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TCC - Larissa

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INTRODUÇÃO
Em 1973, na esteira da Guerra do Yom Kippur, ocorre a Primeira Crise do Petróleo, o que gera uma mudança significativa na dinâmica do Sistema Internacional. Nas décadas de 1960 e 1970 a commoditie tornava-se a principal fonte de energia, com a economia mundial em total dependência da mesma. 
No ano da crise, em uma reunião da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), os países membros, que em sua maioria eram do Oriente Médio, decidem aumentar o preço do barril de petróleo de forma significativa, bem como estabelecer uma diminuição em sua produção. Havia interesses econômicos nessa manobra, mas também políticos, sobretudo relacionados ao conflito árabe-israelense. A economia global entra em crise e os impactos se fazem sentir no Brasil e em suas relações externas. O país, então, encontrava-se no apogeu do chamado “Milagre Econômico”, mas que, com a situação mundial e o grande aumento do endividamento externo público, não se prorrogou e cujas consequências perduraram mesmo finda a ditadura.
É nesse contexto internacional que o presente trabalho irá analisar as relações luso-brasileiras no período entre 1973-1976 no que se refere ao comércio bilateral, cooperação e descolonização. A escolha do lapso temporal é em decorrência da conjuntura da transição para democracia em Portugal, que se encontrava no final do Estado Novo, tendo Marcelo Caetano (1968-1974) no poder, e o início do processo de abertura do regime autoritário no Brasil que, no período a ser analisado, contou com dois presidentes: Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) e Ernesto Geisel (1974-1979). Isto levou a um quadro favorável para a revisão das relações bilaterais. 
A Política Externa Brasileira (PEB) sempre foi marcada por duas palavras-chave: autonomia e desenvolvimento. Durante o governo Médici, isto se manteve: a conotação de autonomia usada era a de "autonomia pela distância", ou seja, uma politica de não aceitação automática dos regimes internacionais, visando ao desenvolvimento do mercado externo, mas preservando a soberania do Estado. O Brasil nesse período não estava mais diretamente ligado às causas globais, adotando uma posição soberanista. [1: VIERA, Diego Santos. Análise de Política Externa Brasileira. 07 mar. 2016, 11 jul. 2016. 1 p. Notas de Aula.]
A PEB tinha como projeto “Brasil Potência”, o qual visava alavancar a economia do país e estava incluso na Diplomacia do Interesse Nacional.
“... A diplomacia do Interesse Nacional, preocupando-se mais com os ganhos mesmo que as vezes modestos, do que com as concessões feitas. A estratégia era não mais a do anti-imperialismo, mas a busca de uma melhor posição para o Brasil dentro do Imperialismo”[2: VIZENTINI, Paulo Fagundes. A política externa do regime militar brasileiro, Editora UFRGS, p.139]
A diplomacia do Interesse Nacional iria perdurar por todo o governo Médici e seu foco seria nas relações bilaterais. “A Diplomacia do Interesse Nacional, preocupada exclusivamente em tirar proveito das brechas existente no sistema internacional, enfatizou uma estratégia individual de inserção, estabelecendo relações essencialmente bilaterais...”[3: Ibid., p. 142]
Em 1974, assume o presidente Geisel, que teve seu governo marcado por uma maior abertura política. Este processo é realizado de forma “lenta, gradual e segura”, como indicou o próprio governante e, refletindo essa postura interna, sua política exterior ficou conhecida como o “Pragmatismo Ecumênico e Responsável”, com ênfase na promoção de interesses comercias e com a abertura de novos mercados.
“... num mundo em constante mutação, não há coincidências permanentes nem divergências perenes. Nestas condições, não pode haver alinhamentos automáticos, porque o objeto da ação diplomática não são países, mas situações. O que devemos buscar em cada momento é explorar as faixas de coincidência que temos com cada um dos países, procurando ao mesmo tempo reduzir as áreas de divergência ou de confrontação. Esta atitude pragmática é a essência mesma da atividade diplomática.(palavras do Chanceler Silveira na ESG, em 1974)”[4: ALBUQUERQUE, João Augusto; SEITENENFUS, Ricardo; CASTRO, Sérgio Henrique. Sessenta anos de Politica Externa brasileira (1930-1990), v 1. Rio de Janeiro: Editora Lumen juris, 2006, p.406]
	Os objetivos do trabalho são entender o funcionamento, tanto da política externa brasileira, como da política externa portuguesa, procurando compreender a importância da relação luso-brasileira nas áreas citadas e quais foram os impactos das transições internas nas mesmas. A hipótese é que observa-se uma aproximação conflituosa entre os países no período de análise, devido à situação interna transicional pela qual ambos os países passavam.
O tema é relevante pois a relação entre Brasil e Portugal vem sendo construída desde o período colonial e sua importância recai em diversas áreas: econômica, politica e sociocultural. O Primeiro acordo luso-brasileiro, firmado no ano de 1825, foi o Tratado de Paz, Amizade e Aliança, no qual Portugal reconhece a independência do Brasil. Mas apesar de haver aproximação entre os dois países, em grande parte devido aos laços históricos, acordos e projetos culturais, por outro, havia desentendimentos igualmente históricos entre ambos, principalmente advindo da problemática colonial. 
	Para que não ocorressem rupturas na relação Brasil-Portugal devido à questão colonial, era necessário fazer uma distinção de perspectivas sobre a antiga metrópole. Na prática, existia uma dupla visão sobre Portugal: de um lado, o metropolitano com o qual o Brasil fazia acordos e tratados; de outro, aquele com o qual havia pendências a serem resolvidas com suas colônias nas qual o Brasil tentava, mesmo sem ter sido formalmente convidado, mediar a situação. Uma vez que houvesse essa distinção, o Brasil teria a capacidade de se aproximar mais da África como um relevante parceiro comercial em potencial, uma politica de aproximação adotada por Médici que, para alguns, já vinha sendo pautada por outros governos anteriormente. Assim, "Para alguns analistas, a política exterior do Brasil para a África manteve-se dentro das linhas já traçadas pelos governos militares anteriores."[5: GONÇALVES, Williams; MYAMOTO, Shiguenoli. Os militares na política externa brasileira, in Estudos Históricos. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1993, v.12 p 225 apud VIZENTINI, Paulo Fagundes Op. Cit., p.178]
Para compreender melhor essa relação, optou-se por utilizar a metodologia descritivo-analítico, baseada em fontes primárias e secundárias. A coleta de dados será a partir de livros publicados por autores renomados, artigos científicos, sites e relatórios oficiais.
O trabalho será dividido em três seções. A primeira, traz o enquadramento teórico do trabalho, para o qual foi escolhido a teoria do Jogos de dois Níveis de Robert Putnam, em que consta que tanto o nível doméstico como o nível internacional estão interligados. Assim, procuraremos mostrar como as ditaduras e a abertura afetam a política externa de ambos os países, bem como o relacionamento bilateral.
Por sua vez, na segunda seção serão abordadas, de maneira abrangente, as políticas interna e externa – tanto brasileira quanto portuguesa – adotadas no período do regime militar brasileiro e no fim do Estado Novo em Portugal, com o foco nas transições dos dois países.
