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UNIDADE III – Direito Empresarial Obrigações Gerais do Empresário Órgãos do Registro de Empresa Principal obrigação do empresário: inscrever-se no Registro das Empresas, antes de dar início à exploração do negócio (art. 967 CC) - Lei 8.934/94 (Lei de Registros Públicos de Empresas - LRE) - sistema integrado por órgãos de dois níveis de governo: FEDERAL: Departamento Nacional do Registro do Comércio (DNRC); e ESTADUAL: Junta Comercial. Departamento Nacional do Registro do Comércio – DNRC Órgão sem função executiva: competência para fixar diretrizes gerais para a prática dos atos registrários pelas Juntas Comerciais, acompanhando a sua aplicação e corrigindo distorções --- Principais atribuições: a) supervisionar e coordenar a execução do registro de empresa; b) orientar e fiscalizar as Juntas Comerciais, zelando pela regularidade na execução do registro de empresa; c) promover ou providenciar as medidas correicionais do Registro de Empresa; d) organizar e manter atualizado o Cadastro Nacional das Empresas Mercantis (não tem efeitos registrários: simples banco de dados de natureza estatística de subsídio à política econômica). Juntas Comerciais Estaduais: Cabe a elas a efetiva execução do registro da empresa ---- Principais atribuições: a) assentamento e compilação dos usos, costumes e práticas mercantis (deve ser precedido de ampla discussão e análise de adequação à ordem jurídica vigente); b) habilitação e nomeação de tradutores públicos e interpretes comerciais; c) exercer poder disciplinar e estabelecer o código de ética da atividade (controlar o exercício da profissão); d) expedição da carteira de exercício profissional de empresário. Disposições Gerais: Subordinação hierárquica híbrida das Juntas Comerciais (de acordo com a matéria): em questões de Direito Comercial, a subordinação da Junta diz respeito ao DNRC; nas questões de Direito Administrativo e Financeiro, diz respeito ao Poder Executivo estadual de que faça parte --- A Junta Comercial (função registral) está restrita, apenas, aos aspectos formais dos documentos – só lhe compete negar a prática do ato registral com fundamento em vício de forma, que é sempre sanável - Justiça competente para conhecer a validade de seus atos: Justiça Estadual; exceção: mandado de segurança contra ato pertinente ao registro das empresas: competência da Justiça Federal (art. 109, VIII CF/88). Atos do Registro de Empresa Lei 8.934/94 (LRE) descreve como sendo três os atos do registro de empresa: a matrícula, o arquivamento e a autenticação. A matrícula é o ato de inscrição dos tradutores públicos, intérpretes comerciais e leiloeiros - profissionais que desenvolvem atividades paracomerciais. O arquivamento é a inscrição, tanto do empresário individual, como a constituição, dissolução e alteração contratual das sociedades empresárias – inclui os atos relacionados aos consórcios de empresas, grupos de sociedades, empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil, as declarações de microempresa (ME) e de empresa de pequeno porte (EPP). A autenticação está ligada aos instrumentos de escrituração: livros comerciais e fichas escriturais – é condição de regularidade do documento - requisito extrínseco de validade. Processo Decisório do Registro de Empresa A lei prevê duas espécies de regimes de execução dos registros de empresas: decisão colegiada e decisão singular (arts. 41 e 42 LRE). Cabe à decisão colegiada o arquivamento de atos relacionados com a sociedade anônima (estatutos, atas de assembleias gerais, conselho de administração etc), transformação, incorporação, fusão ou cisão de sociedades empresárias e os relacionados a consórcio de empresas ou grupos de sociedade - prazo para a decisão colegiada: 5 dias; passado esse prazo, poderão os interessados requerer o arquivamento, independentemente de deliberação. As Juntas Comerciais possuem dois órgãos colegiados: o Plenário e as Turmas – no plenário, têm assento os vogais (mínimo 11/máximo 