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Moreira et al - Com a palavra, as mulheres - Maternidade por trás das grades

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REVISTA BRASILEIRA DE 
CIÊNCIAS CRIMINAIS 
BRAZILIAN CRIMINAL SCIENCES REVIEW 
Ano 26 • vol 146 • ago. / 2018 
Dossiê Especial: "Gênero e 
Sistema Punitivo" 
Editoras associadas: Luciana Boiteux e Luanna Tomaz 
OTECA DO Mn 
COM A PALAVRA, AS MULHERES: MATERNIDADE POR TRÁS DAS GRADES 
HERE NOW, TI-/E NOME!'!: MATERNITY BEHIND BARS 
RAFAM ARAÚJO MOREIRA 
Enfermeira. Formada pelo Centro Universitário Jorge Amado (2017). 
rafaelaaraujo.moreira@gmail.com 
MAIANA VARGAS FONSECA 
Enfermeira. Formada pelo Centro Universitário Jorge Amado (2017). 
vargasmaiana egmail.com 
JEAN CARLOS CARVALHO PFtAXEDES 
Enfermeiro, Formado pelo Centro Universitário Jorge Amado (2017). 
jhancarllosahotmail.com 
TÂNIA CHRISTIANE FERREIRA BISPO 
Enfermeira. Doutorado e Pôs Doutorado em Saúde Coletiva pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBAIISC. 
Mestre em Enfermagem pela EEUFBA, Especialista em Enfermagem Obstétrica. Coordenadora do NUPEIS - 
Núcleo e Pesquisa Interfaces em Saúde. Professora Titular da Universidade do Estado da Bahia - UNEB. 
taniaenf@uoi.com.br 
DENISE SANTANA SILVA DOS SANTOS 
Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem UFBA (2018). Mestre em Enfermagem UEBA (2011). 
Especialista em Neonatologia pela Universidade do Estado da Bahia (2008). Docente do Curso de 
Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). 
denisenegaleMotmail.com 
Recebido em: 28.02.2018 
Aprovado em: 14.05.2018 
Ultima versão do (a) autor (a): 24.05.2018 
ÁREA DO DIREITO: Penal 
RESUMO: É de suma importância o estimulo à rea-
lização de pesquisas e o aumento do conheci-
mento sobre o tema "mulheres gestantes em 
situação de prisão", possibilitando dessa forma a 
Atis-raAcT: R is extremely important to stimulate 
research and increase knowledge about the topic 
of "pregnant women in prison", thus enabling re-
flection, bringing to light the need to implement 
MOREIRA, Rafaela Araújo; Fausra, Maiana Vargas; PRAXEOES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
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reflexão, trazendo à tona a necessidade de se 
implantar uma política pública efetiva destinada 
a essas mulheres. O presente estudo teve como 
objetivo analisar o gestar e parir no cárcere sob a 
ótica da mulher em situação de prisão. Trata-se 
de uma pesquisa de campo, de caráter qualita-
tivo, com abordagem descritiva, na qual foram 
realizadas entrevistas com 8 (oito) mulheres em 
regime prisional de uma penitenciária localizada 
na cidade de Salvador-Bahia. Por se tratar de um 
subprojeto de um projeto maior, intitulado: "Ser 
mulher, estar grávida e presidiária: difíceis cami-
nhos", o mesmo já teve aprovação do comitê de 
ética, recebendo parecer favorável sob o número 
346.920. Os resultados obtidos evidenciaram que 
alguns fatores como condições ambientais e de 
higiene e relações interpessoais e afetivas são 
importantes. Quando agem de maneira negativa 
sobre a gestante, eles podem interferir na qua- 
lidade do crescimento gestacional, com reflexos 
no parto. Apesar da existência de políticas públi-
cas nacionais que são direcionadas às mulheres 
em situação de prisão, existem muitas falhas 
ligadas principalmente a sua execução. Desse 
modo, a importância da atuação dos profissio- 
nais de saúde treinados e capacitados, visando a 
melhoria na estadia das mulheres gestantes no 
presidio, mostrou-se fator relevante, visto que 
esses profissionais podem amenizar de forma 
significativa o sofrimento e a ansiedade dessas 
mulheres. 
PALAVRAS-CHAVE: Gestantes - Saúde da mulher - 
Assistência à saúde - Direitos da mulher - Prisões. 
an effective public policy aimed at these women. 
