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Filosofia do Direito x Ciência - Norberto Bobbio

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DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA 
DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA*
Norberto Bobbio
Tradução: Jonathan Hernandes Marcantonio 
João Ibaixe Jr.
1. Nosso modo de conceber a filosofia do direito é dife-
rente do modo tradicional e convencional. Para nós, a filosofia 
do direito apresenta-se, sobretudo, sob duas formas: como 
ideologia jurídica, isto é, como posição de valores ideais (em 
particular o valor da justiça) baseados nos quais aprova-
mos e condenamos as ações dos homens e as leis mesmas 
que os governam; e como metodologia jurídica, isto é, como 
crítica do conhecimento jurídico. Pode-se dizer com outras 
palavras que a filosofia do direito coloca-nos exclusivamente 
dois problemas: o problema axiológico (o problema do valor) 
e o problema crítico (o problema do método científico), porém 
acrescentando uma advertência de que os dois problemas 
derivam de uma única e fundamental atitude diante da rea-
lidade, tanto é verdadeiro que o problema axiológico implica 
uma crítica (crítica do agir) e o problema crítico implica uma 
axiologia (isto é, uma doutrina do critério de verdade).
* Tradução do italiano, do Capítulo I, intitulado Filosofia del Diritto e 
Scienza Giuridica, da obra Teoria della Scienza Jurídica, de G. Giappi-
chelli, Turim, 1948. 
** Doutor e mestre em Filosofia do Direito e do Estado pela PUC-SP. Pesqui-
sador do Grupo de Estudos em Direito, Análise Informação e Sistemas da 
PUC-SP. Pesquisador convidado do Instituto de Filosofia da Universidade 
Livre de Berlim (Alemanha). Professor universitário.
*** Mestre em Filosofia do Direito pela PUC-SP. Advogado e professor uni-
versitário.
REVISTA DO CURSO DE DIREITO
296 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
Existem, naturalmente, muitos outros modos de conceber 
a natureza e a competência da filosofia do direito. Há os que 
negam a existência de qualquer que seja a filosofia do direito 
(por exemplo, os positivistas do século passado que identifica-
vam a filosofia do direito, de tempos em tempos, com a teoria 
geral do direito ou com a sociologia), ou os que lhe negavam 
a autonomia (por exemplo, Croce, que reduziu a filosofia do 
direito à filosofia da economia). A doutrina dominante, ao 
contrário, que teve aqui na Itália o apoio de alguns entre os 
mais autorizados estudiosos de nossa matéria, como Icilio 
Vanni (positivismo crítico), Giorgio del Vecchio (neokantismo), 
Adolfo Ravà (idealismo), está propensa a dividir o estudo da 
filosofia do direito em três partes e a atribuir-lhe, portanto, 
três competências: a competência lógica ou ontológica (que 
consiste na pesquisa do conceito do direito ou daquilo que 
é o direito); a competência deontológica (que consiste na 
pesquisa do fundamento do direito, ou daquilo que o direito 
deve ser); a competência fenomenológica (ou pesquisa das 
leis constantes que conduzem ao desenvolvimento histórico 
do direito, ou do direito na sua formação).
Fazendo um rápido confronto com a posição por nós as-
sumida, vem-nos de repente observar que a tripartição acima 
referida não conhece o problema metodológico (que de fato 
foi por eles mais negligenciado, do que deriva a necessidade 
de colocá-lo novamente sob a atenção seja dos filósofos, seja 
dos juristas, e é isto que desejamos exatamente mostrar nes-
te curso); mas enquanto excluído o problema metodológico, 
atribui-se à filosofia do direito duas competências que não 
lhe reconhecemos: a competência ontológica e a competência 
fenomenológica. Assim é que o único ponto em comum entre 
a nossa posição e a denominada doutrina das competências 
é a consideração da competência deontológica que coincide 
com nossa teoria da justiça.
2. A exclusão das competências ontológica e fenome-
nológica do campo da filosofia do direito não significa, 
naturalmente, que o estudioso do direito possa prescindir 
do estudo do conceito de direito (competência ontológica) e 
da pesquisa das leis constantes da formação jurídica (com-
petência fenomenológica); significa somente que estes dois 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
problemas não são para nós problemas filosóficos, ao con-
trário, são problemas científicos, que fazem parte, portanto, 
não da filosofia do direito, mas da ciência jurídica em seu 
significado mais amplo.
O problema do conceito do direito (que consiste em dizer 
o que o direito é) distinto do problema do valor do correto 
(que consiste em dizer que coisa o direito deve ser) é empírico; 
e como tal (segundo o que veremos melhor adiante quando 
falaremos da natureza da ciência) é um problema científico. 
Trata-se de estabelecer, não aquilo que é idealmente justo, 
mas aquilo que é de fato, na realidade, jurídico, e que não 
se pode fazer a não ser baseando-se na experiência jurídica, 
isto é, sopram os direitos efetivamente (se não atualmente) 
vigentes, ou direitos históricos (para estudar-se, portanto, 
não metafisicamente, mas historicamente). Posso dizer, como 
exemplo, que o direito é norma ou, mais precisamente, uma 
espécie particular de norma (a provida de sanção): e com a 
qual distingo a norma jurídica das normas morais, religiosas, 
sociais etc. Posso ainda dizer que o direito é instituição, e 
mais precisamente, uma espécie particular de instituição (a 
instituição organizada que implica uma autoridade e uma dis-
tribuição das funções de seus membros), e com isto distingo 
a sociedade jurídica, por exemplo, da comunidade espiritual 
etc. Posso, além disso, dizer que o direito é relação, e mais 
precisamente uma espécie particular de relação (a relação in-
tersubjetiva recíproca): e, além disso, distingo a relação jurídica 
da relação econômica, da relação moral etc. Todas essas três 
formulações do conceito de direito – o direito como norma, o 
direito como instituição, o direito como relação – às quais se 
pode reconduzir as principais teorias sustentadas em ordem 
com o problema, assim dito, ontológico do direito, derivam do 
estudo da experiência jurídica, isto é, da pesquisa daquilo que 
é historicamente dado como direito: são, em outras palavras, 
generalizações da experiência jurídica, e não são, de fato, cons-
truções filosóficas, ou princípios deduzidos especulativamente 
de qualquer concessão total da realidade.
Como problema empírico, o problema do conceito do di-
reito não pertence à filosofia porque não se pode diferenciar, 
de modo algum, qualquer outro problema científico. O estudo 
do conceito do direito pertence, portanto, a uma disciplina 
• 297
REVISTA DO CURSO DE DIREITO
298 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
diferente da filosofia e que os juristas chamam de teoria geral 
do direito. O que se deve entender por teoria geral do direito 
será visto em seguida. 
Aqui nos limitamos a observar que o problema discu-
tido pela filosofia do direito na parte dedicada ao exercício 
ontológico do direito é, na realidade, aquele que os juristas 
chamam de fato de teoria geral do direito: e são os proble-
mas da norma jurídica, dos princípios da norma jurídica, da 
pesquisa jurídica, dos temas e do objetivo da norma jurídica, 
e assim por diante.
