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Filosofia do Direito - Aulas

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FILOSOFIA
Ontologia (estudo do ser): É área que busca estudar o ser das coisas, o sentido dado as coisas.
Gnosiologia (teoria do conhecimento "latu sensu")
Epistemologia (teoria do conhecimento científico)
Axiologia (estudo de valores)
História da filosofia
Ontologia jurídica
Gnosiologia jurídica
Epistemologia jurídica
Axiologia jurídica
História da filosofia jurídica
FILOSOFIA
JURÍDICA
FILOSOFIA DO DIREITO
Aluna: Maria Carolina Ribeiro
Professor: João Vítor Alves
Aulas 2015.1
1. A FILOSOFIA: É importante observar a filosofia como tradição e como práxis. Cada filósofo se
insere em uma realidade diferente (realidades econômicas, sociais, temporais, espaciais, etc.),
logo, não se deve comparar um com o outro. É necessário que haja sempre pensamento crítico.
1.1. A filosofia enquanto tradição: A filosofia ocupa um espaço tradicional, e essa tradição
se apresenta como uma variável histórica. Um grande filósofo consegue extrair da história
da filosofia tudo aquilo que é necessário para construir o seu próprio conhecimento, o seu
próprio pensamento.
1.2. A filosofia como práxis: É necessário observar a história da filosofia (construída de forma
variável), dentro da realidade.
2. A FILOSOFIA DO DIREITO: A filosofia do direito se insere na área de conhecimento da filosofia,
com um objeto definido: o direito. A escola filosófica segue as escolas do direito da época em
que se inseriam (Exemplo: Na época do positivismo, a filosofia era uma filosofia do direito
positiva).
2.1. A especificidade da filosofia do direito: O objeto específico de estudo da filosofia do
direito é o próprio direito.
2.2. Um pensamento de juristas ou de filósofos? É complicado para um filosofo fazer a
aproximação entre o direito e a filosofia se não há um prévio conhecimento do direito, logo,
diz-se que a matéria é ministrada por juristas filósofos.
Existe uma diferença entre o objeto e o método filosófico. O direito é um objeto a ser estudado pela
filosofia. Quando nos referimos a método, estamos nos referindo a uma linha de pensamento, de
uma lente teórica (exemplo: a partir da filosofia de Kant, pode-se estudar diversos objetos:
economia, religião, estética, direito, etc.).
3. ENFOQUES TEÓRICOS:
3.1. Os diferentes enfoques teóricos: VIEHWEG. Toda investigação aceita mais um enfoque
que o outro, mas sempre possui os dois (a diferença acaba sendo de grau).
3.1.1. Enfoque dogmático: Dogmática = ensinar, doutrinar.
3.1.2. Enfoque zetético: Zetética = perquirir, indagar, especular, questionar. A filosofia do direito
possui enfoque eminentemente zetético.
ENFOQUE DOGMÁTICO ENFOQUE ZETÉTICO
Releva o a ato de opinar e ressalva algumas
opiniões
Desintegra, dissolve as opiniões, pondo-as em
dúvida
Questões: função diretiva explícita e questões
finitas (direciona o pensamento)
Questões: função especulativa explícita e são
infinitas
Problema: como um dever-ser (como deve ser
algo?)
Problema: um ser (quem é algo?)
Objetivo: possibilitar uma decisão e orientar uma
ação
Objetivo: saber o que é uma coisa
3.2. Como uma análise zetética pode contribuir para a
compreensão/interpretação/aplicação da dogmática jurídica? Só se pode construir
um dogma se ele foi questionado antes, a zetética, através da atividade reflexiva,
transforma a dogmática. A zetética reconstrói a dogmática. É possível fazer uma leitura
zetética da disciplina dogmática. Porque questionar o dogma? Muitas vezes o dogma não
expressa exatamente o que o direito realmente quer mostrar, a partir do questionamento o
dogma se transforma.
3.3. As múltiplas possibilidades da filosofia do direito: A relação entre a filosofia e a
filosofia jurídica.
4. EVOLUÇÃO DA METAFÍSICA/ONTOLOGIA:
4.1. Introdução: A evolução da ontologia pode ser observada a partir de três fases: metafísica
objetificante, metafísica representacional, ontologia contemporânea.
4.2. Metafísica objetificante: Séculos IV a.C. a XVIII d.C. A metafísica objetificante pergunta
pelo ser das coisas, pelo sentido das coisas. Buscava-se a compreensão da natureza, do
cosmos. Os filósofos tentavam entender os fenômenos nos mínimos detalhes, inclusive os
fenômenos além da física (filosofia da natureza).
4.2.1. A estrutura cognitiva: Sujeito x objeto.
4.2.2. A essência do objeto: A essência do objeto está no próprio objeto (Exemplo: A essência da
cadeira está na própria cadeira – há uma essência na cadeira que indica que ela é uma
cadeira, e não qualquer outro objeto).
4.2.3. A linguagem: A linguagem na metafísica objetificante é vista como uma terceira coisa que
se interpõe entre o sujeito e o objeto (Exemplo: Ao escutar a palavra casa, não é necessário
ver uma casa para idealizar a mesma, a própria linguagem traz a essência do objeto).
4.2.4. A Escola de Exegese: Afirma-se o direito enquanto sinônimo do Código de Napoleão
(noção de previsibilidade – traz segurança jurídica). Acredita-se nesta época que o Código
consegue contemplar a essência do direito, porém, posteriormente, percebe-se a existência
das lacunas jurídicas. Na escola de Exegese passa-se a visualizar o direito como objeto, o
direito passa a ser reduzido ao texto normativo, deste modo passa-se a aplica-lo de forma
dogmática, pois já que a essência do objeto está nele próprio, não questiona-se o mesmo,
mas alguns casos possuem peculiaridades específicas que necessitam de questionamentos
para se alcançar uma solução, e quando esses questionamentos não são feitos, acaba-se por
gerar injustiças.
4.3. Metafísica representacional: Séculos XVIII a XX. (Filosofia da natureza). Passa-se a
questionar se essência está no objeto ou no sujeito (exemplo: a cadeira é cadeira porque
esta é a essência dela, ou porque o sujeito pensa nela como uma cadeira?). A questão do
sujeito transcendental – o sujeito consegue transcender o que o cerca. A essência (o ser)
passa a estar no sujeito, que passa, através de um imperativo categórico, a construir
processos cognitivo que permitem identificar a cadeira como objeto. A realidade passa a
ser o que nós conseguimos ver e pensar, e com isso, gera-se o risco da eleição cognitiva (o
que um sujeito vê e pensa certamente não é o mesmo que o que outro sujeito vê ou pensa,
bem como o ponto de partida para adquirir o conhecimento também não é o mesmo).
Quando coloca-se a essência no próprio ser, corre-se este risco da eleição cognitiva, então
passa-se a questionar se a transcendência é mesmo o sujeito.
4.3.1. A estrutura cognitiva: Sujeito + objeto.
4.3.2. Crítica kantiana: metafísica despótica: Kant acredita que a metafísica objetificante é
despótica, porque proporciona a discussão de uma ditadura da própria coisa, pois a coisa
possuiria a sua essência intrínseca a si mesma.
4.3.3. O “despertar do sono dogmático”: Ao adjetivar a metafísica objetificante como
despótica, Kant acaba por dar um passo inicial para o início da metafísica representacional.
4.4. Ontologia contemporânea: Século XX (1920 a 1970). Na passagem da segunda para a
terceira fase ocorre o giro linguístico. Quebra-se a relação entre sujeito e objeto. (Filosofia
da linguagem).
 Teóricos: Martin Heidegger e Maurice Marleau-Ponty.
4.4.1. Superação: Realismo (primeira fase) x idealismo (segunda fase).
4.4.2. Onde é que se situa o ser das coisas? O a essência das coisas nessa terceira fase passa
a ser associada ao círculo comunicativo, a intersubjetividade (exemplo: a cadeira é cadeira,
porque os vários sujeitos inseridos numa sociedade identificam a cadeira como tal –
atribuem a ela um sentido).
4.4.3. O papel da linguagem: Os seres vivos compreendem as coisas o tempo todo, e isso ocorre
através da linguagem. A linguagem é matéria de tudo aquilo que é o humano. O direito é
linguagem, logo é um fenômeno a ser compreendido.
Diferença entre ser e ente: “Não há ser sem ente, e todo ser é sempre o ser deum ente”.
Ser é justamente o sentido, e o ente é tudo aquilo que pode-se estudar, valorar, ver,
estigmatizar. O mesmo ente pode despertar sentidos diferentes (exemplo: Cadeira na época
imperial: o sentido era sentar. Atualmente encontra-se a mesma cadeira exposta em um
museu, onde o sentido passa a ser apreciá-la).
Compreensão – interpretação – aplicação (fenômeno uno): Na compreensão sempre
há antes um pré compreensão (explicita uma carga empírico existencial intrínseco ao
sujeito). É necessário haver uma abertura reflexiva, para rever o que já foi compreendido ou
para compreender o que foi mal compreendido. Interpretamos porque compreendemos, e
sempre se interpreta para aplicar. A partir desta tríade é possível compreender melhor os
casos de modo individual, e promover mais justiça na hora da aplicação do direito.
4.5. Quais as principais relações entre a evolução da metafísica/ontologia e o
fenômeno jurídico? A partir da evolução da ontologia, o próprio fenômeno jurídico
evoluiu. Na primeira fase da metafísica, o sentido do direito era o próprio direito, gerando o
risco de uma aplicação distante da realidade, gerando grandes discrepâncias e injustiças.
Durante a fase da metafísica representacional, com o homem sendo a essência da relação
entre sujeito e objeto, também pode-se haver o risco do cometimento de injustiças, devido
ao processo de eleição cognitiva, onde entende-se como se quer entender. Por fim, a partir
da ontologia contemporânea supera-se a relação entre sujeito e objeto, e passa-se a ver as
coisas de um modo mais coletivo, o que é levado em conta é o entendimento majoritário da
coletividade, diminuindo assim o risco do cometimento de injustiças, e possibilitando uma
maior reflexão acerca do problema jurídico apresentado.
