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Processo Penal - 4

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1 PROCESSO PENAL | 4º Bimestre Rodrigo Miranda 
PROCESSO PENAL 
Teoria Geral dos Recursos 
 
Introdução 
 Recurso é o meio voluntário destinado à impugnação das decisões, afigurando-se como 
instrumento de combate a determinado provimento, dentro da mesma relação jurídica 
processual, possibilitando nova análise de matéria impugnada. 
 
Fundamentos 
A doutrina processual entende que os recursos têm por fundamentos “a necessidade 
psicológica do vencido, a falibilidade humana do julgador e as razões históricas do próprio 
direito. 
Fundamenta-se no princípio do duplo grau de jurisdição, partindo da justificativa de que 
este dá maior certeza na aplicação do direito. 
O princípio do duplo grau de jurisdição é infraconstitucional, ou seja, não está descrito 
na Constituição. Existe também processos penais onde esse duplo grau não existe, tais como os 
de competência originária do STF. 
 
Classificação 
• Quanto à fonte: 
o Recursos constitucionais – com previsão na Constituição Federal (recurso 
extraordinário, recurso especial, recurso ordinário constitucional); 
o Recursos legais – com previsão em Leis e no CPP (apelação, recurso em sentido 
estrito, embargos de declaração, etc.). 
• Quanto à iniciativa: 
o Recursos voluntários – interposição depende da vontade das partes; 
o Recursos obrigatórios (de ofício ou necessários) – não são mais aplicáveis. 
• Motivos: 
o Recursos ordinários – não possuem requisitos específicos (apelação, é 
interposta contra sentença, não importa o motivo); 
o Recursos extraordinários – depende de requisitos específicos (recurso 
extraordinário, é interposto quando há controvérsia quanto ao texto 
constitucional). 
 
Pressupostos recursais 
 Os pressupostos recursais, ou então requisitos para verificar viabilidade para, em uma 
segunda etapa, se examinar o mérito recursal, podem ser divididos em pressupostos objetivos 
e subjetivos; 
 
2 PROCESSO PENAL | 4º Bimestre Rodrigo Miranda 
• Pressupostos objetivos: 
o Previsão legal – atrelado à característica dos recursos conhecida por 
taxatividade, é necessária a autorização pelas leis de processo para se ter como 
cabível algum recurso. As possibilidades de interposição de recursos são 
informadas pelo princípio da unirrecorribilidade das decisões judiciais. As partes 
precisam respeitar o recurso exato indicado na lei para cada tipo de decisão 
impugnada. No entanto, desde que não haja má-fé, o juiz pode receber um 
recurso por outro, nos termos do artigo 579 do Código de Processo Penal, 
obedecendo o princípio da fungibilidade dos recursos. 
 
o Observância das formalidades legais – alguns recursos devem ser interpostos 
exclusivamente por petição, seguida de razões. Outros podem ser apresentados 
não só por petição, como também por termo nos autos, ou seja, oralmente em 
audiência e reduzidos a termo. 
Para que seja recebido e conhecido pela instância ad quem, a forma do recurso 
deve ser aquela prescrita em lei. A impugnação, por exemplo, que não 
obedece a forma de interposição exigida legalmente está sujeita a não ser 
recebida, a ter seu seguimento negado ou não ser conhecida. 
 
o Tempestividade - É verificada com base na disposição que estabelece o prazo 
para a apresentação do recurso a partir da intimação da parte. A regra é que o 
recurso intempestivo tenha seu seguimento obstado pelo órgão recebedor da 
petição recursal. 
 