The present study had as objective to analyze the 
gesta and to give birth in the jail from the pers-
pective of the woman in situafion of prison. This 
is a qualitative field research with a descriptive 
approach, in which interviews were conducted 
with eight (08) women in prisons from a peni-
tentiary Iocated in the city of Salvador-Bahia. 
Because it is a subproject of a larger project, 
entitled: "Being a woman being pregnant and 
incarcerated: difficult paths". The same has al-
ready been approved by the ethics committee, 
receiving a favorable opinion under number 
(346,920). The results showed that some factors 
such as environmental and hygiene conditions 
and interpersonal and affective relationships 
are important. When they act negatively on the 
pregnant woman, they can interfere in the qua-
lity of gestational growth, with reflexes in chil-
dbirth. Despite the existence of national public 
policies that are targeted at women in prison, 
there are many failures linked mainly to their 
implementation. Thus, the importance of the 
performance of trained and trained health pro-
fessionals, aiming at improving the stay of preg-
nant women in the prison, has been a relevant 
factor, since these professionals can significantly 
lessen the suffering and anxiety of these women. 
KF(WORDS: Pregnant women - Women's Health - 
Health Care - Women's R ights - Prisons. 
SUMÁRIO: Introdução. Metodologia. Perfil das mulheres entrevistadas. Resultados e discus- 
são. O gestar e o parir no cárcere. A invisibilidade das necessidades da gestante. Conside-
rações finais. Referências. 
INTRODUÇÃO 
A criminalidade no Brasil segue em rumo crescente, assim como o número 
de mulheres envolvidas em práticas criminosas; dessa forma é cada vez mais 
comum a presença de mulheres nas penitenciárias brasileiras. Consequente-
mente, os casos de gestações dentro do presídio sofrem aumento, tornando 
MOREIRA, Rafaela Araújo; Fossfcs, Maiana Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. Revisto Brasileiro de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2078. 
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DOSSIÊ ESPECIAL: "GÊNERO E SISTEMA PUNITIVO" 	651 
necessária a discussão cada vez mais frequente sobre o tema (BISPO, FERREIRA, 
FERREIRA, 2013; BRASIL, 2009). 
Apesar do aumento expressivo do público feminino nos presídios, este 
ainda é um assunto pouco discutido pela sociedade, fazendo com que as di-
ficuldades encontradas por essas mulheres estejam longe de serem sanadas, 
obstáculos ainda maiores são encontrados quando existe nesse cenário uma 
gestação em curso (PICOLI et ai, 2014). 
É de suma importância o estímulo a realização de pesquisas e o aumen-
to do conhecimento sobre o tema "mulheres gestantes em situação de pri-
são", possibilitando, dessa forma, a reflexão, trazendo à tona a necessidade de 
se implantar uma política pública efetiva destinada a essas mulheres (BISPO, 
FERREIRA, FERREIRA, 2013). 
Segundo a Lei de Execução Penal 7.210, de 11 de julho de 1984, é asse-
gurado à mulher encarcerada o acompanhamento médico, inclusive e prin-
cipalmente quando ela se encontra em período gravídico. O art. 88 garante o 
direito dessas mulheres a uma seção específica para gestantes e parturientes e 
creches para abrigar crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) 
anos (BRASIL, 2014). 
Na realidade do nosso país vemos que esses direitos tendem a não ser cum-
pridos como deveriam, fato este que é comprovado quando nos deparamos 
com unidades prisionais que apresentam falta de estrutura física, mobiliário 
insuficiente, muitas vezes precário, e falta de profissionais treinados e prepa-
rados para lidar com a saúde das gestantes (CARNEIRO, VERÍSSIMO, 2016). 
Em alguns presídios a assistência à saúde da mulher gestante é inexistente, 
aumentando o risco de adoecerem por não obterem assistênciadevida; somado 
a isso está o fato de a maioria delas possuírem histórico de deficiência do aces-
so às ações de saúde, por se originarem de uma baixa condição socioeconómi-
ca, tornando-se este um problema de saúde pública (GALVÃO, DAVIM, 2013). 
A realidade é que o sistema prisional não foi feito para abrigar mulheres 
gestantes, muito menos bebês, por se tratar de um ambiente restrito, com nor-
mas de conduta, rotinas decretadas e, acima de tudo, por ter características de 
um lugar tenso e violento, tomando-se um lugar hostil para gestação (CYPEL, 
2011). 
O isolamento causado pela prisão é motivo de muito estresse para as ges-
tantes, isso aliado à realidade de a grande maioria ter sido abandonada pelos 
familiares e marido. Diante disso, as mulheres acabam se sentindo derrotadas, 
culpadas, frustradas, sozinhas e sem proteção numa fase em que necessitam de 
companhia e de cuidado (SANTOS et al., 2009). 
