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CARTILHA CEPIS
EDUCAÇÃO POPULAR E MOVIMENTO POPULAR
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SUMÁRIO
Educação popular e trabalho popular	3
Paulo Freire e a educação popular	4
Sobre a metodologia popular	5
De onde provêm as ideias corretas?	10
O que é educação?	11
O que é educação popular?	12
Educação popular e poder popular	14
Educar as massas	16
A luta sindical	18
Educação popular e liberdade crítica	21
A formação de trabalhadores	24
A importância do ato de ler	25
Madre Cristina sobre a educação	26
A importância de compreender os problemas do povo	28
Resgatar o espírito de militância	34
Sobre a mística	37
O poder popular	39
Análise de conjuntura dos movimentos sociais	43
Sobre um programa de formação política	46
Construir um sindicalismo de base	50
Valores e ética na militância	52
Como fazer trabalho de base	54
�Educação popular e sujeitos da transformação	55
A luta e a organização popular	56
Guia para estudo	59
Ferramentas de organização do movimento popular	60
Retomar o trabalho de base	63
Avaliação no CEPIS	66
Desamarrar as vozes, dessonhar os sonhos: escrevo querendo revelar o real maravilhoso, e descubro o real maravilhoso no exato centro do real horroroso da América.
Nestas terras, a cabeça do deus Elegguá leva a morte na nuca e a vida na cara. Cada promessa é uma ameaça; cada perda, um encontro. Dos medos nascem as coragens; e das dúvidas, as certezas. Os sonhos anunciam outra realidade possível e os delírios, outra razão.
Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos. A identidade não é uma peça de museu, quietinha na vitrine, mas a sempre assombrosa síntese das contradições nossas de cada dia.
Nessa fé, fugitiva, eu creio. Para mim, é a única fé digna de confiança, porque é parecida com o bicho humano, fodido mas sagrado, e à louca aventura de viver no mundo.
Celebração das contradições/2
Eduardo Galeano
EDUCAÇÃO POPULAR E TRABALHO POPULAR
“Educação Popular é o esforço de mobilização, organização e capacitação popular para o exercício do poder” P. Freire (adapt.)
Só o conhecimento liberta. Mas o saber não se reduz à escolarização, erudição acadêmica, arquivo de informações ou mera assimilação e repetição de conceitos. Conhecimento é mais que informação, palestra, curso ou leitura de livro. O conhecimento pressupõe informação, assimilação e aplicação dos conceitos. Quem sabe como fazer mas não faz, ainda não sabe. A informação de como nadar é insuficiente para a prática de nadar. Quem nunca fez, ainda que tenha informações de como fazer, só sabe quando aplica uma orientação conforme o grupo, lugar, ritmo e cultura concreta. 
Quando colocado a serviço de uma estratégia, o saber torna-se força material que transforma a natureza e a sociedade. A educação é um instrumento que torna comum uma estratégia de poder. Pois, toda educação tem uma intencionalidade, explícita ou implícita; todo conhecimento tem um objetivo, direção e finalidade. O conhecimento é conhecimento de algo, a partir de uma perspectiva. A educação está sempre a serviço de uma ideologia, de uma proposta.
Numa sociedade de classes, não pode haver educação que seja a favor de todos – será sempre a favor de alguém e contra outrem. A educação serve para que uma pessoa se acomode ao mundo ou se envolva em sua transformação. Por isso, a formação é um processo dialético de tradução, reconstrução e criação do conhecimento que capacita educadores/educandos a ler criticamente a realidade, com intenção de transformá-la. 
A Educação Popular é uma concepção de formação que opta por um dos pólos da luta de classe – a classe oprimida, o povo em marcha. E, no interior da classe oprimida, opta por quem está na produção de riquezas. E, na classe que trabalha, opta por quem se dispõe a um processo de transformar, pela raiz, a estrutura da sociedade capitalista. Quem faz só pedagogia, só metodologia, sem esta visão política, faz uma contra-educação popular
A Educação Popular é uma ferramenta político-pedagógica: a) traduz, divulga e recria o conhecimento como força material para transformar a realidade; b) Constrói e acompanhar a implantação da estratégia da organização popular; c) Qualifica militantes que se dispõem a transformar a estrutura do sistema capitalista, no nível político, econômico, ideológico e cultural; d) Eleva o nível de consciência da classe oprimida; e) incorpora o povo como protagonista; f) Utiliza a metodologia participativa para facilitar o entendimento e a aplicação de um conteúdo, comprometendo as pessoas com uma multiplicação criativa.
A Educação Popular adota a concepção dialética onde a pergunta concreta do presente, inspira-se na prática social acumulada (ciência, teoria, história) para projetar uma saída. Na atividade formativa, conforme o grupo, utiliza o método indutivo que parte do real, concreto, biográfico para o geral ou o método dedutivo que vai do geral para o particular. O que não pode dispensar é o envolvimento de cada ator como parte corresponsável, em todo o processo.
A pedagogia da Educação Popular leva em conta: a) O querer do educador, sua mundivisão e seu acúmulo da prática social; b) O educando com o seu saber, seu potencial, seus anseios e suas reivindicações; c) O contexto das pessoas, mergulhadas numa teia de relações econômicas, históricas, culturais, religiosas, políticas, sociais...; d) A prática do intercâmbio, onde as partes se assumem como protagonistas, mesmo que tenham papéis específicos.
A Educação Popular é um processo coletivo de elaboração, tradução e socialização do conhecimento que capacita educadores e educandos a ler criticamente a realidade para transformá-la. A apropriação crítica dos fenômenos, e suas raízes, permite o entendimento dos momentos e do processo da luta de classes, a quebra toda forma de alienação e a descoberta do real e sua superação.
CEPIS – SP.
PAULO FREIRE E A EDUCAÇÃO POPULAR
“Pedro viu a uva”, ensinavam os manuais de alfabetização. Mas o professor Paulo Freire, com o seu método de alfabetizar conscientizando, fez adultos e crianças, no Brasil e na Guiné Bissau, na Índia e na Nicarágua, descobrirem que Pedro não viu apenas com os olhos. Viu também com a mente e perguntou se a uva é natureza ou cultura.
Pedro viu que a fruta não resulta do trabalho humano. É criação, é natureza. Paulo Freire ensinou a Pedro que semear a uva é a ação humana na e sobre a natureza. É a mão, multiferramenta, despertando as potencialidades do fruto. Assim como o próprio ser humano foi semeado pela natureza, em anos e evolução do Cosmo. Colher uma uva, esmagá-la e transformá-la em vinho é cultura, assinalou Paulo Freire. O trabalho humaniza e, ao realizá-lo, o homem e a mulher se humanizam. Trabalho que instaura o nó de relações, a vida social.
Graças ao Professor que iniciou sua pedagogia revolucionária com os operários do SESI de Pernambuco, Pedro viu também que a uva é colhida por bóias-frias que ganham pouco e, comercializada por atravessadores que ganham melhor. Pedro aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda saber ler, ele não é uma pessoa ignorante. Antes de aprender as letras, Pedro sabia erguer uma casa, tijolo a tijolo. O médico, o advogado ou o dentista, com todo o seu estudo, não eram capazes de construir como Pedro. Paulo, Freire ensinou a Pedro que não existe ninguém mais culta do que outra, existem culturas paralelas, distintas, que se complementam na vida social.
Pedro viu a uva e Paulo Freire mostrou-lhes os cachos, a parreira, a plantação inteira. Ensinou a Pedro que a leitura de um texto é tanto melhor compreendida quanto mais se insere um texto no contexto do autor e do leitor. É dessa relação dialógica entre o texto no contexto, que Pedro extrai o pretexto para agir. No início e no fim do aprendizado é a práxis de Pedro que importa. Práxis-teoria-práxis, num processo indutivo que torna o educando sujeito histórico. 
Pedro viu a uva e não viu a ave que, de cima, enxerga a parreira e não vê a uva. O quePedro vê é diferente do que vê a ave. Assim, Paulo Freire ensinou a Pedro um princípio fundamental da epistemologia: a cabeça pensa por onde os pés pisam. O mundo desigual pode ser lido pela ótica do opressor ou pela ótica do oprimido. Resulta uma leitura tão diferente uma das outras como a visão de Ptolomeu, ao observar o sistema solar, com os pés na terra, e a de Copérnico, ao imaginar-se com os pés no sol.
Agora, Pedro vê a uva, a parreira e todas as relações sociais que fazem do fruto, festa no cálice de vinho, mas já não vê Paulo que mergulhou no Amor, na manhã do dia 02 de Maio de 1997. Deixa-nos uma obra inestimável de competência e coerência. Paulo deveria estar em Cuba, onde receberia o título de doutor ‘honoris causa’ da Universidade de Havana. Ao sentir dolorido seu coração que tanto amou, pediu que fosse representá-lo. De passagem marcada não me foi possível atendê-lo. Contudo, antes de embarcar, fui rezar em torno de seu semblante tranquilo: “Paulo via a Deus”. 
Frei Betto
SOBRE A METODOLOGIA POPULAR
“Imagina-te como uma parteira. Acompanhas o nascimento de alguém, sem exibição ou espalhafato. Tua tarefa é facilitar o que está acontecendo. Se deves assumir o comando, faz isto o de tal modo que auxilies a mãe e deixes que ela continue livre e responsável. Quando nascer a criança, a mãe dirá com razão: nós três realizamos esse trabalho” (Adapt. de Lao Tse, séc. V a C.)
