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IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA ERP EM UMA INDÚSTRIA DE ARTIGOS ESPORTIVOS COMO DIFERENCIAL COMPETITIVO: FATORES DE SUCESSO E DIFICULDADES Jeane de Fatima Gomes de Lima (UFPB) jeanegl@yahoo.com.br Milene Felix de Almeida (UFPB) milenefelix2004@yahoo.com.br Para alcançarem competitividade hoje as empresas necessitam buscar alternativas de diferenciação de seus produtos e serviços e melhorar o tempo de resposta às mudanças ambientais. Essa resposta deve estar apoiada em informações rápidas e coonfiáveis para auxiliar a tomada de decisão. Nesse cenário, os sistemas ERP surgem como facilitadores para as organizações no processo de integração e coordenação das atividades empresariais. No entanto, diversos desafios podem surgir na implementação de um sistema de gestão integrado e impedir que este apresente a desejada eficiência organizacional, gerando assim desvantagem competitiva. O objetivo deste trabalho é analisar os fatores críticos de sucesso no projeto de implantação de um sistema ERP em uma indústria de artigos esportivos. Para fins metodológicos adotou-se o estudo de caso e a pesquisa de campo. Como resultado, observou-se que o sucesso da implementação de um ERP em uma empresa deve-se à efetiva contribuição do projeto para seus objetivos estratégicos e geração de maiores vantagens competitivas para a mesma. O projeto implementado propiciou vários resultados positivos para a organização estudada, como processos com plataforma e sistema de gestão únicos, padronização dos processos comuns com as outras unidades de negócio, racionalização dos investimentos em tecnologia, dentre outros. Esses ganhos têm contribuído significativamente para o alcance do planejamento estratégico corporativo, satisfazendo os investidores, usuários do sistema e equipe do projeto, além de possibilitar maior competitividade para a organização. Palavras-chaves: ERP, competitividade, artigos esportivos. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. 2 1. Introdução A palavra que impera no ambiente organizacional atual é competitividade. Para alcançá-la as empresas necessitam traçar e adotar estratégias que lhes proporcionem certo diferencial em relação à concorrência, bem como melhor agilidade de adaptação às mudanças ambientais. Desafios como melhoria de produtividade, maior agilidade no atendimento e serviço ofertado aos clientes, disponibilização de informações rápidas e confiáveis para auxiliar a tomada de decisão, melhoria de desempenho e resultados corporativos necessitam serem superados a fim de assegurar maior longevidade às organizações. No intuito de atender essas necessidades devem-se desenvolver algumas características vitais para a sobrevivência das companhias. Nesse cenário, a integração dos processos empresariais é de suma importância na busca de ganhos competitivos nas organizações. Surge assim a necessidade de implantação de um sistema ERP - Enterprise Resource Planning, o qual promove a integração de todo o sistema de gestão de uma companhia. No entanto, para que a implantação de um sistema ERP propicie a desejada eficiência à organização e justifique o valor e tempo investidos é importante ressaltar que podem existir diversos impedimentos na execução dessa atividade, os quais precisam ser vencidos. Isso evitará que a solução adotada, ao invés de trazer benefícios, traga grandes problemas operacionais - inclusive perdas de vantagens competitivas para as empresas. Portanto, o objetivo desse estudo é analisar os fatores críticos de sucesso no projeto de implantação de um sistema ERP em uma indústria de artigos esportivos. 