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ESTUDO DE SCRI – 1ª PROVA Terceiro Setor O primeiro setor é formado pelo Governo, o segundo pelas empresas privadas, e o Terceiro setor é formado pelas associações sem fins lucrativos. As entidades do terceiro setor têm como objetivo principal melhorar a qualidade de vida dos necessitados. Esse setor se trata de um conjunto diversificado de instituições, no qual incluem-se organizações não governamentais, fundações e institutos empresariais, associações comunitárias, entidades assistenciais e filantrópicas, assim como varias instituições sem fins lucrativos, como as ONG’s e OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público. Movimentos Sociais Os comportamentos coletivos e os movimentos sociais constituem tentativas, fundadas num conjunto de valores comuns, destinadas a definir as formas de ação social e a influir nos seus resultados. Os episódios de comportamento coletivo constituem um primeiro estagio de mudança social, manifestam-se quando se apresentam condições de tensão, mas antes que os meios sociais tenham sido mobilizados para um ataque especifico, tão pouco eficaz às causas dessa tensão. Pesquisas recentes demonstram que os agentes que iniciam o movimento não são os marginalizados. Quando muito, esses poderão constituir uma base importante para a extensão e consolidação do movimento, mas a liderança é construída por indivíduos não periféricos, mas centrais. os primeiros a se rebelar não são os grupos mais oprimidos e desagregados, mas os que experimentam uma contradição intolerável entre a identidade coletiva existente e as novas relações sociais impostas pela mudança. Estes podem mobilizar-se mais facilmente, porque: 1) já contam com uma experiência de participação, isto é, conhecem os procedimentos e métodos de luta; 2) possuem já lideres próprios e um mínimo de recursos de organização que provêm dos vínculos comunitários ou associativos preexistentes; 3) podem utilizar redes de comunicação já existentes para fazer circular novas mensagens e novas palavras de ordem; 4) podem descobrir facilmente interesses comuns. ONG’s São todas as organizações sem fins lucrativos, criadas por pessoas que trabalham voluntariamente em defesa de uma causa. A ONG faz parte do Terceiro Setor, e tem a finalidade de dar complemento aos serviços de ordem pública. São mantidas financeiramente por pessoas físicas, empresas privadas, fundações e em alguns casos com a colaboração do próprio Estado. Sociedade Civil As organizações da sociedade civil são capazes de desempenhar funções tipicamente estatais. Tem também a capacidade de se auto organizar em torno de temas políticas e conduzir embates ideológicos, destacando assim a votação para o ativismo social das entidades da sociedade civil como movimentos sociais, suas organizações, redes e fóruns, por exemplo. A sociedade civil social define para si a missão de consolidar-se como instância capaz de disciplinar as instituições sistêmicas: estado e mercado. Perspectivas sobre a sociedade civil global no estudo das Relações Internacionais – Ana Carolina Evangelista O termo sociedade civil ganha força na década de 1990, no contexto no pós- Guerra fria, num período de crescente interdependência econômica entre os estados, de crescentes integração e interconectividade global, de redefinição do papel do estado no cenário internacional e de fortalecimento das analises sobre os “novos atores” na política internacional. O conceito de sociedade civil vai se construindo a partir de três processo que já estavam em curso: a intensificação e o aprofundamento do debate sobre a globalização, o renascimento da ideia de sociedade civil e o fenômeno da revolução associativa global. Globalização, interdependência e novos atores Aqui devemos observar a globalização como um processo composto por dinâmicas que atingem diferentes esferas da vida social – econômica, política, cultural, social – e de desdobramentos desiguais e irregulares. Quando observados os elementos da vida cotidiana, varias analises caracterizam a globalização a partir de uma percepção de que o mundo, impulsionado por forças econômicas e tecnológicas, esta rapidamente se transformando em um grande espaço social compartilhado, no qual realidades sociais e dinâmicas políticas e estruturas econômicas estão cada vez mais conectadas, integradas e interdependentes. Assim, globalização pode ser definida por: interdependência crescente das atividades humanas, compressão do espaço-tempo e a interpenetração crescente das sociedades. O foco neste momento será apontar as transformações, os processos que estão na base da construção do conceito de sociedade civil global. Interdependência, redefinição do papel dos Estados no sistema internacional, o surgimentos de novas fontes e padrões de identidade e o crescimento da participação dos atores não-estatais, os chamados “novos atores”, no cenário internacional. Vivemos num período no qual nossas vidas são cada vez mais influenciadas ou afetadas por fatores e/ou acontecimentos que estão além das fronteiras dos nossos próprios estados. A insegurança representa, também, uma dinâmica vivida em tempos de globalização, inerente a este processo de crescente interdependência. Insegurança aqui não é entendida apenas pelas formas clássicas estudadas pelas relações internacionais — guerra x paz, conflitos internacionais, atos de intervenção em outros Estados, risco de uma guerra nuclear, crises em tomadas de decisão em política externa — mas num sentido mais amplo, a partir da noção de risco. A estes riscos “clássicos” estudados pelas relações internacionais, somam-se hoje riscos de caráter econômico, social, político, ambiental, sanitário dos mais diversos tipos: crises financeiras, aprofundamento da desigualdade entre pobres e ricos, catástrofes ambientais, epidemias, agravamento da fome no mundo, crescimento do crime organizado internacional — tráfico de drogas e armas —, entre outros. esta crescente interdependência aumenta o potencial multiplicador dos mesmos e a mudança na velocidade com que informações, fatos e imagens são enviados e recebidos ao redor do globo, faz com que nos sintamos mais vulneráveis a certas incertezas. O estado segue sendo um ator essencial de regulação econômica, de representação política e de solidariedade social, mas sua atuação ganha novos formatos, novos contornos, suas estruturas internas e funções se internacionalizam. Nesse sentido, sob as condições de uma globalização, que se intensifica e se acelera a cada dia, conceitos como soberania, território nacional, identidade nacional e cidadania são rediscutidos e ressignificados. O estudo das relações internacionais tem sido pautado tradicionalmente por uma concepção estadocêntrica na qual os Estados apresentam papel central na organização e nos processo de decisão no sistema internacional. As transformações que se acirram “em tempos de globalização” vêm desafiando os pilares da política moderna, originalmente ordenada e delimitada pelo Estado-nação, e consequentemente introduzindo novos elementos para o estudo das relações internacionais. Muitas análises apontam para os impactos dos processos de globalização nos fundamentos da democracia e da cidadania. Um primeiro desdobramento diz respeito ao estabelecimento de novos padrões de identidade, a identidade nacional é mais uma