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Direito-e-assistencia-jurídica_Bruno-Rosa-Balbé

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DEFENSORIA PÚBLICA: SEU PAPEL NA 
RESOLUÇÃO EXTRAJUDICIAL DOS CONFLITOS 
EM MATÉRIA DE SAÚDE PÚBLICA
Bruno Rosa Balbé1
1. INTRODUÇÃO
Os problemas surgidos com a falta ou a prestação irregular dos serviços pú-
blicos de saúde exigem uma solução célere e eficaz, pela própria natureza desse tipo 
de demanda.
Atualmente, isso é alcançado primordialmente por meio dos métodos alterna-
tivos de resolução de conflitos, como a conciliação e a mediação, e a Defensoria 
Pública é uma peça fundamental para que isso ocorra.
Poderia a Defensoria Pública, em seu mister de prestar assistência jurídica in-
tegral e gratuita aos necessitados, conforme prescrito nos artigos 134 e 5º, LXXIV 
da Constituição Federal, se contentar em simplesmente submeter os conflitos que 
lhe chegam à decisão do Poder Judiciário e esperar que este os solucione e dê a 
necessária efetividade?
A resposta evidentemente é negativa, pois quando se trata de saúde pública, que 
deve ser prestada sob os prismas da universalidade e integralidade, o paradoxo efe-
tiva prestação em contraponto à demora do Poder Judiciário assume uma relevância 
deveras grandiosa.
A necessidade de uma consulta, um exame, um medicamento ou uma cirurgia, 
citados a título exemplificativo entre um universo de prestações garantidas pela abran-
gência do artigo 196 de nossa Carta Magna, traz ínsito que se trata de algo que não 
pode demorar.
1 Pós-graduado em Advocacia Cível pela Fundação Getúlio Vargas, Campo Grande/MS, pós-graduado em 
Direito Penal pela Universidade Anhanguera-Uniderp, Campo Grande/MS, e pós-graduado em Direito 
e Assistência Judiciária pela Faculdade Unyleya, Belo Horizonte/MG. Defensor Público no Estado de 
Rondônia
BALBÉ, BRUNO ROSA. Defensoria Pública: seu papel na resolução extrajudicial dos conflitos em matéria de saúde pública. In: PEREIRA, Rodolfo 
Viana; ROMAN, Renata; SACCHETTO,Thiago Coelho (Orgs.). Direito e assistência jurídica: um olhar da Defensoria Pública sobre o Direito. Belo 
Horizonte: IDDE, 2018. p. 11-31. ISBN 978-85-67134-04-8. Disponível em: <http://bit.ly/2BCQQDY>
12 BRUNO ROSA BALBÉ
Quando uma pessoa chega ao ponto de bater às portas da Defensoria Pública em 
busca de assistência jurídica porquanto não lhe foi garantida uma prestação em matéria 
de saúde pública, ela certamente já fez uma peregrinação em diversos órgãos que inte-
gram o Sistema Único de Saúde, já decorreram todos os lapsos temporais que poderiam 
ser legalmente exigidos e o agravo à sua saúde se apresenta cada vez mais evidente.
É nessa hora que se coloca o Defensor Público diante das ferramentas que 
o sistema jurídico lhe outorga: tentar resolver o problema de forma extrajudicial ou 
judicializar a demanda?
Não estamos tratando aqui daquela conhecida prática de enviar um ofício aos 
órgãos responsáveis pelo atendimento pleiteado, solicitando uma solução, mas que 
na prática serve apenas para instruir a ação e não como forma efetiva de resolução 
do conflito, até mesmo porque a prática demonstra que esses ofícios geralmente não 
são sequer respondidos.
O que se está a debater é uma atuação organizada e estratégica da Defensoria 
Pública, enquanto instituição que dialoga com outras Instituições e órgãos de Go-
verno, para em conjunto e com alta efetividade solucionar os problemas encontrados 
na prestação da saúde pública de forma célere, assim como tem que ser e sua na-
tureza o exige.
Isso é o desejado, agir com eficiência, cumprindo uma função institucional ex-
pressa em sua Lei de Regência e, sobretudo, economizando tempo e diminuindo o 
sofrimento daqueles que padecem nas filas dos hospitais e farmácias públicas. 
A outra alternativa para quem não dispõe dessa ferramenta é a judicialização da 
demanda, o que já foi necessário, quiçá essencial no processo de amadurecimento 
de nossa política universalista de saúde inaugurada em 1988, mas que hoje, a toda 
evidência, tem que ser a exceção e não mais a regra.
Daí a importância de estudar a formatação de nosso arcabouço constitucional 
para entender o ontem, o hoje e onde pretendemos chegar, o papel da judicialização 
nesse contexto e como a resolução extrajudicial dos conflitos poderá moldar o futuro, 
especialmente com a atuação estratégica da Defensoria Pública.
A título de demonstração prática, será apresentado o cenário encontrado no 
Estado de Rondônia, apontando-se quais estão sendo as atitudes tomadas pela De-
fensoria Pública para reduzir de modo drástico a judicialização das demandas de 
saúde pública e alcançar a tão almejada celeridade na solução dos conflitos que lhe 
são cotidianamente apresentados, especialmente com a implantação do denominado 
“Programa SUS Mediado”.
13DEFENSORIA PÚBLICA: 
Esse Programa está sendo um divisor de águas, daí a necessidade de dis-
correr sobre como ele começou, como está hoje e quais as perspectivas para o 
futuro, demonstrando o quanto a população se benficiou com a sua implantação e o 
quanto é importante a união entre todos os órgãos envolvidos para que ele continue 
gerando resultados. 
2. A SAÚDE PÚBLICA NO BRASIL
A saúde recebeu diversos tipos de enfrentamento ao longo de sua trajetória em 
nosso país, passando desde uma espécie de favor estatal em um primeiro momento, 
para um serviço privado ou decorrente de um direito trabalhista, até enfim se tornar 
um direito universal como é hoje sob o advento da Constituição Cidadã de 1988.
Em sua fase inicial, especialmente na época do Império e da República Velha, a 
saúde não representava mais do que uma benesse do Estado, que podia ser conce-
dida, retirada ou restringida a qualquer momento, pois não havia nenhum instrumento 
normativo que garantia a sua existência, quiçá sua manutenção.
