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8º ano Estudos Amazônicos

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Estudos Amazônicos 8º ano 
1 | P á g i n a 
 
 
O ciclo da borracha na Amazônia 
 
“A ambição que gerou a conquista, a conquista que gerou o extrativismo onde os caudilhos fixaram 
suas leis homicidas, o extrativismo que gerou a súbitas fortunas de aventureiros dos quatro cantos. 
Era o El Dorado, o esplendor de uma selvagem nobreza dos trópicos cujos cenários e costumes foram 
importados de Inglaterra, França e Itália”. – Glauber Rocha, Amazonas Amazonas, 1966. 
 
Trataremos aqui de um período de 
grande importância para a região 
Amazônica, com grandes 
repercussões socioeconômicas, não 
só em nível regional, mas em todo 
o país, que sentiu seu impacto tanto 
no apogeu quanto do declínio. Vale 
salientar que o Brasil dependia da 
Amazônia para a obtenção das 
libras esterlinas, moeda dominante 
na época, necessária à manutenção 
do seu comércio internacional, ao 
pagamento do serviço de sua dívida 
externa e ao alívio orçamentário, 
que permitiu o embelezamento do 
Rio de Janeiro, capital na época. A 
arrecadação da Amazônia permitiu 
também a construção das estradas 
de ferro do Centro-sul, a 
implantação de novas instalações 
portuárias e, por incrível que pareça, permitiu a manutenção dos preços do café (claro que os livros 
de história não abordam esse fato, jamais que a região Sudeste iria querer ficar “submissa” a região 
dita selvagem). Segundo Antônio Loureiro (a Grande Crise, 2ª Edição, 2008), “São Paulo era a 
locomotiva na época, mas a Amazônia é que lhe fornecia os trilhos e o combustível necessários às 
suas caldeiras. ” 
O ciclo da borracha foi um momento da história econômica e social do Brasil, relacionado com a 
extração de látex da seringueira e comercialização da borracha. Teve o seu centro na região amazônica, 
e proporcionou expansão da colonização, atração de riqueza, transformações culturais e sociais, e 
grande impulso ao crescimento de Manaus, Porto Velho e Belém, até hoje capitais e maiores centros 
de seus respectivos estados, Amazonas, Roraima e Pará. No mesmo período, foi criado o Território 
Federal do Acre, atual Estado do Acre, cuja área foi adquirida da Bolívia, por meio da compra no valor 
de 2 milhões de libras esterlinas, em 1903. O ciclo da borracha viveu seu auge entre 1879 e 1912, tendo 
depois experimentado uma sobrevida entre 1942 e 1945, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-
1945). 
 
 
 
 
 
 
Seringueiros, durante o ciclo da borracha 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
2 | P á g i n a 
 
 
Linhas gerais 
 
A borracha já era usada pelos povos pré-
colombianos desde as épocas mais remotas, e 
uma das facetas mais características da 
civilização Teotihuacán (300 a.C. a 600 d.C.) foi 
o jogo ritualístico com bolas de caucho, que se 
espalhou por todo o continente, chegando até a 
Amazônia, no qual os vencedores, na sua versão 
centro-americana, eram imolados ao Sol, como 
Prêmio. Por isto o seu uso não passou 
despercebido aos primeiros cronistas espanhóis 
que a citaram, ainda nos séculos XV e XVI, 
quando dos seus contatos com os povos da 
América Central e do México. 
Dentro da linha cultural luso-brasileira coube 
ao carmelita frei Manuel da Esperança a sua 
primeira descrição. Destacado para receber as 
missões jesuíticas espanholas do Solimões, 
estabelecidas pelo padre Samuel Fritz, não foi 
feliz neste objetivo, mas ali observou, entre 1690 
e 1701, a manipulação do látex pelos omáguas, 
em seus objetos utilitários. No século XVIII, o sábio francês Charles Marie de La Condamine, em 1736, 
descreveu as suas primeiras experiências com a goma elástica e a sua aplicação pelos nativos da 
Amazônia para diversos fins, como na fabricação de diversos utensílios de uso cotidiano, como sapatos 
e garrafas, ou no revestimento de tecidos. Mais tarde, em 1745, no Relato Abreviado de uma Viagem 
feita ao Interior da América Meridional informava que os “portugueses” da Amazônia fabricavam 
seringas sem êmbolos, trabalho aprendido no seu trato com os cambebas. Estas seringas nada mais 
eram que as peras de borracha usadas, até hoje, como duchas ginecológicas. 
 
Bolas, borrachas de apagar, sondas (algalias), tecidos 
para cintos, ligas e suspensórios, sacos e encerados e 
galochas foram as primeiras utilidades de borracha a 
entrar nos mercados europeu e norte-americano, 
iniciando uma procura mais ou menos intensa da 
matéria-prima, no começo do século XIX. Nesta 
época, a produção concentrava-se na região em torno 
de Belém e nas ilhas do arquipélago de Marajó, e 
naquela cidade havia uma florescente indústria de 
exportação de milhares de galochas e de sapatos 
impermeabilizados, movimentando economicamente 
o seu porto. Os sapatos de borracha eram bem 
aceitos no mercado norte-americano, e os jornais 
daquele país comumente publicavam reclames 
oferecendo partidas desse artigo nos seguintes 
termos. 
 
 
Os maias 
Charles Marie de La Condamine 
Estudos Amazônicos 8º ano 
3 | P á g i n a 
 
 
“A borracha chegou aos USA e, com o entusiasmo tão característico dos americanos, todos querem 
um par de sapatos de borracha”¹ 
 
Cit. Por Tocantins, Leandro – Amazônia, natureza, homem e tempo, Editora Conquista, Rio de Janeiro, 
1963. 
 
Para que a aplicação industrial da borracha viesse a ocorrer foram necessários, no entanto, 
investigações e pesquisas que, finalmente, permitiram tornar o produto mais estável, não – vulnerável, 
por exemplo, às alterações do ambiente. Seu uso foi ampliado a partir da Vulcanização, tratamento 
com enxofre e calor feito por Charles Goodyear (1839), que promovia maior durabilidade das 
qualidades elásticas do látex. Por toda a segunda metade do século, ampliou-se cada vez mais o uso 
da borracha. 
Antes mesmo da ampla vulgarização do automóvel 
no início do século XX, o uso de luvas de borracha foi 
uma importante contribuição para a assepsia médica. 
Preservativos sem costuras longitudinais se 
difundiram na Inglaterra vitoriana, facilitando o 
controle da natalidade e da transmissão de doenças 
venéreas. Bernard Shaw referiu-se a tal proteção de 
borracha como a maior invenção do século XIX. 
Ali foi dado o primeiro passo para o advento do 
Ciclo-da-Borracha. 
A primeira fábrica de produtos de borracha (ligas 
elásticas e suspensórios) surgiu na França, em Paris, 
no ano de 1803. Contudo, o material ainda 
apresentava algumas desvantagens: à temperatura 
ambiente, a goma mostrava-se pegajosa. Com o 
aumento da temperatura, a goma ficava ainda mais 
mole e pegajosa, ao passo que a diminuição da 
temperatura era acompanhada do endurecimento e 
rigidez da borracha. 
Foram os índios centro-americanos os primeiros a 
descobrir e fazer uso das propriedades singulares da 
borracha natural. Entretanto, foi na floresta 
amazônica que de fato se desenvolveu a atividade da 
extração da borracha, a partir da seringa ou 
seringueira (Hevea brasiliensis), uma árvore que 
pertence à família das Euforbiáceas, também 
conhecida como árvore da fortuna. 
Do caule da seringueira é extraído um líquido 
branco, chamado látex, em cuja composição ocorre, 
em média, 35% de hidrocarbonetos, destacando-se o 
2-metil-buta-1,3-dieno (C5H8), comercialmente 
conhecido como isopreno, o monômero da borracha. 
O látex é uma substância praticamente neutra, 
com pH 7,0 a 7,2. Mas, quando exposta ao ar por 
um período de 12 a 24 horas, o pH cai para 5,0 e 
sofre coagulação espontânea, formando 
Charles Goodyear 
Extração de látex de uma seringueira. 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
4 | P á g i n a 
 
 
o polímero que é a borracha, representada por (C5H8)n, onde n é da ordem de 10.000 e 
apresenta massa molecular média de 600 000 a 950 000 g/mol. 
A borracha, assim obtida, possui desvantagens. Por exemplo, a exposição ao ar provoca a mistura com 
outros materiais (detritosdiversos), o que a torna perecível e putrefável, bem como pegajosa devido 
à influência da temperatura. Através de um tratamento industrial, eliminam-se do coágulo as 
impurezas e submete-se a borracha resultante a um processo denominado vulcanização, resultando a 
eliminação das propriedades indesejáveis. Torna-se assim imperecível, resistente a solventes e a 
variações de temperatura, adquirindo excelentes propriedades mecânicas e perdendo o carácter 
pegajoso. 
A semente da seringueira é rica em óleo, que pode servir de matéria-prima para a produção 
de resinas, vernizes e tintas e, por ser rica em nutrientes é usada na fabricação de suplementos 
alimentares. Atualmente, indígenas ainda usam as sementes da seringueira como alimento. 
 
O primeiro ciclo da borracha - 1879/1912 
 
Durante os primeiros quatro séculos e meio do 
descobrimento, como não foram encontradas 
riquezas de ouro ou minerais preciosos na Amazônia, 
as populações da hileia brasileira viviam praticamente 
em isolamento, porque nem a coroa portuguesa e, 
posteriormente, nem o império 
brasileiro conseguiram concretizar ações 
governamentais que incentivassem o progresso na 
região. Vivendo do extrativismo vegetal, a economia 
regional se desenvolveu por ciclos (drogas do sertão), 
acompanhando o interesse do mercado nos diversos 
recursos naturais da região. 
Para extração da borracha neste período, acontece 
uma migração de nordestinos, principalmente 
do Ceará, pois o estado sofria as consequências das 
secas do final do século XIX. 
 