23), distribuídos em Turmas de 3 membros cada – a maioria das decisões colegiadas competem às turmas (art. 21 LRE), que deliberam por maioria. Cabe à decisão singular a matrícula, a autenticação e todos os demais arquivamentos (tais como o contrato social de sociedade limitada, sua alteração e a inscrição do empresário individual) – a determinação do ato registral é competência do Presidente da Junta, do vogal por ele determinado ou outro funcionário público do órgão - prazo para a decisão singular: 2 dias. Observação: O julgamento de recurso dos atos praticados pela Junta é sempre pelo regime de decisão colegiada (instância competente: Plenário - art. 19 LRE). Inatividade da Empresa Tanto o empresário individual, quanto a sociedade empresária, que não realizarem nenhum arquivamento, no período de 10 anos, estão obrigados a comunicar à Junta que ainda se encontram em atividade (art. 60 LRE) – a não comunicação acarreta na consideração de inatividade, autorizando a Junta a proceder o cancelamento do registro, acarretando a perda da proteção do nome empresarial. Necessidade de comunicação prévia, pela Junta, ao empresário, sobre a possibilidade do cancelamento (pode ser por edital) - atendida a comunicação: desfaz-se a inatividade; não atendida a comunicação: efetua-se o cancelamento do registro, informando-se o fisco. Do cancelamento do registro por inatividade não decorre a dissolução da sociedade, apenas sua irregularidade, caso continue funcionando - sociedade com arquivamento cancelado não deve, necessariamente, entrar em liquidação, mas incidem sobre ela as conseqüências do exercício irregular da atividade empresarial. Empresário Irregular Apesar de não ser o registro no órgão próprio a essência do conceito de empresário, sua ausência acarreta ao empresário a impossibilidade de usufruir dos benefícios que o direito libera em seu favor. Restrições ao Empresário Irregular: a) ilegitimidade ativa para pedido de falência de seu devedor (art. 97, §1º Lei 11.101/05 – Lei de Falência - LF) – mesmo irregular, pode ter a sua própria falência requerida e decretada, sendo a mesma sempre considerada fraudulenta, incorrendo o empresário no crime falimentar do art. 178 da LF; b) ilegitimidade ativa para requerer recuperação judicial – a inscrição no Registro de Empresa é condição essencial (art. 51, V LF); c) não poderá ter seus livros autenticados no Registro de Empresa (art. 1.181 CC), nem se valer da eficácia probatória que a legislação processual atribui aos mesmos (art. 379 CPC). d) quando se tratar de sociedade empresária, a responsabilidade pelas obrigações sociais dos sócios torna-se solidária e ilimitada, respondendo diretamente aquele que administrou a sociedade - art. 990 CC (“sociedade em comum”). Efeitos secundários: a) impossibilidade de participar de licitações (Lei 8.666/93, art. 28, II e III); b) impossibilidade de inscrição em Cadastros Fiscais (CNPJ, CCM, e outros); c) ausência de matrícula junto ao INSS e sujeição a pena de multa (Lei 8.212/91, art. 49, I) e d) na hipótese de sociedade empresária, proibição de contratar com o Poder Público (art. 195, §3° CF/88). Obrigações comuns a todos os Empresários a) registrar-se no Registro de Empresa antes de iniciar suas atividades (CC, art. 967); A não observação do dever de promover a inscrição no órgão de empresas tem por consequência a irregularidade do exercício da atividade empresarial. b) escriturar regularmente os livros obrigatórios; Todo empresário, pessoa física ou jurídica, independentemente do ramo de atividade ou da forma societária adotada, tem o dever de escriturar os livros obrigatórios ---- Categoria de empresários dispensada de escriturar os livros obrigatórios: microempresários e empresários de pequeno porte (LC, 123/2006, art. 26), desde que optantes pelo Simples Nacional (CC, arts. 970 e 1.179, §2º) - quando não optantes pelo Simples Nacional, as MEs e as EPPs são obrigadas a manter escrituração simplificada (livro-caixa) – a lei preceitua certo grau de simplificação da escrita