2. ERP Na década de 90 as empresas sofreram fortes pressões, obrigando-as a buscar novas alternativas para reduzir custos e diferenciar seus produtos e serviços. Esse fenômeno resultou no surgimento e expressivo crescimento dos sistemas ERP’s no mercado de soluções corporativas de informática (JESUS; OLIVEIRA, 2007). Normalmente adquiridos na forma de pacotes de softwares, um ERP objetiva dar suporte aos processos operacionais de uma organização, integrando os dados provenientes das diversas áreas em um único banco de dados, que posteriormente é acessado através dos diversos módulos específicos do software para cada setor (RIBEIRO; RIBEIRO, 2006). A Deloitte Consulting (1998 apud SOUZA 2000) denomina o sistema ERP como um pacote de software de negócios, permitindo a uma companhia automatizar e integrar a maioria de seus processos de negócio, compartilhar práticas e dados comuns por toda a empresa e produzir e acessar informações em tempo real. Este sistema integra dados-chaves (dados- mestres) e a comunicação entre as diversas áreas empresariais: planejamento, programação, compras, previsão, vendas, marketing, recursos humanos, finanças, qualidade e outras funções. Tentar desenvolver um sistema integrado internamente provavelmente custará bem mais caro para a empresa. Assim os pacotes ERP’s adquiridos de desenvolvedores externos surgem como aceitável solução, pois sua aquisição proporciona à organização menores riscos relacionados aos recursos e ao desempenho do pacote, bem como facilidade de instalação (STAIR; REYNOLDS, 2006). 3 Através do ERP as organizações procuram alcançar melhor produtividade, fortalecer sua posição competitiva, controlar o fluxo de materiais, melhor coordenar as atividades e monitoramento dos dados, informação e conhecimento transferido dentro e entre seus processos. Outra motivação para implementação de um ERP é a alavancagem do desempenho organizacional, a fim de eliminar todo fragmento de informações e alinhar a nova massa de dados gerada às estratégias corporativas (ZIMATH, 2007; ALBERTÃO, 2005; DAVENPORT, 1998). No entanto, nenhum sistema de gestão integrado selecionado por uma empresa suprirá todas as suas necessidades. Colangelo Filho (2001) colabora com esse pensamento ao afirmar que nenhum pacote de software ERP é capaz de atender em 100% todas as áreas de uma organização. Assim, em algumas ocasiões a empresa terá que se adaptar ao sistema padrão (standart) e em outras o sistema padrão deverá ser customizado, adequando-se à realidade do cliente. Entretanto, é importante salientar que adotar um sistema integrado de gestão não implica na transformação da empresa em uma organização integrada. As mudanças necessárias para tornar uma organização tradicional em uma empresa integrada e voltada para processos implicam em transformações complexas que abrangem aspectos estruturais e comportamentais (JESUS; OLIVEIRA, 2007). Nesse sentido, para que a implantação do ERP obtenha sucesso deve-se planejar e preparar a empresa para as mudanças que deverão ocorrer, pois estas poderão afetar o ambiente social e o modo de trabalhar de seus funcionários. 3. Ciclo de vida de desenvolvimento de sistemas ERP O ciclo de vida do desenvolvimento de sistemas consiste no processo de ordenar formalmente as atividades visando concluir um produto baseado em software (CAMARA, 2008). Na medida em que cada sistema é construído, atribuem-se cronogramas e prazos ao projeto até que o último seja instalado e aprovado. Podem-se considerar dois aspectos ao estudar o ciclo de vida de um ERP: o ciclo de vida tradicional, o qual se refere às etapas de desenvolvimento de um sistema interno proprietário e o ciclo de vida dos pacotes comerciais que são adquiridos ou adaptados de sistemas comerciais desenvolvidos externamente emformato genérico para atender a inúmeras organizações. Por não fazer parte do escopo desse trabalho, o desenvolvimento de sistema interno proprietário não será abordado, assim discorreremos acerca do ciclo de vida de softwares comerciais. Na literatura são encontrados diversos posicionamentos sobre as etapas e fases dos ciclos de vidas de pacotes comerciais. Stair e Reynolds (2006) enumeram as seguintes etapas relacionadas ao desenvolvimento de softwares externos: Revisar as necessidades e exigências do cliente (empresa e usuários) e limites de custos; Selecionar e adquirir os programas; Modificar ou personalizar o software, ou seja, analisar a habilidade do programa em satisfazer