APRESENTAÇÃO
Gostaria de iniciar dizendo que nem sempre cabe uma palestra sobre método. O que ensina a gente é fazer coisas e ler. O fundamental é fazer, é lançar-se numa prática e ir aprendendo-reaprendendo, criando-recriando, com o povo. Isso é que ensina a gente. Mas, ajuda muito bater um papo com quem tem prática, com quem já teve prática e com quem tem uma fundamentação teórica, à propósito da experiência. Nesse olhar uma assessoria tem sentido. Mas, o indispensável é fazer. Assim a gente vai tendo a sensação agradável de estar descobrindo as coisas com o povo.
Tenho evitado escrever algo que não tenha feito. Nem carta sei fazer se não tiver algo importante para conversar. Meus livros são sempre relatórios, embora relatórios teóricos, feitos a partir da prática. Quem pretende trabalhar com esses relatórios deve estar disposto a recriar o que fiz, a refazer e não só copiar, a reinventar as coisas. Os elementos que vamos refletir são princípios válidos para quem trabalha com o povo, está metido com alfabetização de adultos ou participa de algum tipo de pastoral ou trabalho popular.
Princípios do Trabalho Popular
NINGUÉM ESTÁ SÓ NO MUNDO
O primeiro princípio é ninguém está só no mundo. Enquanto educadore(a)s devemos estar muito convencido(a)s de uma coisa que é óbvia: ninguém está só no mundo. Parece uma constatação besta - constatação é aquilo que ninguém precisa pesquisar. Mas, é preciso ver que implicações se tira da constatação. O importante não é fazer uma constatação. Fazer constatação é fácil, basta estar vivo. O importante é encarnar essa constatação com um bando de consequências, de implicações.
A primeira consequência, sobretudo no campo da educação, é que, se ninguém está só, é porque os seres humanos estão no mundo com outros seres. E estar com outros significa necessariamente respeitar nos outros o direito de dizer a palavra. Aí, começa o embananamento para quem tem uma posição nada humilde, quem pensa que conhece a verdade toda. Para elas só tem um jeito – fazer a cabeça de quem não tem a verdade.
Saber ouvir
A implicação profunda e rigorosa que surge quando encarno que não estou só é exatamente o direito e o dever de respeitar em você o direito de você dizer a palavra. Isso significa então, que é preciso também saber ouvir. Na medida, em que eu parto do reconhecimento do teu direito de dizer a palavra, quando eu falo porque te ouvi, eu faço mais do que falar a ti, eu falo contigo. Mas, falar a ti só se converte no falar contigo, se eu te escuto. No Brasil tá cheio de gente falando prá gente, mas não com a gente. Faz 500 anos que o povo brasileiro leva porrete. Tudo isso tem a ver com o trabalho do educador(a): Numa posição autoritária, é evidente que o educador(a) fala ao povo, fala ao estudante.
O terrível é ver um montão de gente se proclamando de esquerda e continuar falando ao povo e não com o povo numa contradição extraordinária com a própria posição de esquerda. Porque o correto da direita é falar ao povo, enquanto o correto da esquerda é falar com o povo. Esse trequinho é a primeira conclusão que a gente tira quando percebe que não está só no mundo.
Quando a gente encarna e vive este não estar só no mundo está falando da metodologia popular. Esse modo de ver e de tratar é muito mais que um método – é uma concepção de mundo. É uma pedagogia. Pedagogia e não um método cheio de técnicas. A gente sabe muito mais as coisas quando aprendemos o significado dessa pedagogia do que quando se aplica uma técnica. As técnicas só se encarnam quando o princípio é respeitado.
Se o educador está disposto a viver com o educando uma experiência na qual o educando diz sua palavra ao educador e não apenas escuta a palavra do educador, a educação se autentica, tendo no educando um criador de sua aprendizagem. Esse é um princípio fundamental.
Uma segunda consequência do falar a e do falar com é que eu só falo com na medida em que escuto também. E eu só escuto na medida em que eu respeito, inclusive o que fala me contradizendo. Se a gente só escuta o que concorda com a gente... é exatamente o que está aí no poder. Quer dizer, desde que vocês aceitem as regras do jogo, a abertura prossegue. Se o povo brasileiro concordar que a abertura, a democracia deve ser assim, ela existe, senão... Gosto muito de anedotas, inclusive as anedotas chamada feias que são tão bonitas.
Quando era moço, me contaram uma estória que se deu com Henry Ford. Henry Ford reuniu seus técnicos e assessores e disse: vamos aqui discutir o modelo novo dos carros Ford. Então, os técnicos começaram: Sr. Henry, vamos dar um jeito de acabar com esses carros só pretos e feios; vamos tacar o carro marrom, verde, azul, mudar o estilo, fazer um negócio mais dinâmico. Quando deu 17 h o Henry Ford falou: agora em tenho um negócio. Vamos fazer o seguinte: amanhã, a gente se reúne aqui às cinco horas, para decidir esse negócio. No outro dia, às 16h45 os assessores estavam todos na sala. Às 16,50 h, a secretária de Ford entrou na sala e falou: senhores, o Sr. Ford não pode vir a essa reunião, mas pede que os senhores se reúnam; diz também que concorda com os senhores, desde que seja preta a cor dos carros.
Eu falo contigo quando sou capaz de te escutar. E se sou capaz, eu falo a ti. No falar a e no falar sobre (que significa falar em torno), falo a ti sobre a situação tal. Se me convenci desse falar com, desse escutar, meu trabalho vai partir sempre das condições concretas em que o povo está. Meu trabalho vai partir dos níveis, das maneiras e formas como o povo se compreende na realidade e nunca da maneira como eu entendo a realidade.
Desmontar a visão mágica
Parto de um exemplo concreto. Quando tinha 7 anos, já não acreditava que a miséria era punição de Deus. Isso faz muito tempo. Mas, vamos admitir que eu chegue para trabalhar, numa certa área cujo nível de repressão, opressão, espoliação do povo é tão grande que a comunidade, até por necessidade de sobrevivência coletiva, se afogue numa visão alienada do mundo. Nessa visão, Deus é o responsável por toda aquela miséria. Nesse nível de consciência, de percepção da realidade é preciso, acreditar que Deus é o responsável. Sendo Deus o responsável o problema passa a ter causa superior. É melhor acreditar que é Deus do que acreditar que não é, porque aí não se tem a obrigação de brigar, arriscando-se a morrer...
	Esta é uma realidade que existe. Não se sabe como é que os jovens de esquerda não percebem esse treco! Então, não é possível chegar a uma área como essa e fazer um discurso sobre a luta de classe. Não dá mesmo ! É uma absolutainconsistência teórico-científica. Fazer um troço desse, é ignorância da ciência. Um dia, vai chegar o negócio da classe. Mas, será impossível enquanto não desmontar a visão mágica, a compreensão mágica. Se houvesse a possibilidade da participação ativa, da prática política imediata, essa visão se acabaria. Porém, é sempre uma violência você querer esquecer que a comunidade ainda não tem a possibilidade de um engajamento imediato.
	O que tem acontecido é a gente falar à comunidade e não com a comunidade. Você faz um discurso brabo, danado. E o resultado desse discurso? Cria mais medo; mete mais medo na cabeça da população. Quer dizer, o que a gente tem a fazer é partir exatamente do nível que a massa está. Diante desse fato, há duas possibilidades de errar: a) acomodar-se ao nível da compreensão da comunidade e passar a dizer que, na verdade, é Deus mesmo que quer isso; b) ou arrebentar com Deus e dizer que o culpado é o imperialismo. 
Seria uma falta de senso dessa pessoa porque, isso é falta de compreensão do fenômeno humano, da espoliação e das raízes. É engraçado, se fala tanto em dialética e não se é dialético. (Dialética é o processo de conhecimento pelo qual se acerta o caminho, através de um processo de reflexão sobre a realidade ou a prática). O que será que pode acontecer na cabeça das pessoas: se Deus é um caboclo danado de forte, que criou todo esse treco o que é que pode gerar na cabeça dessas pessoas se a gente chega e diz que não é Deus? Vamos ter que brigar com uma situação feita por um ser tão poderoso como este e, ao mesmo tempo, tão justo. Essa ambiguidade que está aí significa pecado. Então, a gente mete mais sentimento de culpa na cabeça da massa popular.
Partir do nível da massa
Antes do golpe militar, lá no Nordeste, fui conversar com um grupo de camponeses. Em poucos minutos eles se calaram e houve um grande silêncio. Até que um deles falou:
O senhor me desculpe, mas é o senhor que deve falar e não nós.
Por que? Perguntei eu.
Porque o senhor é o que sabe e nóis não sabemos.
Aceito. Eu sei e vocês não sabem! Mas por que é que eu sei e vocês não sabem?
Aceitei a posição deles em vez de me sobrepor à posição deles. Aceitei a posição deles, mas, ao mesmo tempo, indaguei sobre eles)
Um deles respondeu:
O senhor sabe porque foi à escola e nós não.
Aceito. Fui à escola e vocês não foram. Mas, por que é que eu fui à escola e vocês não foram? 
Ah, foi porque seus pais puderam e os nossos não.
Concordo. Mas por que meus pais puderam e os de vocês não puderam?
Ah, o senhor pôde porque seus pais tinham condição, bom trabalho, bom emprego e os nossos não.
Tá certo. Mas, por que os meus tinham e os de vocês não?
Porque os nossos eram camponeses. Meu avô era camponês, meu pai era camponês, eu sou camponês, meu filho é camponês, meu neto vai ser camponês. (Aí, a concepção fatalista da história!).
O que é ser camponês?
Ah, é não ter nada, é ser explorado.
Mas, o que é que explica isso tudo? 
Ah, é Deus! Deus quis que o senhor tivesse e nós não.
