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Biblioteca_Vazios_Urbanos_Area_Central_RJ

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VAZIOS URBANOS NA ÁREA CENTRAL DO RIO DE JANEIRO 
PRESERVAÇÃO E REABILITAÇÃO URBANA 
URBAN EMPTINESSES IN THE CENTRAL AREA OF RIO DE JANEIRO 
PRESERVATION AND URBAN WHITEWASHING 
LUIZ NEVES 
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) 
luizneves@bennett.br 
 
 
Resumo Análise da condição de vazio urbano desenhado por determinados espaços urbanos da 
Cidade do Rio de Janeiro, com o objetivo de a partir da identificação de sua propriedade e de 
sua qualificação quanto aos novos potenciais de uso, se propor políticas de revitalização urbana 
com geração de renda e implementação da mobilidade urbana. 
Palavras-chave: URBANO – VAZIO – USO – POLÍTICA. 
 
Abstract Analysis of the condition of urban emptiness drawn by determined urban spaces of the 
City of Rio de Janeiro, from the identification of its property and its qualification, to evaluate 
the new potentials of use to contemporaries politics of social-economic urban increase and 
implementation of urban mobility. 
Keywords: URBAN – EMPTINESS – USE - POLITIC 
 
Ao observarmos a atual área central da cidade do Rio de Janeiro (ver mapa 1), bem como 
compreendendo a sua história quatro vezes secular, percebemos que o que hoje se denomina 
Área Central (II Região Administrativa - RA) ocupa, em área, o que correspondeu a todo o seu 
antigo núcleo urbano. No entanto, em termos de fisionomia, o que se observa é um “perfil” 
quase totalmente modificado em virtude de inúmeras obras urbanísticas pelas quais a cidade 
passou ao longo do tempo e onde, sobretudo as realizadas neste século, vieram a lhe conferir a 
aparência atual. Em seu conjunto, a II RA (ou simplesmente, Centro) se caracteriza por uma 
heterogeneidade da sua fisionomia, observável nas construções e nas ruas, e que deve ser 
tomada como reflexo da complexidade de suas funções e do seu processo de evolução histórica1 
A complexidade de funções e a conseqüente multiplicidade de serviços encontradas na 
área central do Rio de Janeiro são, de uma forma geral, evidências comuns entre todas as 
grandes metrópoles capitalistas e caracterizam-na como um setor da cidade relacionado ao 
dinamismo de suas atividades e ao valorizado e intenso uso do seu solo. Tais características não 
parecem compactuar, então, com a idéia de vazios em seu território. 
No entanto, tal fenômeno é observado no centro da cidade de maneira que uma pergunta 
sempre faz, ora como arquitetos que somos, ora como um cidadão qualquer que se utiliza à área 
em questão: Por que um centro com o patrimônio edificado dos mais ricos, de arquitetura 
representativa de todos os estilos, complexidade de sistemas construtivos e materiais 
empregados, com o solo extremamente valorizado e uma infra-estrutura invejável pela maioria 
dos bairros desta cidade, inclusive por boa parte da zona sul, tem tantas áreas vazias ou sub-
utilizadas. 
O que se quer observar é que, pelo menos à primeira vista, não caberia a informação pura 
e simples, sem uma devida análise, de que a cidade em sua área central apresenta consideráveis 
espaços vazios dos quais muitos deles com aparente potencial edificável. No entanto, entender 
essa questão significa entender o próprio processo de estruturação urbana das sociedades 
capitalistas para conseguirmos instrumentos satisfatórios na interpretação sobre os processos 
que determinaram o surgimento e a manutenção desses vazios. 
 
 
1
 RIBEIRO, M.A.C. & MATTOS, R.B.(1996) Territórios da prostituição nos espaços públicos da área central do Rio de 
Janeiro. In: Território (1) 1, LAGET/UFRJ, Rio de Janeiro, Relume-Dumará 
 
 
 11 
Segundo Abreu2, vários são os fatores que contribuem para a evolução da estrutura urbana 
no tempo e analisá-los de forma detalhada exigiria um esforço não condizente com os objetivos 
deste trabalho. Desta maneira, resolveu-se privilegiar a discussão sobre um dos mais 
importantes dentre esses fatores, ou seja, a ação do poder público. 
 
