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PROC E RELAC JURID PROCESSUAL - On-line MÓDULO 1 - PROCESSO: CONCEITO DE PROCESSO; OBJETO DO PROCESSO; TIPOS DE PROCESSO; TEORIAS SOBRE A NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO; NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO; AÇÃO, PROCESSO E PROCEDIMENTO. RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL: CONCEITO; RELAÇÃO JURÍDICA PRO Do Processo: Conceito Processo é uma palavra com origem no latim procedere, que significa método, sistema, maneira de agir ou conjunto de medidas tomadas para atingir algum objetivo. Relativamente à sua etimologia, processo é uma palavra relacionada com percurso, e significa "avançar" ou "caminhar para a frente". No âmbito do direito, é o meio de que se vale o estado para exercer a função jurisdicional, compondo-se de um conjunto de atos cuja finalidade é a composição da lide. Também podemos dizer que é o método, a técnica, o instrumento de que se utiliza o Estado para a solução dos conflitos de interesses submetidos à apreciação jurisdicional. Objeto do Processo De uma breve análise da doutrinária pátria, pode-se perceber que há tempos debate-se acerca da concepção de significados sobre o termo "objeto" ou, em especial, as expressões objeto do processo e objeto litigioso do processo . Hoje, ainda não reina pacificidade sobre a questão terminológica. Alguns autores preferem dizer objeto litigioso, em vez de objeto do processo. O objeto do processo é o conjunto de todo o material lógico que o espírito do juiz capta e elabora de modo a saber se julgará o mérito e como julgará. É possível concluir que o sentido mais técnico seria entender por objeto do processo, em seu aspecto global de instrumento institucional de jurisdição, é toda matéria que nele deva ser apreciada pelo juiz, seja em termos de simples cognitio, seja em termos de judicium, envolvendo, pois os pressupostos processuais, as chamadas condições da ação e o próprio mérito; quanto a este examinará também a defesa do réu e do reconvindo, do chamado ao processo e do litisdenunciado (inclusive questões prévias); e que só uma parte do objeto do processo constitui o objeto litigioso do processo: é o mérito, assim entendido o pedido do autor formulado na inicial e nas oportunidades em que o ordenamento jurídico lhe permita a ampliação ou modificação;" e, em suma, o pedido do réu, quando assim lhe permita o ordenamento jurídico. Natureza Jurídica do Processo Muitas teorias existem sobre a natureza jurídica do processo, e revelam a visão privatista e publicista. É de suma importância o estudo dessas teorias porque se alguém demonstrar algum dia que o processo é um contrato, daí decorrerão consequências práticas de grande importância. Mesmo porque o legislador formula hipóteses, prevê certas situações e, na falta de alguma norma reguladora do processo, as normas subsidiárias (secundárias) seriam as do direito civil, que regulam o contrato, quando analisado o processo no seu sentido contratual. As teorias Privatistas referem-se ao sentido de processo como contrato e quase contrato. Em se tratando de processo como contrato, a concepção do processo era contratual, ou seja, a relação que interliga autor e réu no processo era vista como em tudo idêntica à que une as partes contratantes. No contrato, existe um acordo de vontades, um titular do interesse subordinante e outro titular do interesse subordinado. O primeiro tem o direito de exigir do segundo que satisfaça uma prestação, que lhe é assegurada por lei. Já se referindo ao processo como quase-contrato, a doutrina traz que segundo o artigo 1.371 do Código Civil francês, o famoso Código de Napoleão, o quase-contrato é o encontro de fatos voluntários do homem de que resultam obrigações recíprocas entre as partes. Enquanto no contrato as obrigações dele decorrentes são determinadas, diretamente, pela própria vontade das partes, no quase-contrato as obrigações são determinadas pela lei, com base na presumível vontade das partes. A vontade das partes só é exigida para a prática do ato e não para a produção das obrigações jurídicas dele resultantes, que são determinadas pela lei. Estas teorias são contratualistas (contrato e quase-contrato), porque o processo resultaria de um contrato ou algo semelhante a um contrato e, pois, de um acordo de vontades. Mas, se na litiscontestatio a vontade não era totalmente livre, que acordo de vontades seria esse que, se o réu não comparecesse, o autor poderia fazê-lo comparecer à força? Tal pensamento era sem dúvida inconsistente, tanto que no próprio Código Napoleônico indicava-se uma outra fonte de obrigações: a lei. Já as teorias Publicistas, construíram teorias do processo como da relação jurídica; do processo como procedimento e a teoria do processo como da situação jurídica. Dessa forma, segundo a teoria do processo como relação jurídica, o processo contém uma relação jurídica entre as partes e o estado-juiz, a chamada relação jurídica processual. Várias foram as críticas sobre essa teoria, tanto que surgiu então um concepção mais elaborada, na qual o processo é um procedimento, ou seja, é uma série ordenada de atos previstos normativamente tendentes à produção de um efeito jurídico final. Por conseguinte, a natureza jurídica do processo é ser um procedimento, isto é, uma cadeia de atos, previstos por normas, necessários à produção de um efeito jurídico final. A "essência" do processo está, pois, nesse encadeamento ou nexo entre os atos determinados por normas, atos que são necessários para a produção de um efeito jurídico final. Até que surge a teoria da situação jurídica, em que o processo não é uma relação jurídica, que é o estado de uma pessoa enquanto faz valer o direito material afirmado em juízo. Por outras palavras, para essa teoria, o processo é o modo, ou situação, em que a pessoa se encontra enquanto espera a sentença. E esta situação em que a pessoa se encontra é a de ter a possibilidade de praticar atos, ou a necessidade de praticá-los, para ganhar a ação etc. Essas três teorias correspondem a três conhecidas concepções do direito em geral, que não se excluem, mas, pelo contrário, se complementam por cuidarem de três aspectos particulares do fenômeno jurídico. Assim, essas três teorias, apesar de aparentemente diversas, na verdade são complementares, pois cuidam de três aspectos particulares do fenômeno jurídico. Após observadas as diferentes teorias sobre a natureza jurídica do processo, é possível sustentar que é a da relação processual que mais se encaixa com a realidade processual. São relações jurídicas, por exemplo, o nexo existente entre credor e devedor e também o que interliga os membros de uma sociedade anônima. O processo também, como complexa ligação jurídica entre os sujeitos que nele desenvolvem atividades, é em si mesmo uma relação jurídica, a qual vista em seu conjunto, apresenta-se composta de inúmeras posições jurídicas ativas e passivas de cada um dos seus sujeitos: poderes, faculdades, deveres, sujeição, ônus. É relevante observar, no entanto, que a aceitação desta teoria não significa dizer que o processo seja a própria relação processual, ou melhor, que processo e relação processual sejam a mesma coisa. Tipos de Processo No CPC de 1971, existiam três tipos de processo. No atual CPC (2015), foram contemplados somente dois tipos de processo. Esses tipos de processos levam em conta o conteúdo da prestação jurisdicional almejada. Processo de Conhecimento: A parte busca uma sentença de mérito voltada ao reconhecimento de um direito, haja vista a existência de um conflito de interesses. Temos então a cognição da causa pelo juiz e a declaração do direito material aplicável ao caso concreto. O juiz irá conhecer das alegações das partes e das provas produzidas, proferindo uma sentença voltada a compor a lide. A sentença nesse tipo de processo sempre terá uma carga declaratória. O processo de conhecimento apresenta uma subclassificação, tendo em vista a natureza do provimento pretendido pelo autor. Pode ser meramente declaratório, condenatório e constitutivo. O processo meramente declaratório tem como objetivo remover a incerteza reinante acerca da existência ou inexistência de uma relação jurídica ou ainda quanto à autenticidade ou falsidade de um documento (v. art. 4º do CPC de 1973). No CPC de 2015, o artigo 19, no inciso I, contempla uma ampliação das chamadas ações “meramente declaratórias”, constando que o interesse do autor pode também envolver a declaração “do modo de ser de uma relação jurídica”. Essa ampliação decorre do entendimento da jurisprudência, no sentido de que é admissível ação declaratória visando a obter certeza quanto à exata interpretação de cláusula contratual (v. Súmula 181 do STJ); logo, esse tipo de ação se presta também a declarar de que maneira a obrigação deve ser cumprida pelos contratantes. Como se vê, a simples declaração judicial já esgota a finalidade da ação. Normalmente, não será necessária a execução