Tá certo, concordo. Deus é um cara bacana, é um sujeito poderoso! Agora, eu queria fazer uma pergunta: quem aqui é pai? (Todo mundo era). Olhei para um e disse: Você tem quantos filhos? - Tenho seis, disse ele.
Você seria capaz de botar 5 filhos aqui no trabalho forçado e mandar um prá Capital com comida, hotel, prá ele estudar e ser doutor, e os outros 5 morrendo no porrete e no sol?
Não, não fazia isso não!
Então, você que acha que Deus é poderoso, que é pai, ia tirar essa oportunidade de vocês? Será que pode? Houve um silêncio e por fim um falou:
É não, não é Deus nada! É o patrão!
Seria idiotice minha se eu dissesse que era o patrão imperialista yankee. O cabra ia dizer o quê, onde mora esse hôme? A transformação social se faz com ciência, com consciência, bom senso, humildade, criatividade e coragem. É trabalhoso, não se faz na marra. O voluntarismo nunca fez revolução, em canto nenhum, nem o espontaneísmo. Transformação social implica em convivência com as massas populares e não a distância delas.
Ninguém sabe tudo ninguém ignora tudo
Um princípio que está ligado ao falar a e falar com é que ninguém sabe de tudo, nem ninguém ignora tudo. Isto equivale dizer que, em termos humanos, não há nem sabedoria absoluta, nem ignorância absoluta. 
Um dia, no Chile, fui discutir com camponeses. Eles estavam inibidos para discutir comigo por que eu era doutor. Falei que não era. Peguei um giz, fui ao quadro e propus o seguinte jogo. Faço uma pergunta a vocês e se vocês não souberem, eu marco um gol. Em seguida, vocês fazem uma pergunta e se eu não souber, vocês marcam um gol. Vou dar o primeiro chute. De propósito, perguntei um treco difícil, coisa de intelectual: eu gostaria de saber o que hermenêutica socrática? Ficaram rindo, não sabiam o que era isso. Marquei um ponto para mim. Na vez deles, alguém fez uma pergunta sobre semeadura. Eu não entendia pipocas! Perdi um ponto. Fiz a segunda: o que é alienação em Hegel? Dois a um. Me fizeram uma pergunta sobre praga. Foi uma senhora experiência, com empate de 10 a 10. Convenceram-se, no final do jogo, que de fato, ninguém sabe tudo e ninguém sabe nada.
Elitismo e basismo
Mas, essa verdade que aceitamos a nível teórico pelo intelecto (ninguém sabe tudo e ninguém sabe nada), a gente precisa viver. Todo mundo aqui sabe que não está só no mundo. Porém, é preciso viver a consequência disso, sobretudo quando dizemos que nossa opção é libertadora. O que é preciso é encarnar esse princípio quando a gente se aproxima da massa popular arrogantemente, elitistamente, para salvar a massa inculta, incompetente, incapaz! Essa é uma postura absurda, até porque não é científica. Há uma sabedoria que se constitui na massa popular, pela prática.
Mas, existe também outro equívoco que chamamos basismo: ou você está na base, o dia todo, a noite toda, mora lá, morre lá ou não dá palpite nunca! Isso é conversa fiada, não dá certo! Esse negócio de superestimar a massa popular é um elitismo às avessas. Não há porque fazer isso. Tenho claro que sou intelectual de mão fina. A sociedade burguesa em que me constitui como intelectual não me poderia ter feito diferentemente. Ou a gente é humilde para aceitar uma verdade histórica que é o nosso limite histórico ou, nos suicidamos. E eu não vou me suicidar porque é dentro dessa contradição que me forjo como um novo tipo de intelectual. E tenho uma contribuição a dar a massa popular.
O fundamental é que minha contribuição só é válida, na medida em que sou capaz de partir do nível em que a massa está e, portanto, aprender com ela. Se não for assim, a contribuição de nada vale ou é muito pouca. Independente das técnicas, o que vale é o princípio: estar com o povo e não simplesmente para ele e jamais sobre ele. Isso é o que caracteriza a postura libertadora.
5. Assumir a ingenuidade do educando
Outro princípio fundamental é a capacidade de assumir a ingenuidade do educando, seja universitário ou popular. É comum a gente defrontar-se com ingenuidades, com perguntas que a gente não entende. E não entende porque quem faz a pergunta não consegue fazer. Imaginem que pedagogo seria eu, se ao ouvir uma pergunta mal formulada, desorganizada ou sem sentido, eu respondesse com ironia. Que direito teríamos nós de dizer que somos educadores que pensam em liberdade e respeito? Às vezes, é complicado. Tenho feito assim quando não consigo realmente entender a pergunta: vou repetir a pergunta; presta atenção pra ver se eu não estou distorcendo o espírito da tua pergunta; se eu distorcer, você me diz. Então, repito a pergunta reformulando de maneira mais clara como eu penso que entendi. Não raro as pessoas afirmam: era isso que eu queria perguntar, só que não estava sabendo. Imaginem se eu dissesse à pessoa não, você é um idiota! Com que autoridade? Que sabedoria tenho eu para fazer isso? Ao contrário, é preciso seguir o princípio absolutamente fundamental: ao assumir a posição ingênua do educando, vocêsupera essa posição com ele e não sobre ele.
	Se é fundamental assumir a ingenuidade do educando é absolutamente indispensável assumir a criticidade do educando diante da nossa ingenuidade de educador. Esse é o outro lado da medalha para o educador auto-suficiente. Para ele só o educando é ingênuo, o educador nunca é. No fundo, ingênuo é o educador porque a ingenuidade se caracteriza pela alienação de si mesmo ao outro. A alienação se faz pela transferência de si em alguém para o outro: eu não sou ingênuo, o outro é que é ingênuo. Transfiro para ele a minha ingenuidade. Só posso criticar, se eu também acredito que também sou ingênuo; porque não há nenhuma absolutização da ingenuidade, nem absolutização da criticidade. O educador que não faz esse jogo dialético, contraditório e dinâmico, não trabalha pela libertação.
Educação como ato político
Discutir esses princípios e posturas pedagógicas, tudo isso é política. A educação é tanto um ato político, quanto um ato político é educativo. Não é possível negar, de um lado, a politicidade da educação e, do outro, a educabilidade do ato político. Nesse sentido, todo partido é sempre educador. Tudo depende que educação é essa que esse partido faz, depende com quem ele está, a favor de que está o educador ou a educadora. Se educação é sempre um ato político e a(o) educadore(a)s são seres políticos, importa saber a favor de quem fazemos política, qual nossa opção.
Clareada nossa opção, a gente tem que ser coerente. Porque não adianta o discurso revolucionário com uma prática reacionária. Não adianta participar, uma semana, de um curso sobre metodologia popular e, em seguida, ir à favela salvar os favelados com a nossa ciência, em lugar de aprender com os favelados a ciência deles. Não é o discurso que diz se a prática é válida; é a pratica que diz se o discurso é válido ou não. Quem julga é sempre a prática, não o discurso. De nada adianta um lindo sermão seguido de uma prática reacionária. De nada adianta uma proposta revolucionária, se nossa prática é pequeno-burguesa.
O trabalho concreto exige capacitação em vários campos. Porém, o fundamental é a coerência com nossa opção política. Por causa dela corre-se risco. Educação libertadora ou é aventura permanente ou não é criadora. E não há criação sem risco; e o que temos a fazer é reinventar as coisas.
A marca do autoritarismo
Nós brasileiros temos que combater, em nós, a marca trágica do autoritarismo que vem dos primórdios do nosso nascimento. O Brasil foi inventado autoritariamente e autoritariamente continua. Não é de espantar que a abertura e a democracia se façam de forma autoritária.
Pe. Antônio Vieira, num belo sermão, durante a guerra contra os holandeses, dizia: em nenhum milagre Cristo gastou mais tempo, nem mais trabalho teve do que em curar o endemoniado mudo. E esta tem sido a grande enfermidade do nosso País: o silêncio ao qual o povo sempre foi submetido. O que Vieira não disse é que, neste País, quem tem sido mudo é a classe popular, as classes trabalhadoras. Não são mudas porque não fizeram nada. Elas têm feito sua rebelião constante. As lutas populares, neste País, têm sido grandiosas! Só que a historiografia oficial, primeiro esconde as lutas, quando conta distorce e, por fim, o poder autoritário faz tudo prá gente esquecer.
Os intelectuais desse País são autoritários, inclusive quando somos de esquerda. Nosso autoritarismo se transformou na nossa arrogância, na sabedoria que a gente fala, nas exigências de leitura que fazemos, no nosso comportamento durante os cursos e seminários. Cita uns 40 livros e manda o aluno ler uns 200 capítulos a mais do que os 40 livros.
Reaprender de novo
Se você pretende começar um trabalho com grupos populares, esqueça-se de quase tudo o que lhe ensinaram. Dispa-se, fique nu e comece a se vestir de povo. Esqueça-se da falsa sabedoria e comece a reaprender de novo. Aí é que a gente descobre a validade do que já se sabe – ao testar o que a gente sabe com o que o povo está sabendo.
Um grupo de jovens fazia uma experiência de alfabetização numa comunidade de favelados, durante a construção de um barraco. Depois sumiram. Quando reapareceram me disseram: Paulo, a coisa mais formidável que a gente tem pra contar é que, por mais que a gente tivesse lido você e conversado com você, a gente cometeu um erro tremendo. A gente tinha botado na cabeça que o povo queria ser alfabetizado. Como a gente falou que alfabetização era importante, o povo passou 6 meses com a gente, falando daquilo por causa da gente. Quando aumentou a intimidade o povo, dando risada, falou “nós nunca quisemos isso”! O grupo de jovens era um pessoal bacana. Tinha lido tudo meu, tinha discutido comigo um semestre. Eu também fui enrolado pela equipe. O povo queria outra coisa, mas a equipe tinha transferido ao povo a necessidade da alfabetização. Num País de 500 anos de dominação é fácil aceitar a insinuação de um intelectual sobre uma necessidade.
