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Mateus G. Rangel AULA 1 – INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO SINTAGMA: SINTAXE – DEFINIÇÃO E OBJETO 1) CONCEITUAR SINTAXE; A sintaxe é algo muito simples e fundamental em nosso cotidiano, visto que é por meio dela que estruturamos o nosso discurso falado ou escrito. Comumente atribuímos o termo sintaxe à parte da gramática que se dedica ao estudo do sintagma, ou seja, dois ou mais elementos consecutivos, um dos quais é o determinado “principal” (Aquele que exerce função predominante na frase) e o outro o determinante “subordinado” (aquele que exerce função de subordinada no texto). 2) CARACTERIZAR OS SINTAGMAS COMO ELEMENTOS CONSTITUINTES DA ORAÇÃO; A alteração de sentido nas frases ocorrem, justamente por causa da alteração na ordenação dos constituintes na estrutura da frase, ou seja, por causa da mudança sintática da ordem sintática padrão (SVC). 3) IDENTIFICAR AS PROPRIEDADES DOS SINTAGMAS; Conforme Azeredo (1995, p. 32-33), são três as “peculiaridades distribucionais” dos sintagmas: a) DESLOCAMENTO: o sintagma se desloca na frase como um todo, para posições iniciais, mediais ou finais, não admitindo movimento de apenas um ou de alguns de seus constituintes. Ex.: Águas passadas não movem [moinhos]. Os sintagmas são “Águas passadas” e “não movem”, enquanto “moinhos”, é a estrutura interna do segundo sintagma; este, pode se mover para o início e meio da frase sem problemas modificação dos dois sintagmas deste exemplo. b) SUBSTITUIÇÃO: o sintagma é uma só estrutura de sentido e de forma, então pode ser substituído por uma unidade simples, como um pronome ou sinônimo. Ex.: Pedro seguiu João na rua. “Pedro segui-o lá”. O pronome oblíquo “o” e o advérbio de lugar “lá”, substituíram “João” e “rua”. c) COORDENAÇÃO: o sintagma admite a interposição de um conectivo coordenativo entre seus constituintes, de modo a se estabelecer equivalência funcional, ou coordenação, desses elementos. Ex.: João / seguiu [Pedro] / na rua. “João e Marcos / viram e seguiram / [Pedro e José] / na rua e no viaduto.”. Foram acrescidos novos elementos aos sintagmas da primeira frase; e o acrescimento de [José] fez aumentar um sintagma na frase. 4) DISTINGUIR OS DIFERENTES TIPOS DE SINTAGMAS. a) SINTAGMA NOMINAL (SN): Como o nome já indica, esse tipo de sintagma tem como determinado, ou núcleo, um substantivo comum, que poderá estar acompanhado de determinantes. Os determinantes que costumam anteceder o núcleo do SN são basicamente artigos e pronomes (demonstrativos, indefinidos, possessivos, entre outros). Hierarquicamente, portanto, o substantivo tem o principal papel no SN, enquanto os demais constituintes cumprem função secundária. Ex.: Aguas passadas Mateus G. Rangel não movem moinhos. “Águas” é o sujeito, e neste caso cumpre função principal (determinado). b) SINTAGMA VERBAL (SN): Trata-se de uma unidade caracterizada pela presença obrigatória do verbo. Essa unidade tem a função sintática específica de “predicado”. Em geral, o SV é constituído por outros sintagmas, que atuam como determinantes dentro do SV. c) SINTAGMA ADJETIVO (SAdj): Neste tipo de sintagma, o núcleo ou determinado é um adjetivo, que pode estar acompanhado de determinante, como artigo, pronome ou numeral, por exemplo. Na hierarquia que caracteriza as relações sintagmáticas, o SAdj participa da organização do SN, como parte periférica deste, atuando na condição de estratégia qualificadora. Por qualificar o núcleo do SN que o precede ou sucede na organização da frase, o SAdj concorda em gênero e número com esse núcleo. d) SINTAGMA ADVERBIAL (SAdv): O sintagma adverbial, como o nome indica, tem como determinado um advérbio. Via de regra, o sentido veiculado pelo SAdv incide sobre o verbo da frase. Dessa forma, assim como o SAdj se subordina ao núcleo do SN, o SAdv se subordina ao núcleo do SV. Ambos – SAdj e SAdv – ocupam posições e) SINTAGMA PR3EPOSICIONAL (SPrep): Também chamado de sintagma preposicionado, esse tipo de unidade é constituído a partir de dois arranjos distintos: preposição + SN ou preposição + SAdv. Tal como o SAdj e o SAdv, o SPrep ocupa posição hierárquica inferior em relação ao SN e ao SV, uma vez que funciona como determinante, ou subordinado, destas unidades maiores. AULA 2 – FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO 1) CARACTERIZAR DIFERENTES TIPOS DE FRASE, A PARTIR DE DISTINTOS GRAMÁTICOS; O segundo tipo de classificação de padrões frasais que passamos a apresentar agora baseia-se em Rocha Lima (1999, p. 233). Na proposta desse autor, temos cinco tipos de frase, caracterizados por marcas entoacionais específicas. Os tipos dividem-se em: a) Declarativa: a frase mais comum, usada para anunciarmos um fato, darmos uma notícia, enfim, fazermos asserções. No texto escrito, é encerrada com ponto final, como em: Ex.: Ele conhece o caminho do sucesso. b) Frase nominal: é a frase sem verbo, que tem como núcleo um nome de natureza substantiva, adjetiva ou adverbial. São exemplos de frases nominais expressões como: Ex.: Que beleza! Perto dos olhos, longe do coração. Casa de ferreiro, espeto de pau. c) Interrogativa: utilizada para formularmos perguntas. É finalizada no texto escrito pelo ponto de interrogação: Ex.: Ele conhece o caminho do sucesso? d) Imperativa: tem a função de chamar a atenção, de convocar, de incitar alguém a tomar ou não uma atitude. Em geral, usa-se na escrita com ponto de exclamação: Ex.: Aprende o caminho! e) Indicativa: sintetiza um pensamento, como se fosse uma declaração padrão, um ritual da comunidade linguística para certas ocasiões. Por estar muito vinculada ao contexto Mateus G. Rangel de sua produção, costuma ter pequena extensão: Ex.: Boa sorte! (para quem vai fazer uma prova). 2) RECONHECER A ESTRUTURA DA ORAÇÃO; De acordo com Azeredo (1995, p. 30), a oração “apresenta normalmente uma estrutura bimembre (...) centrada em um verbo com o qual se faz uma declaração (...) sobre um dado tema”. O caráter dual da oração também é referido por Rocha Lima (1999, p. 234), que a define como a frase “que se biparte normalmente em sujeito e predicado”. 