contábil, não a sua dispensa. c) levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (CC, art. 1.179). As MEs e as EPPs estão dispensadas da escrituração mercantil, desde que optantes pelo Simples Nacional e mantenham arquivados documentos referentes ao giro empresarial, que permitam a identificação da movimentação financeira e bancária – os não optantes devem escriturar, ao menos, o livro-caixa, para a aferição do balanço patrimonial. Espécies de livros empresariais Necessária a distinção entre livros empresariais e livros do empresário - livros empresariais são àqueles cuja escrituração (obrigatória ou facultativa) decorre da legislação comercial; além destes o empresário também é obrigado a escriturar outros (livros do empresário), por força de legislação de natureza tributária, trabalhista ou previdenciária – ou seja, livros do empresário é gênero, do qual os livros empresariais são espécies. Dois são os tipos de livros empresariais: I) Obrigatórios: de escrituração imposta ao empresário, sua ausência traz consequências sancionadoras. -- II) Facultativos: são os que o empresário escritura para um melhor controle sobre os seus negócios – sua ausência não importa sanção. Os livros obrigatórios ainda se subdividem em: a) Comuns: cuja escrituração é imposta a todos os empresários, indistintamente; e b) Especiais: cuja escrituração é imposta apenas a uma determinada categoria de exercentes de atividade empresarial. Atualmente, há apenas um livro obrigatório comum: o “Diário” (art. 1.180 CC) - todos os empresários devem escriturá-lo, ou os instrumentos contábeis que legalmente o substituem. São livros obrigatórios especiais: “Registro de Duplicatas”, imposto ao empresário que emite duplicatas (art. 19 Lei 5.474/68); “Entrada e Saída de Mercadorias”, imposto ao empresário que explora Armazém-Geral (art. 7º Decreto 1.102/1903); o art. 100 da Lei 6.404/76 prevê uma extensa e variada relação de livros, imposta a todas as sociedades por ações, contemplando menção a livros de banco, leiloeiro, corretores navais e outros comerciantes e empresários. Entre os livros facultativos mais tradicionais, temos o Caixa e o Conta-Corrente – pela sua natureza, o empresário é livre para criar instrumentos de registro contábil novos, de acordo com suas necessidades gerenciais, que integrarão a categoria de livros empresariais facultativos. Importante: Os livros empresariais devem ser conservados até a prescrição das obrigações neles escrituradas (art. 1.194 CC). Regularidade na escrituração Para que produza efeitos jurídicos, um livro empresarial deve atender a dois requisitos: a) Intrínsecos: pertinentes à técnica contábil, definidos pelo art. 1.183 CC; e b) Extrínsecos: relacionados com a segurança dos livros empresariais – devem conter termos de abertura e encerramento e serem autenticados pela Junta Comercial (art. 1.181 CC) ----- Importante: Para a regularidade da escrituração, devem ser observados ambos os requisitos (em conjunto) - titular de livro a que falte algum dos requisitos, para o direito, é titular de livro nenhum. Os livros se equiparam ao documento público, para fins penais (art. 297, §2º CP) – a falsificação de sua escrituração sujeita o agente a pena mais grave que a reservada para o crime de falsificação de documentos administrativos ou particulares – Importante: livro empresarial falsificado não tem a eficácia probatória que lhe é própria. A escrituração pode ser feita por meio de processo mecânico (datilografia), em fichas soltas, devidamente encadernadas (art. 4º DL 305/67); pela microfilmagem da escrituração (Lei 5.433/68; ou valer-se de processo eletrônico, encadernando os papéis impressos à semelhança das fichas ou microfichas - também é admissível a escrituração em “livro digital”: feita, processada e armazenada, exclusivamente, em meio eletrônico (Instrução Normativa do DNRC 102/06). Consequências da irregularidade na escrituração A falta de um dos requisitos legais ao livro obrigatório (irregularidade) equivale à inexistência desse