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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS AERONÁUTICAS – CSTPPA - Navegação Aérea I – 1 PPA Extrato de texto e figuras contidos no FAA-H-8083 – 15a, INSTRUMENT FLYING HANDBOOK, do U.S. Department of Transportation – Federal Aviation Administration, 2007. Tradução e adaptação livres feitas pelo professor Marcus Vinitius Mendonça Galvão de Souza Magnetismo A Terra é um imenso ímã girando no espaço, cercada por um campo magnético composto por linhas de fluxo invisíveis. As linhas de fluxo magnético têm duas importantes características: a) qualquer ímã que esteja livre para girar alinhar-se-á com eles, e b) uma corrente elétrica é induzida em qualquer condutor que passe por eles. Muitos indicadores de direção instalados nas aeronaves fazem uso de uma dessas duas características. A bússola magnética aeronáutica Um dos mais antigos e simples instrumentos para indicar as direções é a bússola magnética. É também um dos instrumentos básicos requeridos pela legislação aeronáutica, tanto para os voos visuais como por instrumentos. Características da Bússola Magnética Um ímã, ou magneto, é uma peça de material, usualmente metal, contendo ferro, que atrai e mantém as linhas de fluxo magnético. Independentemente de tamanho, todos os magnetos possuem dois polos: um polo chamado Norte e outro designado Sul. Quando um magneto é inserido no campo magnético de outro magneto, os polos contrários se atraem e os polos iguais se repelem. Uma bússola magnética aeronáutica, tal como a representada na Figura 1, possui dois pequenos magnetos instalados em uma boia de metal, selados dentro de um invólucro repleto de um fluido transparente apropriado, similar ao querosene. Uma escala graduada envolve a boia e é vista através de uma janela com uma linha de referência, chamada de linha de fé. A escala é marcada com letras representando os pontos cardeais Norte, Sul, Leste e Oeste e com números a cada 30° entre essas letras. O final 0 é omitido dessas direções; por exemplo, 3 = 30°, 6 = 60°, e 33 = 330°. Há traços longos e curtos entre as letras e números, cada traço longo representando 10° e cada traço curto representando 5°. Estrutura de uma Bússola Magnética O conjunto formado pela boia e escala graduada tem um pivô de aço inserido em uma campana que se apóia em seu extremo inferior sobre um cristal. A flutuação da bóia sustenta o peso do pivô e o fluido amortece a oscilação do conjunto. A maneira como estão instalados o pivô e o cristal permite que a boia gire livremente e incline-se até 18° em relação à vertical. Em inclinações maiores, as indicações da bússola tornam-se erráticas e imprevisíveis. O invólucro da bússola é inteiramente preenchido com fluido. Para prevenir danos ou vazamentos quando o fluido expande ou contrai por causa das mudanças de temperatura, a parede traseira da caixa da bússola é selada por um diafragma flexível ou, em alguns aparelhos, por um fole de metal. Figura 1 - Uma bússola magnética. A linha vertical é chamada de linha de fé. Teoria de Operação da Bússola Magnética Os magnetos alinham-se com o campo magnético da Terra e o piloto lê as direções na escala diretamente sob a linha de referência. Observe que na Figura 1 o piloto vê a escala graduada pela sua parte de trás. Quando o piloto está voando para o Norte, tal como a bússola está mostrando, o Este fica à direita do piloto, mas o número “33” na escala, que representa 330° (que fica a Oeste, ou esquerda, do Norte), está à direita do Norte. A razão para esta aparente inversão é que o conjunto flutuante permanece estático, e quem gira em torno dele são o invólucro e o piloto, que sempre verá a escala graduada pelo seu lado traseiro. Um dispositivo compensador instalado na parte superior ou inferior da bússola permite que a manutenção aeronáutica crie um campo magnético interno ao instrumento para cancelar a influência de campos magnéticos externos. Isso é feito para corrigir os erros de instalação. A caixa do instrumento possui dois eixos em cujas extremidades conectam-se parafusos, acessíveis 2 pela frente da bússola. Um deles é marcado pelas letras E-W, e seu magnetismo afeta a bússola quando a aeronave está voltada para a direção E- W. O outro parafuso é identificado pelas letras N-S e seu magnetismo afeta a bússola quando a aeronave está voltada para o Norte ou para o Sul. Erros induzidos da Bússola Magnética A bússola magnética é o instrumento mais simples do painel, mas está sujeita a numerosos erros que devem ser considerados. Declinação Magnética (DMG) A Terra gira em torno de seu eixo geográfico e as cartas e mapas são construídos usando meridianos que passam pelos polos geográficos. As