra-se severamente reprovado pela sociedade e por essa razão, o legislador buscou formas de coibir esses abusos constrangedores, tipificando o assédio sexual como conduta criminosa, através da Lei nº 10.224/2001.
O fato é que o assédio sexual consiste em uma pressão sobre a vítima para prestação de algum favor sexual, porque hierarquicamente, está abaixo de seu assediador. A vítima é constrangida a se submeter sob a pressão de recair sobre ela um malefício, podendo ser a perda do emprego, a perda de uma promoção ou até mesmo a não admissão laboral, afetando, assim, sua liberdade sexual. 
Trata-se de uma prática reconhecida cada vez mais no ambiente de trabalho, único local reconhecido pela lei e passível de punição.
Feitas essas breves considerações e tendo em vista essa realidade social, o que se propõe tratar nesse trabalho é demonstrar, por intermédio de fundamentos jurídicos, doutrinários e jurisprudenciais, que os empregados domésticos merecem receber do Estado a tutela jurídica contra o assédio sexual.
O desenvolvimento do presente trabalho aborda um breve histórico do empregado doméstico com o conceito jurídico colocado e pressupostos para a relação especial de emprego. 
Será tratado, resumidamente, o conceito de assédio sexual, bem como um breve histórico dos elementos típicos que configuram o delito, delimitando-se característica e condutas que tipificam sua prática, natureza jurídica, pressupostos, o ônus probatório e os elementos autorizadores da rescisão indireta do contrato de trabalho pela vitima do assédio sexual.
A partir dessa visão ampla sobre os temas supracitados, é possível discutir os aspectos negativos do veto presidencial ao parágrafo único do artigo 216-A do CódigoPenal, o qual, conseqüentemente, possibilitou a ausência de regulamentação de uma série de formas de assédio sexual que foram eliminadas da lei, inclusive no âmbito das relações domésticas, que não de natureza laboral, e que poderão causar inúmeras conseqüências no tocante à interpretação única e igualitária da norma jurídica. 
Estas questões estão tratadas no corpo do presente estudo, que discute ainda, a repercussão do veto, permitindo a impunidade de condutas que tipicamente são de assédio sexual não derivadas de vínculo empregatício, como exemplo o assédio em face de uma diarista, que não é empregada nos moldes do direito do trabalho.
Na seqüência, uma breve exposição sobre a recente legislação de combate à violência contra mulher, a Lei 11.340/06, batizada de Lei Maria da Penha, que abrange inclusive a proteção em face da empregada doméstica, com as definições das espécies de violência, a que estas estão sujeitas, compreendendo-se entre as mesmas a violência psicológica, dispondo como definição, qualquer conduta que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
Não poderia deixar de anotar neste trabalho sobre a superioridade dos princípios constitucionais, aos quais deve se subsumir todo o ordenamento jurídico, abordando, inclusive, sobre o principio fundamental da igualdade, de modo a dar efetividade ao principio da isonomia e alcançar o objetivo maior da Constituição Federal: a dignidade da pessoa humana.
�
2 EMPREGADO DOMÉSTICO
2.1 Breve Histórico 
	O empregado doméstico, marcado por sua história, origem, educação, meio social, natureza humana, apresenta-se no imaginário social como uma figura serviçal do grupo dominante. 
	Nestes termos, Hádassa Dolores Bonilha Ferreira� explica que a evolução histórica do trabalho humano no Brasil, a qual dispõe que, desde o descobrimento do Brasil, até a abolição da escravidão em 1888, índios e negros eram trazidos para a aumentar a força do trabalho, utilizados no engenho de açúcar, escravizados e submetidos a tratamentos subumanos, tratados como coisas e como indivíduos sem nome nem face. Acontece que milhares deles, de ambos os sexos, foram desviados para as atividades domésticas, para servirem nos lares como criadas, babás ou acompanhantes. 
Gilberto Freire � expõe que a importação de africanos para o Brasil fez-se atendendo também, outras necessidades, como suprir a falta de mulheres brancas. Segundo o autor, as escravas africanas eram mucamas e cozinheiras, ao mesmo tempo em que eram amantes dos senhores, no espaço privado, seguindo um padrão de convivência social estabelecido entre os segmentos negros e brancos vigentes desde os primeiros dias da escravidão nas Américas. 
Acrescenta o autor, que o Brasil não se limitou a receber da África os escravos que promoveram o desenvolvimento dos canaviais e dos cafezais; que transformaram a terra seca, em terra fértil, mas também, receber as donas de casa para seus colonos sem mulher branca, contribuindo para um regime de depravação sexual, responsabilidade do sistema social e econômico em que funcionaram passiva e mecanicamente, dentro da atmosfera moral criada pelo interesse dos senhores em possuir o maior numero possível de crias. 
Posteriormente, com o surgimento da abolição em 1888, a maioria dos ex-escravos, sem dinheiro nem rumo a seguir, optou pelos afazeres domésticos, garantindo assim, casa e comida, concessões estas essenciais à sobrevivência. 
Reportando-se aos nossos tempos, observa-se o direito conquistado pelos empregados domésticos no Brasil. 
Segundo Mauricio Godinho Delgado� a categoria do empregado doméstico, permaneceu, por um extenso período, sem direito sequer a salário mínimo e reconhecimento previdenciário do tempo de serviço. Segundo o autor, um antigo diploma, Decreto-lei n. 3.078, de 1941, fez referencia a essa categoria, com a finalidade de determinar-lhes alguns direitos, sem êxito, uma vez que exigia para sua efetividade a necessidade de regulamentação inferior, a qual jamais foi editada. 
 Alice Monteiro de Barros �, afirma que quando a CLT disciplinou as relações individuais e coletivas de trabalho, excluindo o doméstico através do artigo 7º, “a”, não revogou o referido diploma, mas simplesmente deixou de estender aos domésticos as normas consolidadas. 
Somente com a promulgação da Lei nº 5.859, de 11/12/72, que concedeu direito mínimos a categoria como:
            • Férias anuais remuneradas de 20 dias úteis;
            • Assinatura da CTPS;
            • Filiação obrigatória à Previdência Social;
Também contemplou o empregado doméstico, instituído pela Lei nº 7.418, de 16 de dezembro de 1985, regulamentado conforme art.1º, II do Decreto n.95.247, de 17.11.87:
            • Vale-Transporte;
 A Carta Magna de 1988, no art. 7º, parágrafo único, ampliou direito, além daqueles especificados na citada Lei n. 5.859/72 aos domésticos, os quais são:
 • salário-mínimo;
            • irredutibilidade salarial, salvo negociação coletiva;
 • gozo de férias anuais de 20 (vinte) dias úteis, acrescidas de 1/3 constitucional;
            • repouso semanal remunerado;
 • 13º (décimo terceiro) salário; 
            • Licença à gestante;
            • Licença-paternidade; 
            • Aviso-prévio;
            • Aposentadoria e integração à Previdência Social;
Por outro lado, estabeleceu diferenças entre o empregado doméstico e os demais empregados por não garantir a estes os mesmos direitos dos empregados regidos pela CLT, violando, dessa forma, a igualdade de oportunidade.
A Convenção nº 132 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, promulgada pelo Decreto Presidencial nº 3.197, de 5 de outubro de 1999, assegurou a todos os empregados, inclusive os domésticos, férias proporcionais, mesmo incompletos o período aquisitivo de 12 meses, independente de desligamento conforme arts. 146 a 148, CLT.	
A Lei nº 10.208/2001, que incluiu o artigo 3º-A�, na Lei 5.859/72, dispõe sobre a inclusão do empregado doméstico no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS e ao seguro desemprego, conferindo o direito de opção ao empregador. Entretanto, diante dessa possibilidade de opção pelo empregador quanto ao recolhimento do FGTS, o legislador não preceituou a obrigatoriedade, deixando de assegurar efetivamente esse direito ao empregado doméstico.
Acrescenta-se ainda a Lei nº 11.324/06, adicionou alguns direitos à legislação doméstica como a estabilidade provisória da empregada doméstica gestante, férias de 30 (trinta) dias corridos e vedação de desconto de moradia, higiene, vestuário e alimentação, salvo quando o empregado mora em outro local da residência, que seja do empregador, poderá ser efetuado desconto do salário, desde expressamente convencionado pelas partes, porém a lei não estabelece o percentual máximo. 
Isto posto, importa perceber que da escravatura aos dias atuais, direitos trabalhistas foram conquistados pelos empregados domésticos, demonstrando-se uma evolução legislativa significativa.
