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LEGISLAÇÃO EMPRESARIAL Karla Regina Santos Ribeiro Virgínia de Fátima Dias G es tã o L E G IS L A Ç Ã O E M P R E S A R IA L K ar la R eg in a S an to s R ib ei ro V irg ín ia d e Fá tim a D ia s O livro Legislação Empresarial almeja orientar os estudos de profissionais ou estudantes que tenham interesse em obter conhecimentos da área jurídica - em especial no ramo do Direito Empresarial, atualmente tão importante para aqueles que procuram estruturar formalmente sua empresa ou atuar na área de negócios. O livro estrutura-se de maneira a apresentar os principais tópicos legais desde o surgimento da atividade empresária, o seu desenvolvimento, até o seu fim. Sua contribuição, dessa forma, apresenta-se no sentido de esclarecer quais normas jurídicas são aplicadas às relações empresariais, tema de indiscutível relevância nos dias atuais. 9 788538 763307 Curitiba 2017 Legislacao Empresarial çã Karla Regina Santos Ribeiro Virgínia de Fátima Dias CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ D53L Dias, Virgínia de Fátima Legislação empresarial / Virgínia de Fátima Dias, Karla Regina Santos Ribeiro. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 160 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6330-7 1. Empresas - Legislação. 2. Sociedades comerciais - Legislação. I. Ribeiro, Karla Regina Santos. II.Título. 17-43673 CDU: 347.72 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem da Capa Shutterstock.com/Africa Studio Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Noções gerais de introdução ao Direito | 7 2. Direito Empresarial | 23 3. Direito Societário | 41 4. Sócios e sociedade: previsões legais | 57 5. Contrato Social | 73 6. Metamorfoses societárias | 91 7. Dissolução e liquidação das sociedades empresárias | 109 8. Direito Falimentar | 127 Gabarito | 145 Referências | 153 Este livro almeja orientar profissionais ou estudantes que tenham interesse em obter conhecimentos da área jurídica, em espe- cial do ramo do Direito Empresarial, atualmente tão importante para aqueles que procuram estruturar formalmente sua empresa ou atuar na área de negócios. Com esse intento, seu início está voltado para noções gerais de introdução ao Direito, de forma a refletir sobre o conceito de Direito, a relação entre Direito e Estado e apresentar a estrutura do ordenamento jurídico brasileiro. Na sequência, passa-se às noções de Direito Empresarial, para explicar a atividade empresarial, segundo a legislação pátria. Considerando que a legislação empresarial tem como sujeito o empresário, faz-se uma análise acerca de sua figura e da relação entre o empresário e os consumidores. Carta ao Aluno – 6 – Legislação Empresarial Este livro traz, também, uma reflexão sobre o conceito e os elementos que compõem as sociedades segundo o ordenamento jurídico brasileiro, a classificação e a distinção entre os vários tipos de sociedades empresárias e a legislação que regula a relação dos sócios, bem como as normas jurídicas aplicadas ao trato destes com terceiros e com a própria sociedade. Em um mundo globalizado, no qual há oscilações na economia ao mesmo tempo em que o desenvolvimento tecnológico é vertiginoso e gera uma alta competitividade no mundo dos negócios, as metamorfoses societá- rias são uma constante. Portanto, a compreensão de quais são elas e da legis- lação aplicável a cada uma é de fundamental importância para que possam ser utilizadas, permitindo às empresas a diminuição de gastos e o aumento de seus lucros, com a finalidade de se manterem ativas no mercado. A obra aborda, portanto, as mudanças em relação a essas sociedades, buscando escla- recer como são reguladas sob a ótica do ordenamento jurídico brasileiro. Por fim, este livro trata da dissolução e liquidação das sociedades e seus aspectos legais, por decisão dos sócios ou outros motivos, tais como a decreta- ção judicial de falência, também objeto de estudo, por meio da análise da Lei n. 11.101/2005, a qual regula a recuperação judicial e extrajudicial e a falência. Este livro sobre legislação empresarial estrutura-se, pois, de maneira a apresentar os principais tópicos legais que abrangem desde o surgimento da atividade empresária, o seu desenvolvimento, até o seu fim. Sua contribuição, nesse sentido, está em esclarecer quais normas jurídicas são aplicadas às rela- ções empresariais, tema de indiscutível relevância nos dias atuais. 1 Noções gerais de introdução ao Direito Introdução Neste primeiro capítulo, o objetivo é fornecer aos indi- víduos que iniciam seus estudos jurídicos uma visão ampla do Direito, trazendo-lhes conceitos gerais, como o que se entende por Direito, a relação entre Direito e Estado e o que é e como funciona o ordenamento jurídico. Tais saberes são importantes para que aqueles que não conhe- cem o Direito de maneira mais profunda possam compreendê-lo e aplicá-lo, não só em sua vida pessoal, mas especialmente em seu cotidiano profissional. Considerando que o público para o qual o presente material está voltado busca conhecimentos acerca do Direito Empresarial, as explicações servirão de sustentação para que compreendam que tal área do Direito faz parte do ordenamento jurídico brasileiro e tem seus alicerces na Teoria Geral do Direito. Legislação Empresarial – 8 – 1.1 Conceito de Direito Definir o que é direito não é tarefa fácil, considerando que o vocabulário da língua portuguesa é bastante rico e uma mesma palavra pode possuir dife- rentes sentidos, dependendo do contexto em que está inserida. Por exemplo, quando alguém afirma “Tenho o direito de receber pelo trabalho que realizo”, isso significa dizer que “é justo” receber pelo trabalho. Por outro lado, ao falar que “O direito brasileiro nem sempre é respeitado”, já temos outro sentido para o vocábulo, o qual significa norma jurídica. Ainda é possível dizer “Eu tenho o direito de ajuizar uma ação de indenização contra quem me calu- niou”, contexto no qual a acepção da palavra direito é voltada para a faculdade do uso da norma jurídica existente. Cabe à Filosofia Jurídica tratar das várias acepções da palavra direito. Para os fins a que se propõe este texto, empregaremos o entendimento do Direito como um conjunto de normas que, emanadas de poderes competen- tes, disciplina a conduta em sociedade, usando para isso a coercitividade, ou seja, o poder do Estado de impor às pessoas o cumprimento das regras por ele estabelecidas. Só ao Estado cabe usar da força para obrigar os indivíduos a adotar, por meio da norma jurídica, o comportamento capaz de evitar conflitos, numa sociedade em que os seres humanos se tornam cada vez mais individualistas e competitivos. Vivendo em sociedade, lutando por sua sobrevivência, o homem neces- sita de regras que assegurem a ordem e impeçam a discórdia. Já afirmou o grande jurista Paulo Nader: “O Direito está em função da vida social” (NADER, 2005, p. 27). É verdade que existem outros meios de controle social além do Direito, tais como a religião e a moral, que também determinam regras de convívio social. A religião, ao propagar a ideia de amor ao próximo, nada mais faz do que, por meio de dogmas específicos, propagar a ideia de respeito ao outro e, consequentemente, propiciar a harmonia social. E a moral, ao designar o que é certoou errado, bom ou mau, busca aprimorar a essência humana e, assim, ensina a melhor forma de se comportar em sociedade. Entretanto, nenhum desses meios de controle social tem a característica de coercitividade que tem – 9 – Noções gerais de introdução ao Direito o Direito. Além disso, enquanto os primeiros, religião e moral, almejam aper- feiçoar o indivíduo como ser humano, o Direito, por meio de suas regras, volta-se para o comportamento do homem no convívio social, as ações que este venha a praticar. Em outras palavras, o Direito se interessa pelo que o homem faz ou deixa de fazer na vida social, e não com seu foro íntimo, como ocorre com a religião e a moral. O Direito como regra jurídica, formado por códigos e leis, é denomi- nado de Direito Positivo, ou seja, um sistema de normas jurídicas que regula as relações entre as pessoas em dado momento histórico. O Direito como conjunto de normas jurídicas, primeiramente, pelo critério romano, foi dividido em direito público e direito privado. Tal dis- tinção é útil do ponto de vista da didática, pois facilita a pesquisa e, con- sequentemente, o aperfeiçoamento e a sistematização dos princípios que compõem o Direito. Nesse sentido, as normas jurídicas de Direito Público, chamadas de cogentes ou taxativas, regulam as relações jurídicas em que o interesse do Estado é predominante. Assim, para muitos doutrinadores, tais como Bran- cato (2011), Venosa (2016) e Palaia (2012), fazem parte do direito público o Direito Constitucional, o Direito Tributário, o Direito Penal, o Direito Administrativo, o Direito Processual, o Direito Internacional Público e o Direito Internacional Privado, enquanto o Direito Civil é predominante- mente formado por normas de direito privado. Não é pacífico, no entanto, o entendimento quanto à natureza jurídica do Direito do Trabalho. Para Miguel Reale (2005), o Direito do Trabalho apresenta-se como “um Direito eminentemente público”, por ser o Estado a disciplinar as formas de pres- tação de trabalho e os contratos coletivos. Já para Martins (2005), por pre- ponderar a autonomia da vontade das partes no Direito do Trabalho, ele se trata de um ramo do direito privado. Mas a corrente predominante é a de que o Direito do Trabalho é um ramo do direito privado, haja vista que os contratantes (empregador e empregado) são livres para estipular as regras de seu pacto de emprego. Há também o “Direito misto”, querendo dizer que uma