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PATP- Programa de Aprimoramento Teórico e Prática- Caso Rodin

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INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DE BAGÉ LTDA.
FACULDADE IDEAU DE BAGÉ
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E OS IMPACTOS DA CORRUPÇÃO NA CRISE FINANCEIRA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL: UMA ANÁLISE DO CASO DETRAN/RS
 BELCHIOR, Andresa Ramires[1: Discentes do Curso de Direito, Nível 2019/5- Faculdade IDEAU – Bagé/RS.]
GOVÊA, Caoana Camargo¹
SILVA, Cristóferson Medeiros¹
BITTENCOURT, Patrícia Xavier²
DOS SANTOS, Daniel Leonhardt²
PERBONI, Viviane²
VIEIRA, José Cipriano da Silveira Nunes[2: Docentes do Curso de Direito, Nível 2019/5 - Faculdade IDEAU – Bagé/RS.*E-mail para contato: crismedeiros.jus@gmail.com]
RESUMO: O artigo a seguir se propõe a analisar brevemente a Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa contra agentes públicos ligados à Universidade Federal de Santa Maria, fundações de apoio à mesma e o DETRAN/RS. Para isso, utilizou-se de uma metodologia exploratória de análise da sentença e embasamento no referencial teórico bibliográfico extraído de livros, artigos e textos digitais. Foram respeitados no processo em análise todos os princípios do Direito Processual bem como a aplicação clara do Direito Material. Concluiu-se que a presente crise financeira enfrentada pelo estado é decorrente deste e de outros casos de corrupção e má administração por parte dos governantes.
Palavras-chave: Processo; Análise; DETRAN; 
ABSTRACT: The article proposes to briefly analyze the Public Civil Action of Administrative Improbity against public agents linked to the Federal University of Santa Maria, foundations supporting it and DETRAN / RS. For that, an exploratory methodology of sentence analysis and basement was used in the bibliographic theoretical reference extracted from books, articles and digital texts. All the principles of procedural Law as well as the clear application of the substantive Law were respected in the process under analysis. It was concluded that the present financial crisis faced by the state is due to this and other cases of corruption and maladministration by the government.
Keywords: Process; Analyze; DETRAN
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
	O presente artigo tem por finalidade analisar a sentença da Ação Civil Pública de Improbidade Administrativa contra 5 réus que com suas atuações em órgãos ligados à Universidade Federal de Santa Maria (Fundações de Apoio: Fatec e Fundae), mantiveram um esquema de corrupção que por intermédio do Detran/RS, lesaram os cofres públicos do Estado do Rio Grande do Sul.[3: JOSÉ OTÁVIO GERMANO, JOÃO LUIZ DOS SANTOS VARGAS, LUIZ FERNANDO SALVADORI ZACHIA, FREDERICO CANTORI ANTUNES E DELSON LUIZ MARTINI.]
O caso ganhou bastante repercussão midiática, o que acabou levantando muitas questões sobre os excessos cometidos pelos meios de comunicação no sentido de exercer pré-julgamentos, causando forte comoção social e com isso influenciando as decisões judiciárias, impactos estes que serão detalhados posteriormente em momento oportuno.
Sobre os impactos ao Erário, dados divulgados pela Polícia Federal, totalizam mais de quarenta e quatro milhões de reais em prejuízos aos cofres públicos. [4: R$90 milhões em valores de 2014]
O processo em análise está conexo com outro processo conhecido como “Caso Rodin”, que tramita em segredo de justiça e foi movido a partir da Operação Rodin, irrompida pela Polícia Federal em novembro de 2007 e que investigou irregularidades ocorridas entre os anos de 2003 a 2007 na realização de exames teóricos e práticos para a expedição da carteira nacional de habilitação (CNH).