Nesse particular, Felipe Dutra Asensi relata o seguinte em sua obra Direito à 
Saúde: práticas sociais reivindicatórias e sua efetivação2: “Não havia qualquer instru-
mento jurídico-legal que garantisse a universalidade desse direito, sendo concentrada 
no Estado a possibilidade e a discricionariedade de realizar ações em saúde em bene-
fício de uns em detrimento de outros, inclusive de forma autoritária [...]”. 
A segunda fase, que vai desde o início da Era Vargas até a redemocratização do 
país na década de 80, foi marcada essencialmente pela ampliação dos direitos dos 
trabalhadores e criação das caixas de assistência e planos de saúde.
Nessa época a saúde deixou de ser um favor estatal para se tornar acessível 
a quem por ela pudesse pagar, seja a partir dos planos de saúde privados, seja em 
razão de um serviço público decorrente da condição de trabalhador por meio da Pre-
vidência Social.
Continuaram excluídos do acesso à saúde quem não conseguia pagar os altos 
custos do planos privados e quem não trabalhava de forma registrada e, portanto, 
não contribuía para a Providência Social, ou seja, os hipossuficientes e socialmente 
vulneráveis.
2 ASENSI, Felipe Dutra. Direito à saúde: práticas sociais reivindicatórias e sua efetivação. Curitiba: Juruá, 
2013b, p. 132.
14 BRUNO ROSA BALBÉ
A situação começa a se alterar novamente a partir da segunda metade da 
década de 70, com o denominado “Movimento da Reforma Sanitária”, engendrado 
por intelectuais, sanitaristas e estudantes que construíram as bases acadêmicas do 
conceito de universalização da saúde e esta como direito de cidadania, alterando-se 
assim a sua concepção de um “benefício” para um “direito”.
Outra relevante bandeira desse movimento foi o reconhecimento do princípio 
da integralidade, segundo o qual o indivíduo deve ser visto como uma integralidade 
bio-sociopsíquica e tem direito aos serviços de baixa, media e alta complexidade de 
forma humanizada.
Isso abriu as portas para o que acabou vindo a fazer parte do texto constitu-
cional de 1988 nos artigos 196 a 200, ou seja, o içamento da saúde à condição de 
direito fundamental e o mandamento de sua concretização e ampliaçãoa todas as 
pessoas, tornado-se a terceira e atual fase e na qual nos encontramos.
Não há como fazer referência à saúde na Constituição Federal e não transcrever 
ao menos o artigo 196, haja vista a sua peculiar clareza: “Art. 196. A saúde é direito 
de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que 
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e 
igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.”. 
De uma forma geral, os princípios da saúde traçados pela Constituição Federal 
foram os da universalidade, integralidade, equidade, descentralização e participação 
popular, e representam uma forma de tentar corrigir todos os erros já cometidos nas 
fases anteriores.
Posteriormente à Constituição iniciou-se o delineamento do arcabouço norma-
tivo pra lhe dar concretude, podendo-se citar como texto mais importante a Lei n. 
8.080/90, que criou o Sistema Único de Saúde – SUS.
O artigo segundo desse Diploma bem expressa o seu espírito, senão vejamos:
Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.
§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução 
de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e 
de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso 
universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção 
e recuperação.
15DEFENSORIA PÚBLICA: 
Os avanços em termos de positivação do direito à saúde foram enormes, porém, 
deram ensejo a um novo desafio: como tornar isso passível de ser exercido por todas 
as pessoas, ou seja, efetivamente universal.
É aí que se começa a perceber a complexidade da matéria, principalmente ao 
se tentar sintonizar três esferas de governo, municipal, estadual e federal, e cada uma 
com suas competêcias, recursos e prioridades que até então não existiam.
Como tudo isso foi criado no campo normativo, a implantação na prática gerou 
uma série de problemas, especialmente no que diz respeito à formulação e efetivação 
das políticas públicas de saúde, pois precisava quebrar todos os laços com o arcaicos 
paradigmas anteriores. 
Sobre isso, Karina Rocha Mendes em sua obra Curso de Direito da Saúde3 
assevera que:
Desde o início da implementação do SUS e até os dias de hoje, devido à gran-
diosidade e abrangência não é tarefa fácil a sua implementação absoluta num 
país continental como o nosso. Logo vieram os primeiros entraves ao mode-
lo: quadro de doenças de todos os tipos; irracionalidade e desintegração do 
sistema; excessive centralização com impropriedade de decisões; escassez 
de recursos; baixa cobertura e exclusão dos mais vulneráveis; indefinição de 
competências; descoordenação dos órgãos públicos; insatisfação dos pro-
fissionais da saúde; baixa qualidade dos serviços e equipamentos de saúde; 
falta de transparência dos gastos públicos; falta de mecanismos de controle 
e avaliação e insatisfação da população.
Esse processo de transição foi marcado pela existência de um direito à pres-
tação positiva do Estado de um lado e a inércia ou demora deste na implementação 
efetiva de um atendimento sanitário universal e integral, o que deu ensejo à necessi-
dade de judicialização das demandas para sua garantia.
3. A JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE 
A judicialização foi o primeiro meio encontrado para a resolução de conflitos e 
efetivação de direitos em matéria de saúde no Brasil após a promulgação da Consti-
tuição de 1988 e edição das demais normas relativas à matéria em questão.
Isso porque é notório em nosso país o protagonismo do Poder Judiciário na 
vida social e política como um efetivador de direitos, razão pela qual conclui Felipe 
3 MENDES, Karyna Rocha. Curso de direito da saúde. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 137.
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Dutra Asensi em sua obra Direito à Saúde: práticas sociais reivindicatórias e sua 
efetivação4:
A progressiva contitucionalização que os direitos sociais passaram na década 
de 1980 em diante no Brasil, associada aos desafios de implementação efetiva 
por parte do Estado, fez com que tais direitos fossem cada vez mais submeti-
dos ao crivo do Judiciário para a obtenção do mandamento de efetivação.