A terceira seção, enfim, tem como foco a relação bilateral luso-brasileira em si, com ênfase nas áreas de cooperação e descolonização durante o período escolhido. Mostraremos também a importância do Brasil na descolonização da África. É nesta seção que tentaremos comprovar uma aproximação entre os dois países que no momento buscam uma estabilidade politica, devido ao período de transição que ambos passavam, para poderem se inserir no novo contexto internacional.
De uma maneira geral, o presente trabalho busca analisar as relações entre Brasil e Portugal e seus impactos para os dois países. Intenta-se, portanto, compreender a importância das relações luso-brasileirase de que modo as parcerias comerciais e culturais ajudam ambos os países a se reinserirem no Sistema Internacional, tendo em vista as mudanças internas que se desenrolavam.
O mundo é um jogo
A ideia de que o Estado é um ator unitário é questionada já na década de 1950 por cientistas políticos como Richard C. Snyder, H.W. Bruck e Burton Sapin, surgindo assim os primeiros trabalhos sobre análise de política externa. Eles enfatizaram o processo e a estrutura dos grupos que atuam na formulação da decisão. 
Em meados de 1980, Robert Putnam apresentou a teoria dos jogos de dois níveis, na qual relaciona a política doméstica com a política internacional, afirmando que ambas são indissociáveis. Nesta seção, buscaremos entender como funcionam os jogos de dois níveis, de qual maneira e até a que ponto a política doméstica e a política externa se influênciam. Para que, a partir dessa análise, possa-se compreender como funciona a política externa brasileira e a política externa portuguesa e a sua relação bilateral.	
Na teoria de jogos de dois níveis, o autor defende a abertura daquilo que os realistas e neorrealistas denominam de “caixa preta do Estado”, ou seja, muda-se a visão de o Estado como ator unitário: agora ele é visto a partir das suas forças constituintes. Com isso, é possível dizer que a definição dos interesses nacionais é importante na análise de dois níveis.
Putnam foi influênciado pelas análises pioneiras produzidas nas décadas de 1950 e 1960 pode David Singer, Graham Allison e por Thomas Schelling. Em seu trabalho, ele traria o conceito evidenciado por Schelling – Conjectura de Schelling– que seria de que a divisão do nível domestico é importante recurso político em processos de negociação internacional. Assim sendo, ele procura se basear na metáfora de que os governantes, ou seus representantes, jogam em duas mesas de negociação, o jogo doméstico, o qual ele chama de nível II e o jogo internacional, que seria o nível I. Ao apresentar essas duas mesas, ele afirma que o Estado estaria posicionado estrategicamente entre elas, para que pudesse assim negociar concomitantemente. Dessa forma, os jogos de dois níveis buscam analisar simultaneamente o nível internacional (nível I) e o nível domestico (nível II). [6: PUTNAM, Robert. Diplomacia e política doméstica: a lógica dos jogos de dois níveis. Tradução de Dalton L. G. Guimarães, Feliciano de Sá Guimarães e Gustavo Biscaia de Lacerda. Revista de Sociologia e Política, Curitiba, v. 18, n. 36, jun. 2010, p. 151. Título original: “Diplomacy and Domestic Politics: The Logic of the Two-Level Games”.]
" o Nível de análise diz ao investigador aonde olhar as causas do comportamento do Estado classificando explicações concorrentes (ou variáveis independentes) de acordo com as unidades em que são conceituadas. O maior esquema amplamente empregado, introduzido na década de 1950 por Kenneth Waltz, distingue três níveis de analise: nível internacional (ou sistêmico) explica o olhar da posição do Estado no sistema internacional; nível domestico, que explica o olhar da sociedade, cultura e instituições políticas individuais do Estado-Nação; e nível individual no qual explica sobre o olhar da característica pessoal ou psicológica dos estadistas individualmente. O projeto de jogos de dois níveis está preocupado com os três níveis."[7: EVANS, Peter; JACOBSON, Harold; PUTNAM, Robert. Double-Edged Diplomacy: International bargaing and domestic politics. 1ª ed. California: California Print On, 1993, p.5; tradução nossa.]
O Nível I é composto pelos tomadores de decisão, membros do executivo, que buscam maximizar a habilidade de satisfazer os interesses domésticos que refletem em consequências internacionais e procuram minimizar os resultados das adversidades dos desenvolvimentos externos. Já o nível II é composto por forças domésticas que perseguem seus interesses por meio da pressão para que o governo adote medidas favoráveis, enquanto o mesmo busca ampliar seu poder de barganha através de coalizões entre esses grupos domésticos. De outro modo, pode-se dizer que uma concepção dos determinantes domésticos deve enfatizar a luta política, podendo ser partidos políticos, Organizações Não-Governamentais, classes sociais e mesmo a opinião pública e as eleições, e não somente os membros do poder executivo.
Ao analisar de modo diferenciado o nível internacional (nível I) e nível doméstico (nível II), o autor diz:
“As explicações internacionais assumem que os Estados-nação são atores unitários que respondem a incentivos externos [...] já as explicações domésticas, por contraste, localizam os determinantes da política externa e relações internacionais dentro do próprio Estado-nação. O comportamento do Estado não responde ao sistema internacional que o constitui”. [8: Loc. cit.; tradução nossa]
Apesar dessas explicações distintas, a integração entre esses dois níveis de análise não pode ser ignorada pelos tomadores de decisão. Por conta disso, eles enfrentam uma questão em relação à estratégia de negociação, pois é necessário que se encontre uma estratégia política que seja viável para os dois níveis, e, muitas vezes, os representantes acabam se encontrando em um dilema no qual um movimento que pode ser racional para um dos níveis não é necessariamente para o outro. Mas também reconhece que as políticas do nível II podem ser usadas para afetar os resultados da negociação internacional no nível I e que os movimentos internacionais podem visar a alcançar metas nacionais.
A abordagem teórica explora dentro de um único quadro as implicações diferentes entre a política e os membros do executivo e os seus diferentes interesses. A partir disso pode-se compreender as estratégias e táticas utilizadas para atingir os objetivos e constatar que os tais membros precisam estar aptos para conciliar os interesses tanto externos quanto internos, pois, para que se alcance as metas internacionais, também é necessário atingir as nacionais.
Na teoria dos jogos de dois níveis, para que se tenha um acordo entre países é importante contar simultaneamente com a aceitação de ambos os líderes dos países na esfera internacional e a ratificação do mesmo acordo na esfera doméstica, que necessita de discussões internas e que por muitas vezes podem funcionar como complicadores na hora da negociação. Em outras palavras, para que se obtenha sucesso nas negociações é necessário que o tomador de decisão negocie com os dois níveis, uma vez que a necessidade de consentimento do nível doméstico afeta diretamente a barganha no nível internacional. “O resultado das negociações internacionais podem depender da escolha da estratégia de um estadista para influênciar seus próprios e suas políticas homólogas nacionais”.[9: Ibid., p.15; tradução nossa]
O papel do tomador de decisão em uma negociação é de buscar a maximização de recursos políticos e minimização de perdas potênciais, assim como também possui um papel na mudança do equilíbrio de poder. É ele a conexão formal entre os dois níveis, e por isso é quem garante que o acordo será ratificado pelas forças domésticas. O negociador tem que levar em conta os anseios dos grupos internos e o momento político interno que se encontra tanto o seu país quanto o país com quem se negociará, para que assim ele cumpra seu papel com eficiência e qualidade.