A evolução histórica do empregado doméstico, contudo, deixa marcas na contemporaneidade que enfatizam o preconceito da classe, fazendo com que o status do empregado doméstico diferencia-se no âmbito social na evolução histórica da valorização do trabalho, verificando-se através da legislação constitucional e infraconstitucional, reguladoras da prestação de serviço do doméstico, as quais restringiram a essa categoria, alguns direitos aplicáveis aos empregados comuns. 
Por apresentar uma compreensão atual da discriminação social delegada a esta categoria de empregados, promovendo a distinção social e legal, deixa de conferir a concretização da igualdade, um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito.
2.2 Conceito 
		
	O empregado doméstico não é regido pela CLT, mas sim, pela Lei nº 5.859, de 11 de dezembro de 1972, regulamentada pelo Decreto nº 71.885, de 09 de março de 1973, a qual estabelece no seu artigo 1º que empregado doméstico éaquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas.
 	Mauricio Goldinho Delgado�, afirma que o tipo legal compõe-se dos mesmos cinco elementos fático-juridicos característicos de qualquer empregado, contudo, na relação de emprego doméstico, apresentam-se também elementos fático-juridicos especiais. 
	Para o autor, a omissão na disposição legal dos três elementos fatico-juridicos, pessoalidade, subordinação e onerosidade é absolutamente justificável, tendo em vista que a Lei nº 5.859 destacou em seu texto apenas o elemento genérico objeto de formação sócio jurídica especial, continuidade e os elementos específicos à relação empregatícia, inexistindo necessidade de repetir elementos fático-juridicos óbvios perante o padrão empregatício celetista. 
	Acrescenta ainda os cinco elementos fáticos-juridicos próprios a qualquer relação empregatícia e três elementos fático-juridicos especiais:
	- Pessoa Física - Prestação de serviço por pessoa física.
	- Pessoalidade - A circunstância de ser a prestação de trabalho realizada pela figura especifica do trabalhador. Caráter infungível.
	- Onerosidade - Prestação e contraprestação recíprocas entre as partes, economicamente mensuráveis.
	- Subordinação - Dependência ou obediência em relação à posição ou valores. Derivado do contrato estabelecido entre trabalhador e tomador de serviços, pelo qual o primeiro acolhe o direcionamento do segundo sobre a forma de efetuação da prestação serviço.
	- Continuidade - (não eventual) prestação de serviço de caráter permanente, ainda que por um curto período de tempo, não se qualificando como trabalho esporádico.	
	- Finalidade não lucrativa dos serviços – o trabalho exercido não objetiva resultados comerciais ou industriais. Serviços de repercussão direta no âmbito pessoal ou familiar, não produzindo benefícios para terceiros. 
	- Prestação laboral a pessoa ou família – Prestação de serviço somente á pessoa ou a família, impossibilidade de pessoa jurídica ser tomadora de serviço doméstico.
	Âmbito residencial de prestação laborativa – Circunstância de terem de ser os serviços prestados no âmbito residencial do empregador.
	Os principais fatores para a caracterização do empregado doméstico são a prestação de serviço no espaço residencial, de forma não eventual e sem finalidade lucrativa, tomada por pessoa física em beneficio próprio ou de sua família, conforme supracitado. 
	Entretanto, Amauri Mascaro Nascimento� expõe que a definição legal dá idéia imprecisa quando dispõe que o doméstico presta serviço no âmbito residencial, quando o correto seria para o âmbito residencial, tendo em vista que há doméstico que exerce atividades externa, como motorista, jardineiro, vigia. Desse modo, se o empregado doméstico passar a trabalhar na empresa da família, é considerado empregado urbano, com direito a FGTS e seguro desemprego, etc. 
	 A definição para serviços de finalidade não lucrativa visa excluir do conceito doméstico todo o trabalho que desenvolve atividade comercial ou industrial.
	Alice Monteiro de Barros� observa o exemplo de um casal que toma conta de uma chácara recreativa, destinado exclusivamente ao lazer, sem qualquer caráter lucrativo, não descaracteriza a condição do casal de empregado doméstico. Outra será a situação se a chácara explorar atividades lucrativas, por meio de venda de frutos, flores, hortaliças, aves, ovos ou se for o local alugado para eventos, serão empregados regidos pela CLT.
	Desta feita, infere-se que os empregados domésticos são contratados para trabalhar como babás, faxineiras(os), governantas, cozinheiras(os), acompanhante de idosos, vigia, jardineiro, caseiro, etc.
	 São caracterizados como uma categoria de empregados diferenciados, em razão dos requisitos complementares específicos e dos direitos que são fixados em regimes especiais, sendo então regidos por lei própria. 
2.3 Empregado doméstico versus Diarista.
	Conforme já dito anteriormente, a Lei nº 5.859/72 definiu o empregado doméstico como aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não lucrativa à pessoa ou a família no âmbito residencial destas.
	A diarista, distintamente do empregado doméstico, traz controvérsias na esfera jurídica, por se tratar de trabalho descontinuo. Em razão disso, a jurisprudência trabalhista como a doutrina ora decide que esse trabalho é autônomo e outras vezes o define como doméstico. 
	Alice Monteiro de Barros� expõe o entendimento que a diarista não está contemplada no art. 1º da Lei nº 5.859, por não apresentar o requisito continuidade que significa ausência de interrupção. Completa a autora que a diarista que trabalha na residência e lá comparece em alguns dias da semana, por faltar na relação jurídica o elemento continuidade, não é trabalhadora doméstica.
Esposam do mesmo entendimento, Rodolfo Pamplona Filho e Marco Antonio César Villatore� quando afirmam:
 
“os diaristas não podem ser considerados empregados domésticos, tendo em vista que um dos requisitos indispensáveis para a sua caracterização é a presença da continuidade na prestação de trabalho, pelo que somente podem ser considerados trabalhadores autônomos”.
	
	Esclarece Alice Monteiro de Barros� que no trabalho autônomo, o prestador de serviços atua como patrão de si mesmo, sem submissão aos poderes de comando do empregador, o qual tem liberdade de iniciativa. 	
	Considera-se como trabalho autônomo, quando a pessoa puder livremente todas as semanas, determinar o dia e a quantidade de horas de sua prestação de serviços, bem como não estar sujeito ao poder diretivo disciplinar de uma organização. Pode-se citar como exemplo aquelas pessoas que são chamadas, esporadicamente, para efetuar algum serviço numa residência, como em um dia de festa, poderia ser cogitado ao não enquadramento como doméstica.
	Mauricio Godinho Delgado esclarece que a lei do trabalho doméstico evitou a expressão celetista de serviço de natureza não-eventual, preferindo refererir-se a serviços de natureza continua, objetivando um resultado na intenção legal de não enquadrar na relação técnica jurídica de empregado doméstico, o eventual doméstico, conhecido como diarista. Contudo, trata-se do real diarista, trabalhador descontinuo, que comparece um ou dois dias por semana ou quinzenalmente à residência.	
	A jurisprudência� se manifesta da seguinte forma:
 “RELAÇÃO DE EMPREGO DOMÉSTICO. DIARISTA. A doméstica que trabalha como faxineira em dias alternados, por sua própria conveniência, com autonomia e sem horário determinado, não é empregada nos termos da Lei n. 5859/72, que exige dentre outros requisitos, prestação de natureza contínua”.TRT/SP - 2ª Reg. - 8ªTurma – RO-10177-2002-902-02-00-0/2002 – Ac. 20020743224 – Relª: Juíza Maria Luíza Freitas – DJSP 3.12.2002.
		
	A CLT no art. 3 ª expõe os elementos relevantes retirados das realidades jurídicas, para configurar o vinculo empregatício ao asseverar que considera-se empregado toda a pessoa física que prestar serviço de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
	Para não caracterizar o vínculo empregatício de uma diarista é necessário, além do requisito de continuidade a ausência de pessoalidade, onerosidade e subordinação jurídica, uma vez que não há duvida que a diarista contempla todos esses elementos.
	Segundo Mauricio Godinho Delgado�, para se caracterizar relação empregatícia é necessário que o trabalho prestado tenha caráter de permanência, ainda que por um curto período determinado, não caracterizando dessa forma trabalho esporádico, uma vez que a noção de permanência também é relevante à formação sócio jurídica da relação empregatícia.