• Pressupostos subjetivos: 
o Legitimidade – A legitimidade recursal é a pertinência subjetiva que exige a 
sucumbência e a qualidade de parte da relação processual ou autorizativo legal 
para sujeito que não integre essa relação jurídica recorrer (como acontece com 
as previsões de interposição de recursos pelo assistente do Ministério Público). 
De acordo com a súmula 705 do STF, caso o réu manifeste renúncia ao direito 
de apelação sem a assistência de seu defensor, este será legitimado a interpor 
recurso cabível. 
Conforme previsto no artigo 598 do CPP, nos crimes de competência do tribunal 
do júri ou de juiz singular, o ofendido ou qualquer das pessoas elencadas no 
artigo 31 de mesmo código poderão interpor apelação caso o MP não o faça, 
tendo prazo de 15 dias após terminar o prazo do MP. 
O mesmo ocorre nos recursos em sentido estrito nas hipóteses em que a 
decisão reconhecer a extinção da punibilidade 
 
o Interesse – o interesse é medido pela vantagem prática que a parte pode ter 
com o eventual provimento do recurso. Sendo assim, só tem interesse em 
interpor recurso aquele que teve prejuízo com a decisão. 
Ocorre, porém, que o MP, atuando em nome da justiça, poderá interpor recurso 
em favor do réu, desde que tenha convicção de que o mesmo deve ser 
absolvido. O MP só não poderá atuar em favor do réu nas causas de ação penal 
privada. 
 
 
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Reformatio in pejus direta 
 Se só a defesa recorre, tendo a acusação se conformado com o provimento jurisdicional, 
a situação do réu não poderá ser piorada. É o que se chama de proibição da reformatio in pejus 
direta, ou seja, na relação recursal, a situação do réu permanecerá como está, se o recurso foi 
exclusivo da defesa. 
 
Recurso em sentido estrito 
 Costuma-se fazer uma analogia entre o recurso em sentido estrito e o recurso de agravo 
de instrumento. 
O que vai delinear o recurso em sentido estrito é a previsão dos casos de cabimento no 
art. 581, CPP, em rol taxativo, que não admite ampliação sem lei expressa autorizativa. 
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
I - que não receber a denúncia ou a queixa; 
II - que concluir pela incompetência do juízo; 
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; 
IV – que pronunciar o réu; 
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento 
de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em 
flagrante; 
VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008) 
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor; 
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade; 
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da 
punibilidade; 
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus; 
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena; 
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional; 
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; 
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; 
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta; 
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; 
XVII - que decidir sobre a unificação de penas; 
XVIII - que decidir o incidente de falsidade; 
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; 
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra; 
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; 
XXII - que revogar a medida de segurança; 
XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a 
revogação; 
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples. 
 
• I - O recebimento da peça acusatória é irrecorrível, mas o réu pode manejar habeas 
corpus para trancar a ação penal cujo crime comine pena privativa de liberdade ou 
mandado de segurança para o mesmo fim quando o crime não preveja pena de tal 
espécie, quando a demanda for desprovida de justa causa. 
 
4 PROCESSO PENAL |4º Bimestre Rodrigo Miranda 
No procedimento sumaríssimo previsto na Lei 9.099 não cabe recurso em sentido estrito 
em nenhum dos casos, mas apelação. 
 
• II – se a decisão que concluir pela incompetência do juízo for uma sentença, caberá 
APELAÇÃO. 
 
• III - O dispositivo se refere às exceções de incompetência de juízo, de litispendência, de 
ilegitimidade de parte e de coisa julgada. O recurso em sentido estrito é cabível quando 
o juiz julga procedente as exceções, salvo a de suspeição. Realmente, não faria sentido 
a interposição do recurso em sentido estrito contra decisão que julgar procedente a 
exceção de suspeição pois se o próprio juiz está afirmando que é suspeito para julgar 
determinado processo, por motivo de foro íntimo, não cabe à parte exigir que ainda 
assim ele atue no processo. 
 
• IV - A decisão de pronúncia encerra a primeira fase do rito escalonado do júri e dá início 
à segunda etapa. É uma decisão interlocutória mista não terminativa. Já a impronúncia 
encerra o processo, por não ter o juiz se convencido da materialidade do fato ou da 
existência de indícios de autoria ou de participação (at. 414, CPP), sem apreciar o mérito 
da acusação. É uma autêntica decisão terminativa, que não obsta o início de outro 
processo pelo mesmo fato, por denúncia ou queixa-crime, desde que fundado em prova 
nova e enquanto não ocorrer a extinção da punibilidade. Contra a decisão de 
impronúncia então caberá o recurso de apelação. 
 
