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CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL Para nós estudantes de história, habitante de um país multirracial é de fundamental importância compreendermos a formação de nossa Nação com base em suas origens, principalmente para aqueles que dentro de um futuro próximo serão também professores. Costumasse dizer que um país só cresce quando sua população compreende plenamente sua língua, sua história e sua cultura, pilares para o engrandecimento de um povo que se reconhece e, principalmente, não se estranha. Existe na sociedade brasileira muitas feridas, frutos de grandes erros do passado, e como não há possibilidade de retorno para corrigir tais erros, devemos por meio do entendimento de vários aspectos, refletir sobre tais erros, repassando para as gerações futuras as noções e os problemas envolvidos nesse passado que levaram Homens de seu tempo a cometerem tais falhas, na tentativa de evitar novos processos que causem sofrimento as pessoas. É muito falado que os Homens existem na terra para o gozo de suas felicidades, todavia, a felicidade deve ser estendida e entendida para todos, e uma das formas de estender a felicidade a um maior grupo possível de pessoas e compreender o motivo de cada um ser o que é, e principalmente, entender que cada indivíduo tem o direito de existir a sua maneira, contanto que seu modo de vida não queira destruir o do outro, isso nós chamamos de tolerância, ou como disse Voltaire, “Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las”. A disciplina História da África Pré-Colonial é um começo para que nós estudantes de história possamos entender processos que hoje existem na sociedade brasileira, que variam entre a política, a violência e cultura. DESCONSTRUINDO O CONCEITO EUROCÊNTRICO DE ÁFRICA: Existe a sensação que a história da África começou apenas quando os europeus “descobriram” a existência de tais regiões, local de homens de cor negra, muito primitivos, sem expressão histórica, praticantes de uma cultura obscura que foram escravizados e torturados durante vários séculos, um povo sofredor, dentro de uma região pobre e miserável. Essas nuances e outras existentes, que nós, alunos de história devemos desconstruir, e para isso temos que nos afastar um pouco de nossos conceitos e preconceitos, de tudo que aprendemos sobre a cultura africana e principalmente sobre suas práticas religiosas no Brasil, quando pensamos e tentamos descrever a África, construímos uma alteridade em relação aos povos africanos totalmente equivocada, coberta de preconceitos, que durante muitos anos relegaram os brasileiros a uma brasileiros a uma vi- IMAGEM PESQUISADA NO GOOGLE CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL visão míope de sua própria herança social e antropológica, como as noções controversas do Império brasileiro em tentar branquear a população brasileira para colocá-la em condições de igualdade com as Nações Europeias ou a síntese mal interpretada pela sociedade científica sobre a dialética de Paulo Freyre referente a Democracia Racial. Então, para começar, retiremos nossos véus e comecemos a construir uma história sobre a África que lhe faça a referida conotação histórica, começando pela própria disciplina, que coloca um pré antes de um colonial. ÁFRICA NA ANTIGUIDADE Talvez esta disciplina devesse se chamar “África antiga ou na antiguidade”, visto que sua história representa a história do próprio Homem, hoje, comprovadamente, o berço da humanidade. Relatos nos indicam que os Homens do passado distante eram nômades e um dia perceberam que podiam deixar de caçar ou procurar alimentos se plantassem e criassem animais. Para tal, existia a necessidade de um local que proporcionasse condições favoráveis para a execução de ambas as atividades. Segundo nossa arqueologia, a região Norte do Continente africano foi escolhida, e uma parcela da humanidade começou a realizar assentamentos nas regiões próximas ao Rio Nilo e da Mesopotâmia. Mas isso será realmente nosso começo como povo sedentário? Bem, até o momento