as necessidades dos usuários e da organização; Testar e aprovar o software desenvolvido, antes de sua aceitação final; Monitorar o sistema e realizar manutenção necessária, ou seja, atualização do pacote. Por sua vez, Laudon e Laudon (1996) relacionam as etapas de parametrização e customização de pacotes comerciais às fases de análise do sistema, análise dos requisitos, desenho de 4 solução e programação do ciclo de vida tradicional. Além disso, ainda apresentam as etapas de manutenção de pacotes, ressaltando os processos de correção de problemas, atualização e implementação de melhorias. O quadro 1 mostra essas etapas: 5 ANÁLISE DO SISTEMA PROGRAMAÇÃO Identificação do problema Análise dos requisitos Identificação dos possíveis fornecedores Avaliação dos pacotes versus desenvolvimento interno Seleção do pacote Instalação do pacote Implementação das customizações Desenho das interfaces Documentação Conversão Teste Treinamento dos usuários DESENHO OPERAÇÃO Adaptar os requisitos às características do pacote (mudança em procedimentos ou customização) Treinamento do departamento de informática Projeto das customizações Projeto das mudanças em procedimentos Manutenção Melhorias Atualização Quadro 1 – Ciclo de vida de pacotes comerciais Fonte: Adaptado de Laudon e Laudon (1996) Souza et al (2003) apresentam um modelo de ciclo de vida específico para pacotes comerciais, partindo do princípio da seleção e aquisição do sistema ERP e não de seu desenvolvimento completo – conforme demonstra a figura abaixo: DECISÃO E SELEÇÃO IMPLEMENTAÇÃO UTILIZAÇÃO Fase 1 Fase 2 Fase n Novas necessidades Conhecimento acumulado Parâmetros já estabelecidos Módulos parametrizados, customizados Dados migrados Usuários treinados Pacote selecionado Plano de implementação Fase 1 Fase 2 Fase n Figura 1: Modelo de ciclo de vida de sistemas Fonte: Souza et al (2003, p. 70) Após a escolha do sistema é feita a implementação, envolvendo etapas como: adaptação dos processos empresariais ao sistema, parametrização e possível customização do hardware e/ou software de suporte, treinamento de usuários e gestores e a disponibilização de suporte e auxílio. E, finalmente, a etapa de utilização, quando o sistema passa a ser presente no dia-a- dia das operações. 4. Fatores críticos de sucesso na implantação de um sistema ERP A decisão de utilizar sistemas de gestão integrados traz para as organizações várias expectativas quanto aos benefícios a serem obtidos, como também das preocupações em relação aos potenciais problemas que se possa encontrar. Segundo Stair e Reynolds (2006), o desenvolvimento de um ERP é tido como de sucesso quando o produto entregue corresponde às necessidades da organização e dos usuários, sendo concluído dentro do prazo e do orçamento previstos. 6 No entanto, outros fatores podem apresentar-se como críticos no processo de implantação de um ERP. Albertin (1999) aconselha que toda a companhia deve estar consciente da importância do projeto e ter conhecimento de informações relevantes para ser envolvida no esforço comum, seja por meio de treinamento ou reuniões. Se os futuros usuários não souberem da mudança futura que os aguarda, quando se depararem com a mesma, tendem a ser mais resistente, ao invés de procurarem se adaptar ao novo sistema. Portanto, deve-se construir e disponibilizar, paulatinamente, uma visão do futuro, dando tempo para que todos interiorizem e comecem a identificar-se com a nova situação. Conforme já discutimos, na implantação de um sistema ERP, a customização é um compromisso entre os requisitos da organização e as funcionalidades disponíveis no sistema. No entanto, esse processo onerará mais custos ao projeto de implantação do software. Se a empresa decide não customizar os processos críticos, os quais o sistema integrado não atende, poderá comprometer o sucesso final de todo o trabalho (UJIHARA; CARDOSO; CHAVES, 2006). Outro importante fator que contribui para o êxito desse tipo de projeto é a ponderação que as empresas devem fazer, desde o início da implantação, acerca dos impactos que a redefinição