Associado ao proeminente arcabouço legislativo da seara sanitária, passou-se 
a dar mais concretude também ao princípio constitucional da inafastabilidade do con-
trole jurisdictional, também conhecido como princípio do acesso à Justiça, direito 
fundamental insculpido no artigo 5º, inciso XXXV da Carta Magna.
Ratificando esse raciocínio, Eduardo Jannone da Silva em sua obra Tutela jurí-
dica do direito à saúde da pessoa portadora de deficiência5 dispõe que: 
Sendo tal direito, em estudo, real direito subjetivo, o mesmo passa a ser ga-
rantido jurisdicionalmente, passível de exercício por intermédio de seu titular, o 
qual poderá exigir do Estado prestações positivas ou negativas para implemen-
tá-lo, sempre que encontrar necessitado.
Relevante pontuar o papel da Defensoria Pública nesse panorama, pois também 
criada pela Constituição Federal de 1988 com a incumbência de prestar assistência 
jurídica integral e gratuita aos necessitados, vem paulatinamente se estruturando e 
dando cada vez mais voz àquelas pessoas antes marginalizadas do acesso à saúde.
Com isso, os excluídos históricos dos serviços de saúde pública, pelo menos 
até a promulgação da Carta Constitucional, são justamente a enorme massa de pes-
soas que passaram a se tornar usuárias do Sistema Único de Saúde e consequente-
mente o público alvo da Defensoria Pública.
Somando-se então a garantia do acesso à Justiça com um órgão estatal incum-
bido de deduzir essa pretensão em Juízo, sem qualquer custo ao cidadão que se vê 
de alguma forma tolhido no seu acesso integral à saúde, o resultado não poderia ser 
outro: a judicialização como forma de obrigar o Poder Público a dar total concretude 
ao artigo 196 da Constituição Federal.
Sob outro vértice, seguindo o entendimento do Supremo Tribunal Federal, seu 
órgão de cúpula, a Justiça brasileira acabou por forjar o direito público à saúde como 
4 ASENSI, Felipe Dutra. Direito à saúde: práticas sociais reivindicatórias e sua efetivação. Curitiba: Juruá, 
2013b, p. 209.
5 SILVA, Eduardo Jannone da. Tutela jurídica do direito à saúde da pessoa portadora de deficiência. 
Curitiba: Juruá, 2009, p. 112.
17DEFENSORIA PÚBLICA: 
um bem indisponível em sua jurisprudência, operando o que acabou por se denomiar 
de “ativismo judicial”.
Essa atuação do Poder Judiciário acabou por pressionar os gestores públicos 
da área da saúde a adotarem providências e superarem suas ineficiências, sobretudo 
no que diz respeito à tão propalada universalidade e integralidade no atendimento à 
saúde da população, haja vista o risco iminente de ruptura do sistema político com o 
peso das decisões que começaram a aparecer para serem cumpridas.
A esse respeito, veja o que muito bem sintetiza Fernando Rister de Souza Lima 
em sua obra Saúde e Supremo Tribunal Federal6:
Essas medidas que os poderes públicos tomaram para diminuir o número de 
ações denotam que nossos gestores são, a maioria, incapazes de se anteci-
par ao problema. No aspecto, destaca-se que o “ativismo judicial” motivou o 
Poder Executivo a reorganizar a saúde pública, mesmo que ainda insuficiente; 
os avanços são grandes e muito se deve à postura firme e, em certa medida, 
irracional das decisões judiciais. Em verdade, os gestores públicos foram obri-
gados, por meio das decisões, a aumentar a sua heterorreferência (adequação 
social) com a sociedade, a resultar, entre outras medidas, na inclusão de diver-
sos medicamentos na lista do Sistema Único de Saúde (SUS) […]
Diante desse contexto todo, o Poder Judiciário, tido como neutro, imparcial e 
estritamentevinculado à lei, abriu caminho para um espaço social até então inimagi-
nável, adentrando na seara da efetividade das políticas públicas. 
Muitas podem ser as explicações para esse fenômeno, porém Souza Lima re-
laciona quatro que sem dúvida alguma o representam com muita propriedade, quais 
sejam:
I - Descrédito social na representação política;
II - Inefetividade social das políticas públicas;
III - Hipercomplexidade social;
IV - Cobrança social em face dos membros do Judiciário;
 Essa atuação do Poder Judiciário é um fenômeno por vezes reconhecido pela 
alcunha de “judicialização”, outras vezes de “ativismo judicial”.
6 LIMA, Fernando Rister de Sousa. Saúde e Supremo Tribunal Federal. Curitiba: Juruá, 2015, p. 232.
18 BRUNO ROSA BALBÉ
Heletícia Leão de Oliveira traz muito bem esse debate em sua obra Direito fun-
damental à saúde, ativismo judicial e os impactos no orçamento público7 (Curitiba: 
Juruá 2015, pág. 78), onde, após esboçar fundamentos doutrinários de cada instituto, 
conclui com a diferenciação entre ambos, parafraseando Paganelli:
É mister destacar que a distrinção entre os institutos “reside na origem da atu-
ação judicial para aquém dos limites da interpretação: enquanto no ativismo o 
fenômeno deriva da vontade do intérprete proativo, na judicialização ele pro-
vém da vontade de legislador constituinte tal qual exercida em macrocondições 
jurídicas.
Também citado por Heletícia Leão de Oliveira8 na obra acima referida, o jurista 
Lenio Streck entende que ativismo judicial e judicialização se confundem na teoria 
constitucional contemporânea, pontuando que ambas fazem parte de um gênero 
maior denominado protagonismo judicial.
Independentemente da nomenclatura, o fato é que de qualquer jeito o Poder 
Judiciário avoca para si a incumbência de decidir a efetivação dos direitos sociais 
quando o Poder Público não cumpre com suas respectivas políticas, especialmente 
na área da saúde, causando reflexos nelas.