De acordo com Corrêa3, o espaço de qualquer grande cidade capitalista é um espaço 
fragmentado, articulado, reflexo e condicionante da própria sociedade. Fragmentado, em 
primeiro lugar, por constituir-se num conjunto de diferentes usos da terra que se justapõem e 
que definem áreas distintas na cidade; articulado, em segundo lugar, porque cada parte mantém 
relações com as demais de acordo com os interesses do capital e do trabalho ou com a prática de 
um poder ou de uma ideologia onde o centro aparece historicamente como o núcleo dessa 
articulação; por fim, o espaço é reflexo e condicionante social pelo fato de, além de traduzir as 
suas lutas de classes, desempenha papel importante na reprodução das condições e relações 
sociais. Vista por Santos (1988, p. 192) como um “jogo”, a cidade expressa em seu espaço a 
complexidade de sua estrutura social. Nesse espaço urbano cada uso da terra, de uma maneira 
geral, pode ser visto como uma forma espacial. E esta é, segundo o mesmo autor (1988), a 
materialização da função urbana demandada pela estrutura social vigente. 
Como a própria sociedade, o espaço urbano também é algo complexo e dinâmico. 
Percebemos, logo de imediato, que se tornam necessárias diversas dimensões de análise como 
processo histórico, atuações dos diversos agentes modeladores do seu espaço, valorização do 
solo e legislação vigente para que possamos lidar, de forma satisfatória, com toda a sua 
complexidade. E ainda sem abandonar a compreensão de que cada cidade tem suas 
especificidades que se devem à história do país onde se encontra e a sua própria história local. 
 
2
 ABREU, M.A.(1981) Contribuição ao estudo do papel do Estado na evolução da estrutura urbana. Revista Brasileira de 
Geografia, no 43 (4). Rio de Janeiro. 
 
3
 CORRÊA, R.L. (1995) O espaço urbano. Série Princípios, São Paulo, Ática 
 
Mapa 1: Área Central da Cidade do Rio de Janeiro. 
 12 
A cidade enquanto produto social, resultado de um processo de articulação de vários 
fatores, é um valor de uso complexo e apresenta-se caracterizada de acordo com as suas formas 
de ocupação. Um ponto qualquer da cidade é ocupado a partir da necessidade de realização de 
uma dada ação (seja produzir, consumir, morar ou viver). Assim, o uso do solo, ligado ao 
processo de produção das relações capitalistas ou momentos específicos dele, é o modo de 
ocupação de determinado lugar na cidade. 
Em seus estudos, Harvey (1980) descreve que o solo é indispensável a própria existência 
humana; é um bem que muda de mãos com pouca freqüência onde a sua localização absoluta 
confere privilégios de monopólio à pessoa que tem os direitos de determinar o seu uso; é um 
bem permanente, não perecível, e suas benfeitorias são extremamente duráveis, por isso, o solo 
é valor de uso atual ou futuro e é também um valor de troca em potencial; o solo e suas 
benfeitorias têm usos múltiplos e simultâneos e o seu uso se estende por um longo período de 
tempo, embora sua troca no mercado ocorra em um determinado momento. 
A cidade é então considerada “locus” de produção ou de habitação, dependendo apenas do 
ponto de vista que se utiliza para sua análise. Para o produtor de mercadorias, ela é o seu campo 
para distribuição, circulação e troca. Para o morador, considerado aqui enquanto consumidor, a 
cidade é o meio de consumo coletivo, é o local para a sua habitação e tudo o que este termo 
implica na atual sociedade. 
Assim, percebe-se que o uso do solo será disputado de maneira diferenciada pelos vários 
segmentos da sociedade: vão depender diretamente do grau de desenvolvimento das forças 
produtivas materiais e das condições em que se dá a produção em relação ao processo de 
humanização dos membros da sociedade. Essa disputa, então, é a geradora de conflitos entre 
indivíduos e usos. 
Neste sentido, a terra (enquanto matéria) nãopode ser reproduzida, mas o espaço 
continuamente muda de significado de acordo com avanço do processo histórico de cada cidade; 
o espaço é continuamente reproduzido. 
 