3) DIFERENCIAR FRASE, ORAÇÃO E PERÍODO. FRASE é um termo comumente utilizado para designar uma unidade de discurso que tenha um sentido completo no contexto comunicativo. As frases podem ser formadas por uma ou mais palavras. Partindo do ponto de vista fonético, a frase possui seus identificadores entoacionais, que servem para determinar seu início e final; bem como os de acentuação, geralmente apresentados por uma letra maiúscula no início e pontos que denotam afirmação (.), exclamação (!), interrogação (?) e continuação (...) no final destas. As frases podem ser classificadas como: interjetivas, nominais e verbais segundo Caroline (1991), ou como: declarativas, interrogativas, imperativas, exclamativas, indicativas como classifica Rocha Lima (1999). A ORAÇÃO, segundo Azeredo (1995), é um tipo de enunciado cuja marca se expressa pela caracterização de uma estrutural verbal (locução verbal) interna, que por sua vez pode ser bimembre e se desdobrar em sujeito e predicado. Segundo Perini (1995), toda período é necessariamente uma oração, porém, nem toda oração é período. PERÍODO, segundo Kury (2003), é o enunciado de sentido pleno caracterizado pela presença de uma ou mais orações. Os estudiosos Cunha e Cintra (2001) bem como Kury, acentuam o modo com que a oração deve terminar, isto é: ponto final, exclamação, interrogação, reticências entre outras. Outra característica do período, é que justamente dentro dessa entidade que classificamos e identificamos os sintagmas da língua portuguesa. CONCLUINDO; frase, oração e período trazem consigo zonasde intercessão, distinções e correspondências, todos possuem diferenciações no que tangencia a sua estrutura geral e interna. Todas as orações representam um tipo de frase, a saber: a frase verbal; entretanto, não se pode afirmar que toda frase é uma oração. Haja vista, que as frases podem se exprimir sem estrutura verbal e ainda assim comunicar sentido completo, prerrogativa que uma oração não apresenta. Como já foi dito, todo período é uma oração, pois a oração é marcada pelo verbo enquanto o período é marcado pela oração, podendo ser simples (uma oração) ou composto (duas orações ou mais). EXEMPLIFICANDO: “Ajude-me, necessito de dinheiro!”. Nesta frase, temos uma oração: “necessito de suporte.” Toda a frase acima poderia ser classificada como “frase verbal”, devido o verbo “necessito” estar dando sentido completo à frase. A presença do verbo “necessito” na frase, identifica-a como uma oração; enquanto o fato de termos apenas uma oração, faz com que tenhamos um período simples. Se fossem dois ou mais verbos, Mateus G. Rangel teríamos um período “composto”. Resumindo, temos uma frase verbal exclamativa, com apenas uma oração, o que designa um período simples. AULA 3 – TERMOS ESSENCIAIS: O SUJEITO − INTRODUÇÃO GERAL 1) AVALIAR A NOÇÃO DE ESSENCIALIDADE NORMALMENTE ATRIBUÍDA AO SUJEITO; A “Essencialidade” do sujeito, se dá na grande maioria das frases na língua portuguesa, logo, este deve ser conhecido como “central ou básico”, porém não necessariamente “essencial”, haja vista, que, a gramática portuguesa alega que o verbo “haver” indicando existência, são desprovidos de sujeito. 2) ANALISAR OS DIFERENTES CONCEITOS DE SUJEITO E SUAS LIMITAÇÕES; Em geral, o sujeito é o termo que estabelece concordância com o verbo, mas há situações especiais em que isso não se verifica. Podemos também afirmar, em termos gerais, que o sujeito é o ser sobre o qual se faz uma declaração, apesar de nem sempre se tratar de um ser e nem sempre haver uma declaração. Assim, podemos concluir que nem sempre os três critérios podem ser aplicáveis à identificação do sujeito. É por esse motivo que não devemos tomá-los de forma isolada, mas conjugando-os. Faz-se uma declaração sobre um ser (critério semântico), é o termo com o qual o verbo concorda (critério morfológico), e também é o primeiro termo que aparece na oração (critério sintático). O sujeito, pode ser caracterizado pelos três critérios apresentados, mas não necessariamente aplicados de modo simultâneo. 3) IDENTIFICAR O SUJEITO EM PADRÕES ESTRUTURAIS DIVERSOS DA LÍNGUA PORTUGUESA. Agora que já estamos familiarizados com os diferentes critérios que estabelecem a noção de sujeito, temos mais condições de identificá-lo nos diversos padrões estruturais da língua portuguesa. Assim, como você está observando, para a identificação de uma função sintática como o sujeito é necessária a consideração de mais de um critério, como o semântico, o morfológico e o sintático, pelo menos, além de levar em conta informações que se encontram além da oração, no nível do período ou mesmo do texto. Somente assim, com essa visão mais geral, é possível a identificação e estudo dos diversos tipos de sujeito de nossa língua. AULA 4 – TIPOS DE SUJEITO 1) IDENTIFICAR O SUJEITO SIMPLES, COMPOSTO, OCULTO E INDETERMINADO NA FRASE; A) SUJEITO SIMPLES: Trata-se do tipo mais comum de sujeito. O sujeito simples tem um só núcleo; em outras palavras, apresenta-se como um SN que tem apenas um elemento determinado (ou termo principal), independentemente do número de determinantes (ou termos secundários). B) SUJEITO COMPOSTO: Classifica-se como composto o sujeito que tem mais de um núcleo. Assim, nas orações com sujeito composto, o verbo deve ocorrer no plural, uma Mateus G. Rangel vez que, como já vimos anteriormente, uma das características do sujeito é justamente a concordância de número em relação ao verbo. C) SUJEITO OCULTO(DETERMINADO): Embora tenha grande tradição de registro na descrição gramatical da língua portuguesa, esse tipo de sujeito, também nomeado de elíptico ou desinencial, não consta entre os citados ou previstos pela NGB. Devido a essa lacuna, há tendência de se incluir o sujeito oculto na classe do sujeito simples, como um subtipo deste. D) SUJEITO INDETERMINADO: Dizemos que o sujeito é indeterminado quando desconhecemos, não temos interesse em saber ou não queremos dizer quem executa a ação. Embora não tenha visibilidade maior na estrutura da oração, esse tipo de sujeito “existe na ideia”, e a língua dispõe de recursos específicos para marcar essa existência não muito clara ou relevante. 2) RECONHECER AS ORAÇÕES SEM SUJEITO; De acordo com a tradição gramatical, a oração sem sujeito caracteriza-se pela ênfase no processo verbal. Trata-se de um tipo de oração em que não se atribui a nenhum ser ou entidade a realização desse processo. Portanto, considera-se que o sujeito, nessas construções, é “inexistente” e o verbo se classifica como “impessoal”. AULA 5 – TERMOS ESSENCIAIS II: PREDICADO 1) DISTINGUIR O SUJEITO E O PREDICADO DE UMA ORAÇÃO; a) Cunha e Cintra (1985, p. 119 ): “...o PREDICADO é tudo aquilo que se diz do SUJEITO.” b) Kury (1986, p. 20-21): “PREDICADO é, na oração de um só termo, a enunciação pura de um fato qualquer (...) na oração de dois termos, é aquilo que se diz do sujeito.” c) Luft (1987, p. 23): “O mais importante dos dois, núcleo da oração, é o predicado: há orações sem sujeito (com verbos impessoais), mas não as há sem predicado.” d) Bechara (1999, p. 408): “...nem mesmo o sujeito é um constituinte imprescindível da oração...” e) Azeredo (1995, p. 46): “O único constituinte indispensável à existência de uma oração é o predicado.” 