essa é nossa história, começa a cerca de 10 mil anos, quando grupos de Homens se fixaram nessas regiões e começaram a produzir alimentos em larga escala. AS PRIMEIRAS GRANDES NAÇÕES AFRICANAS (Norte da África) O EGITO Somos educados a reconhecer os egípcios como a primeira grande Nação do Continente africano, todavia, devemos lembrar que os mais antigos registros de grandes populações residentes em cidades estão no Oriente Médio e datam de aproximadamente 8 mil anos. O parentes que faço é, se por acaso, parte dessa sociedade não migrado para a região do Nilo em data remota a posterior, e ali começaram uma nova sociedade? Para nós, cabe entender que entre três mil e quinhentos anos e dois mil e quinhentos anos a sociedade egípcia se formou naquilo que ficou conhecido como a região do Nilo e ali construiu uma esplendorosa civilização que durou mais de dois mil anos. Contudo, ressentes estudos apontam para a existência de uma outra civilização paralela a egípcia, conhecida como Núbia, hoje situada entre os países do Sudam, Sudam do Sul, Uganda, Quênia, Somália, Etiópia, Djibouti, Eritreia, o Mar Vermelho e o Arábico. A história dessa sociedade é muito contraditória, devido à falta de registros significativos que possam apontar uma real construção de sua história. Hoje existem duas possíveis correntes, uma aponta para uma evolução dessa sociedade paralela a dos egípcios e outra de uma possível colonização por parte dos habitantes do sul do Egito, que, ao logo da história, se miscigenaram com os habitantes ditos nilóticos, a princípio, comunidades assentadas às margens do Nilo que foram absorvidas ou escravizadas, isso ainda não sabemos com precisão, porém, o importante é ter o conhecimento que a Núbia foi uma região muito importante para o crescimento da sociedade egípcia, inclusive em algum momento, conquistou o próprio Egito, construindo aquilo que ficou conhecido como a “Dinastia dos Faraós Negros”. Outro ponto interessante é que aparentemente os núbios e os egípcios desenvolveram sociedades parecidas, mas, não sabemos com certeza quem influenciou quem, os registros existentes apontam para uma possível absorção da cultura egípcia por parte dos núbios. A NÚBIA A Núbia no decorrer de sua história se desenvolveu e construiu uma sociedade bastante complexa, onde a religiosidade foi o pilar sustentador de sua organização. Seu Estado era uma Teocracia onde, diferente da egípcia que apresentava o Faraó como um Deus vivo, na sociedade Núbia, o maior poder estava nas mãos dos Sacerdotes. Sua sociedade possuía excelentes guerreiros, artesões, arquitetos e comerciantes, e sua economia era baseada na CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL produção de metais preciosos como ouro e ferro, pedras preciosas e madeira. Existem lendas que foram os núbios que desenvolveram a habilidade de criar o ferro, que na antiguidade era até mais valioso que o ouro, fatos que fizeram se desenvolver na Núbia grandes sítios populacionais como Kush, Meroé, Axum, Ethiopia e Buganda, cada uma delas foram responsáveis por parte da produção de bens valiosos para o resto das populações do entorno, inclusive existe registro de possíveis comércio entre esses sítios e regiões da Grécia, Índia e China. A sociedade Núbia tinha como pilar central sua religiosidade, que, com sua cosmovisão de mundo produziu em sua sociedade aquilo que conhecemos como ancestralidade, processo que ligava os mortos aos vivos, criando a conotaçãodo tempo circular ou espiral, onde passado, presente e futuro podem existir no mesmo momento. A história das sociedades da Núbia é permeada de lacunas, o fato de destaque é que em certo momento do passado seus sítios mais ao Norte foram destruídos ou abandonados, ou ainda, a combinação dos dois fatores. Outro ponto importante levantado é que o deserto do Saara aumentou de largura, provocando grandes secas nas regiões dos sítios núbios, forçando grande parte da população que não era nômade a migrar para regiões mais ao sul. A princípio, de uma forma geral, a Núbia existiu até o século XIV, quando foi conquistada