Como na prática não vemos nenhuma diferença entre 
os problemas tratados pelo filósofo do direito quando fala do 
mencionado exercício ontológico e aquele tratado pelo jurista 
quando fala da teoria geral do direito, não vemos necessidade 
de atribuir à filosofia uma tarefa que cabe por direito à ciência 
jurídica e que é desenvolvida quase sempre pelos juristas.
Com isso, sustentamos a redução do método ontológico 
da filosofia do direito à teoria geral do direito.
3. Também o exercício fenomenológico não pertence, 
como pensamos, à filosofia do direito, porque a pesquisa queisso envolve é empírica e, portanto, científica.
O exercício fenomenológico da filosofia do direito chama-se 
estudo das leis invariáveis que regulam a evolução do direito. 
É, em outras palavras, a filosofia da história do direito, isto 
é, a filosofia da história aplicada em particular ao estudo da 
história jurídica: e, de fato, por filosofia da história se entende 
o estudo das leis presumivelmente universais que regem o devir 
da história, e com base nas quais, portanto, seria capaz ainda, 
quando estas leis pudessem ser determinadas com exatidão, 
prever o futuro da história humana. É considerada, por exem-
plo, uma lei típica da história jurídica a assim conhecida “lei 
do Maine”, segundo a qual a evolução do direito passaria ne-
cessariamente, e, portanto, em todo sistema jurídico privativo, 
da fase da agregação necessária, ou regime de “status”, para 
a fase de associação voluntária, ou regime de “contrato”.
Identificado o exercício fenomenológico com a filosofia da 
história jurídica, o problema pode ser colocado nos seguintes 
termos: é possível, e dentro de que limite é possível, a filoso-
fia da história em geral e aquela do direito em particular? O 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
problema é colocado agora de várias maneiras e resolvido na 
maior parte dos casos de modo desfavorável para a filosofia 
da história. Não podendo aqui nos deter minuciosamente 
sobre este problema (limitamo-nos apenas a recordar que a 
filosofia da história tem sido uma das bestas negras da Cruz 
que foi repetida e resolutamente combatida), basta dizer 
que a conclusão comumente alcançada nesta matéria é que 
a filosofia da história ou não é possível como tal ou não é 
totalmente uma filosofia.
Aqueles que sustentam que a filosofia da história não é 
possível como tal baseiam-se no argumento fundamental de 
que a história do homem, à diferença da evolução mecanicista 
determinada da natureza, pertence ao reino da liberdade e 
que, portanto, não é possível, como é ao contrário possível 
pelo estudo da natureza, estabelecer leis universais da his-
tória humana, do momento em que todo evento histórico, 
sendo a demonstração da livre decisão do homem sozinho, 
individualmente empenhado naquela situação particular e 
responsável por sua decisão, de qualquer modo é imprevisí-
vel, e, portanto, não sujeito a um esquema pressuposto. Esta 
tese foi reforçada pelo fato de que, ainda no campo da ciência 
natural, veio sempre mais esclarecendo que, pelo menos no 
mundo microscópico, cai toda possibilidade de estabelecer leis 
universais e necessárias e é preciso contentar-se com leis pu-
ramente estatísticas ou de meros índices de probabilidade.
Negada, assim, a possibilidade de uma ciência universal 
dos fatos históricos, de uma espécie de sistema racional e 
absoluto da história humana, ficamos limitados ao campo 
da filosofia da história, por assim dizer, para constatação 
e pesquisa do contínuo empirismo do processo histórico, 
vale dizer, aquela generalização que, derivada da observação 
empírica, não tem nenhuma pretensão de universalidade, 
mas tem valor puramente classificatório ou indicativo de 
uma tendência, sem que esta “indicação” pretenda ter valor 
de regra absoluta, e, portanto, não deva ser continuamente 
submetida à avaliação das novas observações empíricas que 
possamos, assim, confirmar, mas também modificar ou eli-
minar. Mas a filosofia da história, uma vez reduzida a esta 
função puramente generalizada, não é mais uma filosofia, 
no sentido tradicional da palavra, mas uma ciência empíri-
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
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ca, não diferente da ciência da natureza, se não pelo objeto 
que é constituído pelos fenômenos naturais e, além, pelos 
eventos históricos.
Mais precisamente, a ciência empírica que estuda na-
turalisticamente (isto é, com método próprio da ciência na-
tural) a experiência histórica vem até nós pouco a pouco e 
sempre mais bem figurado como sociologia, ou pelo menos 
como ciência da sociedade que renunciou a qualquer pre-
tensão filosófica e se limita a ser uma pesquisa, fundada na 
observação empírica das leis constantes com base na qual 
se forma, se desenvolve e declina a sociedade humana. A 
filosofia da história confluiu, assim, para a sociologia e por 
essa razão, enquanto a filosofia da história como filosofia 
é agora extinta e sobrevive somente nos cantos mortos da 
filosofia contemporânea (lá onde se encontram os pseudo-
profetas, os vaticinadores das catástrofes, toda a multidão 
dos pseudofilósofos), a sociologia como ciência empírica dos 
fatos históricos ocupou seu posto e se desenvolve sempre 
mais alargando e aperfeiçoando seus próprios métodos de 
pesquisa.
Retornando ao exercício fenomenológico da filosofia do 
direito, amparados no verdadeiro direito, depois do que se 
constatou acerca da redução da filosofia da história a socio-
logia, que este exercício não tinha nada o que fazer com a 
filosofia do direito, mas seja no mínimo uma parte daquela 
peculiar forma de sociologia que se chama sociologia jurídica. 
A sociologia jurídica é uma pesquisa empírica que trabalha 
com método naturalístico, e tem o método geral de estudar 
as relações entre direito e sociedade, e, como consequência, 
fixar quais são as leis constantes e puramente tendenciosas, 
com base nas quais se evolui a sociedade jurídica. Não há, 
então, problema do assim chamado “método fenomenológico” 
da filosofia do direito que – uma vez negada a possibilida-
de de uma filosofia da história como filosofia – não possa 
entrar novamente na pesquisa a que se dedica a sociologia 
jurídica. Acrescentamos que somente nesta inserção na so-
ciologia jurídica, que se vale de todas as investigações, as 
descobertas, os conceitos gerais da sociologia em geral, o 
assim conhecido “método fenomenológico”, pode haver um 
desenvolvimento adequado, aquele desenvolvimento que até 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
o momento, ligado como estava à filosofia do direito, não 
pode, ao menos na Itália, se desenvolver1.
4. Vamos retomar: daquilo que dissemos anteriormente 
resulta para nós a necessidade de distinguir exatamente a 
filosofia da ciência e dar à filosofia só o que for dela, e à 
ciência aquilo que lhe é próprio. Fazendo esta distinção, a 
cada minuto nós distinguimos delas três métodos da filoso-
fia do direito, porque dois desses métodos nos são revelados 
como métodos próprios de pesquisa tipicamente científica 
Portanto, a filosofia do direito se caracteriza como tal, isto é, 
como teoria da justiça – por seu método deontológico – como 
aquela doutrina que investiga e atribui valor de base, com o 
qual infere todos os atos pertencentes à experiência jurídica. 