A fraude deu-se com o desvio de verbas em contratos firmados com a Fundação Educacional e Cultural para o Desenvolvimento e Aperfeiçoamento da Educação e da Cultura (FUNDAE) e a Fundação de Apoio à Tecnologia e à Ciência (Fatec), ambas vinculadas à Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
Após situar o leitor do que se trata artigo, realizaremos uma pesquisa teórica e bibliográfica sobre os crimes cometidos, relacionando-os com o Direito Penal e o Processo Penal e a aplicação das leis, buscando identificar os órgãos da Administração Pública e os agentes envolvidos e correlacionando com os conceitos de funcionário público. No âmbito do Direito Processual Civil, conceituaremos improbidade e ilegalidade, verificar-se-á no caso, se os princípios do devido processo legal, assim como o contraditório e a ampla defesa foram garantidos. Por fim, na esfera civil, analisaremos as implicações e repercussões ao dano a propriedade pública.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Referencial Teórico 
2.1.1 Classificação dos crimes estudados segundo os preceitos do Direito Penal, Lei Anticorrupção, Lei de Licitações e Lei de Improbidade Administrativa
	
	Seguindo adiante, trataremos de colocar luz sobre o Direito Penal no sentido sancionador, não somente no Código Penal, mas em toda a legislação que envolve infrações, sanções e penas para atos ilícitos praticados por agentes públicos ou pessoas físicas e jurídicas prestando serviços/fornecendo bens à administração pública.
Os crimes contra a administração pública são tão importantes que receberam pelo legislador um título no Código Penal de 1940, o Título XI – DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA; e, que traz listado uma série de crimes e suas respectivas penas, que posteriormente, serão detalhados buscando-se dar ênfase aos crimes praticados no processo em análise.
Apesar do Código Penal e das previsões constitucionais, ainda havia uma lacuna no sentido de agregar lisura aos procedimentos de aquisição da administração pública e fazer cumprir os princípios previstos no inciso XXI artigo 37 da CF, e que viesse a trazer isonomia aos processos de aquirimento de bens e serviços dos órgãos públicos do Estado; nesse contexto que surge em 1993 a controversa lei 8.666/93 que trata de regular a Licitação que no ordenamento jurídico brasileiro segundo Odete Medauar: [5: XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.]
[...] é o processo administrativo em que a sucessão de fases e atos leva à indicação de quem vai celebrar contrato com a Administração. Visa, portanto, a selecionar quem vai contratar com a Administração, por oferecer proposta mais vantajosa ao interesse público. A decisão final do processo licitatório aponta o futuro contratado. (2016. p.216)
Ainda temos outras leis balisadoras das condutas da Administração Pública e seus agentes como a Lei 8.429/1992 conhecida com Lei da Improbidade Administrativa e a Lei 12.846/2013 conhecida com Lei Anticorrupção, mas por hora o aprofundamento se dará nos princípios do Direito Penal, porém, em momento futuro e oportuno, por ocasião das análises de resultados do processo em questão, voltaremos a nos debruçar sobre o assunto, sobretudo, com foco no Artigo 12 da Lei 8.492/1992.
O Código Penal traz nos artigos 312 e subsequentes, diversos crimes contra a administração pública como o peculato, inserção de dados falsos em sistemas de informação, emprego irregular de verbas ou rendas públicas, concussão, corrupção passiva, prevaricação e vários outros que por muitas vezes são muito mais danosos que os crimes contra a pessoa, por exemplo, no sentido em que seus resultados atingem uma parcela enorme da sociedade e acabam por dificultar e muitas das vezes até exterminar a vida dos cidadãos.[6: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. (BRASIL, 1940)][7: Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionárioautorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (BRASIL, 1940)][8: Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei:Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. (BRASIL, 1940)][9: Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. (BRASIL, 1940)][10: Art. 317 – Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes, de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. [...] (BRASIL, 1940)][11: Art. 319 – Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal:Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa. (BRASIL, 1940)]
Para Rogério Grecco:
Na maioria das vezes, a sociedade não tem ideia dos estragos causados quando um funcionário corrupto lesa o erário. [...]. O dinheiro gasto desnecessariamente na obra impede que outros recursos sejam empregados em setores vitais da sociedade, como ocorre com a saúde, fazendo com que pessoas morram na fila de hospitais por falta de atendimento, haja vista que Estado não tem recursos suficientes para a contratação de um número adequado de profissionais, ou mesmo que, uma vez atendidas, essas pessoas não possam ser tratadas, já que faltam os necessários medicamentos nas suas prateleiras. (2017. p.687)
Para fins do estudo deste caso, detalharemos mais a fundo o crime de Peculato, descrito no artigo de 312 do CP, que guarda certa semelhança com o crime de apropriação indébita (art. 168, CP), porém, guarda certas peculiaridades e a conduta realizada pelo funcionário público somados à expectativa de honestidade nele depositada pela Administração Pública trazem uma maior reprovação, e, consequentemente uma maior pena para o delito. (GRECCO, 2017)
Outra característica primordial que deve ser observada é que não se deve levar em conta a natureza do objeto material subtraído (se é público ou privado), pois, a principal causa de configuração do delito está na posse em razão do cargo. Tanto que só existe o peculato se a apropriação veio de condições dadas pelo cargo público. (GRECCO, 2017)
No peculato o sujeito ativo do crime é o funcionário público (Art. 327, CP), todavia, poderá ser responsabilizado pelo ilícito, outro que não possua a qualidade de funcionário público, desde que se configura circustância elementar do crime. (MIRABETE, 2007). Já o sujeito passivo do crime é o Estado, pois se trata de crime contra a administração pública (União, Estados e Municípios e até as autarquias e as entidades paraestatais). (MIRABETE, 2007). Sobre o tipo, conceitua-se a conduta típica como apropriação ou desvio; e, como acontece com outros crimes do Direito Penal, também contém requisitos para extinção da punibilidade e atenuação da pena. (MIRABETE, 2007).