Borracha: lucro certo 
 
Com essa nova tecnologia, a vulcanização, as indústrias do mundo passaram a recorrer cada vez mais 
à borracha. Isso fez da Amazônia uma exportadora em potencial, contudo, era muito complicado e 
caro transportar a borracha das áreas de extração para os principais portos da região, afinal, as 
seringueiras estavam espalhadas pelo interior da floresta. Agora, você consegue imaginar como era 
feito o transporte do látex para os portos de onde a borracha era exportada? 
Os barcos foram a alternativa para escoar essa produção. Diversos tipos e tamanhos de canoas e 
escunas, movidas pela força humana e pelo vento cortavam os rios da Amazônia transportando a 
produção, entretanto, a viagem de Belém para Manaus durava em média 160 dias! Por isso, a 
introdução do barco à vapor foi importante para incrementar o comércio baseado no látex. 
Para você ter uma ideia, com o barco à vapor, o tempo de viagem entre Belém e Manaus caiu para 
22 dias! 
O desenvolvimento tecnológico e a Revolução Industrial, na Europa, foram o estopim que fizeram da 
borracha natural, até então um produto exclusivo da Amazônia, um produto muito procurado e 
valorizado, gerando lucros e dividendos a quem quer que se aventurasse neste comércio. 
Pélas de borracha 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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Palacete Pinho, considerado um dos principais exemplares do ápice do ciclo da borracha. Belém ficou conhecida como 
a "Paris dos Trópicos" durante o Ciclo da Borracha. 
 
Desde o início da segunda metade 
do século XIX, a borracha passou a 
exercer forte atração sobre 
empreendedores visionários. A 
atividade extrativista do látex na 
Amazônia revelou-se de imediato 
muito lucrativa. A borracha natural 
logo conquistou um lugar de 
destaque nas indústrias da Europa 
e da América do Norte, alcançando 
elevado preço. Isto fez com que 
diversas pessoas viessem ao Brasil 
na intenção de conhecer a 
seringueira e os métodos e 
processos de extração, a fim de 
tentar também lucrar de alguma 
forma com esta riqueza. 
A mudança no transporte da região 
tem relação direta com as 
transformações que aconteciam no 
O Mercado Municipal Adolpho Lisboa, em Manaus 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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Brasil. Ela também foi uma tentativa de impedir que empresas estrangeiras circulassem pela região. 
Foi nessa época que a companhia de navegação à vapor, criada pelo Barão de Mauá, ganhou o direito 
de ter o monopólio de navegação do rio Amazonas. 
Com tanto interesse das nações sobre o látex da Amazônia, o governo brasileiro temia pela integridade 
de seu território. Essa foi uma das razões pelas quais passou a estimular a ocupação da região e 
dinamização do transporte. 
A partir da extração da borracha surgiram várias cidades e povoados, depois também transformados 
em cidades. Belém e Manaus, que já existiam, passaram então por importante transformação e 
urbanização. Manaus foi a segunda cidade do Brasil, depois de Campos dos Goytacazes, no Rio de 
Janeiro, a introduzir a eletricidade na iluminação pública. Assim, cria-se a viabilidade para o bonde 
elétrico. 
Mercado Ver-o-Peso, em Belém, foram construídos durante o Ciclo da Borracha. 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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Como base da economia gomífera no ciclo da borracha, o sistema de aviamento não pode ser pensado 
sem seus principais elementos: o seringal, o seringalista e o seringueiro. O seringal era formado por 
uma espécie de barracão, onde moravam os “patrões” e algumas famílias de trabalhadores, formando 
um vilarejo. Era geralmente localizado próximo a rios para facilitar o abastecimento de mercadorias e 
escoamento da produção. Como unidade produtiva e social o seringal também se constituía pela posse 
de uma imensa área conectada por caminhos onde se localizavam as seringueiras. O seringalista era 
conhecido como “patrão”, o dono dos meios de produção que comandava seus capatazes, gozando dos 
privilégios de mando. O seringueiro provinha das camadas mais pobres da população e, na maioria 
das vezes, era o migrante nordestino que, imerso num sistema de endividamento do qual dificilmente 
conseguia escapar, vivia numa condição semiescravista, à mercê dos “patrões”. 
Depois de pesada, a borracha era enviada pelos rios da região para os principais portos, em Belém ou 
Manaus. Nessas cidades a borracha era mais uma vez comercializada, porém, a negociação agora se 
deva entre o seringalista e as casas aviadoras. Em seguida, as casas aviadoras negociavam a borracha 
para a exortação. Era nesse momento que a borracha era realmente valorizada, já que no seringal o 
valor pago ao seringueiro era baixo, enquanto que no mercado mundial o preço era alto. Isso significa 
que o comércio da borracha gerava grandes fortunas, mas apenas para poucos. 
Esse comércio também gerou muita riqueza para os cofres públicos. Uma taxa de impostos era cobrada 
sobre cada quilo de borracha vendido. 
Como funcionava o sistema de trabalho nos seringais? Os seringueiros não eram escravos, mas viviam 
em um regime de exploração de constante endividamento, chamado aviamento. 
Para chegar ao seringal, o seringueiro recebia passagem e algum dinheiro do aviador. Chegando ao 
seringal, ele precisava comprar suas ferramentas de trabalho, alguns utensílios domésticos e. 
logicamente, comida. Tudo isso era adquirido no barracão localizado no seringal. Então, antes mesmo 
de começar a trabalhar, o seringueiro já estava endividado, e o endividamento só aumentava, haja 
visto que o seringueiro só poderia comprar alimentos e outros produtos no barracão do seringal. Lá, 
essas mercadorias eram vendidas por um preço muito mais alto do que normal. Era nesse sistema de 
exploração que ocorria a extração do látex. 
 
A questão do Acre – A Guerra da Borracha 
 
Entre 1877 e 1879, o nordeste brasileiro sofre uma 
das piores secas de sua história. Somente do Ceará, 
mais de 65.000 pessoas partem para a Amazônia, 
acossados pelo flagelo natural e pela crise da 
economia agrária. Esse contingente humano vai 
servir de mão-de-obra nos seringais, avançando a 
fronteira do extrativismo. Em pouco tempo, a 
maioria desses cearenses entra pelo rio Purus, 
ocupando zonas ricas em seringueiras. No final da 
década estarãono Acre, território reivindicado pela 
Bolívia, Brasil e Peru. 
Mas o exagero do extrativismo descontrolado da 
borracha estava em vias de provocar um conflito 
internacional. Os trabalhadores brasileiros cada vez 
mais adentravam nas florestas do território 
da Bolívia em busca de novas seringueiras para 
extrair o precioso látex, gerando conflitos e lutas por 
Retirantes da seca de 1877. 
Desenho especial de Percy Lau para o livro 
Geografia da Fome de Josué de Castro 
Estudos Amazônicos 8º ano 
8 | P á g i n a 
 
 
questões fronteiriças no final do século XIX, que exigiram inclusive a presença do exército, liderado 
pelo militar José Plácido de Castro. 
Os bolivianos, impotentes para impedir a invasão brasileira, associam-se a grupos econômicos 
europeus e norte-americanos, fundando o Bolivian Syndicate, que se encarregaria de garantir o 
domínio boliviano no território e explorar os recursos naturais pelo prazo de dez anos. Os empresários 
brasileiros decidem enfrentar a ameaça apresentada por tão poderosa associação. 
Em maio de 1899, aproveitando a madrugada, o navio de guerra norte-americano Wilmington parte 
do porto de Belém e ilegalmente navega o rio Amazonas acima, rumo ao Acre. O navio é interceptado 
perto de Manaus e o governo brasileiro protesta junto ao governo dos Estados Unidos, provocando 
uma deterioração nas relações dos dois países. No dia 14 de junho de 1899, com o apoio de políticos 
e empresários amazonenses, o aventureiro espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Aria, à frente de um 
exército de boêmios e artistas de teatro, ocupa o território e funda o Estado Independente do Acre, 
sendo deposto no final do mesmo ano por uma flotilha da marinha brasileira. Era uma demonstração, 
um tanto burlesca, é certo, das intenções dos empresários amazonenses. 
No dia 6 de agosto de 1902, comandando um exército de guerrilheiros recrutados entre seringueiros, 
o jovem Plácido de Castro, gaúcho de São Gabriel, entra na cidade de Xapuri e, após prender o 
intendente boliviano, Juan de Dios Barrientos, proclama novamente o Estado Independente do Acre. 
Nos próximos meses, esse estrategista talentoso, com homens de pouca instrução militar, moverá uma 
guerra contra o exército boliviano, criando uma situação de fato naqueles territórios cobiçados. O 
governo brasileiro, temendo a ampliação do conflito, manda uma poderosa força militar, sob o 
comando do general Olímpio da Silveira, o mesmo que derrotara os rebeldes de Canudos e mandara 
degolar os prisioneiros, para ocupar o Acre, obrigar Plácido de Castro a depor as armas e levar a 
questão para a mesa diplomática. 
A Bolívia pensou em reagir novamente quanto a tomada do território acreano, mas antes que ocorresse 
alguma batalha significativa, o Barão do Rio Branco intermediou diplomaticamente propondo um 
acordo entre o Brasil e a Bolívia, que ficou conhecido como o Tratado de Petrópolis. 
Em parte financiados pelos barões da borracha, assinado em 17 de novembro de 1903 no governo 
do presidente Rodrigues Alves, este tratado pôs fim à contenda com a Bolívia, garantindo o efetivo 
controle e a posse das terras e 
florestas do Acre por parte do 
Brasil. 
Nesse tratado a Bolívia concordava 
em vender o território de 191.000 
km², para o Brasil, pelo preço de 
dois milhões de libras esterlinas. 
O Brasil recebeu a posse definitiva 
da região em troca de, além dos 
dois milhões de libras esterlinas, 
ceder terras de Mato Grosso, e do 
compromisso de construir uma 
ferrovia que superasse o trecho 
encachoeirado do rio Madeira e 
que possibilitasse o acesso das 
mercadorias bolivianas (sendo a 
borracha o principal), 
aos portos brasileiros do Atlântico 
(inicialmente Belém do Pará, na 
foz do rio Amazonas). 
Brasil, Bolívia e Peru em 1904, assinaram o Tratado de Petrópolis. Por 
esse tratado, essa área passou a fazer parte do território brasileiro. 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
9 | P á g i n a 
 
 
Devido a este episódio histórico, resolvido pacificamente, a capital do Acre recebeu o nome de Rio 
Branco e dois municípios deste Estado receberam nomes de outras duas importantes personagens: 
Assis Brasil e Plácido de Castro. 
A velha sonolência dos tempos de D. Pedro II é sacudida pelo novo compasso do mercado internacional. 
Os extrativistas não mais se sentiam embaraçados pela impossibilidade tecnológica de domar a região, 
nem tampouco pelas limitações de seu saber. Invadiram a selva, pois para isso bastava um pouco de 
vivência, subordinando-se aos caprichos da hévea. Regiões inteiras, antes vedadas pelas doenças, 
percorridas apenas por índios nômades e penetradas por solitários aventureiros, foram invadidas por 
caçadores em busca da seringa. A ideologia do Far-West enfrentava os insetos e os males estranhos e 
mortais. As libras esterlinas não escolhiam grau de instrução ou escolaridade, o látex redimia a 
ignorância. O colono analfabeto assume ares de cosmopolita, torce o nariz para a antiga vida 
tradicional. 
 