O ESPAÇO CENTRAL METROPOLITANO HOJE 
 
A estrutura atual do espaço metropolitano carioca se caracteriza pela estratificação 
espacial observada anteriormente e que também é função direta da ação do setor público no 
decorrer do tempo, seja através da criação de condições materiais; seja mediante o 
estabelecimento de políticas que beneficiam, em última instância, o capital; seja ainda por sua 
omissão no que se refere aos processos econômicos e habitacionais “informais”. 
Com isto, tudo leva a crer que a organização espacial do Rio de Janeiro, na atualidade, 
nada mais é do que a expressão mais acabada de um processo de estratificação espacial que vem 
se desenvolvendo há muito tempo e que tem contado com a ajuda preponderante do setor 
público. 
De uma forma geral, a cada novo momento de organização social, determinado pelo 
processo de evolução diferenciada das estruturas que a compõem, a sociedade conhece novas 
funções desenvolvidas no tecido urbano, novos atores e também novas formas de ordenamento 
do espaço ao mesmo tempo em que ocorrem as transformações de outras antigas formas. Em 
relação à atuação do Estado, cada novo momento se caracteriza pela formulação ou 
aprimoramento de políticas e de outros mecanismos de controle que tendem a se tornar cada vez 
mais rígidos com o decorrer do tempo a fim de confirmar e consolidar os interesses dominantes. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13 
Quadro 1: Terrenos vazios na II RA do Município do Rio de Janeiro segundo tipologia. 
TIPOLOGIA DOS 
VAZIOS
NÚMERO DE 
LOTES
ÁREA 
TOTAL NA 
RA (m2)
ÁREA 
MÉDIA POR 
LOTE
PORCENTA
GEM
Sem edificação e 
uso
56 77.747,00 1.388,32 25,30%
Terreno só com 
fachada 47 7.884,00 175,21 2,60%
Fachada com 
interior semi-
destruído
136 32.512,00 239,06 10,60%
Estacionamento 
irregular 125 188.672,00 1.509,38 61,50%
TOTAL 364 306.815,00 847,56 100%
 
Fonte: NEVES, Luiz.. Levantamento de campo e pesquisa junto à Prefeitura do Rio de Janeiro, 
1995. 
 
Quadro 2: Proprietários dos terrenos vazios localizados na II RA do Município do Rio de Janeiro 
segundo tipologia. 
TIPOLOGIA
GOV. FEDERAL 
(Área Total m2 / no de 
lotes)
GOV. ESTADUAL 
(Área Total m2 / no de 
lotes)
PREFEITURA 
(Área Total m2 / no de 
lotes)
PARTICULAR 
(Área Total m2 / no de 
lotes)
Sem 
edificação e 
uso
4.475 / 04 17.337 / 11 20.922 / 10 35.013 / 33
Terrenos só 
com fachada 126 / 01 574 / 03 660 / 01 6.524 / 40
Fachada com 
interior semi-
destruído
1.940 / 02 6.476 / 11 3.633 / 08 20.463 / 115 
Estaciona-
mento 
irregular
57.564 / 13 30.017 / 13 28.860 / 12 72.231 / 87
TOTAL 64.105 / 20 54.404 / 38 54.075 / 31 134.231 / 275
PORCENT. 21,00% 17,70% 17,60% 43,70%
ÁREA MÉDIA 
POR LOTE 3.120 1.432 1.742 457
 
Fonte: NEVES, Luiz. Levantamento de campo e pesquisa junto à Secret. Munic. Fazenda do Rio 
Janeiro, 1995/1996. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 14 
OS VAZIOS: INTERPRETAÇÃO E DECODIFICAÇÃO 
 
