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1 TRATAMENTO DE LODO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA: PRINCIPAIS UNIDADES E EQUIPAMENTOS PARA ADENSAMENTO E DESAGUAMENTO MECÂNICO, INCLUINDO PRINCIPAIS DESTINOS PARA O LODO DESIDRATADO LUCIANO PACHECO(1); LUCIANA PAULO GOMES(2); (1) Acadêmico do curso de Especialização em Engenharia de Saneamento. Universidade do Vale do Rio dos Sinos – lucpach@gmail.com; (2) Professora Doutorado Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade do Vale do Rio dos Sinos –lugomes@unisinos.br RESUMO O presente estudo teve por objetivo apresentar as principais unidades e equipamentos para adensamento e desidratação do lodo e avaliar também os principais destinos. A principal abordagem sobre o assunto do tratamento do lodo está relacionado as ETAs convencionais devido ao tipo de concepção de maior ocorrência no Brasil e por esse tipo de concepção se caracterizar pela maior produção de lodo. Inclusive, a maioria dessas ETAs não possui tratamento de lodo. Nesse estudo, verificou-se a necessidade de se conhecer melhor as características do lodo (micro e macro propriedades) para embasamento na escolha da melhor solução para adensamento e desaguamento do lodo de ETA. Sobre as tecnologias apresentadas para adensamento e desaguamento do lodo, não é possível apontar a melhor solução, isso seria um tema para um novo estudo, pois existe uma série de arranjos possíveis que variam de acordo com a qualidade da água bruta, concepção da ETA, espaço físico e questão econômica. No Brasil, os destinos de lodo mais usuais são: disposição em aterro, aplicação controlada no solo, compostagem, fabricação de material cerâmico, aplicação em concreto e lançamento em sistemas de tratamento de esgotos. Entretanto, algumas alternativas de disposição ainda necessitam de comprovação da viabilidade técnica, por isso, há a necessidade de aprofundar mais as pesquisas relacionadas aos impactos, sejam econômicos ou ambientais. Palavras-chave:Estação de Tratamento deÁgua, Tratamento de Lodo, Gestão de Resíduos Sólidos. 2 SLUDGETREATMENT OF WATER TREATMENT PLANT: MAIN UNITS AND EQUIPMENTS FOR TICKENING AND DEHYDRATION, INCLUDING MAJOR DESTINATIONS FOR DEHYDRATED SLUDGE ABSTRACT The objective of the present study was to present the main units and equipment for the densification and dewatering of sludge and also to evaluate the main destinations. The main approach on the subject of sludge treatment is related to the conventional WTP due to the type of conception of greater occurrence in Brazil and because this type of design is characterized by the greater production of sludge. In fact, most of these WTP do not have sludge treatment. In this study, it was verified the need to know better the characteristics of the sludge (micro and macro properties) for basement in the choice of the best solution for densification and dewatering of WTP sludge. Regarding the technologies presented for the densification and dewatering of the sludge, it is not possible to point out the best solution, this would be a theme for a new study, because there are a number of possible arrangements that vary according to raw water quality, WTP design, Physical space and economic issue. In Brazil, the most common sludge destinations are landfill disposal, controlled soil application, composting, manufacture of ceramic material, application in concrete and launch in sewage treatment systems. However, some alternatives of disposal still need to prove technical feasibility, so there is a need to further deepen the research related to impacts, whether economic or environmental. Key-words: Water Treatment Plant; Sludge Treatment; Solid Waste Management. 1. INTRODUÇÃO Segundo SILVEIRA(2012), apud WAGNER (2014), no Brasil, a preocupação com a correta gestão dos resíduos gerados nas estações de tratamento de água pelas companhias de abastecimento público somente se intensificou a partir do final da década de 90, com o advento da Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei 9.433/97, e da Lei de Crimes Ambientais – Lei 9.605/98, as quais passaram a considerar como crime ambiental o lançamento do lodo das ETAs in natura. A NBR 10.004:2004 caracteriza os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água como Resíduos Sólidos, dessa forma, a Lei 9.605/98 considera crime ambiental o lançamento desse efluente em corpos hídricos, caso não atendam exigências das leis 3 ou regulamentos que estabelecem padrões limites de lançamento. Segundo DI BERNARDO (2012), pelo menos 67,40% da ETAs no Brasil não possuem tratamento do lodo. Segundo BARROSO (2001), na indústria da água, a matéria prima (água bruta) recebe produtos químicos (coagulantes, cal, cloro etc.) e mediante operações e processos transforma-se em água potabilizada. Como em todo processo industrial de transformação de matéria prima, há geração de resíduos (nos decantadores, água de lavagem dos filtros e lavagem da casa de química) que, via de regra, podem ser tóxicos ao homem e ao meio ambiente. Dados da Pesquisa Nacional de Saneamento do IBGE (2008) apontam que em 2008 existiam 2.817 ETAs convencionais no Brasil. Ainda, nesse mesmo período, a pesquisa aponta que em 2.098 municípios, são gerados lodo na clarificação da água bruta. Quando ao destino do lodo gerado, essa mesma pesquisa indica o que segue: - em 1.415 municípios, o lodo é descartado diretamente nos rios; - 7 municípios descartam no mar; - 463 municípios descartam em terrenos baldios; - 83 municípios destinam para aterros sanitários; - 1 município incinera o lodo desidratado; - 50 municípios reaproveitam o lodo na fabricação de tijolos, telhas e gesso, ou ainda na agricultura, como fertilizante e recompositor da camada superficial do solo. Com isso, pode-se observar que a maioria das ETAs estão descartando seus resíduos de forma inadequada. Segundo a REALI (1999), existem poucas ETAs no Brasil que utilizam tratamento com filtração direta e menos ainda as que utilizam a flotação por ar dissolvido, entretanto, a quantidade de ETAs convencionais com ciclo completo são a grande maioria. As ETAs convencionais são as que mais geram lodo, a maior parte dos sólidos presentes na água bruta são removidos no fundo dos decantadores. 