da sentença. Ex.: ação de investigação de paternidade, ação declaratória de nulidade do negócio jurídico por incapacidade absoluta do contratante, ação de usucapião, etc. O processo condenatório é aquele em que se postula a declaração do direito material aplicável, mais a aplicação de uma sanção, ou seja, a imposição do cumprimento de uma obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa. A sentença condenatória atribui ao vencedor um título executivo, podendo instaurar-se então a fase de execução na mesma relação processual (e nos próprios autos em que ela foi proferida), caso a obrigação não seja cumprida voluntariamente pelo devedor. Ex.: ação de cobrança, ação de indenização, ação de obrigação de fazer (fornecimento pelo Estado de medicamentos para pessoas carentes), etc... Finalmente, o processo constitutivo é aquele que além da declaração do direito material aplicável, se postula uma inovação específica no mundo jurídico. A sentença constitutiva presta-se a criar, modificar ou extinguir um estado (da pessoa) ou uma relação jurídica. Essa sentença também não comporta execução ulterior. Ex.: ação de rescisão de contrato, ação de divórcio, ação anulatória de negócio jurídico por vício no consentimento, etc... Importante notar que podemos ter no mesmo processo a cumulação de pedidos, objetivando provimentos de natureza distinta; o autor, por exemplo, pode postular declaração de paternidade (pretensão meramente declaratória), mais a condenação do réu a pagar alimentos (pretensão condenatória). Processo de Execução: Visa a satisfação de uma obrigação expressa em título produzido em processo de conhecimento (títulos executivos judiciais) ou em negócio jurídico documentado (títulos executivos extrajudiciais). No CPC de 1973 o rol dos títulos executivos judiciais se encontra no artigo 475-N e dos extrajudiciais no artigo 585. No CPC de 2015 o rol dos títulos executivos judiciais se encontra no artigo 515 e dos extrajudiciais no artigo 784. No processo de execução, não temos sentença de mérito, mas apenas uma sentença extintiva do processo, em razão do cumprimento integral da obrigação, remissão total da dívida, renúncia ao crédito, etc. (v. arts. 794 e 795 do CPC de 1973; 924 (traz novas hipóteses de extinção) e 925 do CPC de 2015). Na execução, não temos, portanto, atividades de cognição e de declaração do direito por parte do juiz. O direito do credor já está explicitado no título judicial ou extrajdicial, sendo necessária, então, a prática de atos materiais coativos voltados à realização concreta da obrigação existente. O exequente busca, portanto, a realização concreta do direito material. Na atualidade, quando se trata de execução ou cumprimento de sentença, não se instaura processo autônomo de execução com a citação do executado para cumprir a obrigação. Os atos materiais de execução representam uma nova fase do processo instaurado (temos então fase de conhecimento e fase de execução); essa nova fase se processa, destarte, nos próprios autos em que foi proferida a sentença exequenda. O processo de execução pode tramitar de modo diferente se o título em que se funda for judicial ou extrajudicial. O procedimento também varia dependendo da natureza da prestação devida, ou seja, se a obrigação é de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia certa. Processo Cautelar: Ao postular uma tutela cautelar, o requerente objetiva uma proteção emergencial e provisória de bens jurídicos envolvidos em um litígio, de modo a preservar a situação de fato, enquanto se aguarda a obtenção da tutela definitiva. No CPC de 1973, essa tutela de urgência normalmente deve ser requerida em processo cautelar autônomo, sendo que a tutela definitiva, de caráter satisfativo, é obtida em outro processo, denominado de processo principal, que pode ser de conhecimento ou de execução. Pretende-se, portanto, nessa sistemática, assegurar a eficácia e utilidade do processo principal. Trata-se então de um processo acessório voltado à concessão de uma tutela de garantia, ou seja, de caráter preventivo. No CPC de 1973, temos a previsão de medidas típicas ou nominadas (v. art. 813 a 899), mas o juiz pode conceder outras medidas com base no seu poder geral de cautela (v. arts. 796 a 812). No CPC de 2015, se apresenta alteração radical na disciplina das tutelas provisórias de urgência (de natureza satisfativa ou cautelar). Temos a extinção do processo cautelar em livro próprio; há agora apenas previsão das denominadas tutelas de urgência e de evidência, submetidas às mesmas disposições gerais, passando a constar da parte geral do CPC (v. arts. 294 a 311). Foram abolidas todas as medidas cautelares típicas ou nominadas; todas as medidas agora serão atípicas ou inominadas, sejam elas tutelas de urgência cautelares ou satisfativas; tais medidas podem ser concedidas em caráter antecedente (antes da apresentação do pedido principal ou de tutela final) ou incidental (caso em que já está em andamento o processo relativo ao pedido de tutela final – normalmente um processo de conhecimento). Apresentado pedido específico de tutela de urgência (de natureza satisfativa ou cautelar), portanto em caráter antecedente, o mesmo processo instaurado será aproveitado para deduzir o pedido de tutela final ou principal, sem incidência de novas custas processuais; se o processo de conhecimento já está em curso, a tutela provisória, fundada em urgência ou evidência, pode ser requerida nos próprios autos; não há mais necessidade de instaurar processo cautelar autônomo para requerer tutela preventiva de urgência de caráter incidental; no CPC de 1973, a medida cautelar incidental também deve ser requerida em processo autônomo. Ação, Processo e Procedimento Como já é sabido, o conceito de Ação está ligado à própria história do Direito Processual. Ainda na Grécia Antiga, o Direito de ação, umbilicalmente ligado ao Direito material, não tinha qualquer autonomia conquanto ramo do Direito e era visto sob a ótica puramente civilista, pois, como dito, era totalmente dependente do direito material eventualmente buscado, o que durou até meados do século XIX. A partir deste século XIX o direito de ação começou a ser estudado de forma mais sistemática, surgindo a primeira teoria acerca deste instituto - Teoria Imanentista, de Savigny. Ainda no século XIX, dos debates travados entre Windscheid e Muther (a polêmica sobre a actio e a invenção da ideia de autonomia processual), começou-se a se distinguir o Direito de ação do Direito Material, aparecendo diversas terias, como a Teoria Concreta da Ação. Posteriormente, em 1877 na Alemanha, surgiu a Teoria Abstrata da Ação, criada por Degenkolb. Em seguida surgiu a Teoria Eclética da Ação que foi além e considerou o Direito de ação como um direito subjetivo e abstrato e que pode ser exercido por seu titular independentemente da existência do Direito Material. Atualmente é consenso que o de direito de ação é direito público subjetivo que confere ao cidadão de exigir do Estado uma prestação jurisdicional a cargo do Poder Judiciário que seja capaz de albergar qualquer pretensão para o pronto restabelecimento da ordem eventualmente violada. Durante a fase imanenista ou civilista, o processo era visto como sendo um procedimento constituído por uma série de atos sequenciais e o seu estudo limitava-se à definição de seus atos ou formas que o compunha, era a fase denominada de fase do procedimento. Nesta fase, portanto, o que se evidencia é que não existia, ainda, uma diferenciação entre processo e procedimento. Como o próprio termo indica, processo significa ação de avanço, dar andamento, marchar, seguir em frente, ao passo que procedimento significa o modo como se desenvolve os atos e fatos necessários para que se produza algum efeito ou se atinja algum objetivo ou se chegue a algum resultado específico. Por conta disso, o processo, por muito tempo, foi absorvido pelo direito material, considerado como simples meio de exercício dos direitos ou como mera sucessão de atos que compunham o rito da aplicação judicial dos mesmos. Essa fase foi superada e surgiu a teoria contratualista em que se considera o processo como sendo um contrato; posteriormente essa teoria deu lugar à teoria do processo como quase-contato, criada ainda no século XIX. Essa teoria foi criada por um jurista Francês do século XIX e se baseava na ideia de que o processo deveria ser enquadrado, a todo custo, entre as categorias de direito privado. Por fim, da obra de Oskar Von Bülow, surgiu a teoria do processo como uma relação jurídica, sendo considerada como marco inicial para se considerar o estudo do processo como uma ciência. Tivemos ainda, entre outras: a teoria da relação processual, com a concepção do direito como uma relação entre dois ou mais sujeitos regulada pelas regras jurídicas; a teoria da situação jurídica, que se opõe à teoria da relação jurídica, pois, para essa última teoria, o processo não encerra uma relação jurídica entre sujeitos, uma vez que não