Além dos crimes previstos no Código Penal, há punições para quem praticar ato de improbidade administrativa, conforme disposição do artigo 12 da lei 8.429/1992: 
Das penas: Artigo 12. Independentemente das sanções penais, civis e administrativas previstas na legislação específica, está o responsável pelo ato de improbidade sujeito às seguintes cominações, que podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente, de acordo com a gravidade do fato: I - na hipótese do art. 9°, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano, quando houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos; II - na hipótese do art. 10, ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos; III - na hipótese do art. 11, ressarcimento integral do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. IV - na hipótese prevista no art. 10-A, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de 5 (cinco) a 8 (oito) anos e multa civil de até 3 (três) vezes o valor do benefício financeiro ou tributário concedido. Parágrafo único. Na fixação das penas previstas nesta lei o juiz levará em conta a extensão do dano causado, assim como o proveito patrimonial obtido pelo agente. (BRASIL, 1992).
A seguir, passaremos a transcorrer sobre os princípios constitucionais e administrativos do ponto de vista do Direito Processual.
2.1.2 Os princípios processuais no âmbito da Administração Pública
Para enterdermos melhor o estudo do caso, vamos fazer definições sobre improbidade e ilegalidade. Dois conceitos importantes no ordenamento jurídico tornando-os indispensáveis quando se trata de administração pública, visto a situação vivenciada pela sociedade brasileira em relação aos atos irregulares e corruptos por parte de represententes ou agentes públicos, onde cada vez mais, se busca por fiscalização e cumprimento do direito material nos casos de corrupção. 
A Constituição Federal de 1988 menciona no caput do artigo 37 os princípios administrativos constitucionais:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência [...]. (BRASIL, 1988)
Abaixo, podemos observar a definição do escritor Alexandre de Moraes:
Atos de improbidade administrativa são aqueles que, possuindo natureza civil e devidamente tipificados em lei federal, ferem direta ou indiretamente os princípios constitucionais e legais da administração pública, independentemente de importarem enriquecimento ilícito ou de causarem prejuízo material ao erário público. (MORAES, 2005, p.320).
Para Ives Gandra:
[...] é irresponsável aquele que macula, tisna, fere, atinge, agride a moralidade pública, sendo ímprobo administrador, favorecendo terceiros, praticando a concussão ou sendo instrumento de corrupção. (GANDRA apud DI PIETRO, 2007, p. 123).
Portanto, entende-se que um ato não basta ser ílicito para configurar improbidade, além da ilicitude precisa caracterizar a conduta de desonestidade nos atos praticados pelas autoridades e agentes públicos. A improbidade tem sentido amplo, abrange não só atos desonestos ou imorais, mas também, e principalmente, atos ilegais.
Percebemos então, que improbidade e ilegalidade possuem definições semelhantes, porém a improbidade caracteriza-se um ato muito mais grave.
Na linguagem comum, podemos conceituar improbidade como qualquer ato praticado que contrarie os princípios constituicionais que estãoelencados no caput do artigo 37 da Constituição Federal, conforme anteriormente citado.