mesma área do Direito possui normas taxativas (e, portanto, de Direito público) e normas Legislação Empresarial – 10 – dispositivas (de Direito privado), como o Direito de Família e o próprio Direito do Trabalho, conforme Venosa (2016). Ao tratar do Direito, é preciso lembrar que ele surge com base em algu- mas fontes, sendo uma delas as fontes históricas. Para captar a finalidade do instituto jurídico, é necessário conhecer em que momento e em que cir- cunstâncias foram criadas as normas. O estudo de tais fontes compete a uma disciplina específica denominada História do Direito. Há, ainda, as fontes materiais do Direito, também chamadas de fontes de produção do Direito, que são constituídas pelos fatores jurídicos, tais como a geografia e a economia, sendo, assim, fontes materiais indiretas. E existem também as fontes materiais diretas, as quais são identificadas como sendo os próprios órgãos responsáveis pela produção da lei (Poder Legislativo) e pela produção da jurisprudência (Poder Judiciário). Interessa-nos, entretanto, uma terceira categoria de fontes jurídicas, chamadas de fontes formais do Direito, que são as formas de expressão do Direito: a lei, o costume, a jurisprudência e a doutrina. A lei, no Brasil, é a principal fonte formal do Direito, uma vez que adotamos a norma escrita como diretriz essencial de conduta na sociedade brasileira, seguindo o sistema romanista. Observe-se que a própria Consti- tuição da República Federativa do Brasil (BRASIL, 1988), lei máxima de nosso ordenamento jurídico, determina em seu artigo 5°, inciso II, que todos são obrigados a fazer o que está previsto em lei. Já no sistema adotado em países de língua inglesa, como Inglaterra e Austrália, a lei é apenas mais uma fonte entre tantas outras. A lei, elaborada com base em critérios específicos e por um órgão com- petente para fazê-lo, é regra geral e abstrata, que deve ser obedecida por todos, uma vez que é dotada de coação. O órgão responsável por elaborá-la é o Poder Legislativo e, em situações excepcionais, conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, artigo 62, o Poder Executivo, na pessoa do presidente da república, pode editar medidas provisórias com força de lei. Por exemplo, quando foi criada a contribuição provisória sobre movimenta- ções financeiras (CPMF), isso ocorreu por meio de medida provisória, que teve efeitos legais imediatos por 60 dias, prorrogáveis por mais 60, mas foi – 11 – Noções gerais de introdução ao Direito enviada imediatamente ao Congresso Nacional para que este votasse se ela deveria ou não se transformar em lei. Outra fonte formal do Direito é o costume. Um exemplo de costume jurídico foi o cheque pré-datado, uma criação brasileira. Sendo aplicada somente no caso de omissão da lei, a norma costumeira ou consuetudinária resulta de, segundo Miguel Reale (2005, p. 157), uma conduta praticada de maneira consciente e que se repete socialmente até que os indivíduos acabam por concebê-la como obrigatória. O Direito costumeiro possui um requisito subjetivo, que é a crença da obrigatoriedade da conduta, e um requisito objetivo, a constância do ato. Para que seja fonte do Direito, o costume precisa ser reconhecido como tal pelo ordenamento jurídico, conforme ocorre no Brasil, em que a Lei de Introdução às Normas de Direito, no artigo 4° (BRASIL, 1942), prevê: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”. A jurisprudência, palavra que designa a aplicação do Direito com sabe- doria (jus = Direito; prudentia = sabedoria), resulta de reiteradas decisões dos tribunais numa mesma direção interpretativa. Por não ter força vinculativa, a jurisprudência é tida como fonte secundária do Direito. Um exemplo claro de jurisprudência é quando duas pessoas do mesmo sexo convivem por certo tempo numa relação conjugal, uma delas vem a falecer e a que permaneceu viva requer pensão por morte ao INSS, que não concede. O “cônjuge sobre- vivente” move então uma ação judicial requerendo seu direito. Como é um caso raro, não existe conceito já estabelecido. O juiz analisa, julga e dá sua decisão favorável. Quando surge outra situação igual a ser julgada, fica mais fácil a decisão, porque já existe um caso semelhante. Por fim, a doutrina, também considerada fonte do Direito, é resultado do estudo das leis por parte de juristas, estudiosos e operadores jurídicos em geral, que geram teses, compêndios, tratados, pareceres capazes de mostrar caminhos aos magistrados e sugerir modificações aos legisladores. Outra classificação para as fontes do Direito é, segundo Venosa (2016): a) Diretas, imediatas ou primárias – lei e costume, porque têm, por elas mesmas, potencialidade suficiente para gerar a regra jurídica. Legislação Empresarial – 12 – b) Indiretas, mediatas ou secundárias – doutrina, jurisprudência, ana- logia, princípios gerais do direito e equidade. Essas fontes servem para esclarecer a aplicação global do Direito. Os princípios gerais do Direito, assim como a analogia e os costumes, são considerados, segundo a Lei de Introdução às Normas de Direito ( BRASIL, 1942), em seu artigo 4°, processos de preenchimento de lacunas existentes na lei, pois esta nem sempre consegue regular todas as situações sociais e o legislador não tem como prever todos os acontecimentos. Assim, os princípios gerais do Direito servem de base ao ordenamento jurídico, por trazerem em seu bojo valores sociais dos quais se serve o legis- lador. Essesprincípios são comuns a todas as áreas do Direito, tais como viver honestamente, dar a cada um o que é seu e não causar danos a outrem (todos espelhando valores sustentados socialmente). Têm função informa- dora, quando servem de base ao legislador para a criação de preceitos legais, função normativa, ao serem aplicados nas lacunas da lei, e, por fim, função interpretativa, ao auxiliarem na compreensão exata da norma. Por serem apli- cados na lacuna da lei, que é norma jurídica, também são os ditos princípios normas jurídicas. Nader (2005, p. 194) explica que a “analogia é um recurso técnico que consiste em se aplicar, a uma hipótese não prevista pelo legislador, a solução por ele apresentada para outra hipótese fundamentalmente semelhante à não prevista”. Para a aplicação da analogia jurídica, alguns requisitos devem ser respeitados, tais como: inexistência de dispositivo legal prevendo ou discipli- nando a hipótese do caso concreto a ser julgado; identidade de fundamento jurídico no ponto comum às duas situações; semelhança entre o caso con- creto e a situação não regulada. Como exemplo de aplicação analógica, pode-se citar o caso do reconhe- cimento, pelo Supremo Tribunal Federal, da família homoafetiva, conferindo aos casais homossexuais o direito à união estável: uma vez que as leis brasilei- ras ainda não previam o casamento entre casais homossexuais, coube a uma decisão judicial, tomando por base a legislação acerca de união entre heteros- sexuais, decidir sobre a matéria. Para tal, foi usada a analogia. – 13 – Noções gerais de introdução ao Direito Por fim, faz-se necessário alertar que no Direito Penal não se aplica a analogia, uma vez que o princípio da legalidade (“não há crime ou pena sem lei penal que expressa e previamente os estabeleça”) impede sua utilização. 1.2 Direito e Estado O Direito emana do Estado, que é responsável não só pela produção das leis, mas pelo controle de sua aplicação. Mas o Estado depende do Direito, que organiza sua atuação e delimita seus poderes. Sob o ponto de vista jurídico, o Estado deve sua existência ao fato de possuir uma Constituição. Pode-se conceituar o Estado como a pessoa jurí- dica formada por uma sociedade que vive em determinado território e é subordinada a uma autoridade soberana. O Estado atua tanto no plano externo quanto no interno. No interno, cabe-lhe garantir a ordem pública, e o faz ao criar o Direito e buscar garantir a aplicação da justiça. Já no plano externo, o Estado tem de fazer valer sua soberania. Há várias teorias que buscam explicar a relação entre Direito e Estado. Segundo a teoria monista, Direito e Estado se confundem, ou seja, o Estado é fonte única do Direito, fazendo com que sejam considerados como uma única realidade, formando uma só entidade. Os defensores de tal teoria – Hans Kelsen, Hegel, Thomas Hobbes e Jean Bodin – não admitem a pos- sibilidade de qualquer norma jurídica que não esteja atrelada ao Estado. Já a teoria dualística ou dualista, criada por Otto Von Gierke e Georges Gurvith, preconiza a total separação entre Direito e Estado, ao afirmar que o Direito é uma criação estritamente social e, nesse caso, cabe ao Estado apenas elaborar normas jurídicas que advenham da consciência social. No caso da teoria do paralelismo, defendida por Giorgio Del Vecchio, há a ideia de que Direito e Estado se completam em sua atuação, ainda que sejam realidades diferentes. Se o Estado cria o Direito por meio dos poderes constituídos e o Direito determina como deve ser a atuação do Estado, não há como se negar a inter- ligação entre eles. Legislação Empresarial – 14 – Neste ponto é fundamental tratar do Estado de Direito. Ele é formado pelo Direito, como conjunto de normas que regem o funcionamento de uma sociedade, e pelo Estado, forma de organização política. Entende-se que ocorre o Estado de Direito a partir do momento em que há a participação do povo na administração pública, por meio de seus representantes, como a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) determina em seu artigo 1°, parágrafo único. E é com o desenvolvimento do Estado de Direito que surge a divisão dos poderes que compõem a estru- tura político-administrativa do Estado: Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário. A divisão dos Poderes, com suas funções específicas bem delineadas pela Lei Maior (Constituição), afasta o Estado absolutista, em que todas as fun- ções eram centralizadas na figura do rei, situação em que o Estado de Direito não podia ser reconhecido, uma vez que o soberano exercia sobre o povo um poder incontrolado. Entretanto, o Estado de Direito ainda não foi plenamente alcançado no Brasil, ainda que haja no país a distribuição de poderes, posto que os repre- sentantes escolhidos pelo povo devem por ele e para ele trabalhar, o que nem sempre tem acontecido. Ainda se permite, assim, muita injustiça social e a falta de um serviço público eficaz para a população, impedindo-lhe a garantia da dignidade. 