pelos Mamelucos árabes, cuja consequência é a formação de um grande contingente mulçumano no Norte da África, África Sudanesa e Índica. Outras curiosidades referentes a essa sociedade e o sítio da Ethiopia, que está fortemente ligada a Região da Palestina dominada na época pelo povo Hebreu. Como relatado no Pentateuco, uma grande líder da Núbia foi até a região da palestina prosar com o governante Salomão, onde, segunda a lenda, Mekeda a Rainha de Sabá, foi seduzida por Salomão e dessa união nasceu Menelik, futuro governante do sítio da Ethiopia, responsável por levar para a região o culto hebraico, e depois, aceitar o cristianismo por volta do século IV, criando ali um cristianismo diferente do latino ou do bizantino, cujo legado são igrejas monumentais, salpicadas de fragmentos de várias culturas. AS CARAVANAS DO SAARA O Saara é o segundo maior e mais perigoso Deserto do mundo, perdendo apenas para o Deserto da Antártida, porém, homens sobre camelos desafiaram suas gigantescas dunas de areias, e possibilitaram desde épocas remotas, aproximadamente entre 1 mil e 1,5 mil A. C. trocas comerciais entre o Norte da África e as sociedades existentes na região subsaariana da África. Ouro, sal, ferro, cobre, espadas decoradas, tecidos, cavalos e artigo de luxo como louça e talheres foram comercializados pelos comerciantes que atravessaram a imensidão de areias do Saara em caravanas. A maioria dos comerciantes que atravessavam o Saara eram os Tuaregues, povo bérbere do Norte da África, que não são árabes, mas, pastores seminômades que vivem nas margens Norte do Saara. Aprenderam a domesticar camelos e comandaram durante muitos anos essas rotas comerciais, inclusive foram responsáveis pela queda de algumas sociedades Núbias como Kush e Meroé. Após o ano 700 D. C., os Tuaregues são convertidos ao Islão. A PERCEPÇÃO DE REINO, REI, CIDADE E IMPÉRIOS: Até o momento no texto acima não foram utilizadas palavras como Impérios, Reinos, cidades ou aldeias, a ideia e justamente desconstruir nossa percepção ocidental que temos quando classificamos aglomerados de sociedades. Aparentemente os africanos, como os autóctones das regiões das Américas não identificaram em suas sociedades o conceito dessas palavras, as denominações dadas por essas sociedades são muito mais complexas do que nosso atual entendimento pode compreender, todavia, para facilitar nossos estudos passaremos a designar numa segunda fase da construção das sociedades africanas os nomes que para nós são tradicionais. Outra posição interessante que devemos nos atentar é a designação do que entendemos pela palavra escravo, via de regra, segundo alguns linguistas não existe na língua egípcia uma palavra que categoricamente diga que alguém e escravo de outro, o que existe são palavras que numa tradução livre sugeri que alguém está aos serviços de outro ou de alguma coisa, como é o caso dos Sacerdotes e alguns subalternos dos Faraós, que alegam servir ou prestar serviço para uma divindade ou para o Senhor do Egito. Todavia, quando alguém era feito prisioneiro por um grupo nessas sociedades, geralmente estes indivíduos eram inseridos na sociedade conquistadora dentro de uma hierarquia variada, tipo, se era camponês poderia ir trabalhar para famílias camponesas, caso fosse artesão poderia ser inserido numa família de artesões, se fosse da nobreza poderia ser inserido na “corte” da sociedade conquistadora, porém, temos que atentar para o fato que muitos “berberes” (como os romanos chamavam os africanos) foram parar em Roma para serem utilizados como escravos e gladiadores. Além disso, o CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL termo Kushita pode ter sido utilizado pelos egípcios para designar “os de pele negra, cativos vindo da Núbia”. Como muita coisa em História, nada é realmente absoluto. A história da África é complexa e antiga, repousa sobre metros de pedras e areias, perdidas em eras além do conhecimento humano, prontas para num futuro próximo, talvez, serem encontradas, na intenção de lançar “luzes” sobre a sociedade fundadora do mundo, que