Pacientemente impaciente
O educador com a opção libertadora tem que viver pacientemente impaciente. Significa viver a relação entre a impaciência e a paciência. Não é possível viver só impaciente como muita gente, querer a revolução para amanhã. A impaciência se manifesta, por exemplo, na afirmação as massas já têm o poder, no Brasil: só falta o Governo. A impaciência mete na cabeça da gente um desenho da realidade que não existe. Só pode existir na cabeça de alguém fantasioso, não na realidade econômica, política e social do Brasil. A impaciência significa a ruptura com a paciência. Romper com um desses pólos é romper em favor de um deles.
NOTA: Esta reprodução adaptada tem como base a publicação PARA TRABALHAR COM O POVO editada pelo Centro de Capacitação da Juventude, Vila Alpina, Zona Leste de São Paulo, SP, 1983.
DE ONDE PROVÊM AS IDÉIAS CORRETAS?
Mao Tse Tung – Maio de 1963
De onde provêm as ideias corretas? Por acaso, caem do céu? Não. Serão, porventura, inatas dos cérebros? Não. Elas só podem se originar da prática social, de três tipos de prática social: a luta pela produção, a luta de classes e a experimentação científica da sociedade. 
A existência social das pessoas determina seu pensamento. Uma vez dominadas pelas massas, as ideias corretas que caracterizam a classe avançada, tornam-se uma força material capaz de transformar a sociedade e o mundo. Empenhados em diversas lutas, no decorrer da sua prática social, os humanos adquirem uma rica experiência, extraída tanto de seus êxitos como dos seus fracassos. 
Os inumeráveis fenômenos da realidade objetiva refletem-se no cérebro humano, por meio dos órgãos de seus cinco sentidos – visão, audição, olfato, paladar e tato. Assim se constitui, no início, o conhecimento sensorial. Quando esses dados sensoriais se acumulam suficientemente, produz-se um salto pelo qual eles se transformam em conhecimento racional, quer dizer, em ideias.
Este é um processo de conhecimento. Trata-se da primeira etapa do processo global do conhecimento, a etapa que vai da matéria objetiva ao espírito subjetivo, da existência às ideias. Nessa etapa, ainda não se comprova se a consciência e as ideias (incluindo teorias, política, planos, resoluções) refletem corretamente as leis da realidade objetiva – ainda não se pode determinar se tais ideias são corretas ou não.
Em seguida, se apresenta a segunda etapa do processo de conhecimento, etapa que conduz da consciência à matéria, do pensamento à existência. Isto significa aplicar, na prática social, o conhecimento obtido na primeira etapa, para ver se essas teorias, política, planos e resoluções... produzem ou não, os resultados esperados. De maneira geral, com relação a esse ponto, o que dá bom resultado é correto e o que fracassa é incorreto, especialmente quando se trata da luta entre a humanidade e a natureza.
Na luta social, as forças que representam a classe avançada, às vezes, sofrem algum fracasso. Mas não por terem ideias incorretas e sim porque na correlação das forças emluta, elas são menos poderosas, naquele momento do que as forças reacionárias. Por isso, fracassam temporariamente, porém, acabam por triunfar, mais cedo ou mais tarde.
Através da prova da prática o conhecimento humano dá um novo salto que é de um significado ainda maior que o anterior. Porque só esse salto permite provar se o primeiro é ou não acertado. Quer dizer, só ele permite assegurar se as ideias, teorias, política, planos, resoluções elaboradas durante o processo de reflexões sobre a realidade objetiva são corretos ou incorretos. Não há outro método para comprovar a verdade. Além disso, a única finalidade do proletariado ao conhecer o mundo, é transformar o próprio mundo. Não há outro objetivo além desse.
Frequentemente, para se chegar a um conhecimento correto torna-se necessário repetir muitas vezes o processo vai da matéria à consciência e da consciência á matéria, quer dizer, da prática ao conhecimento e do conhecimento à prática.
Esta é a teoria marxista do conhecimento; é a teoria materialista dialética do conhecimento. Muitos de nossos companheiros, ainda não compreendem essa teoria do conhecimento. Quando perguntados sobre a origem de suas ideias, opiniões, política, métodos, planos, conclusões, eloquentes discursos e extensos artigos, estranham a pergunta e não sabem respondê-la. Também não compreendem que a matéria possa transformar-se em consciência e a consciência em matéria, embora tais saltos sejam um fenômeno da vida de todos os dias.
Por isso, é preciso educar nossos companheiros, na teoria materialista dialética do conhecimento para que possam orientar corretamente seu pensamento, saibam pesquisar e estudar, e realizar a avaliação de suas experiências, superem as dificuldades, cometam menos erros, façam melhor o seu trabalho e lutem duro para transformar nosso País num grande e poderoso país socialista e ajudem as grandes massas de oprimidos e explorados do mundo, cumprindo assim o dever internacionalista que nos cabe.
O QUE É EDUCAÇÃO?
“Desde pequeno tive que interromper minha educação para entrar na escola” Bernard Shaw
A educação tem papel fundamental na organização da sociedade, podendo tanto ordená-la, quanto reformá-la ou, até, revolucioná-la. Assim, não há só uma forma, nem um único modelo de educação. A educação existe em cada povo e em povos que se encontram; em povos que submetem outros povos e usam a educação como um recurso de sua dominação e em povos que buscam a libertação e usam a educação como instrumento para livrar-se da dominação. 
A educação é um processo de tradução, reconstrução, reprodução e (re)criação do conhecimento. É verdade que só o conhecimento liberta, embora, de forma mais ou menos intencional, muita gente reduz o saber à escolarização, à erudição acadêmica, ao um arquivo de informações ou à mera assimilação e repetição de conceitos. O conhecimento é mais que a informação, palestra, curso ou leitura de um livro – quem diz que sabe, mas não sabe fazer, ainda não sabe. O conhecimento pressupõe informação, assimilação e aplicação prática dos conceitos. Quando colocado a serviço de uma estratégia, o saber pode tornar-se força material para transformar a natureza e a sociedade.
A educação é um Instrumento que torna comum o saber e a estratégia de um grupo. Toda educação tem uma intencionalidade, explícita ou implícita, pois todo conhecimento tem um objetivo, uma direção e uma finalidade. O conhecimento é conhecimento de algo ou de alguém, a partir de uma perspectiva. A intencionalidade dá a direção do conhecimento e a direção da ação decorrente deste conhecer. A educação está a serviço de uma ideologia como instrumento para consolidar uma estratégia de poder.
Adotar e discutir princípios e posturas pedagógicas é fazer política. A educação é um ato político, como um ato político é educativo. Numa sociedade de classes, não pode haver educação que seja a favor de todos – será sempre a favor de alguém e contra outrem. A educação serve para que uma pessoa se acomode ao mundo ou se envolva em sua transformação. A politicidade da educação questiona quem educa sobre a educação que se pratica na sociedade capitalista. Uma educação transformadora, só pode ficar contra quem se beneficia de uma situação de dominação e se coloca a favor de quem é prejudicado por ela. Ao ser conservadora, estará a favor dos grupos beneficiados com sua manutenção. 
Na educação domesticadora, tornar comum significa naturalizar a prática de impor - (In+signo+are) - de forma autoritária ou populista, diferentes pacotes que perpetuam a ordem dominante. As pessoas são ensinadas a introjetar e a reproduzir conteúdos e modelos que fortalecem a estrutura de opressão. Pode existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre o saber, como armas que reforçam a desigualdade entre as pessoas, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos símbolos.
Há muitos anos, governantes de dois estados americanos, após muitas guerras de extermínio, selaram um tratado de paz com os índios. Para celebrar o acontecido e, convencidos que a educação é tudo, as autoridades escreveram cartas aos nativos, oferecendo vagas para jovens índios, nas escolas dos brancos. Agradecendo e recusando a oferta eles responderam:
Estamos convencidos que os senhores desejam o bem para nós e agradecemos de coração. Mas, entendemos que diferentes povos têm ideias diferentes sobre as coisas. Esperamos que não fiquem ofendidos ao saber que vossa ideia de educação não é a mesma que a nossa.
Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas dos “civilizados” e aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando voltaram para nós, eram maus corredores, ignorantes na vida da floresta e incapazes de suportar o frio e a fome. Não sabiam como caçar o búfalo, matar o inimigo, construir uma cabana e falavam nossa língua muito mal.
Eram, portanto, totalmente inúteis. Não serviam como guerreiros, nem como caçadores ou como conselheiros. Agradecemos a oferta embora não possamos aceitá-la. Para mostrar nossa gratidão propomos aos nobres senhores que nos enviem alguns dos seus jovens. Nós lhe ensinaremos tudo o que sabemos e faremos deles, homens. (em “O que é educação” C. Brandão)
Na educação libertadora, tornar comum significa uma construção coletiva que busca incorporar as pessoas como protagonistas e estimula seu potencial silenciado e atrofiado para a construção de uma nova ordem, com pessoas novas. A educação libertadora, ao despertar a libertação de forças “naturalmente” adormecidas e socialmente reprimidas, inclui, ao mesmo tempo, a consciência e o mundo, a palavra e o poder, o conhecimento e a política, a teoria e a prática. A pedagogia participativa exige envolvimento corresponsável de quem entra no processo – o que eu ouço eu esqueço; o que eu vejo me lembro; o que eu faço aprendo (Confúcio)
A educação visa a incorporação de muita gente na defesa e sustentação de um projeto. É uma disputa de hegemonia onde uma classe busca exercer sobre outra um processo de direção política, no plano político, cultural e ideológico. A hegemonia da classe no poder se constrói e se recria, na vida cotidiana. Através dela se interioriza valores e se constrói sujeitos convencidos da excelência de uma alternativa de vida. Os processos educativos junto com a mídia e a escola garantem o grupo no poder ideologicamente hegemônico. 