entre as tantas identidades que os povos hoje constroem. A intensificação dos processo de globalização aumenta de maneira significativa a interrelação entre as esferas nacional e mundial e, ao mesmo tempo em que impulsiona o fortalecimento de movimentos locais e nacionais, mostra-se capaz de provocar identidades em âmbito internacional e extraterritorialmente. Com a intensificação do processo de globalização, o sistema de Estados deixa de ser a única estrutura na ordem mundial e abre espaço para uma atuação cada vez maior das instituições internacionais e da sociedade civil. Nesse sentido, há a emergencia de uma nova ordem mundial de cooperação crescente entre os estados e de uma convergência de valores e interesses. Ao mesmo tempo em que algumas coisas se globalizam e se internacionalizam outras se localizam; ao mesmo tempo em que se fortalecem espaços de discussão de valores éticos universais (maior atenção da opinião pública mundial para temas como direitos humanos, justiça social, meio ambiente), fortalecimentos de movimentos globais (emergência de uma sociedade civil global), assiste-se, também, ao crescimento da desigualdade e da exclusão social. Poderíamos observar, portanto, as particularidades dos processos de globalização contemporâneos a partir das seguintes dimensões: a) extensão das redes globais; b) intensidade da interconectividade global e c) velocidade e intensidade das transformações e dos fluxos globais. Dinâmicas como a individualização, fragmentação social, desterritorialização, redefinição do espaço “encolhimento espacial”, representam transformações que se acentuam com os processos de globalização, uma vez que eles passam a imprimir uma nova velocidade aos fatos e às transformações em si, tornando- as ainda mais dinâmicas. O renascimento da ideia de sociedade civil Para Hegel, A ação do homem articula-se em três níveis: família, sociedade civil e Estado. Entre a família e o Estado encontra-se um conjunto de instituições, o sistema de necessidades e as corporações. A sociedade civil representa a esfera composta pelas ações que derivam de interesses particulares, enquanto o Estado é visto como o espaço onde se encontram as ações que obedecem ao interesse coletivo. A ação que conduz das necessidades à sua satisfação gera um fluxo de nexos recíprocos entre os homens e cria um nível reciproco de interação e comunicação: sociedade civil. Já para Marx, a sociedade civil não representa um conjunto de estrutura intermediárias entre a família e o Estado, mas sim um sistema de necessidades. Corresponde a instância econômica da atividade social. Para marx, a base econômica, material, modela tanto a religião e a filosofia quanto as expressões culturais e as instituições. Gramsci é o primeiro autor a introduzir no debate a ideia de sociedade civil enquanto lugar da organização da cultura. Segundo Gramsci, a disputa entre as classes pela hegemonia acontece principalmente no espaço da sociedade civil, completando-se no plano da sociedade política. Hegemonia é entendida, aqui, como direção intelectual e moral. A noção de Gramsci é de Estado ampliado, o Estado é composto pela sociedade civil e pela sociedade política. Na concepção de Gramsci a sociedade civil é vista como um espaço onde são construídos projetos globais de sociedade, articulam-se capacidades de direção ético- política, disputa-se o poder e a dominação. Um espaço de invenção e organização de novos Estados e novas pessoas. Um espaço de luta, governo e contestação, no qual se formam vontades coletivas. O conceito ressurge no leste europeu nos anos 7, como critica ao estado totalitário e defesa radical da sociedade civil como uma importante esfera de busca e representação da ordem social e política democrática. Na america Latina igualmente, em meados dos anos 80, o debate sobre a sociedade civil é retomado, ligado fortemente às ações de resistência contra os regimes militares. Além dos processos de democratização da América Latina e da Europa Oriental, este “renascimento” do debate também foi impulsionado pelo surgimento dos chamados “novos movimentos sociais. Já no inicio da década de 90, inserido neste contexto de revisão e redefinição de conceitos, surgem as primeiras analises a respeito de uma emergente sociedade civil global ou internacional. Cohen e Arato fizeram o modelo da nova sociedade civil, que afirma que apenas uma reconstrução com base num modelo tripartite distingue sociedade civil do Estado e da economia, tem possibilidade de assumir o papel de oposição democrática desempenhado por estes conceitos nos regimes autoritários, bem como de renovar seu potencial critico nas democracias liberais. A sociedade civil caracteriza-se, portanto, segundo esta concepção, como a esfera da interação social entre a economia e o Estado. No entanto, ela não engloba toda a vida social fora do Estado e da economia, é preciso distinguir a sociedade civil tanto de uma sociedade política de partidos e organizações políticas, quanto de uma sociedade econômica – empresas, cooperativas, redes de produção, etc. A ideia da sociedade civil na virada do milênio e suas formas contemporâneas A utilização do termo sociedade civil designa empreendimentos cívicos, organizações não-governamentais, grupos de defesa dos direitos humanos até movimentos sociais e redes civis transnacionais. A sociedade civil passa a ser vista ao mesmo tempo como uma esfera não-estatal, antiestatal, pós-estatal e até supra- estatal. Três ideias de sociedade civil vêm sendo adotadas e reproduzidas na linguagem política e contemporânea. 1) A sociedade civil democrático-radical refere-se ao conceito gramsciano de sociedade civil, onde se aplicaria a equação sociedade política + sociedade civil = Estado. 2) A idéia de sociedade civil global que passa a ser construída nesse momento, e que mais se dissemina na linguagem política contemporânea, aparece seja como uma idéia associada ao mercado e oposta ao Estado, seja como uma esfera isolada dos âmbitos do Estado e do mercado. 3) Na concepção da sociedade civil liberal “a sociedade civil é externa ao Estado — uma instância pré-estatal ou infra-estatal —, e nela se busca compensar a lógica das burocracias públicas e do mercado com a lógica do associativismo sociocultural. A revolução associativa global Na década de 90 surgiu a revolução associativa, uma revolução no papel que atores da sociedade civil passam a desempenhar no sistema internacional, seja pressionando seus governos localmente, buscando influencia-los em sua atuação internacional, seja agindo diretamente em fóruns internacionais e na formulação da agenda de organismos multilaterais. A década de 90 foi marcada realmente por um grande envolvimento das ONGs em diversas atividades da ONU, principalmente no âmbito das grandes conferências mundiais. As ONGs “ampliaram o entendimento público das questões, aguçaram a elaboração de políticas públicas, encorajaram esforços internacionais mais ajustados para lidar com questões de ‘bens públicos globais’ a diminuíram a lacuna entre a retórica política e a ação governamental”, afirmam as Nações Unidas em recente relatório. Pode- se afirmar que esta nova fase na relação da sociedade civil com as Nações Unidas inicia- se com a Conferência Mundial sobre Meio Ambiente realizada no Rio de Janeiro em 1992, a chamada Eco-92. Esta nova fase de relacionamento das Nações