O primeiro caso emblemático que enfrentou a questão do controle judicial de po-
líticas públicas ocorreu no Supremo Tribunal Federal quando do julgamento da Arguição 
de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 45, sob a relatoria do Ministro Celso de 
Mello, que em apertada síntese deixou pontuado que formular e implementar políticas 
públicas não estão entre as atribuições do Poder Judiciário, porém este pode agir em 
caráter de excepcionalidade quando os demais Poderes, Executivo e Legislativo, deixam 
de cumprir seus papéis e com isso colocam em risco a eficácia e a integridade dos 
direitos fundamentais, individuais ou coletivos, previstos na Constituição Federal.
Após, com o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal da Suspensão de Tutela 
Antecipada 175, de 2010, e a edição da Recomendação 31, também de 2010, do 
Conselho Nacional de Justiça, restaram estabelecidos os primeiros parâmetros e di-
retrizes à atuação judicial na área da saúde, e isso vem sendo debatido intensamente 
até os dias atuais, sempre visando a concretização do direito fundamental à saúde 
sem afrontar o princípio da separação dos poderes nem gerar impactos insustentáveis 
no orçamento público.
7 OLIVEIRA, Heletícia Leão de. Direito fundamental à saúde, ativismo judicial e os impactos no orça-
mento público. Curitiba: Juruá, 2015, p. 78.
8 OLIVEIRA, Heletícia Leão de. Direito fundamental à saúde, ativismo judicial e os impactos no orça-
mento público. Curitiba: Juruá, 2015.
19DEFENSORIA PÚBLICA: 
Não se pode esquecer de registrar ainda que, sentindo a falta de alguma pres-
tação que lhe foi negada no caso concreto, é o Poder Judiciário o mais próximo do 
cidadão, que pode nele reivindicar seus direitos constitucionais e conseguir a efeti-
vação que não lhe foi prestada nem pelo Executivo nem pelo Legislativo.
Pois bem, definindo o Poder Judiciário que ele tem essa missão constitucional 
e que é a porta na qual as pessoas lesadas em seus direitos podem bater, resta agora 
sabem como isso acontece na prática.
Sempre que alguém busca uma providência relacionada à saúde pública, pri-
meiramente ela deve buscar o que se denomina de “portas de entrada” do Sistema 
Único de Saúde, conforme prescreve o Decreto n. 7.508, de 28 de junho de 2011, 
que regulamenta a Lei n. 8.080/90, nos seguintes termos:
Art. 8º O acesso universal, igualitário e ordenado às ações e serviços de saúde 
se inicia pelas Portas de Entrada do SUS e se completa na rede regionalizada e 
hierarquizada, de acordo com a complexidade do serviço. 
Art. 9º São Portas de Entrada às ações e aos serviços de saúde nas Redes de 
Atenção à Saúde os serviços:
I - de atenção primária;
II - de atenção de urgência e emergência;
III - de atenção psicossocial; e
IV - especiais de acesso aberto.
Em uma grande parcela dos casos é possível observar que as pessoas não con-
seguem superar sequer essa primeira barreira, pois por uma série de fatores, ficam 
impossibilitadas de agendar uma simples consulta com um médico.
Quando não há disponibilidade de vagas para clínicos gerais ou mesmo especia-
listas nos sistemas de regulação, muitas das vezes sequer os pacientes são inseridos 
nas filas de espera e portanto ficam “invisíveis” ao Sistema.
Aí já surge a primeira problemática quanto se pretende exigir judicialmene 
o direito à saúde, pois se sequer é formalizada a pretensão do cidadão perante o 
sistema regulatório, e ainda assim quando esta existe, como que se comprovará 
em Juízo com uma documentação hábil os fatos que virão a ser deduzidos na 
petição inicial?
20 BRUNO ROSA BALBÉ
Sem nem mesmo passar pelo médico, como alguém poderá tem um documento 
escrito comprovando a sua necessidade? E mesmo que tenha realizado uma consulta, 
como demonstrará em juízo que a providência que lhe foi prescrita, um exame, por 
exemplo, lhe foi negado?
A regra é que todos devam ser atendidos, porém são as exceções, vinculadas a 
determinados tipos de patologias, que não disponibilizadas pelo SUS em razão de sua 
raridade, excesso de demanda, elevado custo ou falta de amadurecimento científico, 
ou particularidades específicas de alguns pacientes, que acabam descambando para 
a seara judicial.
Nesses casos, quando a parte não tem mais alternativa e busca assistência 
jurídica para levar sua demanda ao Poder Judiciário, esbarra num primeiro obstáculo 
que seu Defensor Público ou advogado irá lhe alertar: geralmente não há nenhum 
comprovante escrito de negativa de atendimento por parte do SUS.
Embora a realidade fática seja latente e gritante, simplesmente olhando para 
a pessoa se percebe que ela precisa de atendimento imediato, para o “Sistema” ela 
não existe, sua pretensão não existe e portanto não há como comprovar o que se 
necessita e o que lhe foi negado.
Somado isso a um Poder Judiciário extremamente formalista, a pretensão de 
uma pessoa nessas condições não passaria do crivo de recebimento da petição ini-
cial, quanto mais se pensar no deferimento de uma tutela de urgência.
Vide, exemplificativamente, o que prescrevem os artigos 300 e 320 do Código 
de Processo Civil, respectivamente:
Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à 
propositura da ação.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que 
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado 
útil do processo. 
As expressões “elementos que evidenciem” e “documentos indispensáveis”, 
se por um lado servem de filtro para demandas aventureiras e tentativas de abuso 
do Poder Judiciário para atender interesses escusos, por outro lado barram as pes-
soas mais vulneráveis de terem acesso à saúde, pois as subjugam a possuir provas 
escritas contra um Sistema que não quer documentar suas falhas justamente para 
não ser demandado na Justiça por alguma providência que ele sabe que é obrigado 
a atender e está em débito.21DEFENSORIA PÚBLICA: 
Até hoje não se tem uma fórmula para resolver esse problema, e enquanto isso 
quem continua sofrendo as consequências são os mais vulneráveis, que não têm 
condições econômicas de buscar atendimento na rede particular e a rede pública não 
lhe fornece as provas e documentos necessários para buscar a tutela jurisdicional.
Quem passa por esse primeiro filtro do Sistema, esbarra em um segundo, que 
é a exigência formal de fundamentação dos documentos médicos de um lado e a 
constatação de que infelizmente isso quase não acontece no dia a dia.
