Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DERMATOLOGIA DE CÃES E GATOS Felipe Carniel 2017 Dermatologia em Cães e Gatos Felipe Carniel ANATOMOFISIOLOGIA DA PELE Tegumento A camada externa de um animal ou pessoa é interamente morte, embora se origine inicialmente das camadas germinativas. Tudo o que você vê, do pelame à pele, é comporto por células mortas. No estágio inicial de desenvolvimento essas células são vivas, entao abandonam as organelas vitais e núcleo para dar lugar a uma substância resistente e protetora, chamada queratina (queratinização). Tegumento evita dessecação, reduz ameaça à injúria, faz manutenção da temperatura corporal, excreta água, sais e produtos de excrecção orgânicos, comunica sensitivamente o meio com o SNC, está engajado na síntese de vitamina D e estoque de nutrientes. Histologicamente a pele é dividida em duas camadas: a epiderme e a derme (conhecida como corium) e são separadas pela membrana basal. A maior parte da pele é composta pela derme subjacente, que é uma camada resistente e dura composta por tecido conjuntivo fibroelástico. Células da epiderme Os tipos principais são os queratinocitos, os melanócitos, as células de Langerhans e as células de Merkel. 85% das células são queratinócitos, que produzem uma proteína resistente, fibrosa e impermeável chamada queratina, que confere elasticidade e força à pele. Os queratinócitos são localizados ao longo da membrana basal e são bem nutridos pelo suprimento sanguíneo da derme, de modo que essas células são capazes então de crescer e se dividir. À medida que as células filhas são produzidas, elas empurram as mais velhas para longe dos nutrientes da derme e em direção às camadas mais externas da epiderme. À medida que as células mais velhas se direcionam para as camadas mais superficiais, elas sofrem alterações profundas: enchem-se com grânulos querato-hialinos, perdem o núcleo, citoplasma e organelas e, por fim, tornam-se como folhas sem vida de queratina. Esse processo é chamado de queratinização. O pigmento encontrado na pele é produzido por outro tipo celular, o melanócito, que é encontrado nas camadas mais profundas da epiderme. O melanócito tem uma aparência de polvo e possui longas projeções que se enstem para todos os queratinócitos da membrana basal. O melanócito produz melanina, um pigmento escuro estocado em grânulos ligado à membrana denominados melanossomos. Os melanossomos são transportados para a extremidade das projeções celulares e então liberados no espaço intracelular e aborvidos pelos queratinócitos. Os queratinócitos utilizam a melanina para se proteger da exposição dos raios UV. As células de Langerhans são macrófagos específicos da epiderme (se origina na medula e migra para a pele). Na junção dermo-epidérmica, as células de Merkel podem ser encontradas em pequeno número. Estão sempre associadas a uma terminação nervosa sensorial e estão envolvidas na percepção da sensaçao de toque. Camadas da epiderme A camada mais profunda é a camada basal, que consiste em uma linha única de queratinócitos que são firmemente aderidos à membrana basal (pelos hemidesmossomos - proteínas de adesão) e estão ativamente engajados na divisão celular. As células de Merkel, os melanócitos e os queratinócitos são encontrados na camada basal. A próxima camada é a camada espinhosa que contem muitas camadas de células que são fixadas entre si pelos desmossomos. As células de Langerhans são encontradas abundantemente aqui, formando através de suas projeções, uma ''teia'' ao redor dos queratinócitos. A camada granulosa é a camada central da pele. É composta por duas a quatro camadas de queratinócitos achatados. O citoplasma dessas células começa a ser preenchido com querato- hialina e grânulos lamelados, que leva à degeneração do núcleo e organelas. Os grânulos lamelados contém glicolipídeos impermeáveis à água e são transportados para a periferia da célula. Esses glicolipídeos tem um papel importante em tornar a pele impermeável à água e tornar a perda de água lenta pela epiderme. A camada lúcida é encontrada somente nas partes espessas da pele, de modo que, na maior parte do tegumento, esta camada estará ausente. A camada córnea é a camada mais externa da epiderme e constitui cerca de 3/4 da espessura total da epiderme e é composta de 20 a 30 linhas de queratinócitos. Derme A derme compreende a maior parte do tegumento e é responsável pela maior resistência estrutural da pele. Diferente da epiderme, que é principalmente celular, a derme é altamente fibrosa. Composta de tecido conjuntivo que contém colágeno, possui também fibras nervosas, glândulas, músculo liso, vasos sanguíneos e linfáticos. A derme é uma camada resistente que liga a epiderme superficial aos tercidos subjacentes. A camada papilar da derme forma projeções semelhantes a mamilos, denominadas de Papillae dermal, que se levantam apra a epiderme (ajuda a cimentar a epiderme à derme). Os corpúsculos de Meissner (receptores de dor e tato) são encontrados nessa camada. A camada reticular profunda cosiste em tecido conjuntivo e represença 80% da derme. Hipoderme ou camada subcutânea A hipoderme é uma camada espessa que reside abaixo da derme. É uma camada frouxa de tecido areolar rica em gordura, vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. É na hipoderme que estão os corpúsculos de Paccini (receptor de pressão). O corpúsculo de Meissner na derme é sensível a pressão delicada, enquanto o corpúsculo de Paccini na hipoderme é sensível a pressão mais forte. Pelo O pelo tem um papel importante na manutenção da temperatura corporal. Se sua coloração for escura, pode absorver a luz. Um pelame colorido também tem papel na camuflagem do animal. Ciclo do pelo Anagenia: crescimento. Catagenia: regressão do crescimento. Telogenia: sem crescimento (queda do pelo). Defluxo telogênico: queda excessiva de pelos. Glândulas anexas Sebáceas: unidade pilosebácea a qual produz emulsão para hidratação e proteção. Sudoríparas são divididas em: Epitriquiais: secretam antimicrobianos e ferormônios e Atriquiais: sudorese (coxins). Perianais e supracaudais: mais acometidas em felinos. Funções da Pele Barreira circundante, proteção ambiental, confere movimento e forma, produção de anexos (pelos, unhas e chifres), regulação da temperatura (pouca importância em pequenos animais), estoque (vitaminas e gorduras), indicador da saúde, imunorregulação, pigmentação, ação microbiana, percepção sensorial, secreção e excreção. A epidermopoiese ocorre em 21 a 22 dias, ou seja, as células saem da camada basal e chegam até a camada córnea e sofrem apoptose. SEMIOLOGIA DERMATOLÓGICA Informações importantes Idade Jovens são bastante acometidos pela sarna demodécica, enquanto adultos podem estar relacionados à alergia, por exemplo. Raça Existem cães predispostos a alguns tipos de enfermidades dermatológicas. O Cocker é predisposto à seborreia primária e o Dachshund é predisposto à acantose nigricante. Sexo Fêmeas podem desenvolver síndromes estrogênicas (dermatopatias hormonais) e machos podem desenvolver adenoma perianal. Cor Animais brancos desenvolvem dermatite actínica (lesão pré- neoplásica, queposteriormente evolui para carcinoma de células escamosas). Anamnese Organizar as informações numa linha cronológica, com data e idade do aparecimento da lesão, primeira localização, aspecto e evolução. Se um tratamento prévio foi instituído, anotar a dose, frequência e princípio ativo. Quanto a presença de prurido, fazer uma escala de 0 a 10. Sazonalidade, ambiente, manejo, hábitos, animais contactantes, presença de ectoparasitas, histórico dermatológico e histórico clínico geral também são de grande importância. Morfologia das Lesões Cutâneas Lesões primárias Mácula: ponto circunscrito com alteração de coloração, não palpável de até 1 cm de diâmetro. Mancha: semelhante à mácula mas maior que 1 cm. Causas: inflamação, hiperpigmentação, hipopigmentação, extravasamento de hemácias (púrpura) e hiperemia ativa. Pápula: elevação cutânea com até 1 cm de diâmetro. Placa: coalescência de pápulas e maior que 1 cm de diâmetro. Causas: inflamação na derme, edema intra e subepidérmico, hipertrofia epidérmica (escabiose e enfermidades alérgicas). Pústulas: pequena elevação circunscrita da epiderme preenchida por pus (exsudato neutrofílico). Causas: infecções bacterianas, pênfigo foliáceo e dermatose pustular subcorneal. Vesícula: pequena elevação circunscrita preenchida por líquido seroso (líquido claro), são lesões frágeis e transitórias. Bolhas: pequena elevação circunscrita preenchida por líquido seroso (líquido claro) mas maiores que 1 cm de diâmetro. Causas: dermatites virais, dermatites autoimunes e causadas por irritantes (queimaduras). Urticária: lesão elevada e circunscrita causada por edema que normalmente some em minutos/horas. Angioedema: grande urticária em região distensível (lábios). Causas: mordidas de insetos (formigas ou abelhas) e