E ao lado da teoria da justiça, tem-se como pesquisa empíri-
ca, vale dizer científica, a teoria geral do direito (que absorve 
1 Na Itália não há um conhecimento geral atualizado de sociologia jurídi-
ca. Os conhecimentos do assim chamado “método fenomenológico” que 
encontramos nos tratados de filosofia do direito não são suficientes, e 
devemos acrescentar, nem mesmo atualizações. A sociologia jurídica está 
atualmente em pleno desenvolvimento nos países anglo-saxões; pode-se 
observar que neste caso este desenvolvimento está arriscado a tornar-se 
hipertrófico, porque a sociologia jurídica está para absorver tanto a filosofia 
do direito quanto a mesma ciência do direito. O primeiro e ainda hoje mais 
importante conhecimento da sociologia jurídica não é mais americano nem 
inglês, mas alemão. É a obra de Eugen Ehrlich, Grundlegung der Soziolo-gie des Rechts, 1912, hoje largamente difundida nos países anglo-saxões 
por meio de uma tradução inglesa de 1936. Ocorre ainda que o principal 
filósofo do direito americano ainda vivo, Roscoe Pound, é essencialmente 
um filósofo do direito, e em 1911, num artigo intitulado Scope and purpose 
of sociological jurisprudence, confirmava os direitos e apontava a impor-
tância da sociologia jurídica; quando grande parte das escolas jurídicas 
americanas que se referem direta ou indiretamente a Pound são escolas 
de orientação claramente sociológica. Entre os mais notáveis sociólogos 
do direito vivos é necessário lembrar Georges Gurvitch, de origem russa, 
emigrado na França depois da revolução, e nos Estados Unidos durante a 
última guerra. Precisamente neste último país publicou, em 1947, Sociology 
of law, que retrata em grande parte a resolução sistemática da extensa 
pesquisa histórica e teórica conduzida em torno do problema da origem 
social do direito, das relações entre direito e sociedade e das várias formas 
de sociedade jurídica.
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
302 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
o método ontológico) e a sociologia jurídica (que absorve o 
método fenomenológico)2.
Com o intuito de esquematizar (mas ao mesmo tempo cha-
mar novamente a atenção sobre o perigo de se manter preso 
exclusivamente aos esquemas), podemos dizer que a teoria da 
justiça determina os fins aos quais a sociedade humana deve 
estar inspirada. A sociologia jurídica, por sua vez, indica os 
meios que devem ser utilizados para adequar-se melhor a esses 
fins, e, por fim, a teoria geral do direito visa estabelecer a forma 
como esses meios devem ser utilizados para que seja possível 
alcançar tal fim valorativo. Podemos dizer, de outro modo, que 
perante um determinado ordenamento jurídico podemos assu-
mir três perspectivas intelectuais diversas: ou o estudamos a 
partir de sua formação e de sua evolução (sociologia jurídica), 
ou o consideramos a partir de sua estrutura formal (teoria 
geral do direito) ou, ainda, o avaliamos, cotejando-o com um 
determinado valor que colocamos como critério ideal, colocando, 
em seguida, uma base para sua transformação se acreditar-
mos que ele não corresponde ao modelo ideal adotado (teoria 
da justiça). Em todas as perspectivas fica evidente que existe 
essencial diferença entre a postura da mentalidade própria da
2 Esta distinção entre teoria da justiça, de um lado, e sociologia jurídica e 
teoria geral do direito, de outro, traz uma correspondência quase perfeita 
nas ideias sustentadas recentemente por um jurista inglês, Julius Stone, 
o qual, em uma volumosa obra (de cerca de mil páginas) dedicada ao 
estudo geral do direito, intitulada The province and function of law, Sid-
ney, 1946, sustenta que o estudo introdutório do direito (que nos países 
anglo-saxônicos se chama jurisprudência) deve ser constituído das três 
partes seguintes: 1) jurisprudência analítica (que corresponde à nossa 
teoria geral do direito); 2) jurisprudência crítica (que corresponde à nossa 
teoria da justiça); 3) jurisprudência sociológica (que corresponde à nossa 
sociologia jurídica). À parte o nome impróprio de “jurisprudência” dado a 
todas as três partes, o material de investigações e o modo de distribuí-
lo são idênticos àqueles que apresentamos no texto. Trata-se, por outro 
lado, de mais que uma voz isolada de uma tendência da filosofia do direito 
nos países anglo-saxônicos, como pode resultar pela leitura da obra de 
W. Friedmann, Legal theory, Londres, 2. ed., 1949, na qual se aceita a 
mesma divisão. Para maior esclarecimento, ver meu artigo: Interpretazioni 
anglosassoni della filosofia del diritto, in Riv. int. fil. dir, 1950, fasc. I.
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
teoria da justiça e aquela da teoria geral do direito e da so-
ciologia. Acima de tudo, esta última abordagem é logicamente 
dependente da primeira: a determinação do fim, na verdade, 
é o pressuposto necessário para uma pesquisa que aborde os 
meios e a forma; não faz sentido buscar os meios e estabele-
cer a forma para alcançar o fim se não houver a determinação 
acerca de qual fim se trata. De outro modo, até ao examinar o 
ordenamento jurídico em sua formação ou em sua estrutura, 
não se identifica a realidade por meio de identificação de um 
de seus aspectos característicos, o que não resulta, de modo 
algum, de uma identificação pela experiência. Somente quando 
submeto o ordenamento jurídico a uma valoração, por inter-
médio da teoria da justiça, coloco-me diante da realidade por 
criticá-la, e, no limite da possibilidade humana, por transformá-
la. Esta diferença essencial entre a teoria da justiça e as outras 
duas abordagens, comumente atribuídas à filosofia do direito, 
reconduz-nos à diferença entre filosofia e ciência, isto é, ao 
fato de que somente a primeira é verdadeiramente filosófica, 
enquanto as outras duas são abordagens científicas.
Quando da pergunta sobre a diferença que fazemos 
entre a filosofia, de um lado, e a ciência em particular, do 
outro, limitar-nos-emos a dizer, para não ter que recordar 
coisas ditas de forma mais aprofundada em outro curso, 
que a ciência em particular se reduz à tomada de posse 
ante a realidade, enquanto a filosofia consiste na tomada de 
posição ante a realidade, justamente como já se afirmou na 
Introdução deste livro. Aplicando esta distinção na esfera 
do Direito, certamente a ciência jurídica (incluindo todas as 
espécies desta ciência, como a sociologia jurídica e a teoria 
geral do direito) nos aparece como investigação destinada a 
garantir que haja uma dependência do homem de uma pa-
dronização teórica da realidade jurídica, enquanto a filosofia 
do direito, como teoria da justiça, assume posição diante de 
uma determinada realidade jurídica, por aprová-la como justa 
ou por condená-la como injusta. O jurista, em suma, está 
dentro da realidade jurídica e a aceita da forma como ela se 
manifesta: e ai dele se não a aceitasse! Todo o seu sistema 
lógico-científico ruiria, sendo privado de sentido. O filósofo 
do direito, ao contrário, coloca-se acima da realidade jurí-
dica e, guiado por uma determinada concepção do mundo, 
• 303
REVISTA DO CURSO DE DIREITO
304 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
que particularmente na zona relativa ao direito apresenta-se 
como ideal da justiça (ideologia política), decide, com base na 
comparação que faz do direito com seu modelo ideal, se deve 
aceitá-lo ou não. E se não o aceitar, não lhe restará outra 
coisa a fazer, se quiser ser coerente com suas ideias, a não 
ser propiciar sua transformação.