A autonomia dos tomadores de decisão influência diretamente na negociação. Na esfera internacional, essa autonomia aumenta as chances de se obter um acordo, porém, na esfera doméstica, essa mesma autonomia pode diminuir o seu poder de barganha.
Para que ocorra uma negociação é importante que os países possuam um Win-Set, ou seja, um conjunto de propostas para ser negociado e, no caso dos jogos de dois níveis, é indispensável que as sugestões feitas no nível internacional possam ser aceitas e executadas no nível doméstico. O tamanho do Win-Set é relativo e este influência o poder de barganha do país. Um conjunto pequeno pode ser capaz de restringir a capacidade de um negociador de realizar concessões,todavia, tem-se o risco de provocar uma estagnação ou interrupção das negociações. Neste caso, o poder de barganha com nível I tende a ser maior enquanto as possibilidades de cooperação serão menores. Se o conjunto apresentado for grande, as possibilidades de cooperação são maiores, porém seu poder de barganha se torna menor. Isso ocorre, pois, um conjunto grande é capaz de apresentar mais propostas trazendo a possibilidade de o tomador de decisão ceder para que entrem em acordo. 	Comment by user: Será que vale manter ?[10: VIERA, Diego Santos. Análise de Política Externa Brasileira. 07 mar. 2016, 11 jul. 2016. 1 p. Notas de Aula.]
Três fatores são relevantes no momento de determinar o conjunto de propostas: as preferências e coalizões no nível doméstico, as instituições desse nível e as estratégias adotadas pelos negociadores no nível internacional. Os procedimentos para as ratificações do acordo são significativos ao se tratar do Win-Set do modo de que a maneira conforme e o poder é distribuindo na esfera doméstica também a afeta. Em suma, o tamanho do conjunto depende tanto das forças domésticas quanto das forças internacionais.
Por conta do nível internacional se encontrar entrelaçado com o doméstico, muitas vezes se faz necessário o uso de compensações paralelas, que podem vir tanto por forças domésticas sem relação com o tema e também como parte de uma negociação internacional, para que os países se relacionem de maneira aceita pelo nível II.
Como em um jogo, a negociação pode falhar devido a uma ratificação fracassada. Com base nisso há dois vieses: “defecção voluntária”, que se trata de uma recusa feita por um ator racional na ausência de contratos obrigatórios; e a “defecção involuntária”, que mostra a incapacidade de um agente em cumprir uma promessa devido ao fracasso da ratificação.[11: PUTNAM, Robert. Op. Cit., p.154]
A partir da analise de Putnam, Helen Milner, na obra Interests, institutions, and information: domestic politics and international relations, aprofunda a teoria dos jogos de dois níveis, destacando o papel e a preferência dos atores domésticos no jogo político. Para ela, o nível doméstico e o nível internacional não se encontram em posições iguais; é nesse ponto que ela discorda de Putnam. Em sua visão, o nível II é mais relevante.
Milner diz que a cooperação entre as nações é menos afetada pelas forças provindas da esfera internacional do que pelas consequências da distribuição de poder na esfera doméstica. Segundo sua perspectiva, a maioria das falhas nas negociações internacionais são advindas das políticas domésticas e, ao mesmo tempo, essas negociações internacionais só teriam início devido a essas políticas internas.
Em resumo, a teoria de jogos de dois níveis tem como premissa básica a relação intrínseca entre o nível doméstico e o nível internacional. Os jogos aceitam que os tomadores de decisão busquem conciliar tanto o nível doméstico quanto o nível internacional, conjuntamente. Os arranjos internacionais que fortalecem os governos no nível II podem enfraquecer o poder de barganha no nível I e a recíproca é verdadeira. O objetivo é saber como e quando e até que ponto a esfera doméstica e a esfera internacional se influênciam. É a partir dessa teoria que as seguintes seções irão analisar as políticas adotadas por Brasil e Portugal como também a sua relação bilateral no período de 1973-1976.
As peças já estão em posição 
Segundo a autora Leticia Pinheiro a política externa pode ser definida como: 
“ ´... o conjunto de ações e decisões de um determinado ator, geralmente, mas não necessariamente o Estado, em relação a outros Estados ou atores externos – tais como organizações internacionais, corporações multinacionais ou atores transnacionais –, formulada a partir de oportunidades e demandas de natureza domestica e/ou internacional”.[12: PINHEIRO, Leticia. Politica externa brasileira, Editora Zahar, 2004, p.7]
É no período de 1973 – 1976 que as políticas externas tanto brasileira como portuguesa serão marcadas por transições. No Brasil, com o governo de Geisel, ocorria uma abertura política gradual; de modo paralelo, em Portugal, chegava ao fim o Estado Novo com a Revolução dos Cravos de 1974, tirando do poder Marcelo Caetano. É nesse período que a primeira seção irá analisar as Políticas Externas adotadas pelos seus chefes de governo para ambos os países, para que, posteriormente, possa-se analisar as suas relações bilaterais. 
O general encontrou o cálice 
No ano de 1964, acontece no Brasil um golpe militar dando início a uma ditadura que perduraria até 1985. O Golpe derruba o até então presidente João Goulart, que segue para o Uruguai em exílio. Para que tivesse legitimidade, o novo regime contava com um componente ideológico, a ideia de que seria uma reação de defesa contra a ameaça comunista internacional que supostamente se instaurava pelo país. Segundo Gonçalves e Myamoto o que diferenciou o golpe militar foi o seu caráter calculista, pois contava com um programa de ação montado previamente.[13: GONÇALVES, Williams; MYAMOTO, Shiguenoli. Os militares na política externa brasileira, in Estudos Históricos. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1993, v.12 p 213]
 O primeiro presidente desse novo regime foi o general Humberto de Alencar Castelo Branco, que teve como ministro das Relações Exteriores Embaixador Vasco Tristão Leitão da Cunha e Juracy Magalhães. A Política Externa de Castelo Branco criticava o neutralismo da Politica Externa Independente (PEI), que vinha de seus antecessores. Dessa forma, define em seu discurso as novas diretrizes da “correção de rumos” que viria ser a política externa, no qual haveria um alinhamento com o ocidente na defesa do que seria um “ mundo livre”. 
	Sua política externa retomava o paradigma americanista e se definia pelas fronteiras ideológicas. Uma vez que se baseava na ideia de que o comunismo internacional é uma ameaça, qualquer país que apoiasse a causa era sinônimo de ameaça à estabilidade. É por esse motivo que o Brasil rompe relações com a URSS e Cuba, pois sua politica ideológica não condizia com a brasileira. [14: Ibid., p.38]
Em 1967, quem assume o poder é o general Artur da Costa e Silva e nomeia para ministro de Relações Exteriores o político e banqueiro José de Magalhães Pinto. Esse novo governo instaura a “linha dura”, é nele que surgem os Atos Institucionais, na nova Constituição que entrava em vigor. Sendo o Ato Institucional de número cinco o mais antidemocrático: com ele fecha-se o Congresso Nacional, suspende-se a Constituição e institucionaliza-se o regime de exceção. 