Voltamos aos questionamentos iniciais deste trabalho quando tínhamos a preocupação de 
quantificar e entender a existência desses vazios em área de ocupação tão densa como é o centro 
da cidade. 
Num primeiro momento, devemos observar que os vazios levantados (quadros 1 e 2), 
correspondem a 5% da área total da RA e esse número é significativo. para um município que 
apresenta graves problemas de infra-estrutura básica. Pois o município do Rio de Janeiro ainda 
apresenta áreas que padecem da falta de uma infra-estrutura básica e no entanto, áreas com uma 
excelente rede de serviços urbanos, como é o caso da área central, apresentam terrenos vazios 
em seu espaço sem dar utilização total à infra-estrutura implantada. Esse índice conhecido pela 
intensa utilização do também é relevante quando percebemos que estão localizados em uma área 
solo e forte concentração de atividades como é o centro da cidade. Aparentemente, numa análise 
inicial, o centro não conteria espaços disponíveis para novas ocupações, muitos menos vazios 
tão bem caracterizados. 
Num segundo momento, tentamos entender a existência desses vazios através do processo 
de evolução histórica da cidade quando várias questões se colocam: reminiscências de grandes 
intervenções urbanas, legislação restritiva quanto a usos ou obras nos terrenos, superposição de 
poderes e interesses e deslocamento para a zona sul de investimentos. 
Em relação ao histórico de intervenções urbanas na II RA, cabe ressaltar alguns momentos 
em que pressupomos poder ser possível identificar as causas que mais tenham contribuído para 
o surgimento de terrenos vazios que perduram até hoje dentro dos seus limites. 
Começaremos pela demolição do Morro do Castelo, proposta pelo Plano Agache, para 
abertura de largas avenidas. Nesta área, verificam-se alguns lotes até hoje vazios, em 
conseqüência da não implantação do plano como um todo e num segundo momento, às 
demolições de pavilhões da feira comemorativa do Primeiro Centenário da Independência do 
Brasil. 
Ao se estruturar um plano, tem-se em sua concepção o atendimento satisfatório às 
necessidades da produção, primeiramente, e dos problemas impostos à sociedade como um 
todo. Mas, a inadequação das práticas verificadas e o constante jogo de interesses que visam 
privilegiar ora o Estado, ora o capital incorporador, faz com que a intervenção urbana proposta 
não se verifique como um todo ou até mesmo seja modificada em partes através de legislações 
que se sobrepõem e condenam certos empreendimentos à paralisação. Enfatizado, inclusive, 
pela burocracia do Estado que cria, dentro da sua própria estrutura funcional, entraves que 
chegam até à disputas internas pela posse de terras. Muitas vezes, estas indefinições culminam 
com a manutenção de espaços vazios à espera de utilização. 
Notificamos, após pesquisa junto a órgãos oficiais, que o fato exposto acima ocorre em 
muitos dos terrenos da Praça XV onde esta disputa se dá entre os governos estadual e municipal. 
Dando seqüência, comentaremos agora sobre a abertura da Avenida Presidente Vargas, na 
gestão Henrique Dodsworht. As obras para abertura desta grande via solicitaram a demolição de 
diversas quadras. Na época, não só foram demolidos os imóveis necessários para sua ocupação 
efetiva, mas também áreas adjacentes nas suas laterais por exigência da execução da obra. 
Como relata Reis4, estes terrenos remanescentes constituíram-se em um projeto de novos lotes 
totalmente independentes das propriedades, viabilizando a implantação das novas construções. 
O que se verificou com o levantamento de campo foi a presença de alguns destes terrenos 
ainda vazios. O que nos leva a acenar com algumas hipóteses para a permanente não utilização 
dessas áreas como: a falta de integração da nova avenida com o desenho urbano no entorno 
existente; a especulação dos novos proprietários; as desapropriações decorrentes de outras obras 
de infra-estrutura no seu entorno e a falta de recursos do Estado em ocupar os seus terrenos. 
 