A educação deve ser necessariamente crítica a qualquer tentativa de endoutrinamento ou dogmatismo que treina obedientes seguidistas. É, igualmente, contrária a toda ausência de princípios, ecletismo ou elogio oportunista a um falso saber popular. A repetição de fórmulas acabadas, de receitas transplantadas ou a aceitação do simples senso comum tem produzido imbecis disciplinados que afundam qualquer organização.
CEPIS – SP.
Estranhem o que não for estranho
Tomem por inexplicável o habitual
Sintam-se perplexos ante o quotidiano
Tratem de achar um remédio para o abuso
Masnão se esqueçam de que o abuso é sempre a regra.
A exceção e regra
Bertold Brecht
O QUE É EDUCAÇÃO POPULAR?
“Tudo muda quando as panelas estão cheias ou vazias de alimentos” Madre Cristina, Julho/85
A Educação Popular é uma prática político-pedagógica que assume diversos e contraditórios significados, conforme os interesses de grupos, em diferentes conjunturas. Já foi subversiva, perseguida por vários governos e não coube na academia. Para caber na academia, tentam despi-la da politicidade que trouxe de berço. Também já foi sinônimo de alfabetização de adultos ou entendida como dinâmicas de grupo usadas para produzir a euforia (ou a ilusão?) do participativo.
A Educação Popular foi aplicada em processos de alfabetização, com sucesso, porque o ato de ler (legere) foi bem mais que o ato de enletrar. Foi uma qualificação para captar o mundo e para escrever a vida da pessoa, como autora e testemunha de sua própria história. Quando utiliza dinâmicas de grupo, imagens e metáforas é uma forma de estimular o trabalho cooperativo, a participação das pessoas e facilitar a compreensão e assimilação dos conceitos que são abstratos.
As mudanças na Educação Popular são desejadas e necessárias para que ela continue significativa, em diferentes gerações e processos históricos. Mas, as mudanças sempre trazem a marca da disputa ideológica e a intenção de reforçá-la ou esvaziá-la enquanto instrumento que serve às classes subalternas, no seu processo histórico de emancipação. 
A Educação Popular é um processo coletivo de elaboração, tradução e socialização do conhecimento que capacita educadores e educandos a ler criticamente a realidade para transformá-la. A apropriação crítica dos fenômenos e suas raízes e permite o entendimento dos momentos e do processo da luta de classes e ajuda a quebrar toda forma de alienação e buscar a descoberta do real e sua superação.
Educação popular é uma experiência de aprender e ensinar que só pode interessar aos pobres: só o oprimido pode libertar-se e ao libertar-se, liberta também seu opressor. Popular significa, então, a opção por um dos pólos da luta de classes onde o povo que se mobiliza deve ser parte. Ele já tem um saber, ainda que parcial e fragmentado, mas precisa refletir sobre o que sabe (não sabe que sabe) e incorporar o acúmulo teórico da prática social. A Educação Popular é um instrumento que desperta, qualifica e reforça o potencial popular em sua luta para romper a lógica do capital e construir uma alternativa solidária.
“quem quiser fazer só pedagogia, só metodologia, sem esta visão política, acaba fazendo uma contra-educação popular”- Madre Cristina, Julho/85
Não existe Educação Popular fora dos processos de luta popular. O trabalho educativo, junto a um movimento, ajuda concretizar suas convicções, princípios e propostas, em cada conjuntura. Seu objetivo permanente é:
Contribuir na tradução, divulgação e recriação do conhecimento como força material para transformar a realidade: entender, assimilar e aplicar;
Ajudar a construir, divulgar, tornar comum e acompanhar a estratégia da organização popular como resposta aos desafios de sua prática cotidiana e histórica.
Qualificar quadros militantes que se dispõem a transformar, pela raiz, a estrutura do sistema capitalista, no nível político, econômico, ideológico e cultural...
Ajudar a elevar o nível de consciência da classe oprimida e incorporar o povo como protagonista.
Facilitar o entendimento e aplicação do conteúdo e da metodologia popular, comprometendo as pessoas com a multiplicação criativa.
A Educação Popular leva em conta os diversos níveis de consciência, mas não pode ser ingênua e confundir princípio com método. Assim, a defesa intransigente da igualdade entre os humanos, sem superiores ou inferiores, não pode desconhecer as diferenças produzidas pela carga genética, o ambiente cultural, oportunidades históricas, esforço pessoal... 
Mesmo sem critérios exatos para demarcar limites pelo menos, quatro níveis de formação: a) a de base - com temas que se referem à identidade, à integração na vida, o ânimo para a luta, os valores... b) a de militantes – o esforço de reconstruir os conceitos enquanto acúmulo da prática social, categoria de análise... c) a de dirigentes – que exercita a capacidade de análise, a elaboração estratégica, a habilidade na condução política... d) a de formadores – que, junto com os conteúdos, inclui o domínio da habilidade pedagógica...
	A pedagogia popular é participativa: nem para, nem sobre, mas com as partes envolvidas. Busca superar qualquer forma de enquadramento e endoutrinamento. Exige o envolvimento corresponsável de todos os atores, no decorrer do processo. O pacote, independente do conteúdo, é algo estranho porque imposto. 
	A metodologia popular se constrói sobre a prática dos participantes, problematizando seu saber, questionando a percepção que eles têm da ação que realizam. Requer o envolvimento integral - corpo, mente e sentimentos que se traduz em forma de participação ativa, disciplina consciente e iniciativa individual criativa.
	O processo metodológico se realiza pela interação de quatro balizas básicas:
O querer dos educadores - O educador é um dos pólos do diálogo - com seu querer, sonhos, opções, limites e o conhecimento da prática social que carrega (teoria). Muitas vezes, é ele quem toma a iniciativa do processo. Não é o guia genial que faz a cabeça, presente no discurso autoritário e vanguardista, nem o acessório presente no discurso autoritário e basista. Sua tarefa específica é educar (ex- ducere), assessorar (facilitar o acesso à), ajudar a entender os conceitos, como condição para desmontá-los e recriá-los. Se a realidade influencia o olhar do educador, o mundo é contemplado a partir do que ele acredita.
A necessidade dos trabalhadores - O educando é o outro pólo do diálogo com suas necessidades, anseios, fantasias, limites, saberes, origens, valores, experiências, ritmos, subjetividade... Não é só vítima é também potencial. Não é um ignorante, depósito, cliente, plateia, aluno, objeto de manipulação; nem o sabe-tudo do discurso basista - o povo sabe o que quer, mas, às vezes, quer o que não sabe. Suas demandas aparecem como reivindicação ditada pelo cotidiano.
O contexto onde se dá o processo - A formação acontece com pessoas situadas – estão mergulhadas numa teia de relações econômicas, sociais históricas, culturais, interpessoais, políticas. O diálogo educativo se realiza em um contexto estrutural e conjuntural conflitivo que facilita e desafia. A vontade joga um papel, mas precisa considerar as condições objetivas. Alem disso, só agir dentro do possível, pedindo licença e sem ousadia, não leva à ruptura da ordem.
A postura e a prática do intercâmbio - É a relação de troca entre pessoas que têm a mesma causa. As partes envolvidas são protagonistas, mesmo exercendo papéis específicos de parturiente e/ou parteira, sem utilitarismo. Existe uma intensa interação e tensão de todos com todos, com mútua influência: educadores, educandos e contexto no esforço de superar o voluntarismo, o possibilismo e o basismo.
O método
O método é o caminho que se percorre, que já foi percorrido e que se pode percorrer para realizar um objetivo. Esse jeito, forma, maneira, caminho se traduz em uma postura (humilde ou arrogante) e a realização de dinâmicas com o uso de recursos pedagógicos para despertar e promover a reflexão e a cooperação. 
O método popular tem princípios ou convicções que são seu ponto de partida: a) Toda pessoa é capaz; b) Só que é oprimido, como indivíduo e como classe, pode ter interesse na libertação; c) só quem está no trabalho produtivo tem condições efetivas de fazer as transformações radicais; d) só quem se dispõe a um processo deve incorporado no processo.
O ponto de chegada do método popular é: a) animar e apaixonar porque resgata o elemento da identidade e dignidade (autoestima): as pessoas se tornam protagonistas, capazes deandar com seus próprios pés; b) mobilizar porque rompe com a situação de dormência, fatalismo e a sensação de impotência gerada pela dominação; c) aumentar o grau de consciência; d) qualificar, política e tecnicamente a militância para o Trabalho de Base - atuação na realidade, experimentação permanente e apropriação dos conteúdos e do método; e) levar militantes e educadores à multiplicação criativa e ousada – assumem-se como parte comprometida com a massividade; f) canalizar as legítimas resistências de emancipação para um Projeto Popular sem o paradigma da desigualdade. Sabe a inclusão capitalista é uma lógica insustentável, onde não há lugar para os oprimidos.