No que se refere à Política Externa, Costa e Silva condenou os rumos que seu antecessor havia tomado e avançou em uma nova proposta positiva. “A bipolaridade também recebia críticas como parâmetro obsoleto de política exterior, ao tempo em que a divisão Norte-sul sugeria outro ordenamento global”.[15: CERVO, Amado Luiz. Inserção Internacional: formação dos conceitos brasileiros, Editora saraiva, p.131]
A mudança de governo em 1969 altera a forma de conduzir a política externa do país. Para Gonçalvez e Myamoto há dois fatores em especial que influênciam nesse acontecimento, a luta intramilitar para definir o sucessor de Costa e Silva e os elevados indicies de crescimento do PIB nesse novo mandato.[16: GONÇALVES, Williams; MYAMOTO, Shiguenoli. Op. Cit., p 224]
Quem acaba assumindo o poder é Emílio Garrastazu Médici, que passa a pasta de Relações Exteriores para Mário Gibson Barboza, que irá promover uma diplomacia conhecida como Diplomacia do Interesse Nacional, na qual apresentava um projeto de Brasil Potência, que possuía objetivos que poderiam ser considerados ambiciosos, como o ingresso do Brasil no primeiro mundo até o final do século. 
Os pressupostos e metas da PEB de Médici podem ser mostrados através do discurso feito por Gibson Barboza na inauguração da instalação definitiva do Ministério das Relações Exteriores em abril de 1970 em Brasília:
“O nosso país se recusa a crer que a históriase desenrole necessariamente em beneficio de uns e em prejuízo de outros; não aceita que o poder seja fonte de posições irremovíveis e reafirma o direito de forjar dentro de suas fronteiras, o próprio destino, e de escolher, fora delas, as suas alianças e os seus rumos. A verdadeira paz reclama a transformação das estruturas internacionais. Ela não pode ser instrumento de manutenção e, muito menos, da ampliação da distância que atualmente separa as nações ricas das nações pobres. Compete, pois, à nossa diplomacia estreitar o entendimento com os povos que travam conosco a dura batalha do desenvolvimento, como lhe cabe envidar todos os esforços para lograr a adesão dos países desenvolvidos aos postulados que desenvolvemos”.[17: Discurso proferido no PALÁCIO DO ITAMARATY, em Brasília, no Dia do Diplomata, a 20-4-1970 apud Ibid., p.142-143.]
Médici mantinha como eixo de preferência o americanismo para a definição dos interesses brasileiros. No âmbito Interno, o General desenvolveu vários órgãos militares, técnicos e administrativos que possuíam uma parte de poder decisório com o intuito de neutralizar uma centralização da presidência.[18: VIZENTINI, Paulo Fagundes Op. Cit., p.136]
Foi no Governo de Médici que se desenvolveu o denominado “Milagre Econômico”, no qual a economia crescia em média 10 % ao ano, no período entre 1968 e 1973, sob o comando de Delfim Neto, ministro da Fazenda da época. O crescimento econômico contínuo e acelerado era o que legitimava o regime, uma vez que a justificativa para intervenção era a necessidade de reestabelecer a ordem econômica e politica no país. Isto foi o que o ex-ministro do Planejamento Roberto Campos intitulou de “legitimação por eficácia”. 
“Para ele, o regime militar estava se legitimando, cada vez mais, diante da sociedade, pois estava seguindo a ordem: primeiro, pela reversão de uma situação caótica, depois, pelo ímpeto reformista e, finalmente, pelo sucesso desenvolvimentista”. 
É possível, através dos jogos de dois níveis, realizar uma analise: no nível doméstico sucedia o milagre econômico que era capaz de influenciar o nível internacional, fazendo com que a a PEB tentasse buscar oportunidades e acabar com as barreiras que impediam o progresso do país internacionalmente. Nessa busca por oportunidades, as visões de Delfim Neto e Gibson Barboza divergiam, enquanto o Ministro da Fazenda acreditava em uma cooperação mais estreita com os países considerados de Primeiro Mundo, o Ministro de Relações Exteriores apostava em um perfil mais amplo que se expandia para África e Ásia, países considerados de Terceiro Mundo, e organismos multilaterais.
No nível I, a política brasileira possuía interesses econômicos-industriais emergentes, com o foco na abertura de novos mercados para produção interna. O Brasil começa a se aproximar de países em busca de matéria-prima necessária para o desenvolvimento do parque industrial. Ou seja, em outras palavras, o Brasil dependia pesadamente da importação do petróleo para seu crescimento naquele momento, cerca de 85 % das importações brasileiras era de petróleo. Essas importações aliado às importações de bens de capital e insumos básicos, eram necessários para manter o elevado ritmo de produção que gerou o milagre econômico. 
Em 1973, ocorre o primeiro choque do petróleo, a OPEP reduz a oferta petrolífera e ocorre um aumento nos preços. A economia mundial é afetada, incluindo o Brasil, que sofre um aumento do endividamento externo pondo um fim no milagre econômico. Para equilibrar o balanço de pagamento, foi necessário unir ao modelo desenvolvimentista uma política de promoção de exportações, e, para isso, era necessário que houvesse uma diversificação das parcerias brasileiras. O Brasil se aproxima dos países africanos que ainda eram colônias, rompendo com o apoio que vinha dando ao colonialismo português. Nesse contexto, o globalismo toma conta do paradigma da PEB.
A aproximação com a África se baseava de uma concepção geopolítica na qual o Atlântico Sul era importante para segurança do Estado. Para quem aspirava ser uma grande potência, ter influência no Atlântico Sul era de suma importância e, para isso, era fundamental um bom relacionamento entre Brasil, Portugal e África. 
Ao chegar ao fim o governo de Médici, sobe ao poder o general Ernesto Geisel, em 1974. Enquanto Médici acreditava em uma ideia próspera de poder, que levaria a um crescimento econômico acelerado, Geisel, por sua vez, com um senso mais realista, dimensiona o poder aos meios psicológicos e materiais à disposição de uma nação :
“ Nessa engenharia politica brasileira em torno do conceito de poder, as considerações em jogo manipulavam duas variáveis práticas, uma externa e outra interna. Do lado de fora, a percepção segundo a qual a distribuição desigual da segurança e da riqueza, sendo, portanto, uma distribuição claramente nociva aos fins do desenvolvimento. Do lado de dentro, a percepção segundo a qual um pais em desenvolvimento como o Brasil necessitaria de parcela maior do poder mundial para atender às necessidades do crescimento econômico, já que sua entrada em cena afetaria os interesses das potências avançadas”.[19: CERVO, Amado Luiz. Op. Cit., p.132 paradigma americanista e nísa c de que o comunismo internacional é uma ameça ba, ambos paises cas. paradigma americanista e nísa c de que o comunismo internacional é uma ameça ba, ambos paises cas.]
Devido a esse senso mais realista, no nível II a política se resumia em “continuidade sem imobilidade”, mais conhecida como politica de distensão, com as liberalizações controladas para assim, gradualmente, poder-se retornar à democracia. 
Em decorrência do choque do Petróleo, o governo de Geisel viu-se na inevitabilidade da mudança de postura na esfera internacional perante sua PEB, uma vez que a partir da crise foi possível perceber a distância que separava o Brasil das grandes potências. Era necessário que o bilateralismo diplomático no qual o país estava acostumado fosse substituído por uma visão que a Leticia Pinheiro chama de Globalismo: uma diversificação nas relações externas para que se evitasse um isolamento internacional.