existem deveres jurídicos entre eles. Tendo em vista a doutrina corrente, e no sentido do que aqui é estudado, ou seja, dentro do direito processual, pode-se afirmar que processo é o meio pelo o qual se vale o Estado para o exercício de sua função jurisdicional e dizer o direito no caso concreto, é meio de pacificação social para a solução de conflitos. É, portanto, instrumento de jurisdição, é forma de atuação do Estado para o cumprimento de uma missão constitucional. Em resumo o direito de Ação é o Direito Público Subjetivo que tem o cidadão de provocar o Estado e exigir deste uma prestação jurisdicional, e que o processo, que se desenvolve por meio de procedimentos, vem a ser a forma de que dispõe o Estado para prestar a atuação jurisdicional, ou, melhor, é o meio que se vale o Estado para dar a resposta buscada pelo cidadão através do Direito de Ação. Ao que se verifica das lições acima, o processo é o meio de atuação da jurisdição, ao passo que o procedimento, ou procedimentos, são os atos praticados no desenvolver do processo, ou seja, dentro do processo, para se chegar ao resultado final buscado no exercício do direito de ação. Procedimento, portanto, é o mecanismo pelo qual se desenvolvem os processos de órgãos da jurisdição, é o modo de se mover e a forma de se proceder ao ato. Relação jurídica processual Conceito; Relação Jurídica Processual e relação material Conforme os ensinamentos do mestre Moacyr Amaral Santos, “o processo é uma relação entre os sujeitos processuais juridicamente regulada. Já mostramos que no processo, como série ordenada de atos, tendentes a um fim, que é a provisão jurisdicional, se compreendem direitos, deveres e ônus das partes, além de poderes, direitos e deveres dos órgãos jurisdicionais, prescritos e regulados pela lei processual. Como os sujeitos da relação são os sujeitos processuais, e ainda porque os direitos e deveres, poderes e ônus, que nela vivem e se realizam são regulados pela lei processual. Importante sempre ter em mente que a relação jurídica processual é distinta e independente da relação jurídica de direito material. A relação jurídica processual independe, para ter validade, da existência da relação de direito substancial controvertida. Instaurado o processo, sua validade vai depender de requisitos próprios, pouco importando que esta exista ou não. E tanto isso é verdade, que existem sentenças que julgam improcedente a ação intentada, sendo indubitavelmente atos processuais válidos, válida manifestação do poder jurisdicional, e sendo aptas a passar em julgado. Características A doutrina é quase que unânime ao apontar as características da relação jurídica processual, são elas: 1. autonomia; 2. natureza pública ou caráter público; 3. progressividade, continuidade, dinamicidade; 4. complexidade; 5. unicidade ou unidade; 6. trilateralidade. AUTONOMIA – diz-se que a relação jurídica processual é autônoma porque é distinta da relação jurídica de direito material. Ambas existem no processo, mas cada qual tem seus pressupostos próprios. São reguladas por normas distintas: as relações jurídicas processuais são reguladas por normas de direito processual enquanto as relações jurídicas substanciais são regidas por normas de direito substantivo. Como já se conclui acima, a relação jurídica processual independe, para ter validade, da existência da relação de direito substancial controvertida. Instaurado o processo, sua validade vai depender de requisitos próprios, pouco importando que esta exista ou não. NATUREZA PÚBLICA OU CARÁTER PÚBLICO – A relação jurídica processual é pública porque o processo é instrumento de uma função estatal, a função jurisdicional. O juiz no processo age em nome do Estado, não está em litígio com as partes, mas exerce autoridade soberana. A relação entre o juiz e as partes é tipicamente de direito público. PROGRESSIVIDADE, CONTINUIDADE, DINAMICIDADE – é progressiva porque se desenvolve através de atos que vão se sucedendo até o provimento final, ou seja, a sentença. Os atos têm uma finalidade única, constituem uma relação progressiva, que se desenvolve de grau em grau para o mesmo fim. COMPLEXIDADE – é complexa a relação jurídica processual porque nela as partes exercem direitos, obrigações, ônus e poderes. Não há apenas uma posição, o processo apresenta uma série de posições ativas e passivas, derivado daí seu caráter complexo. UNICIDADE OU UNIDADE – Liga-se ao princípio da imutabilidade. A relação processual permanece e continua a mesma do começo ao fim, as partes tem por objetivo a resolução do conflito. A relação jurídica processual é sempre a mesma, em, que pese a modificação subjetiva ou objetiva que possa passar no curso do seu desenvolvimento. Caracteriza-se na relação jurídica processual a formalidade do processo; nela, os atos jurídicos entrosam-se, aparecem como algo de homogêneo, de unitário, e não só de unidade, sem que se deixem de ver de per si e em suas funções próprias. TRILATERALIDADE – a relação jurídica processual é trilateral, não se está aqui afirmando que a mesma é triangular, mas sim destacando o seu caráter tríplice, a presença de três partes, onde autor, réu e Estado aparecem como sujeitos principais. Elementos da relação processual: Sujeitos e Objeto da relação processual Sujeitos da Relação Processual Sendo o processo instrumento para a resolução imparcial dos conflitos que se verificam na vida social, na clássica definição, apresenta pelo menos três sujeitos: nos polos contrastantes da relação processual, como sujeitos parciais, o autor e o réu; e, como sujeito imparcial, representante do interesse coletivo orientado para a justa resolução do litígio, o juiz. Entretanto, a clássica definição num quadro extremamente simplificado não esgota a realidade referente aos sujeitos que atuam no processo, podendo ser realçados os seguintes pontos: a) Além do juiz, do autor e do réu são também indispensáveis os órgãos auxiliares da Justiça, como sujeitos atuantes no processo; b) Os juízes podem suceder-se e funcionalmente no processo, ou integrar órgãos jurisdicionais colegiados que praticam atos processuais subjetivamente complexos – confirmando que ele próprio não é sujeito processual, nem o é sempre em caráter singular; c) Pode haver pluralidade de autores (litisconsórcio ativo), de réus (litisconsórcio passivo), ou de autores e réus simultaneamente (litisconsórcio misto), além da intervenção de terceiros em processo pendente, com a consequente maior complexidade do processo. d) É indispensável também a participação do advogado, uma vez que as partes, não o sendo, são legalmente proibidas de postular judicialmente por seus direitos. Autor e réu são os principais sujeitos parciais do processo, sem os quais não se completa a relação jurídica processual. Se todo processo se destina a produzir um resultado (provimento jurisdicional) influente na esfera jurídica de pelo menos duas pessoas (partes), é indispensável que a preparação desse resultado seja feita na presença e mediante a possível participação desses sujeitos interessados. Autor é aquele que deduz em juízo uma pretensão, é o protagonista; e réu aquele em face de quem aquela pretensão é deduzida, é o antagonista. O juiz se apresenta como sujeito imparcial do processo, investido de autoridade para dirimir a lide se coloca entre as partes. Sua superior virtude, exigida legalmente e cercada de cuidados constitucionais destinados a resguardá-la, é a imparcialidade. A qualidade de terceiro estranho ao conflito em causa é essencial à condição de juiz. No exercício da jurisdição, função estatal, o juiz não pode eximir-se de atuar no processo, desde que tenha sido regularmente provocado. Objeto da relação jurídica processual O objeto da relação jurídica processual é o serviço jurisdicional que o Estado tem o dever de prestar, mediante o provimento final em cada processo. O objeto nada mais é que o “mérito” da causa, o objetivo que se busca com a ação. Autonomia da Relação Processual Conforme já destacado anteriormente, quando do estudo das características da relação jurídica processual, tem-se que é autônoma, distinta da relação jurídica material (ou substancial), sobre a qual divergem as partes, como supracitado. Conforme se pôde inferir, o juiz, em seu poder estatal, deve direcionar seus poderes apenas para a relação processual, uma vez que interferir em favor das partes materialmente seria ir contra o princípio da parcialidade do juiz, e talvez da inércia também. O juiz não deve interferir na litigância do objeto de forma a ferir os princípios do devido processo legal. Registra-se novamente que a relação jurídica processual é autônoma porque é distinta da relação jurídica de direito material. Ambas existem no processo, mas cada qual tem seus pressupostos próprios. São reguladas por normas distintas: as relações jurídicas processuais são reguladas por normas de direito processual enquanto as relações jurídicas substanciais são regidas por normas de direito substantivo. Novamente, a