	Observa-se a orientação da seguinte jurisprudência:
		 
		“A continuidade do trabalho não se descaracteriza pela intermitência e pela periodicidade, ainda que semanal ou a intervalos maiores. Trabalho contínuo é aqueleque não é prestado de forma esporádica, fortuita e casual. A reclamante comparecia semanalmente à residência do reclamado. Ora, este tipo de trabalho não pode ser tido como esporádico ou casual. Ainda que haja intermitência no trabalho, pelo fato de não ser diário, a sua periodicidade, por sua repetição em intervalos regulares, é indicativa da continuidade”. TRT-RS 2.140/93 – Ac. 2ª T. – Rel.: Juiz Mário Chaves. Revista Synthesis 19/94, p. 283.� 
	Cita-se abaixo, ementa que se coloca favoravelmente ao vinculo empregatício da diarista:
		“O fato de ser diarista não significa por si que inexiste vínculo, pois o empregado não é apenas o que trabalho por mês. Pode ser ele mensalista, quinzenalista, semanalista ou diarista, pois que não é a forma de pagamento que caracteriza a relação de emprego e sim a presença dos requisitos do artigo 3ª, da CLT. E, por ser serviço doméstico, a r. decisão analisou-o com muita precisão e acuidade. O vínculo empregatício evidencia-se dos autos com clareza. Ainda mais que o trabalho não era eventual era necessário”. TRT – MS 3.741/93 – Ac.311/94 – Rel.Juiz Idelmar da Mota Lima. Revista Synthesis 19/94, p. 282 �
	As situações acima citadas não constituem regras definitivas para caracterizar a diarista como empregada doméstica, pelo fato de estar condicionada a força interpretativa do julgador.	
	A questão é que, atualmente, há julgadores que não admitem o vinculo empregatício da diarista que trabalha alguns dias por semana pela ausência do requisito continuidade, conforme pode-se verificar através das decisões elencadas�.
	Em decorrência do que foi exposto, é possível concluir que, apesar do legislador não ter identificado este tipo de trabalho, o diarista é aquele que presta serviço de natureza não contínua, por conta própria, a pessoa ou família no âmbito residencial desta sem fins lucrativos, enquadrando-o, perante a previdência social como trabalhador autônomo. Nota-se que, enquanto o trabalhador doméstico desenvolve um trabalho contínuo subordinado a um empregador, o diarista presta serviço de natureza não contínua e por conta própria o que denota a independência e eventualidade de sua atividade. 
	Porém, apesar das controvérsias, observa-se a realidade fática que há sim a presença dos elementos caracterizadores da relação de emprego, segundo o art. 3º da CLT, uma vez que a pessoa, comumente designada diarista, faxineira, copeira, arrumadeira, presta serviços mais de uma vez por semana a mesma pessoa física, recebendo ordens, cumprindo uma jornada regular, habitualmente nos mesmos dias da semana continuamente. Assim, inegavelmente contraria a concepção de liberdade de escolha na fixação de horário e dia de atendimento, bem como da prestação de serviço de forma esporádica, fortuita ou casual.
Em virtude destes e de outros dados mencionados acima, ao meu entender, justifica-se plenamente o vinculo empregatício da diarista, a qual apresenta com nitidez o perfil de um grupo vulnerável na sociedade, uma vez que há entendimentos variados sobre a possibilidade de reconhecimento do vinculo empregatício. 
	
�
3 ASSÉDIO SEXUAL
A liberdade sexual é um dos bens jurídicos tutelados pela norma, que consiste na possibilidade do individuo dispor do próprio corpo. A honra e a dignidade da pessoa também se encontram tutelados, uma vez que a conduta do assédio sexual, ofende os atributos morais e intelectuais da vitima.
Como, assinala Damásio de Jesus�, existe do mesmo modo a proteção penal do direito à não discriminação no trabalho e da liberdade do exercício de atividade laboral e, como ocorre afetação a diversos bens jurídicos, caracteriza-se o delito de assédio sexual como pluriofensivo. 
	Para o autor, apesar de o legislador brasileiro regulamentar a conduta de assédio sexual posteriormente a muitos outros países como os Estados Unidos que foi o primeiro a criminalizar tal figura a partir da segunda metade dos anos 70, e ainda, Espanha (art.184) �, Portugal (164.2)�, França (art. 222-33)� e Itália, todos esses na década de 90, a inclusão do novo tipo penal demonstra amadurecimento, uma vez que o assédio sexual, não vinha sendo tratado com a necessária atenção, principalmente quando a conduta realizava-se em face das mulheres trabalhadoras.
O citado autor afirma ainda que o art. 216-A, do Código Penal é extremamente confuso e impreciso, pois o legislador optou, na construção da figura típica, utilizar o verbo constranger, sem mencionar os meios executórios, dando margem a dificuldades em distinguir, o assédio sexual de outras figuras penais e adequar o fato concreto ao modelo legal.
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função."
Além disso, o legislador não precisou a conduta da vitima para a consumação do tipo, permitindo interpretação no sentido de que o favor sexual pode ser prestado por outra pessoa e não pela vitima que exerce a atividade laboral. Como o Direito Penal se manifesta por intermédio de tipos, é necessário que estes sejam claros e precisos.
EMENTA: DANO MORAL. FATO CARACTERIZADOR. As circunstâncias capazes de atingir a honra, a boa fama e dignidade do empregado devem ser descritas minuciosamente na inicial, sob pena de ser violado o princípio da ampla defesa da parte contrária. (...) – 4ª Turma (processo 01355.023/00-9 RO), Relatora a Exma. Beatriz Renck – Convocada. Publicação em 16.09.2003.
A falta de clareza na descrição das circunstâncias pode caracterizar violação aos princípios da ampla defesa e do contraditório.
3.1 Conceito 
Luiz Regis Prado� observa que a inclusão do assédio sexual pela lei penal é fruto de um avanço no reconhecimento dos direitos da mulher, a qual sofre com maior intensidade tal constrangimento. Afirma, entretanto, que o legislador brasileiro não deveria ter utilizado o verbo constranger, pois este, na tradição jurídico-penal brasileira, sempre foi empregado para a configuração de delitos em que se verifica o emprego de violência ou grave ameaça, segundo art. 146�, 213�, e 214� do Código Penal. Diferentemente da legislação estrangeira, França, Espanha, Portugal e Paraguai, que redigiram os textos explícitos, numa clara reverência ao principio da legalidade dos delitos e das penas. 
Com destaque ao Código Penal Português, que mesmo utilizando o verbo constranger, complementou pela expressão por meio de ordem ou ameaça, primando um rigor técnico que deve revestir as normas de natureza penal. 	
	Aliás, para o pré-citado autor, em muitos casos, no Brasil, a jurisprudência e a doutrina identificavam nesta conduta a figura do constrangimento ilegal previsto no art. 146 do Código Penal, sob o argumento de que esse tipo já servia para a obtenção de favores sexuais ou para qualquer outra espécie de pressão.
O assédio sexual pressupõe que haja violência, grave ameaça ou redução, por qualquer outro meio, da capacidade de resistência da vitima, inexistente no tipo penal do art. 216-A, não caracteriza o assédio sexual, por obter os elementos normativos do tipo diferentes, prescindindo-se, portanto, de especifica incriminação em nosso ordenamento jurídico penal.
Tendo em vista o principio da reserva legal, "nullum crimen, nulla poena sine praevia lege”, que garante que ninguém seja punido sem lei anterior que defina o fato como uma infração penal e a necessidade da perfeita adequação entre a conduta humana e o tipo penal, surge a necessidade de inserir o tipo penal de assédio sexual no Código Penal brasileiro, sob pena de resultar lesado o principio da legalidade. O principio da reserva legal será aplicado na medida em que somente será punido o indivíduo cuja conduta amoldar-se perfeitamente ao texto incriminador. 
Para Cezar Bitencourt�, o verbo constranger é um verbo transitivo, direto e indireto, que exige complemento, o qual a redação do artigo não apresenta, impondo interpretaro verbo constranger no sentido “embaraçar, acanhar, criar uma situação ou oposição constrangedora a vitima”.
	Ainda exprime que essa condição de constrangimento deve ser convincente, diferenciando o ato criminoso do simples flerte, tendo em vista que nem toda abordagem constitui assédio sexual.
	Yussef Said Cahali�, esclarece que a doutrina recomenda cautela contra abusos manipulados, buscando a falsa vitima um enriquecimento indevido.	
Ora, o verbo “constranger” traz dificuldade na compreensão jurídica do tipo. Para Tadeu Antônio Dix Silva�, o legislador omitiu o meio de execução, trazendo como conseqüência à interpretação que, qualquer meio é hábil para o constrangimento, sejam palavras, gestos, escritos, ou outro meio de comunicação, como também a ausência do significado das expressões vantagem ou favorecimento sexual, deixando a conceituação de elementos normativos tipológicos a cargo do interprete e da doutrina, acarretando insegurança acerca da real abrangência do conteúdo conceitual.