4
 REIS, J.O.(1977) A Guanabara e seus governadores. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Secretaria de 
Planejamento e Coordenação Geral/Riotur 
 
 15 
É importante ressaltar também que, após a identificação dos proprietários dos terrenos, 
constatou-se que alguns dos vazios que margeiam a Avenida Presidente Vargas no trecho 
Campo de Santana - Avenida Passos, pertencentes ao governo estadual, são utilizados como 
estacionamento particular. Isto demonstra o uso do bem público em benefício privado e 
caracteriza uma prática usual ondeé renegada a apropriação social da terra. 
Notificou-se também que muitos dos terrenos mantidos vazios na Avenida Presidente 
Vargas são de propriedade de grandes construtoras. Ora, se o solo urbano tem um valor que se 
expressa através de fatores como localização, infra-estrutura e grau de inter-relação com o 
espaço total da cidade, podemos perceber que a II RA atende a estes condicionantes. No 
entanto, a construtora privada, agente que atua como canal de investimento do capital 
imobiliário de circulação, não se preocupa com todo o potencial edificável que estes terrenos 
apresentam. Isto nos leva a considerar que, desta forma, o capital privado mantém a sua 
dinâmica de acumulação favorecendo a especulação imobiliária. 
Quanto à região da Esplanada de Santo Antônio, verificamos também a existência de 
vazios na área decorrentes do desmonte do morro homônimo e da abertura da Avenida Chile 
quando se criou um novo espaço no centro com visíveis problemas de ocupação até hoje, isto é, 
com um acentuado número de grandes áreas vazias, sem precisão de limites de divisa dos lotes, 
como ficou constatado no levantamento físico. Esta área encontra-se tão excluída do restante da 
malha urbana do centro que é notório seu isolamento. 
Ela é significativa também por agregar um exemplo de parceria de interesses entre poder 
público e capital privado. Trata-se do empreendimento localizado em terreno, até bem pouco 
tempo vazio, na esquina da Avenida Chile com Rua dos Inválidos onde uma legislação 
(específica para uso de garagens) foi legitimada a favor de um determinado empreendimento 
imobiliário. 
Como já foi mencionado, outro ponto de destaque nesta região é a falta de definição nos 
limites de alguns terrenos. É o que se verifica na propriedade da Catedral Metropolitana onde, 
segundo informações do registro de Imóveis e Secretaria Municipal de 
Urbanismo/Superintendência de Fiscalização e Licenciamento, corre processo na justiça sobre a 
sua exata delimitação e, por conta disso, vários projetos de edificação no local foram suspensos 
no seu desenvolvimento. 
Na mesma área (Avenida República do Paraguai) notificou-se a existência de um terreno 
pertencente ao governo federal (Caixa Econômica Federal) que é utilizado como 
estacionamento e teve sua área acrescida com o fechamento de um logradouro público (parte da 
Rua Silva Jardim). Caracteriza-se, neste caso, o poder de ação do Estado através de estratégias 
e/ou comportamentos que vêm a beneficiar áreas de seu interesse. 
Cabe, agora, ressaltar que muitos dos vazios identificados em campo e na pesquisa de 
proprietários, localizados nas áreas das ruas Uruguaiana, Benedito Hipólito, Henrique Valadares 
e do Senado, são resultantes de uma ação direta das obras para a implantação do metrô (no caso, 
a sua Linha 1). Estes terrenos que foram utilizados, quando da execução do projeto, como 
canteiro-de-obra, depósito para materiais, alojamento para operários e instalação de escritórios 
técnicos, pertencem hoje à Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro, em sua maior parte, 
e também à grandes construtoras. 
As condições pelas quais esses lotes continuam vazios devem-se a uma ação especulativa 
do mercado imobiliário e caracteriza-os como reserva de mercado. Esta colocação se afirma 
quando, através da pesquisa de IPTU, verificou-se o alto valor assumido por estes terrenos, 
tanto os de propriedade privada quanto os do governo na figura do Metropolitano. Destaca-se 
também, que no caso de parte dos terrenos da Rua Uruguaiana, exigências técnicas (limite de 
carga sobre as lajes das estações) os mantém vazios. 
Em relação aos vazios concentrados na região do SAARA ou isolados em pequenos lotes 
por toda a II RA, podemos constatar que a maioria foi classificada pela condição de “fachada 
com interior semidestruído” ou “fachada com terreno vazio” devido às seguintes condições: 