Unidas com a chamada sociedade civil pode ser observada também na crescente presença de organizações nas seções informais de negociação, momentos nos quais as resoluções finais eram detalhadas e debatidas ponto a ponto e na presença, também cada vez maior, de representantes destas organizações como convidados nas delegações oficiais dos Estados membros. Para muitos analistas, o maior envolvimento da sociedade civil com as atividades oficiais da ONU atraiu a atenção da mídia internacional, levou os governos a se dedicarem mais atentamente ao debate público sobre algumas questões que antes eram deixadas de lado, e contribuiu em grande medida com o monitoramento local e internacional do cumprimento dos acordos feitos nas reuniões de cúpula. No final dos anos 90, com as manifestações públicas nos encontros da OCDE de 1998, por ocasião do Acordo Multilateral de Investimentos - AMI, e nas reuniões ministeriais da OMC, em Seattle em 1999 e em Gênova em 2000, crescem as análises sobre os movimentos de resistência à globalização. Como no início foi chamado, o movimento social “anti-globalização” tem sua origem no final da década de 90, com o crescimento e a intensificação de diferentes manifestações de protesto e resistência às políticas econômicas de caráter neoliberal, identificada com organismos como a OCDE, OMC e os Fóruns Econômicos Mundiais. As manifestações de Seattle nesse sentido desempenham um papel muito importante na sensibilização da opinião publica para o fato de que o debate sobre a globalização não se dá apenas nas reuniões reuniões ministeriais e nos corredores oficias da diplomacia, mas também na atuação e reflexão feita por grupos de cidadãos e pela sociedade civil. A noção de que este conceito, para muitos abstrato, “a tal da globalização”, está presente também no nosso dia-dia e não se limita apenas à realidade de governantes e dirigentes de empresas multinacionais, ou representantes de organizações multilaterais. Os movimentos “anti-globalização” aos poucos foram redefinindo sua identidade e passam a ser reconhecidos nas análises políticas, e pela opinião pública, como forças políticas com propostas de mudanças. Soma-se a este cenário a realização do Fórum Social Mundial. Com ele, acrescenta-se ao debate o sentido de alter. A batalha de Seattle é vista, por muitos autores, como o marco fundador do “movimento altermundialista”. inaugura-se, portanto, a partir das manifestações como as de Seattle que se multiplicam e se intensificam na segunda metade da década de 90, uma nova cartografia política do ativismo transnacional (2004a). Um ativismo plural, heterogêneo, de natureza eminentemente global, “formado por velhos e novos movimentos sociais, ONGs, redes de ação cívica e grupos políticos e sociais com as mais diversas concepções, interesses, sinais de identidade e recursos organizacionais”. A construção de uma idéia Inserida em um contexto de intensificação dos processos de globalização, “renascimento” da idéia de sociedade civil e de uma transformação nas formas mais recentes de associativismo “além fronteiras” – a chamada “revolução associativa global” - a idéia de sociedade civil global vai aos poucos se construindo e ganhando espaço no debate político contemporâneo. Zerbini A sociedade civil passa a ser um ator principal das relações internacionais no século XXI. Quando se fala em sociedade civil, se trabalha com um conceito sociológico que fala da liberalização das forças sociais, incluídas as forças de mercado, de suas relações autônomas, e também de suas interações com a esfera estatal. Cada um dos atores da sociedade civil organizada tem sua vontade própria, e dirigem suas ações para alcanças os objetos dessa vontade. São exatamente a ação e a vontade humana os fatores que conferem a sociedade civil , os estados e a comunidade internacional uma hierarquia de igualdade que se configura como um todo harmônico e coerente em pró da afirmação da dignidade humana nas relações internacionais. Sob a perspectiva dos direitos humanos, a sociedade civil abrange uma pluralidade de atores que trabalham em favor da dignidade humana. Na area da afirmação da dignidade humana, não se deve mistificar o trabalho da sociedade civil organizada em prol dos direitos humanos. A afirmação da dignidade da pessoa humana demanda um trabalho constante, que deve ser levado a cabo tanto pela sociedade civil, como pelos estados e comunidade internacional. O estado democrático é composto por todos os atores sociais, inclusive a sociedade civil organizada. O Estado deve atuar cada vez mais e decidir considerando a opinião dos outros atores, inclusive os da sociedade civil, como as ONG’s. É importante destacar que a atual sociedade mundial não é unicamente estatocêntrica e é muito difícil para os estados cuidarem de todos os temas atentamente. Assim, a multicentralidade dos atores nas relaciones internacionais tem sido diretamente responsáveis pelo incremento do debate de reconhecimento por parte das organizações internacionais, sobre tudo a ONU e os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos na europa e america, da contribuição dos atores não estatais ao fortalecimento destas organizações. Entretanto, o espaço oficial oferecido a elas para a sociedade civil não é significativo, tampouco representativo para o trabalho que a sociedade civil vem executando em prol da humanidade e da convivência harmonica e pacifica entre os povos e os estados. Os estados e as organizações não podem dar-se ao luxo de trazer a pauta da comunidade internacional sem escutar, elaborar planos comuns e desenvolver ações em conjunto com a sociedade civl, sobretudo em temas de domínio publico, como os direitos humanos. A repercussão da afirmação da sociedade civil nas relações internacionais e no direito internacional Muitas criticas recaem sobre a sociedade civil, sobretudo às ONG’s. As principais são que a a sociedade civil carece de legitimação democrática; é irresponsável; em seu conjunto é um agente do imperialismo; de alguma maneira, funciona como anestesista dos movimentos sociais; e esta aliada às organizações internacionais. A segurança coletiva, entendia no âmbito donde prevalece a concepção mais tradicional das relações internacionais, se fundamenta na soberania como chave do sistema. Recentemente, aconteceu o surgimento de forças não estatais com capacidade de intervenção em múltiplos planos normativos, de gestão de assuntos diversos, de vigilância dos cumprimentos das normas e regras internacionais pelos atores tradicionais. Também é importante assinalar que nunca como agora as interações entre os atores internacionais tiveram efeitos recíprocos tão altos. No contexto global, a maneira em que a sociedade civil pode contribuir para um sistema internacional de segurança coletiva focada em direitos humanos através de três diferentes níveis de ação, nos quais são reconhecidos de forma mais ampla, pela Membros, a necessidade de uma interacção mais formal e coordenada com a sociedade civil, para além do já existente. São eles: 1. Um plano interno: o desenvolvimento de um esforço conjunto com os Estados internamente no âmbito dos seus três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Ou seja, participar na formulação, implementação e monitoramento de políticas públicas de segurança, direitos humanos, meio ambiente e redução da pobreza (nos países onde não há taxas de pobreza são registrados, poderá a a sociedade civil a participar de projetos de cooperação internacional para combater a pobreza, a segurança pública e desenvolvimento). 