Apesar dos autores citados insistirem que falta clareza na tipificação penal do assédio sexual, o delito é uma realidade no contexto brasileiro, exigindo ao aplicador da norma ao caso concreto, conduzir-se de modo a alcançar a exata previsão do crime ora tratado.
EMENTA: DANO MORAL. Hipótese em que a reclamante, na função de auxiliar de cozinha, sofria ofensa à sua honra, pela prática de insinuações e atos de cunho sexual por parte do cozinheiro da reclamada. Resta clara a existência de ato ilegal ou abusivo do empregador, a ensejar reparação, porquanto o referido cozinheiro era chefe imediato da obreira, não tendo sido tomadas medidas efetivas pela reclamada para coibir a referida conduta. Recurso desprovido. – 1ª Turma (processo 00334-2003-203-04-00-8 RO), Relator o Exmo. Juiz Ricardo Hofmeister de Almeida Martins Costa – Convocado. Publicação em 04.08.2005.
 Essa realidade no contexto brasileiro observa-se pela caracterização do assédio sexual no âmbito das relações de trabalho, através do comportamento indesejável do empregador ou de prepostos em face do empregado, bem como através dos fatos sociais.
Nas relações de trabalho, segundo Valdir Florindo�, o assédio sexual sempre foi considerado como uma atitude capaz de degradar o ambiente de trabalho e causar constrangimento ao assediado por magoando-o em sua dignidade pessoal, o que é considerado ato lesivo à sua honra, podendo ser causa de rescisão indireta do contrato de trabalho, de acordo com o art. 483 da CLT, alínea “e”�.
Quanto aos fatos sociais, o contexto da violência contra mulher que abrange as violências físicas, sexuais e psicológicas, falam por si só, mediante as duras realidades das vitimas expostas a avanços sexuais importunos.
Para Luiza Nagib Eluf� faz-se importante a criminalização do assédio sexual, objetivando evitar um mal maior, uma vez que, inúmeros dos crimes de caráter sexual iniciam-se com o assédio e terminam no estupro.
	Para ilustrar o tema, é apresentada a projeção da taxa de espancamento apresentada pela Fundação Perseu Abramo�, em pesquisa realizada em 2001, que chegou à seguinte conclusão:
Cerca de uma em cada cinco brasileiras (19%) declara espontaneamente ter sofrido algum tipo de violência por parte de algum homem: 16% relatam casos de violência física, 2% citam alguma violência psíquica e 1% lembra do assédio sexual. Porém, quando estimuladas pela citação de diferentes formas de agressão, o índice de violência existente ultrapassa o dobro, alcançando alarmantes 43%. Um terço das mulheres admite já ter sido vítima, em algum momento de sua vida, de alguma forma de violência física (24% desde ameaças com armas, ao cerceamento do direito de ir e vir; 22% de agressões propriamente ditas e 13% de estupro conjugal ou abuso); 27% sofreram violências psíquicas e 11% afirmam já ter sofrido assédio sexual, 10% dos quais envolvendo abuso de poder, recentemente tipificado em lei (Lei 10.224, de 15 de maio de 2001 .
A projeção da taxa de espancamento (11%) para o universo investigado (61,5 milhões) indica que pelo menos 6,8 milhões, dentre as brasileiras vivas, já foram espancadas ao menos uma vez. Considerando-se que entre as que admitiram ter sido espancadas, 31% declararam que a última vez em que isso ocorreu foi no período dos 12 meses anteriores, projeta-se cerca de, no mínimo, 2,1 milhões de mulheres espancadas por ano no país (ou em 2001, pois não se sabe se estariam aumentando ou diminuindo), 175 mil/mês, 5,8 mil/dia, 243/hora ou 4/minuto – uma a cada 15 segundos. 
Observa-se que a questão é muito séria, uma vez que no decurso de ampla incidência de casos, o conhecimento do fato pelo atendimento policial e a assistência do Ministério Público nas ações judiciais, iniciaram o reconhecimento público desses crimes configurando o clamor social.
Assim, buscou-se através da manifestação dos anseios da sociedade transformar o clamor social em norma jurídica, em um processo legislativo que se originou do Projeto de lei nº 61 de iniciativa da deputada Iara Bernardi em 1999, que criou a figura do assédio sexual, buscando a prevenção, punição e erradicação no Brasil desse delito. 
Mas a falta de valorização do assunto na esfera jurídica compromete o reconhecimento do assédio sexual, que chega a ser menosprezado, conforme observa-se o parecer do Deputado Marcos Rolim, informando que para ele a aprovação deste crime haverá de produzir uma injustiça gritante, frente à realidade carcerária e que esta iniciativa é reacionária e travestida de feminismo �.
Todavia, em que pese à compostura pessoal e profissional, esse posicionamento, não representa o pensamento da sociedade a respeito da questão, uma vez que a lei que institui a tipificação do delito, assinalou-se pela construção de consensos sobre os direitos inerentes à dignidade da pessoa humana, igualdade entre os sexos, mudanças culturais, tendo em vista que não existe mais a subordinação das negras escravas pelos senhores de engenho, das domésticas pelos filhos e chefes de família.
A situação atual é resultado de pequenas, mas sistemáticas transformações, demonstrando que o Direito busca muito mais do de aquilo que está expresso em Códigos e leis, garantindo e respeitando os direitos fundamentais, evitando conseqüências danosas às futuras gerações.
O tipo penal encontra-se descrito no rol dos crimes contra os costumes, no capítulo que trata dos delitos contra a liberdade sexual e sua redação foi dada pela Lei nº 10224, de 15 de maio de 2001 conforme artigo 216-A, do Código Penal e tem como objetivo proteger a liberdade sexual da pessoa.
	A lei procura coibir este tipo de abuso, aplicando ao assediador uma punição de detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.
	Segundo Luiz Regis Prado�, assédio sexual pode ser conceituado como toda a conduta que o agente, prevalecendo-se de sua superioridade hierárquica ou de sua ascendência sobre alguém, em razão de emprego, cargo ou função, passa a importunar essa pessoa, solicitando a prática de qualquer ato libidinoso, o qual não é correspondido pelo assediado.
	Para o autor, não basta a condição do agente de superior hierárquico ou ascendente inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função, sendo necessário sua conduta causar a vitima um mal relacionado às suas expectativas no âmbito da relação laboral.
	O entendimento de Julio Fabbrini Mirabete� direciona-se no sentido de que o dispositivo penal protege a liberdade sexual da pessoa, a honra, a liberdade do exercício do trabalho e a não discriminação, quando o titular está submetido a outrem numa relação de poder, em decorrência de superioridade administrativa ou trabalhista.
	O supra-mencionado autor expõe que além do dispositivo penal proteger a liberdade sexual, que é a livre disposição do próprio corpo, inclui a honra que protege o sentimento próprio em relação aos atributos morais da vitima, como também a liberdade do exercício do trabalho, realizando a prevalência dos valores sociais do trabalho consubstanciados na Carta Constitucionalde 1988, no art. 1º, Inciso IV�.
	Acrescenta a Organização Internacional do Trabalho que o assédio sexual é toda a conduta que apresenta insinuações, contatos físicos forçados, convites ou pedidos impertinentes. Deve apresentar propostas claras de dar ou manter o emprego ou influenciar nas promoções ou carreira do assediado e prejudicar o rendimento profissional, humilhar, insultar ou intimidar a vítima. 
	Segundo Irany Ferrari�, é necessário fazer uma distinção entre assédio sexual que pode motivar a reparação por dano moral - caso em que haja promessa de vantagens profissionais ou de benefícios materiais, e, ao mesmo tempo, a ameaça de que havendo recusa haverá a perda do emprego, com a conduta inconveniente no trabalho, proveniente de um comportamento ousado e irregular do empregado em relação ao outro, incompatível com a moral sexual, caracterizadora de incontinência de conduta, que dará ensejo à despedida por justa causa.
Acontece que, sob o prisma do Direito do Trabalho, se o assédio é de iniciativa de um empregado em relação a outro colega de trabalho, poderá o assediador ser dispensado por justa causa, segundo o art. 482, alínea b, da CLT�.
Conforme visto anteriormente, quando o autor do assédio é o empregador, o empregado também pode postular a rescisão do contrato de trabalho pelo descumprimento das relações contratuais, entre as quais se insere o dever de um tratamento respeitoso ao empregado.
	
3.2 O dano moral como conseqüência do assédio sexual
O dano moral como conseqüência do assédio sexual, reflete o caráter punitivo para o causador do dano e caráter compensatório para vitima como contrapartida do mal sofrido, conforme apresenta-se as decisões abaixo citadas:
Assédio sexual – Ato do preposta da ré - Superior hierárquico – Vantagem sexual – Dano moral configurado. 