2) IDENTIFICAR OS PREDICADOS VERBAL, NOMINAL E VERBO- NOMINAL. a) PREDICADO VERBAL: Trata-se do tipo mais comum de predicado. De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 132), “o predicado verbal tem como núcleo, isto é, como elemento principal da declaração que se faz do sujeito, um VERBO SIGNIFICATIVO”. Adiante, na mesma página, os autores definem esse verbo como aquele que porta uma “ideia nova ao sujeito”. Ex.: A mulher tratou do divórcio sozinha. b) PREDICADO NOMINAL: Como o rótulo indica, esse tipo de predicado tem por núcleo, ou termo principal, um nome, que pode ser representado por substantivo, adjetivo ou pronome. O núcleo do predicado nominal classifica-se sintaticamente como predicativo. Por outro lado, o verbo, no predicado nominal, é chamado de Mateus G. Rangel ligação, uma vez que seu papel maior é o de conectar o sujeito e o predicativo, estabelecendo entre ambos a concordância número-pessoal devida, além de informar sobre o tempo e o modo da declaração. esse tipo de predicado, desprovido de um verbo pleno ou significativo, presta-se a comentários do tipo descritivo Ex.: Mateus era um homem bonito. c) PREDICADO VERBO-NOMINAL: Este é o tipo complexo de articulação do predicado. Tal complexidade justifica-se pelo modo como é elaborado – trata-se, na verdade, da combinação do predicado verbal e do nominal, na formação de um terceiro modelo. Devido à combinação de que resulta o predicado verbo-nominal, também é chamado por alguns autores de “misto” (LIMA, 1987, p. 208; CUNHA; CINTRA, 1985, p. 134). Podemos perceber como será destacado a seguir que há um sintagma verbal “riu” e um sintagma nominal “despreocupado”. Ex.: Mateus riu despreocupado. AULA 6 – PREDICATIVO DO SUJEITO E PREDICATIVO DO OBJETO 1) RECONHECER O PREDICATIVO NA ORAÇÃO; O predicado nominal ocorre quando o que se informa sobre o sujeito está essencialmente contido em umnome, que se denomina predicativo, e o verbo serve apenas para estabelecer a união entre duas palavras de caráter nominal. Esse tipo de verbo é chamado de verbo de ligação. É preciso destacar que alguns verbos em língua portuguesa podem atuar como de ligação (ou copulativos) ou significativos. Dependendo do contexto em que são empregados, exprimem atributos: qualidades, estados, talentos, propriedades etc., diferindo, portanto, dos verbos que exprimem ação: a) um estado permanente: A jovem é inteligente. b) um estado transitório: A jovem está triste. c) uma mudança de estado: A jovem ficou alegre. d) uma continuidade de estado: A jovem permanece contente. e) uma aparência de estado: A jovem parece infeliz. 2) ESTABELECER A DISTINÇÃO ENTRE PREDICATIVO DO SUJEITO E PREDICATIVO DO OBJETO; PREDICATIVO DO SUJEITO: É conceituado como o termo que, no predicado nominal, atribui ao sujeito uma qualidade ou característica, funcionando como núcleo desse predicado. Pode ser representado por: a) substantivo ou expressão substantivada: ex.: O boato é um vício detestável. b) adjetivo ou locução adjetiva: A praia estava deserta. c) pronome: ex.: O espião é aquele. d) numeral: Mateus G. Rangel ex.: Nós somos quatro em casa. e) oração substantiva predicativa: ex.: Seu sonho era morar no Rio. PREDICADO DO OBJETO: É o termo ou expressão que complementa o objeto direto ou o objeto indireto, conferindo-lhe um atributo. O predicativo do objeto apresenta duas características básicas: 1) acompanha o verbo de ligação implícito; 2) pertence ao predicado verbo-nominal. A formação do predicativo do objeto é feita através de um substantivo ou um adjetivo. Exemplos: 1. O vilarejo finalmente elegeu Otaviano prefeito. objeto: Otaviano predicativo: substantivo 2. Todos julgavam-no culpado. objeto: no predicativo: adjetivo 3) DISTINGUIR O PREDICADO NOMINAL E VERBO-NOMINAL COM BASE NO TIPO E FUNÇÃO DO PREDICATIVO. Podemos dizer que o PREDICADO NOMINAL expressa uma função de sintagma nominal, ou seja, está centrado em um nome, que pode ser um substantivo, adjetivo ou pronome. Enquanto o PREDICADO VERBO NOMINAL faz a união de um Predicado Nominal (centrado em um nome) com um Predicado Verbal (centrado em um verbo). AULA 7 – TERMOS INTEGRANTES I: COMPLEMENTOS VERBAIS 1) RECONHECER OS COMPLEMENTOS VERBAIS NA ORAÇÃO; É o termo que, sem ser essencial na oração, tampouco é mero acessório: “completa” a significação de outros termos (nomes ou verbos). Integra a oração, isto é, inteira o seu sentido: chama-se, por isso, termo integrante. Segundo Rocha Lima (1987, p. 209), os termos integrantes são “subordinados respectivamente ao núcleo substantivo e ao núcleo verbal”. Para esclarecer sobre a hierarquia de que estamos falando. 2) ESTABELECER A DISTINÇÃO ENTRE OBJETO DIRETO E OBJETO INDIRETO. a) OBJETO DIRETO: Nomeia-se “objeto direto” ao complemento de um verbo transi- tivo direto, ou seja, de um verbo que necessita dessa complementação para ter seu sentido integralizado. O objeto direto é um sintagma de núcleo nominal, que, subordinado ao verbo transitivo direto, liga-se a este sem a presença de preposição, daí dizermos que a relação entre o verbo e seu complemento é “direta”. Assim, verbos portugueses, como fazer, dizer, amar, consertar, pintar, entre muitos outros, são comumente classificados como “transitivos diretos”, requerendo, portanto, objeto direto na oração em que são articulados, para formações do tipo: I. Não faço nada comprometedor. II. Ninguém disse a verdade. Mateus G. Rangel III. A mãe ama os seis. IV. Já consertei a porta da minha casa. V. Nesse quadro, pintei o azul mais bonito. Devido a essa grande variedade de possibilidades de ocorrência, são muitos os efeitos de sentido que podem ser expressos pelo objeto direto. Entre esses efeitos, podemos citar: a) A modificação pela ação do sujeito: na oração (9), exemplificamos o objeto como paciente afetado, uma vez que a porta da minha casa foi modificada pela ação de consertar. b) O resultado da ação do sujeito: o objeto passa a ter existência por conta da ação do sujeito; na oração (10), ilustramos esse efeito, em que o azul mais bonito é produzido a partir do ato de pintar. c) O conteúdo da ação do sujeito, como em (7), em que a verdade é o foco do dizer. Outra marca do objeto direto é a possibilidade de ser substituído por pronome oblíquo, dada sua natureza nominal. Assim, retomemos três orações para ilustrarmos o processo de substituição referido: I. Ninguém disse a verdade. II. Ninguém a disse. III. A mãe ama os seis. IV. A mãe ama-os. OBJETO DIRETO PREPOSICIONADO Um dos tipos de objeto direto é motivo de controvérsia, uma vez que seu próprio rótulo vai de encontro à definição de objeto direto – é o “objeto direto preposicionado”. Como o nome indica, trata-se de um complemento verbal que, apesar de ser objeto direto, pode ser regido da preposição a, geralmente, ou de outras, esporadicamente. Conforme Cunha e Cintra (1985, p.138), são três os contextos que motivam o uso facultativo da preposição no objeto direto: a) Articulação de verbos de sentimento: Ex.: Amar ao próximo. Ex.: Sempre temeu a todos. b) Tentativa de clareza: Ex.: Aos seis filhos a mãe ama. Ex.: A Pedro João matou. c) Construções fixas, já de uso consagrado: Ex.: Sacou da espada. Ex.: Cumpra com seu dever como cidadão! OBJETO DIRETO PLEONÁSTICO O segundo tipo de objeto direto também referido é o “pleonástico”. Para compreendermos esse complemento verbal, devemos lembrar que chamamos pleonasmo a uma figura de sintaxe caracterizada pelo exagero de ideias, pela ênfase que se cria ao falar ou escrever, como em subir para cima, descer para baixo, sair para fora e assim por diante. Portanto, o objeto direto pleonástico é aquele que retoma a si mesmo, como se fosse um espelho, na mesma oração, com o propósito de destacar, de chamar a atenção para seu conteúdo. Trata-se de casos como os seguintes, em que se considera que há dois complementos verbais em cada oração: Ex.: A mim, ninguém me engana. Mateus G. Rangel Ex.: Palavras, o vento as leva. b) OBJETO INDIRETO: Assim é nomeado o complemento de um verbo transitivo indireto, isto é, de um verbo que é regido por preposição, estabelecendo-se a ordenação V + SPrep. Tal como o objeto direto, o núcleo do objeto indireto é de base nominal, podendo ser ocupado por palavras de distinta classe