4 O lançamento indiscriminado dos resíduos das ETAs nos corpos de água, seja direta ou indiretamente, causa aumento da concentração de metais tóxicos no sedimento, os quais sempre estão presentes em alguns trechos do corpo receptor, limitação da luminosidade, do meio líquido devido ao aumento da concentração de SST, o que afeta a reprodutividade da biota em geral, e, geralmente, limita ou impedeo uso do corpo receptor como fonte de dessedentação de animais ou como o manancial de abastecimento de comunidades localizadas à jusante, além de haver compostos orgânicos tóxicos removidos ou formados nas unidades de tratamento (ETA), além disso, pode haver grande diversidade de organismos patogênicos (DI BERNARDO, 2012). No cenário internacional, em países bem desenvolvidos, o lançamento destes resíduos nos corpos d’água está cada vez mais em desuso, bem ao contrário disso, têm-se incentivado a minimização, o reuso e a reciclagem, em virtude de legislações mais rigorosas de controle da poluição e desperdício, inclusive com relação ao descarte de 2 a 6% do volume de água produzido numa Estação de Tratamento de Água em atividades de lavagem dos filtros e descargas dos decantadores, (NOGUEIRA, 2009). RICHTER (2001) descreve que os resíduos do tratamento de água apresentam normalmente baixas concentrações de sólidos (de 0,2% a 3,0%) dificultando o manejo, por isso, considera conveniente, por exemplo, para o manejo e disposiçãofinal em aterros, uma concentração mínima de 20%. Para isso, é necessário a desidratação do lodo. Quanto mais desidratado estiver o lodo, maior a facilidade e redução dos custos do manejo. As tecnologias utilizadas para o tratamento dos resíduos resumem-se basicamente na separação das fases líquida e sólida, aumentando a concentração dos sólidos no material sedimentado por clarificação/adensamento e desidratação, de maneira que o reuso do sobrenadante e a disposição final do material sedimentado seja possível. O grau de tratamento necessário depende diretamente do método de disposição do lodo a ser utilizado e da qualidade desejada para a parcela líquida recirculada, pois os resíduos apresentam grande quantidade de água que pode ser retirada antes da disposição final do lodo, (REALI, 1999). 5 2. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO LODO DE ETA Segundo RICHTER (2001), considera-se como lodo de uma estação de tratamento de água, o resíduo constituído de água e sólidos suspensos originalmente contidos na fonte de água bruta, acrescidos de produtos resultantes dos reagentes aplicados à água nos processos de tratamento.As duas fontes mais importantes são os lodos retidos no fundo dos decantadores ou lodos flotados e a água de lavagem dos filtros (filtros rápidos convencionais ou filtração direta). As características do lodo dependem da qualidade da água bruta, da capacidade da ETA, dos produtos químicos utilizados e do tipo de tecnologia no tratamento, (DI BERNARDO, 2012). O lodo gerado através do tratamento de água de tecnologia de ciclo completo tem aparência gelatinosa e contém alta concentração de alumínio ou ferro com misturas de materiais orgânicos, inorgânicos e precipitados hidróxidos de metais dos coagulantes. A concentração de lodo decantado aumenta com o tempo de retenção, de acordo com RICHTER (2001).Para concentrações de 0 – 5%: aparência líquida; 8 – 12%: esponjoso ou semi-sólido; e para 18 – 25%: argila ou barro suave. Em relação aos coagulantes utilizados e produto para remoção de dureza, RICHTER (2001) destaca os principais tipos de lodo em função do produto químico utilizado (coagulante e remoção de dureza): - Lodo de sulfato de alumínio; - Lodo de coagulantes férricos (sulfato férrico e cloreto férrico); - Lodo proveniente do abrandamento por Cal. De um modo geral, DI BERNARDO (2012) relata que numa amostra de lodo podem ocorrer três fases: sólida, gasosa e líquida, conforme esquematizado na Figura 1. 6 Figura1:Esquema de uma amostra de lodo diagrama de fases. Onde: Vt - Volume total Vs - Volume sólidos Vag - Volume água Var - Volume ar Vv - Volume vazios Pt -Peso total Ps - Peso sólidos Pag - Peso água Par - Peso ar Fonte: DI BERNARDO (2012). O Quadro 1, a seguir, apresenta uma referência sobre alguns resultados esperados para diversos processos de tratamento de lodos com diferentes concentrações de sólidos e provenientes da coagulação de águas com baixa turbidez. Quadro 1: Concentração de lodos de águas de baixa turbidez. Processo de tratamento de Iodo: Concentração (%) Entrada: Saída: Decantação estática 0,03 - 0,2 1 - 3 Adensamento contínuo: sem polieletrólito 0,03 - 0,2 2 - 3 com polieletrólito 0,03 - 0,2 2 - 5 Flotação 0,03-0,2 3 - 6 Centrifugação 1 - 5 15 - 20 Prensas desaguadoras (“belt-filters”) 1 - 5 15 - 25 Filtro a vácuo 2 - 6 15 - 17 Filtro prensa 2 - 6 20 - 25 Fonte:RICHTER(2001). A Figura 2 apresenta um esquema geral típico de uma ETA convencional e indicação de pontos onde são gerados os resíduos. Na Figura 3, pode-se observar dois exemplos ilustrativos dos aspectos dos de resíduos de ETAs, o lodo de um decantador e água das lavagens dos filtros. 7 Figura 2: Esquema geral típico de uma ETA convencional e indicação de pontos onde são gerados os resíduos. Fonte: Adaptado de BARROSO (2001). Figura 3: Lodo retirado do fundo de um decantador e o aspecto do resíduo gerado pela lavagem dos filtros Lodo do fundo de um decantador. Fonte: VIANNA e MOREIRA FILHO (2012). Aspecto do resíduo de lavagem dos filtros. Fonte: DI BERNARDO (2012). 