2. A nível regional: a participação em debates e na formulação de propostas de organizações internacionais regionais, formalmente (aumentando os atuais baixos níveis de participação formal) e oficial sobre as questões dos direitos humanos, meio ambiente e segurança coletiva . Isso não só facilitaria a realização e implementação destas propostas, mas também, gostaria de destacar a organização internacional e do seu trabalho, que permitiria o conhecimento da existência e finalidade da organização internacional, contribuindo para a consolidação da sua legitimidade no seio das sociedades e dos povos que fazem suas declarações. Isso pode contribuir para a identidade das organizações internacionais para os seus Estados membros e dos povos. 3. A nível universal: como no ponto anterior, participando de debates e na formulação de propostas de organizações universais internacionais, como o sistema das Nações Unidas, ainda mais formal e oficialmente, na temática direitos humanos, meio ambiente e segurança coletiva. Isso não só facilitaria a realização e implementação destas propostas, mas também seria compartilhada com a organização internacional e seu trabalho, possibilitando o conhecimento da sua existência e finalidade, contribuindo assim para reforçar a legitimidade da organização internacional dentro das sociedades e dos povos que compõem seus estados Partes, que possam contribuir para a identidade das organizações internacionais para os seus Estados membros e dos povos. O maior desafio das relações internacionais é a criação de um novo modelo de estado que deverá refletir a pluralidade dos povos e reconhecer seus direitos. Essa transformação passa incondicionalmente pela consolidação e universalização das normas de direitos internacionais dos direitos humanos. A importância especial da sociedade civil para a afirmação dos direitos econômicos sociais e culturais. Ativismo se refere ao processo politico disseminado para influir na tomada de decisões politicas, a nivel nacional e internacional. Esse processo parte de uma iniciativa cidadã e esta destinado a transformar os interesses as necessidades e os desejos populares nas políticas definidas, em praticas e direitos. No âmbito dos DESC o estado é o unico responsável pela sua vigência. O estado tem a tarefa principal de proteger e promover esses direitos, adquirindo a responsabilidade internacional ante tratados ratificados. Entretanto, a plena exigência dos DESC cabe também a outros atores sociais como as organizações internacionais e a sociedade civil organizada. A relação do estado e sociedade civil em prol da afirmação dos DESC é desenvolver uma cultura política que reivindique o publico sobre os interesse particulares e que reafirme a sociedade civil como contraparte do estado na realização dos DESC, não como sua rival ou substituta, mas aquela que busca fortalecer o estado, fazendo-o eficiente e responsavel ante a sociedade em seu conjunto e não apenas ante grupos de interesses. As ONG’s tem sido essenciais para a canalização das denuncias de violações de direitos humanos, em sido fundamentais também para o seguimento dos casos da vigilância e do comprimento das medidas cautelares emanadas pelos órgãos do sistema e para o próprio cumprimento das sentenças ditadas pela corte. Destaca-se a formação de três importantes espaços de discussão e analise dos DESC por parte da sociedade civil organizada, que se transformaram em conhecidos entes de influencia nas decisões dos governos e das OI’s em matéria dos DESC: a plataforma interamericana de direitos humanos, democracia e desenvolvimento (PIDHDD), a plataforma interamericana dos DESC e a coalizão de ONG. Diante dessa realidade, notamos que há um grande desafio no espectro do ativismo pelos direitos humanos por parte do sistema americano. O ativismo pelos direitos humanos responde ao interesse do cidadão em transformar os direitos humanos formais em direitos reais e efetivos. Nesse sentido, uma abordagem fundamental deve a sociedade civil Inter-americano com o objectivo de reforçar o sistema regional de proteção dos direitos humanos seria a colheita e propor demandas paradigmáticas para o fortalecimento não só do próprio sistema, mas também das noções crucial que beira do campo conceitual dos direitos humanos, especialmente as noções de complementaridade, indivisibilidade e da universalidade deles. Outro objetivo seria garantir ativista chave em todos os Estados signatários da Convenção Americana e do Protocolo de San Salvador, a aplicação das regras nele contidas de forma consistente. A sociedade civil, por suas características anteriormente mencionadas e por seu próprio, é o ator que diariamente lembra os estados, aos órgãos de supervisão de diferentes sistemas regionais de proteção dos direitos humanos e as respectivas organizações internacionais, a existência de um conjunto de direitos – consubstanciados nos documentos e tratados internacionais respectivos – que devem ser respeitados, protegidos e vigiados por cada um deles. Capital social – Maria Celina D’Araujo Podemos aproveitar o conceito de Capital Social para falarmos de assuntos de interesse geral: desenvolvimento econômico, humano, social e democrático. É uma nova roupagem para preocupações antigas que inquietam grande parte da população. Marx definiu Capital como produto da mais-valia produzida pelo trabalhador e apropriada pelos donos dos meios de produção. Modernamente, na area econômica e empresarial, capital pode vir acompanhado de vários adjetivos: capital aberto, capital constante ou variável, capital de giro, capital de risco, capital fechado, capital financeiro, capital fixo, capital intensivo, capital social das empresa. Além desses, temos o capital humano. Capital Social expressa basicamente a capacidade de uma sociedade de estabelecer laços de confiança interpessoal e redes de cooperação com vistas à produção de bens coletivos. Segundo o Banco Mundial, refere-se às instituições, relações e normas sociais que dão qualidade às relações interpessoais em uma dada sociedade. Capital social é o que mantém as instituições em contato entre si e as vincula ao cidadão visando à produção do bem comum. Para ser Capital Social a associação deve ser voluntária e cívica em que há horizontalidade nas relações entre os membros. Putnam busca entender a diferença de desempenho institucional entre regiões, valorizando a cultura cívica, o civismo, a cultura política, as tradições republicanas, em suma, fatores importantes para a existência do capital social. O contexto cívico é importante para o funcionamento das instituições. A cultura cívica, associada à confiança interpessoal, traduz-se em um recurso fundamental de poder para os indivíduos e para as sociedades, em um capital social cujos benefícios são comuns a todo o grupo ou a toda a sociedade. Se não houver confiança ou instrumentos definidos para obrigar a cada um cumprir a sua parte no contrato, pessoas racionais não produzem espontaneamente bens coletivos. Ou dito de outra forma, o uso da razão não é suficiente para produzir o bem- estar. O capital social facilita a cooperação espontânea e minimiza os custos de transação. Segundo