direções medidas a partir dos polos são chamadas de Rumos Verdadeiros (RV). O Polo Norte Magnético para o qual aponta a bússola não está situado no Polo Norte Geográfico, mas distante cerca de 1.300 milhas náuticas. As direções medidas a partir dos polos magnéticos chamam-se Rumos Magnéticos (RM). As diferenças entre as direções verdadeiras e direções magnéticas são chamadas de Declinações Magnéticas (DMG). A Figura 2 mostra as linhas isogônicas que identificam o número de graus de declinação magnética em sua área. A linha que passa próximo a Chicago é chamada de linha agônica. Em qualquer lugar ao longo dessa linha os dois polos estão alinhados e não existe declinação magnética. A Este dessa linha, o polo magnético é percebido como estando a Oeste do polo geográfico e uma correção deve ser aplicada às indicações da bússola para seguir em uma direção correta. Figura 2 - Linhas isogônicas são linhas de igual declinação magnética Voando na área de Washington, D.C., por exemplo, encontramos a declinação de 10° West. Se o piloto quer voar no Rumo Verdadeiro (RV) Sul (180°), a declinação magnética deve ser somada à direção verdadeira, resultando no Rumo Magnético (RM) 190°, adequado ao trajeto. Em contrapartida, voando na área de Los Angeles, CA, a declinação encontrada é 14° East. Para voar na direção verdadeira Sul, o piloto deverá subtrair a declinação magnética da direção verdadeira, resultando no rumo magnético 166°. A correção não varia com a proa da aeronave: é a mesma em qualquer posição da linha isogônica. Desvio Bússola (DB) Os ímãs de uma bússola alinham-se com qualquer campo magnético. Os campos magnéticos existentes em uma aeronave, causados por correntes elétricas que fluam por sua estrutura, pela proximidade da fiação, ou de qualquer outra parte magnetizada da estrutura, conflitam com o campo magnético da Terra e provocam um erro na bússola chamado Desvio Bússola (DB). Os desvios bússola, ao contrário das declinações magnéticas, são diferentes em cada proa, porém não mudam conforme a localização geográfica. As declinações magnéticas não podem ser modificadas ou reduzidas, mas os desvios bússola podem ser minimizados quando o piloto ou os mecânicos realizam as tarefas de manutenção conhecidas como “compensação da bússola”. A maioria dos aeroportos tem uma rosa dos ventos, que é uma série de linhas marcadas em uma área plana sobre uma pista de táxi ou estacionamento, em alguma localização livre de interferências magnéticas. A partir do Norte Magnético são pintadas linhas indicativas a cada 30°, tal como mostrado na Figura 3. Figura 3 – A utilização de uma rosa dos ventos auxilia a correção dos erros da bússola. O piloto ou a manutenção alinha a aeronave em cada proa magnética e ajusta a compensação magnética para minimizar as diferenças entre as indicações da bússola e a real proa magnética da aeronave. Qualquer erro que não possa ser removido é gravado em uma tabela de correções como a que aparecena Figura 4, e colocada em um suporte próximo do instrumento. Se o piloto quer voar em uma Proa Magnética (PM) de 120° e 3 a aeronave está sento operada com os rádios ligados, o piloto deve voar em uma proa magnética de 123°. Figura 4 – O Cartão de Desvios da bússola mostra a correção a ser adotada em cada direção magnética. As correções para as declinações magnéticas e de desvios bússola devem ser aplicadas na sequência correta que é demonstrada abaixo, a partir do rumo verdadeiro desejado. Passo 1: Determinar o Rumo Magnético (RM) Rumo Verdadeiro (180°) ± Declinação Magnética (+10°) = Rumo Magnético (190°) O Rumo Magnético (190°) estará correto se não houver desvios da bússola a serem corrigidos. O Cartão de Desvios da bússola deverá agora ser considerado para o rumo magnético de 190°. Passo 2: Determinar a Proa Bússola (PB) Rumo Magnético (190°, obtido no passo 1) ± Desvio Bússola (-2°, do Cartão de Desvios) = Proa Bússola (188°) NOTA: Os rumos magnéticos intermediários àqueles listados no Cartão de Desvios precisam ser interpretados. Desta maneira, para seguir no rumo verdadeiro 180° o piloto deverá voar na Proa Bússola 188°. Para encontrar o rumo verdadeiro que está sendo voado quando a Proa Bússola é conhecida: Proa Bússola ± Desvio Bússola = Rumo Magnético Rumo Magnético ± Declinação Magnética = Rumo Verdadeiro Erros de Inclinação Considera-se que as linhas de fluxo magnético saem da Terra no Polo Norte Magnético e entram de volta no Polo Sul Magnético. Nessas localizações, as linhas de fluxo são perpendiculares à superfície da Terra. No equador magnético, que está a meio caminho entre os polos, as linhas de fluxo são paralelas à superfície. Os magnetos de uma bússola alinham- se com as linhas de fluxo campo