5. DIREITO NATURAL X DIREITO POSITIVO / JUSNATURALISMO X JUSPOSITIVISMO:
5.1. Quais os critérios distintivos entre o direito natural e o direito positivo? O direito
positivo é uma criação humana, e o direito natural é inerente ao ser humano, é intrínseco à
condição de ser humano.
Jusnaturalismo Juspositivismo
Etimologia Direito Natural Direito Positivo
Historicidade A-histórico e imutável Histórico e mutável; o direito
positivo sempre caminha em
direção a realidade social ao
qual ele está inserido (é um
direito histórico)
Abrangência Direito universal Direito singular e regional
Forma de conhecimento Por meio da razão e da fé Publicação e presunção do
conhecimento que foi editado.
Fonte originadora Natureza; o direito natural é
voltado para a natureza, depois
para a religião, depois passa a
ser em torno do homem
Vontade do poder legislador
Valor que orienta Direito justo Utilidade e necessidade de
possuir uma norma posta,
editada.
5.2. Jusnaturalismo x Juspositivismo:
5.2.1. Polissemia do termo “jusnaturalismo”:
- Jusnaturalismo cosmológico
- Jusnaturalismo teológico
- Jusnaturalismo racional.
5.2.2. Algumas características do jusnaturalismo:
Na época a qual o direito natural predominava, surgiram duas teses:
1ª tese: Direto natural + Direito Positivo
2ª tese: Superioridade do Direito Natural
Referencial valorativo: o direito positivo deveria se adequar ao direito natural, logo, deveria ser
justo.
Referencial ontológico: o direito injusto perde a sua juridicidade.
5.3. Concepções epistemológicas contemporâneas: Com a Segunda Guerra Mundial,
observa-se a necessidade de superar tanto o jusnaturalismo quando o juspositivismo, eis
que surge o pós positivismo. (Exemplo: Robert Alexy – Teoria de distinção entre regras e
princípios, ponderação).
6. FILOSOFIA DO DIREITO GREGA:
6.1. Considerações iniciais: Quando retratamos a filosofia do direito grega, é importante
ressaltar que os gregos dão o primeiro passo para a construção de um pensamento
filosófico. Ocorre na Grécia, a primeira sistematização do pensamento filosófico, começa-se
a romper com o pensamento mitológico, e a razão começa a ter espaço no pensamento. A
filosofia do direito grega acaba contribuindo para uma formação de uma tradição do
pensamento jurídico ocidental. 
6.2. A preocupação com a cosmologia: Os gregos buscam identificar, como primeiro
exercício reflexivo, a dinâmica do universo, a compreensão da origem das coisas do mundo
e o próprio mundo, a partir de uma ótica racionalista, e não mais mitológica. A cosmologia
também se preocupa com o aspecto social, pois, o homem também participa do mundo,
logo, ele integra um todo social e político, que por sua vez integra o todo da natureza. Com
a cosmologia vamos ter a natureza e os princípios sociais dos homens.
6.3. A reflexão sobre o justo e a norma: A filosofia do direito grega possui preocupação
acentuada acerca da política e do direito. Há sempre uma discussão sobre o papel da lei em
relação a pólis, e como esta deveria ser regida. Num primeiro momento temos a lei como
themis (força e legalidade), e num segundo momento, temos a lei como diké (indica
justiça). 
6.4. Os pré-socráticos: Ainda há uma preocupação com o cosmos. Também pretendia-se
examinar as causas das transformações da natureza (Tales de Mileto, Pitágoras de Samos).
Dois filósofos marcaram a filosofia do direito nesta fase: Heráclito de Éfeso (identifica a
origem do universo a partir do fogo, que remete a transformação) e Parmênides de Eleia.
6.5. Sócrates: Acaba criando em Atenas o socratismo, que se opõe ao sofismo.
6.5.1. Conhecimento da retórica + mercantilização: Os sofistas conheciam largamente a
retórica, porém, eles comercializavam este conhecimento, coisa que Sócrates nega
veementemente, ele trabalhava sob a ótica do amor à sabedoria.
6.5.2. Temas: Os sofistas discutiam uma série de temas, como política, direito, etc. Porém, os
sofistas não estão interessados na verdade da tese, mas sim do convencimento, logo, a
verdade passa a depender da habilidade de convencimento do orador. Neste caso chega-se
a diversas verdades a partir da argumentação. Sócrates não busca o convencimento, mas
sim a verdade da tese, verdade esta que é única, e não varia de acordo com os interesses.
6.5.3. Relativismo filosófico: Os sofistas duvidam da capacidade humana de conhecer as coisas,
e, com esta descrença, surge uma crise da racionalidade humana. Os ser humano não teria
capacidade para alcançar a verdade, logo, as instituições político-jurídicas não possuem
condições de alcançar a verdade, então, não se pode falar em justiça plena, este raciocínio
acaba gerando o jusnaturalismo. Assim a justiça passa a precisar ser algo provável e
possível. O justo para os sofista é como uma convenção, ou seja, a noção de justiça depende
de um acordo entre seres humanos a partir de uma discussão, da retórica.
6.5.4. Sócrates x sofistas: Sócrates teve uma posição de oposição aos sofistas, pois ele pregava
o ensino gratuito e a obediência às leis. 
→ “Só sei que nada sei” – reconhece a própria ignorância.
→ Maiêutica: Sócrates, a partir de questionamentos, gera reflexões, para que o sujeito
reconheça a sua própria ignorância. Pode-se relacionar o enfoque zetético com a maiêutica.
 O pensamento jurídico em Sócrates: Pode ser visto a partir de dois aspectos: Os
diálogos de Platão, ou a vida pessoal de Sócrates. Sócrates é acusado de corromper os
jovens com novas ideias, e é condenado a morte. A partir disto, ele adota uma postura de
respeito às leis da cidade e cumpre a sentença enquanto dever moral (de respeito a pólis).
Ao adotar esta postura, questiona-se se Sócrates seria juspositivista (esta relação é
inadequada).
6.5.5. O direito em Sócrates: O indivíduo é visto como parte integrante da organização política
como um todo. Para Sócrates, acima do direito positivo posto, havia algo mais originário, que
no caso, era a morale a justiça, logo, acaba-se podendo discutir a justiça a partir da
injustiça, e assim, é possível criticar o direto ateniense. Sócrates constrói sua filosofia do
direito a partir do direito ateniense. 
6.6. Platão: O legado platônico: Diálogos e um grande sistema filosófico. A relação com
Sócrates vai interferir diretamente na consolidação filosófica de Platão. No primeiro
momento, ele se preocupa com a justiça, direito e política. Após as perseguições, passa a
ensinar na Academia, e tem como discípulo Aristóteles.
6.6.1. O idealismo platônico: A realidade sensível é falha e limitada, o mundo das ideias é
originário. A partir da dialética, procura-se alcançar o mundo das ideias. Em Platão, essa
dialética se dá a partir do atrito de entendimentos, e busca alcançar a verdade. A busca
platônica envolve a superação da aparência e a busca da essência da ideia.
6.6.2. Direito e justiça em Platão: (Obras: “A República” e “As Leis”) – É difícil dissociar direito
de justiça. Na sua concepção teórica, Platão afirma que o direito injusto não seria direito. O
direito injusto acaba perdendo a essência de ser. A Teoria Jurídica de Platão envolve os
aspectos da política e da virtude, não se limitando ao plano normativo. O indivíduo (virtude
pessoal) sempre deve se adequar à polis (adequação à sociedade). Na Antiguidade Grega só
se pode falar em um indivíduo justo se a sociedade em que ele se insere for justa. A medida
da justiça é social (sociedade justa). Justiça social está relacionada a uma igual educação a
todos (aptidões). A partir disto questiona-se quem pode conhecer o justo e legislar. Segundo
Platão, quem pode alcançar os justos são os sábios, os filósofos, por possuírem a capacidade
de transcender. A identificação do filósofo ocorre no processo da educação. Questiona-se se
este modelo é totalitário (rei filósofo). A resposta para esta questão é negativa, pois, se o rei
filósofo possui sabedoria e conhece o justo, não corre-se o risco de um totalitarismo. Se o rei
filósofo não converter a sua noção de saber em prol da polis, ele é um não sábio, e, neste
caso, ele não deverá permanecer no poder.
Surgem outros questionamentos de teor prático. Em sua obra “As Leis”, Platão faz um
resgate da experiência jurídica e normativa. Pode-se considerar Platão o filósofo do justo
ideal.
6.7. Aristóteles: É um discípulo de Platão. Sistematiza uma série de áreas do saber. Aristóteles
tinha como linha ideológica a experiência (realismo) e, trava um embate ideológico com o
próprio Platão, que era idealista. A noção de justiça para Aristóteles também está agregada
ao indivíduo justo relacionado com a pólis justa. A justiça em Aristóteles é vista como uma
virtude (ações voltadas para o bom, para o virtuoso). A classificação aristotélica parte
sempre do geral para o particular.
6.7.1. A sistematização filosófica de justiça: 
 Justiça universal e particular: Justiça universal diz respeito a virtude do respeito à
legislação (com o objetivo do bem comum). A justiça particular refere-se ao outro,
singularmente, no tratamento entre as partes. É uma relação que não se dá entre o
indivíduo e a sociedade, mas sim entre os indivíduos, a justiça particular se sub divide em
três:
- Justiça distributiva: Distribuição de bens, horarias, cargos e responsabilidades, segundo
méritos de cada um. A proporcionalidade caracteriza o justo.
- Justiça corretiva: Reparação do equilíbrio rompido entre os indivíduos, que pode ocorrer
de modo voluntário ou involuntário.
