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Os estados-limite e o trabalho do negativo: uma contribuição de A. Green para a clínica contemporânea
GARCIA, Claudia Amorim. Os estados-limite e o trabalho do negativo: uma contribuição de A. Green para a clínica contemporânea. Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, vol.7, n.1, p. 123-135, 2007. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/malestar/v7n1/08.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2019.
- Estados-limites: nesses casos, que caracterizam o que vem sendo denominado de clínica do vazio, a onipresença do objeto invasivo e a inacessibilidade do objeto idealizado interferem gravemente na capacidade de construir representações;
- A impossibilidade de constituir a ausência enquanto presença em potencial impede o pensamento e o acesso ao desejo, enquanto que as angústias de fusão e de separação atestam a fragilidade dos limites psíquicos;
- Os ataques constantes ao enquadre e a atmosfera densa e nebulosa dominante no espaço analítico provocam movimentos internos, no analista, no sentido não apenas de proteger o enquadre, mas também de dar forma e uma certa ordenação ao material incipiente e fragmentado que o paciente apresenta. p. 128;
- Na ausência de uma capacidade vinculatória que possa se expressar na construção de representações, o paciente mobiliza a estrutura de pensamento do analista, o que garante a simbolização necessária à realização de uma análise. p.128;
- os movimentos internos que ocorrem com o analista indicam [...] uma incapacidade de representar, aqui entendida como resultante da oscilação entre o excesso e a falta do objeto no espaço psíquico. p.128;
- A onipresença do objeto intrusivo e a inacessibilidade do objeto idealizado impedem a construção de representações, e, portanto, do pensamento; p.128;
- O paciente se apresenta numa situação de impasse em que se alternam as atividades de vinculação e disjunção, situação na qual, portanto, libido e destrutividade se degladiam, o que impede o acesso ao prazer, sempre contaminado pela agressividade.; p.128;
- As vicissitudes do objeto nos estados-limite resultam em intensas angústias de intrusão e de separação; p.128;
- os movimentos do paciente em análise parecem indicar um esforço no sentido de se livrar de uma experiência psíquica insuportável através da exclusão somática e da expulsão via ação; p.128;
- a questão do negativo [...] é atribuída à depressão primária, manifestação inequívoca de um desinvestimento pulsional radical que parece apontar na direção do vazio e do nada [...]. p.130;
- a cisão específica dos estados-limite é uma expressão da pulsão de morte. p.130;
- a cisão tem um efeito disruptivo sobre a capacidade vinculatória do sujeito interferindo na sua possibilidade de construir símbolos e, portanto, pensar. p.130;
- tanto a cisão típica dos limítrofes [...] quanto a depressão primária são expressões radicais do negativo e representam respostas ao ambiente que não se mostrou suficientemente bom. p.130;
- A preocupação em manter uma identidade sempre precária e ameaçada pelas angústias de intrusão e de separação está no centro das relações de objeto, no caso dos estados limite; p.131;
- o movimento desejante ocupa lugar secundário em relação à necessidade de se defender do objeto intrusivo e assegurar a continuidade sempre frágil das fronteiras psíquicas; p.131;
- expulsão do desprazeroso no mundo externo: um incipiente trabalho do negativo.; p.132;
- é como efeito do trabalho do negativo nas suas diferentes manifestações – expulsão, recalque, alucinação negativa e negação – que se constroem os limites dentro/fora e os limites intrapsíquicos; p.132;
- estes pacientes não são capazes de realizar a alucinação negativa da representação do objeto mãe em conseqüência da falta de um bom objeto interno; p.132;
- “clínica do vazio”, que se caracterizaria pelo efeito combinado do desinvestimento, da destrutividade, da fusão com o objeto e da identificação com o objeto destruído pela separação; p.133;
- a necessidade incontornável de que o objeto absolutamente necessário (objeto primário mãe) seja apagado para que o espaço psíquico possa, então, ser construído de maneira a possibilitar a trajetória desejante e o pensamento; p.134;
- O trabalho do negativo é o que permite que o objeto possa satisfatoriamente estimular e conter a pulsão e também permitir a emergência de vários objetos substitutivos, fonte de atração e repulsa, daí por diante; p.134
- Quando o objeto não se deixa apagar, isto é, não se apresenta como falível e insatisfatório, mas conserva seu caráter de absoluto, ocorre um desvio de sua função primordial, que resulta na coalescência do objeto com a pulsão.; p.134;
- a função de contenção e amansamento da pulsão é neutralizada, tornando-a ainda mais intolerável, e o excesso de presença do objeto suscita expressões pulsionais que escapam à representação, como a passagem ao ato, a toxicomania e as formações psicossomáticas, manifestações presentes na clínica dos limites na qual a onipresença do objeto resulta, em última análise, na impossibilidade de pensar; p.134
O trabalho do negativo e suas vinculações com as pulsões de vida e de morte.