MOREIRA, Rafaela Araújo; FONSECA, Maiana Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revista Brasileira de Ciências Crimina& vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
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O ambiente carcerário é prejudicial às gestantes, já que a condição física, 
psíquica e emocional da mãe interfere no feto. O estresse materno está mui-
tas vezes relacionado à causa de partos prematuros, baixo peso ao nascer, en-
tre outras complicações (DIPIETRO, 2002). Proporcionar a humanização do 
cuidado, levar maior conforto às gestantes, acolhê-las e prestar assistência ne-
cessária são medidas que podem ser adotadas para minimizar o impacto que o 
encarceramento tem sobre a gestação (GALVÃO, DAVIM, 2013). 
Conforme a relevância do tema, surge a necessidade de reflexão, ampliando 
a área de pesquisa existente na literatura sobre a temática, promovendo maior 
discussão sobre a atual conjuntura das gestantes em situação de prisão, além 
de promover a educação continuada de todos os profissionais que lidam de for-
ma direta com essas mulheres. 
Dessa forma, elaboramos nossa pergunta norteadora: como ocorre o gestar 
e o parir no cárcere, sob a ótica da mulher em situação de prisão? 
Com o intuito de colaborar para uma adequada assistência às mulheres em 
período gravídico, este estudo tem como objetivo geral analisar esse questio-
namento. 
METODOLOGIA 
Trata-se de um estudo qualitativo, com abordagem descritiva. Esse tipo de 
estudo tem como finalidade descrever as características de determinadas po-
pulações ou fenômenos. Uma de suas peculiaridades está na utilização de téc-
nicas padronizadas de coleta de dados na forma de questionários e observação 
sistemática (GIL, 2010). 
A pesquisa qualitativa é um método de investigação científica que se atém 
no caráter subjetivo do objeto em análise, não tem por objetivo adquirir nú-
meros como resultado, e, sim, compreender, caracterizar grupos, instituições e 
pessoas com relação a seus costumes, suas histórias e até mesmo relações entre 
indivíduos, instituições e movimentos sociais (1VIINAYO, 2008). 
O estudo qualitativo trabalha com o âmbito de significados, motivos, aspi-
rações, crenças, valores e atitudes, o que equivale a uma zona mais profunda 
das relações, dos processos e dos fenômenos. Seu propósito não é contar quan-
tidades, portanto são feitas geralmente com um número pequeno de entrevis-
tados (MINAYO, 2001). 
Participaram deste estudo 8 (oito) mulheres em regime prisional de uma pe-
nitenciária localizada na cidade de Salvador-Bahia, no período de março a abril 
de 2017. As mulheres foram escolhidas obedecendo aos seguintes critérios de 
MOREIRA, Rafaela Araújo; Forrsrok, Maiana Vargas; PRAXEOES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trâs das grades. 
Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
inclusão: estar grávida durante a permanência na penitenciária ou já tiverem 
passado por essa experiência e aceitaram participar do estudo. 
A coleta de dados ocorreu por meio de uma entrevista semiestruturada, 
cujo roteiro visa os dados biográficos, sociodemográficos e específicos, de 
acordo com a temática da pesquisa. Em um local reservado, foi explicado às 
entrevistadas como funcionaria a pesquisa, quais os objetivos do estudo, como 
se dá a participação voluntária, sendo garantido o total anonimato das partici-
pantes. As entrevistas foram gravadas após a assinatura do termo de consen-
timento livre e esclarecido. Para que as identidades fossem preservadas, todas 
foram identificadas com a letra "M", e o número, de acordo com a ordem da 
sua entrevista. 
As entrevistas foram transcritas e analisadas conforme análise de Conteúdo 
de Bardin (2011), agrupadas e categorizadas conforme unidade temática, des-
tacando-as como foco da pesquisa, a fim de identificar os agravos ocasionados 
pela invisibilidade das necessidades da mulher durante a gravidez no cárcere. 
Para Bardin (2011), o exame de conteúdo é um conjunto de técnicas de 
análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objeti-
vos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos 
ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições 
que produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens. 