• V - Com a Lei nº 12.403/2011, é possível que o juiz imponha medida cautelar diversa da 
prisão (art. 319, CPP, de forma cumulativa com a fiança ou sem ela, se não adequada à 
hipótese). Contra a decisão que aplica medida cautelar cumulada com a fiança ou em 
substituição à prisão preventiva, é cabível o recurso em sentido estrito, em 
interpretação extensiva e analógica autorizada pelo art. 3º, do Código. Não há violação 
ao princípio da taxatividade porque ao impor medida cautelar diversa da prisão, o juiz 
estará concedendo liberdade provisória, que poderá ser com fiança ou sem fiança, bem 
como com a cumulação de outras cautelares (art. 319, CPP). 
 
• VII - O quebramento significa a perda da metade do valor prestado a título de fiança, 
com o seu recolhimento ao fundo penitenciário depois de deduzidas as custas, e mais 
encargos a que estiver obrigado o acusado que descumprir qualquer das condições 
impostas. Com o julgamento da quebra da fiança, devolve-se a outra metade do valor 
prestado a esse título à pessoa que a tiver recolhido, cabendo ao juiz decidir sobre a 
imposição de outras medidas cautelares ou, se for o caso, a decretação da prisão 
preventiva, nos termos do art. 343, do CPP, com redação dada pela Lei nº 12.403/2011. 
Já a perda da fiança ocorre se, condenado, o acusado não se apresentar para o início do 
cumprimento da pena definitivamente imposta. Verificada a frustração do início da 
execução da pena, tem lugar a decisão de perda da fiança, a qual também comporta o 
recurso em estudo. 
 
• VIII - Pode advir tanto em relação a todos os crimes de um processo, quanto em face de 
um só dos delitos. Em uma e outra hipótese, o recurso cabível é o stricto sensu do art. 
581, VIII, CPP. 
 
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Reconhecendo a prescrição, normalmente o juiz põe fim a relação processual por meio 
de sentença, declarando extinta a punibilidade. Por esse motivo, o recurso cabível é a 
apelação. 
As decisões que declarem a extinção da punibilidade em processo de execução penal ou 
a prescrição da pretensão executória, são agraváveis (agravo em execução). 
 
• IX – mesmas hipóteses do inciso anterior. 
 
• X - Admite-se, contudo, diante da urgência da tutela em matéria de liberdade de 
locomoção, que seja ajuizado habeas corpus substitutivo contra o ato do juiz que o 
denegou no juízo a quo, com esteio no princípio da celeridade, considerando inclusive 
que o processamento do recurso em sentido estrito pode demorar mais do que o 
ajuizamento de uma nova medida contra o ato do magistrado que passou a ser a 
autoridade coatora. 
 
• XI – regra geral, o juiz de primeiro grau é quem concede a suspensão condicional da 
pena, sendo assim, cabe apelação. Nos casos em que o juiz de primeiro grau não 
conceder a suspensão em sentença e a defesa interpor apelação, sendo então 
reformada pelo tribunal no sentido de conceder essa suspensão, aí sim caberá recurso 
em sentido estrito. 
Se o juiz que conceder, negar ou revogar a suspensão for do processo de execução, 
caberá então agravo a execução. 
 
• XII – o mesmo que vale para o inciso anterior 
 
• XIII – se for por sentença caberá apelação; 
 
• XIV – aqui não cabe mais nenhuma medida; 
 
• XV – denegar está para a não admissibilidade da apelação. Julgar deserta está para 
apelações sem o devido preparo. 
 
• XVI – casos em que se envolve o estado das pessoas e o mesmo precisar ser resolvido 
em vara cível. O processo então ficará suspenso pelo prazo de até um ano para se 
resolver tais questões. 
 
• XVII – aqui caberá agravo em execução. 
 
