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Resumo SCRI 2ª Prova

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Página �1
RESUMO SCRI 2
______________________________________________________________________________
RELAÇÕES ENTRE A SOCIEDADE CIVIL, O GOVERNO 
E O BANCO MUNDIAL NO BRASIL
Visão que a Sociedade Civil tem do Banco Mundial
O banco mundial fez varias reuniões de consulta com representantes da Sociedade Civil 
com o objetivo de: fornecer às organizações da sociedade civil sobre o Banco e suas operações 
no Brasil; ouvir as percepções e opiniões da sociedade civil sobre o Banco; consulta-las sobre 
como melhorar o dialogo e permitir uma maior colaboração entre o governo, a sociedade civil e o 
Banco. 
Comentários dos participantes
Os representantes da sociedade civil julgou que o Banco parece adotar uma postura 
econômica e tecnocrática em relação ao desenvolvimento, ignorando os aspectos sociais e 
institucionais; que o banco deveria ter uma abordagem mais integrada em relação ao 
desenvolvimento humano; afirmaram que é preciso que o banco trate das causas da pobreza e 
não apenas das consequências; o Banco deve coordenar seus esforços de maneira mais eficiente 
com outras agencias de cooperação internacional governamentais. O banco não é não acessível à 
sociedade civil como as políticas de participação e divulgação de informação levam a crer. O 
governo é o elo que falta nas reuniões. As OSCs, em geral, não são convidadas para participar 
durante as etapas de desenho e planejamento dos projetos, mas somente quando os projetos 
financiados pelo Banco experimentam problemas e a participação da sociedade civil é vista como 
necessária. 
A maior parte dos representantes das OSCs tinha apenas um conhecimento limitado sobre 
o Banco Mundial. Os participantes tinham, na melhor das hipóteses, informações gerais sobre um 
determinado projeto do Banco no Brasil, mas praticamente nenhum conhecimento sobre o Banco 
em Washington e sobre o seu funcionamento. A percepção geral dos participantes sobre o Banco 
tendeu a ser negativa, principalmente pela falta de dialogo. 
Percepções mutuas equivocadas
Ambos acham que o outro tem alto grau de poder, e que são arrogantes e incompetentes. 
Os dois lados tendem a questionar a legitimidade do outro enquanto interlocutor, questionando 
seus motivos e comportamentos. 
RELAÇÕES ENTRE A SOCIEDADE CIVIL, O GOVERNO E O BANCO MUNDIAL NO 
BRASIL 1 
O PODER DA IDENTIDADE 5 
Migrações 10 
Cidades Rebeldes 12 
ECOLOGIA GLOBAL CONTRA DIVERSIDADE CULTURAL? CONSERVAÇÃO DA 
NATUREZA E POVOS INDÍGENAS NO BRASIL 15 
Página �2
Características comuns
Os dois são agentes modernizantes em um contexto mundial de mudanças dramáticas. 
Apresentam o crescimento e a importância dos elos transnacionais. É comum as OSCs estarem 
mais alinhadas com as políticas do Banco em áreas como gênero, meio ambiente e participação 
da sociedade civil, do que com as políticas dos governos estaduais ou federal. 
Tanto as organizações da sociedade civil como o Banco Mundial defendem a 
reestruturação do Estado e o fortalecimento do papel da sociedade civil, para que se promova o 
accountability, transparência e democracia participativa. Os dois defendem uma agenda comum 
ampla que é a de reformar o Estado, tornando-o mais responsável, enxuto e eficaz na prestação 
de serviços públicos. Além disso, compartilham os mesmos ideais de desenvolvimento humano e 
sustentabilidade ambiental. 
Quando um diálogo produtivo ocorre, os três lados (Governo, Sociedade Civil, Banco) 
tendem a verificar que existem mais pontos e interesses em comum do que inicialmente 
imaginavam.
Políticas de participação do Banco Mundial
O Banco Mundial tem adotado medidas específicas para intensificar as relações com a 
sociedade civil no mundo todo, adotando políticas e programas mais participativos. Estas medidas 
têm incluído a promoção de reuniões de consulta entre representantes do Banco e da sociedade 
civil, a realização de estudos e a adoção de diretrizes operacionais para incentivar o maior 
envolvimento com as Oscs a nível dos projetos. A política de participação da sociedade civil é um 
conceito que realmente está sendo enfatizado no Banco Mundial.
Diversos estudos do Banco sobre participação demonstraram que existe evidência 
empírica cada vez maior de que as estratégias de participação efetiva realmente contribuem para 
melhorar o desempenho dos programas e projetos de desenvolvimento. Outro aspecto importante 
que a experiência em vários projetos financiados pelo Banco no Brasil tem demonstrado é que a 
participação pode trazer benefícios para os diversos atores de formas diferenciadas, porém 
mutuamente benéficas. 
Os custos financeiros e de tempo que a participação acarreta ainda não foram 
devidamente quantificados. A efetiva participação da sociedade civil pode implicar em custos 
como, por exemplo, tradução e distribuição de documentos do Banco/Governo; organização de 
reuniões de consulta comunitárias; realização de pesquisas e diagnósticos comunitários; 
acompanhamento de missões de avaliação por representantes de OSCs; e financiamento da 
participação das OSCs no processo de monitoramento. Estes custos, em geral, não são previstos 
nos orçamentos de supervisão de projeto e, consequentemente, não são incluídos em orçamentos 
de preparação e supervisão.
Reconhecendo que a informação é um fator preponderante para qualquer estratégia de 
participação bem sucedida, o Banco começou a adotar medidas específicas visando aprimorar 
sua política de informação. Em janeiro de 1994, o Banco adotou uma nova política sobre a 
divulgação pública de informações, detalhando quais documentos seriam públicos e que 
procedimentos deveriam ser seguidos para obtê-los. Além de oferecer às OSCs materiais gerais 
sobre o Banco e documentos específicos sobre projetos, como o documento de informação de 
projeto (PID) e o documento de avaliação de projeto (PAD), o escritório do Brasil também 
conseguiu aprimorar ainda mais as políticas de divulgação de informação em alguns casos. 
Banco também adotou medidas para revisar as suas políticas em relação à Estratégia de 
Assistência ao País (CAS). O estudo constatou que um CAS participativo “contribui para que o 
governo dê mais ênfase à sua pauta de desenvolvimento ou para que se chegasse a um 
consenso em torno de uma estratégia de governo”. Como conseqüência destas constatações, a 
Diretoria Executiva do Banco adotou uma nova política de CAS, em setembro de 1998, que 
incentiva uma maior divulgação do CAS através da introdução de um documento de informação 
pública do CAS (um resumo de duas páginas com os principais elementos do documento de 
estratégia) e de procedimentos para a divulgação pública do CAS, caso o governo local requisite 
tal ação. 
Página �3
Diálogo Tripartite
Embora o diálogo e o contato formal entre Banco e OSCs esteja apenas começando no 
Brasil, as relações entre os dois vêm evoluindo há algum tempo em nível global. Um exemplo final 
de um processo de consulta envolveu a revisão de diversas diretrizes operacionais do Banco. Os 
ODs em diversas áreas importantes como assuntos indígenas, assentamentos involuntários e 
manejo florestal estão sendo convertidos em Políticas Operacionais (OPs), Procedimentos do 
Banco (BPs) e Boas Práticas (GPs). 
Evolução das Relações e Colaboração Institucional
Embora possa parecer improvável, dada a tradicional relação antagônica entre as OSCs, o 
Governo e o Banco, tantas vezes caracterizada por mal entendidos e recriminações, na realidade 
os contatose as relações entre os dois lados são consideráveis. No Brasil, o nível crescente de 
interação e colaboração entre governo e OSCs assumiu diversas formas e inclui os conselhos de 
políticas públicas, composto por representantes do governo e sociedade civil, processos 
orçamentários participativos e mecanismos de consulta para projetos. Outro mecanismo de 
participação dos cidadãos, mencionado nos estudos do Banco, é a experiência do orçamento 
participativo que está sendo implementada em alguns municípios no Brasil. 
Outra tendência recente no quadro das parcerias intersetoriais no Brasil vem ocorrendo 
também entre organizações da sociedade civil e setor privado. Existem vários exemplos de 
colaboração entre eles que demonstram os benefícios potenciais que tal cooperação pode trazer 
em termos de mobilização de recursos, inovação de políticas e resultados operacionais. Como a 
Fundação ABRINQ, portosol, movimento viva rio.
Financiamento das OSCs
As relações entre as OSCs, o Governo e o Banco têm evoluído a tal ponto que milhares de 
OSCs atualmente recebem financiamento destes últimos. Embora a maior parte do financiamento 
seja de forma indireta, o Banco mantém diversos mecanismos para financiar OSCs diretamente. 
Em termos de financiamento indireto através do governo brasileiro, o Banco Mundial financia 
atualmente milhares de OSCs em todo o Brasil através dos fundos para pequenos projetos, que 
estão embutidos em diversos grandes empréstimos governamentais em andamento. 