5. Dizer que filosofia e ciência são distintas não significa 
que devamos escolher entre uma das duas, como infelizmen-
te acontece, e com bastante frequência, seja por culpa dos 
filósofos, seja por culpa dos cientistas. É uma problemática 
da qual muito se tem escrito e polemizado, e à qual ainda 
vale a pena se ater. É fato que cientistas e filósofos habitu-
almente fazem cada um seu próprio caminho, um ignorando 
o do outro. E, quando encontram é somente para mostrar 
um desprezo recíproco. Para os cientistas, os filósofos são 
“apanhadores de nuvens”. Para os filósofos, os cientistas são 
uma espécie de verme que rasteja na terra e nunca levanta 
os olhos para o céu para olhar a luz.
Esta situação tornou-se bastante aguda na Itália, onde 
as últimas correntes de filosofia que tinham tido alguma res-
sonância, como o idealismo e o existencialismo, mostraram 
ser filosofias totalmente desprovidas de interesse científico 
e, portanto, como consequência, contribuíram para expan-
dir o sulcoque já separava por si naturalmente os filósofos 
dos cientistas. Sem mencionar que a Itália, por sua tradição 
filosófica, é um terreno fértil para toda filosofia do tipo me-
tafísico; diferentemente dos países anglo-saxões (onde flo-
resceram as tradições empiristas), aqui, na Itália, a filosofia 
anticientífica engendrou-se com grande rapidez e fragor.
Pode-se dizer, grosso modo, que há duas grandes tra-
dições filosóficas: uma de tipo humanístico e outra de tipo 
científico. Para a primeira, o filósofo é antes de tudo um hu-
manista, para a segunda, em vez disso, é um cientista. A con-
cepção humanista inclina-se à retórica, enquanto a científica 
quer manter-se no terreno da realidade e não compreender 
erroneamente os fatos pelo uso de belas palavras. A filosofia 
acadêmica – sobretudo depois da decadência do positivismo 
(que por seu turno não teve grande repercussão na Itália) – é 
de um modo geral uma filosofia do tipo humanista: ignora a 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
ciência e se compreende por sua vez ignorada pela ciência. 
Não seria de grande peso se a filosofia se limitasse apenas 
a ignorar a ciência; mas, o que é pior, é que a filosofia, ao 
ignorar a ciência e considerá-la independente da filosofia, pre-
tende prescrever padrões de desenvolvimento e determinar-lhe 
seu fim. E é por isso que entre a filosofia acadêmica oficial, a 
filosofia assim chamada de cátedra, e a ciência particular não 
há boas relações. Não há nada mais irritante do que receber 
sermões de quem não faz nada para compreender.
Contra a filosofia do tipo humanístico no caso, neste cur-
so, se defende o objetivo da filosofia do tipo científico. Nossa 
tese é, em poucas palavras, esta: enquanto a ciência pode 
fazer pouco da filosofia, a filosofia não pode fazer pouco da 
ciência. Que a ciência possa fazer pouco da filosofia significa 
simplesmente que o cientista, para fazer suas descobertas, não 
tem necessidade de ter alcançado o conhecimento filosófico 
que lhe permita assumir uma determinada postura perante a 
realidade que ele investiga. O cientista toma posse da realida-
de por intermédio de uma série de expedientes operacionais 
e intelectuais que constituem o método científico: não há 
necessidade de outro além de um método sempre mais bem 
aperfeiçoável. Mas o método, como constantemente é claro 
para qualquer um, é construído pelo próprio cientista. Não 
creio que seja muito difícil admitir que o grande progresso 
da ciência foi alcançado pelos cientistas, fazendo-o somente 
pela ciência (isto é, da rigorosa e controlada pesquisa) e sem 
recorrer a nenhum subsídio da filosofia. Ao contrário, pode-se 
dizer mais: o cientista obteve todos os seus resultados apesar 
da filosofia, a qual se foi cristalizando em uma determinada 
concepção que se pretende absoluta e universal e, como tal, 
definitiva e, portanto, imutável. Alguns resultados da ciência 
são normalmente obstruídos pela filosofia, e se não obstruídos, 
no mínimo trazem mais dificuldade ao posterior progresso do 
saber científico. Entendemos que o cientista pode fazer pouco 
da filosofia somente quando faz dela ciência; muito frequente-
mente, ao contrário, o cientista, como é notório, quer fazer da 
filosofia, assim, uma propiciadora de uma escalada das noções 
científicas em uma visão mais ampla da realidade. Neste caso, 
a ciência, é óbvio, não mais o ajuda; e lhe é necessária a fi-
losofia. Mas é, sobretudo, óbvio que no caso de a ciência não 
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
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mais o ajudar e lhe ser necessária a filosofia, ele deixará de 
ser cientista por ser alçado além dos limites da ciência.
Se a ciência pode fazer pouco da filosofia (pelo menos, até 
os limites da ciência), não é, por outro lado, verdade, segundo 
nosso pensamento, que a filosofia possa fazer pouco da ciência. 
Se não faz pouco, se se crê no poder de fazer pouco, como 
acontece no caso da filosofia humanística, arrisca tornar-se 
uma filosofia estéril e vazia, vagamente consoladora e não 
concretamente reformadora. A esta afirmação se conduz a 
extensa distinção entre filosofia e ciência feita por nós: se a 
ciência é ter sob posse e a filosofia é assumir um posicionamen-
to, não posso pensar em assumir um posicionamento que não 
se baseie na posse de algo. Se se escolhe uma posição perante 
uma realidade qualquer sem conhecê-la, isto é, sem saber dela 
tudo o que o conhecimento científico me permite saber, meu 
posicionamento passa a ser arbitrário, e, portanto, ineficaz, 
subjetivo e sem qualquer alinhamento com os demais.
Naturalmente se pode sustentar que a filosofia não precisa 
da ciência porque chega à realidade por um caminho diferente 
do percurso da ciência, um caminho muito mais seguro e mais 
certeiro e que conduz diretamente à verdade substancial sem 
necessidade de passar pelo esclarecimento disponibilizado 
pelo mundo fenomênico, somente acessível à ciência. Mas, 
para aqueles que sustentam tal tese – e é a tese pela qual se 
defende a filosofia anticientífica –, pode-se responder que o 
caminho trilhado por ela, ao contrário do caminho científico, 
provou bons resultados. Se esta prova não nos fosse dada, não 
teríamos razão para duvidar que há outro caminho de acesso 
à realidade diferente daquele dado pela experiência, que é, a 
princípio, o caminho percorrido pelo conhecimento científico.