- A reciprocidade (caso especial): Produção (sapateiro, pedreiro, médico): as trocas
devem alcançar na medida do possível, a reciprocidade. Aristóteles começa a apontar a
importância do dinheiro, e indica a relação entre direito e economia: é na realidade da
produção/circulação dos bens e serviços, que se estabelece o padrão da reciprocidade.
6.7.2. O sentido da justiça: Envolve uma concepção política do justo e é observado a partir de
condições sociais concretas. A justiça enquanto proporção, somente se dá entre os
semelhantes (cidadãos – note que, cidadãos na Grécia eram os homens livres, nascidos na
pólis, acima de 21 anos de idade, logo, um grande grupo é excluído). Aristóteles acaba por
defender uma filosofia conservadora ao desenvolver essa concepção de justiça reducionista
entre os cidadão, e, isto enseja um potencial crítico, uma revolução, que serve para
proporcionar uma compreensão melhor acerca da justiça.
6.7.3. A equidade e a prudência:
 Equidade: Acima da justiça da lei, há a justiça do caso. A lei em sentido moderno pode ser
interpretada diante do caso concreto. Deve-se observar as peculiaridades do caso concreto.
A lei e a equidade são espécies complementares. Logo, é necessário que haja uma
flexibilidade do intérprete. O equitativo é justo como corretivo da justiça legal.
 Prudência: Uma virtude prática (em face da realidade). A prudência acaba exigindo
humildade e flexibilidade ante a realidade e as suas circunstâncias. É necessário que haja
atenção, cautela, paciência e bom discernimento por parte do intérprete, para que ocorra a
transição da justiça legal para a justiça do caso.
7. FILOSOFIA DO DIREITO MEDIEVAL:
7.1. Introdução e antecedentes históricos: Guerra do Peloponeso (431 a 404 a.C.); Invasões
da Macedônia e a cultura grega (helenismo) – ocorre a expansão da cultura grega; a
Filosofia do Direito Grego acaba por influenciar bastante o Direito Romano (bases do
pensamento jurídico ocidental). Ocorre então a confluência do Império Romano com a
Filosofia Grega. O período de ruptura no plano jurídico-filosófico ocorre a partir do
cristianismo, onde surge uma nova forma de pensar, bem distinta do pensamento da
Antiguidade.
7.2. O cristianismo: Na medida que o cristianismo se expande, surge a necessidade do mesmo
se contrapor com a tradição grega. No primeiro momento o cristianismo surge como uma
visão religiosa do mundo, não ignora-se porém, a filosofia, que serve como um alicerce à
nova doutrina teológica, fundamentando o cristianismo.
7.2.1. Filosofia x cristianismo: Na medida em que o cristianismo avança, passa-se a trabalhar
aquilo que foi estudado pela filosofia grega de outra maneira. Na Filosofia Grega buscava-se
a verde única, através de uma busca livre e artesanal, havendo uma liberdade especulativa,
e o amor ao saber. Reconhecia-se na Filosofia Grega, a ignorância do homem. No
cristianismo, a verdade é revelada por meio do divino, não é buscada livremente, já é
preestabelecida. A filosofia irá servir para justificar o cristianismo. A partir disto, passa-se a
falar de fé (jusnaturalismo teológico). No cristianismo, a fé se encontrava hierarquicamente
superior a razão, e, neste período, pode-se aferir que as crenças, os dogmas e as verdades
já eram preestabelecidas.
7.2.2. A consolidação da filosofia cristã: Com o passar do tempo, o cristianismo vai se
consolidando e passa a ser institucionalizado. Ocorre uma maior sistematização em termos
filosóficos, as bases institucionais se firmam. O conjunto de dogmas religiosos forma a
filosofia cristã. Pode-se falar aqui, do jusnaturalismo teológico, sendo o fundamento deste, a
vontade de Deus. O direito positivo deve se adequar ao direito natural oriundo do divino.
7.3. Paulo de Tarso (São Paulo): Segundo Paulo de Tarso, o homem justo é aquele que está
sob a graça de Deus, não é necessariamente aquele que possui atitudes virtuosas. A
política e o direito situavam o poder como oriundo de Deus. A noção de justiça está
associada a submissão à autoridade, sendo esta, eleita por Deus. Questiona-se a partir
disto o que é melhor ou pior para a sociedade, porém, como o justo é oriundo do divino,parte-se do pressuposto que a autoridade já conhece o justo. A filosofia passa a ser mais
reducionista e conservadora, pois a noção do justo está no plano contemplativo,
diferentemente da Filosofia Grega onde buscavam-se possibilidades transformadoras (ação,
agir virtuoso).
7.4. Santo Agostinho: Santo Agostinho é conhecido como o expoente da Patrística, onde
explicava-se os dogmas religiosos a partir da figura do padre (relação com a
institucionalização do cristianismo). Defende-se aqui as principais bases da filosofia cristã
(ortodoxia religiosa). Santo Agostinho foi bastante influenciado por Platão, no sentido do
dualismo. A salvação não se dá a partir da virtude dos homens, mas sim a partir da graça
de Deus (crença).
7.4.1. Justiça humana x justiça divina: Ocorre também um dualismo no sentido da justiça: a
justiça humana é transitória e sujeita aos defeitos do ser humano, logo, tende a ser uma não
justiça. A justiça divina seria uma justiça imutável, perfeita, justa (em sentido pleno) e boa. A
fonte última do direito positivo passa a ser a lei de Deus.
* Lei eterna: A lei elaborada por Deus
* Lei natural: A manifestação da lei eterna no coração e na alma do homem, aproxima a lei
eterna e a lei humana.
* Lei humana: Deve derivar da lei natural. A lei humana passa a possuir como fundamento
último a lei eterna (lei de Deus).
7.4.2. O sentido do justo: Deus separa os bons dos maus e lhes confere os que merecem, o justo
é uma graça divina. Com a noção de lei divina, possuímos os ensinamentos da graça divina,
porém, o sujeito tem a liberdade de escolher como agirá, logo, como juízo final, temos o uso
(ou não) do livre arbítrio de acordo ou contra a lei divina.
7.4.3. O poder e a obediência: O poder político deve estar subordinado ao poder divino, sendo o
Estado um meio para a realização da lei divina. O que impede a implementação imediata da
lei divina é a corrupção da alma humana, que ocorre facilmente através de guerra, roubo,
latrocínios.
* Civitas terrena x civitas Dei: Na cidade dos homens, tendo em vista as limitações do ser
humano, ocorrem injustiças. Na cidade de Deus, é onde pode-se obter justiça. As práticas
exercidas na cidade dos homens deve estar em observância com a cidade de Deus.
O que caracteriza a sistematização do pensamento Agostiniano é a fé.
7.5. São Tomás de Aquino: Até o final da Idade Média, o pensamento consolidado é o de
Santo Agostinho, e, percebe-se o afastamento da tradição filosófica grega. A filosofia grega
porém, não some. Ela se expande para outros locais (fora da Europa), e, nestes locais, o
pensamento de Aristóteles é muito forte. Com as cruzadas, ocorre uma colisão de cultura, e
assim, redescobre-se o pensamento de Aristóteles na Europa, acarretando uma crise na
teologia cristã (fé x razão). Nesta crise, rejeita-se o aristotelismo. Com São Tomás de Aquino
porém, ocorre a aproximação da filosofia cristã com o aristotelismo (aristotélico tomista –
leitura tomista da obra de Aristóteles – fundamento no divino). A ênfase no pensamento
tomista ainda é na fé. São Tomás de Aquino é conhecido por sintetizar todo o pensamento
filosófico até o século XIII, através das Sumas.
7.5.1. Fé e razão: Com Agostinho, a fé era vista como meio de acesso à virtude a ao justo,
havendo a dualidade da vida humana e da vida em Deus. A partir de São Tomás de Aquino o
acesso ao conhecimento se dá a partir da fé e da razão, podendo os homens se soerguer
através da fé e dos atos bons e justos. Para ele os homens são falhos, mas não estão
condenados a viver na falha e na injustiça, pois, racionalmente, os homens podem trilhar o
caminho do justo.
7.5.2. As leis: As leis em Tomás de Aquino são observadas através da fé e da razão. O sentido de
lei neste período é jurídico, moral e teológico, a noção de lei se dá como um princípio que
oriente o homem e a natureza (a razão humana interpreta a própria natureza). Toda lei
ordena-se ao bem comum (convívio pacífico na sociedade), a lei que não atende ao bem
comum não seria uma lei.
* Lei eterna: a promulgada por Deus e que todo ordena.
* Lei divina: a regra de Deus anunciada aos homens, que só pode ser captada por meio da fé
(sagradas escrituras).
* Lei natural: a natureza seria uma obra de Deus que poderia ser compreendia pela razão
humana (lei natural).
* Lei humana: Na medida em que o ser humano tem condições de fazer uma leitura racional
da natureza, ele pode elaborar lei racionais que tendam ao bem comum. A lei humana deve
guardar correspondência com o elemento fé, logo, a o fundamento último se encontra na lei
eterna e na lei divina.
A lei humana contrária ao direito natural é o direito injusto (exemplo: se uma lei humana
postulasse que roubar é lícito, seria uma lei injusta).
7.5.3. Jusnaturalismo tomista: A justiça tem a noção de hábito virtuoso, de dar a cada um o que
é seu (razão + experiência). Não vislumbra-se aqui um caráter absoluto, mas uma justiça
variável como a razão humana. O jusnaturalismo tomista tem como uma característica a
mutabilidade, flexibilizando a regra geral onde postula-se que o jusnaturalismo é imutável.
As leis naturais são apreendidas pelo homem (variabilidade), que possuem então a
possibilidade de gerar uma lei humana racional, que quando positivada, deve estar em
consonância com o direito natural e divino. A grande diferença entra Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino é o modo de construir a filosofia. No pensamento tomista tem-se o resgate
da racionalidade e a busca de atos justos, gerando uma abertura parcial em relação ao
agostinianismo, tendo em vista que a fé ainda possui uma maior relevância em face da
razão.