Ementa: ASSÉDIO SEXUAL. DANO MORAL. Comprovado nos autos o ato do preposto da ré, que atenta contra a dignidade, a moral, a honra e a imagem da empregada, tentando obter, em face de sua condição de superior hierárquico, vantagem sexual, configurado está o assédio sexual, que autoriza o deferimento de indenização por dano moral, nos moldes dos arts. 5º, X, da CRFB, 186 e 927 do CC.
TR 12ª Reg. RO-VA 02429-2002-005-12-00-8 – (Ac. 1ª T. 10510/ 03,30.09.03). Rel. Juiz Garibaldi T. P. Ferreira DJSC 5.11.03, p.236.� 
	Assédio sexual – Ausência de pressuposto fático
	Ementa: DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. Ausência de pressuposto fático. Indenização indevida. Não é possível imputar ao empregador a responsabilidade civil por ato seu em que haja prova insofismável da ação ou omissão do agente, do dano, do nexo de causalidade e da presença de dolo ou culpa. In casu, a ausência de prova da ocorrência do assédio sexual, com promessa de vantagem ou represália por resistência ao envolvimento pessoal com o superior hierárquico, torna indevida a indenização por danos morais, por inexistente pressuposto fático da responsabilidade civil subjetiva, ou seja, a ação ou omissão do agente.
TRT12ª Reg. RO-V 06404-1999-001-12-00-1 – (Ac.3ª T. 5.257/03, 23.04.03) – Relª Juíza Lília Leonor Abreu. DJSC 4.6.03, p. 156.
	Como se verifica, o conjunto probatório não vem amparando as alegações da reclamante, hipótese em que não restou demonstrada a prática dos atos e fatos atribuídos ao empregador.
Segundo Valdir Florindo�, não é qualquer comportamento que configura o assédio sexual. A diferença fundamental entre o assédio e a mera sedução é a utilização do poder sobre alguém para extorquir favores sexuais. Para o autor, havendo o mero “jogo de sedução” entre os sexos não pode ser configurado como assédio sexual, uma vez que o ambiente de trabalho favorece a sociabilidade e a comunicação, podendo gerar relações afetivas de toda a natureza. 
Sendo assim, a mera tentativa de sedução no trabalho, como a paquera, elogios, gracejos, não pode ser confundida com a perseguição sexual, que envolve utilização do poder derivado do contrato de trabalho, para chantagear, insistir ou importunar alguém para fins sexuais, sob pena de represália no âmbito laboral.
	O sujeito deve prevalecer-se de sua condição de superior hierárquico e é necessário que a superioridade seja própria ao exercício de emprego, cargo ou função. O constrangimento deve estar relacionado diretamente com o predominância da posição superior ou ascendente. 
Nesse sentido afirma-se que o assédio sexual pode ser conceituado como uma conduta inoportuna, insistente, que visa buscar interesses sexuais mediante prática de abuso de poder, manifestando-se através de palavras, gestos ou escritos, prevalecendo-se o agente de sua superioridade hierárquica ou de sua ascendência em razão de emprego cargo ou função, sobre a vitima que não o corresponde. 
Neste sentido:
DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL. Inviável se exigir da trabalhadora a prova substancial dos fatos ante a impossibilidade probatória direta do assédio sexual. A prova da perseguição à empregada se faz à luz da verossimilhança das alegações, por meio de fatos pontuais que, ligados, demonstram uma teia de perseguição. Cabe ao empregador, por conta das obrigações acessórias do contrato de trabalho como a urbanidade, o respeito e a custódia, zelar pela segurança e pelo saudável ambiente de trabalho, coibindo a prática de constrangimentos de seus prepostos contra os demais empregados. – 1ª Turma (processo 00178-2004-017-04-00-2 RO), Relator o Exmo. Juiz José Felipe Ledur. Publicação em 25.10.2005.
	Como se percebe, o assédio não é um flerte ou uma simples “cantada” e sim um comportamento desrespeitoso e inconveniente.
	
3.3 Elementos caracterizadores
Os elementos caracterizadores do assédio sexual orientam os juristas para que possam valer-se adequadamente dos processos de interpretação que lhes são postos, objetivando a identificação e aplicação eficaz da norma jurídica.
          
3.3.1 Sujeitos do assédio sexual
 	
O sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, independente do sexo, homossexual ou não. A lei, entretanto, exige uma condição de superioridade hierárquica ou ascendência, no emprego cargo ou função e, por ser um crime próprio, exige-se essa qualidade especial do sujeito.
	O sujeito passivo também pode ser qualquer pessoa, vitima do constrangimento ilegal, homem ou mulher inferior hierarquicamente ou sujeito a uma ascendência. Assim posto, se inexistir subordinação, inexiste o delito.
	Na grande maioria dos casos noticiados, o sujeito ativo do comportamento configurador do assédio sexual é o homem, e são afetadas, predominantemente, as mulheres, embora possa ser o contrário, mas em proporção muito menor.
Poderá ocorrer entre colegas de serviço, entre empregado e cliente da empresa e até mesmo entre empregador e empregado, figurando este último como vítima. É necessário, contudo, saber efetivamente de quem é a autoria do assédio, para efeito de delimitação de responsabilidades.		
3.3.2 Conduta de natureza sexual
De acordo com Art. 216-A, do Código Penal, o assédio sexual tem como elemento típico o constrangimento ilegal, exercido por alguém em busca de satisfação sexual. 	
O legislador não estabeleceu o meio de execução do crime. Qualquer meio poderá ser utilizado para o constrangimento ilegal, seja ele verbal, escrito ou por gestos, não admitindo o delito ser praticado por meio de violência, sob pena de descaracterizar o assédio sexual.
	Para que o crime venha a se realizar, o constrangimento ilegal, deverá importunar de maneira que a vítima sofra grave dano ou prejuízo de natureza funcional ou trabalhista.
	No dizer de Rodolfo Pamplona Filho:
Pode-se considerar como comportamento sexual desviado os atos de conduta do homem ou da mulher que, para obter a satisfação do seu desejo carnal, utiliza-se de ameaça, seja ela direta ou velada, ilude a outra pessoa, objeto do seu desejo, com promessa que sabe de antemão que não será cumprida, porque não pretende mesmo fazê-lo ou porque é impossível realizá-la; ou, ainda, agede modo astucioso, destruindo a possibilidade de resistência da vítima.�
3.3.3 Intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual
	O sujeito ativo oferece a vitima vantagens em troca de favor sexual, uma vez que a conduta do agente deve ser considerada como uma violação à liberdade sexual, ou seja, deve ser de natureza sexual, diferentemente do assédio moral, que é qualquer conduta abusiva, gesto, palavra, que veremos a seguir. 
Oferece vantagens ou faz ameaças à vítima� com o propósito de satisfazer a libido, e se torna uma violência física, porque fere, magoa e, ao mesmo tempo é uma violência moral pois cria medos e gera angústia, causando, portanto, uma série de danos à vítima dessa agressão.
3.3.4 Prevalência do agente de sua condição de superior hierárquico ou de ascendência em relação à vitima
Como se pode observar, a única forma de criminalizar o assédio sexual no Brasil é a conduta realizada nas relações de trabalho subordinado, pois estabelece o tipo penal que o agente deve prevalecer-se de sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função.
Trata-se de uma condição especial do sujeito ativo, em decorrência de superioridade administrativa ou trabalhista, estando, portanto, em posição de poder com relação ao sujeito passivo, dependente do superior hierárquico.
A subordinação hierárquica justifica o temor da vítima pela eventual retaliação, no caso de recusar a proposta de prática de conduta com natureza sexual.
 	Na prática, se caracteriza por insinuações sexuais inoportunas, solicitações sexuais ou outras manifestações da mesma natureza, verbais ou físicas, com o efeito de prejudicar a atuação de uma pessoa ou de criar uma situação ofensiva, hostil, de intimidação ou abuso no ambiente em que é intentado.�
          Na verdade é uma forma de intimidação, muitas vezes difusa, que viola o direito a um meio ambiente de trabalho sadio.
          Assim, o elemento "poder" é relevante, sendo o caso típico de assédio sexual praticado por chefe ou superior de trabalho da vítima.
          O aspecto fundamental, portanto, não é somente a existência de ameaças, mas também a violação ao seu direito de dizer não, através da submissão – principalmente de mulheres - a avanços repetidos, múltiplas brincadeiras de mau-gosto ou gestos sexistas, mesmo que sua recusa não seja seguida de represálias.