imóveis com embargo judicial por falência do comerciante proprietário, má conservação e 
utilização que tem resultado em incêndios devido à depósitos de materiais inflamáveis, 
sobrecarga elétrica, entre outros e, por último, o alto custo para a recuperação de imóveis 
 16 
tombados que exigem materiais e mão-de-obra especializados. Em termos numéricos, estes 
vazios representam 35% do total aferido “in loco”. 
De uma forma geral, estes vazios trabalhados até aqui (sejam os remanescentes da 
abertura da Avenida Presidente Vargas ou do desmonte do Morro de Santo Antônio, sejam os 
mantidos por conseqüência de determinações técnicas do Metropolitano ou os demais 
observados na II RA) todos, em conjunto, sintetizam uma grande contradição no centro da 
cidade do Rio de Janeiro: dinamismo de funções com uma conseqüente ocupação adensada do 
solo em contrapartida com significativos lotes vazios e, inclusive, obsolescência da forma. 
Comprovamos, através da análise funcional da II RA, que o processo de ocupação do seu 
solo se caracteriza com vistas à complementaridade das funções hoje existentes. Nesta ótica, 
capitalista em essência, a verificação dos vazios na área central da cidade, portanto, se não 
chega a “ameaçar” esse objetivo, pelo menos nos parece um contra-senso. Pois, se 
considerarmos que a cidade será tanto mais viável e dinâmica quanto maior for essa 
complementaridade, como se explica o fato de consideráveis vazios, à espera de ocupação 
efetiva, se localizarem exatamente no seu centro gestor do território? 
A compreensão do espaço deve, assim, ser ampliada e percebida como um fator social. A 
cidade se organiza de maneira não aleatória e cuja estrutura sintetiza variados interesses de 
cunho político, econômico, jurídico e também social. Com efeito, entender os vazios 
mencionados significa considerar o contínuo “jogo de cartas” que define o desenho urbano. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
De acordo com Melo5, o período pós-1985, o da redemocratização do país, tem assistido a 
políticas urbanas escassas e bastante setorizadas paralelamente a movimentos que (re) pensam 
“novas maneiras de se promover uma distribuição mais justa dos custos e benefícios da 
urbanização de forma a atenuar os desequilíbrios sociais” . 
Surgiram então várias propostas com a Constituição de 1988 e com a homologação da Lei 
do Estatuto da Cidade, assim, as administrações municipais passaram a contar com uma série de 
instrumentos que permitem a formulação de políticas urbanas voltadas para o bem estar social. 
A discussão avançou na medida em que se precisou o conceito de função social da 
propriedade e vinculou-o às diretrizes do Plano Diretor e também quando se instituiu a 
possibilidade de desapropriação para fim social, entre outros mecanismos desta natureza. 
Em relação ao espaço metropolitano, a Lei do Estatuto da Cidade, pautada pela 
necessidade de descentralização efetiva do poder, reforçou a autonomia municipal. No entanto, 
os planos diretores têm se mostrado, enquanto instrumentos de planejamento, insuficientes para 
a solução dos problemas das grandes cidades sem se vislumbrar, inclusive, alternativas eficazes 
de atuação do poder público frente à especulação do mercado de terras e imóveis. 
O problema fundiário e, conseqüentemente, a questão urbana tem como centro o mercado 
de terras que, por não ser uniforme, “leva” investimentos públicos mal distribuídos e dota de 
infra-estrutura e benfeitorias determinadas áreas que acabam valorizadas em detrimento de 
outras. Estas terras serão mais procuradas e o seu preço, aumentado. Neste contexto, a 
existência de espaços vazios em áreas com serviços e equipamentos urbanos já consolidados nos 
parece mais uma das contradições que se verifica nas atuais cidades capitalistas. 
No caso específico da II RA do Rio de Janeiro, consideramos que o governo (em suas três 
esferas) é o agente imediatamente responsável pela moldagem dos vazios espaciais notificados 
inclusive como criador das condições que “nutrem”o seu mercado especulativo. Pois, a 
incorporação imobiliária, atrelada a fatores básicos como fontes de financiamento e legislação 
urbana que condiciona construções através do Código de Obras, encontra no setor público seu 
parceiro econômico privilegiado(r). Nestes termos, a ineficácia do Estado, em alguns 
momentos, ou a sua omissão, em outros, têm contribuído em muito para a valorização dos 
 