A análise de conteúdo é dividida em três etapas: pré-análise, descrição ana-
lítica e interpretação inferencial. Na fase de pré-análise, inicialmente foram 
realizadas várias leituras do material das entrevistas, tentando angariar fami-
liaridade com o texto transcrito, buscando apreender seu conteúdo. No segun-
do momento, a leitura das entrevistas transcritas se deu de forma sistemática, 
assinalando ocorrências pertinentes à pesquisa, constituindo-se, assim, a fase 
analítica, em que o "corpus" é submetido a um estudo mais aprofundado. Nes-
sa segunda fase foi realizada a formação dos temas que sintetizam as unidades 
de registro, agrupando-as e categorizando-as. Na terceira etapa, a interpretação 
das informações foi elaborada pela inferência (BARDIN, 2011). 
Por se tratar de um subprojeto de um projeto maior, intitulado: "Ser mu-
lher, estar grávida e presidiária: difíceis caminhos", já teve aprovação do comi-
tê de ética, recebendo parecer favorável sob o número 346.920, de acordo com 
a Resolução 466/12 do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 
Os princípios éticos serão respeitados, no intuito de proteger os direitos das 
entrevistadas ao se levar em consideração os aspectos éticos pontuados pelas 
Diretrizes Reguladoras de Pesquisa em Seres Humanos, em consonância com a 
Resolução 510/2016 do CNS. 
MOREIRA, Rafaela Araújo; FONSECA, Maiana Vargas; BRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
Sarros, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revisto Brasileira de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
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PERFIL DAS MULHERES ENTREVISTADAS 
Neste estudo, realizado com oito mulheres em situação de prisão, foi veri-
ficado, por meio da análise da variável quantitativa faixa etária, que as parti-
cipantes possuem idade entre 18-26 anos (62,5%) e 27-34 anos (37,5%), em 
conformidade com os dados coletados no Estado do Ceará, que retratam a pre-
dominância da mesma faixa etária (RIBEIRO et ai, 2013). 
Com relação à raça, 87,5% das mulheres se autointitulam pardas e 12,5% 
negras, o que diverge do DEPEN (BRASIL,2014), que traz um percentual de 
87,7 de mulheres negras. 
A maioria das mulheres em privação de liberdade encontradas nos presídios 
brasileiros é de origem pobre e com baixa condição socioeconômica; grande par-
te delas possui pouca escolaridade e, muitas vezes, antes da prisão, ocupavam-
-se de serviços informais, mal remunerados ou estavam desempregadas (BRASIL, 
2016a). Equiparando-se com os dados encontrados neste estudo, em que 50% das 
mulheres possuem o primeiro grau incompleto, destas, 12,5% são analfabetas. 
Tabela 1 — Caracterização das mulheres privadas de liberdade entrevistadas, 
quanto à faixa etária, raça e escolaridade, Salvador-BA, 2017. 
FAIXA ETÁRIA N. % 
18-26 anos 5 62,5 
27-34 anos 3 37,5 
TOTAL 8 100 
RAÇA N. % 
PARDA 7 87,5 
NEGRA 1 12,5 
TOTAL 8 100 
ESCOLARIDADE N. % 
ANALFABETA 1 12,5 
1° GRAU INCOMPLETO 4 50 
2° GRAU INCOMPLETO 2 25 
2° GRAU 1 12,5 
TOTAL 8 100 
Fonte: elaborado pelos autores. 
MOREIRA, Rafaela Araújo; FONSECA, Maiana Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revista Brasileira de Ciências Criminais vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
Ao investigar o motivo de prisão, foi constatado que 62,5% das mulheres 
foram presas por tráfico de drogas, seguido de homicídio (25%), tornando o 
furto o menor percentual. O principal motivo pelo cárcere feminino é o tráfi-
co de drogas, na maioria das vezes os crimes estão ligados ao transporte dessas 
substâncias ou ao pequeno comércio. A influência do parceiro é fator impor-
tante na iniciação da vida criminal das mulheres, raramente elas exercem papel 
de gerenciamento no tráfico, ocupando em maior frequência papel de coadju-
vante (BRASIL, 2014). 
A análise das entrevistas revelou que 100% das mulheres não são soteropo-
litanas, sendo procedentes de cidades do interior da Bahia, tomando a distân-
cia mais um fator predisponente para o abandono familiar, do companheiro e 
afastamento dos filhos, transformando o desamparo em mais um obstáculo a 
ser vencido por essas mulheres. 
Tabela 2 — Identificação de mulheres privadas de liberdade quanto 
ao motivo de reclusão e sua procedência, Salvador — BA, 2017. 