          A modalidade apresentada é a mais comum e ampla nos ambientes de trabalho. Apontam-se como caracterizadores os seguintes atos: abuso verbal ou comentários pornográficos sobre a aparência física do empregado; frases ofensivas ou de duplo sentido e alusões grosseiras�, humilhantes ou embaraçosas; perguntas indiscretas sobre a vida privada do trabalhador ou trabalhadora; a tentativa de separar dos âmbitos próprios de trabalho para maior intimidade das conversas; condutas e comentários sexuais generalizados, destacando persistentemente a sexualidade em todos os contextos; insinuações sexuais inconvenientes e ofensivas; solicitação de opiniões íntimas ou outro tipo de conduta de natureza sexual, mediante promessas de benefícios ou recompensas; exibição de material pornográfico, como revistas, fotografias ou outros objetos, assim como colocar nas paredes do local de trabalho imagens de tal natureza; apalpadelas, fricções ou beliscões deliberados e ofensivos, além de todo e qualquer exercício de violência física ou verbal.
3.3.5 Rejeição à conduta do agente
 Pode-se vislumbrar ainda como elemento caracterizador do assédio sexual, a rejeição à conduta do agente, pois o que caracteriza o assédio sexual é a importunação constrangedora do assediador. 
Segundo o autor Tadeu Antônio Dix Silva�, o consentimento da vítima enseja elemento hábil para excluir o crime, se esta vem a aceitar as insinuações sedutoras do suposto assediador. 
O assédio supõe sempre uma conduta sexual não desejada, não se considerando como tal o simples flerte ou paquera. Por isso, muitas vezes só é possível considerar indesejada a conduta de conotação sexual quando a pessoa que é assediada e, de maneira clara, manifesta oposição às propostas e insinuações de quem assedia.
Importante que a pessoa que esteja sendo vítima de assédio sexual cientifique a quem importuna que seu comportamento não é desejado
Se a partir da recusa surgirem pressões ou ameaças, sejam elas declaradas ou veladas, e que tenham, o objetivo evidente de obter os favores sexuais do assediado, mais concretamente estará caracterizado o assédio sexual.
3.4 Consumação e tentativa
Consuma-se o crime no momento em que o agente efetua a importunação, pois não há necessidade que o agente obtenha o que pretendia, mas, caso ocorra conjunção carnal com o emprego de violência ou grave ameaça, constituirá outros delitos como estupro, atentando violento ao pudor, etc. 
Se observado o conceito extraído do artigo 14, inciso II, Código Penal, a tentativa é a realização incompleta do tipo penal, ou seja, do modelo descrito na lei, em que há o início da execução de um crime, mas não ocorre a sua consumação por circunstâncias alheias à vontade do criminoso. 
Entretanto, no caso do assédio sexual tem-se, do ponto de vista doutrinário, como elemento caracterizador, a ocorrência de uma conduta de natureza sexual, rejeitada pelo destinatário, mas reiterada, em regra, pelo agente, não há como se imaginar uma prática parcial desta conduta.
O autor expõe que a tentativa é admissível, como exemplo, no caso em que o assédio tenha sido tentado por meio escrito� e a correspondência tenha extraviado, chegando nas mãos de terceiro.
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4 A LEI Nº. 10.224/01 E O VETO PRESIDENCIAL 
	A Lei nº. 10.224/01 originou-se do Projeto de Lei que trazia um parágrafo único� ao art. 216-A, do Código Penal, que foi vetado. Através dele, também cometeria o crime aquele que assediasse sexualmente prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, não somente laborais, como também com o abuso ou violação de dever inerentes a oficio ou ministério.
	A justificativa acolhida pelo Presidente da República foi de que o parágrafo único descrevia situações que já estavam previstas como causas especiais de aumento de pena no art. 226 do Código Penal, o que não permitiria sua incidência nos casos de assédio sexual, pois seriam aplicáveis genericamente a todos os crimes contra os costumes, dentre as quais constam as situações descritas nos incisos do parágrafo único projetado para o art. 216-A, com isso, iria implicar “inegável quebra do sistema punitivo adotado pelo Código Penal e indevido beneficio que se institui em favor do agente ativo daquele delito�”. 
	Para Damásio de Jesus�, se o parágrafo único integrasse o ordenamento jurídico, beneficiaria o agente, pois nesse caso não poderia sofrer a agravação cominada no artigo 226, inciso II, do Código Penal, pois restaria caracterizado a violação do princípio do No Bis In Idem, o qual proíbe a aplicação de dois ou mais procedimentos, nos quais se dê um identidade de sujeitos, fatos e fundamentos.
	Caso não fosse vetado o parágrafo único citado, haveria previsão punitiva para as várias espécies de assédio sexual, além do assédio laboral, o proveniente das relações domésticas, de coabitação e de hospitalidade, como também o assédio proveniente do abuso de dever inerente a ministério (religioso). Com o veto, subsistiu somente o assédio laboral.
	Para o autor�, se o parágrafo único integrasse o ordenamento jurídico, beneficiaria o agente, pois nesse caso não poderia sofrer a agravação cominada no artigo 226, inciso II, do Código Penal, pois restaria caracterizado a violação do princípio do No Bis In Idem, o qual proíbe a aplicação de dois ou mais procedimentos, nos quais se dê um identidade de sujeitos, fatos e fundamentos.
	Cezar Roberto Bitencourt� observa que são causas de aumento de pena perfeitamente aplicáveis ao crime de assédio sexual, as hipóteses em que o agente é: ascendente, pai adotivo,padrasto, irmão, tutor, ou curador da vítima, uma vez que não se faz presente o vinculo empregatício que só pode decorrer do exercício de emprego, cargo ou função. Haja vista que, nas demais hipóteses elencadas no mesmo dispositivo em exame, quais sejam, se o agente é preceptor ou empregador da vítima, não podem ser aplicadas a majoração, pois nessas hipóteses existe, relação de hierarquia ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função, ante a proibição do bis in idem. 
	Dessa forma, observa-se que não encontram enquadramento típico do delito de assédio sexual, as relações que se caracterizam entre pessoas que vivem no mesmo teto, coabitação, como enteada e padrasto, nas situações em que o agente está recebendo uma sobrinha, para ficar uns dias em sua residência etc.
	Conforme visto, a relação doméstica se caracteriza de várias formas, porém para a regulamentação da prática do delito, não basta a relação doméstica. O determinante é a relação empregatícia que consta na atividade exercida pelo empregado doméstico, pois só existe o delito de assédio sexual nas relações laborais.
Importante é esclarecer que assim procedendo, eliminou o delito de assédio para várias hipóteses. O parágrafo trazia, além do assédio sexual laboral, o doméstico proveniente de coabitação ou o de hospitalidade, o de abuso inerente a ofício ou de ministério. Em suma: o texto anterior contemplava seis modalidades de assédio sexual. Com o veto do parágrafo único, tudo se reduziu a uma só, o assédio sexual laboral. 
Significa dizer que assédio sexual a uma enteada que vive no mesmo teto não é crime; assédio de uma sobrinha que vem passar uns dias na casa do agente também não; assédio cometido por quem exerce um ofício ou assédio praticado por padre ou pastor também não. Percebe-se que houve um certo benefício para aqueles que praticam o assédio, pois as condutas não encontram enquadramento típico no caput do artigo, logo, são condutas atípicas, considerando do ponto de vista do assédio sexual. Em outras palavras: nessas situações, não se aplica o art. 226 nem o art. 216-A. 
Resta a possibilidade de considerar e aplicar que a pena cominada deve ser aumentada, de acordo com o artigo 226, inciso II do Código Penal que determina que a pena é aumentada de quarta parte: (...) II – se o a gente é ascendente, pai adotivo, padrasto, irmão, tutor ou curador da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela”, uma vez que os mesmos poderão constituir outros crimes contra os costumes. 
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5 ASSÉDIO SEXUAL E ASSÉDIO MORAL 
Hádassa Dolores Bonilha Ferreira�, afirma que o assédio moral nas relações de trabalho é um dos problemas mais sérios enfrentados pela sociedade atual. Para a autora, o assédio moral não se restringe ao ambiente físico de trabalho, mas envolve todo o clima psicológico que possa surgir em razão dessa atividade de empregado assediado. 