relação jurídica processual independe, para ter validade, da existência da relação de direito substancial controvertida. Instaurado o processo, sua validade vai depender de requisitos próprios, pouco importando que esta exista ou não. MÓDULO 2 - PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS: CONCEITO; CONSTITUIÇÃO DA RELAÇÃO PROCESSUAL; DESENVOLVIMENTO DA RELAÇÃO PROCESSUAL; PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS; PRESSUPOSTOS OBJETIVOS Pressupostos processuais: Conceito Os pressupostos processuais são requisitos necessários para a constituição e o desenvolvimento do “devido” processo legal. Constituído o processo, pelo pedido do autor formulado ao juiz contra o réu, daí por diante os pressupostos a considerar já não dizem respeito à constituição do processo, mas ao seu desenvolvimento válido e regular. Para Humberto Theodoro Júnior “Os pressupostos processuais são exigências legais sem cujo atendimento o processo, como relação jurídica, não se estabelece ou não se desenvolve validamente. (...). São, em suma, requisitos jurídicos para a validade e eficácia da relação processual”. Para ele, os pressupostos processuais são de existência (“requisitos para que a relação processual se constitua validamente”) e de desenvolvimento (“aqueles a serem atendidos, depois que o processo se estabeleceu regularmente, a fim de que possa ter curso também regular, até sentença de mérito ou a providência jurisdicional definitiva”). Entende, ainda, Theodoro Júnior, que os pressupostos processuais podem ser subjetivos (relacionados ao juiz e às partes), compreendendo: “a) a competência do juiz para a causa; b) a capacidade civil das partes; c)sua representação por advogado”, ou objetivos: “relacionam-se com a forma procedimental e com a ausência de fatos que impeçam a regular constituição do processo, segundo a sistemática do direito processual civil. Compreendem: “a) a observância da forma processual adequada à pretensão; b) a existência nos autos de mandato conferido ao advogado; c) a inexistência de litispendência, coisa julgada, compromisso, ou de inépcia da petição inicial; d) a inexistência de qualquer das nulidades previstas na legislação processual”. José Frederico Marques, por sua vez, ensina que os pressupostos processuais constituem, ao lado das condições da ação, “espécie de que os pressupostos de admissibilidade da tutela jurisdicional são o gênero”. Constituição e Desenvolvimento da relação jurídica processual O processo passa a existir assim que apresentada a petição inicial na forma disciplinada no artigo 312 do CPC. Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a propositura da ação só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamente citado. Assim o processo existe mesmo antes da citação. Já a relação jurídica processual somente se formará com a citação válida do réu. Esta relação processual por ser triangular, se dá em relação ao réu porque este somente será atingido pela relação processual a partir da ocorrência da citação. Antes da citação a relação processual somente existirá e vinculará o autor e o Estado-jurisdição e somente estes ficam obrigados ao resultado do que até então ocorrer no processo. Existe o processo mas não relação jurídica processual. Com a citação, temos a formação da relação processual e a partir desse aperfeiçoamento o réu fica vinculado aos resultados do processo, quaisquer que sejam esses resultados. Desta forma a citação tem por finalidade vincular o réu ao processo e com isso completar a relação triangular processual. Com isso, o processo que já existia, agora com a citação, passa a ter plena eficácia em relação ao réu e qualquer que seja o resultado da demanda o vincula. Pressupostos Processuais Subjetivos e Objetivos Cabe destacar, dentre os pressupostos processuais subjetivos, aqueles referentes às partes (autor e réu). Capacidade (para ser parte, para estar em juízo e postulatória). Atualmente, o conceito de parte está ligado à atividade judicial do Estado. Partes são as pessoas que pedem, ou em face das quais se pedem, em nome próprio, a tutela jurisdicional (Moacyr Amaral). A definição das partes do processo é de fundamental importância para fixar os limites subjetivos da coisa julgada, ou seja, para identificar quem pode ser beneficiado pelos efeitos da sentença e a quem o provimento pode atingir. De ordinário, as partes na relação processual são os sujeitos ativos e passivos da relação de direito substancial que nela se controverte. Por isso, parte é quem solicita a prestação jurisdicional (sujeito ativo), bem como aquele em face de quem a prestação é solicitada (sujeito passivo). Trata-se, pois, de conceito eminentemente processual. Nas hipóteses de jurisdição voluntária, por não haver lide, parte da doutrina entende que não há um autor demandando em face de um réu, restringindo-se o termo "parte" às pessoas envolvidas em processo de jurisdição contenciosa. Nesse sentido, na jurisdição voluntária haveria apenas "interessados". O CPC traz várias nomenclaturas para designar as partes como por exemplo: autor e réu nas hipóteses de procedimento ordinário; exequente e executado para as execuções; recorrente e recorrido nos recursos; etc. As partes podem estar pessoalmente presentes para atuar em juízo ou representadas por procuradores, devidamente habilitados, conforme será explicado a seguir. O CPC/73 apontava que eram pressupostos processuais subjetivos em relação às partes: a) Capacidade de ser parte: toda a pessoa tem capacidade de ser parte, ou seja, aptidão de participar da relação jurídica processual, em nome próprio ou alheio. A capacidade de ser parte decorre do disposto pelo artigo 1º do Código Civil (CC): Art. 1° Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. b) Capacidade de estar em juízo: é a capacidade de exercer direitos e deveres processuais, ou seja, é a capacidade de praticar validamente atos no processo. Eis o disposto pelo artigo 7º do CPC/73: Art. 7° Toda pessoa que se acha no exercício dos seus direitos tem capacidade para estar em juízo. Em relação aos incapazes o CPC/73 aponta que: Art. 8° Os incapazes serão representados ou assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na forma da lei civil. Art. 9° O juiz dará curador especial: I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele; II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou com hora certa. Parágrafo único. Nas comarcas onde houver representante judicial de incapazes ou de ausentes, a este competirá a função de curador espe Em relação ao cônjuge o CPC de 1973 determina que: Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliários. § 1° Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as ações: I - que versem sobre direitos reais imobiliários; II - resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cônjuges ou de atos praticados por eles; III - fundadas em dívidas contraídas pelo marido a bem da família, mas cuja execução tenha de recair sobre o produto do trabalho da mulher ou os seus bens reservados; IV - que tenham por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóveis de um ou de ambos os cônjuges. § 2° Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de ato por ambos praticados. Art. 11. A autorização do marido e a outorga da mulher podem suprir-se judicialmente, quando um cônjuge a recuse ao outro sem justo motivo, ou lhe seja impossível dá-la. Parágrafo único. A falta, não suprida pelo juiz, da autorização ou da outorga, quando necessária, invalida o processo. Em relação às pessoas formais o CPC/73 dispõe que: Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, por seus procuradores; II - o Município, por seu Prefeito ou procurador; III - a massa falida, pelo síndico; IV - a herança jacente ou vacante, por seu curador; V - o espólio, pelo inventariante; VI - as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou, não os designando, por seus diretores; VII - as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração dos seus bens; VIII - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88, parágrafo único); IX - o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico. § 1° Quando o inventariante for dativo, todos os herdeiros e sucessores do falecido serão autores ou réus nas ações em que o espólio for parte. § 2° - As sociedades sem personalidade jurídica, quando demandadas, não poderão opor a irregularidade de sua constituição. § 3° O gerente da filial ou agência presume-se autorizado, pela pessoa jurídica estrangeira, a receber citação inicial para o processo de conhecimento, de execução, cautelar e especial. O CPC/15 (muito embora tenha passado a considerar as condições da ação - interesse e legitimidade - também como pressupostos processuais) disciplinou a capacidade de ser parte, a capacidade de estar em juízo e a capacidade postulatória, de forma muito semelhante ao código anterior: Art. 71. O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei. Art. 72. O juiz nomeará curador especial ao: I - incapaz, se não tiver representante legal ou se os interesses deste colidirem com os daquele, enquanto durar a incapacidade; II - réu preso revel, bem como ao réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado. Parágrafo único. A curatela especial será exercida pela Defensoria Pública, nos termos da lei. Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. § 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação: I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges. § 2o Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado. § 3o Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos. Art. 74. O consentimento previsto no art. 73 pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo. Parágrafo único. A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo. Art. 75. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado; II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores; III - o Município, por seu prefeito ou procurador; IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar; V - a massa falida, pelo administrador judicial; VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador; VII - o espólio, pelo inventariante; VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus diretores; IX - a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa a quem couber a administração de seus bens; X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil; XI - o condomínio, pelo administrador ou síndico. § 1o Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o espólio seja parte. § 2o A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a irregularidade de sua constituição quando demandada. § 3o O gerente de filial ou agência presume-se autorizado pela pessoa jurídica estrangeira a receber citação para qualquer processo. § 4o Os Estados e o Distrito Federal poderão ajustar compromisso recíproco para prática de ato processual por seus procuradores em favor de outro ente federado, mediante convênio firmado pelas respectivas procuradorias. c) Capacidade Postulatória (jus postulandi): A capacidade de pleitear em juízo o direito subjetivo de alguém cabe ao advogado, profissional habilitado e inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. A Constituição Federal aponta que o advogado é indispensável para a administração da justiça: Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei. O Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/94) repete o dispositivo legal supracitado e ainda indica que: Art. 3º O exercício da atividade de advocacia no território brasileiro e a denominação de advogado são privativos dos inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O CPC/73, sobre a capacidade postulatória, dispõe que: Art. 36. A parte será representada em juízo por advogado legalmente habilitado. Ser-lhe-á lícito, no entanto, postular em causa própria, quando tiver habilitação legal ou, não a tendo, no caso de falta de advogado no lugar ou recusa ou impedimento dos que houver. § 1o Caberá ao Advogado-Geral da União patrocinar as causas de interesse do Poder Público Federal, inclusive as relativas aos titulares dos Poderes da República, podendo delegar aos respectivos representantes legais a tarefa judicial, como também, se for necessário, aos seus substitutos nos serviços de Advocacia-Geral. § 2o Em cada Estado e Municípios, as funções correspondentes à Advocacia-Geral da União caberão ao órgão competente indicado na legislação específica. O CPC/15 disciplina a matéria da seguinte forma: Art. 103. A parte será representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. Parágrafo único. É lícito à parte postular em causa própria quando tiver habilitação legal. Art. 104. O advogado não será admitido a postular em juízo sem procuração, salvo para evitar preclusão, decadência ou prescrição, ou para praticar ato considerado urgente. § 1° Nas hipóteses previstas no caput, o advogado deverá, independentemente de caução, exibir a procuração no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável por igual período por despacho do juiz. § 2° O ato não ratificado será considerado ineficaz relativamente àquele em cujo nome foi praticado, respondendo o advogado pelas despesas e por perdas e danos. A procuração é o instrumento do mandato. A procuração é a prova de que o advogado tem poderes para representar a parte em juízo. Os poderes para a representação em juízo são os decorrentes da cláusula ad judicia, que habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto para receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica, nos termos do artigo 105 do CPC/15: Art. 105. A procuração geral para o foro, outorgada por instrumento público ou particular assinado pela parte, habilita o advogado a praticar todos os atos do processo, exceto receber citação, confessar, reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, receber, dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência econômica, que devem constar de cláusula específica. § 1o A procuração pode ser assinada digitalmente, na forma da lei. § 2o A procuração deverá conter o nome do advogado, seu número de inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 3o Se o outorgado integrar sociedade de advogados, a procuração também deverá conter o nome dessa, seu número de registro na Ordem dos Advogados do Brasil e endereço completo. § 4o Salvo disposição expressa em sentido contrário constante do próprio instrumento, a procuração outorgada na fase de conhecimento é eficaz para todas as fases do processo, inclusive para o cumprimento de sentença. Já com relação aos pressupostos processuais relativos ao juiz, podemos destacar a Competência e a Imparcialidade. No que se refere à Competência, é possível conceitua-la como o alcance da jurisdição de um magistrado. É o âmbito de seu poder de dizer o direito. Relacionado com a competência temos o princípio do juiz natural no artigo 5.º, LIII, e XXXVII da CF que dizem respectivamente: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente” e “ não haverá juízo ou tribunal de exceção.” Ressalta-se que, à leitura dos incisos acima referidos, nota-se a preocupação do legislador constitucional originário de preservar a imparcialidade do julgador, pois só com julgamentos isentos teremos decisões justas. Já no que tange à imparcialidade, também a Constituição Federal o acolhe implicitamente (e nem por isso deixa de ser um princípio fundamental) quando, ao lado das garantias dos magistrados, diz, no parágrafo único do artigo 95, que é vedado aos juízes exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participações em processo; e dedicar-se à atividade político-partidária. Portanto, para a validade do processo, significa que não basta que haja alguém investido de jurisdição, mas sim que órgão jurisdicional seja competente, conforme as regras Constitucionais e processuais de fixação de competência, assim como as regras de organização judiciária. Outro fator importantíssimo de validade do processo consiste na imparcialidade do juiz, ou seja, a pessoa que naquele momento se encontra exercendo a jurisdição naquele juízo deve estar habilitada a receber e apreciar com isenção de espírito os argumentos e as provas trazidos por cada uma das partes, para, com a mesma isenção, vir a decidir. No direito brasileiro, como elemento essencial do nosso processo justo (art. 5º, LIV, CRFB), há um direito fundamental ao juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII, CRFB), que é necessariamente juiz competente e imparcial. Regulando a questão da imparcialidade do juiz, temos duas hipóteses de caracterização da parcialidade do mesmo ou de não caracterização da imparcialidade: (I) Impedimento: Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou prestou depoimento como testemunha; II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão; III - quando nele estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no processo; VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de qualquer das partes; VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação de serviços; VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado. § 1° Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz. § 2° É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar impedimento do juiz. § 3° O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo. Nestes casos acima arrolados, há presunção de comprometimento da imparcialidade. Nestes casos o juiz está proibido de atuar, ou seja, tem o dever de não judicar. As hipóteses retro mencionadas do artigo 144 do CPC são objetivas, ou seja, basta a incidência da hipótese para que se configure o impedimento, sendo passíveis de invalidação, caso praticados atos processuais por juiz impedido (II)Suspeição: Art. 145. Há suspeição do juiz: I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados; II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às despesas do litígio; III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive; IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes. § 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões. § 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando: I - houver sido provocada por quem a alega; II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta aceitação do arguido. As hipóteses de incidência de suspeição são de índole pessoal, tendo o interessado que alegar e provar a hipótese de suspeição. Vejamos o entendimento do Superior Tribunal de Justiça a esse respeito, quando da vigência do CPC de 1973: STJ - PROCESSUAL CIVIL. EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO. FATOS NÃOCOMPROBATÓRIOS DA IMPARCIALIDADE DO MAGISTRADO. 