A mística da Educação Popular
Educação popular é um ato de amor que contribui no despertar da consciência e desafia seus participantes a assumir, como protagonistas, seu destino, individual e coletivo. Esse ato amoroso se manifesta na entrega solidária, na recordação da memória subversiva e no empenho para que as pessoas se desenvolvam, como gente e como povo. Nessa missão, a militância cultiva valores que se expressam no seu jeito de pensar, agir e sentir, expressas no amor pelo povo, companheirismo, espírito de superação, humildade, sacrifico e na pedagogia do exemplo.
CEPIS – SP.
EDUCAÇÃO POPULAR E PODER POPULAR
“Quem trabalha e mata a fome, não come o pão de ninguém. Quem não ganha o pão que come, come sempre o pão de alguém” 
Antônio F. Aleixo (1899-1949), repentista português.
A educação popular é um processo que visa contribuir para que os trabalhadores se tornem protagonistas da sua ação política; processo fundamental que se desenvolve na prática de luta e organização dos trabalhadores. 
A necessidade concreta e a possibilidade de ter conquistas e o esforço para não perder direitos, levam a classe trabalhadora a mobilizar-se. Nesse movimento começa a vislumbrar a raiz da exploração e a sentir a necessidade de participar e de assumir-se como protagonista. 
É preciso lutar pelo poder com garra e coragem...
A vontade, o entusiasmo, a coragem e a garra para lutar são qualidades imprescindíveis a todo militante, sem as quais não se é revolucionário. Mas, não são suficientes. É preciso ser científico, não no sentido do intelectual distante da prática transformadora, mas, ao contrário, fazer revolução cientificamente. Por isso, todo militante deve conhecer e assimilar as leis mais gerais do desenvolvimento social e as categorias de análise que utiliza o materialismo histórico e dialético, sem os quais não podemos conhecer a realidade em que vivemos, nem apontar cientificamente sua transformação. 
Sem a caracterização objetiva da realidade social, com as forças e contradições internas que lhe dão movimento, não poderemos construir e consolidar as ferramentas de luta e traçar políticas adequadas a cada situação. 
Nesse sentido, é tarefa da educação popular orientar a formação ideológica e política dos trabalhadores, que possibilite dotá-los dos elementos fundamentais para a prática da atividade política. É necessário desenvolver a capacidade de teorizar sobre a prática social e conhecer em linhas gerais o desenvolvimento da humanidade, para captar a ideia do crescente domínio do homem sobre a natureza, do progresso, do avanço incessante das forças produtivas e da luta de classes como motor da história.
A análise do funcionamento do capitalismo, a história da luta de classes no Brasil e no mundo, o papel da organização da classe trabalhadora no processo de transformação social, as experiências de luta e organização, o estudo dos processos revolucionários na história e na atualidade, a análise permanente da conjuntura, e uma visão crítica da realidade são alguns aspectos importantes na formação do militante e dirigente. 
Mas, a formação política não se dá somente com o estudo, mas fundamentalmente com a prática, a crítica e a autocrítica, a permanente inter-relação entre teoria e prática. Por isso não pode ser um estudo formal, acadêmico; se assim for não adianta nada. É um processo permanente e contínuo na vida do militante.
Deve estar presente na preocupação do educador e do educando, na direção das organizações dos trabalhadores e em cada um de seus militantes, não só no que se refere à sua própria formação, mas buscando expandi-la a todos os participantes, considerando o nível de conhecimento e as tarefas que cada um deve realizar.
Deve significar, em cada um, uma mudança qualitativa na visão do mundo e na prática cotidiana: na família, no trabalho, na disciplina, na solidariedade, nas relações entre os gêneros, contra a discriminação, na luta. Como disse Agostinho Neto� “Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”. 
A educação que recebemos nas instituições capitalistas se orienta pela ideologia e pela lógica capitalista, fundamentada na competição, no individualismo, na discriminação, na dominação, na exploração e na opressão.
A educação popular se refere ao trabalhador na sua totalidade e na sua relação humana e social: no trabalho, na família, nas relações de gênero, na luta... 
Mas as mudanças não são automáticas na conduta da gente; elas se dão como resultado de acúmulos quantitativos. Não acontecem também em todas as esferas da nossa vida ao mesmo tempo, nem de uma vez para sempre. Daí a necessidade permanente de avaliação na formação, como um processo de fortalecimento político-ideológico, para corrigir erros e caminhos.
A formação dos trabalhadores só tem sentido se estiver ligada à luta incessante contra a sociedade baseada na exploração. Se não encararmos dialeticamente os problemas da prática política dos trabalhadores, podemos cair no desvio de fazer formação como se fosse uma receita, com enunciados teóricos que não servem para resolver os caminhos concretos de modificação da realidade; de ficar apenas nos detalhes estudando cada caso isolado sem poder aplicar o geral em cada caso particular e de não articular a ação política com o processo organizativo.
Formação está intrinsecamente ligada com organização. São partes do mesmo processo. Sem formação a organização não se consolida; sem organização a formação não encontra espaço para a ação. A teoria deve se ligar à prática dos trabalhadores orientando-os nas suas tarefas concretas. É necessário que o educador analise com os movimentos sociais como se podem expressar no concreto as orientações gerais.
Se nas suas lutas específicas os trabalhadores conseguem conquistar seus objetivos, devemos entender e ajudá-los a entender que foi uma experiência setorizada de poder. Se não conseguem totalmente, mas avançam no nível da organização e da consciência das possibilidades e limitações e da correlação de forças, devemos entender e ajudá-los a entender que foi uma experiência de luta setorizada pelo poder. 
Educação Popular não é neutra; sempre tem uma intencionalidade. Na concepção do CEPIS ela deve estar comprometida como a causa popular, com um papel específico, e deve ser dirigida para a realização do projeto político de tomada do poder pela classe trabalhadora e construção do socialismo. Negar isso é afastar os trabalhadores do seu objetivo histórico. É necessário que as ações políticas das classes populares se orientem em direção da conquista do poder de Estado, da democracia popular, do socialismo, da formação do homem novo.
Na prática educativa e da luta popular vamos descobrindo o caminho concreto para a construção de uma sociedade socialista, evitando prejuízos e falsas expectativas, organizando-nos para a luta e somando forças ao mesmo tempo em que avançamos. 
E essa, embora não seja uma tarefa simples, é uma tarefa necessária, que não pode ser monopolizada, mas efetuada por todos aqueles e aquelas que realmente acreditam no protagonismo da classe trabalhadora e na sua força social como construtora da sociedade socialista.
É preciso lutar pelo poder com garra, coragem e: estratégias, táticas, organização, alianças,estudo...
CEPIS – SP.
EDUCAR AS MASSAS
Citações extraídas e adaptadas do “Livro Vermelho” de Mao TseTung
Nunca dissimulamos nossas aspirações políticas. Está bem definido, não cabe a menor dúvida que nosso programa de futuro, o programa máximo é fazer nosso País avançar para o Socialismo. Nossa organização e concepção marxista do mundo apontam inequivocamente, para esse ideal supremo. O objetivo último é a instauração da sociedade socialista. Não possuir um ponto de vista político correto é como não ter alma...
Além da direção do partido há um fator decisivo: a quantidade da população. Quantidade significa maior fermento de ideias, maior entusiasmo e energia. Devemos confiar nas massas e confiar no partido. Esses são dois princípios fundamentais. Se duvidarmos deles, nada podemos fazer.
O povo, e só o povo, constitui a força motriz na criação da história universal. As massas são os verdadeiros heróis; sem compreender isso é impossível adquirir até mesmo os elementos mais básicos. Há que ajudar cada camarada a compreender que enquanto estivermos apoiados no povo, e acreditarmos no inesgotável poder criador das massas populares, quer dizer confiar no povo e nos identificar com ele, poderemos vencer as dificuldades e nenhum inimigo poderá nos esmagar..
As massas dispõem de um poder ilimitado. Elas podem organizar-se e marchar para todos os lugares e setores de trabalho onde possam dar livre curso à sua energia. Elas podem se orientar para a produção, em profundidade e extensão, e criar para si próprias um número crescente de obras de bem estar.
As massas têm um entusiasmo potencial inesgotável pelo socialismo. Só uma pessoa que não sabe mais que seguir a velha rotina é incapaz de perceber tal entusiasmo; quem segue a velha rotina sempre subestima o entusiasmo popular. As massas podem se levantar como poderoso furacão, tempestade ou força vertiginosa e violenta que nenhum poder poderá deter.
Quebrarão todas as cadeias e amarras e se lançarão pelo caminho da libertação - sepultarão os imperialistas, caudilhos militares, funcionários corruptos, déspotas locais... Todos os partidos revolucionários e todos os camaradas revolucionários serão postos à prova pelas massas. 
A revolução deve apoiar-se nas massas populares, contar com a participação de muita gente. É preciso combater a simples confiança num punhado de indivíduos que ditam ordens... que trabalham num frio e quieto isolamento. Tais “dirigentes” resistem em dar explicações aos dirigidos e não sabem como dar livre curso à iniciativa e a energia criadora das massas. 
A razão porque o dogmatismo, empirismo, autoritarismo, seguidismo, sectarismo, burocratismo e arrogância no trabalho popular são nocivos e intoleráveis, está no fato de que esses males afastam a militância das massas. O autoritarismo é errôneo porque ultrapassa o nível de consciência política das massas e viola o princípio da ação voluntária das massas. O autoritarismo manifesta o mal chamado precipitação.
A militância não pode pensar que tudo o que ela compreende está também compreendida pelas massas. Só penetrando no seio das massas e fazendo investigações é que se pode descobrir se elas compreendem ou não um assunto e se estão ou não dispostas a passar à ação. Fazendo assim é possível evitar o autoritarismo.