3. CONDICIONANTES Antes de começar a descrever as principais unidades de adensamento e de desidratação, considera-se importante mencionar um elemento importante quase sempre envolvido nos processos de tratamento de lodos que são os condicionantes. Os polímeros tem tido grande utilização na etapa de desidratação do lodo gerado em ETA, os polímeros sintéticos são classificados em três categorias: polímeros aniônicos (cargas negativas), polímeros catiônicos (cargas positivas) e polímeros não iônicos (sem caráter marcante aniônico ou catiônico), (REALI, 1999). Segundo RICHTER (2001), os lodos formados por hidróxidos de alumínio eferro são de difícil adensamento e desaguamento,sendo necessário o seu pré-condicionamento, antesde serem submetidos a esses processos. Por isso, umaprática comum nestas ETAs é o uso de polímeros. coagulante Mistura Rápida Floculador Decantador Filtros Lodo de decantadores Água de lavagem dos Filtros Resíduos Água Lavagem dos Floculadores (eventual) Água bruta 8 PIEPER (2008) apud MONTEIRO (2014) descreve pelo menos duas vantagens na utilização do polímero: redução na quantidade de lodo e maior amenidade da desidratação, o lodo formado pelo uso de polímeros torna-se mais denso e de fácil desidratação, facilitando seu manuseio de disposição final. FERREIRA FILHO (1997) realizou umapesquisa sobre pré-condicionamento de lodos de estações detratamento de água visando o seu adensamento, pôde concluir que quanto maior a dosagem de polímero maior a velocidades de sedimentação, e que cada polímero específico se comporta de modo distinto, por isso, é necessário a realização de ensaios experimentais visando à obtenção de parâmetros de projeto e operação de sistemas de adensamento. 4. ADENSAMENTO O adensamento é realizado para remover o máximo de água possível antes dequalquer etapa seguinte (desidratação mecânica, desidratação natural ou aplicação no solo). Esse processo possibilita uma maior concentração do lodo e consequente redução do volume. Os métodos mais utilizados são o adensamento por gravidade e adensamento por flotação, (RICHTER, 2001). 4.1. Adensamento por Gravidade e por Flotação O adensamento por gravidade pode ser divido em dois grupos: adensamento por batelada e adensamento contínuo. 4.1.1. Adensamento por batelada Osadensadores por batelada são tanques geralmente formados por tronco de pirâmide ou de cone invertido (mais usuais). Após a descarga de um decantador (por exemplo), o líquido é conduzido para esses tanques para que fique decantando por algumas horas. A finalidade é separar o lodo depositado ao fundo do sobrenadante (água clarificada que fica na parte superior do tanque). O sobrenadante pode ser removido gradualmente a diversos níveis por um tubo telescópio ou por canalizações fixas, (RICHTER, 2001). 9 Usualmente conhecidos como adensadores estáticos, podem ser dimensionados adotando uma carga de sólidos entre 15 a 25 Kg/m², em termos de volume as taxas usuais seriam de 3,0 m³/m² (sem aplicação de polímero) e de 4,0 a 8,0m³/m² com aplicação de polímero, (RICHTER, 2001). A Figura 4,a seguir,mostra um esquema de um tanque com cone invertido. Figura 4: Adensador por batelada, tronco de pirâmide invertido. Fonte: Di Bernardo (2012) 4.1.2. Adensadores contínuos Segundo RICHTER (2001), os adensadores contínuos são muitosimilares aos decantadores de manto de lodo, de forma usualmente circular, apresentam as seguintes características: entrada central com um defletor de distribuição, raspador de lodo que move os sólidos para um poço, paletas verticais fixadas no raspador (para lodo de ETA não é necessário), vertedor e canalização de saída de água clarificada. Basicamente, o funcionamento dá-se pelo agito suave do raspador que move o lodo para o poço de descarga situado ao fundo e ao centro do tanque. Essa agitação livraa água intersticial e desprende gases, isso auxilia na maior concentração de sólidos, (RICHTER, 2001). O dimensionamento dos adensadores contínuos é similar aos adensadores estáticos, pode-se aplicar as mesmas taxas descritas anteriormente. A Figura 5 representa um esquema de um adensador contínuo, visto em planta e corte. 10 Figura 5: Adensador contínuo. Fonte: DI BERNARDO (2012) 4.1.3. Adensamento por Flotação de Ar Dissolvido A flotação é um processo no qual a fase sólida, com uma densidade menor que o líquido em suspensão, é separada permitindo-lhe flutuar para a superfície. As partículas sólidas são removidas da água fazendo-as flutuar reduzindo sua densidade pela adesão de micro bolhas de ar. As bolhas de ar são geradas pela súbita redução de pressão na corrente líquida saturada de ar, proveniente da câmera de saturação, (RICHTER, 2001). Em se tratando dos lodos de ETAs, onde usualmente temos os flocos provenientes dos coagulantes de sulfato de alumínio ou de ferro, apresentam densidade próxima de 1,003 e tamanho aproximado de 1,0 mm. Após a incorporação do ar, a densidade se reduz a 0,98 ou menos, dessa forma, a velocidade de flotação em valor absoluto pode chegar a mais de dez vezes às velocidades de decantação, (RICHTER, 2001). Contudo, DI BERNARDO (2008) descreve que esse tipo de unidade não foi verificado em ETAs no Brasil e tem gastos elevados com implantação, operação e implantação. A revista HYDRO (2017) publicou em maio de 2017 um estudo em escala de bancada com equipamento de flotação com ar dissolvido, realizado pela Universidade Federal de Santa Maria. Os resultados foram satisfatórios com a utilização de polímero catiônico, concluindo que essa tecnologia pode ser empregada em adensamento de lodo de ETA. 11 Para a remoção do lodo flotado, são utilizados raspadores de lodo de translação ou rotativos, contudo RICHTER (2001) aponta como melhor alternativa o raspador de translação. A Figura 6 abaixo representa um flotador com raspador de translação. Figura 6: Fotos e esquema de um adensador por flotação de ar dissolvido com raspador de translação. Fonte: DI BERNARDO (2012) 4.2. Adensamento Mecânico 4.2.1. Adensador mecânico de esteira O adensador mecânico, também conhecido como grade adensadora é um equipamento composto por uma câmara de chegada que extravasa para a grade e conduzido por meio de diversos raspadores providos de lâminas de material plástico até a saída equipamento. A água intersticial que passa pela esteira é retirada parcialmente e coletada numa caixa situada sob a esteira, (DI BERNARDO, 2012). A Figura 7 é uma representação dum adensador mecânico de esteiras. 