KOTTLER, Arthur; ZORNIG, Silvia Abu-Jamra. O trabalho do negativo e suas vinculações com as pulsões de vida e de morte. Tempo Psicanalítico, Rio de Janeiro, v. 50, n.1, p. 215-235, 2018. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/pdf/tpsi/v50n1/v50n1a11.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2019.
- André Green (1927-2012) buscou criar uma teoria para descrever operações psíquicas relativas à temática do negativo, designando-as pela expressão “trabalho do negativo”.; p.216;
- na obra freudiana referências explícitas ao termo “negativo”, as quais Green utilizou para a elaboração de sua teoria acerca do trabalho do negativo, são elas: a alucinação negativa, a transferência negativa, a reação terapêutica negativa, a neurose como negativo da perversão e o artigo “A negativa” – Verneinung; p.216;
- Nesse sentido, o autor propõe reagrupar a forclusão (Verwerfung), a clivagem ou o repúdio (Verleugnung), a denegação (Verneinung), bem como o recalque (Verdrängung) como formando, em conjunto, o trabalho do negativo; p.217;
- 
O silêncio no psiquismo: uma manifestação do trabalho do negativo patológico.
GARCIA, Claudia Amorim; DAMOUS, Issa. O silêncio no psiquismo: uma manifestação do trabalho do negativo patológico. Caderno de Psicanálise-CPRJ, Rio de Janeiro, v.31, n. 22, p. 105-115, 2009. Disponível em: <http://www.cprj.com.br/imagenscadernos/09.O_silencio_no_psiquismo.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2019.
- (Green, 1986a). A sua proposta nesse sentido é compreender a meta essencial da pulsão de vida como sendo a de garantir uma função objetalizante, isto é, criar relação com o objeto, interno e externo, assim como transformar estruturas em objeto; p.106;
- a meta objetalizante das pulsões de vida garante a simbolização. Em contrapartida, a meta da pulsão de morte é realizar uma função desobjetalizante. No desligamento que ela empreende são atacadas as relações com o objeto e também o próprio investimento. O desinvestimento constitui-se, portanto, na manifestação própria à pulsão de morte. p.107;
- as operações negativizantes, que a pulsão de morte coloca em prática através da função desobjetalizante, não comportam necessariamente uma dimensão puramente destrutiva uma vez que são cruciais para o sucesso do trabalho do negativo no seu propósito de estruturar os limites intra e inter-psíquicos e, em última instância, os processos de simbolização. P.107;
- A elaboração teórica de Green (1988a) nos permite afirmar que o sucesso dos processos simbólicos está diretamente atrelado à constituição de uma ausência na psique ou, dito de outro modo, de um espaço psíquico pessoal. p.107;
-duplo-limite engloba tanto os limites entre eu/não-eu quanto os limites intra-psíquicos. P.107;
- o duplo limite e o trabalho do negativo se dão no contexto das relações objetais primárias e se sustentam daí por diante num jogo suficientemente bom de presença e distanciamento do objeto, algo queabrange, é claro, o manejo adequado do tempo das respostas às exigências de satisfação. p.107;
- O trabalho do negativo representa diferentes maneiras de constituir limites ou de estabelecer barreiras (Green, 1990), isto é de dizer não. P.107;
- O vocábulo negativo[...] se refere ao trabalho de constituir uma ausência latente, ou seja, algo que mantém sua existência potencial mesmo que não seja mais perceptível. P.107;
- o trabalho do negativo em psicanálise abrange o conjunto das operações psíquicas que exercem uma função de negativização tais como a excorporação, o recalcamento, a alucinação negativa, a clivagem e a negativa. P.107;
- os mecanismos negativizadores são essenciais pois permitem o apagamento do objeto primário e sua internalização como estrutura psíquica, o que possibilita o desenho de um espaço psíquico pessoal e os processos de simbolização. P. 107;
- Green (1986b, 1988b) considera a excorporação como a manifestação inaugural do trabalho do negativo para a constituição dos limites psíquicos. P. 108;
- O movimento de expulsão do que é mau assegura dessa maneira os primórdios de uma diferenciação eu/não-eu pois instaura um espaço interno onde o ego pode nascer como organização mais complexa. (dizer não ao objeto); p.108;