Putnam, a confiança pode derivar de duas fontes: regras de reciprocidade e sistemas de participação cívica. Na comunidade cívica o contrato que mantém a cooperação é moral. A consciência de que cada cidadão tem seu papel e seus deveres, em conjunto com seu compromisso de igualdade política, constitui o cimento moral da comunidade cívica. Capital social é o único capital que cresce na medida em que é usado. Confiar e usufruir das vantagens de confiar produz mais confiança. Capital social está definido por três fatores inter-relacionados: confiança, normas e cadeias de reciprocidade e sistemas de participação cívica. A preocupação como Capital social surgiu, para muitos, devido a crise do Estado; na falta de um Estado forte, capaz de cumprir metas sociais, a tenção teria se voltado para a sociedade civil, e uma sociedade civil forte e saudável deveria ser capaz de corrigir distorções do mercado sem precisar da presença tão ativa do Estado. Para Fukuyama, a tese é a de que a habilidade de formar organizações depende de contratos, regras de comercio exterior, clausulas bem definidas sobre direitos de propriedade, mas também de aspectos morais que não estão explicitados em normas escritas; depende do capital social de cada sociedade, da capacidade de seus membros para interagir com confiança. Segundo esse autor, na ausência de um amplo raio de confiança e de associativismo, uma sociedade teria duas opções para construir organizações econômicas de larga escala: usar o Estado como promotor do desenvolvimento ou recorrer a investimentos estrangeiros. Capital social, capitalismo, liberalismo econômico e político seriam uma combinação ideal para a promoção do desenvolvimento. Para o Banco Mundial, capital social e cultura são as chaves do desenvolvimento, o que denota a necessidade de que cada projeto financiado pelo Banco leve em consideração valores culturais do meio onde será efetivado. As políticas públicas não podem ser efetuadas apenas a partir da presença de um estado-coordenador ou de um mercado livre. É necessária uma atuação por redes, em que Estado, mercado e sociedade possam interagir e atuar conjuntamente de forma menos hierarquizada. O economista Albert Hirshman define capital social como aquele que aumenta dependendo da intensidade de seu uso, no sentido de que praticar cooperação e confiança produz mais cooperação e confiança, e, logo, mais prosperidade. Outro economista, Amartya Sen, diz que o desenvolvimento econômico só faz sentido se tiver o homem como meio e fim. A pobreza, a falta de recursos básicos, priva o indivíduo do exercício de suas liberdades primárias; os impede de ser capaz de escolher. Democracia, cultura cívica e sociedade civil Cultura política é um conceito universal – onde há continuidade humana há formas organizadas de poder e há portanto uma cultura política. Culturas política democráticas eram aquelas em que predominavam o espirito cívico. Instituições políticas solidas seriam o cerne de uma teoria geram do associativismo. Na ausência de tais instituições as sociedades altamente mobilizadas correm o risco da desordem e da anarquia. As instituições políticas organizam a participação, dão-lhe eficácia,. Se não há instituições políticas consolidadas e legitimadas, a vida em sociedade torna-se desorganizada e caótica. Para Tocqueville, sem sociedade civil organizada, sem cultura cívica e liberdade, não haveria confiança nem relações horizontais de poder, não haveria capital social, e sem capital social não haveria democracia bem sucedida. Quando falamos de sociedade civil estamos nos referindo a uma sociedade em que grupos organizados, formais ou informais, com independência do Estado e do mercado, têm condições de promover ou de facilitar a promoção de diversos interesses da sociedade. Capital social são as relações informais e de confiança que fazem com que as pessoas ajam conjuntamente em busca de um bem comum; fundamental para que novas e velhas organizações da sociedade civil possam prosperar e dar oportunidade de participação aos que ainda carecem de engajamento ou proteção. A cooperação tem como principal alvo o bem-estar do indivíduo e o zelo pelo governo democrático e transparente. O declínio do capital social e o futuro da democracia O capital social é uma maneira de manter ou aprimorar sociedades já democráticas e também pode ser um instrumento para promover a emergência da democracia onde ela falhou. As instituições políticas podem ser os agentes a ensinar a tolerância, compromisso e participação e a formar futuros lideres. Nas democracias emergentes, o capital social auxiliaria a promover criticas ao governo, a formar redes de oposição e de informação. Gohn PARTE 1 – redes de mobilizações no Brasil contemporâneo Os pontos que diferenciam os movimentos sociais atuais na atualidade, em relação ao passado são: 1. A necessidade de qualificação do tipo de ação coletiva que tem sido caracterizado como movimento social. Movimentos sociais possuem uma identidade, tem um opositor e articulam ou se fundamentam num projeto de vida e de sociedade. Questões como a diferença e a multiculturalidade têm sido incorporadas para a construção da própria identidade dos movimentos; lutam pelo reconhecimento da diversidade cultural. A igualdade é ressignificada com a tematização da justiça social; a fraternidade se retraduz em solidariedade; e a liberdade associa-se ao principio da autonomia; autonomia entendida como inserção e inclusão social na sociedade, com autodeterminação, com soberania. Os movimento sociais na atualidade tematiza e redefinem a esfera pública, realizam parcerias com outras entidades da sociedade civil e política, têm grande poder de controle social e constroem modelos de inovações sociais. 2. O século XXI apresentou uma conjuntura social e política contraditória na A.L.; ao mesmo tempo em que vários movimentos tiveram, em vários países, mais condições de organização, em outro, eles perderam muito sua força política. Em alguns países houve uma radicalização do processo democrático e o ressurgimento de lutas sociais tidas como tradicionais. Eclodiram na cena publica como agentes de novos conflitos renovação dos movimentos e lutas sociais coletivas, e em alguns casos elegeram como representantes supremos da nação suas lideranças. 3. As alterações do papel do Estado em suas relações com a sociedade civil e em seu próprio interior: as novas políticas sociais do Estado globalizado priorizam processos de inclusão social de setores e camadas tidas como vulneráveis ou excluídas de condições socioeconômicas ou direitos culturais. Esse papel é realizado de forma contraditória, capturando-se o sujeito politico e cultural da sociedade civil, antes organizado em movimentos e ações coletivas de protestos, agora parcialmente mobilizados por políticas sociais institucionalizadas. Transformam-se as identidades políticas destes sujeitos em políticas de identidade, pré-estruturadas segundo modelos articulados pelas políticas publicas, arquitetados e controlados por secretarias de estado, em parceria com organizações civis. A inversão da ordem dos termos: identidade política para política de identidade, muda radicalmente o sentido e o significado da ação coletiva dos movimentos sociais. A interação do Estado por meio da ação de seus governos se faz mediante uma retórica que retira dos movimentos a ação propriamente dita; ela transforma em execução de tarefas programadas, tarefas que serão monitoradas e avaliadas para que possa continuar a existir. A institucionalização das ações coletivas impera como regulação normativa, com regras e espaços demarcados e não como um campo relacional de reconhecimento. O novo cenário das políticas publicas cria um deslocamento na questão de desigualdade; além dos deslocamentos da questão da desigualdade para a questão das diferenças e da igualdade para a equidade. O tratamento das desigualdades deve ter como horizonte a igualdade. A equidade é a disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um – o direito de todos serem iguais. 