gramatical, como: I. Precisamos de amor. II. Precisamos de você. III. Precisamos dos quatro. AULA 8 – TERMOS INTEGRANTES II 1) RECONHECER OS COMPLEMENTOS RELATIVOS E COMPLEMENTOS CIRCUNSTANCIAIS; RELATIVOS: Autores como Rocha Lima, contudo, perceberam que há um grupo de verbos que apresenta comportamento morfossintático um pouco distinto dos chamados verbos transitivos diretos e indiretos. A esses verbos, Rocha Lima (1987) chamou-os transitivos relativos. E ao complemento de tais verbos, o autor chamou-os complemento relativo. Bechara (2003) oferece um caminho seguro para distinguirmos esses verbos. a) Possibilidade de acompanhamento por qualquer preposição exigida pela significação do verbo. b) Impossibilidade de se substituir o complemento preposicionado pelo pronome pessoal átono lhe: a construção só é possível mediante pronome pessoal tônico ele, ela, eles, elas (com marca de gênero e número do substantivo substituído) precedido da preposição pedida pelo verbo. I. Maria gosta de automóveis. II. Maria escreveu ao marido. No exemplo (I), o verbo (gosta) é acompanhado da preposiçãode. Além disso, o complemento destacado não poderia ser substituído por lhe, mas apenas por ele: Maria gosta dele. O verbo gosta, portanto, pode ser classificado como transitivo relativo. CIRCUNSTANCIAIS: “Maria está em Recife.”. No exemplo que acabamos de ver, em Recife passa a ser mais necessário para o entendimento da frase. De fato, se desprezarmos esse termo, a frase ficaria incompleta: Maria está. Naturalmente perguntaríamos: Maria está onde? Com base nessa observação, Rocha Lima (1978), entre outros autores, chama esses verbos de transitivos circunstanciais (ou adverbiais). Vejamos mais alguns exemplos de verbos transitivos circunstanciais: I. Ela ia ao clube. II. Moro em São Paulo. III. O governador voltou do Canadá. 2) ESTABELECER A DISTINÇÃO ENTRE COMPLEMENTO RELATIVO E OBJETO INDIRETO; O complemento relativo, portanto, compartilha essas características básicas. Vejamos: Mateus G. Rangel a) o complemento relativo não se refere à pessoa ou coisa a que se destina a ação verbal, ou em cujo proveito ou prejuízo ela se realiza; b) o complemento relativo não é passível de substituição, na terceira pessoa, pelas formas átonas lhe e lhes. Só pode ser substituído pelas formas ele, ela, eles, elas, precedidas de preposição. Assim, constituiriam casos de complementação relativa orações como as seguintes: I. Muitos assistiram ao final do campeonato. II. Esse trabalho depende do aval do chefe. Nas quatro orações anteriores, os verbos assistir e depender possuem SPrep que não podem ser substituídos pelas formas lhe e lhes, mas sim por a ele, dele, nela e delas, respectivamente. 3) ESTABELECER A DISTINÇÃO ENTRE COMPLEMENTO CIRCUNSTANCIAL E ADJUNTO ADVERBIAL. De acordo com Rocha Lima (1987, p. 222), há certos verbos que requerem como complemento sintagmas circunstanciais, notadamente de lugar ou de tempo, para integralizarem sua significação. Esses sintagmas, também nomeados de complemento circunstancial, não funcionam como informação subsidiária; ao contrário, tornam-se imprescindíveis para o sentido da oração. A fim de avaliarmos a função integrante do complemento circunstancial e sua distinção em relação ao caráter facultativo de outras ocorrências, vamos examinar os pares de oração a seguir: I. Moro naquela distante cidade. II. Dormi naquela distante cidade. III. O curso durou um ano. Em (I) e (II), os sintagmas destacados completam efetivamente o sentido dos verbos morar e durar, que exigem, respectivamente, informações de natureza locativa e temporal para sua efetiva compreensão. Em Língua Portuguesa, algo como Moro ou O curso durou não são orações plenas, visto que lhes falta justamente o complemento verbal. AULA 9 – TERMOS INTEGRANTES III: COMPLEMENTO NOMINAL 1) RECONHECER O COMPLEMENTO NOMINAL NA FRASE; Classificamos como “complemento nominal” um tipo de termo que integra, precisa ou limita o sentido de um outro termo, no caso, um substantivo, um adjetivo ou um advérbio. O complemento nominal é um sintagma preposicionado (SPrep) que estabelece relação estreita e coesa com seu antecedente, tanto do ponto de vista semântico quanto sintático. Tal como os complementos verbais, o complemento nominal tem papel integrante, atuando como elemento necessário à completude de sentido de um constituinte de base nominal, como nos seguintes exemplos: Ex.: A decisão do diretor surpreendeu o grupo de professores. Acima, o SPrep destacado, atua como complemento nominal, integrando, respectivamente, os SN a decisão. Trata-se de um tipo de relação considerada necessária e fundamental, uma vez que os sintagmas nominais (SN) referidos não teriam condições de, por si só, darem conta do processamento do conteúdo de uma forma mais “plena”. Mateus G. Rangel 2) RECONHECER A CLASSE GRAMATICAL A QUE PERTENCE O NÚCLEO DO COMPLEMENTO NOMINAL; De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 135-136), na articulação do complemento nominal, o núcleo do SPrep que cumpre essa função pode ser representado por termo de classe morfológica variada, como: A) SUBSTANTIVO: é o tipo mais comum e frequente de núcleo de complemento nominal; nesse caso, o substantivo pode ser acompanhado ou não de outros determinantes; as orações anteriores (1) e (2) exempli- ficam essa representação: (1) A decisão do diretor surpreendeu o grupo de professores. (2) Não esmoreceu minha crença em seu valor. Em ambos os complementos nominais, os substantivos diretor e valor (determinados) encontram-se antecedidos pelas preposições de e em, combinadas com o artigo definido o e o possessivo seu (determinantes), respectivamente. B) PRONOME: por constituir forma equivalente a nome, o pronome pode, eventualmente, funcionar como núcleo do complemento nominal: I. A decisão dele surpreendeu o grupo de professores. (Pronome pessoal reto). C) NUMERAL: por vezes, um numeral em função substantiva constitui o núcleo do complemento nominal, como em: I. A decisão dos dois surpreendeu o grupo de professores. Nas orações (10) e (11), os numerais dois e ambos encontram-se no lugar de nomes, substituindo-os. Tal como observamos em relação ao núcleo pronominal, no caso dos numerais, também há necessidade de se recorrer a contexto linguístico mais amplo para determinar a referência do numeral, no caso das orações em análise, o conteúdo referente a dois e a ambos. D) TERMO SUBSTANTIVADO: aqui se reúnem todas as demais classes de palavra, como verbos e advérbios, que, ao funcionarem como núcleo do complemento nominal, passam a corresponder a substantivos: I. O domínio do saber é fundamental para o sucesso. 