• XVIII - Julgar o incidente de falsidade documental. Havendo dúvida acerca da falsidade 
de documento carreado aos autos, instaura-se o respectivo incidente. Da decisão 
exarada no procedimento incidental, declarando ou não a falsidade, caberá recuso em 
sentido estrito. 
 
• XIX – decretar medida de segurança após transitar em julgado a sentença. Aqui cabe o 
agravo em execução. 
 
• XX – não se pode combinar uma pena com medida de segurança. 
 
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• XXI – independente se teremos pena ou medida de segurança, o recurso cabível será o 
agravo em execução. 
 
• XXII – nesse caso cabe agravo em execução pois quem revoga é o juiz da execução. 
 
• XXIII – também cabe agravo em execução 
 
• XXIV - Esta hipótese, em verdade, encontra-se revogada pelo art. 51 do CP, já que a 
pena de multa não mais poderá ser convertida em pena privativa de liberdade. 
 
 
Art. 582 - Os recursos serão sempre para o Tribunal de Apelação, salvo nos casos dos ns. V, X 
e XIV. 
Parágrafo único. O recurso, no caso do no XIV, será para o presidente do Tribunal de 
Apelação. 
 
 Questão que envolve fiança dependerá da autoridade que revogou ou arbitrou a fiança. 
 
Art. 583. Subirão nos próprios autos os recursos: 
I - quando interpostos de oficio; 
II - nos casos do art. 581, I, III, IV, VI, VIII e X; 
III - quando o recurso não prejudicar o andamento do processo. 
Parágrafo único. O recurso da pronúncia subirá em traslado, quando, havendo dois ou mais 
réus, qualquer deles se conformar com a decisão ou todos não tiverem sido ainda intimados 
da pronúncia. 
 
 Hoje a impossibilidade de intimação pessoal do réu não inibe mais o prosseguimento. 
 
Art. 584. Os recursos terão efeito suspensivo nos casos de perda da fiança, de concessão de 
livramento condicional e dos ns. XV, XVII e XXIV do art. 581. 
§ 1o Ao recurso interposto de sentença de impronúncia ou no caso do no VIII do art. 581, 
aplicar-se-á o disposto nos arts. 596 e 598. 
§ 2o O recurso da pronúncia suspenderá tão-somente o julgamento. 
§ 3o O recurso do despacho que julgar quebrada a fiança suspenderá unicamente o efeito de 
perda da metade do seu valor. 
 
 
Art. 586. O recurso voluntário poderá ser interposto no prazo de cinco dias. 
Parágrafo único. No caso do art. 581, XIV, o prazo será de vinte dias, contado da data da 
publicação definitiva da lista de jurados. 
 
 Depois da interposição deverá apresentar as razões do recurso.7 PROCESSO PENAL | 4º Bimestre Rodrigo Miranda 
Art. 588. Dentro de dois dias, contados da interposição do recurso, ou do dia em que o 
escrivão, extraído o traslado, o fizer com vista ao recorrente, este oferecerá as razões e, em 
seguida, será aberta vista ao recorrido por igual prazo. 
Parágrafo único. Se o recorrido for o réu, será intimado do prazo na pessoa do defensor. 
 
 
Apelação 
Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: 
I - das sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular; 
II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos 
não previstos no Capítulo anterior; 
III - das decisões do Tribunal do Júri, quando: 
a) ocorrer nulidade posterior à pronúncia; 
b) for a sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa ou à decisão dos jurados; 
c) houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de segurança; 
d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à prova dos autos. 
§ 1o Se a sentença do juiz-presidente for contrária à lei expressa ou divergir das respostas 
dos jurados aos quesitos, o tribunal ad quem fará a devida retificação. 
§ 2o Interposta a apelação com fundamento no no III, c, deste artigo, o tribunal ad quem, se 
Ihe der provimento, retificará a aplicação da pena ou da medida de segurança. 
§ 3o Se a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de 
que a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á 
provimento para sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo 
motivo, segunda apelação. 
§ 4o Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o recurso em sentido estrito, ainda 
que somente de parte da decisão se recorra. 
 