12 Figura 7: Adensador mecânico de esteiras. Fonte: DI BERNARDO (2012) Segundo DI BERNARDO (2012), é necessário que o lodo venha de uma etapa de homogeneização com aplicação de polímero. Em se tratando de lodos de ETA que usam sulfato de alumínio como coagulante, alguns parâmetros devem ser verificados: - concentração do lodo maior que 10 g/L; - a produção de massa seca sobre um equipamento com variação de 6 a 13 Kg/h; - teor de SST (sólidos suspensos totais) do lodo adensado resultante entre 2,0 a 4,5% (massa/massa); - consumo de polímero de 1,0 a 3,5 g/Kg (gramas de polímero por quilograma de SST). 4.2.2. Adensador dinâmico helicoidal e de tambor rotativo Segundo DI BERNARDO (2012), o adensador dinâmico helicoidal recebe o lodo com polímero num tambor que gira lentamente e a fase aquosa passa através da tela de um filtro. A vazão é compreendida entre 5 e 60 m³/h. As condições de operação são as seguintes: - teor de SST (sólidos suspensos totais) do lodo adensado resultante entre 0,5 a 1,0% (massa/massa); - taxa de aplicação de sólidos de 100 a 450 Kg SST/h; - dosagem de polímero entre 2 e 3 g/Kg (gramas de polímero por quilograma de SST). 13 A Figura 8 apresenta a imagem de um adensador dinâmico helicoidal e um esquema interno do adensador. Figura 8: Adensador dinâmico helicoidal e esquema interno. Fonte: DI BERNARDO (2012) Segundo DI BERNARDO (2012), o adensador de tambor rotativo recebe o lodo com polímero na superfície interna dum tambor perfurado, elimina água livre através de rotação do tambor, fazendo-a passar por uma peneira de arame e retém os sólidos na superfície do tambor e os sólidos são conduzidos à extremidade de descarga pela rotação contínua. As vazões variam de 6 a 130 m³/h no adensamento de lodo com teor de SST entre 0,3 e 4,0% para 6,0% a 8,0%. A Figura 9 apresenta duas imagens de um adensador rotativo, uma externa e outra interna. Figura 9: Adensador de tambor rotativo. Fonte: DI BERNARDO (2012) 5. TANQUE DE RECEPÇÃO E REGULARIZAÇÃO DE VAZÃO Segundo DI BERNARDO(2012), geralmente sãousados tanques que funcionam por batelada, esses tanques recebem os resíduos tanto da lavagem dos filtros como da descarga dos decantadores. Contudo, quando o objetivo é regularizar a vazão para 14 uma etapa posterior, são utilizados tanques de recepção providos de agitadores, normalmente denominado de tanque de equalização.Os agitadores são misturadores (geralmente submersíveis) com o objetivo de não permitir a sedimentação dos sólidos, são especificados de acordo com o volume do tanque, da profundidade útil e das dimensões em planta. Para realizar a equalização e regularização de vazão é preciso implantar um tanque com agitação que uniformize a vazão do resíduo e a concentração de sólidos. O dimensionamento depende das características de operação do sistema, pois o volume maior de resíduo é proveniente da lavagem dos filtros, porém a maior quantidade de massa de lodo é gerada os decantadores ou flotadores. Por isso, pode-se projetar tanques distintos, um para a lavagem dos filtros e outro para descarga dos decantadores, contudo, é necessário um estudo de viabilidade técnica e econômica para auxiliar na tomada de decisão, DI BERNARDO (2002). 6. RECIRCULAÇÃO DO CLARIFICADO Devido à escassez crescente de mananciais em condições adequadas para a utilização de sua água, há interesse na clarificação da água de lavagem dos filtros para futuro reaproveitamento do sobrenadante e disposição apropriada do sedimento, (REALI, 1999). A água de lavagem dos filtros pode retornar a câmara de chegada da água bruta independente de ter sido clarificada ou não. Para que isso aconteça, é necessária a existência de um tanque de recepção para a regularização da vazão. A vazão recomendada para recirculação é de 10% da vazão de água bruta. No Brasil, algumas ETAs realizam a recirculação da água de lavagem dos filtros sem qualquer tratamento, (REALI, 1999). 7. DESAGUAMENTO Segundo DI BERNARDO (2012), o desaguamento de lodo adensado é uma operação na qual se procura aumentar o teor de SST, com a consequente redução do volume de lodo a ser disposto. O desaguamento de lodo pode ser efetuado por meio de sistemas 15 naturais ou mecânicos. Nos sistemas naturais, destacam-se as lagoas de lodo, filtração em leito de secagem e leito de drenagem, e em tecido especial(geotêxtil). Contudo, esse capítulo irá abordar apenas os sistemas mecanizados. Nos sistemas mecânicos de desaguamentodestacam-se: - centrífuga decantadora; - filtro prensa de esteira (prensa desaguadora); - filtro prensa de placas; - prensa desaguadora tipo parafuso. De acordo com RICHTER (2001), as unidades citadas acima são equipamentos que atendem à exigência de uma torta com um mínimo de 20% de sólidos. 