e perto dos polos eles inclinam-se, ou empinam-se, junto com elas. O limbo da bússola é balanceado com um pequeno contrapeso, de maneira a que permaneça relativamente nivelado quando operando nas latitudes médias. A inclinação da bússola associada a este contrapeso causa dois erros notáveis: erro de viragem e erro de aceleração. De uma maneira geral, podemos dizer que atuam dois vetores sobre os magnetos de uma bússola: um componente horizontal, muito presente nas pequenas latitudes e pouco presente nas proximidades dos polos magnéticos e um componente vertical, por sua vez quase ausente nas proximidades do Equador e absolutamente presente sobre os polos. A influência do componente vertical do campo magnético terrestre causa o erro de viragem na bússola, que é mais aparente nas proas Norte ou Sul. Quando uma aeronave voando em uma proa Norte faz uma curva na direção Este, a aeronave inclina-se para a direita, mas o limbo da bússola empina-se para a direita. O componente vertical do campo magnético terrestre puxa a extremidade Norte do magneto para a direita, e o conjunto flutuante gira na direção Oeste, a direção contrária à direção para a qual a curva está sendo realizada. Figura 5. Figura 5 - Erro de viragem 4 Figura 6 - Erro de aceleração. Se a curva é feita do Norte para o Oeste, a aeronave inclina-se para a esquerda e o limbo da bússola tomba para o lado esquerdo. O campo magnético atua sobre o magneto, fazendo com que o limbo gire no sentido Este. Essa indicação é também oposta à direção em que a curva é feita. A regra a ser considerada é a seguinte: quando começar uma curva a partir de uma proa Norte, as indicações da bússola atrasar-se-ão em relação à curva. Quando uma aeronave está voando em uma proa Sul e começa uma curva para a direção Este, o campo magnético provocará um giro do limbo na mesma direção da curva. Se a curva for para a direção Oeste, a partir do Sul, o limbo da bússola será impulsionado a girar na direção Oeste, na também na mesma direção da curva. A regra para este erro é: quando iniciar uma curva a partir da direção Sul, as indicações da bússola antecipar- se-ão à curva. No erro de aceleração, o contrapeso de correção provoca a concentração de peso em um dos lados do limbo. Quando a aeronave está voando com velocidade constante nas direções Este ou Oeste, o limbo permanece nivelado. Os efeitos da inclinação das linhas de fluxo magnético e do contrapeso são praticamente iguais e se anulam. Se a aeronave acelera em uma proa Este, a inércia do contrapeso tende a fazer com que o limbo da bússola gire para o Norte. Tão logo a velocidade da aeronave volte a se estabilizar, o limbo volta a indicar a primitiva proa. Se a aeronave estiver voando para o Este desacelerar, a inércia causará o deslocamento do contrapeso para a frente e o limbo girará para o Sul até que a velocidade volte a se estabilizar. Quando voando na direção Oeste, as mesmas coisas acontecem. A inércia resultante da aceleração causa o deslocamento do contrapeso para trás e o limbo da bússola girará no sentido Norte. Quando a aeronave desacelera na proa Oeste, a inércia provocará o deslocamento do contrapeso para a frente e o limbo girará no sentido Sul. Erro de Oscilação Oscilação é uma combinação de todos os demais erros e isso resulta em que o limbo da bússola fique balançando para frente e para trás, enquanto as proas sofrem variações. Se for preciso ajustar o giro direcional, use a indicação média entre as oscilações. A Bússola Elétrica (The Vertical Card Magnetic Compass, no original) A bússola magnética do tipo boia não somente apresenta os erros descritos anteriormente mas também traz dificuldades para a leitura. É fácil iniciar uma curva na direção errada porque a carta aparece pelo lado traseiro. O Este está onde o piloto gostaria que estivesse o lado Oeste. A bússola elétrica, de aparência vertical, elimina alguns dos erros e confusões. O dial desse instrumento é graduado com letras representando os pontos cardeais, números a 5 cada 30° e traços a cada 5°. O dial é acionado por um conjunto de engrenagens montado a partir do eixo do magneto, e o nariz da aeronave desenhado no vidro do instrumento representa a linha de fé para a leitura da proa da aeronave no dial. Correntes de Eddy induzidas em um dispositivo de alumínio minimizam as oscilações do magneto. [Figura 7] O Sistema de Fluxo na Bússola Elétrica Tal como antes mencionado, as linhas de fluxo magnético possuem duas características básicas: um magneto alinha-se com esse fluxo, e uma corrente elétrica é induzida, ou gerada, em qualquer condutor cruzado por ele. Figura 7 - A bússola elétrica A bússola elétrica que controla os giroscópios a ela escravizados usa a