O ministro de Relações Exteriores do governo de Geisel era o Embaixador Antônio Francisco Azeredo da Silveira. Esse novo governo adota uma Política Externa definida como Pragmatismo Responsável e Ecumênico, com ênfase na abertura de novos mercados e promoção de interesses comerciais. Para se entender melhor o processo de formulação e o seu conteúdo é necessário entender a relação especial que se estabelece entre o Presidente e o Ministro de Relações Exteriores, pois segundo Maria Regina Soares de Lima, no Brasil o grau de autonomia está ligado diretamente da autorização presidencial, realçando a ideia da teoria do jogo de dois níveis no qual a autonomia tem grande importância pois afeta diretamente a negociação, sendo suscetível a aumentar a chances de um acordo no nível I.
“ Com Geisel, a politica externa finalmente se libertava da camisa de força ideológica que dificultara, quando não impedira, a diversificação das relações do Brasil. Finalmente, retomava-se a busca de autonomia pelo afastamento do centro hegemônico e pela aproximação da Europa Ocidental e dos países subdesenvolvidos da Ásia, África e América Latina”.[20: PINHEIRO, Leticia. Op. Cit., p.45-46]
Com o Pragmatismo ecumênico e responsável é possível visualizar com clareza a teoria de Putnam sendo aplicada pois, segundo o próprio ministro, essa política conduzia a ideia de um governo brasileiro capaz de cumprir a vocação ecumênica de seu povo, aberto à comunicação. Ela seria pragmática na medida em que busca pela eficácia condizente com os interesses nacionais e responsável pois seria implementada de maneira ética e com objetivos claramente identificados e aceitos pelo povo. Em outras palavras, as decisões tomadas pela PEB no nível I seriam as atitudes adequadas aos anseios do nível II.
Na visão de Leticia Pinheiro, a importância central para o entendimento da política externa adotada é asua formulação e, por consequência, a relação mantida na época entre o Presidente Geisel e seu Ministro, Azeredo da Silveira. Confirmando assim a tese já citada de Maria Regina Soares de Lima, pois Geisel não apenas simpatizava com a PEB, mas era capaz de garantir sua implementação. Mais uma vez vemos a aplicação da teoria de Putnam, na qual a autonomia dos tomadores de decisão influencia a negociação. Neste caso a autonomia dada por Geisel aumentavam as chances de se obter um acordo a nível internacional. 
O ultimo governo da época da ditadura se inicia em 19795 com João Batista Figueiredo sendo presidente mantendo uma política de estímulos à diversificação voltada para o relacionamento dos países do Sul. Sua política externa adota uma qualificação de universalismo com Ramiro Saraiva Guerreiro como ministro de relações exteriores, essa ideia de universalismo era uma adaptação brasileira à tendência à mundialização do sistema internacional. O fim desse governo e consequentemente o fim da ditadura acontece em 1985 com a eleição do civil, Tancredo Neves à presidência.	Comment by user: Não sei se vale manter....
O cravo também quer jogar 
A ditadura salazarista imposta no Estado novo, em 1932, originou-se na revolução nacional de 28 de maio de 1926, pondo um fim à Primeira República portuguesa. Essa ditadura se consagrou com uma das mais longas do século XX, e foi composta por dois lideres: o primeiro, António Salazar, e seu sucessor, Marcelo Caetano. 
António Salazar assume o poder em 1932 se mantendo até 1968 e a sua ideologia se baseava no corporativismo. De acordo com Wiarda, o corporativismo salazarista continha uma visão própria da relação entre o Estado e a sociedade, sendo marcado pela predominância do Estado sobre a sociedade. Na visão de Makler esse corporativismo poderia ser visto como um instrumento de controle e repressão social.[21: ANCIAES, Silvia Lemgruber Julianele. A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E A ADOÇÃO DA OPÇÃO EUROPÉIA DA POLÍTICA EXTERNA PORTUGUESA. 2004. 119 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Relações Internacionais, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - Puc-rio, Rio de Janeiro, 2004.p.30 Disponível em: <http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/Busca_etds.php?strSecao=resultado&nrSeq=5494@1>. Acesso em: 28 out. 2016.][22: Loc. Cit.]
Ao analisar sob a ótica da teoria de Putnam, é possível perceber que esta ideologia aflige os dois níveis de análise, visto que ambos estão intimamente associados. Na esfera doméstica, a ideologia implicou em um controle total do Estado tanto sobre a sociedade, como sobre a economia. Na esfera internacional, repercutiu na implementação de uma política externa colonial e, em decorrência, na reconstituição do império ultramarino português.
De Acordo com Nuno Teixeira, Portugal possuía quatro estratégias de política externa que seriam as linhas de orientação para o Estado Novo.
 “Primeiro, uma percepção antinómica, por vezes dilemática, entre o Continente e o Mar, entre a Europa e o Atlântico. Segundo, e como consequência da primeira, o afastamento estratégico em relação à Europa e ao Continente (percepcionado como ameaça de Espanha) e o predomínio do vector marítimo na orientação externa, ou, dito de outro modo, a opção atlântica de Portugal. Terceiro, e como consequência do segundo, dois movimentos de longa duração histórica na política externa portuguesa: em primeiro lugar, a procura de alianças privilegiadas com a potência marítima (historicamente, a aliança inglesa, no segundo pós-guerra, os Estados Unidos da América e, num plano multilateral, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO); em segundo lugar, o projecto colonial (concretizado nos vários ciclos do império, a Índia, o Brasil, a África). Quarto, e como consequência dos três primeiros, a diversificação das alianças extrapeninsulares relativamente à Espanha e uma diplomacia fundamentalmente bilateral, assente no triângulo Lisboa-Madrid-Londres e, depois de 1945, Lisboa-Madrid-Washington”.[23: TEIXEIRA, Nuno Severiano. O 25 de Abril e a política externa portuguesa. Relações Internacionais - R:I, Lisboa, v. 1, n. 1, p.5-14, mar. 2004. Trimestral. Disponível em: <http://www.ipri.pt/images/publicacoes/revista_ri/pdf/r1/RI01_Artg02_NST.pdf>. Acesso em: 27 out. 2016.]
Fundamentado no paradigma colonial, a política externa portuguesa teve como resultante o isolamento político em relação à Europa e ao mundo como um todo. No que se refere ao continente europeu, esse afastamento entra em conflito com a situação vigente, a nova realidade europeia estava sendo marcada pelo período de integração econômica a partir da criação da Comunidade Econômica Europeia.
Em 1968, Marcelo Caetano sobe ao poder e, devido a situação na qual se encontrava, sua política externa será marcada por um paradoxo entre se adaptar à nova realidade europeia e manter a defesa de suas colônias. Baseado nisso, surgem as primeiras expectativas de uma abertura política levando Caetano a propor uma liberalização política mínima, mantendo a guerra colonial que se instaurava, marcando assim a contradição. 