hoje sofre com muitos problemas políticos, sociais e de saúde, talvez reflexo de uma história recente que procurou diminuir sua importância histórica frente ao mundo dito civilizado. AS ÁFRICAS Dentro do processo de desconstrução da nossa visão eurocêntrica sobre a África, necessitamos entender que não existe apenas uma África, mas uma variedade de Áfricas, que deixaram marcas indeléveis no Continente Africano, cada qual com sua história, trajetória e cultura, que em alguns momentos parassem representar ou contar a mesma história. Para fins didáticos o Continente Africano pode ser dividido em África: a) Tropical – de Leste para Oeste na região próxima aos trópicos de Câncer e de Capricórnio; b) Sudanesa – do Oeste para Leste entre o Mar Atlântico e o Índico; c) Saariana - região fronteiriça com o Deserto do Saara tanto ao Norte como ao Sul; d) Mediterrânica – no entorno do Mar Mediterrâneo. Outras formas que podemos dividir o Continente Africano: - Mediterrânica - entorno do Mar Mediterrâneo; e - Subsaariana – tudo na direção sul após o Deserto do Saara; ou - Ocidental; Central; Oriental; Norte; Insular Atlântica e Insular Índica. Podemos ainda dividir para estudar: a região do Sahel e a África Bantu e Sudanesa, essas duas de maior importância para a História do Brasil. Um rico Continente com muita história para ser contada. MIGRAÇÕES AFRICANAS Vários ramos da ciência apontam que houve na África, num período entre 5 mil e 3 mil A. C. um movimento migratório em várias direções da África Subsaariana. Um dos fatores determinantes para a possível migração de grandes populações não nômades pode ter sido o aumento da faixa desértica do Saara, que provocou secas em regiões antes possuidoras de rios e pasto, transformando-as definitivamente em áreas desérticas, forçando essas sociedades a procurarem outras regiões mais propícias para a continuidade da vida, capaz de suportar o pastoreio e a agricultura. Os grupos migratórios deram origens a grandes populações de pessoas, e foram responsáveis pela formação de grandes “reinos”, como os existentes na região do Sahel. CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL OS “REINOS” DO SAHEL Vários “reinos” existiram nessa região, entre eles podemos destacar os “reinos” do Mali, Ghana e Songhay, que realizaram um longo diálogo com o Islão da Arábia, adotando-o como religião principal, porém, o Islão praticado nesta região sofreu sincretismo com as tradições existente. Uma sociedade complexa se formou nessa região, inclusive com a criação de escolas e universidades para o estudo da religião, matemática e astronomia. Um grande centro cultural se formou numa “cidade” chamada Timbuktu, conhecida como a capital do saber, responsável por um volume enorme de compilações de Codex. Os “reinos” do Sahel enriqueceram com o comércio do ouro, ferro e sal. OS “REINOS” DO MAGREBI Situada na Região do Mediterrâneo, um grande reino de destaque foi Carthage, a princípio um entreposto comercial que evoluiu para uma cidade próspera de comerciantes. Carthagerivalizou com Roma pelo controle do Mar Mediterrâneo, que foi palco das famosas Guerras Púnicas, onde ao final do conflito, Roma foi a grande vencedora, arrasando totalmente a cidade de Carthage. A partir do século VII as “cidades” dessa região dialogam com o mundo mulçumano e com a Europa, culminado com a ocupação da Península Ibérica. OS “ REINOS” DO CONGO Localizado no sudoeste da África, no território que hoje corresponde ao noroeste de Angola incluindo a Cabinda, à República do Congo, à parte ocidental da República Democrática do Congo e à parte centro-sul do Gabão. Grandes cidades existiram nesta região, em destaque o Congo, Luanda e Luba. OS REINOS DA ÁFRICA ÍNDICA O destaque fica em torno das cidades de Malawi e Kilwa, esta um poderoso centro comercial que recebeu comerciantes de várias regiões do mundo antigo. Outro “reino” poderoso nessa região foi a Grande Zimbábue, possuidora de minas de ouro e de uma “cidade” composta de várias muralhas. Desenvolveu um forte comércio com a cidade de Kilwa. AS LEITURAS DAS SOCIEDADES