1.3 Ordenamento jurídico O Estado possui um ordenamento jurídico constituído de normas jurí- dicas diferentes entre si, a fim de organizar a sociedade. Ordenamento significa a ação de fazer algo de determinado modo. O vocábulo jurídico, conforme é possível inferir pelo já exposto anteriormente, qualifica o que está de acordo com o Direito. Ao explicar o que é ordenamento jurídico, Venosa traz a definição de Hugo de Brito Machado: “O ordenamento jurídico é um conjunto de prescrições, ou proposições prescritivas, que podem ser entendidas como conjunto de palavras destinadas a prescrever certos comportamentos” (VENOSA, 2006, p. 76 apud MACHADO, 2000, p. 71). – 15 – Noções gerais de introdução ao Direito Há um “ordenamento jurídico” em cada país, formado pelas diversas fontes de Direito, pois a realidade jurídica é concebida como um sistema de normas, desde as normas legais até as normas negociais, entre as quais existe uma hierarquia para sua aplicação. A hierarquia das normas jurídicas significa que no ordenamento jurídico brasileiro existem leis que suplantam as outras. A ideia de hierarquia das leis foi proposta primeiramente por Hans Kelsen, jurista nascido em Praga em 1881, que criou a chamada Pirâmide de Kelsen. Segundo Kelsen (1987), todas as leis estão subordinadas a uma “lei maior” e a ela têm de ser adequadas. Por- tanto, se uma lei contrariar a dita “lei maior”, ela pode ser contestada. Havendo conflitos entre as leis em sua aplicação em decisões judiciais, para Hans Kelsen a lei somente poderá ser anulada pelo próprio tribunal que a proferiu ou, ainda, por tribunal superior. Quando a lei for contrária à Cons- tituição, diz-se então que tal lei é inconstitucional. No entanto, Kelsen (1987, p. 287) afirma que “enquanto, porém, não for revogada, tem de ser conside- rada como válida; e enquanto for válida, não pode ser inconstitucional”. No Brasil, a validade de todo o ordenamento jurídico depende de uma norma “maior”, que é a Constituição da República Federativa do Brasil. Sub- metem-se a ela todas as demais normas jurídicas. Trata-se de uma Constituição rígida, que organiza o país em uma repú- blica federativa formada pela união indissolúvel dos estados, dos municípios e do Distrito Federal. Os 26 estados federados têm autonomia para elaborar suas próprias constituições estaduais e leis. No entanto, a competência legis- lativa destas é limitada pelos princípios estabelecidos na Constituição Federal. A Carta Maior brasileira dispõe, ainda, sobre os instrumentos legais do nosso ordenamento jurídico: emendas à Constituição, que consistem em mudanças no texto constitucional; leis complementares, que complementam a Constituição ao detalhar uma questão sem interferir no texto Constitucio- nal (tais leis são admissíveis apenas em casos expressamente autorizados na Constituição); leis ordinárias, que lidam com todas as matérias, à exceção daquelas reservadas às leis complementares; e medidas provisórias, que são editadaspelo presidente da república em situações importantes e urgentes e têm natureza temporária e força de lei, devendo, assim, ser submetidas ao Congresso Nacional para possível aprovação legislativa. Após serem exami- Legislação Empresarial – 16 – nadas pelo Congresso Nacional, as medidas provisórias deverão ser converti- das em lei ordinária, caso aprovadas. Se rejeitadas, tácita ou expressamente, perdem a eficácia ex tunc, e o Congresso Nacional deverá regular as relações jurídicas que surjam a partir de então. Quando a pirâmide de Kelsen foi criada, nela não constavam os tratados internacionais, mas apenas o direito interno. Entretanto, atualmente, é ine- gável a influência do Direito Internacional no ordenamento jurídico interno dos países, o que gerou a necessidade de se pensar sobre qual é a posição dos tratados internacionais em tal “pirâmide”, ou seja, quais as normas jurídicas que se subordinam a esses tratados. A Constituição Federal brasileira (BRASIL, 1988), em seu artigo 5°, inciso LXXVIII, §3°, ao tratar dos direitos e garantias fundamentais, prevê que, se os tratados internacionais dispuserem acerca de direitos humanos e forem votados como emendas constitucionais, estarão acima das demais leis. Nessa direção, o Supremo Tribunal Federal entendeu, no julgamento do habeas corpus 79.785, de 2000, majoritariamente, que os tratados inter- nacionais de direitos humanos, antes equiparados às normas ordinárias fede- rais, apresentam status de norma supralegal, isto é, estão acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição. Tal posicionamento admite a hipótese de tais tratados adquirirem hierarquia constitucional, desde que observado o procedimento previsto no parágrafo 3°, artigo 5° da CF, acrescentado pela Emenda Constitucional n. 45/2004. Desse modo, o Supremo Tribunal Federal alterou, por meio de uma deci- são, a pirâmide criada por Kelsen, que ainda possui em seu topo a Constituição Federal, porém acrescenta logo abaixo os tratados internacionais de direitos humanos, desde que aprovados, como ocorre com as emendas constitucionais. Além das relações entre os tipos de normas jurídicas (tratados interna- cionais, Constituição Federal, leis complementares, leis ordinárias, leis dele- gadas, medidas provisórias, decretos legislativos e resoluções), estabelecendo a prevalência de umas sobre as outras, o ordenamento jurídico também traz a hierarquia das normas relativas aos domínios geográficos das leis, uma vez que leis federais predominam sobre as leis estaduais e ambas não podem ser contrariadas por lei municipal. – 17 – Noções gerais de introdução ao Direito Mas, se por um lado existe uma hierarquia entre as normas jurídi- cas nacionais no que se refere à sua aplicação ao caso concreto, por outro, quanto aos aspectos de validade, vigência e eficácia, elas se submetem aos mesmos critérios. Após sua elaboração pelo órgão competente, e segundo o procedimento determinado pelo próprio ordenamento jurídico, a lei é publicada nos órgãos de impresa oficial (Diário Oficial) para sua publicidade e passa a ser obriga- tória a partir de sua vigência, ou seja, da data que entra em vigor. Tornada pública a lei, todos devem respeitá-la, conforme dita o artigo 3° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942): “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. A data de início da vigência da lei normalmente vem descrita na própria norma, a exemplo do que ocorreu com a Lei n. 11.788, de 25 de setembro de 2008 (Lei de Estágio) (BRASIL, 2008), que descreve, em seu artigo 21: “Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”. Se a lei não dispuser em seu texto qual a data de sua vigência, ela entrará em vigor 45 dias após sua publicação dentro do país e três meses se for apli- cada em Estado estrangeiro, conforme prevê a Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942), artigo 1°, caput e §1°. O espaço de tempo entre a publicação da lei e sua entrada em vigor denomina-se vacacio legis, que é o período dado pelo legislador para que a sociedade se adapte à nova lei. Temos vários exemplos de leis brasileiras que tiveram vacatio legis, tais como o Código de Trânsito Brasileiro – Lei n. 9.503, de 23 de setembro de 1997 (120 dias após a publicação) –, o Código de Pro- teção e Defesa do Consumidor – Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990 (120 dias após a publicação) – e o Código Civil – Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (1 ano após a publicação). Após entrar em vigor, a lei gera efeitos imediatos, respeitando o direito adquirido (é o que integra o patrimônio jurídico da pessoa por meio da lei até então vigente), o ato jurídico perfeito (entendido como o ato já consumado segundo a lei vigente no momento em que o ato se consumou) e a coisa jul- gada (decisão judicial irrecorrível concedida com base na lei vigente à época de sua sentença definitiva). Legislação Empresarial – 18 – A lei nova terá vigência até que outra lei que regule a mesma matéria a modifique ou revogue. A lei revogadora deve ser do mesmo nível ou supe- rior hierarquicamente à lei revogada. Por exemplo, uma lei ordinária só pode revogar outra lei ordinária ou de hierarquia inferior a ela. A eficácia da lei no espaço refere-se ao local onde a norma jurídica será aplicada e regula a conduta não só dos brasileiros, mas dos estrangeiros que estiverem em território nacional, segundo o princípio da territorialidade. Há ainda casos específicos de leis brasileiras que têm eficácia em outros países. Também é importante considerar a aplicação da lei no espaço, o que determina o artigo 9° da Lei de Introdução às Normas de Direito (BRASIL, 1942): Art. 9º Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem. § 1º Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e depen- dendo de forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiari- dades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato. § 2º A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente. Por fim, além de compreender como se dá a vigência da lei no tempo e no espaço, é