3) DISTINGUIR ADJUNTO ADNOMINAL E COMPLEMENTO NOMINAL. É sutil a distinção entre a função complementar (integrante) e adjuntiva (acessória) de um SPrep, uma vez que nem sempre é tarefa simples verificar se o papel deste SPrep com- plementa ou somente acrescenta sentido ao termo que o antecede. AULA 10 – TERMOS ACESSÓRIOS I: ADJUNTO ADNOMINAL 1. RECONHECER O ADJUNTO ADNOMINAL; Definição de termo Acessório: “Os termos acessórios são entendidos como aqueles que “se juntam a um nome ou a um verbo para precisar-lhes o significado” (CUNHA; CINTRA, 1985, p. 145). TERMOS ESSENCIAIS (sujeito e predicado) TERMOS INTEGRANTES (complementos nominal e verbal) TERMOS ACESSÓRIOS (adjuntos adnominal e adverbial). Como atua o Adjunto Adnominal: Na expressão morfológica do adjunto adnominal, podem atuar artigos, pronomes, numerais, adjetivos ou locuções adjetivas. Núcleos respectivamente do objeto direto, sujeito, objetos diretos e objeto direto, são chamados “adjuntos adnominais”. Na função determinativa, o adjunto adnominal concorre para a precisão do sentido do núcleo substantivo a que se subordina. a) Adjetivo: é muito comum o adjunto adnominal ser articulado com base em adjetivo, que atua como termo determinante, ou dependente, no SN em que se encontra; como elemento de qualificação do substantivo, o adjetivo subordina-se ao núcleo do SN, apontando uma marca ou característica do nome, como em: “José comprou livros novos”. Mateus G. Rangel b) Locução ou sintagma adjetivo: nesse tipo de expressão, o adjunto adnominal, sob a forma de um SPrep, subordina-se ao substantivo, equivalendo a um adjetivo, localizando-se após o núcleo nominal, em posição pós-determinante: “José comprou livros de história”. c) Artigo: essa classe morfológica funciona de modo regular como adjunto adnominal, em posição pré-determinante, principalmente em sua versão “definida”, contribuindo para significação do substantivo que a sucede no SN: “José comprou uns livros”. d) Pronome adjetivo: várias subclasses pronominais, em função adjetiva, acompanhadaspor substantivo, podem atuar como adjunto adnominal: “José comprou esses livros”. e) Numeral: como elemento que designa número, sua sequenciação ou parcela, o numeral é costumeiramente usado como adjunto adnominal, em posição pré- determinante, trazendo informes numéricos a respeito do substantivo que acompanha e a que está subordinado: “José comprou cinco livros”. Ex.1 de ADJUNTO ADNOMINAL: (1)“ José comprou livros” (2)“Meu primo José comprou dois livros de história”. Do ponto de vista de sua constituição básica, (1) e (2) são correspondentes: há um sujeito em posição inicial, cujo núcleo é José, seguido do predicado verbal em torno do núcleo comprou, integrado pelo complemento verbal, a partir do nome livros. Assim, o que distingue (1) e (2) é justamente a adjunção de termos, na segunda oração, que determinam e ampliam o conteúdo do núcleo do sujeito José e do núcleo do objeto direto livros. 2. DISTINGUIR ADJUNTO ADNOMINAL E COMPLEMENTO NOMINAL. Diferença de um ADJUNTO ADNOMINAL para um COMPLEMENTO NOMINAL: É comum confundir-se o adjunto adnominal na forma de locução adjetiva com o complemento nominal. No entanto, somente os substantivos podem ser acompanhados de adjuntos adnominais, assim, o termo ligado por preposição a um adjetivo ou a um advérbio só pode ser complemento nominal. Ex.: a) O invento do avião coube a Santos Dummont. b) O invento de Santos Dummont o levou à celebridade Em “a”, o termo destacado é complemento nominal, paciente da ação, pois [O avião foi inventado por Santos Dummont]. Em “b”, o sintagma grifado é adjunto adnominal, visto que é o agente da ideia [Santos Dummont foi a agente do invento]. AULA 11 – TERMOS ACESSÓRIOS II: ADJUNTO ADVERBIAL 1. RECONHECER O ADJUNTO ADVERBIAL; O adjunto adverbial é o termo da oração que indica uma circunstância do verbo ou intensifica o sentido de um adjetivo, de um verbo ou de outro advérbio. Trata-se de uma função que equivale a um advérbio. Por sua atuação periférica, o adjunto adverbial pode estar em diversos pontos da oração, iniciando, intermediando ou finalizando a frase. Os adjuntos adverbiais podem ser agrupados de acordo com a circunstância que expressam: lugar, tempo, modo, negação, intensidade etc. 2. DISTINGUIR ADJUNTO ADVERBIAL E COMPLEMENTO CIRCUNSTANCIAL; Mateus G. Rangel Função Adjuntiva: A função adjuntiva é aquela, portanto, que concorre para delimitação ou maior definição de outro termo; é um papel secundário, que concorre para a maior determinação de sentido de outros papéis mais fundamentais, como os essenciais ou integrantes. Ex.: (1) A criança dorme no quarto. (2) A criança dorme um sono pesado no quarto. (3) A criança está no quarto. Nas orações (1) e (2), o SPrep no quarto atua como adjunto, uma vez que não participa da predicação verbal de forma direta, não se “integra” ao verbo dormir de modo necessário e fundamental. Trata-se, em ambas as orações, de um adendo, de sentido locativo, que concorre para precisar e esclarecer acerca do espaço onde se situa o sujeito a criança. Sem esse SPrep, ainda continuaria preservada a estrutura sintática e semântica de (1) e (2), uma vez que A criança dorme, ou, em uma outra versão com atribuição de objeto direto, A criança dorme um sono pesado são orações bem formadas e inteligíveis da língua portuguesa. Já em (3), a situação é distinta, por conta da função complementar do SPrep no quarto, que integra a predicação de estar. A construção A criança está não constitui frase ou oração em português, devido à sua incompletude sintática (falta do complemento adverbial) e semântica (falta da referência de local). Portanto, a função do SPrep em (3) não se confunde com a das orações (1) e (2) na hierarquia oracional. 3. IDENTIFICAR E CLASSIFICAR OS ADJUNTOS ADVERBIAIS. São muito variados os sentidos, ou circunstâncias, expressos pelo adjunto adverbial. De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 147), “muitas vezes, só em face do texto se pode propor uma classificação exata”. Kury (1986, p. 56) chega a declarar, diante dessa complexidade semântica, que, em termos de classificação dos sentidos expressos pelo adjunto adnominal, “deve o professor aceitar todas as que revelem no aluno compreensão inteligente”. a) Lugar: um dos sentidos mais comumente expressos pelo adjunto adverbial, podendo expressar um lugar físico, concreto, ou ainda um lugar mais abstrato, virtual: “Comprei o livro naquela loja”. b) Tempo: como o lugar, o tempo é uma das referências mais recorrentes do adjunto adverbial; pode ser imediato, relativo ao momento atual, ou então se reportar ao passado ou ao futuro, mais ou menos remotos: “Comprei o livro na noite de ontem”. c) Intensidade: esse tipo de advérbio confere maior ou menor ênfase ao termo sobre o qual incide: “Esse livro é muito bom!” d) Finalidade: noção semântica articulada pelo adjunto adverbial em que se destacam propósitos ou fins: “Comprei o livro para a prova”. e) Causa: nesse uso, o adjunto adverbial faz referência a motivos e justificativas: “Comprei o livro por causa da prova”. f) Instrumento: trata-se da circunstância que informa sobre o meio usado na ação verbal: “Comprei o livro com cartão de crédito.” g) Dúvida: com esse tipo de referência, o adjunto adverbial, em geral situado no início da oração, deixa em aberto o comentário subsequente: “Talvez eu compre o livro”. h) Modo: o adjunto adverbial de modo participa da predicação verbal, ao informar a maneira pela qual se cumpre a ação verbal: “Comprei o livro às pressas”. Mateus G. Rangel i) Companhia: trata-se de um adendo referente a quem acompanha, em geral, o sujeito na ação verbal: “Comprei o livro com o atendente mais jovem”. j) Negação: como o nome indica, é a expressão negativa do adjunto adverbial, cumprida por somente uma forma – a partícula não, costumeiramente em posição pré-verbal: “Não comprei o livro”. AULA 12 – AGENTE DA PASSIVA 1. RECONHECER O AGENTE DA PASSIVA; O agente da passiva é o complemento de verbo na voz passiva e designa o ser que pratica a ação sofrida pelo sujeito paciente. Geralmente é introduzido pela preposição por e seus derivados. 