• III – a) mesmo que houver nulidade posterior da pronuncia, o júri será realizado 
normalmente, dando início a segunda fase com prazo para as partes. 
Se a nulidade for absoluta, anula o processo inteiro. 
Se a nulidade for relativa, anula somente aquele ato. 
 
• III – b) aqui o juiz não pode alterar a resposta dos jurados, mas pode realizar um ajuste 
legal 
 
Art. 600. Assinado o termo de apelação, o apelante e, depois dele, o apelado terão o prazo 
de oito dias cada um para oferecer razões, salvo nos processos de contravenção, em que o 
prazo será de três dias. 
§ 1o Se houver assistente, este arrazoará, no prazo de três dias, após o Ministério Público. 
§ 2o Se a ação penal for movida pela parte ofendida, o Ministério Público terá vista dos autos, 
no prazo do parágrafo anterior. 
§ 3o Quando forem dois ou mais os apelantes ou apelados, os prazos serão comuns. 
§ 4o Se o apelante declarar, na petição ou no termo, ao interpor a apelação, que deseja 
arrazoar na superior instância serão os autos remetidos ao tribunal ad quem onde será aberta 
vista às partes, observados os prazos legais, notificadas as partes pela publicação oficial. 
 
 
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Processamento do Recurso em Sentido Estrito e da Apelação no Tribunal 
Art. 609. Os recursos, apelações e embargos serão julgados pelos Tribunais de Justiça, 
câmaras ou turmas criminais, de acordo com a competência estabelecida nas leis de 
organização judiciária. 
Parágrafo único. Quando não for unânime a decisão de segunda instância, desfavorável ao 
réu, admitem-se embargos infringentes e de nulidade, que poderão ser opostos dentro de 10 
(dez) dias, a contar da publicação de acórdão, na forma do art. 613. Se o desacordo for parcial, 
os embargos serão restritos à matéria objeto de divergência. 
 
Art. 610. Nos recursos em sentido estrito, com exceção do de habeas corpus, e nas apelações 
interpostas das sentenças em processo de contravenção ou de crime a que a lei comine pena 
de detenção, os autos irão imediatamente com vista ao procurador-geral pelo prazo de cinco 
dias, e, em seguida, passarão, por igual prazo, ao relator, que pedirá designação de dia para 
o julgamento. 
Parágrafo único. Anunciado o julgamento pelo presidente, e apregoadas as partes, com a 
presença destas ou à sua revelia, o relator fará a exposição do feito e, em seguida, o 
presidente concederá, pelo prazo de 10 (dez) minutos, a palavra aos advogados ou às partes 
que a solicitarem e ao procurador-geral, quando o requerer, por igual prazo. 
 
Art. 613. As apelações interpostas das sentenças proferidas em processos por crime a que a 
lei comine pena de reclusão, deverão ser processadas e julgadas pela forma estabelecida no 
Art. 610, com as seguintes modificações: 
I - exarado o relatório nos autos, passarão estes ao revisor, que terá igual prazo para o exame 
do processo e pedirá designação de dia para o julgamento; 
II - os prazos serão ampliados ao dobro; 
III - o tempo para os debates será de um quarto de hora. 
 
 
Embargos de Declaração e “Embarguinhos” 
Art. 619. Aos acórdãos proferidos pelos Tribunais de Apelação, câmaras ou turmas, poderão 
ser opostos embargos de declaração, no prazo de dois dias contados da sua publicação, 
quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão. 
Art. 620. Os embargos de declaração serão deduzidos em requerimento de que constem os 
pontos em que o acórdão é ambíguo, obscuro, contraditório ou omisso. 
§ 1o O requerimento será apresentado pelo relator e julgado, independentemente de 
revisão, na primeira sessão. 
§ 2o Se não preenchidas as condições enumeradas neste artigo, o relator indeferirá desde 
logo o requerimento. 
 
Art. 382. Qualquer das partes poderá, no prazo de 2 (dois) dias, pedir ao juiz que declare a 
sentença, sempre que nela houver obscuridade, ambigüidade, contradição ou omissão. 
 
 O Código de Processo Penal prevê dois recursos que, em essência, se equivalem. 
 