O fim do monopólio amazônico da borracha 
 
O clima de euforia 
dura até 1910, quando 
a situação começa a 
mudar: a partir 
daquele ano entram 
no mercado as 
exportações de 
borracha a partir das 
colônias britânicas e o 
Brasil não suporta a 
feroz concorrência 
que lhe é imposta. No 
ano 1913 a produção 
Inglesa-Malásia 
superou pela primeira 
vez a do Brasil. Em 
seguida muitos 
seringais foram 
abandonados e 
muitos seringueiros 
voltaram ao nordeste. 
A Inglaterra havia 
adquirido cerca de 
70.000 sementes do 
inglês Henry 
Wickham, em 1876, contrabandeadas, das quais 2.000 haviam florescido. A diferença técnica de plantio 
e extração do látex no Brasil e na Ásia foi determinante para os resultados da exploração como negócio. 
As plantações racionalizadas do Extremo Oriente proporcionaram significativo aumento da 
produtividade e se tornaram mais competitivas. Enquanto a distância entre as seringueiras na Ásia 
era de apenas quatro metros, na Amazônia caminhava-se às vezes quilômetros entre uma árvore e 
outra, o que prejudicava e encarecia a coleta. No Brasil, o governo resistia a mudar os métodos. 
Acreditava que a exploração da maneira que era feita assegurava a presença de brasileiros e garantia 
a soberania nacional sobre a despovoada região amazônica. Privilegiava-se a geopolítica, representada 
Teatro da Paz em Belém, um dos símbolos do ciclo da borracha. 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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pela ocupação, em detrimento da geoeconomia, que poderia render melhores frutos. Em 1920 os 
seringais do Oriente produziam 1,5 milhão de toneladas de borracha, contra 20 mil toneladas da 
Amazônia. A Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, terminada em 1912, já chegava tarde. 
A crise da borracha tornou-se ainda maior porque a falta de visão empresarial e governamental 
resultou na ausência de alternativas que 
possibilitassem o desenvolvimento regional, tendo 
como consequência imediata a estagnação também 
das cidades. A falta não pode ser atribuída apenas aos 
empresários tidos como barões da borracha e à classe 
dominante em geral, mas também ao governo e 
políticos que não incentivaram a criação de projetos 
administrativos que gerassem um planejamento e um 
desenvolvimento sustentável da atividade de extração 
do látex. 
Por sinal, desde a época do Governo Imperial que 
eram descartados projetos de incentivo à produção 
ou proteção dessa que era, no final do século XIX, a 
maior fonte de renda do Brasil, superando o 
decadente ciclo do café. Tal inércia se devia ao 
Governo Monárquico, que era atrelado ao interesse 
econômico dos barões do café, que direcionava todos os esforços governamentais para manter a 
riqueza do sudeste brasileiro, mais próxima e influente ao poder do que os ricos barões da borracha, 
que preferiam viagens de negócios internacionais do que visitas políticas aoRei. 
 
Com a República, pouca coisa mudou. O baixo 
peso político era contrastante com o poder 
financeiro do riquíssimo Norte. O Poder, 
concentrado no Sudeste brasileiro, passou a ser 
controlado pelos interesses econômicos dos 
cafeicultores e dos pecuaristas, resultando 
na política do café-com-leite, e excluindo os 
interesses dos barões da borracha (que também, 
pouco se movimentavam politicamente para 
serem incluídos, preferindo ir gastar seu 
dinheiro nos cassinos europeus do que investir 
em "lobbies" por acharem que o ciclo da 
borracha nunca acabaria). 
Embora restando a ferrovia Madeira-Mamoré e 
as cidades de Porto Velho e Guajará-
Mirim como herança deste apogeu, a crise 
econômica provocada pelo término do ciclo da 
borracha deixou marcas profundas em toda a região amazônica: queda na receita dos Estados, alto 
índice de desemprego, êxodo rural e urbano, sobrados e mansões completamente abandonados, e, 
principalmente, completa falta de expectativas em relação ao futuro para os que insistiram em 
permanecer na região. 
Os trabalhadores dos seringais, agora desprovidos da renda da extração, fixaram-se na periferia de 
Manaus em busca de melhores condições de vida. Por volta de 1920, começaram a formar o que seria 
chamado de cidade flutuante, que se consolidaria até a década de 1960 . 
Sir Henry Alexander Wickham 
A Malásia, que investiu no plantio de seringueiras e em 
técnicas de extração do látex, foi a principal responsável 
pela queda do monopólio brasileiro. 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
11 | P á g i n a 
 
 
O governo central do Brasil até criou um órgão com o objetivo de contornar a crise, chamado 
Superintendência de Defesa da Borracha, mas esta superintendência foi ineficiente e não conseguiu 
garantir ganhos reais, sendo, por esta razão, desativada não muito tempo depois de sua criação. 
A partir do final da década de 1920, Henry Ford, o pioneiro da indústria americana de automóveis, 
empreendeu o cultivo de seringais na Amazônia criando 1927 a cidade de Fordlândia e posteriormente 
(1934) Belterra, no Oeste do Pará, especialmente para este fim, com técnicas de cultivo e cuidados 
especiais, mas a iniciativa não logrou êxito já que a plantação foi atacada por uma praga na folhagem 
conhecida como mal-de-folhas, causada pelo fungo Microcyclus ulei. 
 
O segundo ciclo da borracha - 1942/1945 
 
A Amazônia viveria outra vez o ciclo da borracha durante a Segunda Guerra Mundial, embora por 
pouco tempo. Como forças japonesas dominaram militarmente o Pacífico Sul nos primeiros meses de 
1942 e invadiram também a Malásia, o controle dos seringais passou a estar nas mãos dos nipônicos, 
o que culminou na queda de 97% da produção da borracha asiática. 
Para o Brasil, além da grande movimentação realizada pela exportação da borracha, os investimentos 
realizados os Estados Unidos chegaram, de certa forma, a manter nossa economia estável e até - em 
alguns momentos - em alta durante o período em que se desenrolava o conflito. O país havia 
encontrado a química milagrosa da guerra por conta da abertura rumo às atividades rurais e 
extrativistas, no qual permitia perspectivas de propulsão e crescimento de nossa economia. Parte desse 
ideal surgia da necessidade de viver com os próprios recursos, a fim de estimular o crescimento da 
riqueza agropecuária nacional e de produtos que poderiam ter desenvolvido suas exportações. 
Naquele período já havia uma grande oportunidade de bons negócios entre Brasil e Estados Unidos: 
o Conselho Federal de Comércio Exterior, com sede no Rio de Janeiro, havia emitido uma circular aos 
governos e às associações comerciais e industriais dos Estados comunicando que tinham recebido um 
telegrama da Embaixada do Brasil em Washington, o qual informava que o Departamento de Guerra 
dos Estados Unidos iniciava algumas compras para armazenamento, no valor de 100 milhões de 
dólares em mercadorias necessárias à defesa nacional, tais como: bauxita, manganês, mica, cobre, 
borracha, lã, cristal de rocha, etc. Isto resultaria na implantação de mais alguns elementos, inclusive 
de infraestrutura, apenas em Belém, desta vez por parte dos Estados Unidos. A exemplo disso, temos 
o Banco de Crédito da Borracha, atual Banco da Amazônia; o Grande Hotel, luxuoso hotel construído 
em Belém em apenas 3 anos, onde hoje é o Hilton Hotel; o aeroporto de Belém; a base aérea de 
Belém; entre outros. 
 
Batalha da borracha 
 
Com o alistamento de nordestinos, Getúlio Vargas minimizou o problema da seca do nordeste e ao 
mesmo tempo deu novo ânimo na colonização da Amazônia. 
Na ânsia de encontrar um caminho que resolvesse esse impasse e, mesmo, para suprir as Forças 
Aliadas da borracha então necessária para o material bélico, o governo brasileiro fez um acordo, em 
maio de 1941, com o governo dos Estados Unidos (Acordos de Washington), que desencadeou uma 
operação em larga escala de extração de látex na Amazônia - operação que ficou conhecida como a 
Batalha da Borracha. 
Como os seringais estavam abandonados e mais de 35 mil trabalhadores permaneciam na região, o 
grande desafio de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, era aumentar a produção anual de látex 
de 18 mil para 45 mil toneladas, como previa o acordo. Para isso seria necessária a força braçal de 100 
mil homens. 
Estudos Amazônicos 8º ano 
12 | P á g i n a 
 
 
O alistamento compulsório em 1943 era feito pelo Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores 
para a Amazônia (SEMTA), com sede no nordeste, em Fortaleza, criado pelo então Estado Novo. A 
escolha do nordeste como sede deveu-se essencialmente como resposta a uma seca devastadora na 
região e à crise sem precedentes que os camponeses da região enfrentavam. 
Além do SEMTA, foram criados pelo governo nesta época, visando a dar suporte à Batalha da borracha, 
a Superintendência para o Abastecimento do Vale da Amazônia (Sava), o Serviço Especial de Saúde 
Pública (Sesp) e o Serviço de Navegação da Amazônia e de Administração do Porto do Pará (Snapp). 
Criou-se ainda a instituição chamada Banco de Crédito da Borracha, que seria transformada, em 1950, 
no Banco de Crédito da Amazônia. 
O órgão internacional Rubber Development Corporation (RDC), financiado com capital dos industriais 
estadunidenses, custeava as despesas do deslocamento dos migrantes (conhecidos à época 
como brabos). O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro cem dólares por cada 
trabalhador entregue na Amazônia. 
 