reações vacinais. Edema: extravasamento de plasma na derme ou epiderme. Causas: edema hidrodinâmico ou inflamatório. Possui sinal de Godet positivo. Nódulo: elevação sólida e circunscrita, até 3 cm, de diâmetro que geralmente estende-se para camadas mais profundas da pele. Tumor: semelhante ao nódulo mas maior que 3 cm. Nem todo nódulo/tumor é neoplasia. Causas: inflamações ou neoplasias. Vecurrosidade: lesão sólida, acinzentada e áspera, dura e inelástica decorrente do aumento da camada córnea. Causas: papilomatose. Vegetação: lesão sólida (cresce se distanciando da superfície cutânea), avermelhada e brilhante, decorrente do aumento da camada espinhosa. Causas: papilomatose. Telangectasia: evidenciação dos vasos cutâneos através da pele, decorrente de seu adelgaçamento. Causas: atrofia cutânea (hiperadrenocorticismo). Descamação: acúmulo fino de queratinócitos, também definida como fina, grosseira, oleosa, aderente ou solta. Crosta: acúmulo espesso de células com exsudato seco de soro, sangue, pus ou medicações. Cilindro folicular: acúmulo de material folicular acima do nível dos óstios foliculares. Pode estar aderido a haste do pelo. Comedão: folículo piloso dilatado, bloqueado por restos sebáceos e epidérmicos. Quando os óstios foliculares ficam abertos ao ar esses restos escurecem, formando uma ‘’cabeça preta’’. Alterações na pigmentação Hiperpigmentação, hipopigmentação, leucodermia (pele branca - deficiência na pigmentação) e leucotriquia (pelagem branca). As lesões secundárias se desenvolvem a partir das primárias, mais frequentemente induzidas pelo paciente ou ambiente. Colarete epidérmico: acúmulo anelar de escamas resultante de aumento de vesícula ou pústula rompida. Escoriação: erosão linear com eritema e crostas resultantes de automutilação. Liquenificação: espessamento da pele com acentuado padrão cutâneo normal, causado por inflamação crônica ou automutilação. Erosão: defeito na pele que não penetra a junção dermoepidérmica. Úlcera: defeito na pele que penetra a junção dermoepidérmica. Fissura: defeito linear na pele que penetra a epiderme até a derme. Fístula: lesão profunda que em geral drena Escara: área de tecido fibroso que substitui a pele normal, geralmente é palpável como defeito mais fino ou deprimido. MÉTODOS DIAGNÓSTICOS COMPLEMENTARES Raspado de pele: para visualização de ácaros e estruturas fúngicas. A literatura atual diz que em área lesional, apenas um exemplar de Demodex spp., por exemplo, é diagnóstico da doença. Exame citológico: por imprinting ou estourar pústulas e observar conteúdo. Lâmpada de Wood: visualização de Microsporum canis. Microbiológico: cultura. Dermatófito demora em torno de 10 a 14 dias para crescer. Testes hormonais: hiperadrenocorticismo e hipotireoidismo. Biopsia de pele: bisturi em lesões elevadas ou Punch. Tricograma: é a avaliação dos pelos (pelos quebrados x pelos íntegros). Também é importante para diagnósticos de displasias foliculares como a alopecia por diluição de cor e a displasia folicular do pelo preto – são dermatoses de origem genética, os pelos são programados para cairem a partir de 4 a 6 meses de idade, de forma espontânea. Observam-se os grânulos de melanina no interior do pelo. Clinicamente o paciente apresenta áreas alopécicas que podem inclusive estar na causa, sendo um diagnóstico diferencial para o hipotireoidismo. Para dermatofitose observam-se hifas ou artroconídeos em padrao ectothrix ou endothrix. Exame parasitológico da fita adesiva: cora-se com o panótico número 3 e visualiza-se ao microscópio. Lesões de sal e pimenta (aspecto seborreico branco e marrom) pode sugerir linxacariose. Outro ácaro incomum pode ser detectado que é o Eutrombicula alfreddugesi, que causa a trombiculose. Achados ao microscópio Ácaros: Sarcoptes scabiei, Notoedres cati, Demodex spp., Cheyletiella spp., Otodectes cynotis e Lynxacarus rodovskyi. Pilhos: Linognathus setosus, Trichodectes canis e Felicola subrostratus. TERAPÊUTICA DERMATOLÓGICA FORMAS FARMACÊUTICAS Pós: pouco utilizados. Exemplos: ectoparasiticidas (talco anti pulgas), antimicrobianos (ácido bórico) e antifúngico (enilconazol, miconazol e clotrimazol). Soluções: substância em líquido. Aquosa: permanganato de potássio (antisséptico e adstringente), hipoclorito de sódio (solução de Dakin – antisséptico) e acetato de alumínio 5% (Burow). Alcóolicas: tintura de Benjoin (antisséptico e funciona como uma cola para colocação de micropore em ferida cirúrgica). Loções: soluções para uso com fricção, geralmente alcóolicas. São contra indicados em peles ressecadas. Exemplos: betametasona 0,1%. Emulsões, pomadas, pastas, unguentos e cremes: uso limitado em lesões focais e pequenas lesões. Maior utilização em soluções otológicas. Exemplos: substâncias acaricidas, antimicrobianos e antiinflamatórios esteroides. Colóides (gel ou aerossol): substância não gordurosa em que há uma fase dispersa (princípio ativo) e a dispersiva (meio). Possuem utilização mais ampla. Exemplo: spray de clorexidine e aceponato de hidrocortisona. MECANISMO DE AÇÃO DOS FÁRMACOS Adstringentes: quebra e precipita proteínas e indicado para lesões exsudativas. Exemplos: solução de Burow, nitrato de prata, ácido acético e permanganato de potássio. Emolientes e umectantes Emolientes: amaciam e lubrificam. Exemplos: lanolina, vaselina e propilenoglicol. Umectantes:impedem a perda hídrica. Exemplos: ureia e glicerina. Antipruriginoso: são pouco eficazes. Principal: glicocorticoides. Outros: xampus para remoção dos alérgenos fisicamente e sem efetividade antipruriginosa. Antibacterianos: antissépticos que inibem o crescimento bacteriano. Exemplos: álcool, triclosan, clorexidine 3% (potencial antifúngico), PVPI (iodopovidona) e agentes oxidantes (peróxido de benzoíla). Antinflamatórios Exemplos: glicocorticoides (betametasona, triancinolona e hidrocortisona). Antifúngicos: possuem várias apresentações. Mais utilizados: imidazólicos (cetoconazol, clotrimazol e miconazol). Outros: nistatina e iodo. Antiparasitários Exemplos: amitraz, benzoato de benzila (acaricida), monossulfiran, permetrina, deltametrina (carrapaticida e pulicida), tiabendazol, selamectina (pulicida, carrapaticida e sarnicida) e fipronil. Xampus Cuidados: conhecer as características do xampu, permanência do xampu, atingir a pele, realizar uma segunda ensaboação e se necessário utilizar dois xampus diferentes. Tipos: antisseborréicos, antibacterianos, antimicóticos e antiparasitários. Antisseborréicos: utilizados para distúrbios de epidermopoiese (descamação). Ceratolíticos: cauda degeneração dos corneócitos e melhora a epidermopoiese. Exemplos: peróxido de benzoíla (ceratolítico, bactericida e comedolítico que causa ressecamento e irritação). Ceratoplasticos: ação citostática da camada basal. Exemplos: alcatrão (desengordurante), enxofre e ácido salicílico (sinergismo). Causam irritação, odor desagradável e manchas. Não pode utilizar em felinos. Ceratoplásticos/Ceratolíticos: Exemplos: enxofre (fungicida, bactericida e acaricida), ácido salicílico e sulfato de selênio (desengordurante e não pode ser utilizado em felinos). Antibacterianos: combate da microbiota transitória. Exemplos: clorexidina 3%, peróxido de benzoíla 2,5% (para infecções e distúrbios seborreicos associados), PVPI 1% (altera a coloração do pelo) e enxofre 0,5% a 1% (não muito utilizado). Antimicóticos Exemplos: cetoconazol 2%, clorexidine 3 a 4%, peróxido de benzoíla 2,5% e PVPI 1%. Antiparasitários Exemplos: deltametrina e permetrina (pulgas e carrapatos), benzoato de benzoíla e organofosforados (perigo de intoxicação). Xampu Tecnologia Glyco (Allermyl®- Virbac): diminui a adesão de bactérias (diminuição da piodermite secundária) e hidratação cutânea. HIPERSSENSIBILIDADE ALIMENTAR Os principais deflagradores de reação alérgica em cães e gatos são as proteínas, por que possuem alto peso molecular, sendo reconhecida mais facilmente como corpo estranho. Essas proteínas são chamadas de trofoalérgenos. Em cães os principais trofoalérgenos são: carne bovina, frango, laticínios e trigo. Em gatos: carne bovina, laticínios e peixe. Os carboidratos e lipídeos tem baixo potencial alergênico. Vale ressaltar que em geral apenas 30% dos animais apresentam sinais clínicos gastrointestinais relacionados a alergia alimentar. A hipersensibilidade alimentar deve estar no diagnóstico diferencial de um paciente com prurido crônico. Em felinos pode ocorrer a síndrome da escoriação cervicofacial, dermatite miliar, alopecia autoinduzida e dermatite eosinofílica. Em cães pode ocorrer urticária, angioedema, síndrome de Wells e orniquite lupoide simétrica. ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS EM FELINOS SÍNDROME DA ESCORIAÇÃO CERVICOFACIAL Prurido em geral muito intenso em região cervical e facial. Mais comum em topografia perioral, levando a queilite e periocular, culminando em blefarite. ALOPECIA AUTOINDUZIDA Pode causar alopecia ou hipotricose. Ocorre principalmente em região de flanco, região abdominal e lombossacral. Causa lambedura contínua. DERMATITE MILIAR FELINA Múltiplas erupções pápulo-crostosas ou pápulo-vesiculares em região cervical ou lombossacral. Causa prurido intenso a mutilante. DERMATITE EOSINOFÍLICA Úlceras eosinofílicas (profundas) geralmente em lábio superior. Pode desenvolver também a placa eosinofílica, que é uma lesão circunscrita, em relevo e altamente pruriginosa, que pode induzir a erosões e úlceras. Pode também desenvolver o granuloma eosinofílico, que pode ser linear (na coxa), mentoniano (no lábio inferior) ou oral (na língua, palato mole). ALTERAÇÕES DERMATOLÓGICAS EM CANINOS Geralmente em cães, o alérgeno do alimento pode ser um deflagrador de sinais clínicos da dermatite atópica. É um prurido crônico, contínuo, primário e intenso. É muito comum cães com dermatite atópica precipitada por alimentos apresentarem otite. Geralmente apresentam eritema no pavilhão auricular, edema, aumento da produção de cerúmen e exsudação, favorecendo o supercrescimento bacteriano ou fúngico. Essa otite frequentemente é pruriginosa, bilateral, de caráter crônico e intermitente. Outro local comum de reação adversa ao alimento é a região de períneo, levando a eritema no local e o animal a arrastar o traseiro. URTICÁRIA E ANGIOEDEMA Reação urticariforme de caráter agudo, formação de pápulas e placas, eritematosas e pruriginosas. No angioedema tem-se uma grande vasodilatação, transudação e distensão de pálpebras e lábios. PRURIDO CRÔNICO EM ÁREAS NÃO ATÓPICAS Prurido crônico em região de flanco, linha média dorsal ou região lombossacral. Pode mimetizar a dermatite alérgica à saliva da pulga. SÍNDROME DA DERMATITE EOSINOFÍLICA (SÍNDROME DE WELLS) Também chamada de síndrome da dermatite-paniculite eosinofílica, causando formações em placas extensas, nódulos ou tumores fistulizados e vascularizados, ricos em eosinófilos. Os eosinófilos causam forte reação tegumentar. É mais comum como reação adversa a medicamentos (farmacodermia) do que alimentos. ORNIQUITE LUPÓIDE SIMÉTRICA Distúrbio ungueal, levando a onicodistrofia, onicorragia e onicalgia, em todas as unhas. TERAPÊUTICA DA HIPERSENSIBILIDADE ALIMENTAR Primeiro deve-se fazer um inquérito junto ao proprietário, buscando as fontes proteicas desse paciente. Se o animal ingere trigo através de pão ou biscoitos, ou ingere leite, queijo, iogurte ou então as fontes de carne como o bovino, o frango e o peixe. Tratamento Para o tratamento utilizar uma fonte proteica que o animal nunca foi exposto. Fontes proteicas: pato, salmão, peixes brancos, cordeiro, rã e cavalo. Fontes de carboidrato: banana, arroz, batata ou mandioca. Pode ser feita uma dieta caseira ou rações hipoalergênicas, durante 4 a 6 semanas – se não houver melhora é sinal que a pele não está reagindo a proteínas da dieta, deve-se então investigar outras causas. Diagnóstico O diagnóstico é feito com uma dieta de exclusão e introdução de uma dieta com nova fonte proteica. O ideal é fazer uma reexposição programada com um ingrediente por semana para que se possa saber a tudo que o animal reage. Animais com dermatite atópica, 30 a 40% melhoram parcialmente quando fazem exclusão dietética com nova fonte proteica. 10 a 20% tem melhora total e até 40 a 50% o alimento não interfere no prurido atópico. DERMATITE ATÓPICA CANINA É uma doença inflamatória da pele, crônica, recorrente e intensamente pruriginosa. É do grupo das doenças eczematizantes (que levam a eritema e prurido). É uma doença familiar, ou seja, nãoadmite cura, apenas controle. Presume-se que 10 a 15% da população canina possa ser atópica, podendo ser maior em grandes centros urbanos, chegando até a 40%. A pele do animal com dermatite atópica tende a perder mais água e ficar ressecada. É uma pele que produz pouco material lipídico para o espaço extracelular. Ocorre muita descamação. Nesta doença há uma importante perda de função da barreira física epidérmica. Essa barreira é formada pelas células epidérmicas justapostas, bem ajustadas e envolvidas por queratina, associada a uma emulsão lipídica. Quem permite a distribuição adequada e homogênea da queratina é a filagrina, outra proteína. Em alguns cães a distribuição da queratina não é homogênea, por produção diminuída de filagrina, piorando a barreira física da epiderme. Se a barreira de proteção é ineficiente, pode então um alérgeno adentrar na pele e causar irritação primária, levando a inflamação e eritema – o eczema (dermatite). As áreas mais afetadas: região periocular, perioral, pavilhão auricular, abdômen, axila, virilha e região interdigital. Outro fator na pele do cão atópico é a hiperreatividade cutânea. É uma pele que inflama e reage com maior facilidade. Irritantes primários: podem penetrar ativamente na pele atópica, podendo causar degeneração do queratinócitos e desencadear o prurido. São eles: produtos como cera, desinfetante, sabão em pó, talco, tinta, cimento, cal, grama (rica em resina urticante), roupa de lã, carpete, calor, frio, lâmina de tosa, urina, saliva e fezes. Alérgenos ambientais: associados à pulga, carrapato, barata e ácaros. Alérgenos de ácaros são muito encontrados em colchões, travesseiros, carpetes e tapetes. Aeroalérgenos: pólen de gramíneas e ervas daninhas são os que os cães mais se expõem. Penetram ativamente a pele e suscitam a sensibilização por que são estruturas complexas de alto peso molecular, levando a produção de IgE que ficam na superfície de mastócitos, que degranulam quando a pele é exposta ao alérgeno, levando a inflamação. Trofoalérgenos: proteínas de alto peso molecular que estimulam a inflamação tegumentar. Acontece em até 10 a 20% dos cães. Aspectos clínicos Prurido moderado a grave. Intenso a grave ocorre durante as crises. É um prurido primário (primeiro coça, depois vem a lesão de pele), crônico e responsivo a corticoide. É uma doença muito mais frequente em animais de raça pura, uma vez que é uma enfermidade familiar. É bem descrita em cães da raça Poodle, Lhasa Apso, Shih-tzu, Shar-Pei, Pequinês, West, Bulldog, Yorkshire, Schnauzer, Labador, Golden e Pastor Alemão. Esses animais em geral são intradomiciliados (indoor), passando 22-23 horas por dia dentro de casa. Prurido intenso a mutilante iniciado com 6 meses a 3 anos de idade, em regiões interdigitais, na face, abdômen e virilha. Prurido intenso em face pode levar a blefarite e até blefaroconjuntivite, assim como lesões em região mentoniana e perioral. A dermatite atópica não é uma lesão que coça, é um prurido que lesa. É muito comum estar relacionada com otite crônica externa bilateral intermitente. Etiopatogenia Em uma pela normal, os queratinócitos são justapostos e coesos. Essa coesão é dada por um conjunto de emulsão lipídica e proteica, que mantem a função de barreira física. Os queratinócitos produzem também peptídeos antimicrobianos, que impedem a penetração e colonização da pele. Animais com dermatite atópica apresentam uma diminuição da produção dos peptídeos antimicrobianos, levando então a supercrescimento bacteriano na pele. A bactéria mais comum é o Staphylococcus pseudointermedius. Pode então o animal apresentar o impetigo (contaminação superficial da pele) e a foliculite. O tratamento para as complicações será instituído, porém a recorrência é extremamente comum. Pacientes atópicos apresentam infecção bacteriana crônica de repetição, várias crises de piodermite por ano. O Stpahylococcus pseudointermedius produz algumas toxinas: enterotoxinas, toxina esfoliativa e toxina do choque tóxico. Alguns animais produzem IgE contra essas toxinas, levando então o animal a apresentar alergia a componentes (toxinas) microbianos. Supercrescimento de Malassezia pachydermatis também pode ocorrer, levando a acantose (espessamento da camada espinhosa), hiperqueratose, descamação e mau cheiro (odor rançoso). Da mesma forma que anteriormente, o animal atópico pode produzir IgE contra antígenos (proteínas) da Malassezia, se tornando alérgicos a esse fungo. Outro fator extrínseco relacionado à precipitação da dermatite atópica é o fator psicogênico. Diagnóstico Prurido crônico, primário ou alesional, perene (independe da estação do ano), intenso a grave e responsivo a corticoide. Animal inicia prurido antes de 3 anos de idade e mais comum em animais de raças puras e intradomiciliados. Prurido perioral, pericular, interdigital, na axila, abdômen, virilha e pavilhão auricular. Geralmente apresentam histórico de infecções recorrentes (otite, piodermite). O diagnóstico é clínico, a partir do histórico e exame clínico. Tentar sempre achar quais são os fatores extrínsecos que estão precipitando essa doença, montando um protocolo de acompanhamento desse paciente. Tratamento Terapia de 1ª ordem: instruir o proprietário sobre a doença e todos os possíveis fatores agravantes e suas consequências. Controlar infecções de repetição, supercrescimento microbiano e controle de