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11
Capítulo I
DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO 
EMPRESARIAL
Sumário • 1. Conceito e origem do Direito Comercial – 2. A teoria dos atos de comércio – 3. A teoria da 
empresa – 4. o Direito Comercial brasileiro – 5. o Direito Empresarial brasileiro
1. ConCeito e origem do direito ComerCial
o Direito Comercial pode ser definido, sucintamente, como o ramo do Direito 
que disciplina as atividades econômicas. ou, de forma mais detalhada, pode ser con-
ceituado como um regime jurídico especial de Direito Privado que regula e disciplina 
as atividades econômicas e aqueles que as exercem do modo profissional.
ocorre que nem sempre foi assim. Com efeito, se comparamos o Direito 
Comercial com outros ramos afins, tal como o Direito Civil, por exemplo, veremos 
que o Direito Comercial é bem recente. isso porque durante muito tempo, a despeito 
de já existir o comércio e de este ser uma atividade praticada até mesmo com grande 
intensidade e relevância em algumas civilizações das mais antigas, não havia ainda 
a noção de um Direito Comercial, ou seja, não havia um regime jurídico próprio, 
específico destinado a disciplinar as atividades mercantis. Tradicionalmente, as regras 
mercantis faziam parte do Direito Comum.
os historiadores do Direito apontam que foi somente na idade média que o 
direito Comercial surgiu, pois foi nessa época que começaram a se desenvolver 
regras especiais para a disciplina das atividades negociais, em função do incremento 
do comércio propiciado pelo período denominado de renascimento mercantil.
Sabendo da necessidade de criação de regras específicas para a disciplina das 
atividades mercantis (comércio ou mercancia), e sabendo que essa tarefa exigia a 
existência de uma entidade com força política suficiente para impor regras a uma 
coletividade, os comerciantes burgueses resolveram se organizar em grandes associa-
ções, as corporações de ofício, e criar suas próprias regras, que seriam compiladas 
nos estatutos de tais associações.
Cada corporação tinha, pois, suas próprias regras comerciais, reunidas no 
respectivo estatuto. Para aplicação dessas regras, foram cirados os tribunais consu-
lares: os próprios mercadores elegiam cônsules, que funcionariam como “juízes” nos 
André Luiz SAntA Cruz rAmoS
12
litígios entre comerciantes membros de uma mesma corporação. Enfim: da mesma 
forma que nós nos submetemos às regras do estatuto de uma associação da qual faze-
mos parte, os comerciantes que se filiavam a uma determinada corporação de ofício 
se submetiam voluntariamente às regras do seu estatuto. Em resumo, pode-se dizer 
então que os comerciantes burgueses criaram um “direito” para eles mesmos, e 
a esse direito deu-se o nome de Direito Comercial. Tratava-se, pois, de um direito 
criado e desenvolvido pelos comerciantes e para os comerciantes. Daí porque muitos 
autores afirmarem que o direito Comercial nasceu como um direito corporati-
vista, como um direito de classe.
Perceba-se também que as regras do Direito Comercial foram surgindo e se de-
senvolvendo a partir da própria dinâmica da atividade negocial, ou seja, o direito 
Comercial nasceu como um direito costumeiro ou consuetudinário. As regras 
que compunham o regime jurídico comercial, materializado nos estatutos das diversas 
corporações de ofício medievais, eram na verdade a compilação dos usos, costumes e 
práticas mercantis vivenciadas em cada localidade. Nesse período de surgimento do 
Direito Comercial, pois, ele compreende os usos e costumes mercantis observados 
na disciplina das relações jurídico-comerciais. E na elaboração desse “direito” não 
havia ainda nenhuma participação “estatal”. Com efeito, cada corporação tinha seus 
próprios usos e costumes, e os aplicava, através de cônsules eleitos pelos próprios asso-
ciados, para reger as relações entre os seus membros.