Milhares de trabalhadores de várias regiões do Brasil 
foram compulsoriamente levados à escravidão por 
dívidas e à morte por doenças para as quais não 
possuíam imunidade. Só do Nordeste foram para a 
Amazônia 54 mil trabalhadores, sendo 30 mil deles 
apenas do Ceará. 
Esses novos seringueiros receberam 
a alcunha de Soldados da Borracha, numa alusão 
clara de que o papel do seringueiro em suprir as 
fábricas nos EUA com borracha era tão importante 
quanto o de combater o regime nazista com armas. 
Manaus tinha, em 1849, cinco mil habitantes, e, em 
meio século, cresceu para 70 mil. Novamente a região experimentou a sensação de riqueza e de 
pujança. O dinheiro voltou a circular em Manaus, em Belém, em cidades e povoados vizinhos e a 
economia regional fortaleceu-se. 
 
Kit básico 
 
Cada migrante assinava um contrato com o SEMTA que previa um pequeno salário para o trabalhador 
durante a viagem até a Amazônia. Após a chegada, receberiam uma remuneração de 60% de todo 
capital que fosse obtido com a borracha. 
O kit básico dos voluntários, ao assinar o contrato, consistia em: 
 
 Uma calça de mescla azul 
 Uma blusa de morim branco 
 Um chapéu de palha 
 Um par de alpercatas de rabicho 
 Uma caneca de flandre 
 Um prato fundo 
 Um talher 
 Uma rede 
 Uma carteira de cigarros Colomy Um saco de estopa no lugar da mala 
O governo dos Americano pagava ao governo 
brasileiro cem dólares por cada trabalhador 
entregue na Amazônia 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
13 | P á g i n a 
 
 
Após recrutados, os voluntários ficavam acampados em alojamentos construídos para este fim, sob 
rígida vigilância militar, para depois seguirem até à Amazônia, numa viagem que podia demorar de 2 
a 3 meses. 
 
Um caminho sem volta 
 
Entretanto, para muitos trabalhadores, este foi um 
caminho sem volta. Cerca de 30 mil seringueiros 
morreram abandonados na Amazônia, depois de 
terem exaurido suas forças extraindo o ouro branco. 
Morriam de malária, febre amarela, hepatite e 
atacados por animais 
como onças, serpentes e escorpiões. 
O governo brasileiro também não cumpriu a 
promessa de reconduzir os Soldados da Borracha de 
volta à sua terra no final da guerra, reconhecidos 
como heróis e com aposentadoria equiparada à dos 
militares. 
Calcula-se que conseguiram voltar ao seu local de 
origem (a duras penas e por seus próprios meios) 
cerca de seis mil homens. 
Mas quando chegavam tornavam-se escravos por 
dívida dos coronéis seringueiros e morriam em consequência das doenças, da fome ou assassinados 
quando resistiam lembrando as regras do contrato com o governo. 
 
Os soldados da Borracha na Amazônia 
 
Novas tentativas da exploração da Borracha: Fordlândia e Belterra 
 
Na região amazônica, houve duas novas 
tentativas para se produzir, de novo, o 
látex em grande quantidade. Entre 1934 e 
1945 houve uma tentativa da Companhia 
Ford, uma empresa norte-americana. 
Os Estados Unidos era o maior produtor 
mundial de carros. A borracha cultivada 
respondia a demanda para fabricar pneus. 
Mas 90% desta produção dependiam 
das colônias europeias da Ásia. 
Durante a Segunda Guerra 
Mundial (1939-1945), os países da Ásia 
com plantações da hévea foram ocupados 
pelo exército do Japão que, nessa 
conflagração, era inimigo dos Estados 
Unidos. Os EUA ficaram com dificuldades 
em obter borracha para a produção de 
pneus e outros produtos. Desta forma, os 
EUA firmaram um acordo com o governo 
Mosquito, transmissor da malária e da febre 
amarela, doenças que causaram muitas mortes aos 
seringueiros 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
14 | P á g i n a 
 
 
brasileiro para a produção da borracha. Houve a criação do Banco de Crédito da Borracha para ajudar 
no financiamento e nas negociações da produção da borracha. 
Nesta época, a Companhia Ford, grande indústria de automóveis, que utilizava um quarto da borracha 
produzida no mundo, teve a ideia de produzir, ela mesma, a borracha necessária para os pneus de 
seus automóveis. Henry Ford escolheu a Amazônia para fazer suas plantações de hévea. Importou da 
Ásia mudas da planta e plantou-as em Fordlândia, ao sul de Santarém. 
Um grande capital foi investido em Fordlândia, até uma grande serraria, naquele tempo a maior de 
toda a América do Sul, foi construída para aproveitar as árvores da floresta. 
Na época 32.000 nordestinos foram trazidos para trabalhar na Amazônia na coleta do látex para a 
produção da Borracha em Fordlândia. Eram os Soldados da Borracha. Estes trabalhadores nordestinos 
que vieram para trabalhar na Amazônia viviam em condições precárias, com péssimas condições de 
vida e trabalho, sofrendo de doenças que levaram muitos a morte. 
Além disto, ocorreu em 1932 a aparição do fungo Dothidella ulei nas árvores plantadas em Fordlândia, 
era o “mal das folhas”, que acabava por matar a seringueira e prejudicava a produção. 
Tudo isto acabou por levar ao fracasso o projeto de produção de borracha em Fordlândia. 
Em 1935, foi aberta também uma nova plantação em Belterra, a sudeste de Santarém, como campo 
de experimentação. Contudo, a plantação em Belterra encerrou suas atividades em 1945 quando os 
Estados Unidos recuperaram sua produção de Borracha na Ásia. 
Assim, com o fim da Segunda Guerra Mundial e a nova concorrência da borracha asiática, a exploração 
da borracha amazônica voltou a entrar 
em decadência. 
 
Apontamentos finais 
 
Os finais abruptos do primeiro e do 
segundo ciclo da borracha demonstraram 
a incapacidade empresarial e falta de visão 
da classe dominante e dos políticos da 
região. No primeiro, além da extrema 
confiança dos barões da borracha na 
perpetuação daquele ciclo, houve os 
interesses dos cafeicultores, que 
influenciavam o Governo Monárquico a 
proteger e fomentar apenas a sua 
produção (e, consequentemente, seus 
lucros), e culminando com a influência no 
Governo Republicano, comandado 
pela política do café-com-leite, que pouco 
fez pela borracha da Amazônia. O final da 
Segunda Guerra conduziu, pela segunda 
vez, à perda da chance de fazer vingar 
esta atividade econômica, posto que o 
Governo Getulista fomentara o retorno à 
borracha apenas por interesses externos 
dos países aliados - notadamente os 
Estados Unidos. Não se fomentou 
qualquer plano de efetivo 
desenvolvimento sustentado na região, o 
A Serraria foi fabricada em Michigan, EUA, e montada 
no Brasil, em Fordlândia. 
 
A serraria em 2003. 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
15 | P á g i n a 
 
 
que gerou reflexos imediatos: assim que terminou a Segunda Guerra Mundial, tanto as economias de 
vencedores como de vencidos se reorganizaram na Europa e na Ásia, fazendo cessar novamente as 
atividades nos velhos e ineficientes seringais da Amazônia. 
 
Belle Époque Tropical 
 
Os coronéis da borracha, enriquecidos na aventura, resolveram romper a órbita cerrada dos costumes 
coloniais, a atmosfera de isolamento e tentaram transplantar os ingredientes políticos e culturais da 
Velha Europa, matrona próspera, vivendo numa época de fastígio e menopausa. O clima do faroeste 
seria visível nas capitais amazônicas subitamente emergidas das estradas de seringa. 
 
O Pará, Empório Comercial da Grande Bacia Amazônica 
 
 
 
As cidades foram, em todos os países, os cenários mais espetaculares da Belle Époque. Intervenções 
urbanísticas modernizaram ou renovaram suas feições, expressando a realização dos anseios e do 
desejo das elites em se mostrarem progressistas e afinadas com o gosto europeu. No Brasil, a renovação 
das cidades, o afastamento das classes pobres dos limites urbanos, a implantação de uma estética que 
rompe com os padrões coloniais e o cosmopolitismo são parte de um vocabulário comum às cidades 
progressistas transformadas pelo urbanismo técnico, pelas medidas higienizadoras e pelas muitas 
medidas de controle social; a modernização da cidade do Rio de Janeiro é, a esse respeito, emblemática. 
Embora estas iniciativas também tenham se feito presentes na Amazônia, é preciso ressaltar a 
especificidade de sua consolidação nas duas capitais, Belém e Manaus – de histórias e tradições muito 
distintas, ainda que igualmente favorecidas pela economia da borracha. 
 