“ (...) liberalizar e modernizar por um lado, e continuar a guerra, por outro, eram objetivos que se iriam demonstrar insanavelmente antagônicos: toda a aposta desenvolvimentista de viragem para a Europa, toda a abertura política num país cansado da guerra e do atraso, num país que não só sentia como sua a guerra em África como a responsabilizava pelos males que vivia, conduziam de imediato, como primeira consequência, ao fim da guerra colonial e à sua solução política através da descolonização. Ou se liberalizava o país a caminho da Europa, ou se ficava em África e se fazia a guerra”.[24: ROSAS, F. O Estado Novo. In: MATTOSO J. (Dir.). História de Portugal. Vol.7. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. p.486 apud ANCIAES, Silvia Lemgruber Julianele. Op. Cit., p.50-51]
É no governo de Marcelo Caetano que o regime autoritário entrará em crise e posteriormente chegará ao fim. A organização coorporativa do Estado Novo deverá ser repensada pois a mesma não condiz com a situação corrente de Portugal. No dia 25 de abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas (MFA), liderado pelo major Otelo Saraiva de Carvalho, executa o golpe de Estado que encerrará a ditadura Salazarista.
Os objetivos desse golpe eram por um fim, de maneira pacífica, à guerra colonial que se instaurou levando futuramente à descolonização e estabelecer um regime democrático com eleições livres. Em outras palavras, iniciava-se um processo de descolonização, democratização e desenvolvimento no país. Esse processo que se instaurava afetava tanto o nível I quanto o nível II. No âmbito interno, definia-se um novo modelo de sociedade e instituições políticas, enquanto no âmbito externo buscava-se um novo modelo de inserção internacional para o país.
Não obstante, a descolonização, a abertura política e, consequentemente, o fim do isolamento politico não seriam suficientes para definir as orientações no nível I. Os desafios no processo de democratização no nível interno acometiam diretamente a posição no nível externo. Até se consolidar no nível interno, a política portuguesa sofrerá diversas alterações. O período entre 1974 e 1976, foi marcado pelo processo revolucionário, da pré-constitucional, posteriormente ocorreu a estabilização do regime e das instituições no período constitucional. 
O período pré-constitucional foi definido pelo exercício de diplomacias paralelas, pela luta envolta das opções externas que o país possuía, o que gerou como resultado a indefinição da política externa. Durante os seis governos provisórios houve diversas alterações no ministério de relações exteriores o que evidencia a instabilidade do país. Apesar disso, pode-se dizer que a orientação da política tende para uma opção voltada para o terceiro mundo e para o desenvolvimento com os países recém-descolonizados. 
A partir de 1976, inicia-se o período constitucional que foi caracterizado, de acordo com Nuno Teixeira, por uma clarificação em relação à política externaportuguesa e pela definição do posicionamento internacional do país. Segundo Nuno, Portugal assume sua condição de país ocidental, europeu e atlântico, e essa seriam suas opções de estratégias na sua nova versão de país democrático e que indicariam as linhas do pensamento da diplomacia portuguesa nos próximos anos.[25: TEIXEIRA, Nuno Severiano Op. Cit., p,10]
É baseado nessa nova diretriz que Portugal, irá procurar se inserir no contexto internacional sendo liderado por Mário Soares, o primeiro do novo governo constitucional que se iniciava.
Uma partida conflituosa
A relação entre Brasil e Portugal contam a seu favor a dimensão historia. Além disso, o interesse mútuo aprofunda os laços para as áreas de comércio, cooperação e incentivam parcerias científicas, tecnológicas e culturais. É nesta seção que será analisado as relações luso-brasileiras com enfoque nas áreas de cooperação e descolonização no período de 1973-1976, marcado por transições em ambos os países. 
As relações luso-brasileiras são de longa data e como exemplificado na teoria dos jogos de dois níveis, elas mudam conforme a política interna de cada país. No período da década de 50 e 60 as relações luso-brasileiras foi marcada pelo um apoio brasileiro a questão colonial portuguesa, porém com a com a mudança de governo dando início a ditadura militar e a crise do petróleo este apoio teve que ser repensado e acabou gerando um conflito entre as políticas portuguesas e brasileiras. 
Em 1966 foi estabelecida uma política com a intenção de aproximar os dois países; os chanceleres iriam se reunir anualmente para revisar as relações luso-brasileiras. No ano seguinte, para reiterar os laços entre os dois países, institui-se o dia da comunidade luso-brasileira, 22 de abril. A ideia da comunidade luso-brasileira era entendida de maneira diferenciada pelos dois países. Portugal entendia que a institucionalização da comunidade iria vincular a política externa brasileira à política ultramarina, enquanto que o Brasil possuía uma ideia mais ampla de comunidade e via a África fazendo parte futuramente.[26: CARVALHO, Thiago. Transição e descolonização. As relações entre Portugal e o Brasil (1974-1976), Ler História, 63, 2012.p.3]
No governo de Médici (1969-1974), essa política de aproximação continuou, porém uma questão que precisava ser repensada era a problemática colonial, o Brasil não mais apoiava os territórios ultramarinos portugueses o que gerava conflito e. 
“Numa conversa entre os chanceleres do Brasil e Portugal, ocorrida em 1973, aquele salientou que se o imobilismo português persistisse, o Brasil se veria obrigado a votar contra o colonialismo na ONU. Portugal aceitou, então, discutir com as lideranças africanas o que, de fato, não se concretizou. Com a revolução dos Cravos, haveria uma simples e súbita retirada dos portugueses de suas colônias que imediatamente se viram independentes.”	[27: VIZENTINI, Paulo Fagundes Op. Cit., p,179]
A questão colonial causava divergências de interesses entre Brasil e Portugal. No período em que Mario Gibson Barboza se encontrava à frente do MRE, havia um dilema a ser confrontado, no nível doméstico havia de as convicções anticolonialistas do país, e a ideia de que o Brasil deveria procurar desenvolver as suas relações politicas e econômicas com os países africanos, no nível internacional a amizade com Portugal, que dificultava o desenvolvimento das novas relações e impedia o país de ter uma atitude hostil com o governo português. A crise do petróleo intensificou ainda mais essas divergências, pois o Brasil procurou ampliar seu mercado e por consequência mudou sua política em relação a África.
Na tentativa de solução para este dilema o Brasil se esforçou para mediar a situação entre Portugal e as suas colônias, apesar da mesma não ter sido solicitada, com o intuito de de facilitar o processo de descolonização que estava por vir. O que veio a prevalecer neste paradoxo foi a perspectiva de que o Brasil deveria apoiar à autodeterminação dos territórios ultramarinos portugueses.
Em dezembro de 1973, Mario Gibson Barboza, instruiu a delegação brasileira a se ausentar e se abster nas duas votações condenatórias a Portugal na Assembleia geral da ONU, com o intuito de evidenciar que o Brasil já não acreditava mais nos acenos de sua abertura com relação às colônias. Em suma, o Brasil se mostrava contra a permanência das colônias de Portugal, marcando uma mudança na posição brasileira quanto à questão. 
Em 25 de abril de 1974 ocorre uma mudança em Portugal, a revolução dos cravos. Uma vez que os níveis se encontro indissociáveis, essa revolução no nível domestico, constitui uma reconfiguração do Estado português no nível internacional. Esse movimento militar foi dirigido por jovens oficiais, veteranos da guerra na África, que depuseram o antigo regime.