O resultado prático disso é que na grande maioria das vezes as pessoas que 
buscam orientação jurídica para ingressar com demandas judiciais e possuem algum 
documento expedido por médico do SUS, recebem a triste notícia de que aquele laudo, 
requisição de exame ou encaminhamento para algum especialista está ilegível ou não 
contém fundamentação alguma.
Talvez entre órgãos do próprio SUS a carência de fundamentação desses docu-
mentos seja bastante para atingir sua finalidade, mas quando se apresenta ao magis-
trado um pedido de exame ou medicamento não fornecidos pelo Poder Público, sem 
uma farta fundamentação, o pleito pode até ser processado, mas lhe será negada a 
via dos Juizados Especiais da Fazenda pública e seguirá o rito mais moroso que tem 
em uma Vara de Fazenda Pública residual, já abarrotada de processos, descambando 
na realização da prova pericial custosa e burocrática que fará a demanda durar anos, 
como comumente se vê.
 Mais uma vez, entende-se que a Justiça tem que fazer de tudo para barrar quem 
esteja de má-fé ou queira tirar algum proveito indevido, porém de novo os vulneráveis 
são os mais atingidos, porque não conseguem fazer com que alguns dos médicos 
que os atendem pelo SUS façam laudos ou requisições nos termos que são exigidos 
pelo Poder Judiciário e, por conta disso, quando conseguem garantir um pronuncia-
mento favorável a sua pretensão, isso só se dá na sentença, após a realização de 
uma perícia.
Ora, se o que é concedido ao final do processo é exatamente aquilo que foi 
prescrito no início, salvo quando a pessoa morre ou seu estado de saúde se agrava 
pela demora no tratamento, indaga-se: o problema está no direito da pessoa, ou na 
comprovação desse direito que ficou prejudicada pela má qualidade de um atendi-
mento prestado pelo próprio Sistema Único de Saúde contra o qual ela litiga?
Mas supondo que a pessoa passe por todo o trâmite do processo de conheci-
mento, no bojo do qual realizou inclusive uma perícia judicial para chegar à mesma 
conclusão que o médico já tinha manifestado desde o início, e sobreveio a sentença 
22 BRUNO ROSA BALBÉ
julgando favorável seu pleito. E mais, imagine-se que após todos os recursos e expe-
dientes procrastinatórios possíveis de serem manejados, finalmente a decisão transite 
em julgado.
Essa pessoa ainda não terá o bem da vida perseguido, pois o Poder Judiciário 
ainda terá que obrigar o Ente Público demandado a cumprir sua obrigação, e isso é 
um novo suplício. O que se observa na prática é que as medidas de coerção geral-
mente adotadas são simplesmente ignoradas.
Quando se chega a aplicar multas, após vários e vários pedidos da parte, me-
didas protelatórias pelos Entes Públicos e reiteradas ameaças por parte dos ma-
gistrados, elas são ineficazes porque não são cobradas e caem no esquecimento. 
Quando aplicadas em favor das partes e são cobradas, acabam sendo retiradas 
quando um dia a obrigação é cumprida, tornando-se inócuas.
A única medida que ainda acaba funcionando é o sequestro de verbas públicas, 
mas lamentavelmente, quando se chega a obter essa providência, já se passou tanto 
tempo que em muitos casos as vidas já pereceram ou as sequelas da doença se tor-
naram irreversíveis, ficando a pessoa sem ter garantido em tempo hábil o seu direito 
consititucional à saúde mesmo após anos e anos de batalha judicial. 
Não há dúvidas que o Poder Judiciário teve um grande papel na sedimentação 
da garantia do acesso universal e integral à saúde, e ainda é coadjuvante com outras 
instituições do Sistema de Justiça, porém como se observa na prática cotidiana, 
ainda é deveras seletivo, elitista e moroso, tratando com absurda diferença quem 
consegue laudos médicos detalhados e pode pagar peritos caros, daqueles que obtém 
um mínimo de prova documental para iniciar uma batalha e fica sujeito a um “perito” 
subjugado ao próprio órgão contra o qual ele litiga.
E é justamente essa parcela relegada, pobre, vulnerável sob inúmeras vertentes, 
que bate todo dia nas portas da Defensoria Pública, que tem a missão constitucional 
de lhes prestar assistência jurídica integral e gratuita, em busca de uma solução para 
seus problemas na área de saúde.
Com uma perspectiva nebulosa de solução pela via judicial, pelo pouco que já 
se exemplificou acima, não é possível que a primeira opção do Defensor Público seja 
propor uma ação e aguardar o Estado-Juiz dirimir o conflito dentro do tempo dele.
Questões de saúde urgem, quem procura ajuda está doente, sentindo dor, pas-
sando mal, já esgotou os recursos que tinha disponíveis perante o SUS. Portanto, 
cada decisão errada de quem tem como função prestar a orientação jurídica adequada 
nessa hora pode acarretar muito sofrimento.
23DEFENSORIA PÚBLICA: 
Daí porque a Defensoria Pública não pode ser um órgão passivo ou omisso, 
devendo agir de acordo com os princícios e normas que a regem para proporcionar o 
direito à saúde a seus assistidos de forma célere e através de meios eficazes, supe-
rando esses óbices impostos pelo Poder Judiciário. 
4. A DEFENSORIA PÚBLICA E SUAS ESTRATÉGIAS PARA GARANTIR O EFETIVO 
ACESSO À SAÚDE 
Nada melhor para definir o que é Defensoria Pública do que o próprio texto do 
artigo 134, caput da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda 80/2014:
Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função 
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do re-
gime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos 
direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos 
direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, 
na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal.
 Embora criada em 1988 com uma redação bem mais simples e topografica-
mente em uma seção compartilhada com a advocacia, o texto acima representa o 
coroamento da importância ímpar da Defensoria Pública como órgão integrante do 
Sistema de Justiça, responsável pelo modelo público de prestação de assistência 
judiciária gratuita escolhido pelo Constituinte.