Enfim, o sistema de jurisdição especial que marca essa primeira fase do Direito 
Comercial provoca uma profunda transformação na teoria do direito, pois o siste-
ma jurídico comum tradicional vai ser derrogado por um direito específico, peculiar 
a uma determinada classe social e disciplinador da nova realidade econômica que 
emergia: o comércio.
2. a teoria dos atos de ComérCio
o comércio foi se intensificando progressivamente, sobretudo em função das fei-
ras e dos navegadores. o sistema de jurisdição especial mencionado no tópico ante-
cedente, surgido e desenvolvido nas cidades italianas, difunde-se por toda a Europa, 
chegando a países como França, inglaterra, Espanha e Alemanha.
Com essa proliferação da atividade mercantil, o Direito Comercial também evo-
luiu. Se no seu período inicial a sistematização de suas regras foi devida precipua-
mente à atividade dos próprios comerciantes, que se associaram em grandes asso-
ciações (as Corporações de Ofício), num momento posterior essa sistematização das 
regras mercantis coube aos estados nacionais que se formaram no início da idade 
moderna.
DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO EMPRESARIAL
13
Na medida em que o Estado vai passando a disciplinar a atividade mercantil, com 
a edição de leis e a assunção do monopólio da jurisdição, as Corporações de Ofício vão 
perdendo força, até desaparecerem. o direito Comercial, então, deixa de ser um 
direito consuetudinário e passa a ser um direito posto e aplicado pelo estado. 
o regime jurídico especial que regula as atividades mercantis (nessa época, quando 
se fala em atividade mercantil, fala-se basicamente no comércio, já que esta era a 
mais importante atividade econômica nesse período histórico) não se encontra mais 
compilado nos estatutos das Corporações, aplicáveis apenas a seus membros, mas em 
Códigos de leis, aplicáveis a todos os cidadãos.
Nesse contexto, merece destaque a edição, em 1804 e 1808, do Código Civil 
(CC) e do Código Comercial (CCom) franceses. o Direito Comercial inaugura, 
então, sua segunda fase. Finalmente, pode-se falar agora em um sistema jurídico estatal 
destinado a disciplinar as relações jurídico-comerciais, ou seja, enfim tem-se delimi-
tado um regime jurídico próprio, específico para disciplinar as atividades mercantis 
(o comércio, basicamente) e aqueles que se dedicam ao exercício profissional dessas 
atividades (os comerciantes).
Perceba-se que, de fato, a codificação napoleônica dividiu claramente o 
direito privado: de um lado, o direito Civil; de outro, o direito Comercial. 
Enquanto o CC napoleônico era, fundamentalmente, um corpo de leis que atendia 
os interesses da burguesia fundiária, pois estava centrado no direito de propriedade, o 
CCom, por sua vez, encarnava o espírito da burguesia comercial e industrial, valori-
zando a riqueza mobiliária. Tínhamos enfim dois Códigos distintos para a disciplina 
das atividades privadas, e um deles era justamente o Código Comercial, que cui-
dava, especificamente, das atividades mercantis (comércio) e daqueles que as 
exerciam (comerciantes).
ocorre que essa divisão do direito privado, com dois grandes corpos de leis a 
reger as relações jurídicas entre particulares, cria a necessidade de estabelecimento 
de um critério que delimitasse a incidência de cada um desses ramos da árvore jurí-
dica às diversas relações ocorridas no dia-a-dia dos cidadãos. mais precisamente, era 
preciso criar um critério que delimitasse o âmbito de incidência do direito 
Comercial, já que este surgiu, conforme visto, como um regime jurídico espe-
cial destinado a regular as atividades mercantis. Para tanto, a doutrina francesa 
criou a teoria dos atos de comércio, que tinha como uma de suas funções essenciais 
a de atribuir, a quem praticasse os denominados atos de comércio, a qualidade de co-
merciante, o que era pressuposto para a aplicação das normas do Código Comercial.
o Direito Comercial regularia, portanto, as relações jurídicas que envolvessem a 
prática de alguns atos definidos em lei como atos de comércio. Caso, todavia, a relaçãojurídica não envolvesse a prática de desses atos, ela não seria considerada uma relação 
mercantil e, pois, seria ela regida pelas normas do CC.