característica da corrente induzida. A válvula de fluxo é um pequeno anel segmentado, tal como apresentado na Figura 8, feita de ferro macio que é sensibilizado muito facilmente pelas linhas de fluxo magnético. Figura 8 – O anel de ferrite da válvula de fluxo aceita o fluxo do campo magnético terrestre sempre que há uma inversão de corrente na bobina central. Esse fluxo provoca a passagem de corrente elétrica pelas três bobinas radiais. Em torno de cada uma das três pernas está instalada uma bobina para capturar a corrente induzida no anel pelo campo magnético da Terra. Uma bobina instalada em torno do eixo central da peça recebe uma corrente alternada de 400Hz AC. Durante o tempo em que essa corrente está em seu pico, o que ocorre duas vezes em cada ciclo, há tanto magnetismo produzido por essa bobina que a peça não consegue capturar as linhas de fluxo magnético terrestre. Figura 9 A corrente em cada uma das três bobinas modifica conforme a proa da aeronave., Como a corrente inverte entre os picos, ela desmagnetiza o anel e, nesse momento, ele se torna apto a ser sensibilizadopelas linhas de fluxo do campo magnético terrestre. Esse fluxo passa pelos segmentos em que estão as bobinas, e faz surgir correntes induzidas em cada uma delas. Essas três bobinas estão conectadas de forma que as correntes que por elas passam modificam- 6 se conforme as alterações de proa da aeronave. Figura 9. As três bobinas estão conectadas a três outras bobinas similares, mas menores, em um sincronizador dentro do instrumento do painel. O sincronizador faz girar o limbo de um Radio Magnetic Indicator (RMI) ou de um Horizontal Situation Indicator (HSI). Indicador Remoto da Bússola O indicador remoto da bússola foi desenvolvido para compensar os erros e limitações dos modelos mais antigos de indicadores de proa. Os dois componentes principais de um sistema típico são o indicador pictorial de navegação e a unidade de controle de sincronização (slave control). Figura 10. O indicador pictorial de navegação é comumente chamado de Horizontal Situation Indicator (HSI). A unidade de controle do servo controle conta com um botão do tipo pushbutton que seleciona um dos modos “slave gyro” ou “free gyro”. Essa unidade tem também um indicador de sincronização e dois botões para ajustes manuais das proas, que fazem o limbo girar no sentido horário ou anti-horário, respectivamente. O indicador de sincronização mostra a diferença existente entre a indicação da bússola e a proa magnética. Uma deflexão para a direita indica a existência de um erro da bússola no sentido horário; uma deflexão para a esquerda indica um erro no sentido anti-horário. Sempre que a aeronave estiver em curva e o limbo da bússola girar o indicador de sincronização apresentará uma deflexão total para um ou outro lado. Quando o sistema estiver no modo livre, o limbo da bússola pode ser ajustado pelo acionamento de um dos dois botões de ajuste manual. Figura 10 – Indicador pictorial de navegação (HSI no alto), transmissor de azimute magnético e unidade de comando do servo controle. O transmissor de azimute magnético é uma unidade separada, montada em um ponto remoto onde não haja interferências eletromagnéticas, geralmente em uma asa. Ele contém a válvula de fluxo magnético, que é a sensora direcional do sistema. A concentração de linhas de força magnética, depois de ser estabilizada, transforma- se em sinal retransmitido para o giro direcional servo controlado, que também foi montado em um ponto remoto. Esse sinal aciona um pequeno motor no giroscópio da unidade e faz a unidade alinhar-se com o sinal do transmissor. O transmissor de azimute magnético é conectado eletricamente ao HSI. Há diversos tipos de bússolas elétricas, e somente os aspectos básicos do sistema foram abordados neste texto. Os pilotos precisam familiarizar-se com as características dos equipamentos das suas aeronaves. Como os instrumentos do painel tornaram-se mais numerosos e a disponibilidade de tempo do piloto encurtou por conta da maior carga de trabalho na cabine, os fabricantes de instrumentos trabalharam na direção da combinação de instrumentos. Um bom exemplo disso é o Radio Magnetic Instrument (RMI) na Figura 11. O limbo do instrumento é acionado por sinais provenientes da válvula sensora de fluxo magnético, e os dois ponteiros são movimentados por um aparelho ADF (Automatic Direction Finder) e por um aparelho VOR (Very high frequency Omnidirectional Range). Figura 11 Acionado por sinais provenientes de uma válvula sensora de fluxo magnético, o limbo deste RMI indica a proa da aeronave sob a linha de fé superior. O ponteiro verde é direcionado pelo ADF.
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