dos processos e a introdução do sistema terão na estrutura, cultura e estratégia da organização (DAVENPORT, 1998). Laudon e Laudon (2004, p. 449) complementam essa visão ao afirmar que para instalar com sucesso sistemas de informação, “deve-se dar mais atenção à avaliação completa e totalmente documentada do impacto organizacional durante o esforço de desenvolvimento”. A análise dos impactos na empresa esclarece como o novo sistema poderá afetar sua estrutura organizacional, as atitudes dos usuários e gestores, o processo decisório e suas operações. Por fim, Gonçalves (2002) aponta alguns elementos diferenciadores na implantação de um ERP, os quais são: Equipe do projeto: deve ser composta por consultores experientes e conhecedores do negócio e por membros da própria organização; Tecnologia: integrar a tecnologia do ERP com as estratégias corporativas; Organização: pessoas, cultura e processos de trabalho têm que ser progressivamente moldados a uma nova situação; Avaliação de desempenho: é importante quantificar os ganhos conseguidos, seja em relação à situação anterior, seja em relação aos principais competidores. Apenas a análise da posição competitiva, com base na leitura de métricas acordadas a partida, é que pode afirmar se a implementação foi um sucesso, fracasso, ou que não influenciou a organização. Assim, a partir das observações efetuadas pelos diversos autores podemos afirmar que a tríade pessoas-gestão-tecnologia é o pilar de uma boa implantação de sistema ERP. Quanto maior confiabilidade existir, não só acerca das pessoas, porém também da tecnologia utilizada, mais previsível se torna cada fase do projeto (LIMA, 2006). 5. Metodologia O presente trabalho trata-se de um estudo de caso – devido a seu caráter exploratório, onde o investigador tem controle reduzido sobre os eventos, sendo apenas analisados os dados reais e não interferindo diretamente nos mesmos, e de uma pesquisa de campo, por haver coleta dos 7 dados e investigação destes no local em que acontecem os fenômenos (YIN, 2001; PRESTES, 2003). 6. Implantação de sistema ERP em uma indústria de artigos esportivos Caracterização da empresa estudada A organização objeto de estudo é uma multinacional. Atua, com operações próprias em sete países e exporta para 80 nações, nos segmentos de sandálias, artigos esportivos e têxteis. É uma empresa com mais de 100 anos no mercado, possuindo cerca de 17.500 funcionários. Sob essa estrutura, mantém 16 fábricas – no Brasil, na Argentina e no Uruguai. Trata-se de uma sociedade anônima, controlada por um dos maiores grupos privados do País, e possui cerca de cinco mil acionistas.O projeto do sistema integrado de gestão Em 2005 foi iniciado o projeto de desenvolvimento de um sistema integrado de gestão, o qual foi considerado como fundamental para o cumprimento do planejamento estratégico da companhia. Até então a empresa possuía vários sistemas para gerenciar suas informações, tais como Baan, PsCom, visual basic, entre outros. Esse projeto durou aproximadamente dois anos, da etapa de decisão e seleção do ERP até a de utilização. O ERP selecionado foi o R/3 (versão 5.0) da SAP, empresa alemã líder nacional em softwares de negócios. Foram investidos cerca de R$ 40 milhões nesse projeto, pretendendo obter como benefícios anuais de R$ 60 a R$100 milhões/ano. Denominado aqui de Alfa, devido à necessidade de confidencialidade dos dados, esse projeto tinha como desafio integrar em uma única plataforma segmentos de negócios distintos. O objetivo principal buscado no projeto foi aumentar a vantagem competitiva da empresa e respectivas unidades de negócio (UN's), utilizando o máximo de padrões e pouquíssimas customizações. Além disso, outros ganhos esperados eram: Permitir à organização adotar uma plataforma única em seus processos; Adotar uma plataforma única de sistema de gestão – SAP – versão mais atual; Simplificar os processos; Padronizar processos comuns entre as UN's; Possuir solução totalmente integrada entre as fábricas; Racionalizar os investimentos em tecnologia; Manter a gestão