livro, trazendo consequências na esfera civil e criminal. No plano civil, a consequência imediata é a de que o empresário não poderá valer-se da eficácia probatória concedida aos livros empresariais (art. 379 CPC) – e mais, pelo art. 358, I CPC, quando requerida a exibição de livro obrigatório e este estiver irregular, presumir-se-ão verdadeiros os fatos relatados pelo requerente. No campo penal, a consequência encontra-se no art. 178 da LF, que caracteriza a irregularidade como crime falimentar (falindo o empresário ou a sociedade, cuja escrituração esteja irregular ou inexistente, a falência será, necessariamente, fraudulenta. Com relação aos MEs e EPPs, estes estão dispensados de manter escrituração mercantil, apenas se forem optantes do Simples Nacional – para os não optantes ou para aqueles cujo faturamento for superior a R$ 36.000,00, a irregularidade na escrituração, ainda que simplificada (art. 26, §2º LC 23/2006), os sujeitam às mesmas consequências reservadas aos empresários em geral. Exibição judicial e eficácia probatória Os livros comerciais gozam da proteção do princípio do sigilo (art. 1.190 CC) – sua exibição, em juízo, não pode ser feita por simples vontade das partes ou por mera decisão do juiz, senão em específicas e determinadas hipóteses previstas em lei. O princípio do sigilo dos livros não exime o empresário da sua exibição para determinadas autoridades administrativas (art. 1.193 CC) - em duas hipóteses a lei expressamente garante, a certos funcionários públicos, irrestrito acesso à escrituração mercantil (art. 195 do CTN e art. 33, §1º Lei n. 8.212/91), como nos casos de fiscalização da Seguridade Social – quanto às demais autoridades administrativas, prevalece o princípio do sigilo. Exibição parcial e exibição total: distinção - a exibição parcial se faz pela extração apenas da parte que interessa ao juízo, restituindo imediatamente este ao empresário; a exibição total importa em sua integral retenção em cartório, durante o andamento da ação (nestes casos, não se pode assegurar o sigilo de seus dados, dificultando, também, sua utilização e escrituração pelo empresário). Pelo seu caráter excepcional, a exibição total só pode ser determinada pelo juiz, a requerimento da parte, em algumas ações, a exemplo das questões relativas à sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem ou falência – importante: somente na falência pode o juiz determinar, de ofício, a exibição total dos livros. Já a exibição parcial pode ser decretada, de oficio ou a requerimento da parte, em qualquer ação judicial, quando útil à sua solução (arts. 417 a 421 NCPC, art. 1.191 CC e Súm 260 STF). Quando exibido, total ou parcialmente, o livro empresarial terá a eficácia probatória coberta pela presunção relativa (arts. 378 e 379 CPC). Balanços anuais É obrigação de todo o empresário levantar, anualmente, dois balanços – o patrimonial: demonstrando o ativo, passivo, bens, créditos e débitos; e o de resultado econômico: demonstrando a conta dos lucros e perdas (art. 1.179 CC) – empresários obrigados a levantar balanço e outros demonstrativos em período mais breve são as instituições financeiras (art. 31 da Lei da Reforma Bancária – LRB), que devem fazê-lo semestralmente. A Lei de Falências, em seu artigo 178, igualmente define como crime falimentar a inexistência ou irregularidade dos balanços patrimoniais e de resultado econômico (documentos de escrituração obrigatória). Peculiaridades sobre a obrigação de levantamento de balanço: a) As SAs, sujeitas a regime próprio sobre demonstrações financeiras (arts. 178 a 184 e 187 LSA): sua ausência acarreta responsabilidade dos administradores; b) A legislação de IR sujeita certas categorias de empresários ao dever de balanços periódicos; c) O acesso à crédito bancário tem sido condicionado à apresentação dos balanços; d) A participação em licitações públicas se condiciona à comprovação da regularidade econômico-financeira (art. 31, I Lei 8.666/93).
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