Embora ainda seja muito cedo para avaliar os impactos e resultados desses fundos, já que 
a maioria foi criada há pouco tempo, a análise preliminar é bastante positiva. 
Vantagens e desvantagens da colaboração tripartite
Desvantagens
Mesmo considerando o importante avanço que houve na colaboração entre o governo, a 
sociedade civil e o Banco, alguns analistas e profissionais dos três setores acreditam que o 
fenômeno crescente das relações tripartites pode ter ido longe demais ou ter gerado diversos 
problemas ainda sem solução. Algumas autoridades do governo questionam a legitimidade do 
fenômeno do “conselhismo”, em que representantes das OSCs com uma representatividade auto-
outorgada têm o mesmo poder de voto que um representante eleito. Eles acreditam que as OSCs 
devam ter uma presença em tais conselhos mas que esta deveria ser de natureza consultiva para 
não diluir o poder legítimo dos representantes eleitos. No outro extremo do espectro político, 
analistas salientam o perigo da “participação constrangida”, em que conselhos instituídos por 
exigência de projetos são vistos como uma camisa de força ou um organismo de fachada, e não 
como mecanismos efetivos e espontâneos de participação. Nestas situações, os conselhos 
simplesmente servem para legitimizar interesses das autoridades governamentais ou para apoiar 
decisões previamente tomadas pelo governo local. 
Página �4
Os críticos também ressaltam que as OSCs nunca foram eleitas e, conseqüentemente, 
nunca receberam uma representatividade legal nem o direito de falar em nome de quem quer que 
seja. É verdade que as OSCs não foram eleitas, mas o que esta visão ignora é que as OSCs, em 
parte, ganham sua legitimidade política não a partir de um crivo eleitoral ou de oficialmente 
representar cidadãos, mas sim por defenderem princípios universais mais amplos. Estes 
princípios incluem os direitos humanos, igualdade de gênero e proteção ambiental. A legitimidade 
das OSCs também é conseqüência do sucesso de suas ações em nível local, que cada vez mais 
lhes confere reconhecimento como importantes atores do processo de desenvolvimento.
É importante ressaltar que a influência crescente das OSCs e suas relações mais estreitas 
com o governo também são questionadas por muitos dentro da própria sociedade civil. Não 
apenas muitas OSCs continuam a nutrir a velha suspeita em relação aos seus interlocutores do 
governo, desconfiadas que eles tentarão controlá-las ou cooptá-las, mas muitas outras mantém 
restrições conceituais quanto a trabalhar próximas ao governo ou até diante da idéia de ampliar 
suas operações. Muitos líderes de OSCs, assim como estudiosos do meio acadêmico, acreditam 
que as OSCs não deveriam tentar substituir o papel do Estado na provisão de serviços, já que 
estas são responsabilidades do governo, consagradas na Constituição Brasileira. Além disso, eles 
acreditam que um papel mais amplo das OSCs na sociedade faz parte da chamada estratégia 
neoliberal, que visa reduzir o porte e a influência do Estado. 
Às vezes o papel do Banco Mundial também é questionado, principalmente quando este se 
encontra, muitas vezes contra sua própria vontade, na posição de intermediário entre o governo e 
a sociedade civil. Para o Banco Mundial, a posição ideal é atuar como um catalisador do processo 
incentivando o governo, quando necessário, a ser mais aberto às solicitações das OSCs por mais 
informações e/ou participação. O estudo do OED constatou que o Banco tem vantagens 
comparativas para realizar o papel de catalisador e que já evolui neste sentido.
Vantagens
Apesar da contradições e problemas que caracterizam a colaboração Governo- OSCs-
Banco, as evidências sugerem de forma cada vez mais clara que as vantagens desta crescente 
sinergia institucional são muitas e mutuamente benéficas. Os benefícios são mútuos já que cada 
ator (Governo - Sociedade Civil - Banco) tem experiências e conhecimentos diferentes, porém 
complementares. Em termos de papéis institucionais, enquanto as organizações da sociedade 
civil trazem a legitimidade e a representação da sociedade civil para a mesa de negociações, o 
Governo e o Banco contribuem com o peso e os recursos do setor oficial. Se as OSCs são 
incorporadas ao processo de uma forma construtiva, elas poderão tornar-se parceiras efetivas nas 
tarefas de monitoramento, provisão de assistência técnica e execução de projetos. Mesmo que as 
OSCs não estejam diretamente envolvidas nos assuntos relativos ao projeto, são formadoras de 
opinião importantes na sociedade e podem ajudar a mobilizar o interesse da sociedade civil em 
torno do projeto, assim como divulgar informações úteis sobre o mesmo a grupos de beneficiários. 
. Outra lição sobre as parcerias parece ser que os funcionários do Banco e 
das OSCs têm melhores chances de conseguir uma colaboração mais construtiva e substantiva 
quando se debruçam sobre programas ou projetos específicos, em vez de ficarem enfocados 
apenas em questões políticas e conceituais mais amplas. 

Página �5
O PODER DA IDENTIDADE
Globalização, informacionalização e movimentos sociais 
A globalização e a informacionalização, determinadas pelas redes de riqueza, tecnologia e 
poder estão transformando nosso mundo, possibilitando a melhoria de nossa capacidade 
produtiva, criatividade cultural e potencial de comunicação. Ao mesmo tempo, estão privando as 
sociedades de direitos políticos e privilégios. Esse texto traça um paralelo entre três movimentos 
que se opõem explicitamente à nova ordem mundial dos anos 90, nascido a partir de contextos 
culturais, econômicos e institucionais extremamente diferentes, e veiculados por ideologias 
profundamente contrastantes. 
Movimentos sociais devem ser entendidos em seus próprios termos. Suas praticas são sua 
autodefinição. Nessa analise, o autor caracteriza cada movimento, nos termos de sua própria 
dinâmica especifica, e sua interação com os processos mais amplos que sustentam sua existência 
e se modificam justamente em função dessa existência.
Os movimentos sociais podem ser conservadores, revolucionários, ambos, ou nenhuma 
delas. Não existe uma direção predeterminada no fenômeno da evolução social, o único sentido 
da historia é a historia que nos faz sentido. Os movimento sociais são sintomas de nossas 
sociedades e causam impacto nas estruturas sociais, em diferentes graus de intensidade e 
resultados distintos quedevem ser determinados por meio de pesquisas. 
Os três movimentos selecionados têm objetivos, identidades, ideologias e meios de se 
relacionar com a sociedade extremamente distintos. Como ponto comum eles têm a oposição 
declarada à nova ordem global, o adversário identificado em seu discurso e em suas praticas. 
Os zapatistas do México: o primeiro movimento de guerrilha informacional
Quando o NAFTA entrou em vigor, os integrantes do exercito Zapatista da libertação 
nacional, levemente armados, assumiram o controle das principais cidades adjacentes à floresta 
de Lacandon. A maioria dos integrantes era de índios oriundos de diversos grupos étnicos, 
embora houvesse também mestiços, e alguns de seus lideres, eram intelectuais de origem 
urbana. Os lideres cobriam o rosto com mascaras de esquiadores. Em confronto com o Exército 
Mexicano, a guerrilha fez uma retirado para o meio da floresta tropical. O impacto do levante, bem 
como a simpatia generalizada pela causa zapatista, convenceram o Presidente do México a 
negociar. Foi assinado um acordo pelo qual se estabeleceu o cessar-fogo, forma libertados os 
prisioneiros de ambos os lados, e deu-se inicio a um processo de negociação voltado a uma 
discussão mais ampla sobre reforma política, direitos do indígenas e reivindicação sociais.
Quem são os zapatistas?
Eram basicamente camponeses, a maioria índios oriundos das comunidades estabelecidas 
na floresta tropical de Lacandon, na fronteira com a Guatemala. Essas comunidades foram 
criadas com o apoio do governo na tentativa de solucionar a crise social causada pelo expulsão 
dos camponeses sem terra que trabalhavam para os proprietários de terra. Em 1972, o Presidente 
decidiu criar a biorreserva de Montes Azul e devolver a maior parte das terras cobertas por 
florestas a famílias da tribo originalmente estabelecida em Lacandon. A maioria dos colonos 
recusou-se à realocação, o que serviu de estopim para uma luta de vinte anos pelo seu direito à 
terra, ainda em curso quando Salinas assumiu a presidência em 1988. Em 1922, os direitos legais 
das comunidades indígenas foi abolido por decreto, com o pretexto da Rio +20 e a necessidade 
de preservar as florestas tropicais. O golpe de misericórdia desferido contra a frágil economia das 
comunidades camponesas veio quando as políticas de liberalização da economia mexicana, 
durante a preparação para ingresso no NAFTA, aboliram as barreiras alfandegárias sobre a 
importação do milho e acabaram com o protecionismo dos preços do café, assim, a economia 
local foi desmantelada.