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O primeiro é conhecido por “embarguinhos”, com previsão no art. 382, CPP, que estatui 
que “qualquer das partes poderá, no prazo de dois dias, pedir ao juiz que declare a sentença, 
sempre que nela houver obscuridade, ambiguidade, contradição ou omissão”. 
O Código não dá a esse pedido o nome de “embargos de declaração”, nem tampouco 
de “embarguinhos”, sendo este nome criação doutrinária e forense para designar os “embargos 
de declaração” opostos perante juiz de primeiro grau, com o fim de diferenciá-los dos 
“embargos de declaração” manejáveis no âmbito dos tribunais. 
O segundo recurso equivale ao primeiro, sendo oponível contra decisões dos tribunais. 
O Código de Processo Penal o trata literalmente como “embargos de declaração”, ao dispor, em 
seu art. 619, que “aos acórdãos proferidos pelos tribunais de apelação, câmaras ou turmas, 
poderão ser opostos embargos de declaração, no prazo de dois dias contado da sua publicação, 
quando houver na sentença ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão”. 
Não obstante a distinção, para o fim de seu estudo, o recurso em tela será considerado 
uniformemente como “embargos de declaração”, por serem idênticos em essência, tratando-se 
de uma forma de impugnação que visa integrar a decisão, a sentença ou o acórdão contra 
omissões, obscuridades, contradições e ambiguidades, cuja competência para exame é do 
próprio órgão prolator do julgado vergastado. 
A doutrina entende que os embargos de declaração em processo penal, diferente do 
processo civil, tem natureza recursal por caber a reapreciação da matéria. 
 
Embargos Infringentes e de Nulidade 
Os embargos infringentes e de nulidade é recurso privativo da defesa, estabelecido no 
art. 609, do CPP. Tais embargos que visam ao reexame de decisões nãounânimes proferidas em 
segunda instância e desfavoráveis ao acusado, a serem apreciados no âmbito do próprio tribunal 
julgador. Tem por fundamento a existência de pelo menos um voto vencido, indicativo de 
possível injustiça do julgamento prejudicial ao réu. 
Embora o nome pareça indicar a existência de dois recursos, os embargos infringentes 
e de nulidade são um único recurso, com dupla possibilidade de manejo, interposto perante 
órgão do mesmo tribunal prolator da decisão. 
Serão denominados embargos de nulidade quando impugnarem a discrepância de 
votação no que concerne à matéria de admissibilidade recursal, ou seja, processual, objetivando 
nulificação do julgamento anterior. 
Poderá ocorrer de os embargos serem, a um só tempo, infringentes e de nulidade, bem 
como ser constatado caso de “desacordo parcial”, quando “os embargos serão restritos à 
matéria objeto de divergência” (art. 609, CPP). 
 
Carta Testemunhável 
Art. 639. Dar-se-á carta testemunhável: 
I - da decisão que denegar o recurso; 
II - da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo ad 
quem. 
 
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Art. 640. A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, 
conforme o caso, nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, 
indicando o requerente as peças do processo que deverão ser trasladadas. 
 
Art. 641. O escrivão, ou o secretário do tribunal, dará recibo da petição à parte e, no prazo 
máximo de cinco dias, no caso de recurso no sentido estrito, ou de sessenta dias, no caso de 
recurso extraordinário, fará entrega da carta, devidamente conferida e concertada. 
 
Art. 642. O escrivão, ou o secretário do tribunal, que se negar a dar o recibo, ou deixar de 
entregar, sob qualquer pretexto, o instrumento, será suspenso por trinta dias. O juiz, ou o 
presidente do Tribunal de Apelação, em face de representação do testemunhante, imporá a 
pena e mandará que seja extraído o instrumento, sob a mesma sanção, pelo substituto do 
escrivão ou do secretário do tribunal. Se o testemunhante não for atendido, poderá reclamar 
ao presidente do tribunal ad quem, que avocará os autos, para o efeito do julgamento do 
recurso e imposição da pena. 
 