0 condicionamento com polieletrólitos é necessário com Iodos de sulfato de alumínio ou de ferro, seja para aumentar o peso dos sólidos, ou seja, para aumentar o seu tamanho. Os polieletrólitos com carga moderada são geralmente melhores que aqueles altamente carregados ou não iônicos. DI BERNARDO(2012), alerta que a opção por uma dessas soluções depende dos custos de implantação, operação e manutenção. RICHTER (2001) aponta os principais processos para desidratação mecânica, apresentando de forma resumida as principais características, limitações e custo relativo. Inclusive, destaca como sendo os processos mais adequados para Iodos provenientes da coagulação da água, a prensa desaguadora e a centrífuga. No quadro abaixo seguem essas informações. O Quadro 2 apresenta as principais tecnologias para desidratação mecânica dos lodos de ETA. 16 Quadro 2: Principais tecnologias de desidratação dos lodos de ETA. Técnica Aplicações Limitações Custo Relativo Prensa desaguadoura Capaz de obter um lodo relativamente seco, com 40-50% de sólidos secos. Lodo de sulfato 15 a 20%. Sua eficiência é muito sensível às características da suspensão. As correias podem se deteriorar rapidamente na presença de material abrasivo. Baixo Decantação centrífuga Capaz de obter um lodo desidratado com 15- 35% de sólidos. Lodo de sulfato 16-18%. Lodos de cal desidratam mais facilmente. Taxa de captura de sólidos entre 90-98%. Adequada para áreas com limitação de espaço. Não tão efetiva na desidratação Médio como a filtração. O tambor está sujeito à abrasão. Médio Filtro prensa Usado para desidratar sedimentos finos. Capaz de obter torta com 40-50% de sólidos em lodos de cal, com uma taxa de captura de até 98%. Necessita a aplicação de cinza e cal. Elevação do pH a 11,5. Troca do meio filtrante demorada. Elevado custo operacional e de energia. Alto Filtro rotativo a vácuo Mais indicado para desidratar sedimentos finos granulares, po- dendo obter torta de até 35-40% de sólidos e uma taxa de captura entre 88 a 95%. É o método menos eficaz de Filtração. Elevado consumo deenergia. Mais Alto Fonte: RICHTER(2001). O Departamento Municipal de Águas e Esgotos (DMAE), de Porto Alegre-RS efetuou alguns estudos visando à diminuição de volume do lodo gerado nas ETAs São João e Belém Novo, utilizando sistemas mecânicos de remoção de água. Foram estudados os sistemas filtro a vácuo, filtro-prensa de correia e centrífugas, os resultados obtidos mostraram que as centrífugas e os filtros-prensa seriam mais adequados para a solução do problema, (REALI, 1999). 7.1. Centrífuga A centrifugação é uma operação de separação de fases que ocorre pela ação do campo de forças centrífugo que surge quando se rotaciona um recipiente cilíndrico (tambor) contendo as fases que se deseja separar, como, por exemplo, o lodo originado em estações de tratamento de água (ETAs) e em estações de tratamento de esgoto (ETEs), (REALI, 1999). 17 As centrífugas decantadoras consistem essencialmenteem um tambor cilíndrico horizontal, sem perfurações, o qual, quando rotacionado, promove a separação acelerada dos sólidos e sua acumulação na parede interna. Os sólidos são continuamente arrastados para uma das extremidades do cilindro por meio de rosca transportadora helicoidal, com forma cônica convergente na região de descarga de sólidos, DI BERNARDO (2012). DI BERNARDO (2012) sugere que se tenha um teor de SST no lodo adensado antes de entrar na centrífuga de no mínimo 2% (massa/massa) e dosagem de polímero entre 2 a 5 mg pol./g SST. As centrífugas funcionam entre 12 e 20 h por dia e é produzida torta com massa específica de 1,1 a 1,3 kg/L e teor de SST entre 20 e 30% (massa/massa). A rotação das centrífugas comerciais de eixo horizontal (tipo decanter), comumente usadas para desaguamento de resíduos gerados em ETAs, geralmente está compreendida entre 2000 e 6000 rpm (33,3 a 100 rps), resultando acelerações de 1000 a 5000 vezes a aceleração da gravidade. Através decatálogos fornecidos pelos fabricantes, é possível especificar o modelo do equipamento em função da capacidade hidráulica (com água limpa) e a efetiva com que as centrífugas vão funcionar (lodo adensado), a qual é função do teor de SST no lodo, de forma que a taxa de aplicação de sólidos resulte entre 50 e 5000 kg SST/h. O projetista deve consultar os fabricantes para obter maiores informações sobreas centrífugas, especialmente a vazão efetiva para diferentes concentrações de SST no lodo adensado, a taxa de aplicação de SST por unidade de tempo, a vazão de água necessária para limpeza após um ciclo de funcionamento etc, (DI BERNARDO, 2012). RICHTER (2001) relata que as capacidades hidráulicas das centrífugas são fixadas geralmente em função do diâmetro do tambor, conforme Tabela 1 abaixo. Em seguida a Figura 10 apresenta o desenho esquemático de duas centrífugas. 18 Tabela 1: Capacidade hidráulica de centrífugas. Fonte: RICHTER (2001) Figura 10: Centrífugas decantadoras. Fonte: DI BERNARDO (2012) 7.1.1. Filtro Prensa de Esteira (Prensa Desaguadora) O filtro prensa de esteira ou correia, ou ainda prensa desaguadora, é um equipamento onde o lodo é introduzido entre duas correias, sendo que uma delas é o meio filtrante e desloca-se entre roletes que promovem a compressão de uma esteira ou correia sobre a outra, provocando a drenagem do líquido. A operação envolve três etapas básicas em seu funcionamento: a primeira é o condicionamento do afluente, a segunda é uma drenagem gravitacional e a terceira é a compactação do lodo, por meio de forças de compressão. A etapa de condicionamento bem projetada constitui fator fundamental para que se obtenha bom desempenho final com esse tipo de equipamento, (REALI, 1999). RICHTER (2001) destaca as etapas do processo da seguinte maneira: • condicionamento químico: floculação do lodo em uma massa fibrosa para extrair a água aderente às partículas de lodo; Diâmetro do tambor Vazão (mm) (m3/h) 300 - 350 5 - 12 400 - 500 12-30 600 - 700 25-40 900 - 100 50 - 100 19 • drenagem gravitacional: permite que a água liberada no condicionamento químico escorra livremente através de uma correia porosa contínua; • estágio de baixa pressão: onde o lodo passa por uma cunha formada pelas duas correias sobrepostas tensionadas pelo sistema de rolos, expelindo água por compressão e formando um tapete com a torta de Iodos exprimidas entre as correias; • estágio de alta pressão: onde a torta de Iodos é compactada ao extremo, drenando mais água através da correia. Segundo DI BERNARDO (2012), os principais parâmetros recomendados uso desse equipamento são: teor de SST no lodo afluente de 1 a 5% (massa/massa), capacidade de 40 a 120 kg SST/h por metro de largura da esteira, concentração da torta de 15 a 25% (massa/massa) e consumo de polímero: 1 a 5 g/kg SST. Contudo, recomenda-se consulta aos