Em alguns Estados da Federação ela já existia com base em legislações locais, 
outros criaram-na após a previsão inserida na Carta Magna, e em 1994 foi editada a 
Lei Complementar 80/94, que organizou a Defensoria Pública da União, do Distrito Fe-
deral e dos Territórios e prescreveu normas gerais para sua organização nos Estados.
Nessa formatação da Defensoria Pública, ficou estabelecido como uma de suas 
funções institucionais a de dar prioridade aos métodos extrajudiciais de solução de 
conflitos, senão vejamos:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
II – promover, prioritariamente, a solução extrajudicial dos litígios, visando à 
composição entre as pessoas em conflito de interesses, por meio de mediação, 
conciliação, arbitragem e demais técnicas de composição e administração de 
conflitos; 
Esse dispositivo foi inserido por meio da Lei Complementar 132/2009 e não foi 
por acaso: ele representou normativamente o que na prática já se tinha percebido há 
24 BRUNO ROSA BALBÉ
muito tempo, ou seja, que o acesso ao Poder Judiciário somente deve se dar após 
não haver outro meio de resolver consensualment o litígio.
Tal positivação teve um peso tremendo,pois ao determinar a prioridade na 
solução extrajudicial como uma função da Instituição, não deu a ela apenas mais 
uma responsabilidade, mas também uma diretriz na formulação de suas políticas e 
estratégias.
Por outro lado, não se pode esquecer também que esse dispositivo dá o direito 
do assistido de poder exigir que ele seja beneficiado com essa prática sempre que for 
buscar assistência jurídica para a solução de seus problemas, encontrando celeridade 
e eficiência.
Mas como instituição nova que é, a Defensoria está na fase de sedimentação 
e práticas, como a priorização da resolução extrajudicial, que estão sendo paulatina-
mente implantadas, principalmente a partir de experiências exitosas que são difun-
didas entre seus membros.
Na seara da saúde pública, muitas Defensorias já têm estruturados seus Nú-
cleos exclusivos dessa matéria e outras tantas não estão medindo esforços para fa-
zê-lo, mesmo com a crise que vem assolando o país e consequentemente achatando 
ou até mesmo reduzindo o já escasso orçamento da Instituição.
É justamente nessa hora de crise, que milhões de pessoas são vitimizadas com 
o desemprego ou com a queda abrupta do padrão de vida, muitas delas empurradas 
para baixo da linha da pobreza, que aumentam os usuários do Sistema Único de Saúde 
e diminuem os serviços oferecidos em razão da proclamada redução de despesas.
Isso traz um contingente enorme de pessoas alijadas de seus direitos à saúde 
pública universal e integral às portas da Defensoria, e pior, quando o orçamento desta 
também não condiz com o volume de sua demanda.
Mas a Defensoria Pública não pode se acovardar e nem relegar à própria sorte 
essa massa de pessoas que anseiam desde medicamentos da atenção básica até 
complexas cirurgias cardíacas, direito que lhes é assegurado, devendo agir com cria-
tividade e perspicácia para driblar essa maré contrária.
Foi assim que ocorreu na Defensoria Pública do Estado de Rondônia. Criada 
em 4 de novembro de 1994, com a edição da Lei Complementar Estadual n. 117, 
e a posse de seus primeiros membros em 2002, ela vem passando por um intenso 
processo de aprimoramento.
25DEFENSORIA PÚBLICA: 
Embora ainda não conte com um Núcleo de Tutela da Saúde, já desenvolveu e 
implantou mecanismos para dar efetividade ao comando da priorização da resolução 
dos conflitos de forma extrajudicial, especialmente na área da saúde pública.
Tal fato se deu com a implantação do denominado “Programa SUS Mediado”, 
que em seu primeiro trimestre de funcionamento, em 2016, reduziu a judicialização 
na área da saúde em mais de 90%.
Esse Programa foi espelhado em uma experiência implantada em 2012 na De-
fensoria Pública do Estado do Rio Grande do Norte, com o mesmo nome, e trazido 
para Rondônia por um Defensor Público que tinha atribuição de atuar perante as Varas 
de Fazenda Pública e deparava-se diariamente com as mazelas dos processos judi-
ciais, cujo objeto era obtenção de direitos relacionados à saúde pública.
Apresentada a idéia ao Conselho Superior da Defensoria Pública do Estado, 
ela foi imediatamente acolhida e passou-se a uma fase de tratativas com os órgaos 
públicos envolvidos com a temática da saúde pública, quais sejam, Defensoria Pública 
do Estado de Rondônia, Secretaria de Estado de Saúde de Rondônia, Procuradoria 
Geral do Estado de Rondônia, Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho, Procura-
doria Geral do Município de Porto Velho e Defensoria Pública da União. 
Após várias reuniões, foi firmado em 14 de outubro de 2015 entre todos esses 
Órgãos um Termo de Cooperação Técnica e disciplinadas as responsabilidades de 
cada um, ressaltando-se que o Programa não funcionaria sem a participação efetiva 
de todos e com os resultados obtidos todos seriam beneficiados.
Importante destacar os considerandos constantes nesse documento, que muito 
bem delineiam os objetivos e anseios de todos:
A) A necessidade de implementação de políticas públicas que minimizem os 
impactos negativos decorrentes da judicialização das demandas de saúde;
B) A possibilidade de criação de mecanismos extrajudiciais de atendimentos 
desburocratizados, céleres e eficientes, com garantia de concretização do di-
reito fundamental à saúde, preconizados nos artigos 6º e 196 da Constituição 
Federal, para os cidadãos hipossuficientes;
C) A importância do apoio operacional de técnicos da Secretaria de Saúde do 
Estado de Rondônia e Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho para fim 
de aplicação regular das políticas públicas de saúde, bem como para facilitar o 
fluxo de atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde.
26 BRUNO ROSA BALBÉ
Após cumpridas essas formalidades iniciais, verificou-se que ainda seriam ne-
cessários mais ajustes, ocasião em que foi proposto um projeto perante o Conselho 
Superior que culminou em uma resolução que regulamentou o “Programa SUS Me-
diado” no âmbito interno da Defensoria Pública do Estado de Rondônia.