Art. 643. Extraído e autuado o instrumento, observar-se-á o disposto nos arts. 588 a 592, no 
caso de recurso em sentido estrito, ou o processo estabelecido para o recurso extraordinário, 
se deste se tratar. 
 
Art. 644. O tribunal, câmara ou turma a que competir o julgamento da carta, se desta tomar 
conhecimento, mandará processar o recurso, ou, se estiver suficientemente instruída, 
decidirá logo, de meritis. 
 
Art. 645. O processo da carta testemunhável na instância superior seguirá o processo do 
recurso denegado. 
 
Art. 646. A carta testemunhável não terá efeito suspensivo. 
 
A carta testemunhável é recurso subsidiário, residual. O seu cabimento depende da 
inexistência de previsão de outro recurso. 
A carta testemunhável é assim cabível: 
1) contra decisão denegatória de recurso cuja competência seja de órgão 
imediatamente superior ao juízo recorrido; ou 
2) contra decisão que impedir o processamento desse recurso que, embora admitido, 
não tenha sido remetido ao tribunal. Dessa forma, o recorrente é a parte prejudicada 
(testemunhante) e o recorrido é o juízo prolator da decisão (testemunhado). 
 
Correição Parcial 
 Não é, propriamente, recurso. Em outras palavras, é uma forma de solicitar a um órgão 
do Poder Judiciário, designado legal ou regimentalmente, para que tome as providências 
necessárias para impedir ou corrigir atos judiciais abusivos, que causem prejuízo a uma ou a 
ambas as partes. 
A competência para seu processamento e julgamento é da câmara, da turma do tribunal, 
da corregedoria de justiça ou de outro órgão, consoante o diploma normativo aplicável. 
 
11 PROCESSO PENAL | 4º Bimestre Rodrigo Miranda 
Os legitimados para sua interposição são o Ministério Público, o querelante, o assistente 
da acusação (não obstante haja divergências, a tendência é a de ser cada vez mais afirmada sua 
legitimidade recursal), o acusado e o seu defensor, sendo aferida a legitimação pela ideia de 
sucumbência, porquanto as partes e os intervenientes no processo penal podem vir a ser 
prejudicados pelo ato judicial que cause inversão tumultuária do processo. 
 
Recurso Ordinário Constitucional – ROC 
O recurso ordinário constitucional destina-se a assegurar, em alguns casos específicos, 
o duplo grau de jurisdição. Algumas decisões não se sujeitam ao regramento normal dos 
recursos em geral, sendo cabível o recurso ordinário para o órgão jurisdicional indicado na 
Constituição. 
 
• Habeas Corpus 
Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de 
sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição 
disciplinar. 
 
o Habeas Corpus Repressivo – cabe quando o direito de locomoção já foi violado. 
o Habeas Corpus Preventivo – cabe quando há hipótese de iminente violação de 
liberdade de locomoção. 
 
Art. 648. A coação considerar-se-á ilegal: 
I - quando não houver justa causa; 
II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei; 
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo; 
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação; 
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei a autoriza; 
VI - quando o processo for manifestamente nulo; 
VII - quando extinta a punibilidade. 
 
Art. 650. Competirá conhecer, originariamente, do pedido de habeas corpus: 
I - ao Supremo Tribunal Federal, nos casos previstos no Art. 101, I, g, da Constituição; 
II - aos Tribunais de Apelação, sempre que os atos de violência ou coação forem atribuídos 
aos governadores ou interventores dos Estados ou Territórios e ao prefeito do Distrito 
Federal, ou a seus secretários, ou aos chefes de Polícia. 
§ 1o A competência do juiz cessará sempre que a violência ou coação provier de autoridade 
judiciária de igual ou superior jurisdição. 
§ 2o Não cabe o habeas corpus contra a prisão administrativa, atual ou iminente, dos 
responsáveis por dinheiro ou valor pertencente à Fazenda Pública, alcançados ou omissos em 
fazer o seu recolhimento nos prazos legais, salvo se o pedido for acompanhado de prova de 
quitação ou de depósito do alcance verificado, ou se a prisão exceder o prazo legal. 
 