7.6. Entre o jusnaturalismo teológico e o jusnaturalismo racional: Na transição entre o
jusnaturalismo teológico e o jusnaturalismo racional, ocorre o Renascimento, e com este, há
um resgate da filosofia grega. Ocorre também uma visão antropocêntrica na compreensão
do mundo, que passa a ser interpretado a partir de si mesmo, e não mais a partir de Deus;
assim, ocorre uma substituição gradativa do jusnaturalismo teológico a partir do século
XVII. A doutrina jusnaturalista racional passa a possuir o seu fundamento na razão humana.
8. A FILOSOFIA DO DIREITO MODERNA:
8.1. Introdução: Antecedentes históricos: Ocorre uma substituição gradativa do
jusnaturalismo teológico para o jusnaturalismo racional. Antropocentrismo: homem como o
centro. Racionalismo. A filosofia do direito moderna é associada a três movimentos:
renascimento; absolutismo e iluminismo.
- Renascimento: A filosofia de base teológica ainda possui resquícios na Idade Moderna, mas no
renascimento há o resgate (renascer) da filosofia grega. O poder passa a estar centrado no homem,
não mais em Deus (humanismo). Maquiavel foi um nome marcante da época, trabalhou a
racionalização do poder e das ações do político (primeira aproximação do Absolutismo).
- Absolutismo: Aqui passa a ter uma teoria de legitimação do poder real por meio teológico; o
poder do rei era advindo de Deus de modo absoluto. A concentração de poder é legitimada pelo
poder advindo do divino. O rei passa a exercer as leis de forma irrestrita e ilimitada. O poder
concentrado abre margem para a violação de direitos, abusos, etc.
- Iluminismo: Tendo em vista as práticas arbitrárias dos reis absolutistas, o iluminismo traz a
liberdade como valor a ser consagrado (limitação do poder e garantia dos direitos dos cidadãos). O
iluminismo traz as luzes da razão em detrimento da fé. Consegue-se se da noção de fé. No
iluminismo ocorrem as revoluções liberais, e consagra a liberdade. Começa-se a falar na tutela de
valores nessa época. A norma era vista enquanto regra.
8.2. Alguns alicerces da filosofia do direito moderno:
8.2.1. A base econômico-social e o Estado: Ocorre a transição do feudalismo (estático) para o
capitalismo (troca), assim, ocorre a rupturado segregacionismo dos feudos, e passa-se a ter
a unificação dos territórios. Começa-se a pensar em Teoria do Estado, a pós o absolutismo,
surge o Estado Liberal (Estado mínimo), que garantia a liberdade dos indivíduos. Nessa fase
estão os Direitos Fundamentais de 1ª dimensão.
8.2.2. O individualismo: Com os modernos, tem-se uma concepção diferente dos clássicos. O
homem passa a ter ações que se destinam ao seu benefício. Identifica-se um estado de
natureza entre os homens que se relacionam sob a perspectiva individual (é em função do
indivíduo que deve ser posto o Estado).
8.2.3. Teoria do conhecimento e a razão: A marca da filosofia do direito moderna é a razão. O
conhecimento é obtido a partir do sujeito (ontologia representacional). A razão precisa ser
universal, o conhecimento não pode ser causal. Para se falar em um conhecimento racional,
ele deve ser universal, deve ser válido para toda e qualquer pessoa. A teoria do
conhecimento se divide em duas vertentes:
- Racionalismo: Os pressupostos racionais devem se dar por métodos e categorias racionais, a
verdade deve ser estável, universal e racional (o método é um mecanismo viável?). Atualmente, no
direito, tem-se a ponderação (adequação, necessidade e proporcionalidade) como exemplo do uso
do método. Civil Law. O racionalismo traz a necessidade das normas impostas (apreensão racional,
prévia e metódica da norma a ser imposta). As codificações e o sistema jurídico são de cunho
positivista, onde o texto vem antes, e o fato vem depois. Acopla-se o texto e o fato (silogismo
subjuntivo).
- Empirismo: O conhecimento se dá a partir da experiência (percepção das coisas). (Como
alcançar conceitos universais a partir de experiências particulares?). Common Law.
8.2.4. Os contratualistas: Os contratualistas de valem do aspecto racionalista para construir
suas teorias, que geralmente perpassam pelo estado de natureza do homem.
- Thomas Hobbes: o homem em guerra – Estado Absolutista ou Estado Leviatã.
- John Locke: o homem livre – Estado Liberal.
- Jean-Jacques Rousseau: o homem social – Estado Social.
8.3. Thomas Hobbes: (1588 – 1679): Valor fundamental: VIDA.
8.3.1. O contrato social: Hobbes volta-se contra a tradição grega, na medida em que vê o
indivíduo, não como um animal político, mas sim como o um animal individual. Os indivíduos
possuem interesses pessoas que dá origem ao contrato para regulamentar a vida em
sociedade. O estado de natureza do indivíduo era de liberdade irrestrita, que dava margem à
pratica de lesões, invasões, usurpações, etc. Aqui temos os estado de guerra de um contra
os outros, onde o homem possuiria o direito de preservação. “O homem é o lobo do próprio
homem”. Devido a isto, há a necessidade de criação do pacto social, sob autoridade de um
soberano, para a própria preservação da espécie. O Estado Leviatã surge para pacificar a
convivência humana e a preservar a espécie. Através do pacto, o Estado nasce como artifício
humano para a superação do estado de natureza. Os homens abrem mão de suas vontades
subjetivas em prol da coletividade.
8.3.2. O jusnaturalismo hobbesiano: Cada indivíduo vai ceder a sua liberdade, para preservar a
sua própria natureza, através da razão. O direito positivo encontra-se atrelado a um Estado
autoritário que garante a paz (lei civil do soberano). O justo do jusnaturalismo é o direito
estatal. É necessário que o indivíduos obedeçam as leis civis emanadas do soberano, se
submeter de modo quase irrestrito, e alienar os direitos e liberdades. O limite imposto pelo
direito natural é o direito à vida; e o indivíduo pode romper o pacto para garantir a sua
própria vida (direito inalienável).
8.4. John Locke (1632 – 1704): Valor fundamental: LIBERDADE.
8.4.1. O contrato social: Começa-se a pensar na separação de poderes. O poder não deveria ser
exercido de forma absoluta. Discute-se a ideia de um Estado Mínimo, dando origem ao
Estado Liberal. O estado de natureza do homem, segundo Locke, é pacífico, e o homem
deveria ser livre para escolher se unir ou guerrear. A ameaça da paz se dá pela ausência de
um terceiro que julgasse os conflitos, portanto, o contrato social surge para regular a vida
social, visando a diminuição dos conflitos (terceiro com o poder de governar e julgar os
conflitos). A justiça por conta própria passa a ser limitada, logo, precisa-se necessariamente
do Estado. O estado civil deveria proteger os direitos naturais, posição de garantidor. A
missão do estado civil é salvaguardar os direitos naturais que já existiam no estado de
natureza.
8.4.2. Entre o contrato social e o direito natural com Locke: As leis naturais, extraídas na
natureza humana através da razão, devem ser cumpridas por todos os indivíduos. Ninguém
deve prejudicar a outrem (vida, saúde, liberdade ou posses). O estado civil preserva o
estado natural. O objetivo do contrato é a consolidação dos direitos já existentes no estado
de natureza.
 Direito de propriedade: Um dos interesses mais protegidos era o direito de posse, isto
interessava a burguesia (o direito natural à propriedade deveria ser protegido pelo estado
civil). Os indivíduos devem trabalhar na sua posse, sendo que, só seria justo que o
proprietário da terra, fosse dono do que ele e sua família poderiam consumir. Não é indevido
o acumulo de propriedades, pois, existe a troca.
Se as autoridades violarem os direitos naturais, os cidadãos poderiam resistir, e se opor a
essas práticas. A sociedade deve pois, prezar pela manutenção dos direitos naturais.
A filosofia do direito de Locke serve de fundamento para a burguesia em ascensão.
8.5. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778):
8.5.1. O estado de natureza: Antes de se falar em pacto, o homem tende a ser social. O homem
natural (bom selvagem) é livre e é dotado de perfectibilidade (por ser dotado de razão). O
homem em si é bom (estado de natureza), e a sociedade o corrompe (a partir da apropriação
de bens). Segundo Rousseau, a propriedade gera conflitos (ambição e maldade entre os
homens). A vida em sociedade proporciona o pacto espúrio (ilegítimo – acaba garantindo o
direito de propriedade dos ricos).
8.5.2. O pacto social: No pacto social legítimo, a orientação é em direção ao bem comum
(começa-se a se distanciar do individualismo). O homem passa a ser visto como o membro
de um todo (Estado), não mais como um indivíduo isolado. Passa-se a ter a ideia de
cidadania ativa, onde os membros da sociedade são ativos. “O poder emana do povo”. A
base do contrato é a vontade geral (manutenção do bem comum). A ideia de vontade geral
é fixada em conjunto pelos membros do Estado (cidadania ativa), por meio de leis (liberdade
+ igualdade). O sujeito que possuía educação estaria mais encaminhado a buscar o bem
comum.
8.5.3. O jusnaturalismo em Rousseau: O justo é uma mudança dos homens: do individualismo
para a solidariedade. O corpo político oriundo do contrato tem a finalidade de transformar o
Estado. Na teoria de Rousseau deve haver um contrato que exprime a vontade geral, e o
fundamento de toda leu é a noção de justiça (finalidade do pacto + interesse comum). Os
direitos são feitos por homens e para homens.