André Luiz SAntA Cruz rAmoS
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A definição dos atos de comércio era tarefa atribuída ao próprio legislador, o 
qual optava ou por descrever as suas características básicas – como fizeram o Código 
de Comércio português de 1833 e o Código Comercial espanhol de 1885 – ou por 
enumerar, num rol de condutas típicas, que atos seriam considerados de mercancia – 
como fez o nosso legislador, conforme veremos adiante.
Nessa segunda fase do Direito Comercial, portanto, pode-se perceber uma 
importante mudança: a mercantilidade, antes definida pela qualidade dos sujeitos 
da relação jurídica (o Direito Comercial era o direito aplicável aos membros das 
Corporações de ofício), passa a ser definida pelo objeto da relação jurídica (o Direito 
Comercial passa ser aplicável sempre que uma determinada relação envolver a prática 
de um dos atos de comércio descritos na legislação).
Daí porque os doutrinadores afirmam que a codificação napoleônica operou uma 
objetivação do direito Comercial, além de ter, como dito anteriormente, biparti-
do de forma clara o direito privado.
o fato é que, na verdade, nunca se conseguiu definir satisfatoriamente o 
que são atos de comércio. mesmo a teoria do jurista italiano Alfredo rocco, a mais 
aceita e segundo a qual os atos de comércio possuíam a função comum de interme-
diação na efetivação da troca – os atos de comércio seriam aqueles que ou realizavam 
diretamente a referida intermediação (atos de comércio por natureza, fundamental 
ou constitutivo) ou facilitavam a sua execução (atos de comércio acessórios ou por 
conexão) – não conseguia definir com precisão todo o conjunto de relações jurídicas 
submetidas à disciplina do regime jurídico comercial.
Com efeito, uma série de outras atividades econômicas, tão importantes quanto 
a mercancia (os atos de comércio), não se encontrava na enumeração legal dos atos de 
comércio. Algumas delas porque se desenvolveram posteriormente (ex.: prestação de 
serviços), e a produção legislativa, como sabemos, não consegue acompanhar o ritmo 
veloz do desenvolvimento social, tecnológico etc. outras delas, por razões históricas 
(ex.: atividades rurais e negociação de bens imóveis).
Não obstante seus defeitos, a verdade é que a teoria francesa dos atos de comércio, 
por inspiração da codificação napoleônica, foi adotada por quase todas as codificações 
oitocentistas, inclusive a do Brasil (Código Comercial de 1850).
3. a teoria da empresa
Com o passar dos anos, as atividades econômicas foram tornando-se cada vez 
mais complexas, e a teoria dos atos de comércio, conseqüentemente, mostrou-se in-
capaz de continuar norteando a disciplina jurídica do mercado. isso porque aquela 
noção de Direito Comercial centrada no conceito de ato de comércio e na figura do 
comerciante estava ultrapassada, diante da nova realidade econômica.
DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO EMPRESARIAL
15
Foi necessário, então, que se criasse um novo critério para delimitar a abrangên-
cia do regime jurídico comercial. Dito de outra forma, foi preciso desenvolver uma 
nova teoria para nortear a disciplina jurídica das atividades econômicas, as quais, 
dada a sua complexidade, não eram devidamente abrangidas pela teoria dos atos de 
comércio, que se restringia, conforme visto, às atividades de mercancia (o comércio 
propriamente dito e outras atividades afins).
Ademais, a divisão do Direito Privado provocada pela codificação napoleônica, 
que contrapôs dois códigos de leis para a disciplina das atividades civis e comerciais, 
respectivamente, passou a ser criticada por parte da doutrina privatista, que pregava a 
necessidade de unificação do Direito Privado.