Além disso, o destino das terras comunicarias tornou-se incerto após as reformas em prol 
da comercialização em larga escala da propriedade individual, outra decisão diretamente 
Página �6
relacionada à medidas de ajuste do México à privatização de acordo com as disposições do 
NAFTA. Em 1992/93, os camponeses se mobilizaram pacificamente contra essas políticas, 
Porém, após sua grande marcha ter sido ignorada, resolveram mudar sua tática radicalmente. 
Os padres, simpáticos a causa zapatista de libertação, deram apoio e legitimidade às 
reivindicações dos índios, além de ajudarem a reunir militantes de sindicato formados por 
camponeses. Apesar disso, a igreja se opôs com veemência ao conflito armado e não estava 
entre os insurrectos. 
Em 1992, quando as promessas de reforma continuaram sendo apenas promessas, e 
quando a situação de penúria das comunidade agravou-se ainda mais em ração do processo de 
modernização econômica, que os militantes zapatistas montaram sua própria estrutura e deram 
inicio aos preparativos para a guerra de guerrilha. Em maio de 1993, articularam-se as primeiras 
escaramuças contra o exercito, mas o governo mexicano abafou para evitar problemas com a 
ratificação do NAFTA pelo congresso norte-americano. 
O processo de deliberação, bem como a negociação com o governo, consistia de etapas 
bem demoradas, contando com a participação efetiva das comunidades, toda a comunidade tinha 
de acatar as decisões. 
A estrutura de valores dos zapatistas: identidade, adversários e objetivos
Eles vêem o NAFTA e as reformas liberalizantes implantadas por Salinas, que 
fracassaram na tentativa de incluir camponeses e indígenas no processo de modernização, como 
reencarnação da opressão sob a forma da nova ordem global. Os zapatistas lutam contra as 
consequências excludentes da modernização econômica, e também opõem-se à ideia de 
inevitabilidade de uma nova ordem geopolítica sob a qual o capitalismo torna-se universalmente 
aceito.
A nova identidade indígena foi construída por meio de sua luta e acabou incluindo diversos 
grupos étnicos; o elemento comum “é a terra que nos deu a vida e a vontade de lutar”. Os 
zapatista são rebeldes, patriotas e democratas, reivindicando o fim do unipartidarismo. 
A estratégia de comunicação dos zapatistas: a internet e a mídia
O sucesso dos zapatistas deveu-se grande parte à sua estratégia de comunicação, a tal 
ponto que eles podem ser considerados o primeiro movimento de guerrilha informacional. Eles 
fizeram uso das armas para transmitir sua mensagem, e então divulgaram à mídia mundial a 
possibilidades de serem sacrificados no intuito de forças uma negociação e adiantar uma serie de 
reivindicações bastante razoáveis que tiveram grande apoio da sociedade mexicana em geral. 
Eles fora protegidos da repressão absoluta por sua inabalável conexão com a mídia, bem 
como pelas alianças estabelecidas em todo o mundo via Internet, forçando o governo a negociar 
e, levando ao conhecimento da opinião publica mundial a questão da exclusão social e da 
corrupção política.
A relação contraditória entre movimento social e instituição política
Se por um lado os zapatistas defenderam a democratização do sistema político, reiterando 
reivindicações semelhantes oriundas da sociedade mexicana como um todo, por outro, jamais 
foram capazes de definir com exatidão o significado de seu projeto político, o que implicaria 
atribuir-lhe outro significado que não a obvia condenação da fraude eleitoral. 
A revolta por eles organizada definitivamente mudou o México, impondo um desafio à 
lógica unilateral da modernização, característica da nova ordem global. Atuando sobre as 
profundas contradições existentes no Partido mexicano entre os defensores da modernização e os 
interesses de um aparato politico corrupto do partido, o debate desencadeado pelos zapatistas 
contribuiu consideravelmente para romper a hegemonia do PRI (Partido mexicano). Excluídos dos 
processos de modernização, os camponeses indígenas passaram a existir, e com isso, os 
serviços de saúde e educação melhoraram em diversas dessas comunidades, e um governo 
autónomo limitado estava em processo de implantação.
Página �7
A afirmação da identidade cultural indígena esteve vinculada à sua revolta contra abusos 
vergonhosos. Contudo, sua luta por dignidade foi amparada pela filiação religiosa expressa na 
corrente do catolicismo populista.
Às armas contra a nova ordem mundial: a Milícia Norte-Americana e o Movimento Patriótico dos 
anos 90
As milícias não são grupos terroristas. Esse grupo é constituído de facções autónomas e 
clandestinas que estabelecem suas próprias metas de acordo com as visões predominantes no 
movimento. As milícias representam a ala mais ativa e organizada de um movimento mais amplo, 
o Movimento Patriótico, cujo universo ideológica compreende grupos tradicionais supremacistas 
brancos, neonazista e anti-semitas; grupos religiosos fanático, uma seita anti-semita; grupos 
opositores ao governo federal. As milícias tinham em comum o governo federal dos EUA como 
inimigo declarado, por ser representante da nova ordem mundial. Essa nova ordem mundial, 
tendo por principal objetivo a destruição da soberania norte-americana, vem sendo constituída a 
partir de uma conspiração de interesses financeiros globais e de burocratas internacionaisque 
passaram a exercer controle sobre o governo federal dos EUA. No coração de todo o sistema 
encontra-se a OMC, a Comissão trilateral, o FMI, e sobretudo a ONU, cujas forças de paz são 
vistas como um exercito internacional mercenário, dispostas a suprimir a soberania do povo.
À tamanha ameaça global aos empregos, à privacidade e à liberdade, e ao próprio 
american way of life, eles opuseram a Bíblia e a Constituição original. De acordo com esses 
textos, estão asseguradas a soberania dos cidadãos e sua participação direta nos governos dos 
condados, sem a necessidade de qualquer reconhecimento da autoridade do Governo Federal. 
As milícias e os patriotas: uma rede de informação de múltiplos temas
A milícia de cada estado é independente, e às vezes há varias milícias em um mesmo 
estado que não mantém nenhum tipo de relação entre si. A esmagadora maioria de seus membros 
é branca, cristã e predominantemente masculina. Embora incorporem grupos tradicionalmente 
racistas, anti-semitas e fundamentados no ódio, as milícias possuem uma base ideológica bem 
mais ampla, e esse é justamente um dos motivos de seu sucesso; trata-se da capacidade desses 
movimentos de abarcar todo o espectro ideológico representado pelos núcleos de desafetos 
contra o governo federal. 
As bandeiras dos patriotas
Apesar de suas múltiplas facetas, o movimento patriótico, tendo como vanguarda as 
milícias, realmente compartilha de objetivos, crenças e inimigos comuns. Esse conjunto de valores 
e finalidades é o responsável pela construção de uma visão de mundo e da definição do 
movimento propriamente dito. 
As milícias e os patriotas são um movimento libertário, que tem como inimigo o governo. 
Reconhecem como unidades básicas da sociedade o indivíduo, a família e a comunidade local. O 
governo é tolerado, na melhor das hipóteses, como expressão direta da vontade do cidadão , nos 
governos de condado, com autoridades acessíveis que possam ser monitoradas pessoalmente. 
Os escalões mais altos do governo são vistos com desconfiança e o governo federal considerado 
como ilegítimo. Essa rejeição da legitimidade do governo federal se manifesta por ações e 
atitudes bastante concretas e incisivas: recusa ao pagamento dos tributos federais, não 
observância às normas ambientais e ao planejamento de uso da terra.
Os lemas do apocalipse: a Verdade Suprema do Japão
A verdade suprema é uma seita religiosa que tem como principal objetivo sobreviver ao 
apocalipse iminente, salvando o Japão, e o mundo, da guerra de extermínio que resultaria 
inevitavelmente da concorrência entre as corporações japonesas e o imperialismo norte-
americano em busca do estabelecimento de uma nova ordem mundial e um novo governo unido. 
Para sair vitoriada caberia à essa seita preparar um novo tipo de ser humano, fundamentado na 
Página �8
espiritualidade e no auto-aprimoramento por meio de meditação e exercícios, contudo, para poder 
enfrentar a agressão das potências mundiais, tinha de se defender aceitando o desafio de 
desenvolver novas armas de extermínio. 
Essa seita criou um Contra-Estado sagrado, que deveria liderar a seita e os poucos eleitos 
que sobrevivessem a batalha final contras as forças do mal (imperialistas norte-americanos e 
policia japonesa)
Metodologia e crenças da verdade suprema
O objetivo final da seita é a salvação – liberdade e felicidade verdadeiras. Para se atingir a 
verdade por meio da salvação, foi desenvolvido um método de meditação e austeridade. Na visão 
da Verdade Suprema, há uma relação direta entre o fim do mundo e a salvação dos fieis, que 
atualmente, se preparam para o apocalipse adquirindo poderes sobrenaturais. 