- As aceitações e recusas por parte do objeto, em respostas processadas num prazo suficiente e tolerável, são o ponto de partida para o recalcamento, outra manifestação do trabalho do negativo. P.108;
- Estritamente associado à produção de representações (Green, 2002), e essencial à organização
do ego e às ligações que ele pode estabelecer a partir das experiências de satisfação, o recalque é também fundamental no domínio interno da violência pulsional. P.109;
- A alucinação negativa é outra manifestação do trabalho do negativo estruturante que implica na “não-percepção de um objeto ou de um fenômeno psíquico perceptível”. Trata-se nesse sentido de: a) externamente apagar ou de se recusar a perceber aquilo que deveria ser percebido porque é intolerável ou insuportável e de b) internamente não conseguir tornar consciente uma representação inconsciente de desejo. P.109;
- É justamente no plano da linguagem que opera ainda a negativa, outra manifestação do trabalho do negativo, em que um conteúdo recalcado irrompe na consciência apenas sob condição da negação. P.109;
- a clivagem e a recusa apresentam como mecanismos psíquicos também representativos do trabalho do negativo. P.109;
- De uma maneira geral, é o trabalho do negativo em várias de suas manifestações que viabiliza o apagamento do objeto primário e a conseqüente constituição do duplo limite que abarca tanto o plano eu-outro quanto o plano intra-psíquico, condição sine et qua non para que se construa um espaço psíquico pessoal capaz de assegurar os processos de simbolização. P.109;
- Em contrapartida, quando fracassa o trabalho do negativo, a constituição dos limites eu-outro que favoreceriam uma percepção de si mais ou menos delimitada, assim como também a constituição dos limites intra-psíquicos que capacitariam a simbolização e, conseqüentemente, o domínio interno da violência pulsional, ficam seriamente comprometidos. P. 110;
- Nesse caso, o duplo limite não se constitui adequadamente e o que se presencia clinicamente são ataques ao enquadre, recidivas agressivas, atuações extra-representativas e desafios à manutenção da regra fundamental da associação livre. P.110;
- no que diz respeito à constituição dos limites psíquicos, o fracasso do trabalho do negativo está diretamente atrelado às falhas patológicas do objeto primário; p.110;
- é indispensável assinalar a necessidade de que o objeto primário desempenhe um papel fundamental durante as manifestações do trabalho do negativo em curso. Ele deve continuar se ocupando do bebê, descarregando-o de seus excessos desagradáveis, e [...] a projeção, consentindo em viver essas projeções como desprazer, porém transformando-as e restituindo-as ao bebê. P. 111;
- Quando se mostra insuficiente em seu modo de estar presente, isto é, não se deixa esquecer, o objeto permanece presente o tempo todo, por excesso de presença ou de ausência, o que de fato é experimentado da mesma forma. O objeto insuficiente então perverte sua função de contenção e provoca desse modo uma dupla angústia, de intrusão e de separação. P.111;
- Na medida em que não é negativizado ou esquecido, o objeto adere à pulsão e, em vez de torná-la mais tolerável, deixa-a sem solução. P.111;
- No trabalho do negativo radical a desobjetalização é tão intensa quanto a clivagem. Enquanto esta ocasiona a divisão que torna dissociada uma parte da realidade psíquica, a função desobjetalizante é uma tendência de fato radical para o estado zero de tensão. Ambos levam à indiferença, demarcando uma real falta de empatia pelo objeto e uma exacerbação do desinvestimento egóico. Resta assim apenas um anseio por desaparecer, ser atraído para a morte ou para o Nada que expressa uma ação silenciadora no psiquismo.
 p.113.
 Os destinos do trabalho do negativo nas patologias limítrofes
MENDES, Luiza da Costa; GARCIA, Claudia Amorim. Os destinos do trabalho do negativo nas patologias limítrofes. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 18, n. 2, p. 277-292, 2012. 