2. DISTINGUIR AS VOZES VERBAIS. Voz Ativa: De acordo com Bechara (1999, p. 222), na voz ativa, o verbo “se apresenta para normalmente indicar que a pessoa a que se refere a ação é o agente da ação”. Poderíamos ainda acrescentar à definição do autor que, via de regra, nesse tipo de voz, ao sujeito agente corresponde um verbo de ação ou processo que atinge um objeto, chamado de paciente, sobre o qual recai a ação verbal, como em: “O aluno já fez todo o trabalho”. Voz Passiva: Contrastivamente à voz ativa, a voz passiva define-se como aquela “que indica que a pessoa é o objeto da ação verbal. A pessoa, neste caso, diz-se paciente da ação verbal” (BECHARA, 1999, p. 222). Para estabelecermos o contraste entre as duas vozes – ativa e passiva –, ilustramos o procedimento de “transformação” das orações (6), (7) e (8), anteriormente apresentadas, que passam a ter as seguintes correspondentes passivas: “Todo o trabalho já foi feito pelo aluno”. Voz Passiva Sintética: Também chamada de “voz passiva pronominal”, esse outro tipo de organização da voz passiva tem recebido muitas críticas por parte de linguistas e mesmo de gramáticos, quanto a tal classificação. De acordo com a tradição gramatical, a passiva sintética é formada por verbo transitivo direto, acompanhado da partícula se, que nessa construção funciona como “pronome apassivador”, acompanhado por nome substantivo na função de “sujeito paciente”. Na passiva sintética, não há possibilidade de ocorrência do agente da passiva. Conforme preconizao registro mais formal da língua, princi- palmente na modalidade escrita, em tais construções, o verbo deve concordar, em número e pessoa, com esse sujeito posposto, como em: “Afia-se todo tipo de alicate”. Voz Passiva Analítica: Esse tipo é considerado o mais clássico e consensual modo de expressão da voz passiva em língua portuguesa, sobre o qual não se registram maiores discussões. A passiva analítica é assim chamada por ser formada em torno de uma locução verbal. De acordo com Kury (1986), nessa locução verbal que caracteriza a voz passiva, o auxiliar mais comum é o verbo ser. Segundo o mesmo autor, a voz passiva analítica pode ainda, de modo mais esporádico, ser articulada em torno de outros auxiliares, como ficar, Mateus G. Rangel ir, vir, andar, viver ou estar, em construções como as seguintes: “O acusado vive (anda, está) perseguido por repórteres de todas as emissoras.. Voz Reflexiva: De acordo com Cunha e Cintra (1985, p. 395), nesse terceiro e último tipo, “o verbo vem acompanhado de um pronome oblíquo que lhe serve de objeto direto ou, mais raramente, de objeto indireto e representa a mesma pessoa do sujeito”. Pelo fato de a ação do sujeito recair sobre si mesmo, num tipo de espelhamento, esse tipo de voz é chamado de reflexivo. Conforme Bechara (1999, p. 222), a voz reflexiva “indica que a ação verbal não passa a outro ser (negação da transitividade), podendo reverter-se ao próprio agente (sentido reflexivo propriamente dito), atuar reciprocamente entre mais de um agente (reflexivo recíproco) [...]”. A oração no exemplo a seguir é um exemplo do primeiro tipo de voz reflexiva referido por Bechara: “Ele se penteou hoje pela manhã”. O segundo tipo de reflexiva citado por Bechara ilustra-se a seguir: Ex1.: Eles se cumprimentaram com indiferença. Ex.2: As amigas não se viam desde a formatura. Nas orações acima, o sujeito, embora formalmente simples, com um só núcleo (eles e as amigas), têm referência plural. Esse sentido plural é reforçado pela forma pronominal se, que passa a significar a si mesmo(a)s, na articulação do conteúdo de reciprocidade entre mais de um agente. AULA 13 – APOSTO 1. RECONHECER O APOSTO NOS ENUNCIADOS; O APOSTO, não é apenas um “termo acessório” como descrevem os gramáticos da língua portuguesa, mas, pelo contrário, esse termo possui aspectos semântico-pragmáticos que podem contribuir para que haja (re)construção dos objetos de discurso através da interação locutor/interlocutor e, consequentemente, para a progressão textual. IDENTIFICANDO O APOSTO: De acordo com essa classificação, Cunha e Cintra (1985, p. 151) definem o aposto como “o termo de caráter nominal que se junta a um substantivo, a um pronome ou a um equivalente destes, a título de explicação ou de apreciação”. Na mesma linha de interpretação, Rocha Lima (1987, p. 225) declara que ocorre o aposto quando “um substantivo (ou pronome) pode-se fazer acompanhar imediatamente de outro termo de caráter nominal, a título de individualização ou esclarecimento”. Depois dessas considerações, destacamos o aposto nos períodos (1) e (2): (1) Aquela garota, minha vizinha, me deu o aviso. (2) Aquela garota me deu o aviso, uma notícia triste. SINGULARIDADE DO APOSTO EM RELAÇÃO AOS ADJUNTOS: O aposto não cria hierarquia ou subordinação, já que não se “encaixa” no SN a que se refere, apenas se coloca a seu lado, como se fosse um “espelho”. Essa é uma característica sintática que afasta o aposto das demais funções consideradas acessórias – o adjunto adnominal e o adjunto adverbial, termos que efetivamente se subordinam a outros. 2. CLASSIFICAR O APOSTO DE ACORDO COM A FUNÇÃO NO ENUNCIADO; PAPÉIS DO APOSTO: O aposto não tem uma função sintática precisa ou definida; como termo cópia de outro, acaba atuando tal como este. a) Sujeito: Nesse papel, o aposto redobra a carga informacional do sujeito, precisando-o ainda mais, como no exemplo a seguir retomado: Mateus G. Rangel Ex.: “(...) diz Márcia Ramos e Silva, chefe do serviço de dermatologia do Hospital Universitário.” b) Predicativo: O aposto do predicativo permite a ampliação do sentido veiculado pelo predicativo, ampliando o leque das qualidades referidas, como no exemplo também retomado a seguir: Ex.: “É uma profissional multifacetada, jornalista, atriz, cantora e apresentadora de televisão.” c) Objeto direto: Como cópia do complemento verbal, o aposto atua na explicitação desse constituinte: Ex.: “Os quartos de pesca refletem a organização e até a personalidade de seus donos. Conheça três deles, escolhidos a dedo para esta reportagem.” d) Complemento nominal: Nesse papel, o aposto concorre para a maior precisão do nome transitivo, que, além do complemento, se acresce de novas informações, como em: Ex.: “Alimentos ricos em vitamina A, como o fígado, e derivados do leite, além da vitamina E, como amêndoas, milho e soja, ajudam bastante no combate e prevenção às acnes (...)” e) Adjunto adverbial: Com o uso do aposto, a circunstância articulada pelo adjunto adverbial ganha mais precisão, como em: Ex.: “Taís Araújo ousou no visual para a sua personagem em Juízo Final, a maluquete Alícia.” (Revista Contigo, nº 1.694, março de 2008.) 