De resto, nenhuma das vias filosóficas tentadas pela me-
tafísica ao longo do tempo baseou-se em ciência, mas se reduz 
à grande via da intuição, que se apresenta ora como evidência 
ora como verdadeira e própria apreensão direta e imediata da 
realidade em contraposição à compreensão mediata da ciência 
baseada na observação controlada. Toda a história da filosofia 
sabe da contraposição entre a filosofia intuitiva e a filosofia 
positiva: a característica de qualquer filosofia intuitiva, in-
clusive aquelas mais recentes, de Bergson e de Husserl, é a 
atitude polêmica contra a ciência, considerando-a uma forma 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
de conhecimento inferior ou deteriorado. Ora, sem se deixar 
envolver pelas críticas intuitivistas, as quais se apresentam 
muito distantes (e foram apresentadas no curso anterior), 
limitamo-nos a dizer que a intuição não tem outra garantia de 
sua própria validade que não ela mesma: o critério de verdade 
da intuição é a própria intuição. O que acontece, então, se a 
minha intuição for diferente da sua? Serão as duas válidas? 
É isto que conduz ao pluralismo subjetivista. Somente uma é 
válida? Mas qual? Qual é o critério que embasa minha decisão, 
no que diz respeito a qual das duas é válida? Quando adoto 
como critério uma terceira intuição, não soluciono o problema; 
apenas o adio, pois a terceira intuição eventualmente adotada 
não consegue garantir a si mesma. Se, ao contrário, eu pro-
curar o critério de escolha nos resultados que uma ou outra 
intuição me assegura, não conseguirei realizar essa pesquisa a 
não ser pela experiência e por meio dela. E com isso deixarei a 
intuição e demonstrarei que nada mais que experiência, e não 
a intuição, é o fundamento final de meu conhecimento.
6. Toda essa discussão sobre a necessidade de que a 
filosofia se mantenha bem ligada à ciência se não quiser flu-
tuar como uma nuvem em céu tempestuoso significa que a 
filosofia não pode pretender que seu campo de pesquisa seja 
diferente daquele da ciência. A filosofia deve levar em conta 
as possibilidades propiciadas pelos resultados da ciência. Dis-
tinguiremos uma filosofia saudável de uma filosofia enferma 
segundo seu maior ou menor contatocom a ciência. Quanto 
mais um filósofo mantiver contato com o saber científico, 
tanto mais sua concepção total do mundo (em que consiste 
sua filosofia) será sólida e eficaz. Quem abandona a ciência 
termina ou na retórica (a filosofia de belas palavras) ou no 
solipsismo (a filosofia da solidão).
É na retórica e no solipsismo que certamente se encerra 
grande parte da filosofia do nosso tempo que, por essa razão, 
é certamente uma filosofia enferma. Se, de um lado, é uma 
filosofia evasiva (o existencialismo) que procura escapar ao 
vício dos problemas concretos da sociedade e da história, 
buscando um refúgio no qual se proteja dos clamores incômo-
dos que venham dos homens que trabalham e lutam em uma 
sociedade, de outro lado é uma filosofia evasiva (o atualismo) 
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
308 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
que não evita os problemas mas se esquiva dando a eles uma 
solução puramente verbal e crendo com isso tê-los soluciona-
do também na realidade: esta filosofia busca não agora um 
refúgio mas um subterfúgio com o qual deseja livrar-se da 
dificuldade que a restringe. Ambas são tentativas das mais ex-
tremas com as quais os homens de cultura tentaram se livrar 
de suas responsabilidades de “pessoa” vivente na sociedade e 
na história. O primeiro modo de livrar-se da responsabilidade 
é próprio de uma filosofia dos decadentes, o segundo de uma 
filosofia dos retóricos. Ambos os modos são característicos de 
uma filosofia que havia abandonado a esfera da experiência 
e do conhecimento científico para correr atrás da pretensa 
evidência absoluta da intuição ou das sugestões das palavras, 
consideradas como tendo valor por si mesmas.
Esta separação entre filosofia e ciência talvez nunca te-
nha estado tão intensa na filosofia oficial italiana como neste 
último ano. Daí a necessidade de reagir e repropor em termos 
claros e francos a necessidade de reaproximação e de ínti-
ma fusão. Tanto mais que este divórcio é o resultado de um 
século de crise na filosofia, não mais tido como um fato real 
nos momentos de grande desenvolvimento do pensamento fi-
losófico. Pode-se dizer, pelo contrário, que a excelente filosofia 
andou sempre pari passu com a excelente ciência. A origem 
da filosofia (as pré-socráticas) coincide com o surgimento do 
pensamento científico na Grécia. A filosofia aristotélica (da 
metafísica à lógica) reflete e ao mesmo tempo promove o saber 
científico do tempo, assim como a filosofia cartesiana reflete 
e promove o saber científico no início da Idade Moderna. A 
separação começou quando a ciência progrediu a passos tão 
rápidos que a filosofia teve dificuldade para segui-la: e en-
tão acontece que a filosofia, não conseguindo acompanhar a 
ciência e, por outro lado, não podendo pará-la, deixou que 
ela seguisse seu caminho. E então nasce para necessidade 
de fatos a teoria, que assim muitas vezes ouvimos, sustenta-
da pelos filósofos, que o caminho da ciência e o da filosofia 
são por essência diversos. A verdade é, ao contrário, que os 
caminhos não são diversos agora como não eram diversos 
antes: a verdade para nós é que é sempre um único cami-
nho, e diversos são os revestimentos nos quais a filosofia e 
a ciência se encontram num mesmo caminho: a ciência se 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
encontra numa posição mais avançada, a filosofia está presa 
numa posição mais recuada. A ciência, afirmamos, chegou 
à teoria da relatividade e a filosofia ainda demora a explicar 
o mundo valendo-se da concepção mecanicista dos raciona-
listas setecentistas ou da evolutivo-orgânica dos positivistas 
oitocentistas. Bem notou um cientista-filósofo que, frequen-
temente, os famosos contrastes entre a ciência e a filosofia 
não são outros senão os contrastes entre uma nova teoria 
científica, alcançada pela ciência, e a velha teoria científica, 
a qual a filosofia, depois de petrificá-la e elevá-la à verdade 
absoluta, permaneceu sem ser capaz de revê-la e de removê-
la3. O contraste, portanto, é somente aparente entre ciência 
e filosofia: na realidade é entre uma nova teoria e uma teoria 
petrificada, isto é, entre duas teorias científicas das quais a 
primeira é válida (e é sustentada pela ciência), a segunda não 
o é mais (e é sustentada, ai de mim, pela filosofia). Quando 
o contraste chega a esse ponto, nasce entre os filósofos uma 
teoria muito perigosa: a teoria da dupla verdade. Segundo 
esta teoria (melhor do que teoria seria chamá-la pretexto), 
nós temos duas verdades: uma filosófica e uma científica, e 
cada uma é válida em sua própria categoria. Deste modo, 
salvamos a filosofia, mas salvamos condenando-a a uma per-
pétua imobilidade, que agrava mais sua inferioridade perante 
a ciência. Curioso destino: a teoria da dupla verdade que os 
filósofos sustentaram durante a crise medieval para salvar a 
liberdade da filosofia do dogmatismo teológico, agora, iniciada 
a crise da Idade Moderna, os filósofos são forçados a sus-
tentar para defender suas posições dogmáticas do progresso 
do saber científico: lá essa teoria era em função progressiva, 
aqui é em função notadamente regressiva.