ectoparasitas. O segundo passo do controle da dermatite atópica é restabelecer a função de barreira física da pele. Essa terapia é realizada com hidratantes, de forma que essa pele absorva menos agentes irritantes e alérgenos ambientais, consequentemente o prurido pode ser minimizado. Alguns produtos: allermyl, allercalm, vetriderm hipoalergênico, dermogen, humilac e vetriderm antipruriginoso. Evitar exposição a agentes químicos e físicos que possam desencadear uma crise alérgica. Evitar contato excessivo com grama, produtos de limpeza, tapetes, roupas de lã, carpetes, etc. Terapia de 2ª ordem: se o controle das infecções, das parasitoses e a hidratação da pele foram ineficazes em minimizar o prurido, inicia-se a terapia de 2ª ordem. Faz-se a exclusão dietética, para saber qual é a importância da dieta no prurido atópico. O alimento pode ser um precipitador da dermatite atópica. O prurido da hipersensibilidade alimentar é intenso a grave, perene, não depende da hora do dia, pode responder ou não a corticoides, é crônico e às vezes é refratário a terapia médica. Controle medicamentoso é utilizado continuamente em pacientes com prurido contínuo, perene e intenso a grave, mesmo após a terapia de primeira ordem. A terapia anti-histamínica é pouco eficaz quando utilizada como monoterapia, porém sua associação com corticoides é benéfica, diminuindo a dose do corticoide e aumentando o intervalo entre doses. Hidroxizina 2mg/kg, VO, BID e prednisolona 0,5mg/kg, VO a cada 24h até a melhora dos sinais clínicos. Depois disso começa a aumentar o intervalo das doses da prednisolona. Inicialmente a cada 24 horas, depois a cada 48 horas e por fim a cada 72 horas, sempre observando se o animal volta a apresentar prurido. Esses pacientes submetidos ao tratamento medicamentosocontínuo devem ser monitorados. O paciente pode desenvolver esteatose hepática, glomerulopatia com perda proteica, pancreatite. FA vai estar aumentada pela isoenzima responsiva a cortisol, por isso é importante observar os valores da ALT, para verificar a possibilidade de uma necrose hepatocelular. Para cães que a prednisolona está sendo ineficaz, pode-se utilizar outro glicocorticoide como o deflazacorte na dose de 0,1mg/kg a cada 48 horas inicialmente e depois com intervalos maiores (a cada 72h, 96h ou 1 vez por semana). Terapia imunomoduladora com ciclosporina, uma inibidora da calcineurina, que age impedindo a transformação do linfócito TH0 em TH1 ou TH2, isso diminui a formação de citocinas inflamatórias na pele. A dose utilizada é de 5-10mg/kg, VO, SID. A ciclosporina demora até 6 a 8 semanas para iniciar sua eficácia, portanto seu uso inicial deve ser associado ao corticoide. Possui um bom efeito, baixos efeitos colaterais, porém tem alto custo. Inicialmente corticoide + ciclosporina por 15 dias, depois inicia a regressão da dose (a cada 48h/72h/96h) e depois suspende o corticoide e mantém apenas a ciclosporina. Se após 8 semanas a ciclosporina conseguiu controlar adequadamente o prurido, pode-se pensar em espaçar as doses da ciclosporinas para a cada 48 horas. Vômito e diarreia podem ser alguns dos efeitos colaterais da ciclosporina, que tendem a regredir com o tempo. Hiperplasia gengival também pode ocorrer e seu uso deve ser interrompido. Imunoterapia alérgeno-específica: para prurido não sazonal, prurido que não respondeu à terapia sintomática adequadamente. O teste alérgico pode ser sorológico (ELISA de alta afinidade) ou intradérmico. A imunoterapia tem baixíssima eficácia a curto prazo, só começa a responder depois de 7, 8, 9 meses após o início do tratamento. Possui poucos efeitos colaterais. Oclacitinib é outra opção, com poucos efeitos colaterais e rápida ação. Vômito e diarreia podem ser alguns dos efeitos indesejáveis. PIODERMITE SUPERFICIAL E PROFUNDA E CRÔNICO- RECORRENTE A principal bactéria envolvida é o Staphylococcus pseudointermedius, que geralmente apresenta comportamento oportunista. Se a pele está fragilizada, a bactéria coloniza a pele e causa infecção. Em geral apresenta primariamente uma doença parasitária de pele, doença de fundo alérgico, disqueratótico (seborreico) ou sistêmico. Piodermites de superfície: intertrigo, impetigo e dermatite piotraumática. Piodermites superficiais: foliculite. Piodermites profundas: furunculose e celulite. INTERTRIGO A piodermite pode ser de superfície, colonizando a camada córnea e camadas superficiais, sendo observado o supercrescimento bacteriano. É comum a presença de edema, eritema, prurido, exsudação e mau cheiro. O principal exemplo é o intertrigo (piodermite das dobras cutâneas), onde ocorre acúmulo de umidade e aumento da temperatura local. É comum ocorrer piodermite da dobra da cauda ou das dobras perivulvares, principalmente em cadelas castradas de forma precoce, pela vulva infantilizada e aumento de peso. Ocorre frequentemente em Bulldog Inglês, Bulldog Francês, Sharpei e Pug. DERMATITE PIOTRAUMÁTICA É também uma piodermite de superfície que causa prurido intenso em área específica, levando a quebra do pelo, erosões e até úlceras de pele, muita dor e exsudação. Se esse animal está coçando excessivamente, existe um por que. Se o prurido é próximo ao pavilhão auricular, investiga-se otite. Se a área pruriginosa é lombossacral, deve-se pensar em infestação por pulgas (puliciose) ou DASP. Prurido em região axilar ou de cotovelo, considerar escabiose. Prurido anal geralmente ligado à adenite anal. É mais frequente em animais de pelo longo e ocorre mais em épocas quentes e úmidas do ano. Má higienização da pele e pelagem é uma importante causa de dermatite úmida aguda. IMPETIGO É uma piodermite superficial. Ocorre infecção bacteriana da epiderme e suas lesões clássicas são as pústulas (lesões primárias do impetigo). Além de pústulas, podemos observar crostas melicéricas e colaretes epidérmicos. Prevalece em regiões do abdômen, virilha ou axila. Lesões com topografia ventral. O impetigo pode estar associado a várias doenças no cão. Impetigo juvenil pode ser sinal de uma doença sistêmica como verminose, má nutrição ou cinomose. Pode estar associado também a má higienização da pele pelagem. Quando acomete animais adultos jovens com prurido, é comumente associado a dermatopatias alérgicas como a DASP ou atopia. Quando ocorre em animais adultos ou geriátricos, está mais ligado à doenças endócrinas e tem caráter mais vesicular/bolhoso. Doenças endócrinas tais como hiperadrenocorticismo, hipotireoidismo ou distúrbios das glândulas sexuais. FOLICULITE BACTERIANA SUPERFICIAL A bactéria às vezes consegue sair da epiderme e entrar no folículo através do óstio folicular, causando a foliculite. A foliculite é a principal forma de piodermite superficial. A lesão primária é o eriçamento piloso, por que a bactéria causa irritação e inflamação no músculo eretor do pelo. Apresenta ainda múltiplas pápulas e crostas que abrangem a área folicular. Áreas alopécicas com aspecto roído de traças também é comum na foliculite. Áreas de hipotricose e áreas alopécicas circunscritas margeadas por colaretes epidérmicos. Epilação fácil. A principal causa de foliculite em animais jovens é a demodiciose. Em animais adultos jovens as principais causas são as doenças alérgicas. Em animais idosos geralmente associado a endocrinopatias ou má higienização da pele e pelagem. Em casos mais graves, a infecção bacteriana começa a abranger os planos mais profundos da pele, rompendo o epitélio folicular. PIODERMITE PROFUNDA As principais formas de piodermite profunda são a furunculose e a celulite. A lesão inicial da furunculose é a presença de nódulos circunscritos, eritematosos, dolorosos e exsudam a compressão. Geralmente são nódulos de origem folicular. Ocorrem em região mentoniana, em pontos de apoio crônico ou em lábio superior e inferior. Pode ocorrer edema, alopecia, eritema e exsudação. São comuns as vesículas hemorrágicas e a exsudação de material serossanguinolento/purulento frente a uma compressão. Quando a furunculose se aprofunda muito, pode ocorrer a necrose epidérmica e a formação de celulite. A pele fica desvitalizada, friável, ulcerada e formação de seios drenantes/exsudantes. Pode apresentar a formação de crostas também. Os pacientes podem apresentar febre e linfadenomegalia. TRATAMENTO DAS PIODERMITES Sempre procurar a causa de base da piodermite. É importante saber se a piodermite é parasitária, bacteriana, alérgica, disqueratótica ou relacionada à doenças endócrinas. Terapia tópica Shampoo clorexidine 2 ou 3%, que age muito bem na pele, não perde a eficácia com uso contínuo e tem baixa irritabilidade. A desvantagem é que pouco penetra nas camadas profundas. Peróxido de benzoíla 2,5% para furunculose ou piodermites profundas, pois penetra profundamente e causa limpeza do folículo e glândula sebácea. A desvantagem é que como remove a gordura pode levar ao ressecamento da pele, culminando em eritrodermia esfoliativa, por isso é evitadaem lesões