O seguidismo (basismo) é igualmente errôneo porque se mantém abaixo do nível de consciência política das massas e viola o princípio de dirigi-las no seu avanço. O seguidismo manifesta o mal chamado lentidão. A militância não deve pensar que as massas não compreendem aquilo que eles próprios não compreenderam.
Muitas vezes, as massas nos ultrapassam e estão ansiosas para avançar um passo, enquanto os camaradas são incapazes de atuar como seus dirigentes. Refletem a opinião de elementos atrasados, tomam tais opiniões como se fosse a opinião das grandes massas e põem-se assim a reboque desses elementos atrasados. É o oportunismo de esquerda.
A militância deve usar o método democrático de persuasão e educação na sua atividade com a classe trabalhadora. É inadmissível adotar a atitude autoritária ou os meios de coerção. O resultado da coerção é submeter sem convencer; isso só serve em relação ao inimigo. Ninguém deve seguir cegamente os outros ou encorajar a obediência servil. Além disso, devemos compreender que a educação ideológica é um trabalho de longo prazo, paciente e minucioso. Não se pode achar que com tantas conferências ou reuniões se pode mudar uma ideologia construída. 
Para ligar-se às massas importa agir de acordo com as necessidades e aspirações das massas. Todo trabalho com as massas deve partir de suas necessidades, e não da vontade de qualquer indivíduo, ainda que bem intencionado. Acontece, às vezes, que objetivamente as massas precisam de certas mudanças, mas subjetivamente ainda não estão conscientes dessa necessidade, não a desejam ou ainda não estão determinadas a realizá-la. Nesse caso, devemos esperar pacientemente.
Devemos seguir dois princípios: a) a necessidade real das massas e não o que imaginamos que sejam suas necessidades; b) o desejo livremente expresso pelas massas e as decisões que tomam por si próprias e não as decisões que tomamos em seu lugar.
A militância deve fazer com que as massas compreendam que ela representa seus interesses e respira o mesmo ar que elas. Deve ajudar para que, partindo dessas realidades, cheguem à compreensão das tarefas mais elevadas como as tarefas revolucionárias. Assim vão apoiar a revolução, ajudar a ampliá-la por todo o país, responder aos apelos políticos e lutar, até o fim, pela vitória da revolução.
Em vez de colocar-se acima delas, a militância deve penetrar profundamente no seio das massas, despertá-las, contribuir para elevar sua consciência política, de acordo com seu nível atual. Seu dever é de, passo a passo, e seguindo o princípio da voluntariedade, ajudá-las a organizar-se e a travar todos os combates essenciais permitidos pelas circunstâncias internas e externas, de cada momento e lugar.
Passar à ofensiva quando as massas ainda não estão despertadas, seria aventureirismo. Se insistíssemos em levar as massas a fazer alguma coisa contra a sua vontade, o resultado seria, seria inevitavelmente, o fracasso. Por outro lado, se não avançamos quando as massas pedem que se avance, isso seria oportunismo de direita.
No trabalho prático, a direção correta é das massas para as massas que significa: a) recolher as ideias das massas (dispersas, não sistemáticas); b) concentrá-las (pelo estudo, transformá-las em ideias sintetizadas e sistematizadas); c) voltar às massas para propagar e explicar essas ideias, de tal modo que as massas assumam como suas, persistam nelas e as traduzam em ação; d) verificar a justeza dessas ideias no decorrer da ação das massas.
Depois é preciso voltar a concentrar as ideias das massas e levá-las, outra vez, às massas para que estas persistam nessas ideias e as apliquem firmemente. Repetindo, indefinidamente, esse processo, as ideias vão se tornando cada vez mais corretas, vivas e ricas. Essa é a teoria Marxista do conhecimento
Repetindo: nossa atarefa é recolher as ideias das massas, concentrá-las e levá-las, sempre de novo, às massas para que estas as apliquem firmemente. Assim se chega a elaborar as ideias justas de direção. Tal é o método fundamental de direção. Isso exige ir para o meio das massas, aprender com elas, sintetizar suas experiências e tirar dessas experiências princípios e métodos ainda melhores e sistemáticos. Depois, é preciso explicá-los às massas (fazer a propaganda) e chamá-las a por em prática para resolver seus problemas e alcançar a libertação e a felicidade.
Por mais ativo que seja o grupo dirigente, sua atividade se reduzirá a um esforço infrutífero de grupinho, se não for combinada com a atividade das grandes massas. Mas, se apenas as grandes massas são ativas e não há um forte grupo dirigente que organize essa atividade, ela não se manterá por muito tempo, nãovai avançar na justa direção, nem atingir um nível mais elevado.
O espírito de abnegação e devoção pelo povo nasce do sentido da responsabilidade da tarefa e do ilimitado afeto pelos camaradas e o povo. 
É preciso eliminar a ideia existente em muitos quadros de que é possível conquistar vitórias fáceis graças a acasos felizes, sem luta dura, sem suor sem sangue.
Onde há luta, há sacrifício e a morte é coisa frequente. Como temos em mente os interesses e os sofrimentos da maioria do povo, sacrificar-se por ele é dar a nossa entrega toda a significação. Mas, é preciso evitar os sacrifícios desnecessários.
 A LUTA SINDICAL
(Extratos do “Que Fazer” de Lênin – 1902, para uso didático)
A luta espontânea é uma forma embrionária do consciente. A revolta já traduz um certo despertar da consciência porque os operários perdem sua crença costumeira na perenidade do regime que os oprime; começam não a compreender, mas a sentir a necessidade de uma resistência coletiva e rompem deliberadamente com a submissão servil às autoridades. É mais manifestação de desespero e de vingança que de luta. Certas greves mostram lampejos de consciência: formulam reivindicações precisas, procuram prever o momento favorável, discutem exemplos de outras localidades. Se os tumultos são a revolta dos oprimidos, a greve sistemática é o embrião, mas nada além do embrião da luta de classe.
A greve, em si, constitui uma luta sindical, não luta socialista; marca o despertar do antagonismo entre operários e patrões. Mas, os operários não têm consciência da oposição irredutível de seus interesses com toda a ordem política e social existente, não podem ter a consciência socialista. A greve é um movimento essencialmente espontâneo. A consciência só pode chegar até eles, a partir de fora. Pelas próprias forças, a classe operária só chega à consciência sindical, à convicção de que é preciso unir-se em sindicatos, conduzir a luta contra os patrões, exigir do governo leis necessárias aos operários. Já o socialismo nasce das teorias filosóficas, históricas, econômicas elaboradas por gente instruída das classes proprietárias, pelos intelectuais.
A espontaneidade leva os operários a pensar que “aumento de um centavo por real vale mais que todo socialismo e toda política” e que devem lutar “sabendo que o fazem, não por remotas gerações futuras, mas por eles próprios e por seus filhos”. Frases como essas sempre foram a arma preferida dos burgueses que incentivam o sindicalismo dizendo aos operários que “a luta puramente sindical é uma luta por eles próprios e por seus filhos e não por remotas gerações futuras com vistas a um incerto socialismo futuro” O desenvolvimento espontâneo do movimento operário resulta na subordinação à ideologia burguesa, pois, o movimento espontâneo é o sindicalismo. O sindicalismo é a escravidão ideológica dos operários pela burguesia. A tarefa socialista é combater a espontaneidade - desviando o movimento operário da tendência espontânea que apresenta o sindicalismo para refugiar-se sob as asas da burguesia e atraí-lo para o socialismo. O capitalismo impele necessariamente os operários à autodefesa e a denúncia de condições de trabalho, em algum ramo de trabalho e pode levar ao despertar da consciência de classe e à difusão do socialismo.
A maioria da militância foi quase absorvida pela organização das denúncias de fábrica. Tal absorção esquece que essa atividade não é, em si, socialista, mas apenas sindical. As denúncias referem-se só às relações dos operários de uma categoria profissional com seus patrões. Seu único resultado é o de ensinar a quem vende sua força de trabalho, a vender esta mercadoria de forma mais vantajosa e a lutar contra o comprador em uma transação puramente comercial. As denúncias, se bem utilizadas pelos socialistas, podem servir de ponto de partida e de elemento constitutivo da ação socialista. Se ficam só na luta espontânea não passam da luta corporativa, de um movimento operário não socialista.
A organização socialista dirige a luta da classe operária, não apenas para obter condições vantajosas na venda da força de trabalho, mas pela abolição da ordem social que obriga os não possuidores a se venderem aos ricos. Ela representa a classe operária em suas relações não só com um determinado grupo de empregadores, mas com todas as classes da sociedade contemporânea, com o Estado como força política organizada. Por isso, os socialistas não podem limitar-se à luta econômica e não podem admitir que a organização das denúncias econômicas constitua sua atividade mais definida. Devem empreender ativamente a educação política da classe operária, trabalhar para desenvolver sua consciência política.
A luta econômica é a luta coletiva dos operários contra os patrões para vender vantajosamente sua força de trabalho, melhorar suas condições de trabalho e de existência. É a luta de uma categoria profissional e conduzidas pelos sindicatos para conseguir as mesmas reivindicações profissionais, melhorar as condições de trabalho em cada profissão através de “medidas legislativas e administrativas”. É o que fazem e sempre fizeram os sindicatos operários. Há tempo, os sindicatos operários compreenderam e realizam a tarefa de lutar pela liberdade das greves, supressão dos obstáculos jurídicos de todo gênero, promulgação de leis para a proteção da mulher e da criança, melhoria das condições do trabalho através de uma legislação sanitária, industrial, etc.