Os objetivos principais da revolução eram promover a emancipação política dos territórios ultramarinos portugueses e a restauração do regime democrático, o estabelecimento de instituições democráticas e o respeito pelo princípio da autodeterminação era de suma importância para o reposicionamento de Portugal.[28: CARVALHO, Thiago Severiano Paiva de Almeida. Do lirismo ao pragmatismo: A dimensão multilateral das relações Luso-Brasileiras (1974 – 1976). Lisboa: ISCTE, 2008. Tese de mestrado. P.46]
Tendo em vista os objetivos principais da revolução, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o novo regime português. Essa nova fase na esfera doméstica de Portugal gerou otimismo passageiro ao Brasil em nível internacional, passageiro pois foi rapidamente substituído por duvidas em relação ao processo revolucionário. 
O novo regime português implementado com a revolução não havia, todavia, chegado a um consenso em relação ao modelo de descolonização e a guerra colonial que ocorria na África já não era mais sustentável. Devido a falta de entendimento, Portugal se retira de suas colônias subitamente, deixando-as a mercê da própria sorte. Os países recém descolonizados necessitavam agora buscar o seu reconhecimento e introdução no sistema internacional.
 Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer as antigas colônias portuguesas, agora independentes. Em 18 de julho de 1974, o Brasil reconheceu a independência de Guiné-Bissau antes mesmo de Portugal ou da ONU. Essa decisão tinha intuito de aproximar as relações afro-brasileiras e de reconhecer o direito à autodeterminação. 
Apesar de Portugal ter feito inúmeras críticas e ter acentuado mais as divergências, o Brasil continuou mantendo sua nova política voltada para África. O governo de Geisel foi mais uma vez pioneiro e reconheceu a MPLA, Movimento Popular de Libertação de Angola, como representante do Estado angolano, mostrando que o país possuía uma agenda africana.
O Brasil detinha a ideia de que seria o “herdeiro natural” de influência dos antigos territórios ultramarinos portugueses. A manifestação dessa expectativa pode ser evidenciada no trecho do diário de Álvaro Lins: 
“ O fato evidente e incontestável de que seremos, em tais colônias, os herdeiros legítimos e substitutos naturais de Portugal, em mateira de influência cultural e intercambio comercial, quando se tornarem Países independentes(...) Realmente, se haveremos de ser um dia os herdeiros, não da colonização, mas da influência de Portugal em territórios como o de Angola, devemos ir-nos preparando para essa missão e essa responsabilidade, com a nossa presença, com a nossa assistência aos nativos, com as nossas comunicações mais produtivas com os seus habitantes, em matéria de valores de cultura e produtos de comércio.”[29: LINS, Álvaro. Missão em Portugal, Lisboa, 1974, p.275-277 apud CERVO, Amado; MAGALHÃES, José Calvet. Depois das caravelas: As relações entre Portugal e Brasil 1808-200.Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2000 p.325]
Com a mesma finalidade de aproximação da África recém descolonizada, o Brasil prosseguiu com a sua linha de ação pragmática baseada nos princípios de autodeterminação e da não intervençãode um Estado nos negócios internos de outro. Com essa atitude, o país foi capaz de estabelecer uma relação com as ex-colônias portuguesas sem prejuízo dos vínculos já existente entre os dois países.
Nesse mesmo período marcado por desavenças em consequência da questão colonial, sucederam diversas tentativas de aproximação e cooperação por ambos os países, o que remete a ideia de que ocorreu uma aproximação conflituosa entre Brasil e Portugal.
“Para ONU, Cooperação internacional é uma ferramenta estratégica que pode auxiliar na resolução dos problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião, envolvendo modalidades como: gestão do conhecimento, "advocacy", o fortalecimento das capacidades nacionais para o monitoramento e avaliação de políticas públicas, apoio ao fortalecimento de capacidades nas áreas mais vulneráveis em níveis subnacionais, entre outras sempre alinhando os objetivos com as metas dos governos centrais de cada país.”[30: NETO, Leonel. A Cooperação Descentralizada no Brasil: Características, Possibilidades e Limites. Bahia: Forum Ri 27, 2016. p. 7-8]
A cooperação internacional entre os dois países é histórica e na época da ditadura militar não seria diferente, ocorrem diversas tentativas de aproximação. Dando continuidade à política de aproximação estabelecida em 1966, em julho de 1970, Mario Gibson Barboza, Ministro de Relações Exteriores na época, visita Portugal. No encontro anual, em 1971, assinam a Convenção sobre Igualdade de Direito e Deveres entre os Países. Em 1972, reitera-se a declaração conjunta da comunidade luso-brasileira. 
Com a revolução em Portugal em 1974, o Ministério dos Negócios Estrangeiros cogitou a possiblidade de um encontro com seu homólogo brasileiro a fim de dar uma nova densidade às relações luso-brasileiras colocá-las em um plano mais realista.
Em junho daquele ano, a Junta de Salvação Nacional, chefiada pelo general Galvão de Melo, visita o Brasil com intento de por fim à sucessão de divergências e endossar o apoio do governo brasileiro ao novo regime conquistado com a revolução.
“ A procura de uma nova inserção internacional implicou na revisão profunda da politica externa brasileira e portuguesa. Mudou a maneira como os dois países se posicionavam no sistema e, por conseguinte, como interagiam entre si. Por um lado, havia um padrão de relacionamento cujas limitações faziam-se sentir há temos. Por outro, existia um contexto de mudança que impunha rever as relações bilaterais”. . [31: CARVALHO, Thiago. A dimensão multilateral das relações luso-brasileiras (1974 - 1976). Relações Internacionais, Lisboa, n.24, p.9, dez. 2009.Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992009000400007&lng=pt&nrm=iso>. acesso em  04  nov.  2016.]
	Um outro encontro bilateral sucedeu-se em setembro, em Nova Iorque, à margem da XXIX Assembleia Geral das Nações Unidas, na qual ambos os Ministros estariam presentes. Esta reunião apresentava um traço preparatório, designada para que as duas chancelarias trocassem impressões e exercessem uma revisão das relações luso-brasileiras.
Ainda no ano de 1974, os Chanceleres retomam a politica estabelecida em 1966, e se encontram com o objetivo de situar o relacionamento bilateral acima das divergências politicas e ideológicas que se instauravam no momento. “Para muitos observadores essa visita tratava-se de uma oportunidade para clarificação de relações entre Portugal e o Brasil, que atravessavam um período de arrefecimento, o que poderia ser conseguido através do incremento dos vínculos comercias e econômicos.”[32: CARVALHO, Thiago Severiano Paiva de Almeida. Op. Cit., p.101]
O Ministro de Relações Exteriores, Antonio Azeredo da Silveira, visitou Portugal a convite do próprio governo, com o intuito de estreitar os tradicionais vínculos que unem os dois países. Nessa visita ficou acordada uma serie de iniciativas que visaria uma maior cooperação no domínio da diplomacia multilateral. O Chanceler qualificou o encontro que agora colocado em um plano realista como um importante marco nas relações entre ambos os países.