Para Valdir Florindo� o assédio moral é a conduta abusiva, gesto, palavra, comportamento, atitude que atente contra a dignidade e integridade física e psíquica de uma pessoa, como exemplo a recusa de comunicação direta, o descrédito, o isolamento, a exposição da vítima a situações vexatórias, dentre outras, ameaçando seu emprego ou degradando o ambiente de trabalho. Esses atos se dão por repetição, por um lapso de tempo, podendo ser praticados entre pessoas de uma mesma hierarquia, entre um subordinado e um superior hierárquico ou até mesmo entre um grupo e um individuo.
Apesar de o assédio sexual ocorrer também no âmbito laboral, difere-se do assédio moral, uma vez que é uma conduta que busca satisfação sexual, violando a liberdade sexual. 
Outro elemento que difere do assedio moral é que o delito de assédio sexual somente ocorrerá entre um subordinado e um superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
O assédio moral não se encontra previsto na esfera penal, mas no âmbito trabalhista, apesar de não estar tipificado no ordenamento jurídico brasileiro, enquanto o assédio sexual é uma ilicitude penal.
Ernesto Lippman� afirma que o assédio moral geralmente é praticado contra os que tem estabilidade sindical ou legal, como os doentes e acidentados, sendo comum os que sofram de LER (Lesão de Esforço Repetitivo) que se tornaram desnecessários ou incômodos para a organização. Ao contrário do assédio sexual, no qual as vítimas mais freqüentes são as mulheres que exercem trabalhos não especializados.
A diferença fundamental entre os dois delitos não está tanto no meio de execução (mediante constrangimento), senão sobretudo na finalidade especial do agente: no assédio sexual, como se vê, a finalidade do agente é a obtenção de um favor de natureza libidinosa (sexual); no assédio moral, por sua vez, o que se pretende é o "enquadramento" do empregado, a eliminação da sua autodeterminação no trabalho ou a degradação das suas condições pessoais no trabalho, que traz conseqüências drásticas para a integridade física e psíquica do trabalhador.�
Segundo Marie-France Hirigoyen�, o que se pode observar é que algumas conseqüências sofridas pelas vitimas do assédio moral são as mesmas ocorridas com outras formas de sofrimento no trabalho: sentimento de impotência e humilhação, estresse, nervosismo, tristeza, fobia, tendo em vista que se estender por longo prazo podem causar depressão e até mesmo tentativa de suicídio
	Os assediadores submetem-se às conseqüências da conduta que pode causar efeitos graves à saúde física e /ou mental do assediado.
	
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6 EMPREGADO DOMÉSTICO COMO SUJEITO PASSIVO DO DELITO DE ASSÉDIO SEXUAL
	
	 Nesta contextualização, evidenciou-se a relação de emprego doméstico, ressaltando, quatro condicionantes que tanto o doméstico quanto o trabalhador comum são pessoas físicas que prestam serviços não eventuais, de forma subordinada e mediante salário, além dos condicionantes que lhe são peculiares segundo legislação especial.
	O assédio sexual, caracterizado como crime, envolve necessariamente relações de trabalho, praticado por uma pessoa com um nível superior hierárquico, inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função, segundo artigo 216-A, do Código Penal.
	Conforme ensinamentos de Tadeu Antônio Dix Silva�, cargo e função são conceitos que dizem respeito ao serviço público, enquanto que emprego faz referência às relações trabalhistas inerentes ao setor privado, onde uma pessoa presta serviços ao empregador mediante salário no regime regido pela CLT. 
	Na verdade, segundo Francisco Meton Marques de Lima�, toda a relação de emprego tem como elemento determinante a vontade dos contratantes, manifestada expressa ou tacitamente, por escrito ou apenas verbalmente, ou seja, é pela análise da vontade manifestada por meio de atos objetivos que se identifica se a relação fática trabalhista existente e se constitui a relação de emprego.
	Para a correta determinação da relação de emprego é necessário contemplar nesses atos objetivos, acima mencionados, os elementos caracterizadores da relação empregatícia, segundo artigo 3º da CLT, os quais são: pessoalidade, não eventualidade, subordinação e remuneração.
	A pessoalidade significa que o empregado não se pode fazer substituir no trabalho, ele próprio tem de prestar o serviço; a não eventualidade consiste na prestação de serviço contínuo e não esporadicamente; a subordinação hierárquica refere se a sujeição do empregado ao comando do empregador, a que a jurisprudência e a doutrina dominante acrescentam ser a característica nuclear que distingue o empregado dos outros prestadores de serviços e finalmente a remuneração a qual o empregado visa uma contraprestação em relação às atividades executadas, ou seja, o seu salário, seja de que forma for: salário fixo, por comissão, em utilidades, por dia, hora semana ou mês.
	Por outro lado, sendo o empregado doméstico um tipo especial, a sua característica é acrescida de dois elementos: prestar serviços à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas.Segundo Luiz Regis Prado�, os empregados domésticos assediados sexualmente são merecedores da tutela penal, pois os mesmos exercem atividades de prestação de serviços de forma contínua ao empregador, sob a dependência deste e mediante salário. 
	No mesmo sentido, Cezar Roberto Bitencourt� expõe:
“a despeito do veto do parágrafo único, é possível que o patrão ou patroa assedie sexualmente seu empregado ou empregada doméstica, caracterizando o crime, ante a existência da condição especial representada pela relação empregatícia. Acreditamos, inclusive, que a própria diarista também pode ser vítima desse crime, uma vez que, ainda que passageiramente, encontra-se inferiorizada na relação laboral”. 
	Luiz Flávio Gomes� estabelece que a superioridade e ascendência devem ser inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. O patrão (empregador) que assedia empregada doméstica comete o crime, porque aí há uma relação empregatícia que difere-se da ascendência da relação pai e filha, ascendência religiosa, por exemplo, que estão fora da tipo penal. Ainda para o autor, assediar uma diarista, não há delito, tendo em vista que não é considerada empregada segundo o Direito do Trabalho.
	Enfim, para Damásio de Jesus�, na relação empregador e doméstica, há delito, uma vez que se encontra presente a relação laboral (emprego), já a diarista inexiste delito, uma vez ausente o relacionamento inerente a emprego, cargo ou função.
	Desse modo, entende-se, que empregado doméstico, pode ser sujeito passivo do delito de assédio sexual, uma vez que se encontra presente a relação empregatícia. Assim, o empregador que assedia o empregado doméstico comete o crime, porque aí há uma relação de emprego.
Afinal, interpretação diversa do caput do art. 216-A, viola o princípio da isonomia o qual preceitua que sejam tratadas igualmente as situações iguais e desigualmente as desiguais.
Ressalta-se a necessidade de cautela na interpretação das Leis em atenção à isonomia, uma vez que a presunção genérica e absoluta deve ser a da igualdade, porque o texto da constituição o impõe�. 
Esta idéia de igualdade consiste em princípio de ação, segundo o qual os seres de uma mesma categoria devem ser tratados da mesma forma. Em outras palavras, como expõe Carmem Lúcia Antunes Rocha:
“Igualdade constitucional é mais que uma expressão de Direito; é um modo justo de se viver em sociedade. Por isso é princípio posto como pilar de sustentação e estrela de direção interpretativa das normas jurídicas que compõem o sistema jurídico fundamental” �.
Observa-se que a igualdade perante a lei penal diz respeito que a mesma lei penal e seus sistemas de sanções hão de se aplicar a todos quantos pratiquem o fato típico nela definido como crime�.
Através de uma incriminação exata e não analógica, respeitando um dos corolários do princípio da reserva legal, proibição da analogia e da interpretação extensiva. 
Deste modo, cercados pelo espírito da igualdade nos dias de hoje, pode-se aplicar uma das principais formas que o Estado encontrou de declarar que todos são iguais, propiciando mecanismos eficazes para a consecução da igualdade de modo a dar efetividade ao princípio da isonomia e alcançar o objetivo maior da Constituição da República: a dignidade da pessoa humana.
Acontece que a maioria dos casos ficam entre quatro paredes e, dessa forma, não há como punir tal agressor. A razão disso é a falta de prova, pois, nesses casos, ela tem que ser testemunhal. É muito difícil conseguir outro tipo de prova convincente. O medo de ser ridicularizada diante de outras pessoas também dificulta a denúncia. As vítimas, pela esperteza de seus chefes ou patrões, acabam sendo consideradas culpadas.
Os casos de violência sexual apresentam algumas características comuns. O assediador utiliza-se do espaço de convivência, da confiança que se estabelece quer pelos laços de afinidade, quer a partir da relação de subordinação que ele mantém com a empregada. 
Nas relações domésticas, patrões exercitam essa prática, acobertados pelo imaginário das famílias sobre seus papéis e, muitas vezes, os parentes desconsideram os relatos de assédio da empregada, relevando a importância do fato.