4. Além da ampliação dos sujeitos protagonistas de ações coletivas, ocorreram alterações no formato das mobilizações e na forma de atuação, agora em redes. Isso resulta do alargamento das fronteiras dos conflitos e tensões sociais em virtude da nova geopolítica que a globalização econômica e cultural têm gerado. 5. Grandes lacunas permanecem na produção acadêmica a respeito dos movimentos sociais: o próprio conceito de movimento social; o que os qualifica como novos; o que distingue de outras ações coletivas ou de algumas organizações sociais como as ONG’s; o que ocorre de fato quando uma ação coletiva expressa num movimento social se institucionaliza; qual o papel dos movimentos sociais nesse século; como podemos diferenciar um movimento social criado a partir da sociedade civil, por lideranças e demandatários, de ações civis organizadas ao redor de projetos de mobilização social e que também se autodenominam movimentos; quais as teorias que realmente têm sido construídas para explica-los. Os novos ativistas são mobilizados para participares de ações sociais, estruturadas por agentes do chamado Terceiro Setor, ou por agências governamentais, via políticas públicas indutoras da organização popular, como nos conselhos gestores, ou mobilizados pelos fóruns temáticos nacionais, regionais ou internacionais onde a presença de antigos e novos movimentos sociais é corrente. A categoria Movimento social tem sido substituída pela de mobilização social, voltada para a ação coletiva que busca resolver problemas sociais, diretamente, via a mobilização e engajamento de pessoas Categorias de análise: redes e mobilização social Inclusão social substituiu a categoria exclusão como objeto de estudos e pesquisas, num movimento contraditório que acompanha a ênfase nas novas políticas sociais. Se antes o entendimento da exclusão/inclusão era tratado como uma polaridade, inerente ao capital, na atualidade é visto como dado a ser administrado tecnicamente ou gerido pelas praticas de assistência. A política antes era vista como processo de construção da cidadania, parte integrante da vida democrática, agora se transforma na arte da negociação. O esquecimento da política é a privatização da vida é o preço que se paga com a progressiva destruição do espaço publico e da dimensão publica das instituições. Dessa forma, a sociedade civil, em sua heterogeneidade organizacional perdeu o sentido e o campo de critica, e emerge apenas como cooperação em que cabe todo o tipo de associações civis, entendidas como organizações privadas para a ação pública. A participação política é confundida como o consenso e a política deixa de ser a reivindicação da parte dos que não têm parte a uma intervenção de expedientes. Atualmente a identidade tem sido tratada como uma ferramenta em construção. Não se trata da identidade construída na trajetória de um movimento, mas de uma identidade modelada, outorgada, na qual determinados sujeitos sociopolíticos e culturais são mobilizados para serem incluídos. Um movimento social com certa permanência é aquele que cria sua própria identidade a partir de suas necessidade e seus desejos, tomando referentes com os quais se identifica, outros igualmente carentes, excluídos ou sem direitos, reconhecimentos ou pertencimentos. O reconhecimento da identidade política se faz no processo de luta, perante a sociedade civil e política. Rede social passa a ter um papel até mais importante do que o movimento social. Ela é importante na analise das relações sociais de um dado território ou comunidade de significados porque permite a leitura e a tradução da diversidade sociocultural e política existentes nessas relações. O uso de redes sociais é um instrumento de analise e articulação de políticas sociais. Para alguns, rede substitui a categoria movimento social, para outros é um dos suportes ou ferramentas dos movimentos, e, para outros ainda, a rede é uma construção que atua em outro campo, das praticas civis, sem conotações com a política. PARTE 2 – Mapeando a cena: movimentos sociais e associações civis Os atores coletivos podem ser aglutinados em 4 sujeitos sociopolíticos, e eles se articulam nas redes: 1. Os movimentos sociais como uma forma de estruturação de relações sociais. 2. As ONG’s, entidades assistenciais e entidades do mundo empresarial articuladas pelo Terceiro Setor 3. os fóruns, plenárias e articulações nacionais e transnacionais 4. Conselhos gestores de projetos, programas ou políticas sociais. São ativos sociais pelo papel que desempenham no jogo politico democrático. Movimentos sociais Movimentos sociais mobilizam ideias e valores e geram saberes e aprendizado coletivo; enquanto isso, a maioria das chamadas ações cívicas são organizadas de cima para baixo, permanecem auto-estradas e autorreferenciadas, limitando-se ao desempenho de um estratégia de sobrevivência ou um ação cultural, sem desenvolver potencial para autonomia e autodesenvolvimento das ações. Os movimentos são elementos fundamentais na sociedade moderna. Muitos movimentos se transformaram em ONG’s ou se incorporaram às que já os apoiavam. Mobilizar passou a ser sinônimo de arregimentar e organizar a população para participar de programas e projetos sociais, a maioria dos quais já vinha totalmente pronto e atendia a pequenas parcelas da população. O militante foi se transformando no ativista organizador das clientelas usuárias dos serviços sociais. Cenário dos movimentos sociais na atualidade brasileira O eixos temáticos que envolvem os movimentos, lutas, ações coletivas de associações e demandas são: Movimentos sociais ao redor da questão urbana; movimentos em torno da questão do meio ambiente: urbano e rural; movimentos identitários e culturais: gênero, etnia, gerações; movimentos de demandas na area do direito; movimentos ao redor da questão da fome; mobilização e movimentos sociais area do trabalho; movimentos decorrentes de questões religiosas; mobilização e movimentos rurais; movimentos sociais no setor de comunicações; movimentos sociais globais. Sociedade civil, organizações da sociedade civil e democratização na Argentina Para se evitar retrocessos autoritários, promoveu-se organizações da Sociedade Civil (OSC), mobilizadas em torno da defesa e da expansão de diversos direitos da sociedade. A ideia de um sociedade ciivl organizada, pluralista e aberta afeta positivamente a qualidade da democracia. Desde a transição à democracia na década de 80 na maioria dos países da América Latina, incluindo a Argentina, experimentou-se uma expansão significativa de diferentes tipos de OSC. No entanto, ao mesmo tempo em que se registra este crescimento e diversificação das OSC, as instituições democráticas