MOTIVO DE RECLUSÃO N. % 
Homicídio 2 25 
Tráfico de drogas 5 62,5 
Furto 1 12,5 
TOTAL 8 100 
N. 96 PROCEDÊNCIA 
Interior do Estado da Bahia 8 100 
Salvador 0 0 
TOTAL 8 100 
Fonte: elaborado pelos autores. 
Resultados e discussão 
Emergiram duas categorias para propiciar uma melhor compreensão da 
análise, assim denominadas: o gestar e o parir no cárcere e a invisibilidade das 
necessidades da gestante. 
O gastar e o parir no cárcere 
As mulheres que se encontram em situação de prisão são acompanhadas 
por muito sofrimento, tomando esta uma fase critica de suas vidas. Como 
MOREIRA, Rafada Araújo; FONSECA, Maiana Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
Ssmos, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
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forma de adaptação a essa realidade elas desenvolvem mecanismos de sobrevi-
vência, como o isolamento (LIMA et al, 2013). 
Tal condição favorece o surgimento de sentimentos negativos, tornando o 
dia a dia em cárcere complicado e dificultoso. Esse cenário, que afeta as mu-
lheres no sistema prisional, agrava-se ainda mais quando existe uma gestação 
em curso, tendo em vista a maior fragilidade física e emocional própria desse 
período (BISPO, FERREIRA, FERREIRA, 2013). É o que denotam os dados a 
seguir: 
1...] Estar aqui é difícil, muito ruim, só fico alegre no dia da visita, na quinta-
-feira, a família não vem me ver, já me esqueceu. Aqui dentro é muito difícil, 
mas dá para conviver, só em eu não andar fora e ficar fora dos fuxicos... O 
pai do meu filho não vem me ver, está foragido. [...I Foi horrível saber que 
estava grávida aqui. Quando sentia dor, chamava e não tinha ninguém, o 
meu bebé saiu com 5 meses (M2). 
[...] Estar aqui, não sei nem te dizer, uma infelicidade, sem visita, sou do 
interior preciso das coisas. [...1 Parir aqui para mim foi muita humilhação, 
as coisas foi a minha irmã que trouxe, orei muito, pedi a Deus um socorro, 
outro dia chegou um pastor e me deu um enxoval. Graças a Deus ganhei 
tudo, mais de que quando tive meu outro filho em casa (M5). 
É possível perceber nos relatos que nesse cenário, que abriga mulheres pre-
sidiárias, gestantes e mães, a dor e o vazio são grandes. Estando elas em um 
local como esse, essas mulheres sofrem violência duas vezes, o que nos leva a 
refletir que, independentemente do crime cometido, elas merecem total assis-
tência à saúde, principalmente enquanto estiverem gestantes. 
O abandono da família pode gerar ausência total ou parcial de laços afeti-
vos, tornando ainda mais difícil a sua situação. Ao refletir mais sobre o assunto 
é possível perceber também que a presença dos familiares tem uma importãncia 
positiva no desenvolvimento gestacional, minimizando os riscos de abandono. 
[...] Eu me sinto duas vezes em cárcere privado, porque aqui eu não tenho 
privacidade nenhuma... Por conta do HIV me sinto sozinha e fico isolada, 
as pessoas não se aproximam porque tem medo de pegar. [...1 Ter meu filho 
aqui deve ser muito ruim, eu não penso muito nisso, estou muito triste e 
angustiada com essa solidão (M6). 
f...1 Me sinto insegura em algumas partes, não vejo a prisão como segura. 
[...1 
Imagina que terrível, sem a família por peno, sem o acompanhamento, 
sem minha casa... Muito triste. E...] As práticas de saúde são precárias, tem 
MOREIM, Rafaela Araújo; FONSECA, Maiana Vargas; PRAXEDÉS, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revisto Brasileiro de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
demora nos atendimentos e nos exames, as vacinas até agora ninguém to-
mou, ninguém está nem ai para nada (M8). 
A gravidez revela à mulher reclusa uma realidade na qual as sensações cor-
póreas normais e seu estado emocional são alterados. Nessa fase a mulher di-
vide seu corpo com outro ser que em breve ganhará vida, estar gestante e 
encarcerada gera um período de crise e de transformação (MARIN, 2012). 
Toda mulher necessita de um cuidado aumentado no período gravídico, 
por conta das mudanças que sofrem em seu corpo e pela fragilidade do seu 
estado emocional nesse momento da vida. Alguns fatores como condições 
ambientais e de higiene e relações interpessoais e afetivas são importantes. 