compartilhada de processos de apoio, multi-país e multi-moeda; Viabilizar compras compartilhadas; Uniformizar as bases de dados de fornecedores e itens de compras; Estabelecer métricas para sustentar ondas de negociação e gestão de contratos corporativos. A equipe do projeto foi composta por aproximadamente 120 pessoas fulltime, sendo 80 internos, ou seja, membros da própria empresa, e, o restante, consultores externos. O time era multifuncional, pois envolvia as diversas áreas da organização, e estavam organizados da seguinte forma: a) Gerente do projeto - responsável por planejar e controlar a execução das atividades de modo macro, dentro dos limites de custo e tempo determinados. Essa função era exercida exclusivamente por colaboradores da empresa; 8 b) Líder – responsável por acompanhar fulltime os demais membros da equipe na execução das atividades. O líder podia ser um consultor ou colaborador da empresa. c) Key-users – são os colaboradores internos responsáveis pelo desenvolvimento das soluções empresariais junto com os líderes e consultores, aprendizagem do novo sistema e treinamento dos multiplicadores; d) Consultores – responsáveis por propor em todas as etapas do projeto as possíveis soluções do novo desenho organizacional. Houve ainda consultores contratados para elaborar o material de treinamento para multiplicadores e usuários finais; e) Multiplicadores – aqueles que ministrariam os treinamentos para os usuários finais. Apenas os colaboradores internos poderiam ser multiplicadores; f) Abapeiros – responsáveis pela programação do novo sistema, bem como carga e extração dos dados dos sistemas legados (antigos) para o R/3; O organograma abaixo reflete a disposição hierárquica das funções dentro do projeto: GERENTE DO PROJETO LÍDER KEY-USER MULTIPLICADOR CONSULTORES ABAPEIROS STAFF Figura 2: Organograma do projeto Fonte: Pesquisa de Campo, 2006. Na estrutura do Alfa, o gerente do projeto exerce comando sobre os demais membros da equipe: líderes, key-users e multiplicadores, sendo estes apoiados por consultores e abapeiros em todas as áreas de atuação do projeto, assim como em todas as etapas do projeto. Etapas do ciclo de vida do sistema R/3 O R/3 é um sistema composto por módulos, oferecendo diversas aplicações de negócio: 9 Figura 3: Módulos SAP Fonte: SAP, 2009. Para atender aos requisitos da organização o escopo do projeto contemplou os seguintes módulos: FI – Financial Accounting (Contabilidade Financeira): proporciona uma visão completa das funções contábeis e financeiras, incluindo um amplo sistema de informação e de geração de relatórios para facilitar a tomada de decisão. CO – Controlling (Controladoria): é utilizado para apresentar a estrutura de custos e os fatores que a influenciam, o que é comumente conhecido como contabilidade interna das empresas. PS – Project System (Sistemas de Projetos): é a ferramenta que suporta todas as fases de um Projeto, facilitando e tornando eficiente o seu controle e gerenciamento. Ao se utilizar o PS, tem-se a possibilidade de planejar custos, elaborar orçamento, programar datas de execução das tarefas, gerar requisições de compra para materiais e serviços, controlar a disponibilidade orçamentária, dentre outros. MM – Materials Management (Gestão de Materiais): apóia as funções de suprimento e de manutenção de estoques necessárias para os processos empresariais diários. PP – Production Planning (Planejamento da Produção): engloba as diferentes tarefas e metodologias utilizadas no processo de produção. Este projeto específico contempla os custos de produção. SD – Sales e Distribution (Vendas e Distribuição): é o módulo comercial. Apóia a otimização de todas as tarefas e atividades que ocorrem na venda, no fornecimento e no faturamento. QM – Quality Management (Gestão da Qualidade): representa um sistema destinado ao controle de qualidade e à informação, apoiando o planejamento de qualidade, o controle de qualidade e o controle de produção e de suprimento; PM – Plant Maintenance (Manutenção da Planta): é uma ferramenta detalhada para todas as atividades da manutenção que são executadas dentro de uma empresa, tais como: gestão de serviços técnicos, planejamento da manutenção, listas de materiais da manutenção e sistema de informação da manutenção. 