 
 
12 PROCESSO PENAL | 4º Bimestre Rodrigo Miranda 
 São partes: 
o Impetrante – quem entra com o pedido, normalmente o advogado. 
o Paciente – pessoa que sofre ou está na iminência de sofrer violência ou coação 
ilegal da liberdade. 
o Autoridade Coatora – deve estar individualizada 
 
Competência é da autoridade imediatamente superior a que deu a ordem de prisão 
ilegal. 
 
Ação Impugnativa – Revisão 
 No processo civil só caberá revisão pró réu. 
Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida: 
I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à evidência 
dos autos; 
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos 
comprovadamente falsos; 
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de 
circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena. 
 
Art. 630. O tribunal, se o interessado o requerer, poderá reconhecer o direito a uma justa 
indenização pelos prejuízos sofridos. 
§ 1o Por essa indenização, que será liquidada no juízo cível, responderá a União, se a 
condenação tiver sidoproferida pela justiça do Distrito Federal ou de Território, ou o Estado, 
se o tiver sido pela respectiva justiça. 
§ 2o A indenização não será devida: 
a) se o erro ou a injustiça da condenação proceder de ato ou falta imputável ao próprio 
impetrante, como a confissão ou a ocultação de prova em seu poder; 
b) se a acusação houver sido meramente privada. 
 
 
Nulidades 
 Nulidade é uma sanção que decorre da pratica de uma um ato viciado, sendo esse ato 
passível de punição. 
 
Art. 564. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: 
I - por incompetência, suspeição ou suborno do juiz; 
II - por ilegitimidade de parte; 
III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: 
a) a denúncia ou a queixa e a representação e, nos processos de contravenções penais, a 
portaria ou o auto de prisão em flagrante; 
b) o exame do corpo de delito nos crimes que deixam vestígios, ressalvado o disposto no Art. 
167; 
 
13 PROCESSO PENAL | 4º Bimestre Rodrigo Miranda 
c) a nomeação de defensor ao réu presente, que o não tiver, ou ao ausente, e de curador ao 
menor de 21 anos; 
d) a intervenção do Ministério Público em todos os termos da ação por ele intentada e nos da 
intentada pela parte ofendida, quando se tratar de crime de ação pública; 
e) a citação do réu para ver-se processar, o seu interrogatório, quando presente, e os prazos 
concedidos à acusação e à defesa; 
f) a sentença de pronúncia, o libelo e a entrega da respectiva cópia, com o rol de testemunhas, 
nos processos perante o Tribunal do Júri; 
g) a intimação do réu para a sessão de julgamento, pelo Tribunal do Júri, quando a lei não 
permitir o julgamento à revelia; 
h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos 
estabelecidos pela lei; 
i) a presença pelo menos de 15 jurados para a constituição do júri; 
j) o sorteio dos jurados do conselho de sentença em número legal e sua incomunicabilidade; 
k) os quesitos e as respectivas respostas; 
l) a acusação e a defesa, na sessão de julgamento; 
m) a sentença; 
n) o recurso de oficio, nos casos em que a lei o tenha estabelecido; 
o) a intimação, nas condições estabelecidas pela lei, para ciência de sentenças e despachos 
de que caiba recurso; 
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quorum legal para o 
julgamento; 
IV - por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato. 
Parágrafo único. Ocorrerá ainda a nulidade, por deficiência dos quesitos ou das suas 
respostas, e contradição entre estas. 
 
 Trata-se de um rol exemplificativo das nulidades processuais penais. 
• Nulidade absoluta: constitui afronta ao texto constitucional. Não é possível de se 
corrigir e o juiz poderá declarar de ofício a qualquer momento e qualquer grau de 
jurisdição 
 
• Nulidade relativa: atos quase sempre procedimentais, realizados com violação a texto 
de lei processual penal. Deve ser alegada na primeira oportunidade que tiver para se 
manifestar nos autos, precluindo se assim não o fizer. 
 
• Súmula 523 STF: “No processo penal, a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas 
a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.”

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