A Lei Maior também dispõe no § 4ª do artigo 37, o seguinte:
§ 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (BRASIL, 1988).
Logo, quando falamos em princípios constitucionais e em atos ímprobos, não podemos deixar de mencionar o Princípio da Legalidade, que não está apenas mencionado no artigo 37 CF, mas também no art. 5º, II, que estabelece que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. (BRASIL, 1988).
O princípio da legalidade, no Brasil, significa que a Administração nada pode fazer senão o que a lei determina. Ao contrário dos particulares, os quais podem fazer tudo o que a lei não proíbe, a Administração só pode fazer o que a lei antecipadamente autorize. Donde, administrar é prover aos interesses públicos assim caracterizados em lei, fazendo-o na conformidade dos meios e formas nela estabelecidos ou particularizados segundo suas disposições. (BANDEIRA DE MELLO, 2005, p. 93).
Ainda tecendo sobre princípios, pode-se destacar o importante princípio do Devido Processo Legal, o qual está incluso no nosso ordenamento jurídico no inciso LIV do artigo 5º da Constituição Federal que diz: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. (DIDIER JR, 2015). O Devido Processo Legal pode ser conceituado como um princípio garantidor que visa evitar o exercício abusivo do poder. (DIDIER JR, 2015). 
Na mesma seara, podemos definir outro princípio primordial no Direito Processual, o do Contraditório e da Ampla Defesa, o qual está disposto também no inciso LV do artigo 5° da Constituição Federal, que consiste em garantir a manifestação das partes, que tem o direito de serem ouvidas e não somente isso, que essa oitiva influencie na decisão do órgão jurisdicional. Portanto, trata-se de um direito das partes e um dever do juiz. (DIDIER JR, 2015). Além disso, este princípio foi ratificado no Novo Código de Processo Civil de 2015, onde prevê o seguinte:[12: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; (BRASIL, 1988).]
Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório.
Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III ;
III - à decisão prevista no art. 701 .
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. (BRASIL, 2015).
Adiante, conceituaremos de forma aprofundada Impobidade Administrativa e suas vertentes.
2.1.3 A Improbidade Administrativa e a responsabilidade dos agentes públicos
Conforme foi abordado em tópicos anteriores, é importante conceituar de forma clara o que é Improbidade Administrativa.
Para isso é necessário que se entenda o que é a administração pública, que é uma atividade desenvolvida pelo Estado ou seus delegados, sob o regime de Direito Público, destinada a atender de modo direto e imediato, necessidades concretas da coletividade. É todo aparelhamento do Estado para a prestação dos serviços públicos, para a gestão dos bens públicos e dos interesses da comunidade. (ALEXANDRINO, 2010). 
Os parâmetros definidos para que a probidade administrativa seja sustentada como bem jurídico partem do reconhecimento de que a finalidade da Administração Pública é atender a sua função administrativa. Assim, sob o ponto de vista legal, a probidade administrativa erige-se como bem jurídico em decorrência das disposições normativas oriundas de regras imperativas e proibitivas dirigidas ao agente público e ao agente particular que com a Administração Pública mantém relações jurídicas. (ALEXANDRINO, 2010). 
Sabendo que é dever da administração pública atuar de forma legal, honesta e leal; partiremos para o conceito de improbidade. 
A Improbidade administrativa é um termo técnico usado para descrever um ato ilegal que é praticado no âmbito da Administração Pública, configura-se quando um agente público age de forma desonesta e desleal no cumprimento das suas funções públicas.
A nossa Constituição Federal estabelece, no seu art. 37, § 4º, que: 
[...] os atos de improbidade administrativa importarão à suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível. (BRASIL, 1988).
Objetivando emprestar concretude ao comando constitucional, a Lei nº 8.429/92 elencou quais sujeitos estariam suscetíveis às penalidades da lei. Destarte, dispõe o artigo 1º dessa lei que:
Os atos de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da receita anual, serão punidos na forma desta lei. (BRASIL, 1992).
O termo descrito na Lei nº 8.429 de 1992, que decorre dos atos ilícitos são classificados como pertencentes à conduta de natureza cível, e não penal. Desta forma, o agente público que tenha cometido improbidade administrativa não pode responder por um crime. No entanto, segundo o artigo 5º desta lei, caso seja provado o ato ilícito do agente, este deverá ressarcir na totalidade todos os dados que provocou.