fabricantes. RICHTER (2001) considera a escolha da tela um fator decisivo para alcançar os objetivos na operação de uma prensa desaguadora. O tipo ótimodepende das propriedades da suspensão e dos objetivos da filtração (formação da torta, qualidade do filtrado etc.). Os fatores importantes são: diâmetro e material dos fios, geometria da tela e padrão do tecido, número de fios longitudinais (urdume) e transversais (trama), resistência à tração no sentido longitudinal ou do urdume, número de fios na malha por unidade de comprimento, abertura da malha e a permeabilidade ao ar e/ou à água. Existem vários materiais na confecção das telas: lã, algodão, fibras de aço, vidro, nylon, teflon (politetrafluoretileno), polietileno e poliéster (esseúltimo é mais indicadoem relação aos outros devido àelevada resistência mecânica, flexibilidade e resistência química). A Figura 11 mostra um esquema e uma foto de uma prensa desaguadora em processo de desidratação. 20 Figura 11: Esquema e foto de uma prensa desaguadora em processo de desidratação. Fonte: DI BERNARDO (2012) 7.1.2. Filtro Prensa de Placas Os filtros-prensa de placas são constituídos por uma estrutura metálica que tem como guia uma viga, onde as placas são colocadas. Essa guia pode ser superior ou lateral. O funcionamento é por batelada, onde as câmaras são preenchidas com o lodo e a parte móvel do filtro provoca a compressão, de tal maneira que se inicia a formação da torta com a retirada do filtrado através de cada câmara. À medida que as tortas de lodo se formam no interior das câmaras, a pressão de alimentação aumenta, mantendo constante o fluxo. Essa pressão aumenta gradativamente até atingir um valor máximo, a partir do qual qualquer acréscimo se torna antieconômico, (REALI, 1999). Segundo RICHTER (2001), as placas possuem duas superfícies filtrantes, uma por placa interna e uma nas placas externas. As placas têm geralmente a forma quadrada, porém também existem placas retangulares. Seu tamanho pode variar desde 250 mm x 250 mmm até 1.500 mm x 1.500 mm ou mais. Conhecendo-se a massa, o volume de lodo a ser tratado e o ciclo de operação da máquina para se obter um resultado desejado, o dimensionamento do filtro prensa fundamenta-se no volume da reentrância das placas, ou seja, trata-se de determinar o número de placas, fixado o seu tamanho. A espessura da reentrância é um parâmetro crítico no projeto de um filtro e são normalizadas em 25, 30 e 40 mm. O lodo gelatinoso como o de sulfato de alumínio é mais bem desidratado com placas de menor espessura, diga-se 25 mm. 21 Ainda, segundo RICHTER (2001), a operação de um filtro prensa de placas é mais comumente feita por batelada, entretanto há unidades mais modernas de operação contínua.A taxa de aplicação para Iodos de estações de tratamento de água é de 1,5 a 2,5 kg/h de sólidos secos por metro quadrado de área filtrante, na coagulação por sais de alumínio, e de 1,5 a 3,5 kg/h.m², com sais de ferro. A Figura 12 representa um modelo de filtro de placas. Figura 12: Filtro de placas. Filtro de Placas. Fonte: Excel Equipamentos 7.1.3. Prensa Desaguadora Tipo Parafuso. A prensa parafuso é um dispositivo de secagem que utiliza uma rosca transportadora, conhecida também como parafuso sem fim, que gira ao redor de uma tela de aço perfurada. À medida que a rosca gira ocorre a deposição contínua de sólidos na tela perfurada e devido à geometria da rosca e da tela, ocorre um aumento progressivo da pressão até o fim do equipamento (MIKI et al, 2001 apud VANZETTO, 2012). A operação da prensa parafuso inicia com o lodo líquido sendo bombeado para uma câmara de floculação, onde é introduzido um polímero por meio de um anel na linha de alimentação. Após a adição do polímero, o lodo é misturado e transportado pelo parafuso que gira dentro de um tanque de reação. Conforme a rotação do parafuso, o lodo é transportado ao longo da prensa fazendo com que o filtrado flua para fora e o lodo, por meio da forma de atrito na interface lodo/tela, produz a torta com cerca de 20 a 25% de sólido, a qual será descartada em uma esteira ou diretamente em um recipiente na extremidade da prensa (USEPA, 2006 apud VANZETTO, 2012). A Figura 13 representa o esquema e foto de uma prensa desaguadora tipo parafuso. 22 Figura 13: Esquema e foto de uma prensa desaguadora tipo parafuso. Fonte: VANZETTO (2012). 8. OUTROS EQUIPAMENTOS MECÂNICOS RELACIONADOS AO TRATAMENTO DO LODO Neste capítulo pretende-se apenas relacionar os diversos equipamentos mecânicos necessários para numa planta de tratamento de lodo. Os principais equipamentos, segundo DI BERNARDO (2012), além dos já citados anteriormente, são: - Preparador de polímero; - Bombas Helicoidais (transporte de lodo e dosagem de produtos químicos); - Misturadores submersos (turbo misturadores); - Transportador Helicoidal 9. NOVAS TECNOLOGIAS DE ADENSAMENTO E DESAGUAMENTO Foi apresentada no seminário internacional sobre novas tecnologias na área do saneamento uma unidade compacta de adensamento e desidratação, que combina em uma só máquina a mesa adensadora e a prensa desaguadora, eliminando a necessidade de dois pontos de dosagem de polímero e dois floculadores. A Figura 14 apresenta uma foto de uma unidade compacta de adensamento e desidratação. 