Foi nesse contexto, então, que o Direito Comercial passou por uma nova refor-
mulação, e o marco histórico identificador dessa mudança foi a edição do Código 
Civil italiano de 1942, que adotou uma nova teoria para a disciplina jurídica das 
atividades econômicas: a teoria da empresa. À luz dessa teoria, o Direito Comercial – 
que, como veremos, passará a ser chamado de Direito Empresarial – desvia seu foco 
do binômio ato de comércio/comerciante e para o binômio empresa/empresário.
Com efeito, com a adoção da teoria da empresa, o Direito Comercial (Empresarial) 
deixa de lado aquela idéia de um regime jurídico voltado exclusiva ou preponderan-
temente para a mercancia (comércio e outras atividades afins), que não abrangia, pois, 
uma série de atividades não compreendidas na noção de ato de comércio, e passa a 
disciplinar toda e qualquer atividade econômica, desde que organizada para a produ-
ção ou circulação de bens ou de serviços e exercida com profissionalismo.
Vê-se, pois, que a compreensão dessa nova dimensão do Direito Empresarial (que 
substituiu o antigo Direito Comercial) pressupõe, necessariamente, a definição da 
expressão empresa e, conseqüentemente, a definição da expressão empresário, uma vez 
que estas duas expressões vieram substituir, de certa forma, as antigas expressões ato 
de comércio e comerciante, respectivamente. De fato, não se concebe mais a idéia de 
um Direito Comercial como regime jurídico especial para a disciplina das atividades 
mercantis (atos de comércio) e de seus praticantes (comerciantes). Hodiernamente, 
prevalece a idéia de um direito empresarial, regime jurídico especial voltado 
para disciplina de qualquer atividade econômica (empresa) e daqueles que 
exercem tais atividades (empresários).
Feita essa observação, pode-se então concluir que empresa é uma atividade, e 
empresário é quem exerce essa atividade. mas tal definição não é precisa, por ser 
incompleta. Empresa é uma atividade econômica (realizada com intuito e lucro) or-
ganizada (realizada com articulação dos diversos fatores de produção: capital, mão-
de-obra, insumos e tecnologia), voltada para a produção ou circulação de bens ou 
de serviços (veja-se que a expressão empresa não se restringe a algumas atividades 
específicas, como acontecia com a expressão ato de comércio, que tinha seu conceito 
André Luiz SAntA Cruz rAmoS
16
restrito ao comércio e algumas atividades afins: empresa é qualquer atividade econô-
mica, podendo ser voltada para a produção de bens ou de serviços ou para a circulação 
de bens ou de serviços).
empresário, por sua vez, é quem exerce empresa (isto é, quem exerce uma 
atividade econômica organizada) e o faz de modo profissional, ou seja, com habitu-
alidade (o exercício de atividade econômica de forma esporádica, pois, não caracteriza 
ninguém como empresário) e pessoalidade (assumindo os riscos do negócio que em-
preende: o empresário sabe que empreender pode lhe render bons lucros, mas sabe 
também que essa atividade pode lhe trazer sérios prejuízos).
Pois bem. Além de ter adotado a teoria da empresa, o CC italiano rompeu com 
a tradição de dividir o Direito Privado em dois grandes códigos de leis – o CC e o 
Código Comercial – e promoveu uma unificação formal do direito privado, discipli-
nando as relações civis e comerciais num único diploma legislativo: o CC. o Direito 
Comercial (ou empresarial, já que houve a adoção da teoria da empresa) entra, enfim, 
na terceira fase de sua etapa evolutiva, superando o conceito de mercantilidade para 
definir as relações sob a sua disciplina e adotando, conforme visto, o critério da em-
presarialidade como forma de delimitar o âmbito de incidência das suas normas. Em 
síntese, o norte desse novo Direito Empresarial deixa de ser o ato de comércio (que 
era o norte do antigo Direito Comercial) e passa a ser a empresa.