A Verdade Suprema e a sociedade japonesa
A maioria de seus sacerdotes eram jovens universitários recém formados. 40% eram 
representados por mulheres, pois possui a meta de dirimir diferenças entre os sexos, 
transformando o mundo interior dos gêneros. O apelo da Verdade Suprema à juventude com grau 
de instrução superior foi um choque para a sociedade japonesa, tendo como justificativa a 
alienação como consequência da derrota dos poderosos movimentos sociais da década de 60. 
Informacionalização do corpo, a salvação era que as pessoas poderiam sentir a si próprias 
e as outras ai mesmo tempo – comunicação extracorpórea. As ideia do guru foram se 
desenvolvendo, e transformou sua identidade no “eu verdadeiro” Os canais de comunicação com 
o mundo exterior foram fechados, uma vez que esse mundo foi o inimigo declarado, que rumava 
em direção ao apocalipse. 
A rede interna era hierárquica, e nesse contexto o mundo exterior era irreal, e a realidade 
virtual criada a partir da combinação entre tecnologia e técnicas de ioga era o mundo real. De 
forma distorcida e esquemática, a Verdade Suprema refletida os temores da sociedade japonesa 
em relação à perda de vantagem comparativa na economia mundial, a um potencial conflito com 
os EUA e às consequências catastróficas do desenvolvimento desenfreado de novas formas de 
tecnologia.
Uma das características mais marcantes da seita foi o meio encontrado para reagir a tais 
ameaças. Estar preparado para essa guerra e sobreviver a ela, exigiria o renascimento da 
espiritualidade e o conhecimento da mais avançada tecnologia bélica, principalmente no que diz 
respeito a armas químicas, biológicas e teleguiadas a laser. 
A verdade Suprema deve ser tratada como uma manifestação hiperbólica e amplificada de 
rebeldes com alto grau de escolaridade, manipulada pelo guru messiânico num misto de 
meditação eletrônica, negócios e espiritualidade, política informacional e guerra tecnologia, uma 
caricatura horrenda da Sociedade da Informação japonesa, refletindo sua estrutura de governo, 
comportamento corporativo e veneração pela tecnologia avançada mesclada ao espiritualismo 
tradicional. 
O significado das insurreições contra a nova ordem global
Os três movimentos anti-globalização analisados tem em comum a identificação do 
adversário: a nova ordem global, classificada pelos zapatistas como a união do imperialismo norte 
americano com o governo corrupto e ilegítimo do PRI por meio do NAFTA; encarnada pelas 
instituição internacionais, mais notadamente a ONU e o governo federal dos EUA, na visão das 
milícias; e considerada como a ameaça global proveniente de um governo mundial unificado 
representante dos interesses das multinacionais, do imperialismo norte-americano e da policia 
japonesa pela Verdade Suprema.
Cada um desses movimentos oferece como meio de resistência um principio especifico de 
identidade, refletindo as profundas diferenças entre as 3 sociedades das quais se originaram. 
Houve um apelo à autenticidade de seu princípio de identidade, manifestada sob formas distintas, 
baseadas na especificidade cultural e no desejo de controle sobre seu próprio destino. E opõe-se 
Página �9
ao adversário global em prol de seu objetivo societal maior, que leva a integração entre sua 
identidade especifica e o bem-estar da sociedade em geral. 
O grande impacto causado por esses movimentos resulta da presença marcante da mídia 
e do uso eficaz da tecnologia da informação. Ao forças um debate sobre suas reivindicações e 
induzir as pessoas a participares, os movimentos pretendem exercer pressão sobre governos e 
instituições, revertendo o curso de submissão da nova ordem mundial. Por isso o uso de armas 
constitui elemento essencial como sinal de liberdade e recurso que provoca acontecimentos, 
chamando a atenção da mídia. 
Os novos movimentos sociais reagem contra a globalização e seus agentes políticos 
atuando com base em um processo continuo de informacionalização por meio de mudança dos 
codigos culturais no cerne das novas instituições sociais. 
Conclusão
Os movimentos abordados se opõem aos desdobramentos sociais, econômicos, culturais 
e ambientais da globalização. A transformação dessa rejeição na reconstruçãode novas formas 
de controle social sobre novas formas de capitalismo, globalizado e informacionalizado, requer a 
assimilação das reivindicações dos movimentos sociais por parte do sistema politico e das 
instituições do Estado.

Página �10
Migrações
 É importante frisar que a globalização afeta os deslocamentos espaciais da 
população. Porém a globalização é parcial e inacabada e isso afeta as migrações de várias 
maneiras. A globalização apresenta dificuldades e morosidades no cumprimento de suas 
promessas, a disparidade entre ricos e pobres aumenta. 
Enquanto o capital financeiro e o comércio fluem livremente nas regras do jogo da 
globalização, a mão-de-obra se move a conta-gotas. 
 O aumento significativo da migração não somente é inevitável no contexto da 
globalização, como também tem um potencial bastante positivo. O modelo conhecido como 
o Consenso de Washington (promovido pelos países desenvolvidos) reduziu 
significativamente a participação estatal na economia e a proteção da economia nacional, ao 
mesmo tempo, abriu as fronteiras para o fluxo de bens e serviços, assim como de capital. 
Em resumo, há um crescente predomínio dos processos financeiros e econômicos globais 
sobre os nacionais e locais. Porém há uma contradição em tal modelo Liberal, visto que há 
severos controles impostos à livre mobilidade dos trabalhadores e à fixação das pessoas nos 
territórios nacionais desses Estados. 
 “ O discurso dos países desenvolvidos na pregação da abertura das fronteiras dos 
outros países” versus “a realidade protecionista das políticas praticadas por eles”. 
 O estímulo massivo à migração internacional não é acompanhado por um aumento 
correspondente de oportunidades porque os países que atraem migrantes bloqueiam sua 
entrada. Não existe um mercado global de trabalho. 
 O princípio do livre comércio sugere que a produção mundial seria maior se não 
houvesse fronteiras e se todos os fatores de produção, inclusive as pessoas, pudessem fluir 
livremente. Portanto, as políticas que restringem a mobilidade dos trabalhadores, segundo a 
teoria neoclássica, conduzem a uma economia mundial menor em termos agregados. 
Entretanto, para que o modelo liberal e a globalização alcancem suas promessas de 
promover o desenvolvimento, reduzir a pobreza e melhorar as condições de vida da 
população, seria essencial que essa inconsistência fosse algo minimizada. 
 O bem-estar mundial aumentaria em mais de US 150 bilhões se os países 
desenvolvidos aumentassem sua quota de trabalhadores internacionais temporário até 3% da 
sua força de trabalho. Entretanto, esse aumento significativo de migração, tão necessário 
para a melhoria das condições nos países em desenvolvimento, não tem ocorrido. 
Evidentemente porque os países mais ricos consideram que a entrada massiva de migrantes 
lhes seria prejudicial. 
Na realidade, a maioria das consequências socioeconômicas da migração é dupla ou 
contraditória, dependendo da ótica. 
 Vantagens: a cada ano, os migrantes enviam o equivalente a 100 bilhoes em remessas 
para sustentar suas famílias e comunidades. Essas cifras colocam as remessas em segundo 
lugar no fluxo monetário do comércio internacional. As remessas são críticas para a redução 
da pobreza. Se as remessas são investidas na produção, elas contribuem para o crescimento, 
se elas são consumidas, geram efeitos multiplicadores. 
 Ao mesmo tempo, a emigração massiva serve para aliviar as tensões sociais e 
laborais em países com grande população de jovens, nos quais a conjugação do crescimento 
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demográfico com períodos de estagnação econômicas deixa uma parcela considerável de 
jovens sem emprego. Além disso, a migração é fator importante na promoção de equidade 
de gênero. Em certas circunstacias a migração pode também promover a emancipação da 
mulher, expandindo a gama de seus papéis sociais e permitindo que ela escape da 
dominação patriarcal. 
 Os imigrantes pegam ocupações e trabalhos que os trabalhadores nacionais não 
querem. A entrada de jovens migrantes, com suas altas taxas de fecundidade e de 
participação no mercado de trabalho, é uma fórmula fácil para superar as dificuldades 
demográficas criadas por essa transição. Em suma, a maioria dos países industrializados 
precisa de renovação significativa de sua população via o influxo de migrantes. 
 Desvantagens: os países de origem frequentemente perdem parte de seu estoque de 
pessoas mais criativas. Tanto a seletividade de migração como a fuga do cérebro levam a 
déficits de recursos humanos qualificados nos países mais pobres. No que se refere a todos 
os problemas de adaptação e até maltrato dos migrantes, não há dúvida de que essas 
situações existem frequentemente e que constituem uma das maiores dificuldades para os 
migrantes de todos os continentes e de todas as épocas. Os migrantes sofrem discriminação 
social e racial, são tratados com cidadãos de segunda classe. A migração também apresenta 
riscos adicionais para mulheres e crianças. Em muitos lugares, as migrantes internacionais e 
as crianças são mais vulneráveis nas diferentes etapas do processo. 