necessário ressaltar que, para que tenha validade, a lei deve preencher alguns requisitos extremamente importantes, tais como legiti- midade do órgão para elaborá-la, competência em relação à matéria da lei que será elaborada e respeito ao procedimento técnico para sua criação. As normas básicas que regulam tais requisitos estão na Constituição Federal e nas Leis Complementares n. 95/1998 (BRASIL, 1998) e n. 107/2001 (BRASIL, 2001). Para a eficácia da norma jurídica, é necessário, ainda, observar o cum- primento efetivo da lei por parte da sociedade. Uma vez que o Direito deve ser criado com base nos valores e nas instituições sociais, a lei que não atende a tais requisitos, ou seja, que não tem nenhum vínculo com a sociedade na qual está sendo inserida ou não considera a cultura do povo, não terá eficácia. Muitas vezes, a lei não atinge seus objetivos porque não existe fiscaliza- ção suficiente ou estrutura estatal para colocá-la adequadamente em prática, o que não lhe permite ter eficácia. – 19 – Noções gerais de introdução ao Direito Ampliando seus conhecimentos A ação do Direito (NADER, 2005, p. 27) O Direito está em função da vida social. A sua finalidade é a de favorecer o amplo relacionamento entre as pessoas e os grupos sociais, que é uma das bases do progresso da sociedade. Ao separar o lícito do ilícito, segundo valores de convivência que a própria sociedade elege, o ordenamento jurídico torna possíveis os nexos de cooperação e disciplina a competição, estabelecendo as limitações necessárias ao equi- líbrio e à justiça nas relações. Em relação ao conflito, a ação do Direito se opera em duplo sentido. De um lado, preventivamente, ao evitar desinteligên- cias quanto aos direitos que cada parte julga ser portadora. Isto se faz mediante a exata definição do Direito, que deveter na clareza, simplicidade e concisão de suas regras, algumas de suas qualidades. De outro lado, diante do conflito concreto, o Direito apresenta solução de acordo com a natureza do caso, seja para definir o titular do direito, determinar a restauração da situação anterior ou aplicar penalidades de diferentes tipos. Cenário de lutas, alegrias e sofrimentos do homem, a socie- dade não é simples aglomeração de pessoas. Ela se faz por um amplo relacionamento humano, que gera amizade, a cola- boração, o amor, mas que promove, igualmente, a discórdia, a intolerância, as desavenças. Vivendo em ambiente comum, possuindo idênticos instintos e necessidades, é natural o apa- recimento de conflitos sociais, que vão reclamar soluções. Os litígios surgidos criam para o homem as necessidades de segu- rança e de justiça. Mais um desafio lhe é lançado: a adaptação das condutas humanas ao bem comum. Como as necessida- des coletivas tendem a satisfazer-se, ele aceita o desafio e lan- Legislação Empresarial – 20 – ça-se ao estudo de fórmulas e meios, capazes de prevenirem os problemas, de preservarem os homens, de estabelecerem paz e harmonia no meio social. A característica fundamental da sociedade é, assim, a submissão de um agrupamento de pessoas iguais a leis ou sistema jurídico, sem o que não haver entendimento e convivência. A sociedade sem o Direito não resistiria, seria anárquica, teria o seu fim. O Direito é a grande coluna que sustenta a socie- dade. Criado pelo homem para corrigir a sua imperfeição, o Direito representa um grande esforço para adaptar o mundo exterior às suas necessidades de vida. Atividades 1. Acerca da relação entre Direito e sociedade, assinale a opção correta: a. o Direito não é uma abstração, solto no espaço e no tempo, mas um fenômeno imerso na vida humana, ou seja, o Direito é algo que está no processo existencial do indivíduo e da coletividade. b. em relação ao conflito, a ação do Direito se opera em um único sentido, ou seja, preventivamente, ao evitar desinteli- gências quanto aos direitos que cada parte julga ser portadora. c. a característica fundamental da sociedade é a submissão de um agrupamento de pessoas iguais a leis ou sistema jurídico, mas é possível o convívio social harmônico sem a existência do Direito. d. o Direito, na sociedade, existe única e exclusivamente para aplicar penalidades de diferentes tipos. 2. Analise as afirmações a seguir: I. Jurisprudência é fonte estatal do Direito e se traduz a partir das decisões reiteradas dos tribunais em um mesmo sentido, sobre uma mesma temática. – 21 – Noções gerais de introdução ao Direito II. A lei é a fonte do Direito mais utilizada no ordenamento jurí- dico brasileiro. III. Costume é fonte do Direito, embora não exista no ordena- mento jurídico brasileiro previsão nesse sentido. IV. Acerca das fontes do Direito, existe uma única classificação. a. Apenas as assertivas I e II estão corretas. b. Apenas as assertivas I, II e III estão corretas. c. Apenas a assertiva IV está correta. d. Todas as assertivas estão corretas. 3. Analise a situação exposta e assinale a afirmação correta: Em Curitiba, por meio da Lei n. 9.493, de 15 de abril de 1999, que foi votada pela Câmara de Vereadores, aprovada e entrou em vigor 60 dias após sua publicação, é obrigatório que cães de raças consi- deradas violentas usem focinheira ao transitarem em vias públicas. Porém, é comum encontrar animais sem o equipamento pelas ruas da cidade. a. A citada lei não possui vigência. b. A lei em questão não tem legitimidade. c. O não cumprimento demonstra que ela não tem efetivi- dade social. d. A lei citada não possui vigência nem efetividade. 2 Direito Empresarial Introdução Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão dos fundamentos básicos da relação mercantil e das obrigações decorrentes, demonstrando, assim, os principais conceitos relacio- nados à atividade econômica organizada de fornecimento de bens ou serviços, denominada empresa. Os conhecimentos apresentados são importantes para desenvolver o entendimento prático da legislação empresarial, obser- vando as atividades econômicas no mercado interno e globalizado. Pretende-se, portanto, oportunizar um aprimoramento dos conhecimentos, das habilidades e das atitudes no que se refere à legislação empresarial. Legislação Empresarial – 24 – 2.1 Atividade empresarial Para viver nós precisamos, diariamente, de bens e serviços, que são fornecidos por organizações econômicas, estruturadas e desenvolvidas por pessoas que têm como objetivo ganhar dinheiro – os empresários. Pode-se entender que a atividade empresarial é a articulação de fatores de produção (capital, mão de obra, insumo e tecnologia) com a finalidade de produzir bens e serviços. Os empresários surgem, quando, por meio do capital (próprio ou alheio), organizam-se, adquirem matéria-prima, contratam mão de obra especializada e desenvolvem ou adquirem tecnologia, visando a produzir bens ou serviços para determinado público, na perspectiva de lucro. A atividade empresarial consiste, nesses termos, em juntar os recursos financeiros, humanos, materiais e tecnológicos, com o objetivo de fornecer ao mercado de consumo bens e serviços de qualidade e com preço competitivo e, em contrapartida, obter mais recursos financeiros. A empreitada desenvolvida pelo empresário é uma ação de risco, visto que por mais que ele tenha cuidado, por mais inovador que o bem ou ser- viço possa parecer ser, pode simplesmente não agradar aos consumidores, ou, ainda, o desenvolvimento da empresa pode ser afetado por crises econômicas ou outras hipóteses alheias à sua vontade. Quando a empresa não realiza as expectativas do empresário e não gera os lucros devidos, os investimentos são perdidos. Para que o risco de insucesso de qualquer atividade econômica seja minimizado, é necessário que o empre- sário tenha capacidade de planejar suas atividades, identificando as possíveis fragilidades da empresa frente ao mercado, com a finalidade de atenuar os prováveis riscos. Em suma, para que uma empresa desenvolva bens e serviços, é necessá- ria a presença do empresário. De acordo com o artigo 966 do Código Civil, “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econô- mica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (BRASIL, 2002a). De tal definição podem-se extrair algumas características importantes, que são: 2 profissionalismo; – 25 – Direito Empresarial 2 atividade econômica organizada; 2 produção ou circulação de bens ou de serviços. Sobre o profissionalismo, em consonância com Coelho (2016), ele está ligado a três ordens, que são: habitualidade, pessoalidade e monopó- lio das informações. Nesse sentido, para que seja considerada uma atividade profissional, essa não pode ser esporádica. Logo, quando uma pessoa se organiza para produzir um bem, mesmo que seja com a finalidade de venda, porém por um pequeno lapso de tempo, não será considerado um empresário. Um exemplo muito comum são as pessoas que não estão trabalhando, que desenvolvem algum pro- duto com a finalidade de sanar problemas financeiros emergenciais, produzem docinhos em casa e, assim que arranjam um emprego, param de produzi-los. No que diz respeito à pessoalidade, refere-se à realização da atividade pelo empresário de forma pessoal, ou seja, por mais que a empresa contrate diversos empregados, para a produção ou a circulação de bens e serviços, esses realizam as ações em nome do empresário. Por fim, sobre o monopólio das informações, é a ordem mais impor- tante no que se refere ao profissionalismo, visto que, para ser considerado um profissional empresário, é necessário que este concentre todas as informações de seu empreendimento, ou seja, que o empresário detenha o conhecimento sobre as condições de uso, os atributos, as matérias-primas, os riscos que o produto ou o serviço podem causar no seu potencial consumidor.Em suma, para que seja considerado profissional, o