Após tudo normatizado, a coordenação do Programa passou então aos prepara-
tivos para o início de suas atividades, buscando a disponibilização de local, alocação 
de pessoal, equipamentos de informática e telefonia etc., quando deparou-se com o 
fato de que a crise orçamentária da Defensoria Pública não poderia lhe oferecer o que 
precisava.
Foi então que surgiu a oportunidade de firmar um convênio com a Faculdade 
Católica de Rondônia, segundo o qual a referida Instituição cederia as instalações de 
seu Núcleo de Prática Jurídica e seu corpo de professores e alunos para ajudar nos 
atendimentos do Programa SUS Mediado, resolvendo com isso o problema de estru-
tura material que até então se apresentava.
Tudo resolvido, Termo de Cooperação e Convênio com a Faculdade Católica 
assinados e Programa regulamentado internamente no âmbito da Defensoria Pública, 
iniciaram-se as atividades no dia 29 de julho de 2016, logo após o início das aulas do 
segundo semestre no Núcleo de Prática Jurídica.
De seu início até o dia 15 de maio de 2017 o “Programa SUS Mediado” atendeu 
3.252 pessoas em demandas relacionadas à saúde pública no município de Porto 
Velho, sendo que desse montante apenas 122 demandas foram encaminhadas para 
judicialização, o que representa um percentual de 93% de redução no número de 
casos levados ao Poder Judiciário.
Muito digno de nota é o fato de que, quando a demanda não é solucionada 
extrajudicalmente, o Programa encaminha o caso para o ajuizamento, porém instruído 
de uma forma que antes não se ouvidava.
Todo caso que tem como destinatário o Poder Judicário sai com o pedido de-
vidamente embasado documentalmente, com os motivos pelos quais o Ente Público 
competente não atendeu ao pleito do assistido e, sobretudo, com um laudo medico ou 
farmacêutico discorrendo sobre o caso e sua urgência ou não, em documento legível 
e bem fundamentado, de modo que o cidadão tenha a certeza de que o problema dele 
será bem resolvido, de uma forma ou de outra. 
Adotando essa prática, a Defensoria Pública passou a direcionar as demandas 
para os entes corretos, ajuiza-las com um embasamento não só jurídico, mas também 
técnico-científico e bem mais instruídos, o que resultou numa efetividade nunca antes 
27DEFENSORIA PÚBLICA: 
imaginada, pois consegue superar os óbices da judicialização tradicional já referida 
anteriormente e obter as tutelas de urgência em praticamente todas as demandas em 
que tais providências são pleiteadas.
Até para o Poder Judicário é bom, que passou a receber muito menos de-
mandas e estas bem instruídas, já amplamente debatidas entre as partes e maduras 
para um enfrentamento muito mais técnico.
Com isso, a Defensoria Pública do Estado de Rondônia vem cumprindo sua 
missão constitucional de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados 
e também exercendo sua função institucional de priorizar a solução extrajudicial dos 
conflitos, o que juntamentecom seus parceiros, conveniados e colaboradores, tem 
produzido resultados invejáveis e dignos de encômios, nos quais quem mais ganha é 
o assistido hipossuficiente que passa a ter a sua disposição uma ferramenta essencial 
para garantir de forma célere e eficaz o seu acesso universal e integral à saúde Pública.
5. PERSPECTIVAS PARA UM FUTURO PRÓXIMO
A Defensoria Pública é uma instituição nova e vem aprendendo a cada dia com 
seus erros e acertos.
Institucionalizar um projeto de resolução extrajudicial de conflitos na área de 
saúde, como o “Programa SUS Mediado”, com absoluta certeza é é um avanço irre-
versível, pelos benefícios que trouxe e ainda trará.
Um Defensor Público sozinho, com as inúmeras atribuições que lhe competem, 
não consegue ter a rede de relacionamentos necessárias para atingir tantos resultados 
como quando o Programa é feito pela Instituição.
E essa constatação, aprendida na prática a duras penas, buscando exemplos de 
outras Defensorias, por incrível que pareça nada mais é do que cumprir a lei, já que o 
artigo 4º da Lei Complementar 80/94 estabelece que priorizar a solução extrajudicial 
é uma função “institucional”, e não apenas uma orientação ou sugestão ao órgão de 
execução defensorial.
A Defensoria Pública do Estado de Rondônia já deu um importante passo e se 
conscientizou que sem o viés institucional, amparando o Defensor e potencializando 
a sua atuação, a eficácia e os resultados não são os mesmos.
Após constatar que com a implantação do “Programa SUS Mediado” a judi-
cialização na área da saúde foi reduzida em mais de 90% na capital, Porto Velho, o 
próximo passo então será a expansão para o interior do Estado.
28 BRUNO ROSA BALBÉ
Como se disse, o Programa não é integrado apenas pela Defensoria Pública e 
não funcionaria só com ela, o que reforça mais ainda a tese de que sem a força insti-
tucional integrando os vários participantes as ações necessárias não se concretizam.
A Secretaria de Saúde de Rondônia também já sinalizou interesse em expandir 
a abrangência do Programa para o interior do Estado, onde a judicialização ainda é o 
remédio amargo que tem que ser tomado a força.
Mais uma vez a criatividade e força de vontade devem ser exigidas dos envol-
vidos, pois com a escassez de recursos públicos por conta da crise que assola o país, 
somente com a união de esforços e muita determinação se pode fazer um trabalho 
de tamanha magnitude, representando talvez o maior desafio no âmbito da resolução 
extrajudicial de conflitos do Estado de Rondônia. 
O primeiro passo já foi dado, que é a demonstração de vontades convergentes 
e o início das tratativas internas.
O próximo passo será encontrar um meio de integrar os Núcleos da Defensoria 
Pública de todas as comarcas de forma virtual com a Coordenação do Programa em 
Porto Velho e com todos os demais órgãos envolvidos, como secretarias estaduais 
e municipais de saúde.
Já se sabe de antemão que fisicamente isso é impossível, devido às grandes 
distâncias entre as comarcas e a Capital. Por outro lado, quando se trata de questões 
de saúde, o tempo é um fator relevantíssimo e não pode ser desconsiderado em 
hipótese alguma.