9. O PROJETO DE MODERNIDADE E O POSITIVISMO JURÍDICO:
9.1. O projeto de modernidade: Em paralelo ao processo de transição entre Idade Média e
Idade moderna, pode-se perceber a gestação de um projeto de modernidade. A
modernidade é muito mais do que uma era, é um projeto social, cultual político, ideológico,
etc., desenvolvido para a emancipação do homem. Haviam pontos positivos e excessos no
projeto de modernidade. Haviam alguns paradigmas em torno deste projeto, relacionados à
ciência, o Estado, a política e o direito, por exemplo. Boaventura Sousa Santos afirma que é
difícil delimitar o lapso temporal exato que indique o surgimento e o desenvolvimentodo
projeto de modernidade, mas ele é pensado principalmente entre os séculos XVI e os anos
finais do século XVIII.
9.1.1. Dois pilares: o da regulação e o da emancipação:
 Pilar da regulação:
a) Princípio do Estado (Hobbes): Há uma relação vertical entre os súditos e as autoridades
soberanas.
b) Princípio do mercado (Locke): As noções de liberdade contribuem para se pensar no princípio de
mercado, e este, seguindo uma linha individualista, atende a lógica da burguesia. ELEMENTO
CHAVE DO PROCESSO.
c) Princípio da comunidade (Rousseau): Ocorre a noção de comunidade.
  Pilar da emancipação:
a) Racionalidade estético-expressivo (da arte e da literatura): Estética, o belo e o feio. É com essa
racionalidade que pose-se inferir noções estéticas, é o estabelecimento de padrões.
b) Racionalidade moral-prática (da ética e do direito): Modelos de conduta, o dever-ser, e etc. É
com essa racionalidade que se estabelecem modelos de conduta, o dever-ser.
c) Racionalidade cognitivo-instrumental (da ciência e da técnica): Estratégica, meios e fins. É uma
racionalidade que consegue alcançar conclusões universalistas, sempre de modo estratégico.
ELEMENTO CHAVE DO PROCESSO.
  Cálculos de correspondência: Cada lógica de racionalidade tem um modo de inserção
privilegiado em um determinado princípio no pilar de regulação:
a) Razão estético expressiva: princípio da comunidade (identidade);
b) Razão moral-prática: princípio do Estado (mínimo ético);
c) Razão cognitiva-instrumental: princípio do mercado (individualismo).
Em algum momento do projeto de modernidade, vai haver um desequilíbrio entre esses cálculos,
que causam uma série de impactos na esfera estatal e no direito.
9.2. O desvirtuamento do projeto: O caráter ambicioso do projeto traz múltiplas
possibilidades, mas também pode trazer excessos. Deve haver a gestão desses esses
excessos, e a gestão e correção (gestão reconstrutiva) deles fica a encargo da ciência.
Começa-se a aproximar o discurso da Teoria do Conhecimento, a uma produção científica. A
racionalidade é característica da ciência, e a racionalidade cognitivo-instrumental passa a
colonizar as demais espécies de racionalidade. O foco da modernidade passa a ser na
ciência e na técnica. Com isso, há o desequilíbrio dos pilares e o princípio do mercado
colonizou os princípios da comunidade e do Estado, principalmente em um contesto de
ênfase do capitalismo e do liberalismo econômico. No direito, ocorrem impactos tanto no
âmbito jusnaturalista quanto no âmbito juspositivista. Após quinze anos da Revolução
Francesa (1789), já se tem o Código Napoleônico. Em um contexto em que a burguesia
ascende ao poder buscando segurança jurídica e estabilidade, ocorre a necessidade de
normas objetificadas (o ser do direito passa a estar no próprio objeto – ontologia
objetificante). Nesse novo contexto, passa-se a pensar em mecanismos metodológicos que
possam viabilizar a aplicação do direito enquanto texto, afasta-se por tanto, a razão moral
prática. Há então, uma ruptura e inversão de racionalidade. Passa-se a pensar o direito
enquanto ciência.
9.2.1. Apreciação histórica: A transição de jusnaturalismo para o juspositivismo ocorre de 1789 a
1804. Até a Revolução Francesa, o jusnaturalismo é predominante. O direito enquanto
codificação possui sua inspiração originária no iluminismo e jusnaturalismo.
9.2.2. Análise crítica: Na França, ainda na época do jusnaturalismo, havia múltiplas legislações
esparsas, mas, neste momento a burguesia ascende, buscando segurança jurídica e
estabilidade, por isso, procurava-se então, um direito simples e unitário. Essas considerações
são ainda incipientes. De 1790 a 1800, começam a nascer projetos de lei que visam a
Texto = lei Fato Lei + fato
Texto análogo Fato Lei + fato
construção do Código Civil, mas por possuírem uma base jusnaturalista (moral-prática),
esses projetos não prosperam. Somente em 1800 ocorre o projeto definitivo há um
abandono da concepção jusnaturalista. Nesse momento pode-se observar a mudança de
racionalidade. Em 1804 surge o Código de Napoleão, e por via de consequência, surge a
Escola de Exegese. Ocorre a entificação do direito, pois o próprio texto continha em si o ser.
9.3. Escola de Exegese:
9.3.1. Aspectos gerais: A ideia de exegese se volta pra o comentário e a explicação de textos.
 Três períodos:
a) 1804 – 1830: os primórdios;
b) 1839 – 1880: o apogeu;
c) 1880 em diante: o declínio.
9.3.2. Causas: Segundo esta Escola, era possível abarcar todas os conflitos, resolvendo-os a partir
do texto. Temos aqui o princípio da autoridade (vontade do legislador). A partir de um ato do
legislativo, há a produção da essência do próprio direito. A vontade do legislador é expressa
sempre de modo seguro e completo. Os juristas se limitavam ao que era dito pelo legislador
(operador do direito).
 Justificação de fidelidade ao Código: Doutrina da separação dos poderes; o julgador não
podia criar o direito; o juiz devia ser somente a boca através da qual fala a lei (Montesquieu). O
juiz deve utilizar o que já está positivado, pois, o que está posto, contém o ser.
 Princípio da certeza do direito (ou das leis): Há uma espécie de corpo estável das leis, há
previsibilidade da resposta que será dada pelo direito, com isso temos a segurança jurídica e
estabilidade tão visadas pela burguesia. O silogismo subsuntivo é um meio para que se possa
aplicar o direito enquanto texto. O silogismo enseja que o direito enquanto acoplado ao fato,
possuirá uma previsão legal prévia no código. No âmbito de aplicação das regras, utiliza-se a
subsunção, que promove a junção entre o direito e os fatos (como peças de lego que se
encaixam perfeitamente). O fato da vida se encaixa perfeitamente com o suporte fático previsto
no direito. O ensino jurídico passa a ser restrito ao direito positivo. A ênfase passa a ser o direito
positivo, não se nega totalmente o direito natural, mas este é desvalorizado em face ao direito
positivo. O direito natural é irrelevante enquanto não for incorporado ao direito positivo.
9.3.3. Características: Com o direito positivo, passa-se a ter uma concepção rígida do direito
estatal (monismo jurídico). As normas jurídicas são exclusivamente as normas postas pelo
Estado (princípio da onipotência do legislador). O julgador deve possuir uma neutralidade
axiológica (não valorar). A interpretação da lei deve estar fundada na vontade do legislador
(teoria subjetiva). Os objetivistas passam a desvincular a vontade do legislador da
interpretação, que deve ser feita a partir da vontade da lei. Em síntese, as características
marcantes da Escola de Exegese eram: interpretação literal (visão metafísica objetificante),
o juiz como operador do direito de forma mecânica (subsunção).
9.4. A crise da Escola de Exegese:
9.4.1. As lacunas da lei: “Artigo 4º: O juiz que se recusar a julgar sob o pretexto do silencio, da
obscuridade ou da insuficiência da lei, poderá ser processado como culpável de justiça
denegada” – O juiz deve em cada caso resolver a controvérsia (juízo de non liquet). Surge o
questionamento sobre a possibilidade de resolver um caso sem criar uma nova lei).
9.4.2. A analogia: Mecanismo criado pela Escola de Exegese para justificar a completude do
Código, possibilitando ao juiz a resolução dos casos sem que haja a necessidade da criação
de uma nova norma. A analogia busca adaptar outro texto legal ao fato. A premissa maior
disso é que a partir do conjunto de textos, pode-se resolver o caso.
9.5. Exegeta:
9.5.1. Exegeta primitivo: literalidade + lacunas;
9.5.2. Exegeta mais moderno: interpretação sistemática + modelo de integração de analogia.
Aplicação do direito que se manteve (século XIX).
10.HERMENÊUTICA JURÍDICA CLÁSSICA:
10.1.Reflexão inicial: Quando fala-se em hermenêutica é importante observar que não há
somente uma hermenêutica. A interpretação jurídica é um problema normativo no primeiro
momento, ou seja, tendo em vista o fato de que o direito estava relacionado a uma
perspectiva textual, o interprete se vale de elementos normativos para fazer a
interpretação. É importante diferenciar a hermenêutica jurídica clássica (metódica) da
hermenêutica filosófica, que faz uma crítica muito forte ao método.
10.2. A concepção tradicional da interpretação jurídica:
10.2.1. Objeto da interpretação: O objeto da interpretação da hermenêutica jurídica clássica é
justamente o texto nas normas legais (extrair a essência da lei).
 Pressuposto: A existência de um texto com um sentido previamente dado.
10.2.2. Origem política: Resulta do legalismo assumido pelo positivismo jurídico. Com o
positivismo jurídico o direito reduziu-se ao direito posto nas leis (expressão da autoridade do
legislador, segurança jurídica, princípio da separação dos poderes).
10.2.3. Sentido hermenêutico e sentido positivista: O texto enquanto objeto da
interpretação pode sofrer duas especificações: no sentido positivista a interpretação ocorre
pelo texto e só no texto, no sentido hermenêutico a interpretação se dá através do texto. O
texto é um ente e a norma é um determinado sentido que se dá ao ente.