5
 MELO, D.M.(1992) Plano diretor de BH - 1990/2010: velhas propostas com uma nova roupagem. In: Couto, B. et alli (ed.) 
Cidade em plano. Coleção Contexturbano, no 03, Belo Horizonte, Escola Arquitetura/UFMG 
 
 17 
terrenos (mesmo que vazios) e para a dinâmica do mercado de imóveis na II RA. O capital 
privado, ao ritmo dessas estratégias, consegue inclusive o privilégio de influenciar na 
legitimação de normas que favorecem a sua circulação e/ou acumulação. 
Especulando sobre a relação entre as áreas vazias do centro e terrenos ocupados por 
prédios residenciais, podemos levantar a seguinte hipótese: se considerarmos um terreno médio 
padrão (adotado para edifícios residenciais multifamiliares com mais de cinco pavimentos) com 
dimensões de 35 x 22 m (área de 770 m2) e considerarmos ainda que identificamos um total de 
221 edifícios dessa natureza no centro, multiplicando esses dois números,obteremos uma área 
correspondente a 170.170 m2. Isso diz respeito a 55% de toda a área indicada por nós como 
vazios da RA. 
O que queremos, então, dizer com isto? Com metade da área dos terrenos vazios 
detectados, assentaríamos uma população igual à que hoje reside no centro da cidade. É 
oportuno lembrar que o governo detém 56,3% desses vazios conforme o nosso levantamento. 
Longe de querer, com este trabalho, apontar soluções para os problemas da RA e da 
cidade como um todo, fizemos este registro apenas como iniciativa particular diante da 
formação que temos. De fato, no exercício da arquitetura, o lado prático e objetivo nos 
impulsiona a vislumbrar soluções imediatas diante da constatação de determinados problemas. 
No entanto, o novo decreto que permite a construção de residências na RA poderá vir a ser de 
grande importância para o estudo de uma nova dinâmica da região e de relações imediatas com 
os terrenos hoje vazios. Inclusive, somos da idéia de que os desdobramentos desta questão 
merecem ser objetos de análise em futuras pesquisas. No mais, fechemos os parênteses dessa 
discussão e voltemos às considerações específicas sobre os vazios da área central carioca. 
Quanto a legislação atualmente em vigor, devemos observar a sua complexidade 
decorrente da superposição de decretos e normas específicas, isto é, alterações de normas e 
posturas em tempo muito curto e a pontualidade no tratamento quanto ao uso do solo, chegando 
a se criar decretos especiais para um único lote. Desta forma, tem-se um conjunto de leis que na 
verdade dão margens à ambigüidades no seu entendimento e à dificuldade de compreensão dos 
seus objetivos. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ABREU, M.A.(1981) Contribuição ao estudo do papel do Estado na evolução da estrutura 
urbana. Revista Brasileira de Geografia, no 43 (4). Rio de Janeiro. 
CAMPANÁRIO, M.(1984) O mercado de terras e a exclusão social na cidade de São Paulo. 
In: KRISCHNE, P.J. (org.). Terra de habitação, terra de espoliação. São Paulo, Cortez. 
CORRÊA, R.L. (1995) O espaço urbano. Série Princípios, São Paulo, Ática 
HARVEY, D.(1980) A justiça social e a cidade. Trad. de Aramando Correia da Silva. São 
Paulo, Hucitec 
MELO, D.M.(1992) Plano diretor de BH - 1990/2010: velhas propostas com uma nova 
roupagem. In: Couto, B. et alli (ed.) Cidade em plano. Coleção Contexturbano, no 03, Belo 
Horizonte, Escola Arquitetura/UFMG 
REIS, J.O.(1977) A Guanabara e seus governadores. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. 
Rio de Janeiro, Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral/Riotur 
RIBEIRO, M.A.C. & MATTOS, R.B.(1996) Territórios da prostituição nos espaços públicos 
da área central do Rio de Janeiro. In: Território (1) 1, LAGET/UFRJ, Rio de Janeiro, 
Relume-Dumará

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