Economicistas e radicais verbais inclinam-se perante a tendência espontânea: os economistas diante da espontaneidade do movimento operário “puro”; os “radicais” diante da espontaneidade da indignação dos intelectuais que não sabem conjugar o trabalho revolucionário e o movimento operário. É difícil para quem perdeu a fé nessa possibilidade, ou que nela jamais acreditaram, encontrar outra saída para sua indignação e energia transformadora que não o terrorismo. Assim, nas duas tendências o culto da espontaneidade é apenas o começo da realização da famosa afirmação: os operários conduzem sua luta econômica contra os patrões e o governo e os intelectuais, a luta política através de suas próprias forças.
A consciência política de classe vem do exterior, do exterior da luta econômica, do exterior da esfera das relações entre operários e patrões. O domínio onde se pode extrair tais conhecimentos é o das relações de todas as classes e categorias da população com o Estado e o governo, das relações de todas as classes entre si. Levar aos operários os conhecimentos políticos não pode significar apenas em ir até os operários com o que se contentam, em geral, os “práticos” quem se inclina para o “economicismo”: Para levar aos operários os conhecimentos políticos, os socialistas devem ir a todas as classes da população e enviar, em todas as direções, militantes de seu exército como teóricos, propagandistas, agitadores e organizadores.
A luta política do socialismo é maior e mais complexa que a luta econômica dos operários contra os patrões e o governo. Assim, a organização socialista deve ser diferente da organização dos operários para a luta econômica. A organização operária é por categoria profissional; a maior possível; a menos clandestina possível. Já a organização dos socialistas deve englobar pessoas cuja profissão é a ação revolucionária. Diante dessa característica, comum aos membros de tal organização, desaparece toda distinção entre operários e intelectuais e entre as diversas profissões de uns e de outros. Essa organização não deve ser muito extensa e é preciso que seja a mais reservada possível. 
Falar da emancipação política da classe operária, da luta contra a arbitrariedade patronal e ficar apegado ao legalismo, é não compreender nada das verdadeiras tarefas políticas do socialismo. Nenhum parágrafo de um estatuto revela a compreensão da necessidade de se fazer, na massa, uma agitação política, esclarecendo todos os aspectos da dominação. Com tais estatutos, nem os fins políticos,nem os fins sindicais do movimento podem ser atingidos, porque exigem uma organização por categoria profissional. Comprimido no estreito horizonte do economicismo o pensamento perde-se em detalhes que exalam um forte odor de papelada e burocracia.
É dever dos socialistas ajudar todo operário que se faz notar por suas capacidades, a se tornar agitador, organizador, propagandista, divulgador profissional. Nesse ponto, se desperdiça forças se não se toma a peito, a questão de colocar todo operário capaz em condições que lhe permitam desenvolver e aplicar suas aptidões; é preciso torná-lo um agitador profissional, encorajá-lo a alargar seu campo de ação, a estendê-lo de uma única fábrica a toda a categoria, de uma única localidade a todo o país. Assim, vai adquirir experiência e habilidade em sua profissão; vai ampliar seu horizonte e seus conhecimentos; vai observar de perto dirigentes políticos de outras localidades e outros partidos; vai esforçar-se por elevar a si próprio ao nível de tais dirigentes e vai aliar o conhecimento do meio operário e o ardor da fé socialista à sua competência profissional, sem a qual o proletariado não pode empreender a luta tenaz contra um inimigo bem preparado.
Cinco Pequenos comentários (CEPIS)
Para garantir as conquistas econômicas e históricas, o sindicato precisa aperfeiçoar seu atual estágio de organização. A prática social fala da necessária implantação - teórica e prática - de uma concepção de luta e organização que dê consistência política e ideológica ao movimento. É isso que capacita um movimento a fazer a luta econômica, resistir a opressão e contribuir na conquista do poder e construção de uma alternativa ao capitalismo.
Esta concepção de luta política defende que quanto mais povo organizado, mais poder. A experiência das administrações populares reforça a convicção de que o poder não está no voto, no governo... mas, no povo consciente, organizado, participante e mobilizado. É a reafirmação de que é a massa que conquista o poder quando dirigida, politicamente, por quem seja capaz de mobilizá-la do ponto de vista orgânico, ideológico e libertador.
A concepção reformista expressa uma visão equivocada: a) ao iludir-se que, de ganho em ganho econômico, a massa vai conseguir a transformação estrutural; b) na postura basista de seus dirigentes distantes da massa que insistem em dirigir a base pela demagogia ou radicalidade verbal; c) na aposta de que a massa, por si só, vai tomar consciência; d) na prática artesanal e voluntarista da militância que não se prepara nem estuda para o enfrentamento com o capital; d) na mistura de níveis, de compromisso e consciência, na hora escolher pessoas para realizar as atividades.
A experiência da classe oprimida ensina: a) que a luta sindical, econômica, por si, não vai além do reformismo; b) que só a luta política, feita por uma organização de quadros selecionados, é capaz de canalizar o embrião da luta econômica para a transformação social; c) que um partido, desconectado da massa, necessita deslocar militantes estranhos para dirigir o movimento popular; d) que só um partido de novo tipo, inserido nos processos de luta, propõe ou estimula a criação de movimentos autônomos onde suas orientações são acolhidas e se tornam decisões da sociedade.
Essa concepção pressupõe uma organização capaz de encaminhar a pauta imediata, concreta, setorial e específica da luta econômica para garantir a sobrevivência. Mas, essa estrutura de massa deve estar ligada a uma organização de quadros, reconhecida, que realize a educação política do movimento e o dirija politicamente. O desafio é construir um movimento que contenha, simultaneamente, uma estrutura de massa e uma estrutura de quadros. Isso só é possível quando se elabora uma estratégia.
 EDUCAÇÃO POPULAR E LIBERDADE DE CRÍTICA
“A luta interna dá força e vitalidade ao partido. A melhor prova da fraqueza de um partido é sua posição difusa e a extinção de fronteiras nitidamente traçadas: o partido reforça-se, depurando-se” Carta de Lasalle a Marx, 24/06/1852
Liberdade de Crítica
Todo processo de formação deve superar o endoutrinamento e o dogmatismo. Sem visão crítica, não pode existir conhecimento da realidade. Criticar é, portanto, um dever. Uma organização de imbecis disciplinados só pode afundar porque uma transformação não se faz com robôs, nem com a aplicação de fórmulas acabadas.
O Marxismo como análise concreta da realidade concreta necessita de aggiornamento constante para acompanhar o dinamismo das mudanças e incorporar os novos questionamentos e dimensões do real. Isto não deveria afetar sua função de ideologia do socialismo, instrumento de análise da realidade e ferramenta popular eficaz, na supressão da dominação de classe. 
Hoje, porém, de forma consciente, parece haver “algo escondido” na pós-moderna defesa da liberdade de crítica e no ataque orquestrado ao dogmatismo, realizado inclusive por gente que se diz de esquerda. Uma causa que é em si justa – combate à fossilização da teoria - mascara a divulgação, claramente ideológica e reacionária, de manutenção da ordem dominante.
Com um discurso produzido na academia, relativista e culturalista, atraente e politicamente correta, os novos intelectuais buscam inocular, nas gerações pós-modernas, pseudo-teorias. Pregam o fim da história, a abolição da luta de classe, a porosidade do poder do Estado, a radicalização da democracia, a mudança gradual pela via parlamentar...
A queda do Muro de Berlim foi uma grande oportunidade para uma ofensiva burguesa para demonstrar o atraso da proposta socialista. Nem mesmo a queda do Muro neoliberal de Wallstreet, em 2008, a obriga reconhecer a nulidade de suas afirmações. Já na esquerda, historicamente, essa prática, demagógica e oportunista, de revisar o marxismo, foi usada para justificar a posição reformista de quem sempre foi contra a ruptura. 
..."Liberdade de crítica" é a palavra de ordem mais em voga e a que mais aparece nas discussões entre socialistas e democratas... Em que consiste a nova tendência que “critica” o “velho” marxismo “dogmático”?... Para quem não fecha os olhos, deliberadamente, não pode deixar de ver que a nova tendência "crítica" no socialismo nada mais é que uma nova variedade do oportunismo. 
..."A liberdade de crítica" é a liberdade da tendência oportunista na esquerda, a liberdade de transformar-se em um partido democrático de reformas, a liberdade de implantar no socialismo as ideias burguesas...
...A exigência de uma mudança decisiva - da social-democracia revolucionária para o reformismo social burguês - foi acompanhada de reviravolta não menos decisiva em direção à crítica burguesa de todas as idéias fundamentais do marxismo... 
...Os "ex-marxistas" que se agruparam sob o signo da liberdade crítica e obtiveram o monopólio da execução do marxismo, aí se entrincheiraram. Os slogans, “contra a ortodoxia” e “viva a liberdade de crítica” logo se tornaram palavras da moda. 
...As grandes frases contra a fossilização do pensamento dissimulam o desinteresse e a impotência para fazer progredir o pensamento teórico. A famosa liberdade de crítica não significa a substituição de uma teoria por outra, mas a liberdade relativa a todo sistema coerente e refletido; significa ecletismo e ausência de princípios...
...Aos socialistas impunha-se, então, a tarefa de combater a nova corrente...
Adaptado de Lênin, Que Fazer? Fevereiro de 1902
“Ninguém cai pro lado que escorrega” 
Prov. chinês
Na experiência do Socialismo Real, foram produzidos manuais com respostas eternas, ensinou-se uma ortodoxia descontextualizada, utilizou-se práticas condutivistas, cultuou-se guias geniais, admitiu-se a atitude passiva dos seguidistas, traduziu-se a ideia de autoridade como autoritarismo burocrático, promoveu-se a profissão de fé em princípios idealistas... Essa constatação, no entanto, não justifica a ácida reação que certa educação popular faz a desvios

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