- [...] os aspectos narcísicos pré-edípicos são centrais (o que atesta o caráter primário de seus transtornos) e evidenciam uma pungente precariedade de seus limites psíquicos, articulada ao prejuízo representacional. p.278;
- O fronteiriço é, antes de tudo, uma organização bastante singular marcada principalmente pela fragilidade dos limites intrapsíquicos e intersubjetivos. P.278;
- Então, “não se trata simplesmente do problema dos limites do ego, mas também da desorganização dos limites no interior do aparelho psíquico” (p.278);
- o que está em pauta não é apenas a fragilidade da estrutura egoica ou a relação do eu com o objeto, mas também e principalmente a “permeabilidade excessiva entre o ego, o id e o superego” p.279;
- O intenso prejuízo à capacidade de pensar desses pacientes se articula justamente com essa dificuldade em separar interno/ externo, dentro/fora, eu/outro [...] p.279;
- uma maternagem “suficientemente ruim” caracterizada por uma mãe extremamente ausente ou extremamente presente e invasiva vai interferir drasticamente no desenvolvimento do psiquismo [...] tendo como uma de suas consequências a fragilização das fronteiras psíquicas. P. 279;
- a centralidade do objeto e suas oscilações no espaço psíquico, ora em excesso de presença, ora em ausência excessiva, interferem significativamente na construção do pensamento que depende de limites psíquicos bem construídos. p.279;
- Tais vicissitudes do objeto nos casos-limite resultam em intensas angústias, tanto de intrusão como de separação, [...] e apontam para o estado de permanente ameaça identitária que esses pacientes experienciam. p.280;
- Nos casos-limite, portanto, não houve a construção de um espaço interno neutro facilitador da emergência de objetos substitutivos. A ausência enquanto presença em potencial não se concretizou nesses casos por uma falta de experiências satisfatórias ou [...] a capacidade do bebê de estar só em presença da mãe não se efetivou, pois não houve o aporte de um ambiente suficientemente bom. p.280;
- O trabalho do negativo pode ser entendido como expressão princeps da pulsão de morte, pois sua tarefa consiste nas atividades de negativização, de rompimento, desligamento e, em última análise, de desobjetalização. P.281;
- É por meio, essencialmente, do dizer não que os limites psíquicos podem se estabelecer, favorecendo a capacidade de representação e a constituição subjetiva. P.281;
- toda negação pode ser estruturante ou patológica dependendo em que condições e em que contexto este não se dá. P.281;
- [...] um eu só pode ser reconhecido como tal quando um primeiro limite eu/não eu encontra-se estabelecido. A demarcação desse primeiro limite é resultante de uma expulsão (do mau);
- Quando lidamos com sujeitos quepuderam contar com objetos adequados que desempenharam devidamente suas funções podemos afirmar que o trabalho do negativo realizou sua tarefa de maneira satisfatória e estruturante, pois permitiu a construção de um espaço interno, de um vazio estruturante possível de ser ocupado por outros objetos; p.282;
- É por meio desse processo, viabilizado por uma maternagem suficientemente boa, que o objeto primordial pode então ceder lugar, tornando-se invisível, inaudível no psiquismo e, dessa forma, resultando em apagamento ou esquecimento enquanto objeto para se transformar em estrutura; p.282;
- Por outro lado, quanto mais esse objeto falha em suas funções, mais presente ele se torna e mais barulho faz, resultando numa presença caótica e ofuscante; p.282;
- Nesse sentido, tanto a ausência quanto o excesso de cuidados impossibilitam a construção de uma presença silenciosa, condição fundamental para a configuração desse vazio estruturante o qual poderá ser preenchido, posteriormente, por objetos substitutivos; p.282;
- Em ambos os casos, não foi cumprida a função de continência, deixou-se a criança à deriva de uma estimulação pulsional excessiva sentida por ela como mortífera. P.282;
- Então, seja por abandono ou intrusão, em ambos os casos, o objeto não se deixa esquecer, tornando-se onipresente em sua idealização/inacessibilidade (ausência) ou em sua invasão/excesso de presença; p.282;
- Nesses pacientes,
a alucinação negativa do objeto-mãe como expressão do trabalho do negativo
bem-sucedido não se deu e, consequentemente, o objeto absolutamente
necessário não pôde ser absorvido como estrutura enquadrante, mas, ao
contrário, continua a se fazer presente, preenchendo e perturbando o espaço
psíquico. P.282;
- Nesses casos, o trabalho do negativo fracassa e, em consequência disso, a pulsão torna-se intolerável, pois se amalgama com o objeto, emperrando uma distinção entre ambos, impossibilitando a ausência e, portanto, o processo de constituição do pensamento. P.282;
- A onipresença do objeto
absoluto, por um lado, evidencia que o trabalho do negativo estruturante
não aconteceu e, por outro, evoca manifestações do trabalho do negativo
patológico.; p.282;
- As “passagens ao ato, conduta perversa, toxicomania, baque depressivo, momento delirante, crise psicossomática, etc.” consistem em saídas extrarrepresentacionais que evidenciam essa
ação patológica do trabalho do negativo. P.282;
- Na ação patológica do trabalho do negativo a função desobjetalizante
(própria da pulsão de morte) manifesta-se de forma extremada, fracassando
em separar e delimitar o espaço psíquico., p.282;
- Há, então, o predomínio de uma ação radicalmente disjuntiva, na qual “o trabalho do negativo se realiza sob os auspícios das pulsões de destruição”, culminando na falência da constituição das barreiras intrapsíquicas e intersubjetivas, em ataques ao eu e às relações com o objeto que impedem a construção de vínculos.