10.2.4. O modelo metódico da Teoria Tradicional (positivista) da interpretação:
10.2.4.1. Objetivo da interpretação: O ponto comum é o fato de que o objeto da interpretação é
o próprio texto.
 Teoria subjetivista: Busca-se a vontade do legislador. O direito é a expressão da vontade
política. Essa teoria se fundamenta na soberania do legislativo e na segurança jurídica.
 Teoria Objetivista: Busca-se o sentido objetivamente assimilado pelo próprio texto da lei. O
autor da lei não é o legislador, mas o Estado (comunidade política jurídica). Interpretação atual:
a lei pode ser juridicamente mais sábia do que a intenção do seu autor.
10.2.4.2. Elementos da interpretação: Busca-se traçar um processo para atingir os objetivos.
Distinção inicial entre letra e espírito: quando se fala em letra, se busca a literalidade,
quando se fala em espírito, busca-se captar o sentido de uma determinada lei.
 Gramatical: Uma identificação entre o objeto da interpretação e o texto. A partir da literalidade
pode-se captar o espírito da lei. O elemento gramatica é insuficiente pois muitas vezes o texto
não consegue abarcar a complexidade social. O texto é uma síntese precária da realidade.
 Histórico: Há uma referência ao contexto histórico. Observa-se a gênese do preceito a partir de
alguns fatores, tais como: o processo de elaboração legislativa, a circunstância jurídico-social do
seu surgimento e a própria história do direito em latu sensu.
 Sistemático: Considera a unidade a coerência do sistema jurídico, a norma deve ser
compreendida em função do seu contexto. Pressuposto: a racionalidade do todo unitário que o
direito deve constituir.
 Teleológico ou racional: O sentido da norma deve se dar a partir da finalidade da mesma. A
interpretação ocorre como um ato unitário.
10.2.4.3. Os resultados da interpretação: algumas possibilidades:
 Interpretação declarativa: Há uma equivalência entre a letra e o espirito da lei. Com a
literalidade capta-se o sentido da lei.
 Interpretação restritiva: A letra da lei está além do espírito da lei, por isso, deve-se restringir
a letra da lei para que ocorra a equiparação entre letra e lei.
 Interpretação extensiva: A letra está aquém d espírito da lei. O espírito da lei ultrapassa a
literalidade.
11.TEORIA PURA DO DIREITO:
11.1. Hans Kelsen e a Teoria Pura do Direito: O objetivo da teoria proposta por Kelsen é
conferir à ciência jurídica um método e um objeto próprios, capazes de superar as
confusões metodológicas. Não é possível falar em apenas uma hermenêutica jurídica
clássica, o que ocorre é que se convencionou a chamar um período de clássico onde várias
concepções teóricas se inserem.
11.2. A dupla purificação: O foco da Teoria Pura do Direito é a construção de um conhecimento
científico do direito, e, essa busca se dá através de um trabalho de epistemologia jurídica
(teoria do conhecimento cientifico do direito). Para Kelsen, para que ocorra a construção do
conhecimento deve-se ter um objeto jurídico bem delimitado: a norma.
 Ciência do direito: É o foco da teoria do direito puro de Kelsen. O sujeito que faz a ciência do
direito são os acadêmicos, segundo Kelsen (os doutrinadores). O cientista do direito deve
ocupar-se exclusivamente da norma posta.
 Política do direito: É feita pelos sujeitos que trabalham com a perspectiva fática (advogados,
magistrados, delegados). Na política do direito trabalha-se com a prática. Todos os fatores
interferentes na produção da norma (aspectos valorativos) devem ser observados pela política
do direito.
CIÊNCIA DO DIREITO POLÍTICA DO
DIREITO
Estuda somente a norma (para que a ciência
seja pura)
Estuda-se fato e
valor
O conhecimento cientifico deve ser puro e neutro, e por isso não deve haver a presença de fatos
e valores. O magistrado em Kelsen já sofre a influência de fatos e de valores. Kelsen não ignora
a presença dos aspectos fáticos e valorativos. O foco está direcionado para a norma, mas não há
o abandono dos fatos e dos valores. A ciência do direito deve ser neutra, não a política do
direito.
Constituição Federal
Leis complementares
Leis ordinárias
Medidas provisórias e leis delegadas
Resoluções
11.3. Dinâmica e estática jurídica: Na perspectiva estática, as normas se relacionam a partir
do seu conteúdo. Na perspectiva dinâmica, observa-se as normas no seu processo de
produção/aplicação (temas como validade e unidade por exemplo). Kelsen considera o
sistema jurídico essencialmente dinâmico.
11.4. Norma e proposição jurídica: 
 Norma: As normas jurídicas em Kelsen são prescrições de dever ser. Há a prescrição de uma
sanção para agentes que pratiquem condutas ilícitas. O ordenamento Kelseniano é basicamente
coercitivo, o elemento sanção é fundamental. As normas jurídicas devem ser editadas pelas
autoridades competente, logo, resulta de um ato de vontade e devem ser válidas ou inválidas. A
teoria do ordenamento de Kelsen se encontra estruturada de forma hierárquica piramidal.
 Proposição jurídica: Descreve a norma jurídica e decorre de um ato de conhecimento,
basicamente produzido pela ciência do direito. A proposição reflete um juízo hipotético: afirma
que dada a conduta descrita na lei, deve ser aplicada a sanção também estipulada na lei. A
proposição emana da doutrina e tem natureza descritiva, decorrendo de eu ato de
conhecimento. A proposição jurídica pode ser verdadeira ou falsa e, descreve uma norma
jurídica.
11.5. Teoria da norma: O direito é definido como uma ordem coativa, impositiva de sanções.
 Estrutura normativa: Dado F (fato temporal), deve ser P (prestação), e dano não P (não
prestação), deve ser S (sanção). Exemplo: O pai que possui filho menor deve prestar-lhe
assistência material. Dada a não prestação material de assistência material ao filho menor, deve
ser submetido a uma sanção (penalidade).
As outras normas que se limitam a estabelecer definições não possuem autonomia segundo
Kelsen, mas se ligam intrinsecamente a outras de natureza sancionatória. As normas dotadas de
sanção são chamadas normas primárias. As normas que não possuem uma sanção descritas são
chamadas de normas secundárias.
 Validade da norma: A validade da norma depende inicialmente de sua relação com a norma
fundamental. No sistema dinâmico as normas são analisadas a partir do seu processo de
produçãoe aplicação. A norma jurídica é válida se emanada de autoridade competente para a
editar.
11.6. Teoria do ordenamento:
 Teoria piramidal:
 Norma fundamental: Existe uma norma que não é posta, mas sim pressuposta. Acima da
Constituição há uma norma que existe no plano hipotético, e esta é fundamental para todas as
relações legais. Aqui há uma relação com a metafísica representacional, onde o ser das coisas
encontra-se no sujeito. Tal norma prescreve a observância da Constituição e das normas
jurídicas por ela fundamentadas.
 Validade e eficácia: Para uma norma ser válida ela deve possuir um mínimo de eficácia.
Analisa-se isto a partir de dois planos: a norma de forma isolada e a norma de forma global
(plano global da ordem positiva). Qualquer norma jurídica totalmente ineficaz é invalida. A
eficácia global se mostra como uma condição de validade. A validade não se confunde com a
eficácia, esta é apenas condição daquela.
11.7. Hermenêutica Kelseniana:
11.7.1. Interpretação autêntica e inautêntica e metáfora da moldura: Interpretação
autêntica (órgão com competência para a aplicação da norma) ≠ interpretação inautêntica
(cientista do direito). A interpretação inautêntica fixa os significados. A ciência do direito se
restringe à identificação das múltiplas significações atribuídas a dada norma.
 A indeterminação da norma: Para Kelsen a norma é dotada de indeterminação, seja pela
ambiguidade, seja porque a autoridade competente lega a um outro órgão a continuidade
normativa (exemplo: Constituintes originário legando função ao legislador infraconstitucional).
 Metáfora da moldura: O texto é um ente e não há ser sem ente. Ou seja, o sentido atribuído
ao ente texto é a norma. O cientista do direito deve delimitar os sentidos da norma, mas,
mesmo assim, dentro dessa delimitação ainda existem vários sentidos possíveis para
determinadas normas. Dentro dessa moldura deve ocorrer uma interpretação autentica, ou seja,
deve ocorrer pelo político do direito. No interior da moldura existem aspectos fáticos e
valorativos, ocorre uma contextualização teórica que vai além do âmbito normativo.
11.7.2. Aplicação da norma: Um dos significados deverá prevalecer, a autoridade competente
irá decidir a partir de um ato de vontade (ato político). Ocorre aqui a afirmação da
pluralidade de significações cientificamente pertinentes de cada norma. Rejeita-se a
possibilidade de a ciência encontrar o sentido único da norma (a ficção da única
interpretação correta). Há aqui o problema do decisionismo do intérprete.
12.TEORIA EGOLÓGICA DO DIREITO:
12.1. Carlos Cossio: notas biográficas: Nasceu em 1903 na Argentina. É possível estudar o
direito como norma, fato e valor. Para Cossio, o direito é conduta humana e interferência
subjetiva. Morreu em 1987. Cossio contou com um grupo amplo de seguidores, entre eles
Antônio Luís Machado Neto (Salvador – 1930 – 1977).
12.2. Cossio e o egologismo: A Teoria Egológica do Direito é uma proposta jusfilosófica de
compreensão do direito. Possui como base a teoria de Hans Kelsen, a teoria dos objetos e
as ideias da fenomenologia de Edmund Husserl e o existencialismo de Martin Heidegger.
Cossio parte de uma crítica a construção neopositivista do pensamento Kelseniano pois faz
crítica ao reducionismo normativista. Segundo Cossio não se pode fazer uma filosofia do
direito às secas. A Teoria Egológica incorpora uma dimensão lógica da Teoria Pura do
Direito, mas trabalha com objeto totalmente diferente: a conduta humana.