Na visão do Ministro dos Negócios Estrangeiros, a comunidade luso-brasileira compunha uma veracidade histórica, de modo que seria capaz de sobreviver crises e a todos os distanciamentos políticos e ideológicos. O governo português estava procurando desenvolver cooperação tanto no plano bilateral quanto no multilateral. O governo de Geisel estava disposto, como foi evidenciado na visita, a colaborar com Portugal.[33: Ibid., p.100]
A situação portuguesa após a revolução era uma de certa fragmentação de autoridade, marcado pela pulverização das sedes de poder, isto torna difícil manter uma coerência entre os sucessivos governos. O país estava consciente de que essa instabilidade no nível domestico repercutia no nível internacional, dificultando assim a realização de relações bilaterais não somente com o Brasil. Desse modo refere-se mais uma vez à teoria de Putnam, que os dois níveis se encontro indissociáveis, uma vez que não havia um consenso quanto a politica interna do país, não poderia haver acordos no nível internacional. [34: CERVO, Amado; MAGALHÃES, José Calvet. Op. Cit., p.326]
O término das dúvidas quanto ao rumo da revolução de 1974 repercutiu-se na política externa portuguesa. Em um relatório de 1975 do Itamaraty, é possível compreender que, com as perspectivas de uma normalização da política portuguesa, o Brasil reativaria as suas relações bilaterais, recolocando assim, Portugal, no lugar que tradicionalmente ocupava no conjunto do relacionamento externo brasileiro.
As relações entre Brasil e Portugal de acordo com o Embaixador Vasco Futscher Pereira, no princípio de 1976 tomariam um novo folego, apões um longo período as autoridades estavam dispostas a acreditar na estabilidade na política português possibilitando um dialogo. Para Pereira o Itamaraty estava empenhado em melhorar o clima entre os países.[35: CARVALHO, Thiago Severiano Paiva de Almeida. Op. Cit., p.143-144]
Neste ano, a convite do Governo brasileiro, o primeiro ministro português, Mario Soares realizou uma visita ao Brasil, passando por Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. O Ministro veio acompanhado de uma comitiva da qual fizera parte o ministro dos negócios estrangeiros, o ministro da defesa e outras autoridades. 
Assim como evidenciado na teoria de Putnam, o Win-set é um conjunto de proposta a serem levados em uma negociação. No caso dessa visita, a nação portuguesa trouxe no seu conjunto as possibilidades de incremento das relações econômicas bilaterais. Nesta mesma oportunidade foi aberta pelo Banco do Brasil uma linha de crédito no valor de até US$ 50 milhões para o financiamento de compras, por Portugal de produtos primários e manufaturados. 
Não obstante, permaneciam ainda muitos desafios a serem superados tanto no plano comercial quanto no plano político. Na perspectiva de alguns diplomatas brasileiros, Portugal sempre teve uma relação com o Brasil de um pai com o filho próspero e, desse ponto, nem sempre era positivo, muitas vezes reivindicava mais do que encontrava. [36: AHDMNE – PEA 21/1976, n.o 33/BRA/1, Folha de São Paulo, 29 de Outubro de 1976, p. 5 apud CARVALHO, Thiago Severiano Paiva de Almeida. Op. Cit., p.147]
O encontro em dezembro de 1976 buscava normalizar e aprofundar o relacionamento entre Brasil e Portugal. A reunião favoreceu a criação de um ambiente de confiança e de cooperação. Iniciava-se um novo capitulo nas relações luso-brasileiras, que agora passariam a ser vistas acima das conjunturas políticas. 
Esse novo capitulo não significava somente a retomada do dialogo bilateral, marcava aceitação mútua da institucionalização da democracia em Portugal e da descolonização e aconselhava uma vistoria nas relações à luz destes novos condicionantes. 
Das conversasentre os países resultaram um agrupado de compromissos, dentre eles uma nova visão quanto aos países recém-descolonizados. No nível internacional, as diplomacias buscariam uma posição conjunta nas organizações e negociações internacionais, superando as diferenças causadas no nível doméstico. O intuito era a ajuda mútua de reinserção internacional. No caso do Brasil, os compromissos adotados significavam a hipótese de mediar relações entre os países em desenvolvimento aumentando a sua importância relativa no sistema internacional. Já para Portugal representava a diversificação das relações diplomáticas, tendo como parceiro os países em desenvolvimento. 
Sendo assim, o inicio do novo capitulo tinha criado condições para o relançamento das relações luso-brasileiras. A aproximação dos países poderia ter decorrência uma união mais íntima entre todos os países lusófonos. Tendo em vista um futuro próspero para ambos os países com uma nova inserção no cenário internacional.
CONCLUSÃO
A crise do petróleo ocasiona uma mudança no desenvolvimento do cenário internacional. O Brasil acaba buscando um novo posicionamento perante ao sistema mudando sua postura em relação a política externa, sendo assim se faz necessário reaver suas alianças. A crise evidencia a distancia existente entre o Brasil e as Grandes potências. 
Enquanto isso, Portugal, enfrentava problemas em relação aos seus territórios ultramarinos e uma crise interna do regime do Estado Novo. Isso resultou em um insulação política por parte portuguesa. 
Devido a busca por novos parceiros por parte do Brasil e o isolamento político por parte de Portugal, a relação bilateral precisava ser questionada. Os países pareciam não se encontrar em sintonia, havia divergências em sua relação. O Brasil via nas antigas colônias suas novas alianças, ao passo que Portugal não queria ceder a descolonização, isso gerava conflito de interesses entre os países. 
No intento de solucionar estas desavenças, o Brasil com o ministro de relações exteriores, Mario Gibson Barboza, esforçou para mediar a situação entre Portugal e suas antigas colônias. Isso atesta as tentativas de aproximação entre os países para solucionar o conflito no relacionamento bilateral.
Com a revolução dos cravos e a queda do Estado novo, surge um período de expectativas e incertezas na relação bilateral entre Portugal e o Brasil. Era necessário que Portugal buscasse por um fim na guerra colonial e chegasse uma conclusão quanto ao modelo de descolonização. O Brasil estava ciente da situação de Portugal quanto a questão colonial e que esta implicava sobre o futuro do processo revolucionário e da transição para a democracia.
À proporção que Portugal se institucionalizava e retomava a democracia, criava-se uma nova dinâmica que favoreceria o entendimento luso-brasileiro. Uma vez que é preciso que se tenha uma definição no nível doméstico, para que se possa ter acordo no nível internacional, o ponto de conversão no relacionamento foi a clarificação da politica interna e externa de ambos os países. Portugal definido como um país europeu e atlântico e o Brasil com uma liberalização lenta, gradual e segura e tendo o pragmatismo ecumênico e responsável como diretriz da politica externa. 
O surgimento de novos atores no cenário internacional deu origem a um novo significado nas relações luso-brasileiras, que de agora em diante assumem uma dimensão multilateral, na qual englobaria os antigos territórios ultramarinos português que a partir daquele momento se encontravam descolonizados. Brasil e Portugal juntos assumiriam um papel de impulsionadores dessa nova comunidade, prestando apoio ao que eles precisassem. 
No período de estudo entre 1973- 1976, as políticas internas de ambos os países se encontravam em um processo de transição e com isso afetava as relações bilaterais. Sendo assim, como o nível doméstico é inerente ao nível internacional, as relações luso-brasileiras correspondiam ao momento que viviam os países na esfera domestica. Pode-se notar que ao definir as politicas internas, as relações bilaterais ganham um novo rumo, saindo do impasse que antes se encontravam.
Ambos os países buscaram repensar sua relação bilateral, assim como procuram se inserir neste novo sistema internacional que estava surgindo, com novos atores, com uma nova dinâmica e com uma nova proposta. As políticas dos dois países deixaram claro que mesmo com todas as divergências seus laços históricos sempre os uniriam.

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