Não são duas verdades: são, ao contrário, duas diferentes 
atitudes perante o mundo, a abordagem de posse científica e 
a abordagem do posicionamento filosófico. Duas atitudes que 
são estreitamente ligadas uma à outra, e que não podemos 
separar senão condenando a filosofia à esterilidade. Por essa 
razão, mantemo-nos firmemente contra a filosofia de tipo
3 FRANK, P. Modern science and its philosophy. Cambridge: Harvard Univer-
sity Press, 1949.
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
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humanístico, contra a filosofia evasiva e elusiva, uma filoso-
fia do tipo científico, construída lembrando os resultados da 
ciência, em uma palavra, uma filosofia positiva.
7. Nas discussões sobre as relações entre filosofia e ciência 
temos frisado dois pontos fundamentais: 1) a ciência e a filoso-
fia são distintas, como é a norma teórica do nosso conhecimen-
to da avaliação que fazemos com a finalidade de determinar 
nossa ação no mundo; 2) a filosofia deve considerar os efeitos 
da ciência para evitar a estagnação e sua extinção.
Vejamos agora como esses dois pontos se desenvolvem 
(e se confirmam seu desenvolvimento) na esfera mais restrita 
da relação entre filosofia do direito e ciência do direito.
Enquanto se considera o primeiro ponto, a relação entre 
filosofia do direito e ciência do direito, ou, melhor dizendo, 
entre o ponto de vista filosófico e o ponto de vista científico 
do direito, resolve-se historicamente na relação entre direito 
natural e direito positivo. O direito positivo é o direito históri-
co, isto é, o direito que está em vigência ou teve força em um 
determinado lugar e em um determinado período de tempo. 
As características do direito positivo são a mutabilidade (li-
mite temporal) e a particularidade (limite espacial). O direito 
natural é o direito racional ou essencial ou fundamental, que 
não vigora e nunca teve vigência, mas se coloca como norma 
ideal do direito positivo. As características do direito natural 
são a imutabilidade e a universalidade.
Não é possível determo-nos neste ponto, que é o temor 
central da filosofia do direito de todos os tempos, o temor 
que constitui a própria razão de ser da filosofia do direito. A 
história da distinção entre um direito natural eterno e univer-
sal e um direito eventual e particular, a sucessão dos vários 
modos com que esta distinção esteve mobilizada, coincide 
com a própria história da filosofia do direito. Não estamos a 
lembrar os gregos, as discussões entre os sofistase Sócrates, 
as invocações de Antígona, a teoria aristotélica, ou a históri-
ca, ou ainda a epicurista; e em seguida Cícero e os juristas 
romanos, toda a filosofia cristã de São Paulo até mesmo São 
Tomás; e por outro lado ainda, na Idade Moderna, a corrente 
do direito natural leva o nome de jusnaturalismo, de Grotius a 
Wolff, e finalmente o direito racional de Kant e de Fichte. Em 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
toda essa longa tradição do pensamento não se discute nem 
mesmo a existência dos dois termos da relação. Colocamos 
somente em discussão e apenas variando de escola a escola, 
a forma e os limites desse relacionamento. Mas ainda que este 
relacionamento seja confirmado como estabelecido, confirma 
a distinção por nós assumida entre o relacionamento filosó-
fico e o científico, como diferença entre tomada de posição e 
tomada de posse da realidade. Ao direito positivo ou histórico 
corresponde o movimento científico que, por intermédio do 
direito positivo, toma posse da realidade jurídica. Ao direito 
natural corresponde o movimento filosófico que implica uma 
tomada de posição perante o direito positivo, para aprová-lo 
ou condená-lo. O direito positivo constitui a realidade jurídica 
estudada pela ciência; o direito natural, ao contrário, repre-
senta o critério ideal de valor com base no qual a realidade 
histórica é julgada e eventualmente transformada. A ciência 
jurídica, ocupando-se do direito positivo, ocupa-se do direito 
como fenômeno histórico e não toma conhecimento de todos 
os seus desenvolvimentos, em suas várias fases, em suas múl-
tiplas manifestações. A filosofia do direito, enquanto se dedica 
ao direito natural (e por muito tempo é identificada exatamen-
te com a ciência do direito natural) tem a ver com a ideia da 
justiça com base na qual o direito positivo é julgado, isto é, 
coloca um modelo ideal para a avaliação do direito real. Assim, 
filosofia do direito e a ciência do direito, enquanto reproduzem 
a distinção entre direito natural e direito positivo, encontram 
entre si a relação, segundo o senso genuíno da relação entre 
filosofia e ciência, há pouco determinada.
Que a filosofia do direito esteja ligada ao direito natural 
entendido como direito ideal e, portanto, como termo de ava-
liação do direito positivo, pode estar confirmado historicamen-
te no fato de que, no último século, quando o direito natural 
entrou em crise, entrou em crise também, concomitantemente, 
a filosofia do direito, porque faltava à filosofia, com a falta 
do modelo ideal, o critério de avaliação, em suma, a esfera 
do valor, sua razão de ser, sua possibilidade de distinguir-se 
da ciência. A crise da filosofia do direito vai pari passu com 
a crise do direito natural; a crítica do direito natural impli-
ca normalmente a negação da possibilidade da filosofia do 
direito. Não é também o caso aqui de limitarmo-nos a este 
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
312 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
assunto que, sobretudo, é bastante conhecido; limitamo-nos 
a recordar que, a começar na escola histórica do direito no 
primeiro decênio do século XIX, e a terminar com as várias 
escolas positivistas de métodos sociológicos, foi-se assistindo 
à tentativa de destruir o direito natural; o que leva inevita-
velmente à negação da filosofia do direito. Pode-se, além do 
mais, acrescentar que esta crise do direito natural no senti-
do racional e iluminista da palavra já é, contudo, presente, 
até mesmo antes do florescer positivista, em Hegel, em cujo 
método imanentista falta aquela distinção dos dois planos do 
ser e do dever ser, sobre os quais se baseia a possibilidade 
da distinção entre direito real e direito ideal. Só que Hegel, 
por negar o direito natural como modelo ideal, como dever 
ser abstrato fora da realidade histórica, não nega a filosofia 
do direito; mas, pelo contrário, em uma das maiores obras de 
toda a história da filosofia (Lineamenti di filosofia del diritto, 
1821), cria um sistema coerente e completo de filosofia do 
direito, buscando a universalidade do ideal ético e jurídico 
não fora da história, mas na própria história, pretendido 
como a realização do espírito objetivo (e nisso houve um único 
grande precursor, Gianbattista Vico, que, assim como Hegel, 
combateu o jusnaturalismo abstrato e intelectualista de seu 
tempo). Mas Hegel também representou a última grandiosa e 
desesperada tentativa de construir uma filosofia como saber 
total, isto é, de elaborar um sistema filosófico plenamente co-
erente e tendo validez absoluta e definitiva. A crise da filosofia 
hegeliana foi considerada por isso um acontecimento decisivo 
na história do pensamento, no sentido de que representava, 
não a crise de uma filosofia particular, mas a crise da pró-
pria filosofia. E assim também a grande crise da filosofia do 
direito (sobre a qual estivemos entretidos no curso do ano 
passado) começa propriamente com Hegel e percorre toda a 
segunda metade do século passado.