3. DIFERENCIAR APOSTO DE ADJUNTO ADNOMINAL. “A ideia surge durante um bate-papo com os amigos Tubino e Fausto, e acabará me levando a um barranco às margens do Rio Paraguai, em frente ao Morro Pelado, a cerca de 120 km da cidade de Cáceres, no Mato Grosso.” Em (11), segundo Bechara (1999), não há argumentos suficientes para classificar os termos destacados como aposto. Antes, sua função se aproxima mais daquela cumprida pelo adjunto adnominal, ao precisar (e não exatamente corresponder, como se espera do aposto) o sentido dos SNs antecedentes. Na verdade, Tubino e Fausto, Paraguai, Pelado e de Cáceres não constituem “retomada” do nome anterior. Conforme o autor, esses casos são tratados pela tradição gramatical a partir de critérios pouco claros e precisos, que confundem a análise sintática e o ensino-aprendizagem do português, ao incluir como aposto sintagmas cuja função mais parece com a de adjunto adnominal. Em Cunha e Cintra (1985, p. 151), verifica-se o esforço em se fazer a distinção entre o aposto de especificação e o adjunto adnominal em contextos semelhantes, como nos seguintes fragmentos exemplificados pelos autores: Aposto de Especificação Adjunto Adnominal A cidade de Lisboa O clima de Lisboa O poeta Bilac O soneto de Bilac O rei d. Manuel A época de d. Manuel O mês de junho As festas de junho Mateus G. Rangel AULA 14 – VOCATIVO 1. RECONHECER O VOCATIVO NA ORAÇÃO; DEFINIÇÃO: o vocativo é um termo oracional usado para chamar ou colocar em evidência o ser a que nos dirigimos. Trata-se de constituintes “desgarrados” da estrutura oracional, uma vez que não atuam em quaisquer das funções de uma oração, sejam essas essenciais, integrantes ou acessórias. São formas de chamamento, que atuam sobre o interlocutor, a segunda pessoa do discurso, a quem se dirige o locutor. Essas formas funcionam como um tipo de “convite” para que o interlocutor atue na interação ou faça cumprir alguma ordem ou decisão do locutor. Segundo Cunha e Cintra (1985, p. 156), vocativos são termos “de entoação exclamativa e isolados do resto da frase”. 2. DISTINGUIR O VOCATIVO DOS DEMAIS TERMOS DA ORAÇÃO. Além dos termos essenciais, integrantes e acessórios da oração, há um outro termo independente, à parte do sujeito e do predicado. Esse termo é o vocativo, que, como o próprio nome indica, serve para chamar, invocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético. Por esse tipo de funcionalidade, o vocativoem geral se relaciona à segunda pessoa do discurso, que é chamada a agir na interação. O vocativo tem motivações relacionadas aos níveis textual e discursivo, desvinculadas do nível estritamente sintático, e é mais frequente na modalidade falada. INTENÇÃO DISCURSIVA: O vocativo além de ser o termo por meio do qual o falante chama, pelo nome, apelido, característica etc. a pessoa a quem se dirige, pode revelar se a relação entre o falante e o seu interlocutor é de respeito, afetividade, desprezo, ironia etc a) Vocativo: “queridinha” – ironia. b) Vocativo: “meu amigo” – afetividade. c) Vocativo: “Senhor Deus dos desgraçados!”, “Senhor Deus!” - respeito. d) Vocativo: “galera” - informalidade. AULA 15 – FUNÇÕES SINTÁTICAS E RELAÇÕES TEXTUAIS 1. IDENTIFICAR POSSIBILIDADES DE SIGNIFICAÇÃO DECORRENTES DO CONTEXTO E DA ESCOLHA DE ESTRUTURAS LINGUÍSTICAS DO TEXTO; Diferentes níveis de elaboração linguística resultam em diferentes sequências tipológicas. Vimos que nas sequências a) DESCRITIVAS, a ordenação dos fatos ou episódios não é relevante. b) As sequências NARRATIVAS, ao contrário, caracterizam-se justamente pela evolução dos fatos, pela mudança de estado, pelas relações de consequência. c) Sequências tipológicas INJUNTIVAS OU INSTRUCIONAIS têm por objetivo instruir o leitor/ouvinte sobre alguma coisa, por isso, as formas verbais mais frequentemente são empregadas no modo imperativo. d) A classificação de um texto como do tipo DISSERTATIVO recobre características textuais de duas naturezas: por um lado, temos o tipo EXPOSITIVO, que apenas expõe ideias, por outro lado, o tipo ARGUMENTATIVO, que objetiva convencer o interlocutor sobre a validade das ideias. 2. ESTABELECER A DISTINÇÃO ENTRE AS SEQUÊNCIAS TEXTUAIS, COM BASE NA IDENTIFICAÇÃO REFERIDA. Mateus G. Rangel I. NARRATIVO. É uma história; com movimentos, transformações. Comumente apresenta-se em quadrinhos, novelas, depoimentos. II. DESCRITIVO. Servem para nomear, situar/localizar e qualificar. Geralmente aparecem em cardápios, receitas, editais. III. EXPOSITIVO. Caracteriza-se por expor, definir enumerar e explicar fatos e elementos de informação. Geralmente são formados por uma constatação, problematização e conclusão e aparecem em seminários, conferências, artigos, enciclopédia. IV. ARGUMENTATIVO.Caracterizado pela presença de um argumentador, que diante de um tema específico apresenta uma tese, apoiada em argumentos que visam convencer um público-alvo. Costuma aparecer em textos de opinião, peça judiciária. V. INJUNTIVO: Texto que visa direcionar e influenciar a ação do leitor em respectiva direção. Geralmente aparece em propagandas, outdoor, manual. AULA 16 – INTRODUÇÃO À SINTAXE DO TEXTO FALADO 1. IDENTIFICAR AS MARCAS ESTRUTURAIS DOS TEXTOS FALADOS, RELACIONANDO-AS COM AS CONDIÇÕES ESPECÍFICAS DE PRODUÇÃO DA ORALIDADE; Há marcas próprias da oralidade, como Fragmentação, Situcionalidade e Reinteração; e que tais marcas acabam por motivar usos sintáticos também próprios nesses materiais. Por outro lado, vimos que a) fragmentação : Como traço entoacional temos na ffragmentação a hesitação“:”= as pausas na oralidade causadas por tensão, dúvidas, desatenção e ruptura/truncamento“/”=diante de um equívoco ou mudança de planejamento, só resta “quebrar” a sequência e ir adiante), , b) situacionalidade: São elementos que pedem a adesão do interlocutor para o que está sendo falado, que sinalizam e orientam o movimento do texto. Sua função, portanto, não é do âmbito sintático, mas sim do nível pragmático (refere-se a uma abordagem linguística que leva em conta as condições contextuais, principalmente as externas ou situacionais, na elaboração dos textos, notadamente os falados. Pertence à esfera da pragmática a consideração do perfil dos interlocutores e das condições do uso linguístico (espaço, tempo, propósitos comunicativos, modalidade, entre outras). c) Reiteração: Em textos escritos, o que declaramos pode ser lido e relido, o que evita repetições, na fala, pelo contrário, é mesmo necessária a reiteração, o reforço do que dizemos. 2. ESTABELECER PONTOS EM COMUM E DE CONTRASTE ENTRE A ORGANIZAÇÃO DA FALA E DA ESCRITA EM TEXTOS DO PORTUGUÊS, LEVANDO EM CONTA AS FUNÇÕES SINTÁTICAS DESCRITAS PELA TRADIÇÃO GRAMATICAL. Há pontos em comum entre textos falados e escritos, o que se justifica pelo traço da expressão verbal que partilham, e que esses pontos explicam os aspectos correspondentes entre as duas modalidades. Os pontos em comum são: Centralidade temática, Ordem SintáticaComum do Português SVC e Conectores Textuais. Mateus G. Rangel AULA 17 – ABORDAGENS SINTÁTICAS ALTERNATIVAS – AZEREDO 1. RECONHECER OS CONCEITOS PRINCIPAIS DA SINTAXE ESTABELECIDOS POR AZEREDO; Azeredo define sintaxe a partir da noção fundamental de dupla articulação da linguagem, que pode ser explicada por meio da existência de dois planos de estruturação das línguas, respectivamente, o plano do conteúdo e o plano da expressão, daí o nome dupla articulação, proposto por André Martinet. Ao plano da expressão, também chamado segunda articulação, correspondem unidades como acentos, sílabas e fonemas; ao plano do conteúdo, também chamado primeira articulação, pertencem unidades como palavras, raízes, afixos e as chamadas proposições. MORFEMAS LEXICAIS: Os elementos que contêm o significado básico da palavra chamam-se morfemas lexicais. MORFEMAS GRAMATICAIS: os que indicam a flexão das palavras, ou seja, as variações para indicar número, gênero, pessoa, modo, tempo recebem o nome de morfemas gramaticais. Em gatas, por exemplo, gat- é morfema lexical, -a é morfema gramatical indicador de gênero feminino e -s é morfema gramatical indicador de número plural. 