empresário deverá desenvolver sua atividade de forma permanente, de forma pessoal, e princi- palmente ter todas as informações pertinentes aos bens ou serviços desenvol- vidos em sua empresa. Sobre a segunda característica para ser empresário (atividade empresa- rial), quando o legislador prevê que o empresário “exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada”, quer dizer que a empresa é uma ativi- dade de produção ou, ainda, de circulação de bens ou serviços. É importante destacar que a empresa não é sinônimo de estabelecimento empresarial, visto que empresa é uma atividade desenvolvida e estabelecimento é o local onde é desenvolvida a atividade empresarial. Todavia, pode ser também considerado Legislação Empresarial – 26 – o complexo de bens organizados, para o exercício da empresa, segundo o Código Civil (BRASIL, 2002a), que prevê estabelecimento empresarial, no artigo 1.142, como “todo complexo de bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”. Na concepção do Direito Empresarial moderno, a ideia central está no princípio da preservação da empresa, ou seja, de manter a atividade empresarial ativa, visto os interesses oriundos da relação empresarial, como é o caso dos pos- tos de trabalho, dos impostos arrecadados pelo Fisco ou, ainda, do desenvolvi- mento econômico trazido pela atividade empresarial em determinada sociedade. Essa atividade é desenvolvida com o objetivo de lucro, porém existem outras atividades que são consideradas empresariais, mas não têm a finalidade básica de aferir lucro, como no caso das escolas religiosas. Todavia, quando essas empresas prestam serviços, os valores das mensalidades devem ser supe- riores aos dos gastos com insumos, pois numa sociedade capitalista, nenhuma empresa se manteria sem lucratividade. O lucro, nesse caso, é um meio de esses religiosos empresários realizarem suas demais finalidades. Logo, o lucro é um meio para obtenção da finalidade dessa empresa. Outro atributo importante derivado do conceito de empresa é o da orga- nização, que se refere à manipulação dos quatro elementos de produção: capi- tal, mão de obra, insumos e tecnologia, que o empresário realiza com a fina- lidade de estruturar a sua organização econômica. Logo, podemos entender que, quando uma pessoa compra bens para revender, sem a presença desses quatro elementos de produção não pode ser considerado empresário, pois não organiza a mão de obra, visto que não contrata nenhum funcionário, e não depende de tecnologia. E, por fim, a quarta característica importante é a produção de bens ou serviços, que corresponde à industrialização de bens. Logo, toda atividade de fabricação é empresarial. A atividade empresária também pode permear a prestação de serviços, uma vez que aquele que intermedeia a relação de consumo entre o fabricante e o consumidor final, ou seja, o atacadista, o varejista, exerce a profissão pre- vista no artigo 966 do Código Civil, como é o caso das agências de turismo, que vendem a passagem aérea, porém não prestam o serviço de transporte aéreo. Ressalta-se, aqui, que a prestação de serviço é uma atividade econô- – 27 – Direito Empresarial mica que não resulta em um bem tangível, como, por exemplo, a atividade de transporte. Os bens e serviços se distinguem, visto que os bens são coisas materiais, ou seja, corpóreas, já os serviços são uma obrigação de fazer. Entretanto, com a utilização da internet ocorreu uma dificuldade de conceituar os objetos de consumo, como no caso da assinatura de jornal virtual. Contudo, mesmo no âmbito virtual, o ato de fornecer bens ou serviços também é considerado uma atividade empresarial. A legislação que conceitua o empresário também apresenta quem não pode ser considerado legalmente como tal, visto que de alguma forma não tem as quatro características essenciais. Por exemplo, não são considerados empresários os indivíduos que não organizam uma empresa. Por mais que sua atividade gere lucro e seja consistente, não será considerado empresário. Entre essas atividades, o artigo 966 do Código Civil, parágrafo único, prevê que “Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou cola- boradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” (BRASIL, 2002a). No que diz respeito à profissão intelectual, encontram-se os profissio- nais liberais, como é o caso de médicos, dentistas, arquitetos, entre outros, bem como os escritores e artistas de qualquer expressão, como músicos e atores, que não são considerados empresários. Contudo, esses profissionais intelectuais podem exercer atividade empresarial quando o exercício de sua profissão seja um elemento da empresa. Exemplificando, será considerado empresário o médico que administrar e contratar um rol de médicos e vários funcionários para atender os pacientes. Nesse caso, mesmo que o médico continue a cuidar de seus pacientes, sua função é também a de exercer profissionalmente atividade econômica organi- zada que tem a finalidade de atender vários pacientes. No que se refere ao empresário rural, são considerados empresários as pessoas que têm sua atividade econômica desenvolvida principalmente fora do centro da cidade. São considerados exemplos de atividade econômicas rurais a agricultura, o extrativismo vegetal, entre outros. Todavia, essas ati- vidades devem ser desempenhadas de forma profissional. Ressalta-se que a Legislação Empresarial – 28 – atividade rural não necessariamente ocorre fora dos perímetros da cidade, visto que muitas vezes a área de cultivo (sítios, fazenda) pode estar dentro da zona urbana, assim como as atividades em prédios rústicos dentro da cidade. Essas atividades, no Brasil, são desenvolvidas de duas formas: ou pela agroindústria, ou pela agricultura familiar. Na primeira, verifica-se a presença de tecnologia avançada, grandes áreas de cultivo e vários empregados. Entre- tanto, na segunda, o dono da terra e seus familiares são os que trabalharam dire- tamente na atividade, pequena área de produção, com tecnologia mais simples. A legislação brasileira permite ao profissional rural que escolha se quer ou não ser considerado empresário, em conformidade com o artigo 971 do Código Civil, que diz: O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profis- são, pode, observadas as formalidades de que tratam o art. 968 e seus parágrafos, requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário sujeito a registro (BRASIL, 2002a). Logo, se esse profissional rural requerer sua inscrição no registro das empresas na Junta Comercial, será considerado um empresário. De acordo com Coelho (2016), os donos de pequenas empresas que desenvolvem profis- sionalmente de forma organizada as atividades rurais familiares, na sua maio- ria, optam por não se registrarem na Junta Comercial. 2.2 O empresário, as obrigações das empresas, o estabelecimento e o nome empresarial O empresário é aquele indivíduo que exerce uma atividade articulando os fatores de produção, com a finalidade de obter lucro de forma habitual. O exercício da profissão de empresário, de acordo com a legislação, traz um conjunto de obrigações. A não observância destas pode ocasionar conse- quências, inclusive penalmente. Entre elas, destaca-se: 2 registrar-se no Registro de Empresa antes de iniciar suas atividades (artigo 967 do Código Civil); – 29 – Direito Empresarial 2 escriturar regularmente os livros obrigatórios; 2 levantar balanço patrimonial e de resultado econômico a cada ano (artigo 1.179 do Código Civil). A lei trata do Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade, visto que, sem esse registro, a empresa será consideradairregular e, por consequência, não poderá solicitar o pedido de falência ou, ainda, solicitar empréstimos em instituições financeiras. Outras obrigações pertinentes ao empresário são a escrituração dos livros obrigatórios – que compreendem os livros empresariais Diário e Razão – e o levantamento anual de balanço. O optante pelo Simples Nacional está dispensado de qualquer escritu- ração mercantil, ou escriturar o livro-caixa, porém deverá ter documentos que permitam a verificação da movimentação financeira, inclusive o registro bancário. Os demais microempresários e empresários de pequeno porte que não são optantes do Simples Nacional deverão escriturar o livro-caixa. Sobre os livros empresariais, devem ser realizados observando-se alguns requisitos, conforme está previsto no artigo 1.183 do Código Civil: a escritu- ração deverá ser feita em idioma nacional, moeda corrente, por ordem cronoló- gica, entre outros. Os livros podem ser feitos exclusivamente em meio eletrônico. Sobre a terceira obrigação, o artigo 1.179 do Código Civil adverte que o empresário é obrigado a levantar, anualmente, dois balanços: o balanço patrimonial e o balanço de resultado econômico. A falta desses balanços pode ser considerada, conforme artigo 178 do mesmo Código, um ato criminoso gerado pelo empresário. O empresário também está obrigado a manter outros documentos essenciais para o exercício da empresa, conforme a legislação própria de cada atividade empresarial, como é o caso do laudo de vistoria e a liberação do estabelecimento pelo Corpo de Bombeiros, que tem como finalidade que o estabelecimento empresarial não corra risco de acidentes por causa de possí- veis incêndios. A falta desse documento poderá gerar o pagamento de multa ou interdição da empresa. Além dos já expostos, existem vários documentos obrigatórios, dependendo do ramo da atividade empresarial, como é o caso da autori- Legislação Empresarial – 30 – zação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para as empre- sas que comercializam medicamentos – farmácias e drogarias, de acordo com a Lei n. 9.782/99 (BRASIL, 1999) e a Resolução da Anvisa 