10 Definido o escopo de todo o projeto, os primeiros passos da equipe foram elaborar o desenho da solução e validar com a gerência das fábricas, após várias reuniões, discussões, observação das melhores práticas do R/3 no mercado e visitas às unidades do negócio. Essa equipe inicial era formada por gerente do projeto, líderes, key-users, consultores e abapeiros. Aos key-users foi encarregada a responsabilidade de apresentar a solução proposta do novo sistema junto aos gestores nas UN's. Com a solução validada houve o desenvolvimento do software com a solução desenhada, sendo importante nessa etapa a experiência e habilidades dos consultores e abapeiros. Concomitantemente com a programação é realizada toda a documentação e parametrização do sistema. As particularidades da organização que o sistema standart não suporta, chamadas aqui de gaps, foram customizadas. Entretanto, para atender ao objetivo inicial do projeto de customização mínima possível, fez-se uma análise criteriosa acerca da real necessidade de customizar ou não esses processos. Apenas aqueles considerados críticos para o negócio foram customizados. Com o novo ERP construído foram realizados os primeiros testes no sistema. A princípio os módulos foram testados de modo individual e, posteriormente, de modo integrado, ou seja, entre todas as áreas. Com os módulos parametrizados e customizados realizou-se o saneamento dos dados. Sanear os dados consiste em extrair e analisar todas as informações dos sistemas legados, as quais serão transportadas para o novo sistema, verificando a descrição dos itens e respectivos códigos no intuito de evitar duplicidade ou falta de cadastro dos materiais. Havia aproximadamente 135.800 itens da lista de materiais para serem classificados, incluindo algunscom nomenclatura em inglês e espanhol. Esse processo é extremamente importante na implementação de um ERP ao passo que o bom saneamento de dados diminui consideravelmente o número de especificações erradas ou incompletas. Isso facilita a pesquisa dos itens pelos usuários, evita cadastramento e compras de materiais em duplicidade, reduz os custos com aquisição devido aos ganhos de escala para os itens comuns às UN's da organização, além de facilitar a contabilização do estoque. Concluído o saneamento de dados, foram realizados testes integrados ainda no ambiente de teste do R/3, antes da carga de dados ser realizada no ambiente real, ou seja, ambiente de produção. Os testes integrados permitem aos desenvolvedores verificar a eficácia e integração do sistema, bem como a confiabilidade das informações geradas. Simultâneo aos testes integrados realizou-se os treinamentos com os usuários do sistema. Os treinamentos foram divididos segundo a área de atuação – qualidade, manutenção, projetos, finanças, suprimentos, dentre outros. Entretanto, os multiplicadores de cada área foram treinados por seus respectivos key-users para, posteriormente, repassarem o conhecimento nas fábricas. Além disso, coube aos multiplicadores servirem como suporte às UN's após o go- live, isto é, a implamentação do R/3 na empresa. É importante salientar que desde o início do projeto Alfa a empresa se preocupou em conscientizar e preparar os futuros usuários acerca da mudança de sistema através de informativos, reuniões, vídeos, revistas, intranet, dentre outros. O projeto de desenvolvimento do sistema R/3 contou com o apoio e o envolvimento direto da presidência da empresa. O planejamento partiu do levantamento de todos os processos de negócio e do impacto que a mudança surtiria sobre cada um deles. 