 P.283;
- a clínica dos limites é o exemplo mais contundente das manifestações extremadas e patológicas do negativo que evidenciam a pulsão de morte em seu aspecto cruel e visceral. P.283;
- Nesses quadros, a meta da pulsão de morte é “realizar ao máximo uma função desobjetalizante através do desligamento. Esta qualificação permite compreender que não é somente a relação de objeto que é atacada, mas também todos os substitutos deste” p.283;
- Em outras palavras, quanto mais perto estivermos da pulsão e do representante psíquico, distanciando-nos da linguagem e da representação de palavras, mais radical e mortífero será o trabalho do negativo e mais a pulsão de morte será dominante [...]; p.283;
- E, ao contrário, quanto mais perto o trabalho do negativo estiver do recalque, mais a pulsão de vida estará imbricada com a pulsão de morte protegendo a vida ; p.283;
- A utilização de defesas radicais como o desligamento, a anestesia
psíquica (representantes eloquentes do narcisismo negativo) assim como o recurso à dor e também a clivagem, mecanismo psíquico central nesses casos, são exemplos contundentes do trabalho do negativo patológico. P.283;
- O impiedoso desligamento operado no sentido de destruição dos vínculos e afetos pode ser considerado uma manobra defensiva na tentativa de manter mais ou menos firme as fronteiras psíquicas do eu constantemente ameaçado diante do outro.; p.283;
- Por outro lado, contra a ameaça de fusão regressiva, o fronteiriço se anestesia, blindando seus afetos mais primitivos, numa tentativa extrema de se proteger de qualquer estimulação. P.284;
- a pulsão de morte, como trabalho do negativo, apesar de destrutiva, também porta, paradoxalmente, funções defensivas que objetivam a preservação da existência psíquica, por meio de uma redução da tensão a um nível suportável para o sujeito sempre ameaçado de desintegração. P.284;
- As saídas extrarrepresentacionais consistem em uma das várias manifestações de uma tendência negativizante patológica nos casos-limite, na qual se destacam a exclusão somática e a expulsão via ação. Esses recursos, frequentemente adotados pelo fronteiriço, indicam a vigência da face destrutiva da função desobjetalizante operando em toda sua potência P.286;
- na defesa somática há uma tentativa fracassada de encenar um conflito entre eu e objeto no qual os impulsos agressivos dirigidos para o soma acabam por provocar uma lesão orgânica, caracterizando uma espécie de acting-in, uma atuação-dentro ou um agir sobre o corpo que revela a inflexão da agressividade ante a impossibilidade de representar, de expressar simbolicamente o sofrimento psíquico. P. 287;
- A expulsão pelo ato também é considerada por Green (1988c) um mecanismo de um curto-circuito psíquico caracterizado por uma atuação-fora (acting-out), sendo “a contraparte externa da atuação-dentro psicossomática e tendo o mesmo valor na expulsão da realidade psíquica” (Green, 1988c, p. 45). Ou seja, na impossibilidade de lidar com o excesso pulsional, os mecanismos de defesa mais arcaicos são acionados no ego, na tentativa de deter uma invasão de forças desligadas. Como na exclusão somática, o recurso ao ato aparece como uma defesa de caráter primário, na qual os processos de elaboração psíquica malograram. P.287;
- as experiências traumáticas nos primórdios da existência
psíquica relacionadas às sucessivas falhas do objeto em responder às
necessidades de reconhecimento e satisfação (por meio da ultrapassagem
do tempo de espera suportado pela criança - Winnicott, 1975) vão desencadear respostas dissociativas e outras defesas arcaicas de caráter
narcísico que expressam a ação patológica do trabalho do negativo. P.288;
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