238/01 (BRASIL, 2002b). Ressalta-se que o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens – corpóreos e incorpóreos – que tem a finalidade empresarial. Logo, pode-se entender esse tipo de estabelecimento como um instrumento empregado pelo empresário para o funcionamento de sua atividade. O empresário dispõe seus bens que integrem e desenvolvam da melhor maneira a atividade empresarial. Esse complexo racional de bens tem um valor agregado, ou seja, bens quando ordenados para o trabalho empresarial adquirem um valor no mercado. Contudo, os bens empresariais não podem ser confundidos com o patrimônio pessoal do empresário. No caso do empresário individual (que é sempre pessoa física), todos os bens são considerados seu patrimônio, tanto os bens particulares, quanto os bens utilizados na atividade empresarial. Todavia, o estabelecimento empre- sarial se equivale a todos os bens (materiais ou imateriais) que são utilizados no desenvolvimento da atividade com fins lucrativos. O estabelecimento empresarial possui dois elementos relevantes: 2 o conjunto de bens; 2 a organização. O complexo de bens é o instrumento que o empresário tem para exercer suas funções empresariais. Entretanto, esse conjunto de bens deve ser orga- nizado, conectado entre si de forma a realizar a atividade empresarial. Essa forma organizada pelo empresário é que o diferencia das demais empresas. Todas as ações que o empresário realiza para constituir sua empresa também são consideradas estabelecimento empresarial dessa sociedade. Em suma, o estabelecimento empresarial é o conjunto de bens corpóreos (como é o caso das instalações, dos equipamentos, entre outros), bem como de bens incorpóreos (marcas, patentes, entre outros). E as legislações penal e civil disciplinam normas para proteção desses bens. Todavia, o Direito Comercial tem como finalidade tutelar bens incorpóreos da relação empresarial. – 31 – Direito Empresarial Um dos elementos do estabelecimento empresarial é o seu nome, que é definido como uma palavra que o designa. Logo, é uma expressão que a iden- tifica na função empresarial. Segundo o art. 1°, caput, da IN/DREI 15/2013: “nome empresarial é aquele sob o qual o empresário individual, empresa individual de responsabilidade Ltda. – EIRELI, as sociedades empresárias, as cooperativas exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas pertinentes” (BRASIL, 2013a). O nome tem duas funções importantes, sendo: a subjetiva (que indivi- dualiza e identifica a pessoa jurídica como um sujeito de direito) e a objetiva (que garante a essa pessoa jurídica sua fama, reputação). É importante destacar que o nome empresarial não é sinônimo de marca nem do nome fantasia, nome do domínio ou, ainda, os chamados sinais de propaganda. Verificam-se as seguintes diferenças: 2 Segundo o artigo 122 da Lei n. 9.279/1996 (BRASIL, 1996), marca é “aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa”. Logo, pode-se entender marca como uma representação simbólica que identifica o produto ou o serviço do empresário. Sua tutela é feita pelo direito de propriedade industrial. 2 O nome fantasia é um “apelido” que a empresa possui, ou seja, é um termo pelo qual a empresa é chamada – pode ser conside- rado como um nome popular, pelo qual a empresa é conhecida por seus consumidores. 2 O nome de domínio é uma identificação eletrônica da página em que o produto se encontra ou, ainda, um endereço eletrônico, que tem como finalidade a memorização do endereço do site empresa- rial na internet pelos usuários. Segundo o Enunciado 7, da I Jor- nada de Direito Comercial do CJF: “O nome de domínio integra o estabelecimento empresarial como bem incorpóreo para todos os fins de direito” (BRASIL, 2013b). 2 Os sinais de propaganda têm a finalidade de chamar atenção dos consumidores. A Lei n. 9.279/1996 não manteve o dispositivo que tutelava esse objeto. Todavia, existe o Conselho de Autorregula- Legislação Empresarial – 32 – mentação Publicitária (CONAR), o qual fiscaliza os sinais de pro- pagandas e impõe normas aos seus associados. 2.3 O empresário e o direito dos consumidores (desconsideração da personalidade jurídica) Atualmente, a relação entre consumidores é disciplinada pela Lei n. 8.078/90 (BRASIL, 1990), o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, que tem a finalidade de proteger os consumidores contra os abusos de forne- cedores de produtos e serviços. Essa lei é acionada toda vez que, numa relação mercantil de consumo, em uma das partes está o consumidor – que, de acordo com o artigo 2° dessa lei, é: “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final”. No outro polo, deve se encontrar o fornecedor, que o artigo 3° traz como a “pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estran- geira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, expor- tação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços” (BRASIL, 1990). Nesse contexto, sempre que houver uma relação entre quem exerce a atividade de fornecer bens ou serviços, seja para o mercado ou para o consu- midor final, está se falando de uma relação de consumo. Logo, o Código do Consumidor deve ser a fonte para sanar possíveis controvérsias nesta relação jurídica ou nas derivadas dela. Os contratos de compra e venda podem ser caracterizados como uma relação de consumo quando em um dos polos da relação se encontra o consu- midor final. Como quando alguém compra um carro diretamente da fábrica ou da concessionária. A mercadoria – o carro – será entregue para a pessoa que usufruirá do bem. Porém, quando a concessionária compra o carro da fábrica para revenda, encontra-se diante deuma relação mercantil, pois nessa situação não se encontra o consumidor final. Outro exemplo de relação mercantil ocorre quando você compra um carro usado de seu vizinho. Em tal exemplo, verifi- ca-se a falta do fornecedor. Nesses dois casos, o dispositivo legal para pautar – 33 – Direito Empresarial possíveis conflitos é o Código Civil, e não o Código do Consumidor, como nos primeiros exemplos. O conceito de fornecedor está abarcado no conceito de empresário; nesse sentido o fornecedor é um empresário, que deve se pautar nas suas relações pelo Código do Consumidor. Observa-se ainda que a relação ou o contrato de consumo traz diversos direitos aos consumidores, em vários aspectos – entre eles, podem-se citar os prazos, a qualidade do bem etc. Um dos temas que o Código do Consumidor disciplina é a qualidade do produto e do serviço. Com essa finalidade essa lei prevê três conceitos importantes: fornecimento perigoso, defeituoso e viciado (BRASIL, 1990). O fornecimento perigoso é aquele que expõe o consumidor a risco, devido ao produto ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informa- ções prestadas pelo fornecedor. Logo, pode-se entender que o fornecimento é perigoso, não porque o produto ou o serviço esteja com defeito, mas porque, por falta de informação, o consumidor gerou o dano e, por consequência, colocou sua vida, ou sua saúde, sua integridade física em risco. Exemplo de fornecimento perigoso é o produto de limpeza que não tem nenhum defeito e nenhum vício, porém não traz nenhuma informação na embalagem ou no rótulo sobre sua composição química ou acerca de possíveis efeitos nocivos. Conforme o artigo 8° do Código do Consumidor, o fabricante está dis- pensado de fornecer informações somente nos casos em que o consumidor tenha conhecimento prévio de possíveis danos, ou seja, os “riscos considera- dos normais e previsíveis” (BRASIL, 1990). Como é o caso dos fabricantes de copo de vidro, que não precisam informar que, caso o produto quebre, pode o consumidor se cortar, pois essa informação é difundida entre os consumidores. Nesse caso de fornecimento perigoso, o problema seria sanado caso as informações fossem suficientes e adequadas para os consumidores. Todavia, o artigo 10 da mesma lei adverte que é proibido o fornecimento de produtos e bens que sejam altamente nocivos ou perigos para a saúde e para a segurança do consumidor, logo, o fornecedor não consegue, por meio de informações de rótulo ou de embalagem, fornecer todas as precauções que o consumidor necessita tomar para manusear o produto ou o serviço. Os fornecedores (o fabricante, o produtor, o construtor, o importador e o prestador de serviço) respondem por dano causado por fornecimento Legislação Empresarial – 34 – perigoso de forma objetiva, ou seja, caso ocorra dano por falta de informação no rótulo e na embalagem, os sujeitos que fornecem o bem e o serviço serão considerados culpados, independentemente da vontade (ou não) de prejudi- car alguém. O fornecimento defeituoso ocorre quando os produtos ou serviços apre- sentam incongruência, ou seja, o produto ou o serviço tem um problema no seu fornecimento. Perceba que, nesse caso, por mais que haja informação adequada no rótulo ou na embalagem, o dano foi causado porque o produto estava com problemas. Exemplo de fornecimento defeituoso, por erro de fábrica, é quando a bateria do celular esquenta demais, ocasionando uma pequena explosão, enquanto o celular está no bolso e, consequentemente, queima a pele do con- sumidor. Nesse caso, o erro foi de fábrica, pois o consumidor não utilizou de modo errado o produto em questão. A responsabilidade do fabricante, produtor, construtor e importador dos produtos ou do prestador de serviços, nas hipóteses de fornecimento defeituoso, é objetiva, ou seja, independentemente de culpa por parte do fabricante, este deverá indenizar o consumidor. A legislação atual expõe que existem algumas hipóteses em que o dano derivado do consumo não será de responsabilidade do fabricante, conforme o artigo 12, § 3°: a) quando o fabricante, na sua linha de produção, verificou