1. Revela-se desprovida de fundamento a suspeição quando a situação não se subsume em qualquer das hipóteses do art. 135 do CPC e o excipiente não indica qualquer fato ou indício apto a colocar em dúvida a isenção do magistrado. 2. Agravo regimental desprovido. (STJ – AgRg na ExSusp. n. 19/PR – rel. Min. Teori Zavascki – j. 09.06.2004, – fonte: www.stj.jus.br, acesso em 10.03.09).17-18 MÓDULO 3 - SUJEITOS DO PROCESSO: CONCEITO; O JUIZ E SEU PAPEL NO PROCESSO MODERNO; PODERES DO JUIZ; DEVERES DO JUIZ; AS PARTES: AUTOR E RÉU; DEVERES DAS PARTES; DESPESAS E HONORÁRIOS; GRATUIDADE DA JUSTIÇA; SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. Sujeitos do Processo Processo é o meio de que se vale o Estado para exercer a função jurisdicional, compondo-se de um conjunto de atos cuja finalidade é a composição da lide. É ainda, o método, a técnica, o instrumento de que se utiliza o Estado para a solução dos conflitos de interesses submetidos à apreciação jurisdicional. São protagonistas principais no processo as partes e o juiz. Juiz Os elementos subjetivos do processo judicial são as partes, isto é, os litigantes que constituem o polo ativo e passivo da ação, bem como o juiz, responsável pela solução do litígio proposto na pretensão resistida. Contudo, o julgador desempenha uma função preponderante, pois atua em nome do órgão do Estado responsável pela prolação da sentença. O processo judicial, no ordenamento jurídico pátrio, é uma relação jurídica triangular autônoma. Estabelece-se entre autor, réu e juiz. Por ser relação jurídica, cria direitos e deveres para todos. Assim, na relação processual, o juiz exerce posição de proeminência, pois ele é a autoridade, o próprio Estado, no exercício da função jurisdicional. O fato de o juiz participar da relação processual como órgão do Estado, justifica sua posição predominante, pois representa o poder jurisdicional, atendendo ao interesse público, ou seja, a vontade da coletividade na composição dos conflitos em obediência à lei. Vale frisar que o processo judicial possui como finalidade alcançar a prestação jurisdicional num caso concreto, visando a paz social, bem como a soberania da lei no desenvolvimento da relação entre as partes. Assim, sobreleva o interesse público de que o processo se desenvolva e atinja a sua finalidade na consonância das normas e princípios orientadores da justiça. Para impor a ordem jurídica e, consequentemente, manter a paz social, o Estado assumiu o monopólio da justiça, manifestando uma faceta de seu poder, o poder jurisdicional. Por outro lado, não permitindo a justiça privada, assumiu o dever de prestar a tutela jurisdicional sempre que provocado para tanto. Aliás, o conceito de jurisdição engloba pelo menos dois aspectos: a jurisdição como manifestação do poder do Estado e como função ou encargo. Em razão disso, os poderes e deveres do juiz são indissociáveis . Vejamos a lição da doutrina sobre o juiz na condução do processo: O juiz como diretor do processo, como aquele que deve ter a sua convicção formada, pode determinar a produção da prova nas hipóteses em que as partes ou eventuais terceiros não o façam voluntariamente. São tranquilas a doutrina e a jurisprudência quanto à legitimidade dessa iniciativa pelo juiz, reconhecendo-lhe, inclusive, o que em geral é chamado de "poderes instrutórios", isto é, a possibilidade de o juiz determinar de ofício, ou seja, independentemente de qualquer iniciativa das partes, a prova sem a qual não se sente habilitado a julgar, para acolher ou rejeitar o(s) pedido(s) de tutela jurisdicional Tanto assim que a lei impõe como dever das partes e de terceiros o de colaborar com o Judiciário para o "descobrimento da verdade". No processo judicial moderno, o juiz inerte e passivo se substitui o juiz ativo, como o compreende a doutrina contemporânea e o instituiu o direito brasileiro. O magistrado passa a atuar como sujeito predominante da relação processual e como tal desenvolve atividades amplas e variadas, não só quanto ao ordenamento do processo como, ainda, no que toca à instrução, a formação do material de sua convicção, necessário à decisão do conflito. Poderes e Deveres do juiz No que toca ao ordenamento brasileiro, com o recente advento do novo Código de Processo Civil (CPC/15), o qual objetiva a eficácia de um processo colaborativo, foram consagrados poderes de direção ao juiz, mas ao mesmo tempo concedidos, para casos específicos, poderes às partes através de uma cláusula geral de negociação processual. A ideia de um juiz gestor foi consolidada no CPC/15 o qual trouxe disposições de poderes, deveres e responsabilidades do magistrado. O artigo 139 determina que este deverá dirigir o processo de modo a: (i) assegurar a igualdade das partes; (ii) velar pela duração razoável do processo; (iii) prevenir ou reprimir ato contrário à dignidade da justiça; (iv) determinar medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para assegurar o cumprimento da ordem judicial; (v) promover a autocomposição; (vi) dilatar prazos processuais; (vii) alterar a ordem da produção de provas; (viii) exercer o poder de polícia; (ix) determinar o comparecimento das partes para inquiri-las; e (x) determinar o suprimento dos pressupostos processuais e o saneamento de vícios. O CPC vigente também conferiu poderes de gestão material do processo ao magistrado, apesar de optar na maioria das vezes por uma gestão formal - relativa apenas à adaptação de procedimento - conforme se depreende da análise do próprio Código. Citam-se, a título de melhor elucidação, alguns dos dispositivos legais do CPC/15 em que se identifica a gestão tanto formal como material do processo: artigo 191 (permite ao juiz e às partes a elaboração de um calendário processual); artigo 322, § 2º(permite ao juiz interpretar o pedido conforme o conjunto da postulação, observando o princípio da boa-fé); artigo 352 (permite ao juiz determinar a correção das alegações do réu); artigo 373, § 1º (permite ao juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso); e artigo 370 (permite ao juiz de ofício determinar as provas necessárias ao julgamento do mérito). O artigo 373, § 1º merece análise mais detalhada por ser um esclarecedor exemplo de gestão material do processo. Ele confere ao magistrado o poder de decidir pela dinamização do ônus da prova, diante da peculiaridade da causa e da impossibilidade ou da excessiva dificuldade de produzi-la, de modo a igualar as partes, interferindo no processo não apenas para alcançar celeridade, mas sim uma decisão justa. Seguem os dispositivos do CPC vigente referentes aos poderes/deveres do juiz: Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I - assegurar às partes igualdade de tratamento; II - velar pela duração razoável do processo; III - prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações meramente protelatórias; IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária; V - promover, a qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de conciliadores e mediadores judiciais; VI - dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito; VII - exercer o poder de polícia, requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança interna dos fóruns e tribunais; VIII - determinar, a qualquer tempo, o comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais; X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5o da Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985, e o art. 82 da Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990, para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva. Parágrafo único. A dilação de prazos prevista no inciso VI somente pode ser determinada antes de encerrado o prazo regular. Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte. Art. 142. Convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé. Art. 143. O juiz responderá, civil e regressivamente, por perdas e danos quando: I - no exercício de suas funções, proceder com dolo ou fraude; II - recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência que deva ordenar de ofício ou a requerimento da parte. Parágrafo único. As hipóteses previstas no inciso II somente serão verificadas depois que a parte requerer ao juiz que determine a providência e o requerimento não for apreciado no prazo de 10 (dez) dias. Partes e Procuradores. Atualmente, o conceito de parte está ligado à atividade judicial do Estado. Partes são as pessoas que pedem, ou em face das quais se pedem, em nome próprio, a tutela jurisdicional (Moacyr Amaral). A definição das partes do processo é de fundamental importância para fixar os limites subjetivos da coisa julgada, ou seja, para identificar quem pode ser beneficiado pelos efeitos da sentença e a quem o provimento pode atingir. De ordinário, as partes na relação processual são os sujeitos ativos e passivos da relação de direito substancial que nela se controverte. Por isso, parte é quem solicita a prestação jurisdicional (sujeito ativo), bem como aquele em face de quem a prestação é solicitada (sujeito passivo). Trata-se, pois, de conceito eminentemente processual. Nas hipóteses de jurisdição voluntária, por não haver lide, parte da doutrina entende que não há um autor demandando em face de um réu, restringindo-se o termo "parte" às pessoas envolvidas em processo de jurisdição contenciosa. Nesse sentido, na jurisdição voluntária haveria apenas "interessados". O CPC traz várias nomenclaturas para designar as partes como por exemplo: autor e réu nas hipóteses de procedimento ordinário; exequente e executado para as execuções; recorrente e recorrido nos recursos; etc. As partes podem estar pessoalmente presentes para atuar em juízo ou representadas por procuradores, devidamente habilitados, conforme será explicado a seguir. Substituição das Partes e seus Procuradores. Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico. Havendo substituição processual, o substituído poderá intervir como assistente litisconsorcial. Assim a parte postula “em nome próprio” na defesa de “seu próprio direito” (legitimatio ad causam), motivo pelo qual não pode terceiro, postular em nome próprio, na defesa de direito que não seja seu. O CPC/73 tratava do tema as seguinte maneira: Art. 41. Só é permitida, no curso do processo, a substituição voluntária das partes nos casos expressos em lei. Art. 42. A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre vivos, não altera a legitimidade das partes. § 1o O adquirente ou o cessionário não poderá ingressar em juízo, substituindo o alienante, ou o cedente, sem que o consinta a parte contrária. § 2o O adquirente ou o cessionário poderá, no entanto, intervir no processo, assistindo o alienante ou o cedente. § 3o A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário. Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 265. Art. 44. A parte, que revogar o mandato outorgado ao seu advogado, no mesmo ato constituirá outro que assuma o patrocínio da causa. Contudo o CPC/15 tratou o assunto de forma diversa. Agora se o réu alegar em sede de contestação que não é parte legítima, o autor poderá substituir o réu. Para facilitar a apuração dos fatos, incumbe ao réu, se souber, indicar quem deve figurar no polo passivo da relação jurídica. Portanto hoje em dia é possível a correção do polo passivo, o que só acontecia no CPC/73 na modalidade de nomeação à autoria. Eis a redação do CPC vigente: Art. 338. Alegando o réu, na contestação, ser parte ilegítima ou não ser o responsável pelo prejuízo invocado, o juiz facultará ao autor, em 15 (quinze) dias, a alteração da petição inicial para substituição do réu. Parágrafo único. Realizada a substituição, o autor reembolsará as despesas e pagará os honorários ao procurador do réu excluído, que serão fixados entre três e cinco por cento do valor da causa ou, sendo este irrisório, nos termos do art. 85, § 8o. Art. 339. Quando alegar sua ilegitimidade, incumbe ao réu indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida sempre que tiver conhecimento, sob pena de arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuízos decorrentes da falta de indicação. § 1o O autor, ao aceitar a indicação, procederá, no prazo de 15 (quinze) dias, à alteração da petição inicial para a substituição do réu, observando-se, ainda, o parágrafo único do art. 338. § 2o No prazo de 15 (quinze) dias, o autor pode optar por alterar a petição inicial para incluir, como litisconsorte passivo, o sujeito indicado pelo réu. Ainda tratando da legitimação ad causam principal classificação doutrinária é a que a divide em legitimação ordinária e legitimação extraordinária (critério - relação entre o legitimado e o objeto litigioso do processo). Na legitimação ordinária temos aquele que defende em juízo interesse próprio. Na legitimação extraordinária, diferentemente, temos aquele que defende em nome próprio interesse de outro, ou seja, na legitimação extraordinária confere-se a alguém o poder de alguém conduzir um processo que trata de direito do qual não é titular ou do qual não é titular exclusivo. Aliás, nesse sentido, interessante decisão do Superior Tribunal de Justiça, divulgado no Informativo de Jurisprudência 0541: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAR AÇÃO DE ALIMENTOS EM PROVEITO DE CRIANÇA OU ADOLESCENTE. RECURSO REPETITIVO (ART. 543-C DO CPC E RES. 8/2008-STJ). O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente, independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou de o infante se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca. De fato, o art. 127 da CF traz, em seu caput, a identidade do MP, seu núcleo axiológico, sua vocação primeira, que é ser "instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis". Ademais, nos incisos I a VIII do mesmo dispositivo, a CF indica, de forma meramente exemplificativa, as funções institucionais mínimas do MP, trazendo, no inciso IX, cláusula de abertura que permite à legislação infraconstitucional o incremento de outras atribuições, desde que compatíveis com a vocação constitucional do MP. Diante disso, já se deduz um vetor interpretativo invencível: a legislação infraconstitucional que se propuser a disciplinar funções institucionais do MP poderá apenas elastecer seu campo de atuação, mas nunca subtrair atribuições já existentes no próprio texto constitucional ou mesmo sufocar ou criar embaraços à realização de suas incumbências centrais, como a defesa dos "interesses sociais e individuais indisponíveis" (art. 127 da CF) ou do respeito "aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia" (art. 129, II, da CF). No ponto, não há dúvida de que a defesa dos interesses de crianças e adolescentes, sobretudo no que concerne à sua subsistência e integridade, insere-se nas atribuições centrais do MP, como órgão que recebeu a incumbência constitucional de defesa dos interesses individuais indisponíveis. Nesse particular, ao se examinar os principais direitos da infância e juventude (art. 227, caput, da CF), percebe-se haver, conforme entendimento doutrinário, duas linhas principiológicas básicas bem identificadas: de um lado, vige o princípio da absoluta prioridade desses direitos; e, de outro lado, a indisponibilidade é sua nota predominante, o que torna o MP naturalmente legitimado à sua defesa. Além disso, é da própria letra da CF que se extrai esse dever que transcende a pessoa do familiar envolvido, mostrando-se eloquente que não é só da família, mas da sociedade e do Estado, o dever de assegurar à criança e ao adolescente, "com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação" (art. 227, caput), donde se extrai o interesse público e indisponível envolvido em ações direcionadas à tutela de direitos de criança e adolescente, das quais a ação de alimentos é apenas um exemplo. No mesmo sentido, a CF consagra como direitos sociais a "alimentação" e "a proteção à maternidade e à infância" (art. 6º), o que reforça entendimento doutrinário segundo o qual, em se tratando de interesses indisponíveis de crianças ou adolescentes (ainda que individuais), e mesmo de interesses coletivos ou difusos relacionados com a infância e a juventude, sua defesa sempre convirá à coletividade como um todo. Além do mais, o STF (ADI 3.463, Tribunal Pleno, DJe 6/6/2012) acolheu expressamente entendimento segundo o qual norma infraconstitucional que, por força do inciso IX do art. 129 da CF, acresça atribuições ao MP local relacionadas à defesa da criança e do adolescente, é consentânea com a vocação constitucional do Parquet. Na mesma linha, é a jurisprudência do STJ em assegurar ao MP, dada a qualidade dos interesses envolvidos, a defesa dos direitos da criança e do adolescente, independentemente de se tratar de pessoa individualizada (AgRg no REsp 1.016.847-SC, Segunda Turma, DJe 7/10/2013; e EREsp 488.427-SP, Primeira Seção, DJe 29/9/2008). Ademais, não há como diferenciar os interesses envolvidos para que apenas alguns possam ser tutelados pela atuação do MP, atribuindo-lhe legitimidade, por exemplo, em ações que busquem tratamento médico de criança e subtraindo dele a legitimidade para ações de alimentos, haja vista que tanto o direito à saúde quanto o direito à alimentação são garantidos diretamente pela CF com prioridade absoluta (art. 227, caput), de modo que o MP detém legitimidade para buscar, identicamente, a