Au Bon Marche em Manaus Boulevard Castilhos França, Belém, início do 
século XX 
Estudos Amazônicos 8º ano 
16 | P á g i n a 
 
 
Santa Maria de Belém do Grão-Pará foi fundada no 
século XVII como uma cidade-fortaleza, uma das 
iniciativas do império português visavam à defesa da 
região setentrional da colônia, objeto de sucessivas 
disputas entre franceses, holandeses e espanhóis. 
Quando, em meados do século XVIII, o sábio francês 
La Condamine desceu o Amazonas, reconheceu no 
Pará uma cidade com “ruas bem alinhadas, casas 
risonhas, magníficas igrejas”. 
Em 1751, com a chegada do novo governador, 
Mendonça Furtado – irmão do marquês de Pombal, 
imbuído do projeto iluminista de restaurar a 
Amazônia -, a cidade ascendeu a capital da unidade 
administrativa agora denominada do Grão-Pará e 
Maranhão, diretamente ligada a Lisboa e destacada 
do Brasil. 
Neste momento, chegam à cidade vários cartógrafos 
e engenheiros,um corpo de profissionais e técnicos que atuaria nas comissões de demarcação do 
território amazônico. O fato de Belém ter se tornado a capital é expressivo da eficácia pretendida em 
relação aos controles do território amazônico e do lugar que o aspecto urbano assumia no projeto 
pombalino. Muitos dos técnicos permaneceram no Pará e estabeleceram descendência, ampliando as 
bases da elite paraense. A cidade ganhou novos contornos e foi objeto de investimentos para a 
regularização dos espaços públicos e a implantação e espaços e instituições sinalizadoras do poder, 
refazendo-se, na capital do Grão-Pará, o urbanismo monumental da capital do reino. O naturalista 
Alexandre Rodrigues Ferreira, em seu livro Viagem Filosófica, apresenta minuciosas vistas aquareladas 
e o plano geral da cidade de Belém, a qual, mesmo em sua expansão durante o século XIX, manteve o 
padrão proposto pelo urbanismo português. 
Cidade de S. Maria de Belém do Grão-Pará - Ilustração do livro 'Viagem filosófica' de Alexandre Rodrigues Ferreira. 
Ciclo da Borracha na Amazônia 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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Em 1859, a cidade, com seus 
25.000 habitantes, causou boa 
impressão ao estudioso Ave-
Lallemant, a quem chamou a 
atenção o magnífico palácio do 
presidente, por ele considerado 
um dos melhores edifícios do 
Brasil – numa cidade onde 
registrou haver “ruas de bom 
aspecto, casas distintas, igrejas 
vetustas, um antigo convento”, 
como lemos no seu livro No rio 
Amazonas, muito embora nada 
lhe subtraísse o ar antigo e 
português. Nela, tudo parecia 
velho! Causavam-lhe estranheza 
as maneiras de trajar dos homens 
e mulheres no Pará: vestiam-se 
pela última moda francesa, com 
caudas e anquinhas, fraques e 
cartolas. Nas casas de família 
havia sempre um piano, e bandas 
marciais tocavam hinos 
patrióticos; estas marcas do que 
Ave-Lallemant chamou de 
“europeização” acentuar-se-iam 
nas décadas seguintes, com a 
ampliação do número dos que a 
ela tiveram acesso. 
Poucos anos após a estada de Ave-
lallemant na cidade, Hasting, um 
major americano responsável pela 
vinda de confederados 
americanos para o Pará, foi mais 
favorável em suas observações: 
ao passar por Belém, impressionou-se com a imponência da cidade, suas longas avenidas arborizadas 
com mangueiras frondosas, numerosas praças públicas e iluminação a gás. 
Na última década do século XIX, a cidade, aos olhos dos paraenses, ainda deixava a desejar, na medida 
em que, sob muitos aspectos, mantinham-se os traços do urbanismo colonial reconhecidos por seus 
visitantes. Na “era dos engenheiros”, quando a borracha tornava palpável o progresso, o Pará se 
modernizou. Jovens paraenses – engenheiros, militares de ideologia positivista - articulados em redes 
nacionais de relação com seus colegas de formação estabelecidos na capital da República, promoveram 
ou respaldaram as alterações que imprimiriam à cidade os sinais da nova ordem do progresso. 
Em obra de 1895, o barão de Marajó descrevia em minúcias as mudanças que transformaram Belém 
na última década do século XIX, propiciando, a partir de então, uma alteração positiva da “prosperidade 
pública”, a “purificação de nossos costumes” e o aperfeiçoamento dos espíritos. Sua opinião encerra 
as observações do historiador e do político cuja atuação na Intendência Municipal de Belém, logo após 
a instauração da República, certamente favoreceu as transformações a que se refere. 
Travessa Frutuoso Guimaraes – Rua 15 de Novembro, Belém Antiga 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
18 | P á g i n a 
 
 
Com orgulho, enfatiza as inovações promovidas pelas últimas administrações do período republicano, 
financiadas por uma “lisonjeira” economia em que os impostos advindos da exportação permaneciam 
na esfera da administração estadual e os oriundos da importação eram da esfera da administração 
federal. Ampliaram-se as ofertas de ensino, superando-se com isso o período em que a instrução 
pública era tão insuficiente que “obrigava os pais a mandarem os filhos para o estrangeiro”. Sem 
dúvida, o barão se referia aos filhos das famílias dos segmentos mais abastados, os pecuaristas do Pará 
ou aqueles oriundos da crescente classe média, sedentos de educação formal como parte fundamental 
de suas trajetórias em busca de posição e prestígio social. Foi o caso da maioria dos filhos da elite de 
Manaus, onde faltavam as marcas de distinção advindas da riqueza da terra. 
No fim de 1895, Belém era uma cidade com área igual a de Madri, capital da Espanha, cortada por 
amplas avenidas e grandes estradas direcionadas para os novos bairros que recebiam as famílias em 
processo de elevação social. Praças ajardinadas, edifícios da administração pública, várias escolas, 
hospitais, asilos e cadeia compunham as instituições de controle e reprodução social. Completavam o 
conjunto urbano, com seus serviços e numerosas atividades, os estabelecimentos industriais, casas 
bancárias e firmas seguradoras, e ainda as companhias de serviços urbanos: telégrafos, telefonia, linhas 
de bonde e estrada de ferro. 
As quase 100.000 pessoas que viviam em Belém dispunham ainda de instituições culturais e recreativas, 
religiosas e laicas. Nas docas do Pará chegavam duas companhias inglesas, fazendo de dez em dez dias 
a navegação para Lisboa, Havre, Liverpool, Antuérpia, Nova York, Maranhão, Ceará, Pernambuco e 
Manaus, além da navegação costeira até o Maranhão e da linha inglesa com vapores semanais do Rio 
de Janeiro a Pernambuco, Pará e Nova York. 
A transformação radical pela qual Belém passou estendeu-se ainda por toda a primeira década do 
século XX, de modo que a renovação urbana concretizada pelos engenheiros republicanos e o 
cosmopolitismo facilitado pela intensificação da exportação promoveram, pelo menos entre os 
paraenses, a sensação de que Belém era uma das melhores cidades do Brasil. Era indiscutível a 
prosperidade visível nas ruas, na monumentalidade das avenidas, e a euforia retratada na agenda dos 
acontecimentos culturais e sociais, conforme registravam os jornais. 
 
Como resultado da expansão da 
economia da borracha e do crescimento 
geral das finanças do estado, a elite de 
fazendeiros, comerciantes, profissionais 
liberais e grandes seringalistas passou a 
viver na capital. As medidas 
modernizadoras e a reforma urbana 
impuseram restrições às camadas mais 
populares. O centro histórico foi 
mantido em sua escala e traçado do 
período colonial, e ampliou-se o 
perímetro da cidade em direção ao porto 
– afinal, a parte da cidade que melhor 
expressava o dinamismo econômico e as 
atividades de importação e exportação 
que garantiam a riqueza da 
municipalidade. 
Em 1907, Belém contava com 192.230 
habitantes. No porto do Pará, 
termômetro da crescente economia, o 
Belém Antiga, do início do século XX – em destaque o Mercado 
de Ferro do Ver-o-Peso, a Doca do Ver-o-Peso e a área verde era 
a Praça Afonso Pena; atual D. Pedro II 
 
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vaivém de pessoas e mercadorias era grande: das 36.026 pessoas que entraram no estado naquele 
ano, quase 11.600 permaneceram na capital, absorvidas pelas atividades comerciais e pelos 
estabelecimentos industriais. 
 
O embelezamento da cidade resultava de 
alterações urbanísticas e arquitetônicas 
estimuladas por uma legislação que 
procurava modernizar os espaços públicos 
e dotar de certas características as 
construções, imprimindo, nas fachadas dos 
prédios, elegância estética, graciosidade e 
uma racionalidade condizente com as 
necessidades de ventilação e higiene 
exigidas pelo clima. 
Antônio Lemos, intendente de Belém, em 
relatório de 1905, comentava, desgostoso, o 
desequilíbrio estético de parte dos edifícios, 
sugerindo sua demolição e incentivando o 
apuro arquitetônico nas novas edificações. 
O apelo teve ressonância,as restrições se 
impuseram e, de fato, no cenário urbano de 
Belém e Manaus do início do século, 
consagraram-se as fachadas que 
expressavam a incorporação de novas técnicas, dos princípios de higiene e das normas estéticas. Novos 
materiais de construção chegavam da Itália, de Portugal e da França, de onde vinham também muitos 
dos profissionais que cuidaram de executar as alterações de estilo. 
 
 
 
 
É importante considerar a dimensão moral das transformações urbanas, no sentido de impor regras 
de conduta e hábitos de higiene e racionalizar o uso dos espaços públicos. O código de posturas previa 
Antigo Igarapé das Almas, no Reduto Antigo, Belém 
Palacete Brício Costa 
 
Antônio Lemos, Intendente de 1897 a 1911 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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multas para os que jogassem águas utilizadas e quaisquer tipos de dejetos nas ruas, e os jornais 
anunciavam o horário em que passariam os carros de coleta do lixo, a ser posteriormente incinerado. 
Apesar das medidas, no início do século XX, Belém e Manaus eram grandes focos de febres palustres, 
especialmente a malária, que dizimava sobretudo os estrangeiros, desprovidos de imunidade. Para 
solucionar o problema – que difamava a cidade e amedrontava seus moradores -, o governo promoveu 
uma campanha de erradicação dessas doenças, solicitando os serviços de Oswaldo Cruz entre 1910 e 
1911.Contudo, já no próprio início do século XX, quando os postais eram uma das expressões mais 
vivas da sociabilidade brasileira, entre as imagens que circulavam nos cartões, exibindo os sinais do 
novo e da modernidade, não faltavam as vistas coloridas de Manaus e Belém. 
 