23 Figura 14: Unidade compacta de adensamento e desidratação Fonte: AQUAMEC (2017) 10. PRINCIPAIS DESTINOS DO LODO DE ETA Devido ao avanço do conhecimento sobre as diversas técnicas de tratamento dos resíduos gerados em ETAs, a disposição final passou a ser um grande desafio na indústria. No Brasil, a busca por soluções economicamente viáveis e ambientalmente vantajosas para a disposição final desses resíduos continua, tem sido um grande desafio, (DI BERNARDO, 2012). DI BERNARDO (2012) descreve alguns processos de disposição final aos quais possuem alguma vantagem ambiental, tais como: - aterro específico para lodo de ETA; - aterro industrial coletivo; - fabricação de tijolos, concreto, cimento e artefato de cimentos; - disposição ao solo; - cultivo de grama; - recuperação de áreas degradadas; - produção de solo para pavimentação de estradas; - descarga em redes coletoras de esgoto para destino final na ETE; - recuperação de coagulante; - remoção de fósforo do efluente de ETEs; 24 - remoção de algas e cianobactérias do efluente de ETEs que utilizam lagoas de estabilização; - melhora na sedimentação de águas com baixa turbidez em ETAs de ciclo completo; - remoção de sulfetos. Contudo, DI BERNARDO (2012), esclarece que algumas dessas alternativas têm sido estudas profundamente nos últimos 20 anos e outras ainda necessitam que se comprove viabilidade técnica. Além disso, a escolha por uma alternativa depende dos custos envolvidos (implantação, operação e manutenção), da influência do clima, do grau de desenvolvimento sócio-econômico, disponibilidade de mão de obra especializada, legislação federal, estadual e municipal e a distância de transporte até destino final. Segundo WAGNER (2014), as alternativas de disposição mais adequadas e de maior potencial de utilização no Brasil, são: disposição em aterro, aplicação controlada no solo, compostagem, fabricação de material cerâmico, aplicação em concreto e lançamento em sistemas de tratamento de esgotos. A seguir, algumas considerações sobre a disposição de lodos de ETAs discutidos no seminário nacional sobre tratamento, disposição e usosbenéficos de lodos de estaçõesde tratamento de água realizado no Instituto de Engenharia (2008), cujo relatório foi elaborado por MORITA (2008). Na realidade essas considerações tratam de contra-argumentos em relação a alguns destinos atualmentepraticados. Em relação ao lançamento de lodos de ETAs em Estações de Tratamento de Esgoto: Deve-se levar em consideração que o lançamento de lodo de ETA em ETE não é exatamente uma forma de disposição. O lodo, por ser predominantemente inorgânico, não degrada na ETE e, portanto, só é transferido, devendo ser disposto juntamente com o lodo de esgoto. O efeito dadescarga do lodo da ETA em ETE depende da quantidade de lodo adicionado, de suas características, do tipo de tratamento de esgoto e da forma de disposição do lodo de esgoto. Portanto, cada caso deve ser avaliado isoladamente e criteriosamente, uma vez que o aumento da quantidade de sólidos pode acarretar sé- rios problemas de desempenho e aumento dos custos de tratamento e disposição. 25 Num sistema convencional de lodos ativados, poderá haver problemas na digestão do lodo na fase sólida. Na aeração prolongada, a fase líquida poderá ser impactada, dependendo da quantidade de lodo adicionado. Em lagoas aeradas, o principal problema será na redução do tempo entre limpezas das lagoas de decantação, assim como nas lagoas de estabilização. Para o caso de reatores anaeróbios, o impacto será devido à toxicidade (lodo de alumínio) e ao aumento do número de descartes de lodo. Nem sempre ocorre remoção de fósforo quando se lança lodo de ETA na ETE, pois essa remoção depende do tempo de permanência do lodo no decantador da ETA; da espécie química de fósforo presente no esgoto (orgânico H2PO4-, HPO42-, PO43-); da presença de polímero; do pH e do tempo de contato. Sobre o uso do lodo na cerâmica,em média, consegue-se incorporar somente 10% em massa em relação à quantidade de argila. O lodo sozinho não pode substituir totalmente a argila, pois ele reduz a resistência à flexão, aumenta a absorção de água e a porosidade dos corpos de prova queimados a 900-950°C.Mesmo assim, atendem aos valores especificados pelas normas brasileiras para materiais de cerâmica vermelha. A aplicação em escala real e a quantificação dos impactos produzidos no processo cerâmico, devido à substituição parcial da argila pelo lodo, são restritas. Apenas um trabalho foi desenvolvido na Escola Politécnica de São Paulo e apresentou uma proposta de metodologia para avaliação desse impacto e o quantificou. Nesse trabalho, verificou-se a redução das emissões no forno da cerâmica, quando se substitui 7% (massa/massa) de argila pelo lodo de ETA, mas observou-se, também, um aumento da quantidade de combustível usado. Os demais impactos não foram significativos. Como o lodo da ETA possui características mineralógicas semelhantes às da argila, ele deve ser considerado como matéria-prima da indústria cerâmica e não como resíduo da ETA. Assim, o processo de licenciamento ambiental deve ter suas variáveis explicitadas com clareza e objetividade, de tal maneira que as empresas de saneamento estimulem essa prática, que é ambientalmente desejável e conveniente. Disposição em aterro: nos aterros sanitários, o lodo de ETA pode migrar pelos vazios dos resíduos sólidos domiciliares, colmatar drenos; acomodar-se na base de cada célula, gerando zonas de fraqueza; reduzir a resistência e constituir plano de contenção de percolados (líquidos e gasosos). O lodo de ETA poderia ser usado como 26 cobertura diária de células juntamente com o solo, mas pesquisas devem ser realizadas antes de sua aplicação. Essa forma de uso não altera a biodegradação do resíduo sólido domiciliar. Aterro exclusivo não possui estabilidade, devendo o lodo ser misturado com solo ou cimento. A co-disposição de lodos de ETAs, que empregam como coagulante sal de alumínio, com grandes quantidades de resíduos sólidos estritamente orgânicos pode ocasionar a produção de ácidos graxos voláteis, abaixando o pH do meio e favorecendo a lixiviação do alumínio. Em relação à regeneração de coagulantes: a facilidade de separação de inertes após a regeneração é influenciada pelo pH e pelo teor de sólidos presentes. A eficiência da solubilização via ácida varia de 30% a 95%. A solubilização depende da qualidade da água bruta e também do mecanismo de coagulação utilizado na ETA. Se esse for adsorção e neutralização de cargas, a eficiência da solubilização é baixa. Há uma razoável quantidade de experimentos em escala real de curto prazo, utilizando processos de