AFRICANAS Como podemos perceber o Continente Africano não foi apenas um celeiro de pessoas que foram escravizadas ao longo das décadas por povos invasores. O Continente é repleto de grandes civilizações que construíram sociedades complexas e realizaram obras que rivalizaram com grandes construções em diversas épocas em outros lugares do mundo dito civilizado. O maior problema em compreender a História da África repousa no fato da maioria dos povos deste Continente serem ágrafos (sem escrita), o que dificulta muito a obtenção de fontes desse período, mas, não reduz a grandeza de sua história e cultura, apenas diminuída por países colonizadores, que tentaram durante muitos anos construir uma história de uma África como sendo uma região despovoada, com uma população ainda muito primitiva, necessitando da mão branca do homem europeu para sair de sua ignorância e obscuridade. CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL O CONCEITO DE FAMÍLIA EXTENSA Muito antes da chegada dos árabes ao Continente Africano, sua sociedade já era de base poligâmica, todavia, matrilinear, onde a linhagem materna era fundamental para garantir as origens familiares. As famílias extensas estão ligadas a questão de poder, visto que, quanto maior fosse o números de pessoas dependentes de um homem, maior seria o poder desse homem, dessa forma, a poligamia foi utilizada para o acúmulo do poder, e como consequência podemos observar a formação de comunidades compostas exclusivamente por parentes, que garantia uma estabilidade política na localidade, visto que o “chefe” político ou espiritual era o pai da grande maioria das famílias que se formavam no entorno das comunidades. Outro desdobramento desse processo foi à identificação da comunidade com seus ancestrais, criando processos culturas que reverenciavam esses indivíduos, que com o passar do tempo se transformaram em deuses. Isso nós leva a questão que inicialmente os deuses africanos não eram seres míticos, mas, pessoas que um dia foram seres vivos, bebiam, comiam, dançavam e guerreavam. A Princípio, ideia dessas sociedades era evitar que esses indivíduos fossem esquecidos após suas mortes, pelo simples fatos de não fazerem registros escritos de suas passagens em vida, de seus familiares e de seus feitos. O CONCEITO DE RELIGIOSIDADE Antes de boa parte dos povos africanos aceitarem o Islão, os rituais africanos eram baseados na reverência aos seus ancestrais, que culminaram ao longo de algumas gerações com uma religiosidade onde seus deuses foram pessoas que um dia existiram na terra, foram seus parentes e seus ancestrais, que após a morte passaram a ser compreendidos como protetores “espirituais” das comunidades onde viveram. Tais reverências são percebidas em esculturas que representaram parentes mortos num passado recente, do ponto de vista deles, comumente chamados de ancestrais próximos ou da família. Outras representações produzidas são referentes aos ancestrais comuns a todo grupo, os grandes patriarcas, que eram reverenciados em rituais onde eles poderiam por um breve momento voltar do mundo dos mortos e conviver com sua comunidade, comendo, bebendo e dançando, experimentando sensações do mundo dos vivos. Chamamos esse processo de “incorporar”, momento em que um indivíduo vivo cede seu corpo físico para que seu antepassado possa interagir com o mundo dos vivos. Para esses antepassados também são oferecidos “oferendas”, na forma de comida e bebida, tal prática se dá em função da vida terrena que o ancestral já teve. Esse processo talvez seja o maior paradigma para as civilizações ocidentais ou as descendentes das religiões de tronco judaico, que percebem nessa prática algo de profano. No Brasil costumasse chamar as oferendas oferecidas às entidades que fazem parte da religiosidade africana de macumba. Esse termo é preconceituoso, principalmente pelo fato de rituais de oferenda e sacrifícios estarem intimamente ligadas às tradições de quase todas as civilizações. Devemos procurar entender que o ritual empregado por esses povos procuram por esse método valorizar a