Note-se que, como fizemos questão de destacar acima, essa unificação provo-
cada no direito privado pela codificação italiana foi meramente formal, uma 
vez que o Direito Empresarial, a despeito de não possuir mais um diploma legislativopróprio, conservou sua autonomia didático-científica. Afinal, como bem destaca a 
doutrina majoritária a respeito do assunto, o que define um determinado ramo do 
Direito como autônomo e independente não é a existência de um código próprio 
contendo suas regras, e sim o fato de esse ramo do Direito constituir um regime 
jurídico específico, com características e princípios que possam identificá-lo e dife-
renciá-lo dos demais. E isso, sem sombra de dúvidas, o Direito Empresarial possui, 
desde a sua origem até a presente data.
Com efeito, o Direito Empresarial, como regime jurídico específico que discipli-
na a atividade econômica (empresa) e aqueles que as exercem (empresários) conserva 
uma série de características que o distinguem das demais disciplinas jurídicas. São 
características fundamentais do Direito Empresarial, que o diferenciam sobremanei-
ra do Direito Civil: a) o cosmopolitismo, uma vez que o comércio, historicamente, 
foi fator fundamental de integração entre os povos, razão pela qual o seu desenvolvi-
mento propicia, até os dias de hoje, uma intensa inter-relação entre os países (note-se 
que em matéria de Direito Empresarial há diversos acordos internacionais em vigor, 
muitos dos quais o Brasil é signatário, tais como a Convenção de Genebra, que criou 
uma legislação uniforme sobre títulos de crédito, e a Convenção da união de Paris, 
DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO EMPRESARIAL
17
que estabelece preceitos uniformes sobre propriedade industrial); b) a onerosidade, 
dado o caráter econômico e especulativo das atividades mercantis, que faz com que o 
intuito de lucro seja algo intrínseco ao exercício da atividade empresarial; c) o infor-
malismo, em função do dinamismo da atividade empresarial, que exige meios ágeis e 
flexíveis para a realização e a difusão das práticas mercantis; e d) o fragmentarismo, 
pelo fato de o Direito Empresarial possuir uma série de sub-ramos com caracterís-
ticas específicas (direito falimentar, direito cambiário, direito societário, direito de 
propriedade industrial etc.).
o mais importante, todavia, com a edição do CC italiano e a formulação da 
teoria da empresa, é que o direito empresarial deixou de ser, como tradicional-
mente o foi, um direito do comerciante (período subjetivo das Corporações 
de ofício) ou dos atos de comércio (período objetivo da codificação napole-
ônica), para tornar-se o direito da empresa (qualquer atividade econômica 
organizada) e alcançar, assim, uma maior gama de relações jurídicas.
Empresa atividade econômica organizada
Empresário pessoa física ou jurídica que exerce empresa profissionalmente
4. o direito ComerCial brasileiro
o Código Comercial de 1850, assim como a grande maioria dos códigos editados 
nos anos 1800, adotou a teoria francesa dos atos de comércio, por influência da codi-
ficação napoleônica. o CCom/1850 definiu o comerciante como aquele que exercia 
a mercancia de forma habitual, como sua profissão.
Embora o próprio código não tenha dito o que considerava mercancia (atos de 
comércio), o legislador logo cuidou de fazê-lo, no regulamento nº 737, também de 
1850. Prestação de serviços, negociação imobiliária e atividades rurais foram esqueci-
das, o que corrobora a crítica já feita ao sistema francês.
Em 1875, o regulamento nº 737 foi revogado, mas o seu rol enumerativo dos 
atos de comércio continuou sendo levado em conta, tanto pela doutrina quanto pela 
jurisprudência, para a definição das relações jurídicas que mereceriam disciplina 
jurídico-comercial.
mas não era só o regulamento nº 737/1850 que definia os chamados atos de 
comércio no Brasil. outros dispositivos legais também o faziam. Assim, por exemplo, 
consideravam-se atos de comércio, ainda que não praticados por comerciante, as ope-
rações com letras de câmbio e notas promissórias, nos termos do art. 57 do Decreto 
nº 2.044/1908, e as operações realizadas por sociedades anônimas, nos termos do art. 