 Apesar de necessários, os migrantes são vistos como indesejados. Os recém-
chegados são vistos pela população natural como competidores de empregos e como uma 
ameaça permanente à estabilidade social e política da região de destino. Entretanto, essas 
acusações precisam ser examinadas com mais cuidado. Grande parte dos migrantes não 
qualificados ocupa os espaços que a população natural já não quer ocupar. No que se refere 
ao peso que representam os migrantes para os serviços fornecidos pelo país receptor, os 
estudos não são conclusivos. É verdade que a utilização de serviços sociais nas áreas de 
destino por parte dos migrantes constitui motivo de migração como também uma carga para 
o lugar de destino. Porém esses custos também são relativos, porque, na medida em que os 
migrantes são mais produtivos que a média da população, acabam aumentando a 
produtividade e melhorando a capacidade da localidade de custear os gastos de infra-
estrutura e serviços. 
 A maneira com que a comunidade dos países desenvolvidos e não desenvolvidos lida 
com os movimentos migratórios internacionais poder ser considerada inadequada. A atitude 
concreta dos países desenvolvidos constitui uma manifestação importante de inconsistências 
entre o discurso e a prática liberal na atual fase de globalização. 
 O argumento desenvolvido no ensaio é o de que, apesar de ser possível reconhecer 
negatividades reais e significativas da migração internacional, estas são, no cômputo geral, 
muito inferiores às vantagens e aos benefícios que aportam. 

Página �12
Cidades Rebeldes
Quanto a cidade vai às ruas – Carlos Vainer 
A fagulha e a pradaria 
 Governantes, políticos de todos os partidos, imprensa, cronistas políticos e até mesmo 
cientistas socais foram pegos de surpresa pelas manifestação de massa que mudaram a face e o 
cotidiano de nossas cidades em junho. Pela rapidez com que se espalharam, pelas multados que 
mobilizaram, pela diversidade de temas e problemas postos pelos manifestantes, eles evocam os 
grandes e raros momentos da historia em que mudanças e rupturas que pareciam inimagináveis 
se impõem à agenda política da sociedade, e podem acabar transformando em possibilidade 
algumas mudanças sociais e políticas que pareciam inalcançáveis. 
O movimento social urbano no Brasil desde os anos 90 passou a ser muito disperso e 
fragmentado; os militantes possuíam dificuldade de fazer convergir reivindicações microlocalizadas 
e experiências de luta com diferentes enfoques e bases sociais. Em 2013, em termos imediatos, o 
que provocou essa unidade foi a arrogância e a brutalidade dos detentores de poder. Seu autismo 
social e politico, sua incapacidade de perceber a insatisfação social, promoveu, em poucos dias, 
aquilo que militantes, organizações populares e setoresdo movimento social urbano vinham 
tentando há algum tempo, unificar descontentamentos, lutas, reivindicações, anseios. 
A cidade neoliberal: empresa e mercadoria
Não há como não reconhecer a conexão estreita entre os protestos em curso e o contexto 
propiciado pelos intensos e maciços investimentos urbanos associados à Copa do Mundo, e no caso 
do RJ, também aos Jogos Olímpicos. De um lado a repressão brutal e a rapidez com que a mídia e 
governos tentaram amedrontar e encurralar os movimentos deveu-se à preocupação em impedir que 
jovens irresponsáveis e vândalos manchassem a imagem do Brasil num momento em que os olhos 
do mundo estariam postos sobre o país.
Mais importante que a repressão, são as transformações que esses megaeventos imprimem 
em nossas cidades, assim como a própria concepção de cidade, assim como a própria concepção de 
cidade que eles expressam e atualizam de forma intensa.
A adoção das diretrizes e concepções neoliberais que reconfiguram as relações entre capital, 
Estado e sociedade a partir da ultima década do século passado teve profundas repercussões a 
respeito do lugar e do papel da cidade no processo de acumulação. Agora, sob a égide do Consenso 
de Washington, a cidade passa a ser investida como espaço direto e sem mediações da valorização e 
financeirização do capital. Concebidas enquanto empresas em concorrência umas com as outras 
pela atração de capitais cada vez mais móveis recursos públicos. 
O que caracteriza essa nova concepção neoliberal de cidade e de governo urbano? Fiel à 
inspiração neoliberal, o novo modelo levará ao banco dos réus a pretensão estatista e dirigista do 
planejamento moderno e seus planos diretores, com sua ideia de estabelecer modos, ritmos e 
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direções do crescimento urbano. Na cidade, a intervenção do Estado é vista como algo nefasto, que 
inibe o livre jogo das forças de mercado, que pelos cânones do liberalismo econômico asseguraria a 
alocação ótima dos recursos.
A cidade de exceção e a democracia direta do capital
Flexível, negocial, negociada, a cidade-negócio se atualiza, quase sempre, através de 
parcerias público-privadas, novas formas de relacionamento entre Estado, capital privado e cidade. 
A contratasse da cidade de exceção é uma espécie de democracia direta do capital
A FIFA e o COI, verdadeiros cartéis internacionais associados a corporações nacionais e 
interesses locais, recebem do governo da cidade isenções de impostos, monopólio dos espaços 
públicos. São neoliberais, mas adoram um monopólio. Os monopólios para a concessão de serviços 
em áreas da cidade ferem os direitos do consumidor, e as remoções forças nas cidades anfitriãs da 
Copa violam o direito à moradia e à cidade. As população mais pobres se veem confrontadas a uma 
gigantesca onda de limpeza étnica e social das áreas que recebem investimentos, equipamentos e 
projetos de mobilidade.
A cidade neoliberal aprofundou e agudizou os conhecidos problemas que nossas cidades 
herdaram de 40 anos de desenvolvimentismo excludente: favelização, informalidade, serviços 
precários ou inexistentes, desigualdades profundas, degradação ambiental, violência urbana, 
congestionamento e custos crescentes de um transporte publico precário e espaços urbanos 
segregados. Nesse contexto, o surpreendente não é a explosão, mas que ela tenha tardado tanto.
Resistência, organização e perspectivas 
São os movimentos particulares e a multiplicidade de grupos culturais que vêm à tona agora. 
Trazem para nossas cidades e para a esfera pública o frescor do que ainda não foi contaminado pela 
ideologia do empreendedorismo e do individualismo competitivo que pretendem a totalidade da 
vida social.
Desafiados pela cidade de exceção, pela cidade-empresa e pela democracia direta do capital, 
eles agora as desafiam. Querem outra cidade, outro espaço publico. A convulsão social em que o 
país e suas cidades foram lançados abre extraordinárias possibilidades de interpelação e 
transformação. Mas nada ainda está decidido.
Será que formulamos mal a pergunta? Silvia Viana 
Baderna 
 No dia 13/06/2013, o Movimento Passe Livre (MPL) já estava em sua quarta batalha contra o 
recente aumento das tarifas de transporte urbano em SP quando foi sentido um deslocamento sísmico. 
Apresentadores de jornais passaram a caracterizar o movimento como baderna e vandalismo, defendendo 
que a manifestação só é legitima quando não atrapalha, do contrário é violência. Quando se fez uma enquete: 
você é a favor desse tipo de protesto? e a resposta da maioria foi “sim”, o âncora se perguntou: Será que nós 
formulamos mal a pergunta? Você é a favor de protesto com baderna? “eu acho que essa seria a pergunta. E 
mesmo mudando a pergunta a resposta da maioria foi sim, o que fez com que o apresentador concluísse 
Página �14
como uma reação irracional, de que o povo estava tão cansado que apoia qualquer tipo de protesto. Para o 
Datena, o erro não estava na pesquisa, mas em sua deturpação, gerada pelas próprias imagens transmitidas a 
seu lado. 
 O equivoco não estava lá nem cá: os espectadores sabiam muito bem do que se tratava; e a pesquisa 
não mentira ao diferenciar as manifestações pacificas dessa que então estava sendo transmitida. O erro estava 
nas ruas. 
Pacíficos 
 Graças à invenção do protesto sem protesto, foi fácil para a mídia recriar por completo seu discurso a 
partir do dia 13, quando o apoio popular já deixara claro que o bloqueio à política – não o da polícia – havia 
sido rompido. A reconstrução da narrativa reconduzia precisamente ao ponto em que as mobilizações em 
torno do nada haviam encontrado sua terapêutica: a inclusão dos fins aos meios. Em mobilizações pacificas, 
importa ocupar o espaço publico, difundir ideias, ampliar o debate, unir pessoas, participar. 
 A indignação automática também ocupou as avenidas nos dias que se seguiram, em meio a bandeiras 
nacionais e à negação do próprio sentido do conflito, bastou que a câmera focalizasse os gritos pela paz que 
se retomasse as rédeas imagéticas dos acontecimentos. 