11 Chegado o dia do go-live o sistema foi liberado por UN. A implantação do SAP em cada fábrica consistiu em realizar todas as etapas de fabricação de um produto, desde a criação de ordens de vendas até a devolução do produto final. Na medida em que os processos apresentavam-se conforme planejado e testado prosseguia-se para as fases posteriores, caso houvesse alguma falha os ajustes necessários eram feitos. Todas as atividades realizadas foram acompanhadas in loco por consultores, multiplicadores, key-users e gestores das unidades, além do suporte técnico 24 horas remoto, via projeto, e externo, através da própria SAP. A figura 4 mostra a estrutura de suporte e controle, bem como os respectivos níveis de atendimento e responsabilidade para o go-live: Figura 4: Níveis de atendimento e responsabilidade na estrutura de suporte e controle do go-live Fonte: Projeto Alfa, 2007. Se o usuário relatasse problemas em um processo crítico em uma localidade que possui suporte local a orientação dada era que esse usuário contatasse primeiramente os integrantes do suporte local. Caso contrário, não houvesse suporte local, este deveria abrir um chamado junto ao Contact Center. O atendimento e as responsabilidades foram divididos em cinco níveis. Quando o suporte local não conseguia resolver esse problema o mesmo deveria comunicar a ocorrência ao Contact Center (Nível 1), cujo key-user informaria o problema ao suporte remoto (Níveis 1.5, 2 e 3). Caberia ao suporte remoto resolver problemas de: a) funcionamento do sistema que necessitassem de mudanças de configuração ou processos – consultores (Nível 1.5); b) de ambiente, tais como performance, perfil – basis (Nível 2); c) de programas (gaps) do projeto ou de performance decorrente de lógicas de acesso ao banco de dados – abaper (Nível 3); O suporte remoto investigaria junto ao suporte local e, em último caso, não solucionando o problema contactaria os parceiros e fornecedores (Nível 4). Resultados pós go-live 12 Na primeira semana pós go-live houveram falhas em alguns processos, porém com o suporte devido foram todas solucionadas. As metas de produção planejadas foram alcançadas e à medida que os usuários repetiam suas operações seguramente o novo conhecimento se internalizava ao se rotinizar na organização. Os gaps (processos customizados) que não ficaram bem definidos continuaram sendo trabalhadas para alcançarem o desempenho desejado. Dois anos após a implementação do SAP, observa-se na organização maior controle dos processos fabris, principalmente no que tange aos custos de fabricação dos produtos; as UN's ganharam em integração e padronização dos processos comuns, racionalização em tecnologia, uniformização das bases de dados de fornecedores e itens de compras, dentre outros. Com o forte trabalho realizado em gestão de mudança, os impactos do projeto foram avaliados e realizaram-se ações bloqueadoras dos possíveis conflitos. Isso permitiu um clima amistoso e motivador no período de implementação do sistema. Os colaboradores hoje se sentem seguros quanto ao sistema e áreas de apoio, como qualidade e manutenção, passaram a ser vistas pelas demais como essenciais no repasse das informações a partir do uso do sistema integrado. Isso se deveu ao fato de que antes os sistemas legados utilizados não se comunicavam, de modo que o PCP poderia, por exemplo, programar a produção de materiais que já haviam em estoque oriundos de uma devolução de clientes. No entanto, na maioria das situações não era possível visualizar tal informação ao mesmo tempo e muito menos on line. Com isso gerava-se o problema da superprodução. Pode-se dizer também que a companhia beneficiou-se com a velocidade das informações, pois estas ocorrem e são registradas em tempo real, integração entre as áreas e as diversas fábricas, padronização das atividades, maior controle no processo produtivo e, consequentemente, da qualidade do produto. A mudança também contribuiu para a melhoria da qualificação dos funcionários da organização. Com relação ao prazo e orçamentos planejados, inicialmente pretendia-se implementar o ERP na organização em dezoito meses, no entanto esse prazo necessitou ser prolongado em função de retrabalhos feitos em algumas áreas na etapa de desenho da solução. As áreas mais críticas em todo o processo de desenvolvimento do R/3 foram finanças e controladoria, pois