2º, § 1º, da Lei nº 6.404/76.
André Luiz SAntA Cruz rAmoS
18
Ademais, a doutrina ainda mencionava os chamados atos de comércio por co-
nexão (por dependência ou acessórios), que eram, na verdade, atos essencialmente 
civis, mas que se transformavam atos de comércio quando eram exercidos com o fim 
de facilitar o exercício de determinada atividade mercantil.
CCom/1850 regulamento 737/1850
Teoria dos atos de comércio Enumeração dos atos de comércio
5. o direito empresarial brasileiro
A adoção da teoria francesa dos atos de comércio pelo Direito Comercial brasi-
leiro fez com que ele merecesse as mesmas críticas já apontadas acima. Com efeito, 
não se conseguia justificar a não-incidência das normas do regime jurídico comercial 
a algumas atividades tipicamente econômicas e de suma importância para a atividade 
negocial, como a prestação de serviços, a negociação imobiliária e a pecuária.
Seguindo a influência da teoria da empresa, foi então editada a Lei nº 10.406/02, 
que instituiu um novo CC em nosso ordenamento jurídico e completou a tão espera-
da transição do Direito Comercial brasileiro: abandonou-se a teoria francesa dos 
atos de comércio para adotar-se a teoria italiana da empresa.
Seguindo à risca a inspiração do CC de 1942, o novo CC brasileiro derroga 
grande parte do Código Comercial de 1850, na busca de uma unificação, ainda que 
apenas formal, do direito privado. Do Código Comercial resta hoje apenas a parte 
segunda, relativa ao Comércio marítimo (a parte terceira – “das quebras” – já havia 
sido revogada há muito tempo; de lá para cá, o Direito Falimentar brasileiro já foi 
regulado pelo DL nº 7.661/45, que era a antiga Lei de Falências, hoje revogada e subs-
tituída pela Lei nº 11.101/05, a Lei de Falência e Recuperação de Empresas).
CCom/1850
Parte i parte geral do Direito Comercial (revogada pelo CC/2002)
Parte ii comércio marítimo (ainda em vigor)
Parte iii direito falimentar (revogado há bastante tempo, hoje discipli-nado na Lei nº 11.101/05)
o CC de 2002 trata, no seu Livro ii, Título i, do “Direito de Empresa”. 
Desaparece a figura do comerciante, e surge a figura do empresário (da mesma forma, 
não se fala mais em sociedade comercial, mas em sociedade empresária). A mudança, 
porém, está longe de se limitar a aspectos terminológicos. ao disciplinar o direito 
de empresa, o direito brasileiro se afasta, definitivamente, da ultrapassada 
teoria dos atos de comércio, e incorpora a teoria da empresa ao nosso ordena-
DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO EMPRESARIAL
19
mento jurídico, adotando o conceito de empresarialidade para delimitar o âmbito 
de incidência do regime jurídico comercial.
Hoje, no Direito brasileiro, não se fala mais em comerciante, como sendo aquele 
que pratica habitualmente atos de comércio. Fala-se agora em empresário, sendo este o 
que “exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circula-
ção de bens ou de serviços” (CC de 2002, art. 966).
Portanto, a partir das observações feitas acima, através das quais tentamos estabe-
lecer, em resumo, as bases históricas da afirmação do Direito Empresarial como ramo 
jurídico independente e autônomo, podemos conceituá-lo, em síntese, como o regime 
jurídico especial destinado à regulação da atividade econômica (empresa) e dos seus 
agentes produtivos (empresários). Na qualidade de regime jurídico especial, contem-
pla todo um conjunto de normas específicas que se aplicam aos agentes econômicos, 
hoje chamados de empresários (empresários individuais e sociedades empresárias).