12.3. A importância de Edmund Husserl:
 A fenomenologia: O propósito da fenomenologia é voltar às coisas mesmas. As coisas devem
ser compreendidas do modo mais originário possível. Questiona-se qual é o modo mais
originária se compreender o direito. Para o Cossio a forma mais originária do direito é a conduta
humana (o fato precede a norma). Nem toda conduta que interfere na conduta de outrem
interessa ao direito.
 A Teoria dos Objetos:
- Objetos ideais: (irreais – exemplo: números, cálculos, gráficos, etc.). Ciências formais
(matemáticas e lógica).
- Objetos naturais: (reais – exemplo: caneta, parede, etc.). Ciências naturais.
- Objetos metafísicos: (existência real + dimensão não natural ou ideal – exemplo: cruz + valor
religioso). 
- Objetos culturais: (reais, estão na experiência e são conhecidos mediante a compreensão).
Ciências humanas, sociais e culturais. Se subdividem em objetos mundanais (físicos, passíveis de
atribuição de sentido pelo próprio ser humano), e egológicos (cultura humana – a conduta humana
é um ente, é algo que se pode enxergar, desta forma é possível observar o sentido de algumas
condutas humanas).
12.4. A Teoria Egológica do Direito:
 O sentido de Direito: O direito é um objeto egológico, por consistir em conduta humana e em
interferência intersubjetiva. Enquanto objeto egológico, o direito deve ser compreendido e não
subsumido. A subsunção de textos servia para uma sociedade de baixa complexidade. Na
sociedade complexa, os textos se mostram insuficientes, logo, há a necessidade da criação de
novos mecanismos cognitivos. A partir de 1920, tem-se o liberalismo, atendendo as pautas de
uma sociedade cada vez mais completa, e com isso, observa-se a insuficiência dos textos.
 O método empírico-dialético: Método da compreensão do fenômeno jurídico. Empírico pois
exige a constatação empírica da conduta (substrato natural), algo passível de ser percebido e
experimentado. Dialético: requer um ir e vir entre o substrato material (conduta) e o sentido
despertado pela conduta. Segundo Cossio, é na realidade fática que se compreende cada vez
melhor o direito. Circularidade compreensiva (pré-compreensão x compreensão). O direito em
Cossio não está no ente (conduta), mas sim no sentido atribuído a esta conduta. A essência não
está na própria conduta. Na fenomenologia tenta-se compreender o direito da forma mais
originária possível, neste caso, a coisa mesma será a conduta humana.
 Teorias positivistas x Teoria Egológica: A Teoria Egológica preocupa-se com a compreensão
do fato: para Cossio há uma inversão do binômio: texto → fato, que passa a ser o binômio: fato
→ texto. O papel do texto passa a ser de alicerce para a compreensão da conduta humana.
 Norma jurídica x Kelsen x Cossio: A norma jurídica na Teoria Egológica: norma enquanto
esquema lógico de compreensão da conduta humana. Liberdade ontológica. Lógica-analítica da
conduta humana: Dado F (fato temporal) deve der P (prestação) ou dado não P (prestação),
deve ser S (sanção). O juízo disjuntivo “ou”: impossibilidade de duas condutas ao mesmo tempo
+ liberdade ontológica. Endonorma (lícito) e perinorma (ilícito).
Kelsen Cossio
Dimensão
lógica
Imperatividade Descrição da conduta
Juízo da norma Conjuntivo “e” Disjuntivo “ou”
Binômio Texto → fato Fato → texto
Estrutura das
normas
Norma primária e norma
secundária
Endonorma e perinorma
12.5. Considerações finais: O fundamento do sistema jurídico em Cossio remete a uma síntese
da construção histórica e existencial. O sentido que atribui-se a determinadas condutas
reflete uma trajetória histórica e existencial de outras condutas anteriores que interferem
intersubjetivamente na conduta de outrem. Nesta teoria chama-se atenção para questões
como a alienação. Quando se fala em dialética, imersão empírica e a coisa mesma, se quer
chamar atenção para questões como a alienação jurídica. “A interpretação não tem por
objetivo a norma, mas sim a conduta” (PINTO, 1999, p.89).
13.TEORIA TRIDIMENSCIONAL DO DIREITO:
13.1. Miguel Reale: notas biográficas: Nasceu em 06/11/1910, em 1934 e formou pela USP.
Ficou conhecido como formulador da Teoria Tridimensional do Direito. Faleceu em
14/04/2006 em São Paulo.
13.2. Teoria tridimensionaldo direito: Pensa-se em uma outra teoria que também se insere
no bojo do culturalismo jurídico. Trabalha-se aqui a dimensão normativa, fática e valorativa.
Critica o reducionismo normativista de Kelsen.
 O sentido de direito: é uma concepção jurídico-filosófica que entende o direito a partir de
uma estrutura tridimensional e como “uma integração normativa de fatos segundo valores”
(REALE, 1944, p.119).
 Tridimensionalismo x reducionismo neopositivista: Objeto da ciência do direito acaba
recebendo a inclusão da dimensão fática e da dimensão valorativa. Mesmo assim, há a
manutenção da dimensão normativa (que é muito próxima da noção Kelseniana – juízo
conjuntivo). Fato, valor e norma devem ser observados como dimensões de um mesmo objeto.
 Dialética da complementariedade: Questiona-se inicialmente em que medida essa dialética
se distancia da dialética clássica (hegeliana-marxista). Fato, valor e norma deve interagir de
forma complementar na dialética da complementariedade. Ocorre uma síntese provocada por
uma divergência, uma aproximação. Não se trabalha mais com a subsunção mas sim o método
da dialética da complementariedade.
Fato → valor → norma = ciência do direito
Norma →valor → fato = sociologia do direito
Fato → norma → valor = filosofia do direito
“O direito é sempre fato, valor e norma, para quem quer que o estude, havendo apenas
variação no ângulo ou prisma de pesquisa”. (REALE, 1994, p.121).
“O direito só se constitui quando determinadas valorações dos fatos sociais culminam numa
integração de natureza normativa” (REALE, 1994, p.103). – O valor incide sobre um fato para
que se tornem produções normativas.
A norma não surge aleatoriamente, e pode sofrer alterações pelas mudanças no plano dos fatos
e valores. A norma deve sofrer alterações para que possam acompanhar as mudanças nos
planos fáticos e valorativos (exemplo: antigamente reconhecia-se a união estável entre homem
e mulher. Com o passar do tempo, há uma mudança fática e valorativa acerca disto, e a norma
passa a reconhecer a união estável entre os indivíduos do mesmo sexo). Questiona-se qual a
medida da complementariedade: Reale transposta esta resposta para o problema hermenêutico;
ou seja, através da interpretação do direito indica-se qual a justa medida da
complementariedade. Em meio ao processo interpretativo o sujeito inclui os seus valores. Se
retira o valor do objeto para o sujeito, há o risco da ruptura da própria teoria do autor. Reale
procura promover uma adequação, mantendo a metafísica objetificante como estrutura da base
teórica, mas reconhece a importância do processo interpretativo.
 Estrutura normativa: Lógica-analítica. Ocorre uma aproximação com a estrutura de Kelsen
acerca das normas de conduta, pois Reale também trabalha com um sentido conjuntivo, porém
há ressalvas. Reale faz uma análise crítica a Teoria Pura de Direito: a estrutura normativa
kelseniana se limita às regras de conduta. A noção de norma na Teoria Tridimensional é ampla,
pois abrange regras e organização e de conduta.
 Ordenamento jurídico: Fato, valor e norma. Aproximação com a teoria dos sistemas. O
ordenamento só pode ser percebido se o sistema estiver in acto (na sua aplicação) (exemplo:
domingo x segunda – percepção do colégio). O fundamento do sistema jurídico de Reale é a
racionalidade moral-prática, historicamente construída (o direito é um fenômeno histórico, e as
normas se alteram juntamente com a mudança de valores construídos historicamente através
da facticidade). Resgata o senso de racionalidade moral-prática (da ética, do direito, dos meios
e fins) que foi perdido quando houve o desvirtuamento de projeto de modernidade. Reaproxima-
se o direito da dimensão valorativa.
13.3. Cossio x Reale: a) Dimensão normativa: em Reale é dotada de coercitividade, no
Egologismo é complicado falar na estrutura normativa dotada de imperatividade, pois
ocorre uma inversão do binômio e a norma surge como consequência do elemento fático;
b) Dimensão valorativa: para Cossio surge como sentido da conduta (metafísica
representacional caminhando para a ontologia contemporânea) e para Reale surge no
próprio objeto (metafísica objetificante); c) Dimensão normativa: Cossio trabalha com um
sentido disjuntivo, enquanto Reale trabalha um sentido conjuntivo.
14. ROBERT ALEXY – MODELO DE REGRAS E PRINCÍPIOS:
14.1. Robert Alexy: notas biográficas: Nasceu em Oldenburg, Alemanha, 1945. Graduou-se 
em direito e filosofia pela Universidade de Göttingen.
14.2. Modelo de regras e princípios: Trabalha vetores racionais, afim de se alcançar um
resultado racional.
 O sentido de cada termo:
a) Regras: normas que só podem ser cumpridas ou não. As regras contêm determinações
(definitivas) no âmbito do fático e juridicamente possível. *Clausula de exceção: abre-se uma
exceção para um conflito de regras onde ambas são válidas. As regras são aquelas normas que
prescrevem uma obrigação, proibição ou faculdade, que devem ser realizadas na exata medida
de suas prescrições. Regras entram em conflito.
b) Princípios: normas que “ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das
possibilidades jurídicas e fáticas existentes”, são mandamentos de otimização. Princípios
colidem. Utiliza-se o sopesamento e a ponderação. Os princípios são abstratos.