 
 O Lado Oculto do Auge 
 
Na última década do século XIX, o palco para o 
vaudeville (forma de entretenimento popular que 
misturava diversas atrações distintas) estava 
preparado e o cenário pronto. O coronel da 
borracha, ou seringalista, seria o grande astro dessa 
comédia de boulevard, a grande personagem dessa 
obra-prima da monocultura brasileira que foi o 
vaudeville do “ciclo da borracha”. Ele era o patrão, o 
dono e senhor absoluto de seus domínios, um misto 
de senhor de engenho e aventureiro vitoriano. O 
coronel tinha “formas” de agir: era o cavaleiro 
citadino em Belém ou Manaus e o patriarca feudal 
no seringal. 
Mas essa contradição nunca preocupou ninguém. A 
face oficial do látex era a paisagem urbana, a capital cintilante de luz elétrica, a fortuna de Manaus e 
Belém, onde imensas somas de dinheiro corriam livremente. O outro lado, o lado terrível, as estradas 
Manaus Antiga Belém Antiga Casa Do Povo 1900 
 
Hotel Cassina, Manaus 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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secretas, estavam bem protegidas, escondidas no infinito emaranhado de rios, longe das capitais. O 
lado festivo, civilizado, que procurou esconder as grandes monstruosidades cometidas nos domínios 
perdidos, poucas vezes foi perturbado durante a sua vigência no poder. Euclides da Cunha foi um 
pioneiro ao anunciar a estrutura aberrante. Para o pobre imigrante, “Nas paragens exuberantes das 
héveas e castilôas, o aguarda a mais criminosa organização do trabalho que ainda engendrou o mais 
desaçamado egoísmo”. 
Contra essa situação, Euclides da Cunha pede “urgência de medidas que salvem a sociedade obscura 
e abandonada: uma lei do trabalho que enobreça o esforço do homem; uma justiça rigorosa que 
cerceie os desmandos; uma forma qualquer que o associe definitivamente à terra”. 
Euclides da Cunha redescobre o seringueiro explorado: “ (…) são admiráveis. Vimo-los de perto, 
conversamo-lo (…) considerando-os, ou revendo-lhes das musculaturas inteiriças ou a beleza moral 
das almas varonis que derrotaram o deserto”. 
 
Com essa visão crítica, Euclides da Cunha passou a 
ser considerado pelos coronéis como um pobre 
demente que não sabia o que dizia numa literatura 
intricada. 
Plácido de Castro combatia a monocultura cega da 
borracha, vislumbrava sua futura decadência e 
preocupava-se com o sistema retrógrado dos 
seringais. Ele foi o primeiro a tentar, em suas terras 
no Acre, uma diversificação agrícola por meios 
modernos usando adubos e máquinas para melhorar 
a produção. Pagou com a vida a ousadia de desafiar 
homens tão poderosos. 
O seringueiro, retirante nordestino que fugia da seca 
e da miséria, era uma espécie de assalariado de um 
sistema absurdo. Aparentemente era livre, mas a 
estrutura concentradora do seringal o levava a se tornar um escravo econômico e moral do patrão. 
Seringueiro extraindo o Látex 
Na floresta: Miséria, semiescravidão (Seringueiros 
extraindo o látex da seringueira) 
 
Nas cidades: O luxo e a opulência (Moda europeia 
entre as damas da elite seringalista - Belém 1916) 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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Endividado, não conseguia mais escapar. Se tentava fugir, isso podia significar a morte ou castigos 
corporais rigorosos. Definhava no isolamento, degradava-se como ser humano, era mais uma pobre 
alma do sistema espoliativo do extrativismo. 
Enquanto os seringueiros caíam no esquecimento, os coronéis de barranco vibravam com as polacas 
e francesas, mas as senhoras de respeito eram guardadas nos palacetes, cercadas de criadas e ocupadas 
com alguns afazeres mesquinhos. 
 
A Ostentação 
 
A ostentação das cidades de Belém e Manaus impressionava os novos viajantes que nelas chegavam. 
Jean de Bonefous, viajante francês, dá sua impressão do lado sorridente da sociedade da borracha. 
Belém pareceu-lhe Bordéus, com “um movimento de veículos de toda a sorte, um vai-e-vem contínuo, 
que parecia mais um grande centro europeu do que uma cidade tropical”. 
 
Bondinho em Belém 
 
Sobre Manaus, outro francês, Auguste Plane, emocionava-se com o Teatro Amazonas: 
 
“A construção é majestosa, quanto ao interior; a sala é elegante e ricamente decorada. O teto, obra 
magistral do pintor de Angelis, é admirável. Bem arejado, bem iluminado, representa uma das 
curiosidades de Manaus. A mais refinada das civilizações chegou até o rio negro. ” 
Grafite sobre a Belle Époque em Manaus 
 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
23 | P á g i n a 
 
 
Os coronéis enriquecidos receberam de braços 
abertos os europeus. Afinal, para a administração de 
seus bens precisavam de pessoal alfabetizado. 
“Dominando a sociedade – informa o sociólogo 
Bradford Burns – e as atividades da cidade, 
encontravam-se os membros da aristocracia 
brasileira que, ou eram brancos, ou passavam como 
tal, e uma grande percentagem de estrangeiros” 
Belém e Manaus mantiveram uma agitada vida 
cultural entre os anos de 1890 e 1920.As duas cidades 
investiram na construção de óperas suntuosas, que 
acolhiam temporadas líricas anuais. O Teatro da Paz, 
localizado em Belém, foi concebido na década de 
1860, quando foi lançada sua pedra fundamental, foi 
inaugurado somente em 1878.Na década seguinte, o 
edifício foi reformado e reinaugurado, incorporando 
nesta ocasião detalhes arquitetônicos que resgataram 
sua monumentalidade, e ainda os trabalhos de 
pintores italianos na decoração interna. Em 1881, este 
teatro iniciou sua primeira temporada lírica. 
 
O Teatro Amazonas, inaugurado em 1896, custou 
aos cofres públicos a quantia de 400.000 libras 
esterlinas. Na opinião do historiador inglês Eric 
Hobsbawm, o Teatro Amazonas é uma “catedral 
característica da cultura burguesa”. Essa 
descrição é reforçada por duas peculiaridades do 
teatro: sua localização, em meio à exuberante 
Interior do Salão Nobre do Teatro Amazonas, 
Manaus 
 
 
Teatro da Paz, Belém 
Escola Universitária Livre de Manaus, fundada e 17 de 
janeiro de 1909 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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floresta equatorial; e sua singular e multicolorida cúpula. O Teatro Amazonas foi sem dúvidas ogrande 
salão da “Alta sociedade Manauara”. 
A Amazônia produziu escritores como o colombiano José Eustasio Rivera, autor do romance La 
Voragine, e brasileiros como Inglês de Sousa, pioneiro do naturalismo, autor de romances como O 
Coronel Sangrado e o Cacaulista, e poetas como Jonas da Silva, Paulino de Brito e Raimundo Monteiro. 
No campo dos estudos literários, é inquestionável a presença de José Veríssimo, e nos estudos regionais 
ressaltam os nomes de Domingos Antônio Raiol, Ferreira Pena, Lauro Sodré e Sant’Ana Nery. 
O poderio econômico da borracha foi capaz de tentar a elevação do nível educacional, criando no 
Amazonas a primeira universidade brasileira, a Escola Universitária Livre de Manaus, e de buscar 
expressão na mais moderna e dispendiosa forma de arte e seu tempo, o cinema. Com o pioneiro 
Silvino Santos, imagens da região foram guardadas para sempre em filmes como “No Paiz das 
Amazonas” e “No Rastro do Eldorado”. 
 
O processo de urbanização na Amazônia 
 
Teatro Amazonas em 1909 
Estudos Amazônicos 8º ano 
25 | P á g i n a 
 
 
O processo de transformação ocorrida 
no espaço é uma das principais 
temáticas discutidas pela geografia. 
Essas transformações no espaço são 
ocasionadas pelo homem na sua relação, 
homem – natureza. Diante disso 
discutiremos sobre o processo de 
colonização e urbanização na Amazônia, 
a escolha desse tema é justificada pela 
necessidade de se esclarecer as várias 
formas de colonização e urbanização 
ocorridas na Amazônia, levando o aluno 
a perceber esses vários tipos de 
colonização e urbanização, destacando 
as transformações, ocasionadas pelo 
homem nesse espaço. A problemática do 
projeto busca questionar sobre o 
processo de colonização e urbanização 
na Amazônia. 
Ao longo das aulas, esperasse que o aluno compreenda esse processo de colonização e urbanização na 
Amazônia, relacionando o mesmo com sua realidade e seu dia a dia. 
 
Contexto Histórico do processo de urbanização na Amazônia 
 
Ao caracterizar a região Amazônica, iremos perceber que até os dias de hoje a região é uma das 
regiões menos povoadas do Brasil. Diante disso várias políticas de povoamento foram implantadas na 
região. 
O interesse em conhecer e atuar sobre a cidade deriva do fato de ser ela o lugar onde vive parcela 
crescente da população. Mas também de ser o lugar onde os investimentos de capital são maiores, 
seja em atividades localizadas na cidade, seja no próprio urbano, na produção da cidade. E mais, de 
ser o principal lugar dos conflitos sociais. 
O processo de urbanização na Amazônia ocorreu de várias formas, diante disso vários autores 
discorrem sobre o tema, que é objeto de pesquisa na maioria das vezes de geografia, discutidos em 
disciplina especifica ministrada por geógrafos denominada de Estudos Amazônicos. 
A região amazônica é composta por 9 estados, entre eles os que possuem maiores extensões são os 
estados do Pará e do Amazonas. Essa região em relação ao território nacional é considerada como 
fornecedora de matéria prima, para o restante do país. 
 
As cidades Ribeirinhas da Amazônia. 
 