Nessa relação de trabalho onde o agressor já “incorporou” a cultura machista e elitista da sociedade brasileira sobre as relações de trabalho no âmbito doméstico se sente protegido pela inviolabilidade do lar e se vê no direito de dispor dos corpos das trabalhadoras, principalmente se adolescente.
Em pesquisa feita pela UFBA- Universidade Federal da Bahia, através do projeto “Ampliando Direitos e Horizontes – Experiência com adolescentes trabalhadoras domésticas”, trouxe índices preocupantes, ao mesmo tempo que demonstrava a precariedade dos vínculos formais de trabalho.
É neste sentido a constatação do relatório apresentado ao final da pesquisa :
Não é, pois, por acaso, que quando se analisam os dados de tipo de violência ocorridas no Trabalho as maiores incidências são do tipo sexual. Ou seja, pode-se afirmar que o maior risco que as adolescentes correm no ambiente de trabalho é o de serem assediadas sexualmente. Temos que dos casos relatados de violência no trabalho doméstico, mais de 70% foi daquela natureza proveniente de empregadores e seus familiares, sempre aproveitando-se da situação de superioridade em que se colocam no domínio privado do domicílio e beneficiados pela inviolabilidade do mesmo. Tudo isso ampliado pela situação de precariedade dos vínculos formais de trabalho que fazem a cultura do emprego doméstico no Brasil.
Essas situações extremamente graves, algumas das vezes são naturalizadas pelas adolescentes. Entender esse processo de naturalização que se dá em relação ao assédio sexual significa, igualmente, entender o processo de naturalização que envolve a maioria das situações de violência em que essas adolescentes estão envolvidas.
Infelizmente os casos de assédio e práticas de violência sexual se dão e se protegem sob o véu da intimidade do privado, dificultando e até mesmo impedindo a atuação dos instrumentos informativos e coercitivos da violência.� 
Talvez a maior dificuldade que é enfrentada hoje para a detecção do assédio sexual entre as trabalhadoras domésticas seja a invisibilidade da violência. É o aspecto que chama mais a atenção é a invisibilidade do assédio sexual que se dá no ambiente doméstico nas estatísticas e na discussão sobre o tema.
Como se vê, é algo que se dá predominantemente no âmbito doméstico tendo, fundamentalmente, como protagonistas, membros da família com a maior participação dos patrões (pais e filhos) e empregadas.
O que isso significa? Pode estar significando muitas coisas. Uma delas é a sub-notificação. É a chamada “cifra negra” no dizer de Augusto Thompson�:
A partir de meados do nosso século, algumas pesquisas lograram evidenciar a existência de discrepância entre o número de crimes constantes nas estatísticas oficiais e a realidade escondida por trás dele. (...) Apenas uma reduzida minoria das violações à lei chega à luz do conhecimento público. À brecha constatada entre os crimes cometidos e os registrados denominou-se “cifra negra da criminalidade”, expressão que logo se firmou, enquanto representava fenômeno muito comum. 
	Significa que se não há registro, não há crime. Mas, como admitir que o problema é de subregistro? 
Como explicariam a ausência de registros que informem, analisem e vinculem os estudos sobre trabalho doméstico e assédio sexual. Em todas as fontes consultadas ao longo do projeto, não se encontra material que conjugasse as duas temáticas, apesar, de se ter como fonte instituições de assistência social e movimentos de direitos humanos que sempre trabalham para o reconhecimento dos abusos e sua conseqüente punição.
Sabe-se, apesar de não provar que a vítima, por medo ou por julgar uma perda de tempo, prefere não comunicar o fato à polícia e, pior, para não aumentar o constrangimento, prefere não contar nem à própria família. O agressoré protegido pela conforto da cifra negra.
Neste mesmo sentido Silva Neto, citado por Tadeu Dix, se manifesta ”que poucos serão os casos conduzidos à esfera penal, e ainda assim, menos ainda serão as hipótese de condenação”�.
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7 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A LEI 11.340/06.
Como já mostrado anteriormente, o veto ao parágrafo único do artigo 216- A do Código Penal trouxe diferentes interpretações sobre o assédio à empregada doméstica e diarista.
Triste é constatar as interpretações que não contempla o empregado doméstico quando trata da prevenção da violência de que ele pode ser vítima no ambiente doméstico, que é seu local de trabalho.
A Lei, conhecida como Lei Maria da Penha é um exemplo claro da oportunidade perdida pelo legislador de corrigir as falhas existentes e estender a proteção à empregada doméstica.
No texto pode-se encontrar as afirmações dos fundamentos constitucionais do Estado Democrático de Direito como a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho. Também são reafirmados os direitos individuais e dá outras garantias à mulher no ambiente doméstico, com uma forte determinação para coibir, punir e erradicar toda forma de violência contra a mulher.�
Louvável a ênfase a direitos que constitucionalmente já estão assegurados, entretanto, o maior avanço está na definição da assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar e nas medidas integradas de proteção que devem ser adotadas.
Acontece que, inclusive este avanço deve ser questionado, pois, não há na sociedade civil ou política tendência para a discussão no sentido de esclarecer que o ambiente doméstico e familiar é o local onde a empregada doméstica exerce sua atividade laborativa, e que precisa das mesmas garantias, proteções e respeito exigido para aquela que é a dona da casa.
O artigo 4º, da Lei 11.340/06 assevera que “Na interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as condições peculiares das mulheres em situação de violência doméstica e familiar”. 
O artigo 7º trata das formas de violência:
Art. 7o  São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; 
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria. (Grifo meu) 
Pois bem! Bastaria a interpretação da lei com o ânimo de, também, proteger e garantir a integridade da empregada doméstica em todos os sentidos, seja contra a violência física, psicológica ou sexual. Que se interprete e aplique a Lei em favor daquela que sofre a violência no ambiente doméstico, seja ela patroa ou empregada.
Importante salientar o que determina o artigo 9º e, mais uma vez, interpretar considerando as disposições preliminares que garantem a toda mulher o gozo dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
 
Art. 9o  A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.
§ 2o  O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade física e psicológica:
II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis meses. (grifo meu)
 Sendo o propósito da lei a manutenção de mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher, certamente o reconhecimento da extensão do dispositivo do inciso II, do parágrafo 2º, do artigo 9º às empregadas domésticas, seria a concretização deste propósito.
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8 CONCLUSÃO 
A Constituição da República de 1988 significou um marco no tocante aos novos direitos da mulher e a ampliação de sua cidadania ao proibir no exercício do trabalho a diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil, além disso, o mercado de trabalho da mulher passou a ser protegido mediante incentivos específicos, nos termos da lei.
Também ficou constitucionalizado, como fundamento da República Federativa do Brasil, a dignidade da pessoa humana; entretanto, é necessário lutar diariamente para que estes direitos sejam efetivamente cumpridos e respeitados pelo Estado e pela sociedade, principalmente no que diz respeito ao trabalho da empregada doméstica e da diarista.
No ambiente residencial, a dignidade da pessoa é desconsiderada no silêncio dos lares aparentemente decentes, onde o empregado doméstico fica acuado e sujeito ao assédio sexual, enquanto o assediador fica protegido pelo conforto da liberdade que lhe assegura o domicilio. 
O tema do assédio sexual, com freqüência, é subvalorizado mesmo por juristas respeitáveis e chega, por vezes, a ser ridicularizado. A nossa cultura machista ainda impera e dificulta o reconhecimento do assédio como uma discriminação e violência contra a mulher e a falta de um debate com diversos setores da sociedade compromete o reconhecimento de que o assédio sexual no trabalho, principalmente ao empregado doméstico, perpetua as relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres e viola os princípios dos direitos humanos.
A violência sexual contra a empregada doméstica é antiga, e esse fato viola o direito das trabalhadoras à segurança no trabalho, cria condições prejudiciais ao seu bem-estar físico e psicológico e interfere no ambiente de trabalho ao concretizar uma atmosfera que fragiliza e desmoraliza a mulher trabalhadora, infligindo a ela a sujeição e um sistemático rebaixamento de limites morais.
O trabalhador doméstico deve ser respeitado não só por sua condição de sujeito do pacto laboral, mas sobretudo, em face da sua dignidade essencial de ser humano. A dignidade é um valor inerente a todo ser humano e em função dela devem ser vistos os direitos humanos. Assim é que nossa Constituição a reconhece, ao colocá-la como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
A realidade, entretanto, infelizmente não corresponde a essa teoria, caso contrário, não mais haveria hoje defensores dos direitos humanos.
	As vítimas de assédio sexual têm receio de denunciar a violência, por medo de represálias,

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