mais superficiais. Pomada de mupirocina é bem efetiva para Staphylococcus. Banhos 2 a 3 vezes por semana é o indicado. A terapia antibiótica sistêmica é a mais eficaz. Os mais utilizados são a cefalexina, amoxicilina + clavulanato, enrofloxacina ou marbofloxacina. Piodermites superficiais trata-se por 2 a 3 semanas. Piodermites profundas durante 4 a 6 semanas. DEMODICIOSE CANINA É uma dermatopatia parasitária crônica ou crônico-recorrente, muito comum em cães. É incomum em gatos. É causado pelo Demodex canis, ácaro folicular que se alimenta de sebo e queratina. Outro ácaro causador de demodiciose pode ser o Demodex injai, que possui corpo longo e é mais comum em animais mais velhos, geralmente associado a uma dermatopatia crônica (alérgica, doenças seborreicas ou endócrinas). Demodex cornei é de corpo arredondado e curto e é mais encontrado nas lâminas da camada córnea e ele dificilmente é o único causador de uma dermatopatia. Classificação conforme a distribuição lesional: localizada (até 4 lesões de até 2,5cm) ou generalizada (a mais comum). Classificação de acordo com a idade de início dos sinais clínicos: surto juvenil (<2 anos) ou surto adulto (>2 anos). Em animais jovens, o surto juvenil pode ser secundário (cinomose, parvovirose, verminose, leishmaniose, imunossupressores, etc.) ou espontâneo. Sempre que o paciente tem surto adulto, pesquisar uma causa de base. Aspectos clínicos Topografia lesional: se desenvolve inicialmente na face e nos membros. Conformação periocular, perioral, podal dorsal e interdigital. A demodiciose é uma doença foliculocêntrica, causando alteração e dilatação do folículo piloso e diminuição da aderência da haste pilosa com a zona nutrícia, levando ao sinal clínico de alopecia/hipotricose. Outros sinais incluem edema e eritema. Comedão pode estar presente devido à dilatação folicular e alteração na unidade pilo-sebácea. É comum a presença de múltiplos comedões no pavilhão auricular. Em geral não apresenta prurido, mas tem-se observado em cães da raça Lhasa e Shih-Tzu prurido podal importante. Como a demodiciose é uma dermatopatia parasitária crônica, isso leva ao espessamento da epiderme (acantose – espessamento da camada espinhosa) e hiperqueratose (espessamento da camada córnea), podendo levar então a descamação e lignificação. Como essa doença causa alteração no folículo, pode predispor a infecções secundárias – geralmente estafilocócicas, porém também pode ocorrer infecções fúngicas por Malassezia, uma vez que a pele do paciente com demodiciose é untuosa. A demodiciose pode estar associada a alopecia e disqueratose (pele espessa, lignificada, descamativa ou mal cheirosa) e em casos mais graves piodermite profunda e aumento de linfonodos regionais. Quando a doença é restrita à região podal, é chamada de pododemodiciose. Quando presente na região da orelha externa, chamada de otodemodiciose. Diagnóstico Pode ser feito por raspado de pele, citologia por imprinting ou biópsia de pele em locais com cicatriz. (geralmente em regiões interdigitais e dorso-digitais). Tratamento Antes de instituir o tratamento deve-se saber se a doença é um surto localizado ou generalizado e se é de causa primária ou secundária. Animais com surto localizado podem ter cura espontânea em semanas a meses. Terapia com comedolíticos como shampoos à base de peróxido de benzoíla, que é um desengordurante, limpa a unidade pilo-sebácea e tem efeito bactericida, tornando o microambiente inóspito para o desenvolvimento do Demodex. Formas generalizadas sempre são tratadas. Terapia acaricida tópica Amitraz 4ml/litro – 1 banho por semana. Após o banho não deve ser enxaguado, deve secar no corpo. Não usar em animais com piodermite profunda pelo risco de intoxicação. Efeitos colaterais: letargia, sonolência, ataxia, poliúria, polidipsia, vômito, diarreia, farmacodermia e bradicardia. É uma terapia pouco utilizada. É barata, porém de eficácia moderada e efeitos colaterais geralmente presentes. Terapia acaricida sistêmica Ivermectina 0,3 a 0,6mg/kg, VO, SID, com eficácia superior a 90%. Evita-se usar ivermectina na dose de 0,4mg/kg por via SC, pela sua baixa eficácia no controle da demodiciose. Outra opção é a moxidectina 0,2 a 0,5mg/kg, VO, SID, sendo 0,4mg/kg a dose mais indicada e com eficácia também superior a 90%. Doramectina também pode ser usada, apesar de carecer estudos que comprovem a sua real eficácia e seus efeitos colaterais. Dose 0,6mg/kg, VO ou SC (em caráter semanal). Eficácia em torno de 80%. O mais indicado é doramectina na dose de 0,6mg/kg, VO, 2 vezes por semana. Em animais dolicocéfalos evita-se o uso das avermectinas, pela maior penetração dessas drogas na barreira hematoencefálica, facilitando uma intoxicação. A moxidectina é uma milbemicina e não uma avermectina, sendo seu uso liberado para esses cães, entretanto seu uso deve ser cauteloso. As avermectinas são contraindicadas para os cães da raça Collie, Shetland Sheepdog e Old English Sheepdog. O uso da moxidectina em dolicocéfalos deve ser iniciado com dose de 0,1mg/kg no primeiro dia, 0,2mg/kg no segundo dia, 0,3mg/kg no terceiro dia, 0,4mg/kg no quarto dia e 0,5mg/kg no quinto dia e mantém na dose de 0,4 ou 0,5mg/kg se o animal não apresentar nenhum efeito colateral. Efeitos colaterais das avermectinas em dolicocéfalos: letargia, estupor, ataxia, tremores, vômito, convulsão, hipertermia, coma e óbito. Estudos recentes com o afoxolaner relatam eficácia de 99,2 a 100% contra a Demodex canis. Tempo de uso da terapia acaricida A principal causa de recorrência da demodiciose é a interrupção precoce da terapia acaricida, seja ela tópica ou sistêmica. Após o diagnóstico de demodiciose os animais devem ser acompanhados a cada 15 dias e realizar raspados de pele a cada 30 dias. A terapia da demodiciose é suspensa após dois raspados negativos com intervalo de 30 dias entre cada um. Só posso afirmar que o animal está curado da demodiciose se após um ano ele não apresentar recorrência. Recomendações gerais quanto ao uso das lactonas macrocíclicas Educar o proprietário quanto ao uso extra bula, uma vez que apenas a ivermectina oral (mectimax) tem seu uso indicado na bula. Indicar o aumento gradual da dose. Evitar o uso em animais com menos de 3 meses ou raças hipersensíveis. Conclusão A demodiciose pode mimetizar qualquer doença dermatológica. DERMATOFITOSES São infecções micóticas superficiais geralmente de caráter subagudo a crônico. Os principais agentes são o Microsporum canis (82% das infecções em cães e 98% das infecções em gatos), Microsporum gypseum (13% das infecções em cães e 1,5% das infecções em gatos) e o Trichophyton mentagrophytes (5% em cães e 0,5% em gatos). O principal agente das dermatofitoses é o Microsporum canis, que é considerado um fungo zoofílico, sendo amplamente encontrado na pele de cães e de gatos. Quem mantem os fungos no ambiente são os cães e os gatos. O Microsporum gypseum é considerado um fungo geofílico, encontrado amplamente na terra rica em matéria orgânica. O Trichophyton mentagrophytes também é considerado um fungo zoofílico, podendo ser encontrado na pele e pelagem de roedorese humanos. Esses fungos são proteolíticos, infectando geralmente as camadas mais superficiais, como a camada córnea (rica em queratina), os tecidos queratinizados como as garras e principalmente o pelo. O M. canis tem forte tropismo por infecção dos pelos, pela queratina do pelo, entrando na haste pilosa e invadindo o folículo piloso. Os elementos infectantes são os esporos fúngicos. A dermatofitose é uma doença infectocontagiosa com transmissão direta e indireta (pelo ambiente). O M. canis é tão adaptado à pele de cães e gatos que alguns animais podem portar esporos e serem assintomáticos, sendo o gato o principal carreador desses esporos. A maioria desses felinos vive em ambientes com múltiplos animais (outros gatos). O T. mentagrophytes é transmitido para os cães e os gatos geralmente quando os mesmos tem contato com roedores (rato, coelho, chinchila etc). É uma infecção incomum em cães e gatos. Os cães e gatos se infectam com o M. gypseum quando eles têm contato com terra rica em matéria orgânica, sendo bem mais comum nos gatos que possuem hábitos de enterrar as fezes, tendo mais contato com a terra. A dermatofitose é uma doença sem predisposição sazonal e mais diagnosticada em gatos da raça Persa, Himalaia e cães de pelo longo e fino como Lhasa, Shih-Tzu, Maltês e York, sendo o York com caráter mais crônico e de mais difícil controle. Pode acometer cães e gatos de qualquer idade, sendo mais comum em animais jovens, menores de 1 ano de idade. É uma dermatozoonose, sendo a doença de pele mais transmitida para os seres humanos. Acomete muito a face e os membros, podendo se generalizar para qualquer área folicular. A face e os membros torácicos são os mais acometidos e suspeita-se por serem regiões de intenso contato de animal para animal. O sinal clínico inicial é a alopecia, por