recuperação de coagulantes pela solubilização via ácida, no entanto, a experiência de longo prazo é escassa.A solubilização via ácida apresenta como desvantagens: é um processo complexo; os operadores precisam ser treinados; há a necessidade de armazenamento e manipulação de ácidos fortes concentrados; ocorre a reciclagem de contaminantes para o tratamento de água; gera-se um resíduo sólido perigoso (devido ao pH baixo) e não há experiência em larga escala. Após seis a sete vezes utilizando o coagulante regenerado, é gerada uma água residuária concentrada, contendo impurezas, que deve ser tratada e descartada de forma adequada. O coagulante regenerado por via ácida pode ser usado no tratamento de águas residuárias para remoção de sólidos e de fósforo. Sobre o uso no concreto: a incorporação do lodo de ETA não melhora as características do concreto. Estudos em escala de laboratório e piloto têm demonstrado que a incorporação de até 8% de lodo de ETA (porcentagem em relação à massa de areia) no concreto é tecnicamente viável. No entanto, essa viabilidade deve ser avaliada caso a caso. Em tecnologia de concreto, não se deve comparar dois traços, mas famílias para um determinado uso. Essas discussões ainda sugerem pesquisas futuras relacionadas ao uso do lodo de ETA na argamassa de assentamento e de revestimento. Outro uso a ser investigado é no agregado leve. 27 11. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a realização desse estudo sobre tratamento de lodo de estações de tratamento de água, conclui-se que é necessário conhecer melhor as características do lodo (micro e macro propriedades) para projetar as unidades de adensamento, condicionamento e desaguamento. Por isso, recomenda-se uma equipe multidisciplinar para pesquisar e desenvolver as melhores alternativas no gerenciamento de lodos de ETAs. Em relação às tecnologias para adensamento e desaguamento do lodo de ETAs, não é possível afirmar quais são as melhores soluções, isso seria uma abordagem para um novo estudo, pois é possível executar diversos arranjos combinando um tipo de espessamento com um tipo de desaguamento. Além disso, outras variáveis influenciam na concepção do projeto:qualidade da água bruta, espaço físico e poder econômico. Devido à legislação vigente, a construção das novas ETAs devem contemplar as unidades de tratamento de lodo, buscando alternativas para aconcepção dos projetos de ETAs, como por exemplo, priorizar projetos de remoção mecanizada do lodo dos decantadores em detrimento da manual. Em relação as ETAs existentes, torna-se necessário a implantação dos sistemas de tratamento de lodo para adequação com as leis. Nesse trabalho foram apresentadas as principais unidades e equipamentos para o gerenciamento do lodo de ETAs, inclusive apresentaram-sedestinos ambientalmente mais adequados. As tecnologias apresentadas para adensamento e desaguamento mecânico são importantes, pois possibilitam mitigar os resíduos gerados em estações de tratamento de água no que diz respeito principalmente ao lançamento desses resíduos em corpos hídricos. Sobre a disposição final dos resíduos, foram apresentadas as soluções mais utilizadas e com maior intuito de mitigar os impactos ambientais. No Brasil, os destinos mais usuais são: disposição em aterro, aplicação controlada no solo, compostagem, fabricaçãode material cerâmico, aplicação em concreto e lançamento em sistemas de tratamento de esgotos.Foram apresentadas algumas discussões alertando sobre alguns destinos praticados usualmente,e a partir disso, chegou-se a conclusão de que 28 fica evidente a necessidade de aprofundar mais as pesquisas relacionadas aos impactos, sejam econômicos ou ambientais. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 10.004 – Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro, Brasil, 2004. BARROSO, MARCELO M. Problemática dos Metais nos Resíduos Gerados em Estações de Tratamento de Água. In: 21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2001. DI BERNARDO, LUIZ; DANTAS, ANGELA; VOLTAN, PAULO - Métodos e técnicas de tratamento e disposição dos resíduos gerados em estações de tratamento de água. Editora LDiBe, 2012. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2008). Plano Nacional de Pesquisa em Saneamento Básico, Brasil. Rio de Janeiro: IBGE MONTEIRO, NATALI B. Características de Lodos de Estações de Tratamento de Água Desidratados por Sistema Geotêxtil: Estudo De Caso. 2014. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco. MORITA, D.M. Seminário nacional sobre tratamento, disposição e usos benéficos de lodos de estações de tratamento de água. Instituto de Engenharia, São Paulo, 2008. NOGUEIRA, SILVANA DE A. (Coord.). Lodo um Ponto de Alerta no Universo do Saneamento. [Editorial]. SANEAS. Ano X - Nº 32 - Janeiro/Fevereiro/Março 2009. REALI, M. A. P. (Coord.). Noções Gerais de Tratamento de Disposição Final de Lodos de ETA. Rio de Janeiro: ABES/PROSAB, 1999. p.169 - 202. RICHTER, CARLOS A.. Tratamentos de Lodos de Estações de Tratamento de Água. São Paulo: Ed. Edgard Blücher LTDA, 2001. VALCORTE, PAULO W; HEDLUND, KEILA F. S. Lodo de ETA: é possível adensá-lo através de flotação por ar dissolvido? [Editorial]. HYDRO. Aranda Editora, Ano XI – nº 127 – maio2017. VANZETTO, A. S. (2012). Análise das Alternativas Tecnológicas de Desaguamento de Lodos Produzidos em Estações de Tratamento de Esgoto. Dissertação de Mestrado em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos, Publicação PTARH.DM 139/12, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 185p. VIANNA, MARCOS R.; MOREIRA FILHO, José C. Tratamento de Rejeitos de Estações de Tratamento de Água: Métodos de Tratamento Utilizados e Destino do Lodo Produzido. Construindo, Belo Horizonte, v. 4, n. 1, Jan/Jun. 2012. WAGNER, LUIZ F. Disposição de Resíduos das Estações De Tratamento de Água. Revista TechnoEng. ISSN: 2358-2669/Vol.1 nº09/Jul-Dez/2014.
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