Art. 5° Ocorrendo lesão ao patrimônio público por ação ou omissão, dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro, dar-se-á o integral ressarcimento do dano. (BRASIL, 1992).
Na Lei da Improbidade Administrativa são elencadas três modalidades de ato ilícito, e no que tange, as penas para os agentes que praticam atos de improbidade a lei estabelece no artigo 12º sanções específicas, como:
O Enriquecimento ilícito: quando um agente público usa o seu cargo e função como instrumento para adquirir vantagem econômica para si ou terceiros, prejudicando deste modo a União.
Que traz como sanção a perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, ressarcimento integral do dano (quando houver), perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de oito a dez anos, pagamento de multa civil de até três vezes o valor do acréscimo patrimonial e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de dez anos. (BRASIL, 199).
Ações que provoquem danos ao erário: ocorre quando o agente público usa os recursos financeiros da União para fins particulares. Como desvio de dinheiro público e aplicação de verbas públicas para o enriquecimento próprio, por exemplo. 
O que acarreta no ressarcimento integral do dano, perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio, se concorrer esta circunstância, perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de cinco a oito anos, pagamento de multa civil de até duas vezes o valor do dano e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos. (BRASIL, 1992).
A Violação a (algum) princípio da Administração: qualquer conduta que viole os princípios da honestidade, lealdade, legalidade e imparcialidade às instituições públicas. Como a fraude em um concurso público, que é um exemplo de violação que se enquadra nesta modalidade. (BRASIL, 1992).
 Gera como sanção o ressarcimento integral do dano (se houver), perda da função pública, suspensão dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos. (BRASIL, 1992).
Como nos ensina Hely Lopes Meirelles:
[...] neste rol de entidades devem ser incluídas também aquelas que receberem subvenção, beneficio ou incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público bem como daquelas para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou concorra com menos de 50% (cinquenta por cento) do patrimônio ou da receita anual, limitando-se, nestes casos, a sanção patrimonial a repercussão do ilícito sobre a contribuição dos cofres públicos.” (MEIRELLES, 2006. p103).
 Nota-se que a Lei de Improbidade Administrativa tem o objetivo de complementar os princípios trazidos na nossa Constituição, estabelecendo regras jurídicas que definem os atos de improbidade, prevêem sanções na hipótese de existir conduta assim qualificada.
2.1.4 Concepção de Dano à Propriedade Pública e sua ocorrência ou não no processo analisado
A expressão “domínio público” ou “patrimônio público”, para Bandeira Mello, é formado por um conjunto de bens púbicos que incluem bens móveis ou imóveis. (1999). Já para Hely Lopes Meirelles, são bens públicos “em sentido amplo, todas as coisas, corpóreas ou incorpóreas, imóveis, móveis e semoventes, créditos, direitos e ações que pertençam, a qualquer título, às entidades estatais, autárquicas, fundacionais e empresas governamentais” (MEIRELLES, 2004; p. 493).
Em sentido legal estrito, são bens públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencem conforme o Código Civil no seu Artigo 98. (BRASIL, 2002).
O conceito mencionado acima, implica na exclusão dos bens das pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Indireta dessa categoria. No entanto, que sejam elas empresas públicas ou sociedades de economia mista.
A legislação brasileira disciplina os bens públicos em diversos diplomas normativos embora se utilizando de diferentes termos, expressões ou denominações.
De acordo com o artigo 99 do Código Civil, são bens públicos: 
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças; II - os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias; III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. (BRASIL, 2002).
Analisando o processo, verificamos que nos atos praticados pelos agentes públicos e demais investigados pela Polícia Federal, no contexto de Bens Públicos, não foi configurado Dano à Propriedade Pública, pois não se tratavam de bens imóveis, mas sim, de prejuízo estritamente financeiro.