que o fungo vai se alimentando de queratina e tornando o pelo frágil, fraco, fosco e facilmente epilável. Existe uma má condição da pelagem. Geralmente a alopecia num animal com dermatofitose tem uma conformação circunscrita, de crescimento centrífugo e fortemente descamativa. O pelo na periferia da lesão é fosco, quebradiço e facilmente epilável. Geralmente essas lesões não são exsudativas e nem pruriginosas, por que dificilmente afetam as camadas profundas da pele. O crescimento centrífugo da lesão se deve ao fungo que se alimenta dos pelos, os quais vão desprendendo e caindo, então o dermatófito migra para a periferia da lesão onde há pelos ainda, fazendo esse movimento de centrífuga. Animais com piodermite geralmente desenvolvem alopecias com colaretes epidérmicos. Animais com demodiciose desenvolvem alopecia com presença de comedões, enquanto animais com dermatofitose podem fazer uma alopecia ‘’suja’’, ou seja, bastante descamativa ou então apresentar alopecia com crescimento centrífugo, podendo apresentar repilação central. A principal queixa é a alopecia, dificilmente o proprietário irá se queixar de prurido. Em gatos é comum alopecia/hipotricose e pelo facilmente epilável na periferia da lesão em pavilhão auricular. É comum observar tonsuras (pelo quebrado). Alguns animais desenvolvem kerion celsi ou kerion dermatofítico, onde o fugo invade a haste pilosa, invade o epitélio folicular e posteriormente invadindo a derme, desenvolvendo uma espécie de foliculite/furunculose dermatofítica. No kerion além da alopecia, tem-se a presença de uma placa circunscrita, em relevo, geralmente eritematosa, fistulização e formações crostosas. Pode ou não apresentar lesão pruriginosa. Os kerions podem se desenvolver e coalescerem. Alguns animais desenvolvem um quadro de alopecia generalizada associada com descamação, hiperqueratose e lignificação, sendo muito associada a animais com doença imunossupressora de base como o hiperadrenocorticismo, animais que fazem uso de corticoides ou fazem quimioterapia. Pode ocorrer em Yorkshires, Malteses e gatos da raça Persa. O M. canis é o principal agente dermatozoonótico, podendo causar principalmente em crianças (pelo contato mais íntimo com animais – mesmo que assintomáticos) a tinea capitis, lesão em corpo cabeludo, podendo até evoluir para um quadro mais grave de kerion celsi. Podem desenvolver um quadro de tinea faciei também, em região nasal, temporal e região mentoniana. Lesões dermatofíticas em áreas glabras geralmente estão associadas com pápulas, microvesículas e crostas. Em adultos é mais comum a tinea corporis, com lesões circunscritas, eritematosas e até bolhosas. Diagnóstico Quando se tem suspeita de dermatofitose, o primeiro exame a ser feito é com a lâmpada de wood em sala escura. Se o animal tiver M. canis, frente à luz da lâmpada de wood, pode ficar em coloração verde. Cerca de 70% dos casos fluorescem sob a lâmpada de wood. Isso acontece quando o M. canis está infectando a haste pilosa e se alimentando de queratina, liberando o triptofano, que é quem fluoresce. Outro exame é o tricograma, na procura de esporos na haste pilosa, podendo ser endotrix (dentro da haste) ou ectotrix (na superfície da haste). É um exame com sensibilidade de até 30%, porém pode ser um exame de triagem. O exame padrão ouro para fechar o diagnóstico é a cultura fúngica, identificando qual a espécie de fungo está acometendo o paciente. Para se fechar um resultado negativo, deve-se esperar pelo menos 3 semanas de cultura. Se a macroconídia tem formato fusiforme, especulada, com 6 ou mais partes e parede celular espessa, é um M. canis. Se a macroconídia for mais arredondada, com até 6 partes e não for especulada, é um M. gypseum. Se a macroconídia for irregular e com aspecto de charuto, é um T. mentagrophytes. A biópsia de pele é reservada para as infecções e lesões de pele incomuns. Tratamento Protocolos tópicos e sistêmicos. Os shampoos devem conter cetoconazol 2% (fungicida com ação queratolítica e queratoplástica), miconazol 2% (fungicida) ou clorexidine 2% + miconazol 2%. A terapia tópica é ineficaz no controle da dermatofitose intrafolicular. Os banhos devem ser 1 ou 2 vezes por semana. O corte da pelagem ajuda no controle da doença e minimiza a contaminação ambiental. Terapia sistêmica Griseofulvina 50mg/kg, BID ou 100mg/kg, SID. A griseofulvina é fungiostática e não fungicida, possui alta concentração na camada córnea e é mais eficaz para a microsporose do que para a tricofitose. Como é fungiostática, sempre é associada à medicação tópica fungicida. É uma medicação hepatotóxica e teratogênica. Pode causar mielossupressão e aplasia de medula em gatos. A medicação mais utilizada é o itraconazol (fungicida). É extremamente eficaz para tricofitose e microsporose. Dose de 10mg/kg é fungicida e dose de 5mg/kg é fungiostática. O protocolo mais utilizado é 10mg/kg, VO, SID, por 28 dias e depois continua com pulsoterapia até a involução lesional e 2 culturas negativas. Outra opção fungicida é a terbinafina na dose de 20mg/kg, SID. Sua eficácia é semelhante ao itraconazol, porém apresenta mais efeitos hepatotóxicos. Deve-se fazer higienização ambiental também, limpando utensílios e o ambiente com hipoclorito de sódio 2% e pelo menos terapia tópica em caso de animais contactantes com o paciente com dermatofitose.MALASSEZIOSE Etiologia: Malassezia pachydermatis é a principal espécie em cães e gatos. Esses fungos causam infecções superficiais onde há umidade e alta temperatura e possuem comportamento queratolítico e lipolítico. Localização: perioral, condutos auditivos, interdigital, axila, virilha e períneo. A malassezia geralmente é secundária a dermatites inflamatórias, alérgicas, parasitárias, seborreia primária, doenças endócrinas e dermatopatias carenciais. A Demodécica quando replica na unidade pilosebácea e deixa a pele untuosa, facilitando a replicação da Malassezia. Síndrome regional: em quadro agudo apresenta hipotricose e descamação, com eritema e forte prurido. Em região perioral pode ocorrer a queilite. Na fase crônica está associada à acantose, lignificação e hiperpigmentação. A pele lignificada é acantótica e hiperqueratótica. Lambedura de interdigito é muito comum e piora o quadro pelo aumento da umidade. No conduto auditivo pode haver hiperplasia de glândula ceruminosa, favorecendo a multiplicação da malassezia pelo ambiente inflamado e exsudativo. Pele disqueratótica, hiperpigmentada e mal cheirosa. Síndrome generalizada: malasseziose de configuração generalizada. Em fase aguda eritema e prurido e fase crônica pele seborreia e hiperpigmentada. Diagnóstico Exame citológico corado com panótico, fazendo por imprinting ou com cotonete/swab (citologia otológica). Tratamento Malassezia localizada O mais indicado é a terapia tópica. Terapia ceruminolítica, eliminando a cera e amenizando o supercrescimento da malassezia, como o Epiothic e Clean- up. Geralmente utilizados produtos com formulação ácida. A seborreia primária e a atopia são as principais doenças bases ligadas à malasseziose. Para pacientes com dermatite alérgica o mais indicado são formulações não ácidas como o peróxido de carbamida. Se o animal possui otite ceruminosa associada a Malassezia, deve passar 3 dias de limpeza e depois inicia a terapia fungicida à base de clotrimazol, cetononazol ou miconazol, como aurigen, otogard e cetonax, usados 2 vezes por dia por pelo menos 21 a 30 dias. Para malasseziose localizada em região interdigital, axila, virilha ou perioral, utiliza-se shampoos à base de cetoconazol 2%, miconazol 2% ou clorexidine 3%. Banhos 2 a 3 vezes por semana por 15 a 20 dias. Para malasseziose generalizada o indicado é a terapia tópica à base de shampoos associada à terapia sistêmica. Para pele acantótica e lignificada pode-se utilizar shampoos à base de sulfeto de selênio a 2% (queratomodulador, queratolítico e queratoplástico), tendo efeito malassezicida. Terapia sistêmica com cetoconazol 10mg/kg, VO, SID por 30 dias. Fluconazol 10-20mg/kg, VO, BID, porém não é tão eficaz para a Malassezia. O mais utilizado é o itraconazol 5-10mg/kg, VO, SID por 30 dias. ACARÍASE SARCÓPTICA É uma dermatopatia parasitária causada por ácaros, sendo eles o Sarcoptes scabiei var. Canis em cães e o Notoedres cati em gatos. É vulgarmente chamada de escabiose. O Sarcoptes scabiei é um parasita obrigatório, ou seja, não é comensal da pele. Ele penetra ativamente na camada córnea, causando infecções superficiais, infectando apenas a epiderme. Esse ácaro se alimenta de células mortas e de queratina. A transmissão se dá por contato direto ou através do ambiente e fômites. A escabiose pode se desenvolver até meses após o contato inicial. Desta forma se um animal está com escabiose e outros animais convivem junto a ele e não apresentam sinais clínicos, todos devem ser tratados, por que eles podem estar infectados mas ainda não desenvolveram a doença clínica. O