permanecem frágeis, o desenvolvimento continua difícil e a diminuição da desigualdade social continua pendente. Origem da sociedade civil As OSC se consolidaram nas últimas décadas na agenda global como agentes democratizantes políticos, econômicos, so- ciais e culturais não só na teoria, mas também na prática, através do financiamento generoso recebido por parte de várias agências de cooperação internacionais. Sociedade civil na Argentina Em 1983, a Argentina retomou o caminho democrático deixando para trás quase uma década de autoritarismo, violação sistemática dos direitos humanos e paralisação econômica. A ressureição da sociedade civil, isso é, a rápida expansão da organização e participação cidadã que trouxe consigo o colapso do regime militar, foi um fator determinante para deixar definitivamente para trás o terrorismo de Estado e avançar na redemocratização evitando potenciais retrocesso autoritários. Essa ressurreição da sociedade ci- vil se caracterizou na Argentina, assim como em outros países da região, pelo surgimento de novas formas de organização e novos movimentos sociais que impulsionaram a renovação das velhas estruturas de participação social. As novas estruturas organizadas eram flexíveis, em muitos casos informais, e seu discurso legitimador visava defender o direito à vida e a uma cidadania plena que abrangesse os direitos políticos, civis, sociais e culturais. Essa sociedade civil tinha o objetivo de democratizar a democracia. O processo de reforma neoliberal nos anos 90 esteve acompa- nhado da expansão sustentada das OSC, que começaram a tomar para si funções que antes eram realizadas pelo Estado, sobretudo em maté- ria de política social e desenvolvimento local. A retração do estado de bem-estar e a concomitante introdução de políticas sociais focalizadas e descentralizadas tiveram nas OSC, dedicadas a fornecer bens concretos, seu principal ator. Novas e velhas OSC se transformaram desta forma em veículos de implantação e gestão de políticas planejadas pelo Estado, na maioria das vezes com o apoio financeiro e ideológico de organismos internacionais como o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Muitas das novas OSC foram virtualmente formadas pelo Estado, justamente para a implementação de tais políticas. A governo do presidente Néstor Kirchener que se iniciou em 2003 criou diversas iniciativas para articular a participação das OSC na implementação e monitoramento de políticas publicas destinadas a aliviar a profunda crise econômica, resultado do fracassado modelo neoliberal. Ainda que tenham sido criadas novas instâncias de participação entre o Estado e a sociedade civil (como os Conselhos Consultivos em política social),também aconteceram tentativas (bem-sucedidas) de cooptação e manipulação das OSC. OSC e desigualdade social A estrutura da sociedade civil argentina é diversificada, fragmenta- da e reproduz em seu interior as desigualdades existentes no país: existem OSC ricas, bem articuladas, altamente profissionais e comum canal de comunicação direto com os meios de comunicação de massa; e existem muitas OSC pobres, que lutam dia a dia por sua sobrevivência, com uma equipe basicamente de voluntários e quase invisíveis aos meios de comunicação e ao resto da sociedade. Essa desigualdade cria varias tenções e conflitos dentro do mundo das OSC. Como os recursos financeiros são mínimos e as fontes de financiamento pouco diversificadas, a tendência é a competição entre OSC que por suas características poderiam, a principio, associar-se e cooperar em temas de interesse comum. Não só os recursos são escassos, mas também são incertos e carecem de continuidade no decorrer do tempo. Os levantamentos existentes sugerem que as fontes de financia- mento disponíveis são: fundações (na maioria, estrangeiras), o Estado em seus diferentes níveis (sobretudo através de programas sociais, às vezes com o apoio de organismos internacionais) e/ou pessoa física. As empresas argentinas, em geral, participam muito pouco do que se costuma chamar de ‘responsabilidade social empresarial’, por mais que o interesse dessas aumentou recentemente. Existem várias consequências negativas que podemos destacar com relação à limitação das fontes de financiamento. Uma que foi frequentemente citada pelos especialistas do chamado “Terceiro Setor” é a instabilidade que a falta de recursos e de fontes de financiamento di- versificadas gera na profissionalização dos quadros das OSC. Diante da incerteza de suas carreiras, muitos preferem mudar para outros setores profissionalmente mais estáveis (por exemplo, o Estado e inclusive os doadores), ainda que suas preferências pessoais sejam permanecer no setor das OSC. Isto aumenta a desigualdade entre as OSC, já que as “ricas” podem captar, capacitar e reter os melhores profissionais, os quais, por sua vez, são mais eficientes para obter fundos, criando com isso um círculo virtuoso para a sua própria OSC, mas vicioso para toda a sociedade civil. Uma segunda consequência negativa é que os doadores, que também têm as suas próprias agendas a cumprir, preferem apostar no ganhador e a maioria termina apoiando as organizações mais ricas e profissionalizadas para garantir resultados positivos em razão de tal agenda, reforçando ainda mais a desigualdade entre elas. A despeito de fatores estruturais de caráter político e institucional que dinamizam a organização e sustentação de uma ação coletiva bem-sucedida, isto explica em grande parte a alta taxa de ‘mortalidade’ registrada entre as OSC e a limitação na agenda autônoma que elas poderiam desenvolver; em muitos sentidos, as OSC têm que se ajustar às agendas dos doadores disponíveis. Uma consequência posterior é a transformação dessas organizações com grande capital organizacional no que se costuma cha- mar OSC supermercadistas, isto é, OSC que podem tocar quase qualquer projeto que o doador disponível proponha. A cooptação-incorporação de líderes e ativistas de OSC também abrange organizações em outros âmbitos de ação. No campo do advocacy, especialmente no de direitos humanos, o Executivo nacional utilizou a mesma estratégia, dando subsídios e cargos públicos, assim como preferências para certas OSC em detrimento de outras. muitas OSC dedicadas ao advocacy não têm um funcionamento interno democrático e suas estratégias de ação para efetivar as suas respectivas agendas estão muito longe da cooperação e da solidariedade. sociedade civil não opera no vazio, mas sim em um contexto político, social, cultural e econômico determinado. Em um ambiente de forte corrupção, clientelismo e personalismo como é o argentino, é de esperar que as OSC sejam afetadas por estas tendências. Argumentos a favor da sociedade civil: um contratual Para a teoria democrática, a pluralidade e a diversidade social que vem acompanhada do crescimento e da diversificação das OSC são características positivas para o surgimento de uma democracia de melhor qualidade. a grande proliferação e diversidade atual das OSC é certamente um aspecto positivo para a vida democrática e tem o potencial de ser um antídoto contra retrocessos autoritários e um agente ativo no aprimoramento da qualidade da democracia. As OSC adotaram uma linguagem de direitos, isto é, de reivindicações de direitos da cidadania. Em termos gerais, um discurso de autorrepresentação baseado na “lingua- gem de