família, evitando que aqueles existentes no passado sejam esquecidos, dessa forma a palavra passa e ter um grande significado na cultura africana, é ela responsável pela manutenção das tradições e das explicações sobre a origem do mundo e de todos. No Brasil precisamos entender que as tradições africanas foram influenciadas por diversos ritos, como o catolicismo e a religiosidade indígena, assim, as práticas das religiosidades africanas no Brasil passaram a ter conotações diferentes das existentes no passado africano, sendo modificada no passar do tempo da permanência dos diversos povos africanos trazidos para o Brasil, como consequência temos diversos cultos de origem africana, mas, permeados pelas noções de bem, mal e deus das culturas nativas e europeias. O JUDAÍSMO NA ÁFRICA: Após a destruição de Jerusalém em 586 A. C. alguns hebreus migraram para a região de Djebar, uma ilha na atual Tunísia, e construíram a mais antiga Sinagoga conhecida no Continente Africano. Existem várias lendas sobre expedições e migrações hebraicas ao Continente Africano. A lenda mais conhecida que envolve os povos africanos e hebreus foi à calorosa relação entre o Rei Salomão e Mekeda, a Rainha de Sabá, um “reino” situado entre o sul da Península Arábica e o Leste África. CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL O CRISTIANISMO NA ÁFRICA: O cristianismo chegou ao Continente Africano por volta do Séc I no Egito, depois se espalhou para várias localidades no entorno da região de Cartago. Outro grande centro praticante do cristianismo na antiguidade foi a região da Etiópia. Nessa região várias igrejas cristãs foram esculpidas em rocha por um governante conhecido por Lalibela, que empresta seu nome à região e ao conjunto de igrejas, que segundo histórias e lendas aparentemente Lalibela não descendia da linhagem Salomônica por meio do Rei Menelik, filho de Mekeda com Salomão. O ISLÃO NA ÁFRICA: A partir do Séc VII povos árabes recém-convertidos ao Islão começaram a promover sua religião no entorno do Norte da África, na região da África Índica e do Shael. O Islão está fortemente incorporado na cultura dos povos dessas regiões, todavia, cabe lembrar, que muitas tradições locais foram incorporadas ao Islão, criando uma espécie de sincretismo religioso. A riqueza, poderio militar e político ficou marcado em alguns “reinos”, onde o mais famoso Governante foi o Sundiata Mansa Musa , que durante sua peregrinação a Meca no Séc XIII, levou consigo algo como 60 mil pessoas e mais de 15 toneladas de ouro, que após sua passagem pelo Oriente Médio, foi responsável pela desvalorização do metal emvárias regiões durante alguns anos. A NOÇÃO DA PALAVRA NA CULTURA AFRICANA A palavra era uma coisa muito importante para vários grupos africanos, tanto é que existiam pessoas responsáveis por guardar a palavras, eram homens sagrados, com uma memória espetacular, capazes de retroceder várias gerações das pessoas de uma localidade. Dentro dessa cultura a palavra representa força, criação e perpetuação. Para essas pessoas a verdade e a mentira eram coisas distintas, que não se misturavam. As manifestações ancestrais ainda existentes em vários povos africanos são as pistas que podem ser utilizadas para montar o complicado quebra-cabeça da história desse Continente. Técnicas utilizadas no processo de construção da história da memória e linguística estão sendo amplamente utilizadas para completar lacunas nos estudos da Antropologia que ajudam os historiadores a construir uma história dos povos africanos, não pelo olhar eurocêntrico, mas, uma história contada a partir do ponto de vista dos próprios africanos. Hoje grandes africanistas recontam e constroem novas histórias desses povos, identificando novos pontos que antes não foram abordados pela historiografia Ocidental. Contudo, devemos atentar para o fato que, mesmo procurando encontrar caminhos baseados numa perspectiva do olhar africano, esses pesquisadores foram educados e instruídos no mundo Ocidental de forte tendência europeia. A nova história da África necessita de muita atenção e de