 Distinções entre regras e princípios: Alexy trabalha com uma distinção qualitativa que se
fixa na estrutura lógica distinta destinada as regras (subsunção) e aos princípios (ponderação) –
o que difere de um critério fraco (generalidade e abstração). Os princípios jamais serão
absolutos, a depender do caso concreto, relativiza-se um direito através da ponderação e do
sopesamento. 
14.3. Proporcionalidade: É um mecanismo que irá auxiliar o controle racional da ponderação. A
proporcionalidade em sentido. Na adequação observa-se se um meio é adequado ou não
para alcançar determinadas finalidades, ou seja, se é capaz de atingir o objetivo proposto.
Na necessidade, tem-se que investigar se não há outro meio mais ameno ou menos
interventor, numa análise comparativa; observa qual o meio que irá causar menor dano,
menos restrição de direitos fundamentais. Quanto maior for o grau de não satisfação de um
princípio, tanto maior terá que ser a importância de satisfação do outro. O grau de
satisfação de um bem deve justificar o grau de restrição de um outro bem.
14.4. Estudo de caso:
14.4.1. O caso Ellwager: O STF jugou um habeas corpus que tinha como paciente Ellwanger,
condenado pela prática de racismo. Ellwanger era um escritor e editor brasileiro que se
notabilizou por seus escritos, considerados antissemitas pelo incitamento à discriminação
racial. Em 2002 o habeas corpus foi para o STF (HC nº 82.424). Este é o primeiro caso onde
aplica-se a proporcionalidade no Direito Brasileiro. Os ministros Gilmar Mendes e Marco
Aurélio afirmam utilizar a máxima da proporcionalidade. Um dos ministros entendeu que o
ato seria proporciona, e o outro, que o mesmo ato seria desproporcional, chegando a
resultados distintos. Ellwanger foi condenado pelo STF.
14.4.2. Adequação: Os princípios adotados por Gilmar Mendes foram o princípio da dignidade
humana e do pluralismo político. O princípio adotado por Marco Aurélio foi o da liberdade de
pensamento e expressão
14.4.3. Necessidade: Segundo Gilmar Mendes a sentença condenatória é necessária, pois não
há outro meio menos gravoso e igualmente eficaz. Para Marco Aurélio deve-se garantir a
liberdade de manifestação do pensamento e a preservação dos livros, por crer que a
condenação do paciente sequer garantiria a dignidade do povo judeu.
14.4.4. Proporcionalidade em sentido estrito: Para Gilmar Mendes, a proporcionalidade em
sentidoestrito é atendia, pois preserva valores inerentes a uma sociedade pluralista e da
dignidade humana, enquanto onera a liberdade de expressão que não deve alcançar a
intolerância racial e o estímulo à violência. Segundo Marco Aurélio não é proporcional em
sentido estrito condenar o paciente, pois não há indícios de que o livro causará manifestação
de violência por parte dos leitores.
14.5. Análise crítica: O controle analítico não elimina os espaços para a discricionariedade.
Ocorre uma busca por um critério racional: lei da colisão (juízo de proporcionalidade,
modelo de regras e princípios) + teoria da argumentação jurídica (modelo argumentativo).
Racionalidade procedimental x respostas distintas.
 Compreensão – interpretação – aplicação (fenômeno uno): Na compreensão sempre
há antes um pré compreensão (explicita uma carga empírico existencial intrínseco ao
sujeito). É necessário haver uma abertura reflexiva, para rever o que já foi compreendido ou
para compreender o que foi mal compreendido. Interpretamos porque compreendemos, e
sempre se interpreta para aplicar. A partir desta tríade é possível compreender melhor os
casos de modo individual, e promover mais justiça na hora da aplicação do direito. Ao
afirmar que a o método da ponderação está correto, ignora-se o acontecer compreensivo,
parte-se de um grau zero compreensivo, o que na realidade não acontece, pois todos já
possuem uma compreensão prévia (circularidade compreensiva: compreensão x pré-
compreensão).
14.6. Acerca do artigo: Para Alexy há grande importância da racionalidade dos juízos de
ponderação entre os princípios jurídicos. Nos casos em que o direito positivo não fornece a
resposta para os problemas concretos, surge a exigência de uma decisão judicial que
considere os princípios jurídicos envolvidos. A decisão pode ser considerada aceitável se
racionalmente fundamentada mediante a utilização de argumentos que suportem a
atribuição de valores aos elementos da intervenção, satisfação e certeza quanto às
premissas fáticas. A argumentação jurídica é a forma de demonstrar a correção da decisão
que pondera princípios jurídicos.
15.DWORKIN: DE QUE MANEIRA O DIREITO SE ASSEMELHA À LITERATURA?
15.1. Ronald Dworkin: notas biográficas: Nasceu em 11/12/1931 e morreu em 14/02/2013,
sendo um dos principais teóricos da Filosofia do Direito. As principais contribuições de
Dworkin é a inclusão da dimensão principiológica e criação da teoria da interpretação.
15.2. Entre as inadequações do positivismo jurídico e a concepção de Dworkin: Visa
traçar uma Teoria da Interpretação para fornecer base hermenêutica para as decisões
judiciais dos hard cases, onde há colisões entre princípios e ausência de regra específica
para reger os casos. Dworkin x tradição positivista (casos difíceis → decisões diversas →
discricionariedade). Os casos difíceis suscitam decisões diversas que dão abertura para a
discricionariedade.
A teoria desenvolvida por Dworkin deve ser observada a partir de duas críticas à versão
apresentada por Hebert Hart acerca do positivismo. O positivismo jurídico concentra o seu
modelo teórico nas regras, mas, segundo Dworkin o direito deve ser visto como um
conjunto de regras e de princípios. As regras primárias e secundárias são dotadas de
indeterminação, e esta indeterminação pode dar espaço para a discricionariedade ao
magistrado, e o juiz deveria “criar o direito” e aplica-lo retroativamente ao caso”. Segundo
Dworkin, o interprete aplicador do direito tem o dever de observar todo o ordenamento
jurídico para que se possa de fato atribuir uma resposta não discricional, e para o autor, o
juiz tem o dever de descobrir quais são os direitos das partes, mesmo nos casos difíceis.
Isso não significa dizer que a teoria de Dworkin fornece um procedimento mecânico.
Pressupõe-se que os juízes irão frequentemente divergir sobre os direitos jurídicos. O direito
deve ser íntegro pra o autor, onde um juiz não deve mudar a sua linha decisória o tempo
todo
15.3. Tese da única resposta correta: Não afirma que, semanticamente, qualquer juiz
chegaria a uma mesma resposta. Não há a exigência para se chegar, ainda que
aproximadamente, a uma solução ideal. Essa tese é uma questão de postura e atitude do
interprete do direito, que deve ser auto reflexiva, crítica, construtiva, interpretativa e
fraterna, em face do direito como integridade. A tese não defende a unicidade de resposta
correta, mas sim a atitude que o interprete deve assumir para enfrentar os hard cases. É
como se houvesse um direcionamento ao acerto, mas acertar é uma possibilidade, bem
como errar. Não se pode afirmar que a reposta será absoluta, mas sim provável. O juiz
Hércules é aquele dotado de capacidade e sagacidade sobre humana, que trabalha do caso
geral para o particular e que consegue resgatar a principiologia de toda a história
institucional. Por meio dos princípios pode-se regatar uma razão moral-prática, que é
fundamental para o acontecer interpretativo. Ao trabalhar a ideia de integridade, Dworkin
diz que não é admissível que um sistema jurídico integro admita divergências entre
precedentes acerca de um mesmo tema. Isso não significa que deve-se eliminar as
divergências de projetos compreensivos distintos, o problema é fornecer decisões judiciais
diametralmente opostas. 
15.4. De que maneira o direito se assemelha à literatura? Segundo Vera Karam, a
elaboração da resposta correta sugere a analogia da prática jurídica com o exercício
literário.
15.4.1. A interpretação jurídica e a literatura: Tese: “A prática jurídica é um exercício de
interpretação, não apenas quando juristas interpretam documentos ou leis específicas, mas
de modo geral”. Propostas: “Podemos melhorar nossa compreensão do Direitos comparando
a interpretação jurídica com a interpretação em outros campos do conhecimento,
especialmente a literatura”. O Direito, adequadamente compreendido, “propiciará um
entendimento melhor do que é a interpretação geral”. Compreende-se melhor o direito
quando a interpretação do jurista encontra-se aberta a outros campos do saber. Na literatura
há mais teorias acerca da interpretação do que no direito. Seria bom se os juristas
estudassem a interpretação literária e outras formas de interpretação artística.
15.4.2. A interpretação do sentido de uma obra como um todo: A interpretação literária,
para ser bem aproveitada, deve ser analisada a partir de determinada perspectiva, qual seja
a analise entre todo e parte e parte e todo de uma obra (exemplo: um bom resumo é aquele
que consegue sintetizar os principais pontos que serão aprofundados na sequência, e, um
bom sentido de todo facilita a compreensão das partes, já que o indivíduo terá logo no início
uma pré compreensão). As afirmações interpretativas dizem respeito ao objeto ou sentido da
obra como um todo, não ao sentido de uma expressão particular.
15.4.3. A interpretação como a melhor obra de arte: “A interpretação de uma obra literária
tenta mostrar que maneira de ler (ou de falar, dirigir, ou representar) o texto revela-o como
a melhor obra de arte”. Existem algumas críticas em relação a este ponto: “existem somente
interpretações e nenhuma interpretação melhor de qualquer poema, romance ou peça”. A
resposta de Dworkin é o seguinte: “a interpretação de um texto tenta mostra-lo melhor obra
de arte que ele pode ser”. Não cabe ao juiz criar novos direitos: “a diferença entre explicar
uma obra e transformá-la em outra”. “Uma teoria da interpretação deve conter uma
subteoria sobre a identidade de uma obra de arte”.
15.4.4. A metáfora do romance em cadeia: Não há uma separação estanque entre o papel

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