possível defeito no produto e o descartou, porém alguém furtou esse produto e o comercializou, b) quando não existe defeito no produto, sendo caso for- tuito ocorrido após o fornecimento; c) quando a culpa do defeito é exclusiva do consumidor. Por fim, o fornecimento viciado corresponde ao serviço ou o produto que possui vício ou defeito de fábrica, porém é detectado pelo consumidor. Por exemplo, no caso de um carro que tem problema no motor, mas em que tal problema é descoberto pelo consumidor antes de qualquer tipo de aci- dente, estamos falando de um vício. Todavia, se o problema do motor não for descoberto antes do acidente, trata-se de uma coisa defeituosa. Ressalta-se, ainda, que os defeitos podem ser redibitórios ou aparentes. No primeiro caso, os defeitos são ocultos, sendo revelados somente mediante – 35 – Direito Empresarial testes e exames técnicos, enquanto o segundo refere-se aos vícios que podem ser vistos com uma simples análise do adquirente. Quando ocorre o fornecimento por coisa com defeito, o fabricante pode solucionar a situação de três modos: a) devolver o dinheiro corrigido; b) dimi- nuir o preço; ou c) substituir o produto ou reexecutar o serviço. Todavia, quando a coisa for viciada, só se poderá utilizar as duas primeiras hipóteses para resolver a questão. A legislação prevê que o direito do consumidor de reclamar de um pro- duto ou serviço não durável é de 30 dias, porém, quando o produto ou ser- viço for considerado durável, esse período sobe para 90 dias, começando esse tempo, nas duas hipóteses, na entrega do produto ou na realização do serviço. Conforme o Código do Consumidor, o fornecedor não pode fazer publici- dade simulada, enganosa ou, ainda, abusiva (BRASIL, 2002a). Publicidade simu- lada contempla os anúncios feitos de forma a ocultar seu caráter de propaganda. Exemplos disso são as reportagens que, na verdade, tem intuito de fazer propaganda. A publicidade enganosa é aquela que leva o consumidor ao erro, ou seja, são publicidades que não têm todas as informações, ou estas são falsas. Por exemplo, as propagandas do castelo da Barbie que não informam que os bonecos não estão inclusosno briquedo. Muitas mães, ao irem à loja, verificam que o produto é vendido separadamente, gerando assim muitos transtornos. A publicidade abusiva é aquela que agride os valores sociais, como é o caso das propagandas de cigarro que não tenham nenhum tipo de alerta de que o cigarro faz mal à saúde. Também são considerados abusivos os anúncios racistas, sexistas, discriminatórios e lesivos ao meio ambiente. Os empresários que promoverem publicidade enganosa ou abusiva podem ser responsabilizados civil e penalmente, bem como deverão indeni- zar o consumidor. No caso das propagandas enganosas, o consumidor poderá solicitar a aquisição dos produtos e serviços nas condições apresentadas. Em suma, o Código do Consumidor tem como objetivo coibir ações dos fabricantes que sejam danosas aos consumidores, bem como responsabilizar a pessoa do empresário pelo fornecimento de produtos ou serviços que colo- quem em risco a vida da pessoa ou a sua saúde. Legislação Empresarial – 36 – Um dos dispositivos legais que essa lei prevê é a desconsideração da personali- dade jurídica, no seu artigo 28, nos casos em que o empresário fraudar ou abusar do seu direito para satisfazer seu interesse econômico em detrimento do consumidor. Ampliando seus conhecimentos Desconsideração da personalidade jurídica da sociedade limitada e a responsabilidade civil dos sócios administradores (SOUZA, 2017) [...] A desconsideração da personalidade jurídica é instituto essencial para combater as fraudes praticadas por meio de pes- soas jurídicas afastando a autonomia patrimonial entre sócios e sociedade; dessa forma o caráter absoluto da autonomia patrimonial restou superado diante da constataçãode que ela poderia ser utilizada para fins ilícitos. Assim, a desconside- ração da personalidade jurídica contribui para o aperfeiçoa- mento da pessoa jurídica, pois permite afastar os efeitos da personificação para um caso específico, sem extingui-la. O resultado da pesquisa reforçou que a separação patrimo- nial estabelecida entre a sociedade empresária e seus sócios constitui um incentivo essencial para a iniciativa privada e, con- sequentemente, para a propulsão da atividade econômica. Portanto, assim como não visa extinguir a pessoa jurídica, a desconsideração também não visa extinguir a autonomia patri- monial, muito pelo contrário, o objetivo é assegurar que a pessoa jurídica seja utilizada para atender ao seu objeto social, – 37 – Direito Empresarial em toda sua plenitude, sem que haja deturpação da sua finali- dade por meio de fraudes. Entretanto, ao mesmo tempo em que não se pode permitir que a autonomia patrimonial decorrente da personalização seja usada de escudo para a prática de atos ilícitos, também, não se deve permitir a aplicação desenfreada e abusiva da desconsideração, desvinculada dos seus fundamentos, o que provocaria o desvirtuamento da teoria e do próprio instituto da pessoa jurídica, motivo pelo qual no âmbito do Direito Civil se aplica a teoria onde para desconsiderar a persona- lidade jurídica é indispensável a prova de fraude, desvio de finalidade e confusão patrimonial, ou seja, a ausência de patri- mônio da sociedade, por si só, não é motivo suficiente para ensejar a aplicação da superação da autonomia patrimonial da pessoa jurídica e a consequente responsabilização dos seus sócios ou administradores. O art. 50 do Código Civil fixou expressamente a necessidade de existência do abuso do direito para a declaração de des- consideração, e elegeu como circunstâncias caracterizadoras deste abuso o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial. Contudo, a utilização do instituto é possível quando presentes os pressupostos previstos em lei, ou seja, devendo ser observado se o caso concreto é passível de desconsideração da personali- dade jurídica, pois quando não estão presentes os pressupostos para desconsideração ou quando for possível a responsabiliza- ção direta do sócio administrador por ato praticado, não é cabí- vel a desconsideração da personalidade jurídica. Destaca-se ainda a importância de o instituto estar devida- mente formalizado processualmente, diminuindo os riscos de ser aplicado de forma errônea e consequentemente trazendo prejuízos, seja para o credor, seja para o sócio administrador Legislação Empresarial – 38 – atingido pela desconsideração da personalidade jurídica, e ainda, baseado no contraditório e ampla defesa observando o devido processo legal. Por meio do presente estudo, se infere que o estudo da des- consideração da personalidade jurídica aplicada à sociedade limitada é extremamente relevante, pois este tipo societário é o mais comumente adotado, principalmente pela responsabi- lidade limitada dos sócios, porém conforme observado nas doutrinas estudadas, mesmo nas sociedades limitadas podem os sócios responder ilimitadamente em casos de prática de atos ilícitos mobilizados por meio da pessoa jurídica. [...] Atividades 1. Sobre o empresário, assinale a alternativa correta: a. É aquele que executa atividade por um lapso de tempo. b. É o empregado que realiza as atividades em nome do dono da empresa. c. É quem exerce profissionalmente atividade econômica organi- zada para a produção ou circulação de bens ou serviços. d. É aquele que possui mais votos na Assembleia Geral de Cotistas. 2. Os empresários devem manter, obrigatoriamente, dois livros empresariais, em boa ordem e guarda, que são: a. Livro Diário e Livro Razão. b. Livro Diário e Livro-Caixa. c. Livro-caixa e Livro Razão. d. Livro-Caixa e Livro de Inventário. – 39 – Direito Empresarial 3. Quando o empresário expõe o consumidor a risco, devido ao pro- duto ou serviço sofrer por falta ou inconformidade das informações prestadas pelo fornecedor, estamos diante de: a. fornecimento perigoso. b. fornecimento defeituoso. c. fornecimento viciado. d. propaganda enganosa. 3 Direito Societário Introdução Neste capítulo, o objetivo é proporcionar a compreensão dos conceitos oriundos da sociedade empresarial, demonstrando, assim, os principais temas relacionados ao conjunto de agentes cuja finalidade é exercer a função de empresário. Os conhecimentos são importantes para que se desenvolva o entendimento prático da legislação empresarial, visto que no Brasil há mais de 16 milhões de empresas, que se diferem por seu escopo, bem como pela sua formação societária, conforme dados da Confe- deração Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (2017). Legislação Empresarial – 42 – 3.1 Sociedades empresárias: conceito e elementos O conceito de empresário, elencado no artigo 966 do Código Civil (BRASIL, 2002), refere-se a uma pessoa física ou jurídica. Logo, pode-se entender que a pessoa física é o empresário. Entretanto, a pessoa jurídica diz respeito à sociedade empresarial. É oportuno observar que, conforme o artigo 980 – A do Código Civil, existe uma nova estrutura de empresário, que é a EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada. No panorama empresarial, verifica-se que 73% do PIB (Produto Interno Bruto), no ano de 2011, em contrapartida o empresário individual, movi- mentaram 599 bilhões de reais do mesmo período, em conformidade com os dados do Sebrae (2014). Logo, pode-se entender que as sociedades empresa- riais têm um desempenho muito relevante na economia. Pode-se compreender que essa atuação mais importante da sociedade empresarial no panorama econômico ocorre, conforme Coelho (2016), por- que as pessoas jurídicas buscam em suas ações diminuir os riscos empresariais, haja vista que os empresários constituem uma sociedade, uma vez que, neste modelo, ocorre