A solução desse problema novamente virá de fora, fruto de experiência de outra 
Defensoria que já enfrentou obstáculo semelhante e o superou, qual seja, a do Estado 
do Espírito Santo.
Esse Estado tem um Programa parecido com o SUS Mediado e desenvolveu 
um sistema de computador capaz de integrar todos os órgãos envolvidos, tramitar 
documentos com segurança, realizar estatísticas, enfim, operacionalizar todas as ati-
vidades necessárias.
Tal sistema representaria a solução para essa barreira da distância e da agili-
dade, sendo que em tratativas informais a Defensoria Pública do Espírito Santo já sina-
lizou que poderá cedê-lo para uso em Rondônia sem qualquer custo, o que superaria 
também o óbice da contenção de gastos.
Caso esse sistema venha a ser implantado, o Estado todo será integrado em 
uma única rede de resolução extrajudicial dos conflitos na área de saúde pública, 
29DEFENSORIA PÚBLICA: 
interligando as regulações estaduais e municipais e dinamizando os tratamentos fora 
de domicílio, intermunicipais e interestaduais.
Para o cidadão, os ganhos serão imensuráveis em orientação jurídica, especial-
mente de como funciona o sistema de saúde, celeridade e eficiência na marcação de 
seus exames, consultas, cirurgias e demais procedimentos, e tudo sem a necessidade 
de ter que aguardar o trâmite de ações judiciais.
Somente com o treinamento dos colaboradores dos Núcleos das Defensorias 
Públicas das comarcas do interior para poder entender o “Programa SUS Mediado” e 
dele participar, primando pela solução extrajudicial, já representa um ganho enorme, 
porquanto o cidadão que anseia pela solução rápida do seu problema vai ver que tem 
uma instituição com o mesmo pensamento que ele, primando pela efetividade ao invés 
da fórmula arcaica de depositar tudo nas mãos da Justiça.
Treinados os colaboradores da Defensoria Pública das comarcas, em sintonia 
com os da coordenação do Programa em Porto Velho, e assim com os demais órgãos 
participantes, criando uma sintonia igual a que hoje já existe na Capital, Rondônia es-
tará pronta para assumir mais uma meta em prol de seus cidadãos, reduzir em 90% a 
judicialização da saúde em todo o Estado e garantir o acesso universal e integral dessas 
pessoas à saúde pública, fazendo cumprir o que determina a Constituição Federal.
6. CONCLUSÃO
A atuação da Defensoria Pública na área da saúde é deveras diferenciada, pois 
o problema enfrentado e o público envolvido tem particularidades ímpares.
De um lado, temos uma Cosntituição Federal que estabelece em seu artigo 196 
ser a saúde direito de todos e dever do Estado, com características de universalidade 
e integralidade, daí porque esse direito social pode ser exigido em qualquer extensão, 
seja para uma simples consulta médica, seja para uma neurocirurgia.
De regra, quem precisa fazer valer esse direito é a população hipossuficiente, 
que precisa de assistência médica e não pode pagar pelos planos privados, justa-
mente o público a quem a mesma Constituição Federal outorgou que a Defensoria 
Pública lhe prestasse assistência jurídica, também integral e gratuita.
Há também o Estado, em sendido amplo, abrangendo União, estados e muni-
cípios, que precisam garantir esse direito social de seus cidadãos e por uma série 
de fatores e limitações não consegue fazê-lo adequadamente, dando ensejo a que as 
demandas de saúde lhe possam ser exigidas, de regra, judicialmente.
30 BRUNO ROSA BALBÉ
Observa-se então, assistência à saúde integral e assistência jurídica integral: 
tudo que um cidadão hipossuficiente precisa para obter a solução de seu problema, 
bastando ter a negativa de uma demanda sua e comparecer na Defensoria para que 
esla tome as medidas cabíveis.
E é justamente na hora de escolher que posição adotar é que se apresentou 
a problemática desenvolvida neste texto: ajuizar uma ação ou optar pelos métodos 
extrajudiciais de solução de conflito?
Por tudo que se demonstrou, a judicialização já cumpriu uma importante função 
e hoje não deve ser mais a primeira opção na grande maioria dos casos, haja vista 
toda a problemática que ela envolve, e, na área da saúde especificamente, a morosi-
dade da justiça é totalmente incompatível com a necessária brevidade na outorga da 
prestação demandada.
Resta então os meios extrajudiciais, que podem e devem ser trabalhados pela 
Defensoria Pública para buscar uma solução muito mais célere e eficaz para seus 
assistidos.
Este texto demonstou que quando a Defensoria Pública assume sua função ins-
titucional de promover a solução extrajudicial de conflitos, não deixando isso apenas 
a cargo do Órgão de Execução, ou seja, do Defensor isoladamente, ela consegue se 
relacionar com outrasInsituições e potencializar as suas ações e sua efetividade.
E foi justamente isso que aconteceu no Estado de Rondônia, que trouxe a expe-
riência de outras Defensorias onde essa prática já deu certo, aprimorou-a, adequan-
do-a à sua realidade local, e criou um Programa que foi chamado de “Programa SUS 
Mediado” para, junto com diversos outros órgãos públicos e instituições voltadas para 
a temática da saúde, resolverem entre si suas demandas sem precisar passar pelo 
crivo do Poder Judiciário.
Os resultados encontrados nos primeiros meses de atuação foram surpreen-
dentes, 90% dos casos apresentados foram resolvidos extrajudicialmente e o objetivo 
agora é expandir esse Programa para todas as comarcas do Estado, reduzindo nesse 
mesmo patamar a judicialização para toda a população de Rondônia, posto que já 
estão sendo implementados esforços conjuntos para que isso ocorra muito em breve.
Com isso, a Defensoria Pública cumpre seu papel constitucional, presta um me-
lhor serviço a seus assistidos, primando inclusive pela necessária celeridade que os 
casos de saúde exigem, e o faz valendo-se de seu viés intitucional para somar forças 
com outros órgãos e instituições e com isso potencializar sua atuação, e tudo dentro 
dos parcos recursos financeiros que seu orçamento lhe permite.
31DEFENSORIA PÚBLICA: 
REFERÊNCIAS
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República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 17 mar. 2015
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