 A separação entre pacíficos e baderneiros servia à reposição da ordem, segundo a qual nada justifica 
o entrave à sobrevida cotidiana que nos arrasta. As manifestações pacificas eram exibidas e celebradas 
porque deixavam SP trabalhar. Ao produzirem a aparência de dissenso, simultaneamente contribuíam com a 
diversificação das mercadorias culturais e dos nichos de consumo. A baderna, por outro lado, não passava de 
fantasia preventiva que, ao mesmo tempo, justificava a prontidão securitária contra, por exemplo, skatistas 
do centro da cidade, que “depredam o patrimônio público”. 
 O movimento de junho empurrou a classificação midiática, cujo sentido era a recusa de qualquer 
recusa, a seu ponto de verdade. Por isso, a tela que nos apresenta as manifestações encontra-se dividida: de 
um lado imagens verde-e-amarelas, de outro cenas vermelhas. Busca-se, desse modo, reaver o limiar cuja 
ruptura a enquete de patena explicitara: o protesto que assim merece ser chamado é, em si mesmo, violento. 
Pacificados 
 Ao contrario do que se tem afirmado, o abalo não ocorreu devido à quantidade de adesões que se 
seguiram à quita-feira esfumaçada, e sim, graças à qualidade do movimento que as convocou. O MPL é um 
grupo de dezenas de jovens que resolveu, junto a outros movimentos e partidos, arriscar a pele. Os militantes 
impediram frontalmente com seu próprio corpo nosso sagrado ir e vir em nome da criação do direito de 
outros irem e virem. 
 Era por causa dos 20 centavos, uma migalha para a classe média a qual protestava, cujo significado 
para aqueles que sabem quantas moedas carregam no bolso e qual o valor de cada uma delas, nós só 
podemos imaginar. Os rapazes e moças do MPL, que discutem as políticas de transporte publico a anos, e 
cuja organização não se limita às redes sociais, imaginaram. 
 Daí terem assumido o risco maior: atentarcontra a segurança pública e contra sua própria segurança 
pessoal. Além dos carros, eles peitaram a mesma policia que mata ordinariamente os jovens que devem ser 
“pacificados” à bala – e não a de borracha. O encontro desses dois mundos, em imaginação e fogo, foi o 
pontapé para o deslocamento do campo politico que, até agora, parecia invulnerável à política. Pela 
imposição do conflito real, também eles precisavam ser pacificados, mesmo que as imagens indicassem que 
tudo esta calmo. Aí reside a violência do movimento: não em vitrines e latas de lixo quebradas, mas no 
freio brusco de uma ordem fundada, por um lado, no ir e vir que permanece e, por outro, no genocídio 
de quem, mesmo com a economia de 20 centavos, talvez não chegue. 

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ECOLOGIA GLOBAL CONTRA DIVERSIDADE 
CULTURAL? CONSERVAÇÃO DA NATUREZA E POVOS 
INDÍGENAS NO BRASIL
 A constituição brasileira de 1988, no artigo 231, reconhece “aos índios (...) os direitos 
originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam” e “cabe à União demarcá-la e garantir o 
respeito de todos seus bens”. A finalidade do reconhecimento dos direitos territoriais indígenas é a 
preservação de seu direito à diferença cultural e autodeterminação, dentro da nação Brasileira. O 
direito exclusivo dos índios sobre os recursos naturais de suas terras é explicitamente reconhecido, 
com a exceção dos recursos do subsolo, considerados estratégicos e pertencentes à União. O 
Ministério da Justiça, através da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), é responsável pelo 
reconhecimento de direitos territoriais indígenas, assim como pelo processo de demarcação das 
áreas. Porém, o processo demarcatório só é pleno e definitivo através de um ato formal final, o 
decreto de homologação, a ser assinado pelo Presidente da República. 
Populações locais e ecologia global no Brasil: da aliança ao conflito 
 Nosso estudo levanta a questão da pertinência de políticas fundadas na implementação de 
cima para baixo (top-down) de modelos técnicos baseados na exclusão do homem para promover a 
conservação da natureza. De fato, segundo dados de 1985 da IUCN, cerca de 70% das áreas 
protegidas do mundo são habitadas; este dado sobe para 86% para a América Latina. Outra questão 
levantada é a dos conflitos existentes ou possíveis entre políticas de conservação da natureza e 
direito à diferença cultural de grupos humanos que, como os povos indígenas, muitas vezes 
dependem diretamente da apropriação e do uso da natureza, não só por sua sobrevivência física, 
mas também para sua identidade cultural e sua autodeterminação social. 
 A ecologia global que, ao invés de promover a resolução local dos conflitos como caminho 
para a sustentabilidade, interfere nos processos de decisão nacionais e locais de tal maneira que o 
exercício do poder político pelas bases sociais e a diversidade cultural dos povos locais acabam 
sendo ameaçados. Estas questões serão abordadas através do caso do Monte Roraima. 
A sobreposição de Unidades de Conservação (UC’s) – Terras indígenas (TI’s) no Brasil 
 A questão da sobreposição entre UC’s e TI’s na legislação brasileira é controversa e não está 
resolvida. Em muitos casos ela tem recentemente proporciona- do conflitos entre reivindicações 
territoriais de povos indígenas e a aplicação de políticas de conservação. O IBAMA reconhece a 
existência de 28 sobreposições entre UC e TI, que correspondem aos casos onde a UC se sobrepõe a 
uma TI homologada. Consequentemente, o decreto de criação da UC, assinado pelo Presidente, 
prevaleceria, seguindo a hierarquia das leis, sobre a portaria de demarcação da TI, assinada pelo 
Ministro da Justiça. Nos outros casos, a eficácia jurídica da demarcação da TI não é reconhecida 
com base no argumento de que falta ainda a assinatura do seu decreto de homologação. 
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 A FUNAI, as organizações indígenas e os movimentos de apoio aos índios argumentam em 
favor da superioridade dos direitos territoriais indígenas com base na Constituição. Qualquer ato 
que limite o direito constitucional dos índios à posse permanente e ao uso exclusivo de suas terras 
não tem validade jurídica, independentemente do tempo necessário para identificar, demarcar e 
homologar as Terras Indígenas. Seria portanto inconstitucional a regularização da sobreposição 
entre UC’s e TI’s, porque neste caso as atividades dos índios seriam sujeitas à autorização e ao 
controle do IBAMA. 
 Com referência ao problema geral da presença humana dentro de UC’s, é interessante notar 
que um processo de radicalização das posições acompanhou a discussão e a aprovação do SNUC 
(Sistema Nacional de Unidades de Conservação). A versão final da lei aprovada só permite negociar 
o valor da compensação, os termos e o momento do re-assentamento destas populações. Este 
processo também afetou a solução adotada no caso de sobreposição entre UC’s e TI’s: o assunto 
estava definitivamente resolvido em favor das TI’s nas primeiras versões do projeto de lei, mas 
ficou em aberto no texto de lei finalmente aprovado. 
Tendências Globais: ecologia de mercado, políticas e fundos para a conservação
Talvez o endurecimento do conflito entre UC’s e TI’s pudesse ser explicado pela perspectiva 
futura do desenvolvimento de mercados mundiais para serviços ecológicos globais – commodities 
ambientais. Durante os anos 90 e até hoje, a principal exemplificação da disponibilidade global a 
pagar para a conservação da biodiversidade no Brasil tem sido a existência de fundo internacionais 
com essa finalidade. Boa parte desses fundos foram destinados a política de áreas protegidas. Os 
principais doadores e programas internacionais para o meio ambiente e a biodiversidade no Brasil 
são: o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD) e o KfW (Banco 
Alemão para a Reconstrução), que financiaram o Plano Nacional do Meio Ambiente (PNMA); o 
Fundo do Meio Ambiente Global (GEF); o Programa Piloto do G7 para a Proteção da Floresta 
Tropical do Brasil (PPG7). O PPG7 é o único dentre eles que também contribui para a proteção das 
Terras Indígenas e projetos de desenvolvimento sustentável para os povos indígenas. 1 6 91 6 91 6 91 6 91 6 9
Ecologia global contra diversidade cultural? - VICENZO LAURIOLA
invasores de Unidades de Conservação pede às autoridades “a imediata retirada dos
invasores e a restauração da ordem jurídica democrática” e reafirma a “posição con-
trária a qualquer alteração da destinação ou categoria das Unidades de Conservação
nacionais, que vise acomodar reivindicações territoriais de qualquer tipo”.
TENDÊNCIAS GLOBAIS: ECOLOGIA DE MERCADO, POLÍTICAS E FUNDOS PARA
A CONSERVAÇÃO
Buscando entender o que poderia estar por atrás deste conflito é interes-
sante observar alguns dados sobre distribuição de terra e floresta entre UC’s e TI’s na
Amazônia brasileira. Segundo dados do Instituto Sócio-Ambiental (ISA)5, as TI’s abran-
gem uma área total de 1.023.499 km�, isto é 20,4% da Amazônia Legal Brasileira
(ALB), e 50,8% da floresta amazônica, enquanto as UC’s de proteção integral só
totalizam 192.285,5 km�, isto é 3,8 % da ALB. Este dado sobe para 552.560,2 km�, ou
seja 11% da ALB, considerando também as UC’s de uso sustentável. Porém, subtrain-
do a superfície total das sobreposições entre UC’s e TI’s (168.010,7 km�), o dado
efetivo das UC’s cai novamente para 384.549,5 km�, ou seja 7,7% da ALB, represen-
tando 23,4% da floresta amazônica, isto é, menos da metade da porcentagem incluída
em TI’s.