2.2 Metodologia
Para desenvolver este trabalho primeiramente procuraram-se artigos, reportagens e a sentença do caso; posteriormente, fez-se um detalhado apanhado de referencial teórico em livros e artigos on line. A partir do referencial teórico e dos objetivos expostos de acordo com cada disciplina, buscou-se elaborar um questionário semiestruturado para realização de entrevista com a Deputada Federal Yeda Crusius, que à época dos eventos de corrupção era a Governadora do Estado do Rio Grande do Sul. A entrevista foi enviada, em conjunto com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por e-mail e teve seu envio/recebimento tratados por sua assessoria de imprensa. Com base no referencial teórico, na entrevista ora intencionada e na análise de cada objetivo, intuiu-se chegar a uma conclusão que responda os possíveis impactos da corrupção na crise financeira e política dos Estados brasileiros.
2.3 Análise dos Resultados 
Após amplo estudo dos fatos e atos praticados pelos agentes públicos, conclui-se que: todas as etapas do processo foram cumpridas, obedecendo assim o princípio do devido processo legal. Os prazos respeitados, sendo balisados no princípio da celeridade processual; bem como as provas foram analisadas dentro do princípio da legalidade.
Houve fundamentação em todas as contestações, bem como respeito ao contraditório e a ampla defesa em todos os atos do juízo dentro do processo, como por exemplo, da ocasião do pedido de prova pericial para auditar preços de mercado e isentar a alegação de superfaturamento pela defesa de um dos réus que, em verdade, constituiria no caso, elemento meramente protelatório. Tal pedido foi negado, sob a argumentação de que os preços de mercado poderiam ser facilmente aferidos pela comparação via documental, com os serviços similares prestados ou desenvolvidos para outros Detrans no País.
Entre os vários crimes praticados no esquema de corrupção, podemos mencionar o crime praticado contra o parágrafo único do artigo 89 da Lei 8.666 de 1993, que consiste na dispensa indevida de licitação, bem como a obtenção de vantagem com a mesma, tendo em vista que os contratos celebrados com o poder público superaram o prazo de 180 dias e foram prorrogados sem a existência material das exigências previstas no artigo 24 da lei: emergência, urgência ou calamidade pública, isto é, que possa ocasionar prejuízo ou comprometer a segurança de pessoas, obras, serviços e etc.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Doze anos após a descoberta da fraude, as regras da Fatec sobre contratos foram modificadas e existe um maior controle dos atos administrativos da fundação, que continua sendo um dos braços da UFSM. As fundações não perderam credibilidade, pois se concluiu que elas não foram propriamente corruptas em si, mas sim, usadas como ferramentas para possibilitar ao grupo criminoso, obter vantagens indevidas.
Sobre a não aplicação da pena de perda de bens e valores, a qual foi justificada por não haver demostração exata do acréscimo de bens ou valores aos patrimônios dos réus ímprobos; nossa opinião é que deveria ter sido feito uma investigação mais aprofundada a fim de averiguar a possível evasão de divisas ou até mesmo a transferência de parte desses valores para as contas de laranjas.
Por fim, criticamos a possível conduta ímproba da então Governadora do Estado do Rio Grande do Sul e atual Deputada Federal Yeda Rorato Crusius, no sentido de que como chefe do Poder Executivo, ela era à época dos fatos responsável pela administração do Estado, pela nomeação dos secretários de Estado (e substituí-los em caso de má gestão), prestar contas do orçamento do estado para a Assembleia Legislativa entre outras responsabilidades que julgamos terem sido negligenciadas. A Deputada foi questionada pelo grupo sobre vários pontos da Ação Civil Pública e não obtivemos nenhum esclarecimento a respeito deles. 
O Estado do Rio Grande do Sul vem enfrentando um crescente déficit nas suas finanças que culminou na gestão 2014-2018 num colapso financeiro. Este colapso impossibilitou o pagamento de parte do funcionalismo estadual em dia, onde os policiais e professores tiveram seus salários parcelados, atrasados ou parcialmente suspensos; bem como, o pagamento das dívidas para com a União. 
Conjecturamos que se os governantes, eleitos pelo povo para sua representação, cumprissem com suasatribuições éticas, o estado não estaria atualmente enfrentando a maior crise financeira de sua história.
		
REFERÊNCIAS
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. 19ª ed. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 93
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BRASIL, 1993. Lei de Licitações e Contratos da Administração Pública. Brasília: Senado Federal, 1993. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm>
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	Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Bagé – RS – Brasil 	15

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