Vimos que a filosofia do direito encontra em si mesma 
dois assuntos gerais científicos que frequentemente são ele-
vados a assuntos filosóficos: a teoria geral do direito e a so-
ciologia jurídica. Bem, a negação da filosofia do direito, após 
a crise do pensamento hegeliano, durante o florescimento do 
positivismo, foi realizada exatamente na direção destas duas 
ciências gerais. E temos, por um lado, a redução da filosofia 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
do direito à teoria geral do direito (Bergbohm) e, por outro 
lado, a redução da filosofia do direito à sociologia jurídica 
(aqui na Itália, por exemplo, Fragapane). 
Neste século, após o esgotamento da chama do positi-
vismo, a filosofia do direito reapareceu considerada como 
matéria autônoma distinta da ciência jurídica, individual e 
superior a esta. E, naturalmente, com a filosofia do direito 
reapareceu o direito natural; o que se pode ver na corrente 
neokantiana como aquela que orienta Del Vecchio, e, por 
assim dizer, na corrente neotomística. Mas, ainda uma vez, 
a filosofia do direito reapareceu considerada como base da 
diferença entre ser e dever ser, como ultrapassagem do direito 
positivo e como condição de um critério ideal de avaliação 
com base no qual o direito positivo é julgado. Em resumo, 
mais uma vez, a filosofia do direito, e com ela toda a filo-
sofia, reafirma-se como postura perante o mundo, quase a 
restabelecer a tese de que onde há filosofia também existe 
a condição de um método de valor (que apresenta um con-
junto de princípios diretivos sobre os quais se baseia uma 
determinada civilização). A filosofia do direito se consolidou 
e tanto se consolidou quanto se colocou à frente da teoria 
geral do direito e da sociologia jurídica, com que tinha sido 
confundida pelos positivistas como teoria de valor do justo, 
isto é, como teoria da justiça.
8. Enquanto se considera o segundo ponto adquirido na 
discussão sobre as relações entre a filosofia e ciência, vale 
dizer que a filosofia deve considerar os resultados das ciências 
se quiser evitar a petrificação e a morte; faremos algumas 
considerações sobre o modo como a filosofia do direito deve 
relacionar-se com a ciência do direito.
Falamos aqui de “ciência do direito” no sentido amplo, 
pretendendo falar de toda a pesquisa executada com método 
científico e voltada para mundo do direito, da história do 
direito à sociologia jurídica, da etnografia jurídica ao direito 
comparado etc. Ora, trata-se de saber se o filósofo deve con-
siderar toda essa vasta pauta de conhecimentos classificados 
e ordenados que as ciências particulares reuniram,ou, ainda, 
filosofar prescindindo deles e considerando-os unicamente 
como dados de contingente terminados e casuais que não 
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
314 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
prejudicam a estabilidade e a fixação do mundo das ideias 
racionais. Do que dissemos no parágrafo precedente, percebe-
se qual dos dois movimentos preferimos: não concebemos 
outra filosofia senão aquela que enxertamos na árvore da 
ciência e que em seguida – por meio desse enxerto – cresce 
no terreno fértil e sempre produtivo (desde que trabalhado 
com paciência) da experiência.
Na história da filosofia do direito esses dois movimentos 
deram origem a duas escolas opostas: a escola racionalis-
ta, que acreditava poder traçar linhas fundamentais de um 
sistema completo do direito natural sem considerar o provir 
histórico, isto é, das instituições jurídicas na sua formação 
e evolução histórica; e a escola historicista, que, por diver-
sas maneiras e diversos critérios, afirmou a necessidade 
de extrair do estudo da história, e somente dele e do seu 
desenvolvimento na sociedade primitiva, até mesmo na so-
ciedade mais civilizada, o universo jurídico. A contraposição 
das duas escolas teve seu ponto culminante, num primeiro 
momento, em Vico e, num segundo momento, em Hegel e 
Marx. No historicismo de Vico vem esbarrar e romper-se 
pela primeira vez o racionalismo abstrato da escola jusna-
turalista (representada, sobretudo, por Hobbes e Pufendorf). 
No historicismo de Hegel e em seu seguidor e perfeccionista 
Marx aconteceu a dissolução do racionalismo iluminista e, 
em seguida, do direito racional do modo de Kant e de Fichte, 
do utopismo político e social, do inatismo jusnaturalista etc. 
Tanto para Vico como para Hegel não existe universo jurídico 
que não seja tratado pela história na qual está realizado. 
Toda investigação puramente apriorística do direito, toda 
dedução do direito de algumas simples postulações da razão 
direta (como tentaram realizar, por exemplo, antes de Vico, 
Hobbes, e antes de Hegel, Fichte), vêm de Vico e de Hegel 
resolutamente negada.
Não é necessário dizer que na recente revivificação do 
direito natural revelaram-se algumas tentações jusnaturalis-
tas e anti-históricas. Contra essa posição, nós que desejamos 
afirmar que a aceitação da exigência jusnaturalista (isto é 
a exigência da contínua ultrapassagem do direito positivo 
em nome da razão humana que luta contra a cristalização 
histórica, contra os mitos recorrentes na sociedade) não deve 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
implicar ainda a aceitação do movimento anti-histórico do 
racionalismo abstrato. A ideia de justiça que fixamos como 
critério de avaliação do direito histórico não é nem uma ideia 
absoluta nem uma ideia puramente racional (concepção pla-
tônica dos valores), mas uma abstração intelectual elaborada 
nas observações de determinadas necessidades fundamentais 
que apresentamos em um determinado momento histórico 
como merecedor, do ponto de vista do progresso da civiliza-
ção, de ser realizado (concepção humanística dos valores). A 
ideia da justiça, assim como a concebemos, ou seja, a ideia 
da justiça entendida como uma ideologia historicamente 
determinada e eficaz, que ao classificar a história em mo-
vimento se sobrepõe à história cristalizada para avaliá-la e 
renová-la, responde certamente à exigência eterna do direito 
natural, mas não cai no universalismo abstrato (que é de 
hábito, de fato, um utopismo ingênuo ou um conservado-
rismo fechado) do movimento racionalista.
Para nós, portanto, contra o movimento racionalista é 
valido o movimento histórico que somente nos garante que 
a filosofia não se perde em jogos estéreis do raciocínio abs-
trato e na ilusão de ter reformado o mundo somente porque 
se construiu uma bela teoria ou até mesmo um perfeito e 
coerente sistema. Somente o constante contato com a história 
permite sua compreensão e então poderemos julgá-la. Contato 
com a história significa para o filósofo do direito contato com 
a experiência jurídica em todas as suas múltiplas formas. Mas 
este contato com a experiência jurídica é aquele apontamen-
to que procuramos por meio da ciência do direito de acordo 
com a ampla acepção assumida no início deste parágrafo. 
Neste sentido, portanto, ou seja, no sentido de uma filosofia 
do direito não abstrata, mas concreta, não racionalista, mas 
histórica, indagamos que a filosofia do direito não prescinda 
da ciência jurídica mas, ao contrário, faça a base para as 
próprias construções e que prossiga na construção do próprio 
sistema de valores (aquilo que poderemos chamar concisa-
mente a própria “ideologia”) somente após um conhecimento 
profundo dos dados científicos.