Tabela 1: Terras Indígenas e Unidades de Conservação na Amazônia Brasileira
Talvez o endurecimento deste conflito pudesse ser explicado pela pers-
pectiva futura do desenvolvimento de mercados mundiais para serviços ecológicos
globais (commodities ambientais) —como a captura e/ou armazenamento de gases
que causam o efeito estufa, a manutenção dos ciclos hidrológicos a conservação da
biodiversidade, assim como as perspectivas dedesenvolvimento “verde” associadas a
estas áreas através, por exemplo, da indústria ecoturística em rápido crescimento.6
De qualquer forma, durante os anos 90 e até hoje, a principal
exemplificação da disponibilidade global a pagar para a conservação da biodiversidade
 
Categoria Área em km2 % da Amazônia 
Legal Brasileira 
(5.006.316,8 km2) 
% da Floresta da 
Amazônia Legal 
Brasileira 
Terras Indígenas 1.022.783,38 20,43% 50,8% 
UC's de proteção 
integral 
192,311.80 3,84% n.d. 
UC's de uso sustentável 419.701,92 8,38% n.d. 
Total UC's 
(- sobreposições entre 
UCs) 
596.309,31 11.91% n.d. 
Total UC's – total 
sobreposições (TIs, 
TMs e RGs) 
444.115,20 8,87% 23.4% 
 
Beatriz Sartori Bernabé
Beatriz Sartori Bernabé
Beatriz Sartori Bernabé
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Fundos Globais para o meio ambiente e a biodiversidade no Brasil 
 O PPTAL – programa de proteção de terras e populações indígenas – um programa 
especifico do PPG7, contribui diretamente para a proteção das terras indígenas apoiando as 
atividades de demarcação da FUNAI. O Programa de Projetos Demonstrativos A (PD/A), mesmo 
que não orientado especificamente aos indígenas, era aberto também ao financiamento de projetos 
de organizações e povos indígenas. No Brasil, durante a última década, os programas internacionais 
têm apoiado o meio ambiente e a conservação da biodiversidade não indígena entre 12 e 23 vezes 
mais do que a conservação das terras indígenas e a sustentabilidade dos povos indígenas. 
 Existe uma assimetria importante na alocação dos fundos globais entre meio ambiente/
biodiversidade não indígenas e terras/povos indígenas. Poderíamos nos perguntar se isto reflete ou 
não a preferência alocativa dos contribuintes brasileiros e dos países doadores. Porém, parece-nos 
existir evidência suficiente, e não só na ecologia global, de que os mecanismos representativos das 
instâncias e instituições que guiam a tomada de decisões globais nestes temas estão longe de ser 
democráticos. 
 Não dispomos de dados que nos permitam avaliar a eficiência relativa dos fundos 
internacionais gastos na conservação da biodiversidade em Unidades de Conservação na Amazônia 
Brasileira até hoje. Porém, dentro de um quadro geral, onde as taxas de desflorestamento 
permanecem altas e têm recentemente subido7, imagens de satélite mostram que a degradação 
ambiental é significativamente me- nor onde Terras Indígenas foram legalmente reconhecidas e 
protegidas8. Em outras palavras, a biodiversidade da Amazônia está muito bem protegida, e a um 
custo muito baixo, onde há pessoas vivendo e que se interessam por ela. Este dado é importante 
para se pensar políticas e estratégias futuras, pois a estabilidade destas tendências poderia ser 
incentivada e garantida a um custo razoável, enquanto o quadro atual configura um verdadeiro 
mecanismo de “free riding” ecológico sobre estas áreas. 
A sobreposição entre UC e TI no Monte Roraima, as populações e os conflitos políticos locais 
 A parte setentrional da Terra Indígena Raposa-Serra do Sol, conhecida como região Serra do 
Sol, é uma região de montanhas, coberta por ecossistemas de cerrado e floresta, habitada por 
indígenas dos grupos étnicos Ingarikó, Patamona e Macuxi. O PNMR, localizado na parte 
setentrional desta região, cobre a maioria da sua área florestal. Assim como o resto da Terra 
Indígena, a área incluída no Parque representa, para os indígenas da região, área tradicional de 
ocupação, apropriação e uso dos recursos naturais, assegurando sua própria sobrevivência, cultura e 
estilo de vida. O Parque introduz regras e atividades contrastantes com suas formas tradicionais de 
uso, apropriação do espaço e dos recursos naturais. Concebidas e implementadas do alto para baixo, 
as regras de conservação ameaçam a cultura e a autonomia das sociedades indígenas da região Serra 
do Sol. 
 O PNMR existe no papel há cerca de 10 anos. Apenas entre o segundo semestre de 1999 e o 
início de 2000 o IBAMA iniciou o processo de implementação do Parque Nacional. Neste caso, o 
quadro geral da sobreposição UC-TI é enriquecido por fatores locais específicos que precisam ser 
analisados numa perspectiva histórica. Na época do decreto de criação do Parque Nacional, em 
1989, o processo de demarcação da Terra Indígena estava em andamento.o processo de 
reconhecimento da terra indígena continuou nos anos seguintes, atravessando ásperos conflitos 
políticos e legais, terminando em 1998 com a demarcação da área contínua Raposa-Serra do Sol. 
Não reconhecendo a eficácia da demarcação da Terra Indígena por falta do decreto de homologação, 
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o IBAMA age com independência na implementação do PNMR. Seguindo esta linha de 
pensamento, o Plano de Manejo define a UC como « área pretendida pela FUNAI », e percebe a 
possível homologação da TI como ameaça. 
 A questão da demarcação da TI Raposa-Serra do Sol ocupa um papel central nas questões 
políticas locais. O Governo do Estado, os políticos e os grupos de interesses « brancos » dominantes 
estão conduzindo, em níveis político, institucional e legal, uma áspera luta contra a homologação da 
Raposa-Serra do Sol em área contínua, em favor de uma proposta de demarcação descontínua, que 
excluiria da Terra Indígena as fazendas e os povoamentos brancos existentes, a maioria dos quais se 
formaram e cresceram ao redor das atividades de garimpo. 
 Esta batalha também inclui pressões políticas de deputados e senadores federais do Estado 
sobre o Governo Federal, assim como campanhas na mídia contra a FUNAI, as organizações 
indígenas e seus apoios locais, nacionais e internacionais. Casos de ameaças abertas e intimidações, 
ou atos violentos contra indivíduos que apóiam direta ou indiretamente « a causa indígena » não são 
isolados na história recente de Roraima. A « questão territorial indígena » representa um divisor de 
águas onipresente nas questões políticas locais, onde todos os atores sociais – e mesmo individuais 
– são classificados ou como aliados ou como inimigos por ambos os lados em conflito. 
O processo de elaboração do Plano de Manejo do PNMR 
 Os Ingarikós são o grupo mais diretamente atingido, mas não o único: a implantação do 
PNMR também afeta diretamente comunidades das etnias Macuxi e Patamona, além de produzir 
possíveis conseqüências em toda a TIRSS, até no nível estadual. Efetivamente, apesar do 
zoneamento da própria área do PNMR, que prevê restrições no acesso aos recursos naturais, o Plano 
de Manejo estabelece uma « Zona de Transição », num raio mínimo de 10 km ao redor da Unidade 
de Conservação. Dentro desta área, conforme a Resolução CONAMA n° 13 de 1990, qualquer 
atividade que possa afetar a biota da Unidade de Conservação deverá ser obrigatoriamente 
licenciada pelo órgão ambiental competente, isto é, o IBAMA. De fato, a zona de transição engloba 
inteiramente a área tradicional- mente ocupada pelos Ingarikós, além de atingir áreas de localização 
de aldeias das etnias Macuxi e Patamona. Se as normas e as restrições de uso do espaço e dos 
recursos naturais previstas no Plano de Manejo do PNMR forem realmente implementadas, além de 
outras conseqüências imprevisíveis, é muito provável uma tendência ao reassentamento de 
comunidades e populações indígenas do norte ao sul da TIRSS, ou ainda à migração em direção à 
Boa Vista. No primeiro caso seriam gerados novos conflitos de apropriação do espaço ao sul da 
TIRSS ; no segundo, agravar-se-iam os já agudos problemas socioeconômicos urbanos da capital 
Roraimense. 