Uma das primeiras estratégias de colonização da Amazônia foi, através dos rios que cortam a região, 
com a criação dos fortes em Belém e o surgimento de várias cidades que seriam pontos estratégicos 
de ocupação para evitar a invasão de outros povos. 
Nesse período foram fundados, 62 pontos de colonização na Amazônia, fruto das missões que 
fundaram várias vilas. Com a política pombalina essas missões passam a ter condições de vilas com a 
denominação cidades portuguesas. As vilas criadas foram: Abaetetuba (1750); Aveiro (1751); Macapá e 
Ourém (1752) Colares, Maracanã, Muaná, Salvaterra, Soure e Souzel (1757), entre outros. 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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As populações dessas cidades ribeirinhas dependem, diretamente da pesca dos rios que as cortam, 
sendo considerado como povo das aguas, já que o seu deslocamento depende na maioria das vezes 
desses rios. Algumas comunidades até os dias de hoje transportam seus estudantes de caso para a 
escola em barcos escolares. 
A região da Amazônica e cortada por vários rios, que são muito importantes, como meio de transporte 
e fonte de renda para pesca de várias espécies que vivem nesses rios. 
Dentre essas cidades temos o município de Bragança, que fica localizada no nordeste paraense, 
também caracterizada como região bragantina, que é composta por vários municípios que surgiram 
com a construção da estrada de ferro Belém - Bragança. Desde o momento inicial da Região Bragantina, 
a sociedade estabelecida, formada em grande parte por populações provenientes do Nordeste ou de 
outros países. Diante disso podemos identificar presente a cultura nordestina nessa região. 
A construção da estrada de ferro, que interligaria o município de Bragança a sua capital, Belém do 
Pará, fez surgir vários municípios, que ficavam as margens da ferrovia, como é o caso de Capanema, 
Peixe boi, que se caracterizava como o melhor clima do Brasil, Nova Timboteua, Igarapé-Açu, que 
sofreu uma grande influência de colonização de japonese, Castanhal que é conhecida, atualmente 
como cidade modelo. 
A fundação da cidade de Bragança fez surgir várias outras cidades, que passam por um processo de 
urbanização na Amazônia. Nas margens da ferrovia, por onde circulava o trem Belém-Bragança, surgiu 
o município de Capanema, colonizada por nordestinos que descobriram nessas terras grandes fontes 
de calcário, que mais tarde servira para a produção de cimento. 
As cidades ribeirinhas da Amazônia, além de terem a pesca como fonte de renda, algumas delas 
também são pontos turísticos de nível internacional, como é o caso de Santarém localizado no Sudeste 
do Estado do Pará, denominado de Caribe brasileiro, com suas praias belíssimas, e seu cultivo de soja 
em expansão Santarém é considerada uma cidade média com uma grande influência dentro do Estado, 
além de representar a capital do Tapajós, caso o estado do Pará, seja dividido futuramente. 
 
As cidades as Margens das Rodovias na Amazônia. 
 
Outra forma de colonização na 
Amazônia foi através das rodovias, 
que foram abertas a partir de 
projetos militares, que tinham como 
objetivo colonizar a Amazônia com a 
abertura da Transamazônica a BR 
230, e a Belém- Brasília, que seriam 
de fundamental importância para 
interligar a Amazônia ao restante do 
país. 
De acordo com os militares, a 
construção das estradas, 
principalmente da Transamazônica, 
seria uma forma de promover 
“ocupação” da Amazônia, e ao mesmo 
tempo resolver problemas do 
Nordeste, uma vez que o governo iria 
investir na transferência de muitas 
famílias nordestinas para as margens 
da rodovia. Outro argumento 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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bastante utilizado pelos governos militares era a defesa da soberania nacional, pois a construção da 
estrada seria fundamental para garantir a ocupação da região que estaria bastante vulnerável a 
dominação estrangeira. 
De acordo com o autor acima podemos perceber, que o processo de abertura de rodovias na Amazônia, 
teve como principal objetivo colonizar a região, para a mesma fornecer matéria prima, para o restante 
do país e prevenir ocupação de países estrangeiros. 
O governo federal com o intuito de atrair a população principalmente do nordeste do Brasil criou 
lemas para incentivar a vinda desses imigrantes de várias partes do Brasil, um dos lemas utilizados foi 
“Terra sem homem para, homem sem terra”, o objetivo principal, era incentivar a vinda desses 
imigrantes, que receberam incentivos para migrarem para a Transamazônica, que recebeu imigrantes 
de toda parte do Brasil, inclusive da região sul, sudeste e nordeste do Brasil. 
O percurso que a rodovia Transamazônica, iria percorrer seria realmente bem extenso, cortando vários 
estados. Essa obrafaraônica foi idealizada para praticamente corta o Brasil de ponta a ponta, trouxe 
o surgimento de varais cidades, nas margens da Transamazônica, entre elas podemos destacar: Brasil 
Novo, Medicilândia, Anapu, Pacajá. 
A abertura da transamazônica é defina por Francisco (2016). “A Transamazônica, ou Rodovia 
Transamazônica (BR-230), foi construída no decorrer do governo de Emílio Garrastazu Médici, entre 
os anos de 1969 e 1974”. Uma obra de grande proporção que ficou conhecida como uma “obra 
faraônica”. Que até os dias de hoje, em alguns dos seus trechos ainda não foram conclusas, a população 
que migrou para a região sofre, com as estradas intrafegáveis principalmente no período do inverno 
Amazônico, que se estende dos meses de janeiro a junho. 
No dia 30 de agosto de 1972, a Transamazônica, foi inaugura com o principal objetivo de interligar a 
floresta Amazônica, ao restante do país. 
Vieram para cá cerca 6.000 colonos, entre eles nordestinos e sulistas. Estima-se que foram gastos 
mais de 12 bilhões de dólares só na abertura. O projeto inclui abertura de 10 km de vicinais, chamadas 
aqui de travessões. Os povos indígenas foram dizimados e/ou obrigadas a morarem nas cidades. A 
abertura em 1970 foi historicamente, o início da grande devastação, da Amazônia Legal, e possibilitou 
a explosão demográfica, a intensificação de trabalho nas terras que até hoje não têm documentação, 
para agricultura e pecuária extensiva. 
De acordo com o autor acima podemos perceber que a abertura da transamazônica, além de grandes 
impactos ambientais, provocou também grandes impactos sócias e a morte cultural de vários 
indígenas, a vinda de vários imigrantes, que esperavam encontrar um paraíso no meio da 
transamazônica, se sentiram enganados, ao se depararem com a realidade. 
O município de Altamira, que foi considerado a capital da Transamazônica, passou a ser um polo de 
atração das pessoas que vieram. O município recebeu uma infraestrutura diferenciada, que servia para 
receber grandes personalidades, da política brasileira da época. Segundo Souza (2014) “A “princesinha 
do Xingu”, foi metamorfoseada em “capital da Transamazônica” de tal forma, que o rio Xingu e todas 
as suas histórias é mais associado a São Félix do Xingu-PA, do que a cidade que um dia se orgulhou 
de ser sua princesa”. Diante disso, podemos perceber que a capital da transamazônica exerceu um 
papel muito importante, no processo de colonização da Amazônia, por esse motivo, o município 
também sofre com problemas, como, o surgimento de bairros periféricos ocupados por colonizadores. 
Atualmente o município de Altamira, está em fase de instalação de outro grande projeto estalado na 
Transamazônica que é a construção da hidrelétrica de Belo Monte, localizada no Rio Xingu. A 
construção da hidrelétrica trouxe um novo fluxo de migrantes, e uma expansão no processo de 
urbanização do município. O processo de colonização através das estradas e um processo contínuo é 
que tende a se expandir. 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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O processo de colonização e urbanização na Amazônia é complexo, sendo, que este ocasionou várias 
modificações e transformações no espaço dessa região, que é considerada uma região ampla e com 
uma grande diversidade de flora e fauna. 
Esse processo de Colonização e urbanização trouxera, várias consequências para a população dessa 
região entre eles, temos as ocupações desordenadas principalmente nas capitais como Belém e Manaus, 
que sofrem com o crescimento desordenado e conflitos urbanos como violência. 
Bertha Becker diz que: “A pesar do crescimento das grandes cidades ter sido muito forte nas grandes 
aglomerações, a sua participação relativa se reduziu, devido ao aumento... das cidades médias e 
pequenas. A tal ponto que a Amazônia se constitui na única região do Brasil em que a população 
residente em cidades de mais 100 mil habitantes vêm caindo progressivamente. ” 
Como já foi dito, o espaço 
urbano na Amazônia surge a 
partir da conquista da região 
pelo colonizador europeu, 
sendo os núcleos urbanos 
coloniais o resultado da 
estratégia de ocupação colonial, 
por meio de fortes e missões 
religiosas. Conforme a autora 
acima afirma, um fenômeno 
nos chama a atenção: o 
crescimento das cidades médias 
e pequenas na região. 
As primeiras cidades que 
surgiram na Amazônia 
mantiveram de imediato uma 
relação com o rio e a floresta. A 
imagem ao lado mostra a 
Estação das docas, em Belém, 
parte do porto que foi 
revitalizado para fins turísticos, 
o mesmo vale para o Portal da 
Amazônia na imagem abaixo e 
à direita. Percebe-se aí a relação 
da cidade com o espaço, a 
história e a natureza, gerando 
aproveitamento econômico. 
As cidades que irão surgir ao 
longo do tempo estarão ligadas 
a esses elementos geográficos e 
serão a materialização das 
diversas formas de produção 
social. Essas formas de espaciais 
urbanas contradizem a lógica 
perversa de que a região se 
resume a floresta e aos índios. 
A região possui vários tipos de 
Estudos Amazônicos 8º ano 
29 | P á g i n a 
 
 
cidades, das grandes metrópoles as Company Towns, cidades grandes, médias e pequenas. 
Até a década de 1960, a rede urbana da Amazônia estava interligada pelos rios, o que se se deve a 
grande bacia hidrográfica do Amazonas e Araguaia-Tocantins. A partir do mesmo período, com a 
construção das rodovias e dos grandes projetos, a rede urbana se torna complexa: o rio e a estrada 
passam a interligar as cidades. 
 