o sistema standart não oferecia os relatórios que atendessem a necessidade da empresa. Consequentemente cresceram os custos adicionais em relação ao previsto, porém esse aumento não foi demasiado. Como os custos envolvidos nesse projeto são em torno de milhões a execução de cada atividade era criteriosamente analisada, planejada e controlada. Com os atrasos ocorridos o projeto foi concluído após seis meses do período programado, sendo implementado o SAP R/3 em janeiro de 2007. Esse período foi considerado estratégico para a operacionalização do sistema no ambiente de produção tendo em vista que não haveria forte pressão por atendimento às demandas cotidianas das UN's, pois a empresa estaria regressando do período de férias coletivas. Recentemente a organização implementou outros módulos do sistema, como o de Recursos Humanos (Human Resourses – HR) e o de Gerenciamento de Armazém (Warehouse Management Software – WMS). Atualmente a companhia está trabalhando em processos de melhoria contínua com o SAP R/3, buscando otimizar e alavancar cada vez mais seus negócios. 7. Considerações finais 13 O projeto de implantação de um sistema integrado de gestão depende inicialmente da confiança das partes interessadas, de que suas necessidades ou desejos serão executados de maneira satisfatória, tendo em vista que são os clientes e investidores quem financiam o projeto com os recursos de queeste precisa. Assim esses financiadores esperam um resultado positivo ao final do projeto, isto é, que a equipe do empreendimento atinja o objetivo definido inicialmente. Assim, é essencial que a equipe envolvida esteja focada e determinada a alcançar a meta definida. Em certas situações, poderá haver a necessidade de flexibilizar idéias e as pessoas terão que possuir habilidades para buscar soluções intermediárias. Porém, quanto mais competente e habilidoso for o time do projeto menores serão os riscos e incertezas de não se alcançar o êxito desejado. É importante ainda ressaltar que ao se julgar o sucesso de um projeto em uma empresa não se pode limitar a eficiência dos processos de gerenciamento de orçamento e prazo empregados, também deve se levar em consideração a efetividade do projeto na contribuição para os objetivos estratégicos da organização, como também a geração de maiores vantagens competitivas para a mesma. Devido à extensa estrutura do projeto, tanto em termos de número de pessoas envolvidas quanto dos diferentes processos, as dificuldades durante as fases de desenho e desenvolvimento do sistema foram muitas. Pode-se considerar que as mudanças relacionadas à adaptação dos processos existentes ao que foi desenhado e o impacto disso sobre a organização como um todo (processos produtivos e gerenciais, pessoas, políticas) exigiram maior preocupação por parte de todos os envolvidos no projeto - equipe executante e investidores. No entanto, todas as dificuldades possibilitaram maior aprendizagem dos processos e do novo sistema, evitando possíveis falhas e ineficiências na implementação (go live). Nesse contexto, podemos considerar que o projeto Alfa obteve sucesso à medida que propiciou inúmeros resultados positivos para a empresa, tais como: processos com plataforma e sistema de gestão únicos, padronização dos processos comuns com as outras unidades de negócio, controle eficaz dos custos de toda a cadeia produtiva, viabilização de compras compartilhadas, racionalização dos investimentos em tecnologia, dentre outros. Esses resultados têm contribuído significativamente para o alcance do planejamento estratégico organizacional, satisfazendo os investidores, usuários do sistema e equipe do projeto. Referências ALBERTÃO, Sebastião Edmar. ERP - Sistema de Gestão Empresarial: metodologia pra avaliação, seleção e implantação para pequenas e médias empresas. 2. ed. São Paulo: Iglu, 2005. ALBERTIN, A. L. As contribuições mais importantes para o valor estratégico de TI nos vários setores são estratégias de negócios, economia direta e relacionamento com clientes. 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