2. COMPREENDER O CONCEITO DE COMPETÊNCIA PRAGMÁTICA; Define-se competência pragmática como a capacidade de se compreender a intenção do locutor no ato de linguagem. Esse conceito, portanto, amplia e completa o que, há muito tempo, vem se chamando “competência linguística”. Ex.: Por exemplo, imaginemos uma situação. Uma pessoa está arrumando uma mesa de guloseimas para um aniversário. Sem que ela permita, vêm muitas crianças e comem vorazmente grande parte dos doces De acordo com Pinto (2000, p. 47), “um número muito grande de trabalhos, com temas e objetivos os mais diversos, circula nos periódicos e outras publicações declaradamente inse- ridos no domínio da PRAGMÁTICA”. A Pragmática, cujo conceito foi criado por Peirce, em 1878, analisa o uso concreto da linguagem na prática linguística. Dessa forma, podemos definir Pragmática como a ciência do uso. que estão sobre a mesa. Essa pessoa, em ato de reprovação e em tom irônico, profere a seguinte frase: “Nossa, que povo educado!” Nenhum falante da língua teria dificuldades para compreender exatamente o contrário do que a própria pessoa disse. Apesar de ela ter dito “Que povo educado!”, ela está querendo dizer exatamente o oposto: “Que povo mal-educado!” Compreendemos o sentido irônico da frase proferida porque temos competência pragmática para tal. Uma abordagem estritamente sintática não nos possibilitaria adquirir esse significado. 3. CARACTERIZAR A COMUTAÇÃO, A TRANSPOSIÇÃO E OS CONSTITUINTES IMEDIATOS. A propriedade da COMUTAÇÃO consiste em uma operação de troca ou substituição de elementos. Como o próprio nome sugere, comutar é trocar. Para realizá-la, troca-se um segmento do plano da expressão e tem-se, como resultado, uma alteração no plano do conteúdo. Por exemplo, na palavra menino, podemos comutar (trocar ou substituir) o último elemento (morfema gramatical -o) por outroelemento (morfema gramatical -a). Por meio dessa operação de comutação, chegaremos à forma feminina do nome, ou seja, a Mateus G. Rangel palavra menina. Da mesma forma, podemos comutar o morfema lexical (menin-) por outro morfema lexical (cachorr-). Dessa forma, chegaremos a cachorro. Assim, a cada alteração no plano do significado, corresponderá uma alteração no plano do conteúdo. FRASE, ORAÇÃO E HIERARQUIA GRAMATICAL: a análise gramatical é o procedimento que permite reconhecer e identificar os padrões de combinação dos diferentes níveis de funcionamento da estrutura da gramática. Por meio dessa análise, chega-se a uma hierarquia que detecta elementos, tais como: o morfema, o mais simples, o vocábulo; o sintagma, a oração e o período, o mais complexo, definido como “a maior unidade da estrutura gramatical” (p. 33). Tradicionalmente distribuídas nas diferentes disciplinas relacionadas à gramática, o vocábulo e o morfema dizem respeito à morfologia, e a oração e o período dizem respeito à sintaxe. Os sintagmas constituem um dos níveis da estrutura gramatical do português, na qual o morfema ocupa o nível mais baixo, seguido do vocábulo. Acima do sintagma, temos a oração e o período, conforme expomos a seguir: PERÍODO ORAÇ ÃO SINTAGMA PALAVRA MORFEMA TRANSPOSIÇÃO: Transpositor é o elemento que indica a passagem de uma categoria a outra, como é o caso do artigo que, diante de um verbo, assinala a sua substantivação. Exemplo: o chegar do verão. AULA 18 – ABORDAGENS SINTÁTICAS ALTERNATIVAS – PERINI 1. RECONHECER A ABORDAGEM SINTÁTICA DE MÁRIO PERINI; A Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) utiliza os seguintes termos para expressar as diversas funções sintáticas da oração: sujeito, predicado, objeto (direto e indireto), predicativo (do sujeito e do objeto), complemento nominal, agente da passiva, aposto etc. A análise sintática que Perini (2000) propõe diferenças em muitos aspectos, dessa proposta mais tradicional. Segundo o autor, o parâmetro é estritamente sintático, ou seja, não lança mão de critérios semânticos. Faz, assim, uma abordagem formal da oração, sem levar em consideração aspectos do significado. Perini (2000), à maneira de Azeredo, também utiliza uma análise de base sintagmática, ou seja, define os grandes constituintes da oração a partir de sintagmas ou de constituintes imediatos, hierarquicamente organizados, e cada um desses constituintes possui um comportamento gramatical próprio, o que vale dizer que possui uma função própria. 2. DISTINGUIR A ABORDAGEM DE MÁRIO PERINI DAS ABORDAGENS TRADICIONAIS. Podemos dizer que esses constituintes são os sintagmas da sentença, ou ainda, como diz Perini, são os constituintes imediatos da oração, o que distingue a Abordagem de Perini das Abordagens Tradicionais. Cada um deles desempenha uma função específica na sentença. No exemplo acima, Meus amigos é sujeito. Compraram é predicado. Um carro extremamente potente é objeto direto. Esses constituintes imediatos podem ser subdivididos na análise. Contudo, em primeiro lugar, seguindo a sequência estipulada pelo linguista, vamos às funções sintáticas de nível oracional, isto é, as funções que podem ser desempenhadas pelos constituintes imediatos da Mateus G. Rangel oração. Por fim, vale a pena recordar os traços distintivos, utilizados por Perini (2000), bem como a notação utilizada para determinar as funções de nível oracional: Traços distintivos [CV] – concordância verbal – a propriedade de estar em relação de concordância com o NdP (Núcleo do Predicado). [Ant] – anteposição – propriedade de poder aparecer no início da oração em uma frase correspondente. [Q] – a propriedade de poder ser retomado pelos elementos que, o que ou quem. [CN] – concordância nominal – a propriedade de estar em concordância nominal com outros termos da oração. [Cl] – clivagem – a propriedade de poder ocorrer como foco de uma frase clivada correspondente. [PA] – posição do auxiliar – a propriedade de uma determinada função poder ocorrer na posição do auxiliar (entre o sujeito e o NdP). [pNdP] – a propriedade de só poder ocorrer imediatamente antes do NdP. Funções de nível oracional • Sujeito: [+CV]. • Objeto direto: [-CV, +Ant, +Q, -CN, +Cl, -PA]. • Complemento do predicado: [-CV, +Ant, +Q, +CN, +Cl, -PA]. • Predicativo: [-CV, -Ant, +Q, +CN, +Cl, -PA]. • Atributo: [-CV, +Ant, -Q, +CN, +Cl, +PA]. • Negação verbal: [+pNdP]. • Adjunto adverbial: [-CV, -Ant, -Q, -CN, +Cl, -PA]. • Adjunto oracional: [-CV, +Ant, -Q, -CN, -Cl, +PA]. • Adjunto circunstancial: [-CV, +Ant, -Q, -CN, +Cl, -PA]. • Núcleo do predicado (postulado).