a separação do patrimônio da empresa, que é desvinculada da pessoa do empresário, e, ainda, a possibilidade de limitação de responsabili- dade. Com o surgimento da EIRELI, na visão de Bertoldi e Ribeiro (2016), ocorrerá a diminuição de sociedades empresárias. A sociedade empresária é conceituada, conforme Fazzio Júnior (2016, p. 112), como “pessoa jurídica de direito privado, implementada por um contrato, cujo objeto social é a exploração de atividade empresarial, ou que, independentemente de seu objeto, adota a forma societária por ações”. Em suma, pode-se entender que a sociedade é uma pessoa jurídica que deriva de um contrato – Contrato Social ou estatuto da sociedade. Nesse contexto, é importante destacar que a sociedade empresária se fundamenta na condição de ser consequência de um contrato plurilateral de organização, bem como é uma pessoa jurídica de direito privado. Con- quanto o artigo 44 do Código Civil (BRASIL, 2002) considere as sociedades como pessoas jurídicas de direito privado, juntamente com as associações, as fundações, as sociedades, os partidos políticos, as organizações religiosas e a – 43 – Direito Societário EIRELI. Nem toda a sociedade possui personalidade jurídica, como é o caso das sociedades em comum (sociedade transitória) e a sociedade em conta de participação, regulamentada pelos artigos 986 até 996 do Código Civil. Consoante ao artigo 981 do Código Civil (BRASIL, 2002), o conceito de sociedade é o “contrato em que pessoas reciprocamente se obrigam a con- tribuir com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”. Logo, podem-se perceber algumas caracte- rísticas presentes: 2 Contrato: conforme Negrão (2016, p. 24), é instrumento público ou particular, registrado (todas as sociedades personificadas) ou não levado a registro (sociedade em comum e em conta de participação). 2 Pessoas: refere-se a todas as possibilidades previstas na legislação, lembrando que a sociedade em nome coletivo, conforme o artigo 1.039 do CódigoCivil, só pode ser formada por pessoas natu- rais. Entretanto a sociedade subsidiária integral será constituída somente por pessoa jurídica, segundo o artigo 251 da LSA, e a sociedade em comandita simples terá sua composição de pessoas naturais na qualidade de sócios comanditados, no entendimento do artigo 1.045 do Código Civil, pessoas naturais ou jurídicas como sócios comanditários. 2 Contribuição com bens e/ou serviços e partilha dos resultados: a sociedade tem como essência a junção do capital ou dos esforços das pessoas que contribuem para sua constituição, bem como todos os resultados são divididos entre os participantes da sociedade. É importante, ainda, destacar que as sociedades são pessoas jurídicas que exercem atividade empresarial, cujo objetivo é o lucro, e têm o seu obje- tivo negocial. Logo, pode-se entender que a sociedade se difere das demais pessoas jurídicas de direito privado, elencada no artigo 44 do Código Civil, por possuir a finalidade lucrativa, bem como por ser o empresário uma pes- soa jurídica ou física que exerce profissionalmente uma atividade econômica organizada (artigo 966 do Código Civil). Nesse contexto, é importante observar que nem toda a atividade eco- nômica pode ser considerada atividade empresarial, visto que, para ser uma Legislação Empresarial – 44 – atividade empresarial, deve ter a organização dos fatores de produção. As sociedades podem ser classificadas em duas categorias: 2 Sociedades simples: são as constituídas por uniprofissionais. Exem- plo: sociedades compostas por contadores. 2 Sociedades empresárias: são as que exploram a atividade empresa- rial, em conformidade com o artigo 966 do Código Civil, que res- salta que o empresário exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. As sociedades são organizações econômicas, constituídas juridicamente por mais de uma pessoa física ou jurídica. Possuem patrimônio próprio e têm como finalidade a exploração empresarial, cujo fim é a produção de bens ou serviços visando ao lucro. Os requisitos da sociedade empresarial são: 2 agente capaz; 2 objeto lícito; 2 pluralidade de sócios; 2 constituição de capital; 2 conformidade com a lei. A sociedade empresarial nasce da produção de um contrato. Nesse sen- tido, pode-se entender como uma sociedade contratual, cuja personalidade jurídica deriva do registro da Junta Comercial. No entanto, esse contrato pode ser considerado como um pacto que tem a finalidade de constituir uma pessoa jurídica. Logo, pode-se perceber que a sociedade empresarial é a união de várias pessoas físicas ou pessoas jurídicas, com o objetivo de lucro, por meio de exploração de atividade econômica, a qual possui como escopo a produção e circulação de bens e/ou serviços. Pode-se entender ainda que o estatuto da empresa tem essência contra- tual, visto que é considerado um contrato institucional, no qual mais de duas pessoas, por meio de escritura pública ou deliberação assemblear, colaboram com a concepção do capital social e, por consequência, recebem o direito de auferir lucros pela exploração da atividade empresarial. É oportuno ressaltar – 45 – Direito Societário que, nas sociedades anônimas, os acionistas são partícipes de capital; logo, essa sociedade não está vinculada aos sócios, todavia os acionistas firmam o capital para criar a companhia. De acordo com o artigo 982 do Código Civil (BRASIL, 2002): “salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, sim- ples, as demais”. Logo, pode-se entender que o que conceitua uma sociedade empresarial é seu objetivo social, que deve ser a exploração da empresarialidade. Entretanto, na concepção de Fazzio (2016), para que seja uma sociedade empresária, deve ser formalizada essa união de pessoas, ou seja, deve ser mate- rializada por meio de Contrato Social, que deverá ser celebrado por todos os sócios e conforme o dispositivo 45 do Código Civil. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começará com a inscrição de seus contra- tos, atos constitutivos, estatutos ou compromissos em seu registro peculiar. O artigo 982 do Código Civil (BRASIL, 2002) traz duas hipóteses em que a sociedade é empresarial, independentemente do seu escopo, pois traz em seu contexto que: “independentemente de seu objeto, considera-se empre- sária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa”. Em suma, a sociedade por ações, como é o caso da sociedade anônima, será considerada uma socie- dade empresária, mesmo que seu objetivo não seja o exercício de empresa. E a sociedade cooperativa vai ser sempre sociedade simples. Observe que as sociedades simples, também denominadas sociedades uniprofissionais, são as que têm como objeto a exploração da profissão intelec- tual dos seus sócios. Nesse tipo de sociedade, a presença da organização dos fatores de produção nem sempre está presente, porém existe uma hipótese em que pode existir a organização citada, que são os casos em que os sócios são elementos da empresa, ou seja, exploram seu objeto social com organização dos fatores de produção. A presença da organização dos fatores de produção na empresa uniprofissional faz que o profissional intelectual seja entendido como empresário. Esse entendimento também se expande para a sociedade de profissionais intelectuais. Legislação Empresarial – 46 – 3.2 Distinção das sociedades empresárias O artigo 983 do Código Civil (BRASIL, 2002) traz que “a sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos artigos 1.039 a 1.092; a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são pró- prias”. Nesse sentido, as sociedades empresariais, em conformidade com o Código Civil, podem ser organizadas como: 2 sociedade em nome coletivo (artigos 1.039 a 1.044); 2 sociedade em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051); 2 sociedade anônima (artigos 1.088 a 1.089 c/c a Lei n. 6.404/1976); 2 sociedade limitada (artigos 1.052 a 1.087); 2 sociedade em comandita por ações (artigos 1.090 a 1.092); 2 sociedade simples. Primeiramente, é importante observar que a sociedade simples não está elencada nos tipos descritos no artigo 983, porém pode ser organizada no formato de tipos empresariais, com exceção da modalidade de sociedade por ações, conforme o artigo 982, parágrafo único, do Código Civil. Nesse con- texto, uma sociedade simples pode ser classificada em: 2 sociedade simples pura (artigos 997 a 1.038); 2 sociedade em nome coletivo (artigos 1.039 a 1.044); 2 sociedade em comandita simples (artigos 1.045 a 1.051); 2 sociedade limitada (artigos 1.052 a 1.087); Observa-se ainda que, conforme o artigo 982, parágrafo único, do Código Civil (BRASIL, 2002), uma sociedade cooperativa sempre será con- siderada uma sociedade simples, independentemente de seu objeto social. A sociedade simples, segundo os artigos 981 e 982 do Código Civil, refere-se a uma sociedade uniprofissional. Logo, são sociedades constituídas por profissionais intelectuais, cuja finalidade social é a realização de atividades intelectuais de seus sócios. Apesar de esse tipo societário ser considerado uma pessoa jurídica, não – 47 – Direito Societário pode sofrer falência. Seu registro deve ser realizado no Cartório, e não na Junta Comercial, conforme estabelecido no artigo 984 do Código Civil. Sobre as demais sociedades previstas no Código Civil, é importante destacar que as modalidades de sociedades se diferenciam segundo a sua atividade econômica. No que se refere à sociedade em nome coletivo, essa só pode ser constituída por pessoas físicas, tendo como responsável pelas obrigações sociais todos os sócios de forma ilimitada e solidária. Todavia, é facultado aos membros da sociedade em nome coletivo, limitar, no ato constitutivo,
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