direitos” contribui positivamente para criar um ambiente favorável à vigência do estado de direito e ao cumprimento da lei. Em resumo, a violação do direito de associação autônoma – como acontece no clientelismo – subverte o espaço público ao limitar as oportunidades dos cidadãos pobres de se organizar, deliberar, participar coletivamente e fazer com que sua voz seja efetivamente ouvida no processo político. Resumo A política do Poder Executivo nacional a respeito de muitas OSC sempre foi o divide et impera, dando-lhes recursos arbitrariamente. Isto aumenta ainda mais a desigualdade entre as OSC. Com relação aos partidos políticos, também podemos constatar que utilizam algumas OSC como extensão da máquina partidária em época eleitoral, afetando negativamente a capacidade de organização dos setores mais pobres, sobretudo a nível lo-al. No que diz respeito à agenda pública as OSC são, em geral, limitadas. Sem uma mobilização significativa da sociedade com relação aos temas propostos pelas OSC, elas se transformam quase sempre em um insumo dos meios de comunicação. Entrevistas com jornalistas dos meios nacionais revelam que as OSC não são um poder de fato e que sua capacidade de estabelecer temas na agenda de- pende da conjuntura política e da própria agenda da mídia, não o contrário. Existe uma associação difusa entre a mídia e as OSC, onde a primeira costuma ter a iniciativa. Ela pode, por si só, influir na agenda pública, o que não acontece com as OSC a não ser que consigam uma grande mobilização da sociedade em alguma questão pontual. Na Argentina, as agendas das OSC sofreram uma influência parcial da agenda dos doadores internacionais. Sob o paradigma neoliberal anti estatal de uma sociedade civil como criadora de tudo o que é bom, muitas OSC viram seus recursos limita- dos para desenvolver agendas realmente autônomas. É importante enfatizar que existem coalizões sólidas entre doadores internacionais, universidades privadas e OSC proeminentes que monopolizam a maior parte dos recursos disponíveis. Conclusões A reivindicação atual do Estado como agente econômico e social quase exclusivo contém o perigo de atribuir um papel residual à sociedade civil. Isto deve ser um sinal de alarme não só para as OSC, mas também para qualquer cidadão ou cidadã fortemente comprometido com a expansão da democracia e da equidade social. Bolívia: ONGs e movimentos sociais em tempos de mudança Com a vitoria do Movimento ao Socialismo (MAS), esse novo modelo de estado se caracteriza pelo retorno do protagonismo estatal nas tarefas de desenvolvimento econômico e social, pelo reconhecimento dos direitos coletivos dos povos indígenas e por uma descentralização politico-administrativa, organizada em torno de um modelo de autonomias territoriais nos departamentos, municípios e nos territórios indígenas. As mudanças em direção a uma cidadania multiculturas, reconhecendo os indígenas e os japoneses como sujeitos de direitos coletivos, denotam o protagonismo do movimento indígena e camponês no processo constituinte e colocam em evidencia transformações nas relações entre o sistema politico e a sociedade civil, assim como a própria composição da sociedade civil. A partir de 2006, as mudanças nas relações entre movimentos sociais e ONGs foram profundas, porque o MAS tinhas uma importante presença de profissionais de ONGs no poder executivo. Assim, o discurso de varias ONGs foram se adequando aos parâmetros discursivos estabelecidos pelo governo de Evo respeito do desenvolvimento da democracia. A sociedade civil é um conjunto de instituições sociais e também uma esfera pública, são as duas caras de uma mesma moeda. Faz referencia a formas de associação voluntária de indivíduos que agem em função de propósitos comuns e ao mesmo tempo, a uma âmbito de interdiscursividade que têm influencia nas decisões do estado. Sociedade civil implica organizações de associação voluntária e de esfera pública. … Conclusões As organizações da sociedade civil, particularmente as ONGs e as fundações ligadas a estes setores e a redes do movimento antiglobalização, passa- ram a desempenhar um papel de destaque a partir da vitória eleitoral de Evo Morales e do MAS. Sua influência se manifestou no processo constituinte e na definição de políticas públicas com o protagonismo de membros de ONGs na esfera governamental, ainda que com alguns sinais de cooptação e traços de subordinação às organizações sociais e ao partido do governo. Se no passado as ONGs, em termos gerais, pro- moveram projetos de desenvolvimento e se multiplicaram em razão da aplicação de uma política de participação cidadã no nível municipal, nos últimos anos seu trabalho se orientou a reforçar as transformações impulsionadas pelo governo de Evo Morales. A união com o governo definiu o âmbito de possibilidades de ação das ONGs, algumas das quais foram questionadas por suas ligações com setores da oposição e agências de cooperação norte-americanas. Ou seja, as mudanças políticas influíram no trabalho das ONGs que assumiram as novas normas dis- cursivas sobre o desenvolvimento baseadas no protagonismo das rei- vindicações camponesas e indígenas que reafirmam um projeto político que se sustenta na ampliação da democracia e na participação cidadã. O projeto governamental do MAS também se expressa em uma maior participação do Estado na economia e no fortalecimento das organizações sociais com papéis políticos e produtivos. Esta situação in- flui na orientação das políticas de desenvolvimento e, logicamente, no trabalho das ONGs. As prioridades nas políticas sociais já não correspondem a recomendações de organismos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial. As reivindicações das organizações da sociedade civil se transformaram em políticas públicas e, portanto, o Estado já não é mais visto como um aliado incômodo ou um competidor, mas como o agente estratégico que define as diretrizes às quais se acomodam os demais atores do desenvolvimento. Diferente- mente do passado, as ONGs não têm um discurso antigovernamental, exceto no caso de denúncias de violação dos direitos humanos feitas por grupos de oposição. Por outro lado, o fortalecimento das organizações rurais e indígenas provoca outros efeitos sobre as ONGs, porque intervém na definição do perfil dos projetos de desenvolvimento e permite a entrada em suas zonas de influência. Em resumo, o trabalho das ONGs, em razão de sua articulação com organizações populares com tradição organizativa e reivindicações políticas próprias, adquiriu novos contornos com a chegada do MAS ao poder. Sendo assim, os valores que defendem e as demandas que pro- movem possuem outro sentido, porque são reivindicações feitas por atores sociais transformados em protagonistas com capacidade para definir a orientação das políticas públicas. De certa forma, o discurso das organizações da sociedade civil passou do protesto à proposta e, portanto, da postura antigovernamental para a colaboração com o Estado. A canalização das reivindicações das organizações sociais através da implementação de políticas públicas proporcionou às ONGs um horizonte mais amplo de “influência”, orientada a transformar o modelo de desenvolvimento e aprofundar a democracia, apesar do risco de diminuir o grau de autonomia com relação ao poder político, seja ele qual for.
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