grandes investimentos para desenvolver nas populações do Continente africano a vontade deles contar sua própria história. A ÁFRICA NA IDADE MÉDIA Como escrito anteriormente, a África tem uma coleção de “reinos” e “cidades” de destaque que rivalizam com várias outras existentes no mundo durante toda sua história, na Idade Média não foi diferente, nesse período muitas “cidade” africanas eram maiores do que várias cidades europeias, e sua população maior ainda, como Mali e Songhay. O destaque fica por conta das inúmeras sinagogas, igrejas e mesquitas produzidas nas cidades de Djebar, Ethiopia e Timbuktu, todavia, devemos levar em conta que algumas foram construídas antes da Idade Média, mas, nesse período, inúmeras construções ou ampliações foram realizadas por grandes e poderosos lideres, como o Sundiata Keita (Séc XII) e Mansa Musa (Séc XIV). Além da construção de cidades e templos, CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL existiu nesse período homens sábios que escreveram excelentes ensaios sobre o Continente Africano do seu tempo, os mais proeminentes na história são os Ibn Batutta e Khaldun e Al Bakri, que deixaram relatos excelentes sobre aquilo que viram e ouviram. A ÁFRICA NA IDADE MODERNA A Idade Moderna é o começo de uma época complexa para muitos povos da África, principalmente para os habitantes da Região do Congo e Sudão. Todavia, durante o início da modernidade, o “reino” de Benin encontra-se entre os de maior destaque, seu artesanato em bronze é muito conhecido, além de obras de arte talhadas em marfim, ferro e madeira. Situado na região da atual Nigéria, esse reino foi duramente saqueado pelo Império Inglês, que junto com outras Nações espoliaram várias obras de arte deste “reino”. O auge do “reino” de Benin se dá no Séc XVI, a partir desse período houve uma conquista de Benin pelo “reino” de Aladá e logo depois este foi conquistado pelo “reino” de Daomé, subjulgado por tropas senegalesas e incorporado as colônias francesas a partir de 1900. ASPECTOS COMUNS DAS SOCIEDADES AFRICANAS 1) Princípio do equilíbrio – natureza e rituais; 2) Ancestralidade – tempo em espiral – conexões mortos e vivos; 3) Noção de família extensa – poder político, continuação da sociedade e de suas tradições e famílias matrilinear; 4) Pertencimento do coletivo – uma identidade coletiva; normas pré-estabelecidas; 5) Tradição oral – a palavra é viva e tem força; musicalidade; e 6) Principal tronco linguístico - Bantu ALGUNS TERMOS PARA ENTENDER A CONSTRUÇÃO DAS SOCIEDADES AFRICANAS CANDACES – mulheres ou líderes guerreiras; MANSA/GANA/MALI – área de dominada por uma elite, que tem seu controle político e econômico entendido no Ocidente como reino; MOURO – povo marrom; SUNDIATA – aquele que possuí o poder político central, dinástico ou divino; NÚBIA – região dourada ou rica em ouro; KUSH – aqueles de pele negra ou lugar dos cativos; OBÁ – BENIN – ONI IFE – aqueles que governam; CARLOS DAUMAS –JULHO 2015 RESUMO HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL UZAMAS – líder local; e ODUDUWA – ancestral comum de vários grupos africanos. DICAS: FILMES: Atabaque Nzinga -2007; Njinga - Rainha de Angola – 2013; Projeto Oyá – Rise Of the Orisha (Nigéria) 2015. DOCUMENTÁRIOS: Os Reinos Perdidos da África - Vol. 1 ao 4 LIVROS: Coleção História Geral da África em português – Disponível em: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single- view/news/general_history_of_africa_collection_in_portuguese-1/#.VbAT9PlViko TRABALHO: RESUMO ROTEIRO PARA ORIENTAÇÃO DE ESTUDO DA DISCIPLINA HISTÓRIA DA ÁFRICA PRÉ-COLONIAL PRODUÇÃO: CARLOS RENATO DE OLIVEIRA DAUMAS – GRADUANDO EM HISTÓRIA PELA UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ. CONTATO: carlosdaumas@hotmail.com A ideia desse trabalho é realizar um resumo vertical sobre a disciplina História da África Pré-colonial que possa servir de roteiro para os estudantes da disciplina se familiarizarem com um pedaço de uma sociedade de fundamental importância para a construção da Nação Brasileira.
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