Sarcoptes scabiei var. Canis não é espécie específica, pode infectar gatos e humanos, por exemplo. Aspectos clínicos Geralmente apresenta lesões iniciais em bordas de pavilhão auricular, fazendo acantose e hiperqueratose associado a prurido intenso. Devido ao prurido o animal pode ter escoriações e crostas hemáticas. É muito comum automutilação em animais com escabiose. Hiperqueratose na região da articulação úmero-radio-ulnar e tíbio- társica são comuns. Lesões em áreas glabras como axila, abdômen e virilha com erupções papulares muito pruriginosas. O Notoedres cati também pertence à família sarcoptidae e tem seu ciclo biológico igual ao cão. No gato a doença tem forte topografia lesional na face, pavilhão auricular, região cervical dorsal, membro torácico, cauda e períneo. As lesões faciais são extremamente comuns. Costuma ter uma configuração mais hiperqueratótica e descamativa, quando em relação à acaríase sarcóptica canina. Diagnóstico É feito a partir do raspado de pele e o local ideal é na borda do pavilhão auricular. Em gatos é um exame extremamente sensível e específico, já em cães é pouco sensível, ou seja, vai raspar e na maioria das vezes será negativo. Pode ser achado o ácaro ou outras formas do seu estágio, como por exemplo, formas jovens, ovos ou até fezes. Se há suspeita de escabiose e o raspado é negativo, o animal deve ser tratado da mesma forma, por que o diagnóstico nesse caso é terapêutico. O reflexo otopodal geralmente é positivo em pacientes com escabiose. Tratamento Terapia tópica à base de amitraz 4ml/litro de água com banhos semanais por 4 a 6 semanas. Uso de sabonetes à base de monossulfiram (Tetmosol) por 3 dias consecutivos, depois começa o uso de amitraz semanal por 3 ou 4 semanas. Terapia sistêmica com ivermectina 0,3 a 0,6mg/kg, VO, 1 vez por semana, por 4 a 6 semanas. Moxidectina 0,04 a 0,06ml/kg por via subcutânea por 4 a 6 semanas. Em gatos, o melhor controle é feito com o uso da ivermectina. O afoxolaner possui estudos revelando 100% de eficácia no seu uso contra Sarcoptes scabiei. OTOCARÍASE É dermatopatia causada por ácaros da espécie Otodectes cynotis, que se alimentam geralmente de queratina e gostam que ambientes quentes, úmidos e isentos de luz, tendo tropismo pelo conduto auditivo. A transmissão acontece por contato direto ou com fômites e ambiente contaminado. O Otodectes cynotis não é espécie específica. Paciente com otocaríase tem como principal sinal clínico a otite intensamente pruriginosa, podendo levar até a otohematoma pelos meneios de cabeça. A otite costuma ser ceruminosa abundante, enegrecida e até com aspecto ressequido. Todo animal como otite externa, a otocaríase deve estar na lista de diagnóstico diferencial. No gato, o simples fato do ácaro sair do conduto e passar pela face, podendo causar a síndrome de escoriação facial. Alguns gatos podem desenvolver dermatite eosinofílica e outros podem fazer síndrome de alopecia autoinduzida. Diagnóstico Pode-se fazer o exame direto do cerúmen em lente de aumento e observar a atividade/movimentação dos ácaros. Outra forma de diagnóstico é através da otoscopia direta. Pode-se fazer citologia da cera do conduto auditivo e ser visualizada no microscópio. Tratamento Se o paciente tem otite externa pruriginosa e ceruminosa, deve-se fazer o uso de substâncias ceruminolíticas, removendo o cerúmen, limpando o pavilhão auricular e minimizando a inflamação (efeito pró-inflamatório). Ivermectina 0,4 a 0,6mg/kg, VO, 1 vez por semana, por 4 a 6 semanas. Moxidectina 0,04a 0,06ml/kg, SC, 1 vez por semana, por 4 a 6 semanas. Lembrando que uma vez diagnosticada a otocaríase em um animal, todos os contactantes devem ser tratados (alguns podem ser assintomáticos ou ainda não apresentaram a doença). O afoxolaner é relatado com eficácia superior a 98% em uma única aplicação contra Otodectes cynotis. DERMATITE ALÉRGICA À SALIVA DA PULGA (DASP) É uma dermatopatia crônica, intensamente pruriginosa, geralmente associada à sensibilização à proteínas presentes na saliva ou fezes das pulgas. 90% dos cães e gatos com puliciose apresentam infestação por Ctenocephalides felis. Cerca de 6% são infectados pela Ctenocephalides canis. Cerca de 2% é infestado pela Pulex irritans, por que é uma pulga mais adaptada a sangue frio, por isso é mais comum em humanos. A Xenopsylla cheopis pode infestar os gatos, é a pulga do rato e está associada à transmissão de Yersinia pestis (peste bubônica) e Rickettsia typhi (febre tifoide), mas raramente vai infestar cães e gatos. Um animal com pulga costuma ter no ambiente em que vive uma infestação, por que a pulga pica o animal, suga o sangue e deposita seus ovos. O cão ou o gato ao se coçarem, acabam derrubando os ovos no ambiente, continuando seu ciclo evolutivo. Os ovos se desenvolvem em larvas. As larvas são fotofóbicas e geotrópicas (entram na terra), então geralmente a larva da pulga se estabelece em frestas, carpetes, tapetes. As larvas podem se alimentar da poeira doméstica. Depois se desenvolvem em pupas, que é a forma de resistência ambiental, permanecendo assim por meses a anos. A pupa só irá se desenvolver na forma adulta se o ambiente for favorável (presença de cães e gatos pela temperatura dos mesmos). O animal ao ser picado recebe da saliva da pulga proteínas de alto peso molecular e estrutura terciária muito complexas, sendo encaradas como corpo estranho por alguns animais, levando a ativação das células de langerhans, fagocitando essas proteínas e posteriormente apresentando essas estruturas antigênicas para o linfócito Th0, que se desenvolve em Th2, que migra para pele e libera citocinas. Essa liberação leva uma proliferação de linfócitos B e produção de anticorpos IgE contra as proteínas presentes na saliva da pulga. Os anticorpos IgE são mais citotrópicos, ou seja, são pouco circulantes, tendem a ficar mais na pele. A IgE se instala nos mastócitos, ficando a pele do cão/gato cheia de mastócitos, então cada vez que o animal é exposto à saliva da pulga, começa a produzir anticorpos IgE. Chega um momento que muitos mastócitos terão IgE na sua superfície, levando a degranulação dessas células e o desenvolvimento de inflamação e prurido. Topografia lesional: prurido na linha média dorsal, intenso na região dorsotorácica e na base da cauda também. O que difere dos animais do animal atópico que tem topografia mais ventral, na face e superfícies digitais. O pelo tende a ficar tonsurado e quebrado e a pele eritematosa, com crostas e com a cronicidade pode levar ao espessamento. Uma das lesões podem ser os nódulos fibrinopruriginosos, que são nódulos firmes, altamente pruriginosos e de aspecto verrucoso. São nódulos ricos em eosinófilos – são quase patognomônicos em animais com DASP. Alguns animais com prurido excessivo podem desenvolver a dermatite úmida aguda (dermatite piotraumática), causando quebra do pelo, erosão da pele e contaminação bacteriana secundária. Alguns animais podem ter desgaste dos incisivos e retração de gengiva pelo prurido crônico. Outros podem se infestar por Dipyllidium, pela ingestão de pulgas. Em gatos pode ocorrer alopecia auto- induzida, lembrando que os felinos se coçam lambendo o local afetado. Pode ocorrer também a dermatite miliar (erupções papulares ou pápulo- vesiculares), que é intensamente pruriginosa, levando a erosões e úlceras. Apresenta-se clinicamente com pápulas e crostas (lesões pápulo- crostosas). Alguns felinos ainda podem desenvolver a síndrome da escoriação cervicofacial por prurido intenso em face ou região cervical. Dermatites eosinofílicas podem ocorrer também, sendo a mais comum é a úlcera eosinofílica. É uma lesão serosa, profunda, com bordas bem elevadas, uni ou bilateral, geralmente no lábio superior adjacente ao dente canino. Outros animais podem ter lesões serosas de aspecto coalescente associado à inapetência e hiporexia. Outra forma de dermatite eosinofílica é a placa eosinofílica, formando lesões em relevo, circunscritas, coalescentes ou não. Geralmente ocorrem no abdômen ou axila. O prurido leva à lambedura e consequentemente à ulcerações e exsudação. Outros gatos podem desenvolver o granuloma eosinofílico, que pode ser mentoniano que leva inchaço no lábio inferior ou no queixo, que se coalescem formando uma lesão única. Pode ocorrer o granuloma eosinofílico oral que pode ser circular ou em placa, abrangendo a língua e região da fenda palatina. A DASP é uma das principais doenças alérgicas que afetam os cães e os gatos. Diagnóstico É clínico, através dos sinais clínicos e a própria presença da pulga e suas fezes. Os pacientes recebem um diagnóstico presuntivo/terapêutico de DASP. A confirmação se dá pela presença das pulgas ou excrementos delas, associados aos sinais clínicos compatíveis. Lembrando que alergia e infestação não são sinônimos. O animal pode estar infestado sem apresentar alergia. Alergia significa exposição à pulga, podendo ser uma inclusive. Tratamento Inicialmente