9. Tendo colocado o problema nestes termos – a filosofia 
do direito não pode prescindir da ciência do direito –, resta 
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
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agora interrogar. Quais são, sobretudo a ciência jurídica, as 
que o filósofo deve conhecer para não construir no vazio? Não 
pretendemos exaurir o assunto, que é vastíssimo. Limitamo-
nos a mencionar algumas orientações. Em primeiro lugar, a 
história do direito no sentido de história da instituição jurí-
dica. Advertimos aqui que temos a intenção de falar da his-
tória do direito no sentido mais amplo possível. Geralmente, 
sobretudo para o uso escolástico do termo, por história do 
direito entendemos simplesmente a história do direito italiano, 
à qual se acrescenta como preâmbulo a história do direito 
romano. E em sentido amplo podemos dizer que a história do 
direito compreende a história do destino do direito romano 
no Ocidente. Ora, é claro que a experiência jurídica é muito 
mais ampla do que aquela que se possa observar do ponto 
de vista do direito romano. Será bom, portanto, estender 
a própria pesquisa tanto ao direito pré-romano quanto ao 
pós-romano. No primeiro compreendemos: o direito grego, 
os direitos orientais e as instituições jurídicas dos povos pri-
mitivos; toda aquela parte da experiência jurídica estudada 
pela etnografia jurídica. Quanto aos direitos pós-romanos, um 
filósofo do direito não pode deixar de conhecer os princípios 
fundamentais que regem o sistema jurídico anglo-saxônico, 
que é por tradição, por forma e por essência, diferente dos 
continentais, e oferece à reflexão filosófica e, portanto, à ela-
boração de uma ideologia de justiça ou à pesquisa metodoló-
gica uma série de problemas de enorme interesse. Considerar 
o direito anglo-saxônico significa fazer, como se diz, o direito 
comparado, ou, com palavra mais ambiciosa e também mais 
exata, a ciência comparativa do direito. Em lato sensu, a 
história do direito implica, portanto, no nosso modo de ver, 
no mínimo também a etnografia jurídica e o assim chamado 
direito comparado; vale dizer, uma amplitude do horizonte 
jurídico além do limite traçado pelo direito romano, por sua 
evolução e por sua condição.
Depois da história do direito, o estudo do direito vigen-
te, ou seja, de um determinado sistema normativo em seu 
aspecto formal e em seu conteúdo. O aspecto formal de um 
determinado ordenamento jurídico constitui o objeto da pes-
quisa da teoria geral do direito. O aspecto material, neste 
caso, o único contido na norma do ordenamento, constitui 
Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011 
DA DISTINÇÃO ENTRE FILOSOFIA DO DIREITO E CIÊNCIA JURÍDICA
o objeto da ciência do direito propriamente dito ou o que é 
denominado doutrina.
Junto ao estudo do direito como norma e instituição, 
é necessário também o estudo do direito como fenômenosocial, aquilo que forma o objeto da sociologia jurídica, de 
que já falamos. Insistimos nesse ponto porque os estudos 
sociológicos na Itália, após o ostracismo para eles dado como 
idealismo, foram abandonados, ainda que outros países ti-
vessem feito muitos progressos, aperfeiçoando seus métodos 
de pesquisa e adquirindo procedimentos de pesquisa mais 
exatos e mais fecundos característicos da ciência empírica 
da natureza. Não é aqui o caso de explicar minuciosamente 
qual o objeto do concreto estudo da sociologia jurídica. Pode-
mos distinguir, grosso modo, duas partes fundamentais que, 
segundo a denominação tradicional que trata precisamente 
da linguagem da ciência da natureza, chamam-se estática e 
dinâmica social. A estática social estuda a sociedade em sua 
estrutura: vale dizer, acima de tudo, o elemento principal de 
toda organização social, a relação social e, portanto, aquele 
conjunto de relações ao mesmo tempo entrelaçadas e voltadas 
a um propósito comum, que é a sociedade. Entre as várias 
relações existe uma característica que é estudada de modo 
particular pela sociologia jurídica, que é a relação jurídica. 
Assim, entre as várias sociedades, a sociologia jurídica estuda 
a sociedade juridicamente ordenada. A dinâmica social estu-
da a sociedade em seu desenvolvimento, como estes vários 
agrupamentos se deslocam um para o outro, ou um contra 
o outro. A esta parte da sociologia pertence o estudo das 
classes sociais, de sua característica, de sua transformação, 
de sua luta recíproca.
Além do estudo do direito como norma e como fenômeno 
social, é óbvio que a filosofia do direito deve somente se re-
fletir em sua própria história: a filosofia do direito não pode 
viver sem a história da filosofia do direito. E considerando 
que a filosofia do direito se apresenta, segundo nosso ponto 
de vista, como ideologia e como metodologia, a história da 
filosofia do direito explica-se na história da ideologia polí-
tica, de um lado, e na história da metodologia jurídica, de 
outro. Os tratamentos históricos habituais da filosofia do 
direito limitam-se quando muito à história das ideologias. A 
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REVISTA DO CURSO DE DIREITO
318 • Revista do Curso de Direito da Faculdade de Humanidades e Direito, v. 8, n. 8, 2011
história da metodologia foi, até agora, negligenciada, o que 
também merece uma atenção particular, porque sem um 
preciso conhecimento dessa não podemos compreender, em 
minha opinião, os fenômenos culturais muito notáveis no 
horizonte da experiência jurídica, como a dialética legista 
dos juristas medievais, o próprio jusnaturalismo de 1600, a 
escola histórica do direito florescente no início do século XIX 
etc. É claro também que para construir a história da filoso-
fia do direito é necessário conhecer o direito em seus vários 
aspectos, estudados pela história do direito, pela ciência do 
direito propriamente dita e pela sociologia jurídica. Uma his-
tória da ideologia que se limita a expor as diversas teorias 
segundo uma ordem cronológica, sem nunca considerar uma 
situação histórica concreta da qual e pela qual essas teorias 
surgiram, e na qual trabalhamos, é uma árida e monótona 
coleta do ponto de vista do direito que, alinhados um junto 
ao outro como objetos imóveis, parecendo todos independen-
tes, provisórios e contingentes, mera lucubração doutrinária, 
das quais não se sabe dizer qual seja a melhor e qual a pior. 
Infelizmente, a maior parte da história da filosofia do direito 
é feita desse modo (que é, naturalmente, o modo mais fácil) 
e tem sobre o leitor inexperiente um efeito desanimador. 
Somente uma história da filosofia do direito que seja intima-
mente compenetrada com a história social e política e com a 
história do direito, sim, que coloque continuamente em evi-
dência a origem ideológica e a função normativa das várias 
teorias da justiça, dá uma justificação às próprias teorias que 
expõe e transforma a árida lista de ideias em uma história 
real, isto é, em uma experiente tomada de consciência das 
diversas reflexões do homem sobre a própria função e sobre 
o próprio destino como ser social. Mas semelhante história 
está ainda para ser escrita e não pode ser, naturalmente, o 
trabalho de uma só pessoa.

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