As características do espaço urbano na Amazônia 
 
Dentre as principais características das cidades amazônicas, pós – 1960, destacam-se: 
 
 Urbanização concentrada nas capitais; 
 
 Consolidação das cidades de médio porte, tornadas centros urbanos sub-regionais; 
 
 Surgimento e crescimento de cidades em função de projetos de colonização agrária; 
 
 Implantação de cidades planejadas para servir aos grandes projetos econômicos; 
 
 Retração de cidades tradicionais; 
 
 Multiplicação de pequenos de núcleos urbanos ao longo das novas vias de circulação; 
 
 Crescimento das cidades médias e pequenas; 
 
Em geral, esses espaços são carentes de infraestrutura urbana, como hospitais, escolas, universidades, 
saneamento básico, lazer e segurança, o que decorre da função periférica que a região possui na DTT 
– Divisão Territorial do Trabalho –, como área fornecedora de matéria-prima e consumidora de 
produtos industrializados do Centro-Sul brasileiro. 
O espaço urbano compreende o espaço das cidades e está diretamente relacionado ao crescimento 
técnico (infraestrutura urbana) e demográfico destas. Para o IBGE, toda a sede do município é 
considerada cidade, para outros, a cidade deve ter uma população superior ao campo, ou ter um 
número de habitantes específico. 
Belém e Manaus, além de outras capitais e centros regionais como Santarém e Marabá, se destacam, 
a pesar de apresentarem vários problemas socioambientais em decorrência do crescimento urbano 
desordenado e da forte migração para essas cidades. 
A interligação ocorre através dos rios, estradas, aerovias e infovias, das pouquíssimas ferrovias e, 
geralmente, para escoamento de minérios e circulação de algumas pessoas. A região é 
predominantemente urbana, ou seja, a maioria das pessoas vive nas cidades, mas não por escolha, e 
sim pela concentração de terra, violência no campo e ausência de políticas efetivas de acesso à terra 
e renda. 
Estudos Amazônicos 8º ano 
30 | P á g i n a 
 
 
As cidades da Amazônia são 
carregadas de simbolismos, 
religiosidade, cultura, 
misticismo, história, lutas e 
sociodiversidade. Podemos 
citar Manaus e Belém – as 
metrópoles da Amazônia – 
que surgiram a partir da 
fundação de fortes, como o 
São José da Barra do Rio 
Negro e o Forte do Presépio 
fundado pelos portugueses, 
e que viveram a Belle 
Époquedurante o período 
da borracha. 
Vejamos agora uma 
tipologia das cidades 
amazônicas: 
 
Cidade e história na Amazônia: uma tipologia 
Cidades Vínculos/vinculações 
Metrópoles 
contemporâneas 
Estruturas urbanas complexas associadas às repercussões dos novos 
processos de ocupação (Belém, Manaus e São Luís). 
 
 
Cidades novas e modernas 
Bases de operação e reprodução social dos grandes projetos 
minerometalúrgicos implantados na região (Company Towns de 
Barcarena, Tucuruí e Carajás, principalmente) ou associadas à 
necessidade de consolidação de novas estruturas territoriais que 
demandam uma relativa estrutura urbana concentrada de apoio às 
atividades econômicas e políticas (Palmas). 
 
Cidades da colonização 
Núcleos de apoio ao processo de colonização no final da década de 
1960 e pontos de apoio aos eixos de penetração rodoviários (Agrovilas, 
Agrópolis e Rurópolis). 
 
Cidades espontâneas 
Estruturas urbanas novas e precárias associadas a atividade e serviços 
complementares, formais ou não, relativas aos grandes projetos ou de 
apoio as novas frentes econômicas. 
 
Cidades tradicionais 
Estruturas urbanas mais antigas e sujeitas às transformações recentes, 
decorrentes dos impactos sociais, culturais e ambientais promovidos 
pela introdução de novos modelos de produção e inovações 
tecnológicas na região. 
 
Durante o período da economia da borracha, muitas cidades cresceram, como Belém e Santarém no 
Pará, e Manaus, Itacoatiara e Parintins no Amazonas. Além disso, novas cidades surgiram, advindas 
em sua maioria dos seringais, como Manicoré (AM), Boca do Acre (AC), Xapuri (AC), Tarauacá (AC) 
e Rio Branco (AC). Outras surgiram a partir de ordens religiosas e suas missões, como é o caso de 
Bragança (PA) e Cametá (PA), algumas ligadas a projetos econômicos como Porto Velho (RO) e a 
Manaus, assim como Belém, cresceu muito durante a Belle Époque, período do 
qual o Teatro Amazonas é uma das expressões 
Estudos Amazônicos 8º ano 
31 | P á g i n a 
 
 
estrada de ferro Madeira-Mamoré, Presidente Figueiredo (AM), com a usina hidrelétrica de Balbina, 
muitas conhecidas pelas suas festas como Parintins (AM), Santarém (PA) e Juruti PA). 
Muitas cidades surgem a partir dos 
projetos de colonização dirigida, pois o 
governo federal confiscou dos estados 
amazônicos 100 km das margens esquerda 
e direita das rodovias federais, a exemplo 
das agrovilas, agrópolis e rurópolis, como 
Jaru (RO), Colorado do Oeste (RO), Ouro 
Preto do Oeste (RO), Rurópolis (PA), 
Medicilândia (PA) e Tucumã (PA). No 
trecho da rodovia Transamazônica, 
situado entre Altamira e Itaituba, 
deveriam ser construídas agrovilas 
(conjunto de 48 ou 64 lotes urbanos de 
100 ha). Tais casas estavam destinadas aos 
colonos assentados no local, os quais 
receberam, também, lotes rurais, onde 
desenvolveriam suas atividades 
econômicas. Cada agrovila deveria contar 
com os serviços de uma escola de 1º Grau, 
uma igreja ecumênica, um posto médico 
e, em alguns casos, um armazém para produtos agrícolas. 
Além dos serviços bancários, correios, telefones, escolas de 2º grau, etc... O objetivo da agrópolis era 
atender à demanda de todas as agrovilas situadas num determinado trecho da Transamazônica. Na 
verdade, foram implantadas várias agrovilas, apenas uma agrópolis (a de Brasil Novo, no Km 46 do 
trecho Altamira - Itaituba) e, finalmente, o programa previa a construção de Rurópolis, um conjunto 
Cidade de Rurópolis (PA), no entroncamento da Transamazônica 
com a Santarém-Cuiabá. 
Desmatamento espinha de peixe ao longo de rodovia 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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de agrópolis. Na prática, às proximidades do cruzamento da Transamazônica com a Rodovia Santarém 
- Cuiabá, foi construída apenas uma rurópolis - a Presidente Médici, hoje município de Rurópolis. 
Outra consequência desse processo foi o desmatamento “espinha de peixe” ao longo da 
Transamazônica. Várias estradas paralelas foram construídas, as chamadas vicinais, conforme vemos 
na imagem acima, acelerando a destruição da floresta, pois a falta de um planejamento adequado 
deixou marcas na região. 
Os grandes projetos criaram as Company Towns, núcleos urbanos planejados e com excelente 
infraestrutura, que passam a ser controlados e a servir às empresas envolvidas nesses 
empreendimentos, como: Fordlândia (PA), Vila Amazonas e Serra do Navio (AP), Porto Trombetas 
(PA), Monte Dourado (PA), Carajás (PA), Vila do Cabanos (PA), Balbina (AM) e Vila de Tucuruí. 
Vejamos algumas delas: 
 
Company Towns na Amazônia 
 
Company Towns, em português significa cidade da empresa, é uma vila ou cidade onde quase tudo, 
casas, escolas, hospital, supermercado, cinema, posto de gasolina e estabelecimentos comerciais, 
pertencem a uma única empresa. 
Na maioria das vezes essas 
Company Towns (Cidades da 
empresa) são caracterizadas 
pelo monopólio, 
elo paternalismo, pelo isolamento e 
pela excelente qualidade de vida. E 
no caso das Company Towns na 
Amazônia estas cidades giram em 
torno de algum Mega Projeto. 
Estas cidades são caracterizadas 
pelo monopólio uma vez que quase 
todos os serviços e estabelecimentos 
comerciais (em alguns casos até a 
igreja) pertencem à empresa que 
controla a cidade, que no geral gira 
em torno de alguma grande 
indústria, onde trabalham 
praticamente todos os 
trabalhadores da Company 
Town. Estas cidades são 
caracterizadas pelo paternalismo, 
por que como todos os serviços 
básicos como saúde, educação, habitação, clubes entre outros são pagos ou subsidiados pela empresa. 
A empresa é tida como o “grande pai” gerando uma espécie de “estado paralelo” e um “patriotismo 
empresarial”, tornando os trabalhadores não somente dependentes, mas também leais a empresa, que 
estabelece nestas cidades as suas próprias leis. 
Estas cidades são caracterizadas pelo isolamento, por que este faz parte da lógica da Company Town, 
que se baseia no monopólio e no paternalismo. No caso das Company Towns na Amazônia o 
isolamento não é apenas geográfico, existe também um “isolamento social” muitas das vezes não é 
qualquer um que pode morar na cidade da empresa, ou seja, somente funcionários, e em parte, estes 
funcionários são mão de obra especializada e vindos de outras regiões, fazendo que se crie “cidades 
Mapa das Company Towns na Amazônia 
 
Estudos Amazônicos 8º ano 
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paralelas” no entorno das Company Towns, fora dos limites do projeto, como é o caso de Laranjal do 
Jari-AP e Parauapebas-PA. E estas cidades da empresa são caracterizadas pela excelente qualidade de 
vida de seus habitantes-empregados. Serra do Navio (cidade construída no Amapá pela ICOMI para 
exploração do manganês), por exemplo, tinha um padrão de vida estadunidense no meio da floresta 
amazônica, o hospital de Serra do Navio realizava operações de coração nos anos 70 que até hoje não 
são realizadas na capital, Macapá. E algumas das últimas Company Towns na Amazônia como Porto 
Trombetas e Núcleo Carajás ainda mantém seus moradores com um padrão de vida muito superior 
ao resto da região. 
A história das Company Towns começa nos Estados Unidos em 1880 com a construção da cidade 
de Pullman em Illinois que foi projetada para abrigar 6.000 pessoas, e era comanda pela Companhia 
Pullman Palace Car, no auge das Company Towns nos Estados Unidos haviam mais de 2.500 cidades 
da empresa e mais de 3% dos estadunidenses moravam em uma Company Town. Mas na Amazônia, 
pode ser considerada como a primeira Company Town, a atual capital de Rondônia, Porto Velho que 
nasceu como uma vila, em 1907, para abrigar os funcionários da estrada de ferro Madeira-Mamoré (As 
estradas de ferro são uma características em comum das Company Towns amazônicas), Porto velho, 
foi construída pela Madeira-Mamoré Railway Company, uma empresa estadunidense responsável

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