Note-se, porém, que essa autonomia que o Direito Empresarial possui em relação 
ao Direito Civil não significa que eles sejam ramos absolutamente distintos e con-
trapostos. Direito Empresarial e Direito Civil, como ramos englobados na rubrica 
Direito Privado, possuem, não raro, institutos jurídicos comuns. Ademais, o Direito 
Empresarial, como regime jurídico especial, muitas vezes socorre-sedo Direito Civil 
– este entendido, pode-se dizer, como um regime jurídico geral das atividades priva-
das – para suprir eventuais lacunas de seu arcabouço normativo.
Assim, pode-se dizer que cabe ao Direito Civil, como bem destacava o art. 1º do 
CC de 1916, a disciplina geral dos direitos e obrigações de ordem privada concernentes 
às pessoas, aos bens e às suas relações, sendo, ademais, fonte normativa subsidiária para 
os demais ramos do direito. Já ao Direito Empresarial cabe, por outro lado, a disciplina 
especial dos direitos e obrigações de ordem privada concernentes ao exercício de ati-
vidade econômica organizada (empresa). Durante muito tempo, é verdade, o Direito 
Civil foi o próprio Direito Privado, realidade que, conforme vimos nos tópicos iniciais 
deste capítulo, mudou radicalmente a partir do desenvolvimento das atividades mer-
cantis, o que fez surgir o Direito Comercial (hoje Direito Empresarial), como ramo 
especial destinado justamente a regular os interesses especiais dos agentes econômicos.
Direito Civil regime jurídico geral de direito privado
Direito Empresarial regime jurídico especial de direito privado (disciplina especificamente a empresa e os empresários)
Por fim, cumpre apenas destacar que, como ramo jurídico autônomo e indepen-
dente, o Direito Empresarial tem suas próprias fontes: (i) o CC, que é atualmente a 
mais importante fonte formal do Direito Empresarial, já que contém boa parte de 
suas regras jurídicas fundamentais; (ii) o CCom de 1850, que disciplina o Comércio 
André Luiz SAntA Cruz rAmoS
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marítimo; (iii) a legislação esparsa, que cuida de matérias específicas, como o Direito 
Falimentar (Lei nº 11.101/05), o Direito Societário (Lei nº 6.404/76, que regula as 
sociedades por ações), o Direito Cambiário (Lei uniforme de Genebra, que regula 
as letras de câmbio e as notas promissórias, Lei nº 7.357/85, que regula os cheques, 
e Lei nº 5.474/68, que regula as duplicatas), o Direito de Propriedade industrial 
(Lei nº 9.279/96, chamada de LPi) etc; (iv) os usos e costumes mercantis, sobretudo 
porque o Direito Empresarial, como visto, surgiu como um direito consuetudinário, 
baseado nas práticas mercantis dos mercadores medievais.
direito ComerCial è direito empresarial
Corporações de ofício 
ê
 tribunais Consulares 
ê
 Usos e costumes mercantis
Nessa fase inicial, o Direito Comercial era um direito 
consuetudinário e possuía um caráter extremamente 
corporativista, só se aplicando aos mercadores asso-
ciados a Corporações de ofício.
Codificação napoleônica 
ê
 divisão do direito privado 
ê
 Código Comercial 
ê
 teoria dos atos de comércio 
ê
 objetivação do direito Comercial
Nessa segunda fase, o Direito Comercial se consolida 
como um regime jurídico autônomo, destinado a dis-
ciplinar as atividades mercantis – atos de comércio – e 
aqueles que exercem atividade mercantil profissional-
mente – comerciantes.
CC italiano de 1942 
ê
Unificação formal do direito privado 
ê
 teoria da empresa
Na sua fase atual, o Direito Empresarial passa a ser 
um regime jurídico que disciplina toda e qualquer 
atividade econômica organizada, não se restringin-
do apenas aos atos de comércio. Assim, o Direito 
Empresarial é o regime jurídico de Direito Privado 
que disciplina a atividade econômica – empresa – e 
aqueles que exercem atividade econômica profissio-
nalmente – empresários.

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