concretização, pela via judicial, de ambos. Além disso, não haveria lógica em reconhecer ao MP legitimidade para ajuizamento de ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos, ou mesmo a legitimidade recursal em ações nas quais intervém - como reiteradamente vem decidindo a jurisprudência do STJ (REsp 208.429-MG, Terceira Turma, DJ 1/10/2001; REsp 226.686-DF, Quarta Turma, DJ 10/4/2000) -, subtraindo-lhe essa legitimação para o ajuizamento de ação unicamente de alimentos, o que contrasta com o senso segundo o qual quem pode mais pode menos. De mais a mais, se corretamente compreendida a ideologia jurídica sobre a qual o ECA, a CF e demais diplomas internacionais foram erguidos, que é a doutrina da proteção integral, não se afigura acertado inferir que o art. 201, III, do ECA - segundo o qual compete ao MP promover e acompanhar as ações de alimentos e os procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar, nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem como oficiar em todos os demais procedimentos da competência da Justiça da Infância e da Juventude - só tenha aplicação nas hipóteses previstas no art. 98 do mesmo diploma, ou seja, quando houver violação de direitos por parte do Estado, por falta, omissão ou abuso dos pais ou em razão da conduta da criança ou adolescente, ou ainda quando não houver exercício do poder familiar. Isso porque essa solução implicaria ressurgimento do antigo paradigma superado pela doutrina da proteção integral, vigente durante o Código de Menores, que é a doutrina do menor em situação irregular. Nesse contexto, é decorrência lógica da doutrina da proteção integral o princípio da intervenção precoce, expressamente consagrado no art. 100, parágrafo único, VI, do ECA, tendo em vista que há que se antecipar a atuação do Estado exatamente para que o infante não caia no que o Código de Menores chamava situação irregular, como nas hipóteses de maus-tratos, violação extrema de direitos por parte dos pais e demais familiares. Além do mais, adotando-se a solução contrária, chegar-se-ia em um círculo vicioso: só se franqueia ao MP a legitimidade ativa se houver ofensa ou ameaça a direitos da criança ou do adolescente, conforme previsão do art. 98 do ECA. Ocorre que é exatamente mediante a ação manejada pelo MP que se investigaria a existência de ofensa ou ameaça a direitos. Vale dizer, sem ofensa não há ação, mas sem ação não se descortina eventual ofensa. Por fim, não se pode confundir a substituição processual do MP - em razão da qualidade dos direitos envolvidos, mediante a qual se pleiteia, em nome próprio, direito alheio -, com a representação processual da Defensoria Pública. Realmente, o fato de existir Defensoria Pública relativamente eficiente na comarca não se relaciona com a situação que, no mais das vezes, justifica a legitimidade do MP, que é a omissão dos pais ou responsáveis na satisfação dos direitos mínimos da criança e do adolescente, notadamente o direito à alimentação. É bem de ver que - diferentemente da substituição processual do MP - a assistência judiciária prestada pela Defensoria Pública não dispensa a manifestação de vontade do assistido ou de quem lhe faça as vezes, além de se restringir, mesmo no cenário da Justiça da Infância, aos necessitados, no termos do art. 141, § 1º, do ECA. Nessas situações, o ajuizamento da ação de alimentos continua ao alvedrio dos responsáveis pela criança ou adolescente, ficando condicionada, portanto, aos inúmeros interesses rasteiros que, frequentemente, subjazem ao relacionamento desfeito dos pais. Ademais, sabe-se que, em não raras vezes, os alimentos são pleiteados com o exclusivo propósito de atingir o ex-cônjuge, na mesma frequência em que a pessoa detentora da guarda do filho se omite no ajuizamento da demanda quando ainda remanescer esperança no restabelecimento da relação. Enquanto isso, a criança aguarda a acomodação dos interesses dos pais, que nem sempre coincidem com os seus. REsp 1.265.821-BA e REsp 1.327.471-MT, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgados em 14/5/2014. Disponível em: https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre=substituição+e+processual&operador=e&b=I NFJ&thesaurus=JURIDICO Acesso em 26/03/2016. A respeito do tema também se faz pertinente diferenciar outros dois institutos. Primeiramente a substituição processual difere da representação, pois o representante atua em nome do representado, ou seja, ele atua em nome alheio na defesa do direito alheio. Também difere a substituição processual da sucessão de partes. Na sucessão, o sucessor atua em nome próprio na defesa de direito próprio, pois ingressou na relação processual como sujeito legitimado pela relação de direito material de que se tornou titular. Deveres, obrigações e ônus processuais. Todos os sujeitos envolvidos no processo devem expor os fatos em juízo conforme a verdade; não formular pretensão nem apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento; não produzir provas nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito; cumprir com exatidão as decisões judiciais e não criar embaraços à sua efetivação; declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva; não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso; etc. O CPC/73 dispunha sobre os deveres das partes e de todos os que participam do processo da seguinte forma: Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; II - proceder com lealdade e boa-fé; III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento; IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito. V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final. Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado. Art. 15. É defeso às partes e seus advogados empregar expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las. Parágrafo único. Quando as expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as use, sob pena de lhe ser cassada a palavra. O CPC/15 dispõe sobre os deveres das partes: Art. 77. Além de outros previstos neste Código, são deveres das partes, de seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo: I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; II - não formular pretensão ou de apresentar defesa quando cientes de que são destituídas de fundamento; III - não produzir provas e não praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou à defesa do direito; IV - cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação; V - declinar, no primeiro momento que lhes couber falar nos autos, o endereço residencial ou profissional onde receberão intimações, atualizando essa informação sempre que ocorrer qualquer modificação temporária ou definitiva; VI - não praticar inovação ilegal no estado de fato de bem ou direito litigioso. § 1o Nas hipóteses dos incisos IV e VI, o juiz advertirá qualquer das pessoas mencionadas no caput de que sua conduta poderá ser punida como ato atentatório à dignidade da justiça. § 2o A violação ao disposto nos incisos IV e VI constitui ato atentatório à dignidade da justiça, devendo o juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa de até vinte por cento do valor da causa, de acordo com a gravidade da conduta. § 3o Não sendo paga no prazo a ser fixado pelo juiz, a multa prevista no § 2o será inscrita como dívida ativa da União ou do Estado após o trânsito em julgado da decisão que a fixou, e sua execução observará o procedimento da execução fiscal, revertendo-se aos fundos previstos no art. 97. § 4o A multa estabelecida no § 2o poderá ser fixada independentemente da incidência das previstas nos arts. 523, § 1o, e 536, § 1o. § 5o Quando o valor da causa for irrisório ou inestimável, a multa prevista no § 2o poderá ser fixada em até 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo. § 6o Aos advogados públicos ou privados e aos membros da Defensoria Pública e do Ministério Público não se aplica o disposto nos §§ 2o a 5o, devendo eventual responsabilidade disciplinar ser apurada pelo respectivo órgão de classe ou corregedoria, ao qual o juiz oficiará. § 7o Reconhecida violação ao disposto no inciso VI, o juiz determinará o restabelecimento do estado anterior, podendo, ainda, proibir a parte de falar nos autos até a purgação do atentado, sem prejuízo da aplicação do § 2o. § 8o O representante judicial da parte não pode ser compelido a cumprir decisão em seu lugar. Art. 78. É vedado às partes, a seus procuradores, aos juízes, aos membros do Ministério Público e da Defensoria Pública e a qualquer pessoa que participe do processo empregar expressões ofensivas nos escritos apresentados. § 1o Quando expressões ou condutas ofensivas forem manifestadas oral ou presencialmente, o juiz advertirá o ofensor de que não as deve usar ou repetir, sob pena de lhe ser cassada a palavra. § 2o De ofício ou a requerimento do ofendido, o juiz determinará que as expressões ofensivas sejam riscadas e, a requerimento do ofendido, determinará
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