pode-se minimizar o prurido com anti-histamínicos como o cloridrado de hidroxizina (hixizine) na dose de 2mg/kg, VO, BID. Outro anti- histamínico utilizado é a cetirizina (zyrtec) na dose de 1mg/kg, VO, SID. Em gatos o mais utilizado é a clorfeniramina (concentração comercial de 4mg em tabletes), na dose de 2- 4mg/gato, VO, BID. Para animais com prurido mais intenso, o mais indicado é a utilização de corticoides orais como a prednisolona 0,5-1mg/kg, SID para cães e 1-2mg/kg, SID para gatos. São mantidos por 1 a 2 semanas até o proprietário fazer o controle da puliciose. O tratamento deve ser adulticida, larvicida, com bom poder residual, sejam inócuos e que matem por contato. O animal que tem alergia à saliva da pulga não pode ter contato com a pulga, senão ele terá deflagrado a alergia e seus sinais clínicos. Fipronil spray pode ser usado em todo o corpo do animal, tendo efeito adulticida (mata por knock-out), larvicida e mata por contato. Após 15 dias pode-se utilizar formulações com fipronil e metopreno, que controlam o crescimento. E após mais 15 dias, pode- se iniciar o controle mensal. Pode-se utilizar para controle mensal formulações como o Advocate (imidacloprima + moxidectina) ou o Revolution (selamectina). A frequência de utilização depende muito do desafio ambiental. Quanto maior o desafio ambiental, mais frequentemente usará os produtos. Adulticidas e larvicidas orais podem ser utilizados também. Porém para tratamento, só se fizer o pour-on associado. É importante utilizar aspiradores de pó, higienizar o ambiente, cama e casa do cão/gato e utilizar soluções adulticidas e larvicidas para o ambiente. Para o ambiente soluções à base de deltametrina (K-Othrine, Pulgoff delta) ou permetrina, diluídas em água. CRIPTOCOCOSE É uma micoseprofunda ou sistêmica. O principal agente é o Criptococcus neoformans (var. neoformans e grubii). Ainda existe o Criptococcus gatti. O C. neoformans é amplamente encontrado no mundo todo, no solo, em matéria orgânica e fortemente dependente de material nitrogenado (fezes de pombo são uma ótima fonte). Geralmente são as aves que mantem o fungo no ambiente, facilitando seu supercrescimento. Culturas de fezes e swab cloacal dessas aves geralmente são negativas para o fungo, portanto elas não eliminam o fungo. O C. gatti é mais observado em matéria orgânica vegetal decomposta como cascas de árvores (eucaliptos, pinheiros). A inalação é a forma de infecção, podendo se disseminar ou fazer infecção local. Fatores predisponentes em gatos: FIV e FeLV são geralmente doenças de base nos EUA, já no Brasil na maioria das vezes é uma doença espontânea, de evolução natural. Em cães: erliquiose, leishmaniose ou toxoplasmose. A infecção por C. gatti tende a ser mais fatal. Aspectos clínicos O que mais se observa é a forma respiratória. Pode-se observar a forma oftálmica da doença, assim como tegumentar, neurológica, ganglionar, digestória e disseminada. Pode desenvolver nódulos/tumores em plano nasal, que podem sofrer ulceração, exsudação e formação de crostas. Sinais respiratórios podem ocorrer quando há obstrução da via respiratória e o paciente pode respirar pela boca. Pode ocorrer obstrução do ducto nasolacrimal levando à epífora. Coriorretinite e descolamento de retina também podem ocorrer. Quando o fungo passa pela placa cribiforme pode chegar ao SNC, causando meningoencefalite micótica. Lesões de tegumentares também ocorrem. São elas: lesões ulceradas ou necróticas, em placa e exsudativas. Linfadenomegalia pode ser localizada ou generalizada. Cães com criptococose podem também fazer lesões rinossinusais. Deve-se investigar uma possível doença de base (erliquiose, toxoplasmose, leishmaniose) ou uso de corticoides/quimioterápicos. Diagnósticos diferenciais O principal diagnóstico diferencial é a esporotricose. Neoplasias de cavidade nasal e leishmaniose também são diferenciais. Diagnóstico Rinoscopia, tomografia, biópsia, citologia e cultura. CAAF também é indicada, podendo ser corada com o panótico. Visualizam-se leveduras arredondadas com cápsula de mucopolissacarídeos. Pode ser corado com nanquim, o fungo não cora, ficando com aspecto ‘’fantasmagórico’’. Diagnóstico definitivo com cultura fúngica em ágar Saboraud. A titulação sorológica faz diagnóstico mas é mais utilizada para a avaliação do paciente durante o tratamento e a involução sintomato-lesional. Tratamento Se a lesão for grave, o mais indicado é a anfotericina B por via subcutânea. Depois da melhora clínica pode migrar para itraconazol ou fluconazol (paciente com lesões neuroftálmicas). Itraconazol 10-20mg/kg, VO, SID para gatos e 10mg/kg, VO, SID para cães. Fluconazol 5-15mg/kg, VO, BID ou SID. Anfotericina B 0,5 a 0,8mg/kg, SC, 2 a 3 vezes por semana. A terapia média da criptococose é por mais ou menos 6 meses a 1 ano. Em animais com criptococoma faz-se a ressecção cirúrgica e tratamento antifúngico. Cães e gatos não transmitem a doença para os humanos, mas funcionam como sentinelas, alertando que o ambiente está contaminado e o ser humano pode por consequência adquirir a doença. ESPOROTRICOSE A esporotricose é uma micose subcutânea pápulo-nodular ou ulcero gomosa. Etiologia: Sporothrix schenckii, um fungo produtor de melanina, que o protege da fagocitose. A infecção se dá pelo contacto com o, com vegetais secos ou em decomposição e pela mordedura e arranhadura. Aspectos clínicos A lesão inicial depende do sistema imune do paciente, podendo permanecer localizada no ponto de inoculação traumática (esporotricoma) e até involuir espontaneamente.. Trata-se de infecção preponderante em machos (65%), com média etária de 24 meses Lesões topograficamente dispostas nas regiões cefálica, membros torácicos e em superfície mucosas. Infecções extracutâneas também podem ocorrer, como casos respiratórios. Instalada a infecção, o agente pode permanecer no ponto de entrada (esporotricoma) caracterizando-se como lesão papular ou pápulo-nodular fixa, na forma cutânea, desprovida de linfangite ou enfartamento linfonodal. Havendo falha na imunidade pode haver evolução para lesão úlcero- gomosa com ou sem linfangite. Clinicamente, animais doentes apresentam lesões no dorso do tronco e na cabeça, sendo que as extremidades podem estar concomitantemente afetadas. Lesões circulares, elevadas, com alopecia e crostas, às vezes com ulceração central. Na forma generalizada podem estar presentes anormalidades oculares, neurológicas e linfáticas. Gatos comumente afiam suas garras em árvores, onde pode existir a forma de bolor deste fungo, causando ao paciente a onicomicose, onicomadese e até levando à claudicação. Diagnóstico Anamnese, história clínica, exame físico e exames complementares. Geralmente machos, mas acometendo também fêmeas, animais jovens, imunossuprimidos e expostos à fontes de infecção. Pode-se encontrar o rosário esporotricótico. Testes confirmatórios: citologia, cultura, biópsia e testes sorológicos. Tratamento O itraconazol 10mg/kg, via oral, por meses, podendo se estender até 1 ano. Após a total remissão lesional, o tratamento ser mantido por mais quatro semanas. Outros tratamentos potencialmente eficazes incluem anfotericina B 0,2 a 0,5 mg/kg, IV, 2 a 3 vezes por semana, cetoconazol 10 a 30 mg/kg/dia e fluconazol 2,5 a 5 mg/kg/dia. QUEILETIELOSE É uma doença ectoparasitária que afeta cães, gatos e coelhos. É causada por um ácaro chamado Cheyletiella spp. e resulta em uma doença cutânea pruriginosa, descamativa, papular e afetando principalmente o dorso, apesar do prurido poder ser generalizado. A espécie que mais acomete o cão é a Cheyletiella yasguri, enquanto no gato é a C. blakiei e no coelho a C. parasitovorax. Denominada também de ‘’caspa andante’’, devido ao parasita às vezes ser observado a olho nu. Doenças ectoparasitárias causam prurido no dorso, sendo muito improvável hipersensibilidade alimentar ou dermatite atópica causarem prurido restrito a essa área. Diagnóstico O diagnóstico é feito através de citologia da pele e visualização do ácaro. No ambiente existem coelhos? Uma vez que esses animais são veiculadores da Cheyletiella. Verificar a possibilidade de pessoas com lesões de pele, principalmente nos braços e abdômen, uma vez que a queiletielose é uma zoonose. Diagnósticos diferenciais Sarna sarcóptica, dermatite alérgica à saliva da pulga, piodermite, sarna otodécica ectópica e mais improvavelmente, a dermatite aópica e a hipersensibilidade alimentar. Tratamento Utilização de avermectinas associadas ou não a medicações spot-on, como por exemplo, o fipronil. Descontaminação ambiental com permetrina pode auxiliar no tratamento. COMPLEXO PÊNFIGO É um grupo de doenças auto-imunes raras (mas não tão raras assim) descritas em cães e gatos e chamado também de ‘’fogo selvagem’’. É uma desordem vesicobolhosa a pustular que atinge a pele e as junções mucocutâneas de mucosas, levando a lesões em várias mucosas. Independente do tipo de pênfigo,
Compartilhar