 A atividade do IBAMA em relação ao PNMR tem até hoje se desenvolvido com plena 
autonomia, sem levar muito em consideração a presença dos indígenas no território, seja dentro, 
seja no entorno imediato dos limites do Parque. A FUNAI e os índios da RSS não têm sido ouvidos 
e estão menos envolvidos ainda nas atividades de elaboração do Plano de Manejo. A falta de 
participaçãode instituições e representantes indígenas no pro- cesso de elaboração do Plano de 
Manejo pode ser observada no texto do mesmo, que contêm informações escassas e inexatas sobre a 
população indígena, sua cultura e interação com o meio ambiente e os recursos naturais da região. A 
conseqüência é que o zoneamento e as regras previstas no Plano conflitam com as atividades e o 
estilo de vida dos indígenas locais, tornando sua implementação difícil e uma fonte de novos 
conflitos. 
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 A intervenção da FUNAI: discutindo a proposta do parque nas comunidades Ingarikós 
 Depois de decorridos 11 anos de sua criação oficial, e 5 meses da oficina de elaboração do 
Plano de Manejo, os indígenas não sabiam o que era um Parque Nacional.Ficaram todos 
preocupados com esta instituição nova e desconhecida que estava sendo implantada em suas terras e 
vinha sendo percebida como mais uma forma de invasão. Em resposta às preocupações dos índios, a 
FUNAI resolveu organizar uma missão de campo para visitar as comunidades Ingarikós, informá-
las da questão do PN e registrar sua posição sobre o assunto. 
Parque Nacional? 
 Os Ingarakós não aceitaram as regras e as propostas do Plano de Manejo do Parque 
Nacional do Monte Roraima, e, conseqüentemente, não concordaram com a presença do Parque em 
suas terras. Todas as áreas do Parque são ocupadas pelos índios, e nem se conhece todos os grupos 
indígenas da região: os habitantes de Manalai relatam a presença de um grupo de outra etnia, 
arredio, localizado aos pés do monte Caburaí, em plena área intangível do Parque, que os Ingarikós 
respeitam em sua vontade de permanecer isolados. 
 As formas de ocupação são de vários tipos: em alguns casos, trata-se de ocupação estável, 
com residências de famílias e comunidades, mas em muitos outros casos, trata-se de uma ocupação 
do espaço descontínua no tempo, ligada a atividades econômicas e de subsistência, ou formas de 
uso dos recursos naturais: caça, pesca, plantio de roças, extração de madeira e de outros materiais 
para construção de casas, fabricação de objetos de uso cotidiano e de artesanato, colheita de frutas e 
ervas medicinais... São estes os principais usos materiais do espaço citados pelos Ingarikós. As 
áreas destinadas aos diversos usos muitas vezes se sobrepõem no espaço e no tempo. A floresta 
representa contemporaneamente o espaço para o plantio das roças, área de caça e de colheita. As 
trilhas que a atravessam são, ao mesmo tempo, caminhos de acesso aos recursos naturais e 
cultivados, e percursos de viagens sociais, comerciais e de culto, de visita a outros “parentes” 
indígenas. 
 Fronteiras sem cercas existem entre comunidades e diferentes grupos étnicos, sendo 
reguladas por um complexo sistema de regras de divisão do espaço e dos recursos naturais entre 
“parentes”. Embora para os indígenas as terras sejam um espaço aberto, não cercado, onde eles são 
livres para circular, cada grupo tem seus limites e respeita a cultura e as áreas dos outros. Com a 
perspectiva de garantir as condições futuras de sobrevivência aos filhos e netos, o espaço é 
percebido como pequeno, frente ao crescimento populacional. Os Ingarikós não gostam da vida na 
cidade, são conscientes dos problemas da vida urbana e querem evitá-los, preservando seu bem 
estar presente e futuro em suas terras. Por isto não querem ser obriga- dos a ir procurar meios de 
sobreviver na cidade ou em outro lugar. O Parque ameaça ocupar o espaço vital dos Ingarikós, que 
não têm outra terra onde morar. 
 Resumindo, as discussões realizadas nas comunidades indígenas Ingarikós demonstraram 
que as regras do Parque, assim como as previstas no zoneamento do Plano de Manejo, são 
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incompatíveis com a permanência das formas tradicionais indígenas de ocupação do espaço e de 
uso dos recursos naturais. Em outros termos, as regras do Parque entram diretamente em conflito 
com a preservação da cultura e do estilo de vida dos Ingarikós e de seu direito de escolha sobre o 
futuro. 
Quais são as soluções viáveis? A cultura indígena como ponto de partida das políticas de 
conservação da natureza. 
 A situação presente da implementação do Parque Nacional do Monte Roraima, na Terra 
Indígena Raposa-Serra do Sol, não permite previsões otimistas para a resolução dos conflitos entre, 
de um lado o IBAMA e as políticas oficiais de preservação, e do outro, as populações indígenas 
locais, principalmente os Ingarikós, a FUNAI, organizações e movimentos de apoio aos direitos 
indígenas, e as políticas indigenistas de preservação cultural. As informações e os dados 
acumulados durante a missão de campo, realiza- da pela FUNAI junto às comunidades Ingarikós da 
região Serra do Sol, levantam sérias dúvidas sobre a legitimidade e a viabilidade da implementação 
do Plano de Manejo do PNMR, seja com respeito às restrições de acesso e de uso dos recursos 
naturais, seja com respeito ao desenvolvimento do turismo. 
 Qualquer tipo de planeja- mento sustentável futuro para a área e suas populações precisa de 
uma profunda mudança de posturas e do desenvolvimento de um verdadeiro diálogo entre os 
diferentes atores sociais, políticos e institucionais. Caso contrário, a questão ecológica só 
acrescentará mais conflitos aos conflitos já existentes.A esperança é que o grupo técnico do 
CONAMA, recentemente criado para resolver as questões ligadas às sobreposições entre UC’s e 
TI’s, consiga elaborar soluções viáveis legal e institucionalmente.No plano local, a bata- lha parece 
estar apenas começando. O IBAMA continua afirmando sua legitimidade plena e exclusiva em agir 
para implementar o Parque até que a Terra Indígena seja homologada. As probabilidades de que o 
conflito evolua em direção a negociações mais razoáveis no curto prazo não parecem muito altas. 
 Com respeito aos atores, consideramos a participação ativa dos índios como essencial para 
garantir a futura viabilidade de um plano de manejo para a região. Seus atuais aliados institucionais 
e políticos são claramente identificáveis como aqueles que apóiam a homologação da TI Raposa-
Serra do Sol em área única e contínua. O ponto de vista da política ambiental parece, porém, 
comprometer seria- mente a posição dos atores locais: o IBAMA precisará de muito tempo para 
ganhar a confiança dos Ingarikós, antes de poder almejar a implementação de qualquer projeto 
viável no Monte Roraima. Um ator diferente, sem ligações com o meio político domi- nante local 
ou com a causa anti-homologação, teria chances muito melhores para negociar um plano de manejo 
sólido e viável com os indígenas em suas terras. 
 Antes de qualquer outra coisa, se o objetivo é o de preservar o ambiente natural na área do 
Monte Roraima, um grande esforço é preciso para a compreensão do relacionamento complexo que 
os povos indígenas da região Serra-do-Sol mantêm com seu meio ambiente, através de seus 
modelos e regras de apropriação e uso do espaço e dos recursos naturais. Qualquer plano de manejo 
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ou projeto de desenvolvimento que não tome o fator humano, social e cultural como seu ponto de 
partida não será viável. 
Conclusão: redirecionar os fundos ecológicos globais para os povos indígenas 
 A definição exógena de regras de manejo rígidas, associadas a um zoneamento fixo do 
espaço, não só entrará necessariamente em conflito com os modelos indígenas de apropriação do 
espaço, de extração e uso dos recursos naturais, mas também, satisfazendo apenas as representações 
cientificas abstratas daquilo que é ou deveria ser teoricamente um ecossistema natural do qual a 
espécie humana está ausente, acabará falhando, muito provavelmente, em seu objetivo mesmo de 
conservação da biodiversidade. Já muitos casos mostram que um ecossistema pode evoluir de 
maneira imprevisível, e não necessariamente desejável, quando as pressões antrópicas são 
removidas. Isto acontece em parte porque o homem, assimcomo outras espécies, é um predador 
seletivo, e contribui para o controle da população de suas presas. Uma vez removida a predação 
humana, é difícil prever como a dinâmica e a distribuição da população das outras espécies 
evoluirão: poderia muito possivelmente acontecer o desaparecimento local de uma ou mais 
espécies, por extinção ou migração. O resultado seria uma política com alto custo social e 
ecologicamente ineficaz. 
 e, por outro lado, for abandonada a referência normativa à separação artificial entre homem 
e natureza, e o conhecimento ecológico dos índios for integrado na definição de regras e normas de 
manejo, são altas as chances de que um sistema de gestão ecologicamente válido e sustentável possa 
ser definido e implementado, sem grandes mudanças nos modelos atuais de uso dos recursos 
naturais, assim implicando um custo social baixo ou negativo (isto é, um benefício social), e 
resultando num modelo onde as atividades e regras indígenas emerjam como uma componente 
fundamental da preservação do ecossistema.

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