Quando agem de maneira negativa sobre a gestante, eles podem interferir 
na qualidade do crescimento gestacional, com reflexos no parto (MILITA°, 
BRUNO, 2014). 
A gestação é um momento especial na vida de uma mulher. É nesse mo-
mento que o cuidado e o carinho têm que andar entrelaçados para que a ges-
tante se sinta acolhida e preparada para viver a gestação; estando encarcerada 
tudo fica mais difícil de acontecer, principalmente para aquelas que estão vi-
vendo a gestação pela primeira vez. 
Essa situação experienciada pela gestante presa é bastante delicada, elas 
precisam ser acompanhadas com um atendimento, específico destinado às 
suas necessidades, considerando que muitas delas vêm de classe baixa, em que 
o acesso à saúde de qualidade é menor, mesmo existindo leis que asseguram a 
essas mulheres direitos a um atendimento. 
Para nós, estar grávida e encarcerada é sinônimo de enfrentar uma gravidez 
de risco;o ideal seria não encarcerar essas mulheres que muitas vezes já che-
gam com a gestação em curso e acabam convivendo com a incerteza de quan-
to tempo irão permanecer com os seus filhos. É uma realidade muito cruel, a 
penitenciária não oferece condições mínimas de habitabilidade como um local 
adequado para dormir, alimentação com o mínimo de higiene, saneamento bá-
sico e educação. 
A invisibilidade das necessidades da gestante 
O sistema prisional foi criado e planejado para abrigar a população mascu-
lina, posteriormente foram criados os presídios femininos. Se as condições de 
homens em situação de prisão já são precárias, quando se trata do sexo femini-
no as dificuldades enfrentadas são ainda maiores no que tange à infraestrutura, 
à discriminação e aos maus tratos (P1ZOLOTTO, 2014). 
MOREIRA, Rafada Araújo; FONSECA, Maiana Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
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DossiÊ ESPECIAL: "GÊNERO E SISTEMA PUNITIVO" 	659 658 	 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS CRIMINAIS 2018 • RBECRim 146 
O aumento da taxa de mulheres em situação de prisão trouxe consigo a ne-
cessidade de políticas que as beneficiassem, em um ambiente que até então 
prevalecia o sexo oposto. Dessa forma, diversas leis foram elaboradas, como 
a Lei 11.942/2009, criada para assegurar mães e recém-nascidos que se en-
contram nesse cenário, garantindo condições mínimas de assistência para eles 
(BRASIL, 2009). 
No âmbito internacional, destacam-se as Regras de Bangkok aprovadas pe-
la Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em 2010. Elas 
defendem que as mulheres recebam, enquanto permanecerem na prisão, acon-
selhamento quanto a sua dieta e saúde, por meio de programa que deverá ser 
elaborado e fiscalizado por um profissional de saúde qualificado para tal exer-
cício. As Regras de Bangkok preconizam a importância de uma alimentação 
adequada, ambiente saudável e viabilização da execução de exercícios físicos 
(BRASIL, 2016b). 
Apesar da existência de políticas públicas nacionais que são direcionadas às 
mulheres em situação de prisão, existem muitas falhas ligadas principalmente 
a sua execução, isso tem relação com o desconhecimento pelas presas dos seus 
direitos e sua aparente invisibilidade para a sociedade, agravando os episódios 
de discriminação, humilhação e abuso de autoridade por pane dos agentes pri-
sionais (MOREIRA; SOUZA, 2014). 
A Lei 11.942, de 2009, discorre sobre o direito das presas gestantes e par-
turientes a um local próprio para elas, assim como uma creche para abrigar 
crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, para que pos-
sam cuidar melhor de si e de seu bebê. Assegura também às mães presas e 
aos recém-nascidos condições mínimas de assistência, como acompanhamen-
to médico no período pré-natal e no pós-parto, assim como o atendimento ao 
recém-nascido. 
Contudo, segundo O INFOPEN (Levantamento Nacional de Informações 
Penitenciárias), há falta de médicos pediatras no sistema carcerário, tornando 
dificultosa a efetivação dessas ações. A mesma lei garante que os presídios des-
tinados as mulheres tenham berçário, para que as detentas consigam acomodar 
seus bebês e assim prestar um melhor cuidado, inclusive amamentar por no 
mínimo seis meses (BRASIL, 2009), destoando dos seguintes relatos colhidos: 
E...1 O parto e o pré-natal foram difíceis, porque eu tinha que ficar algemada, 
isso me incomodava... Algemada, a mão na cama, os agentes desciam para o 
almoço e depois iam tirar um trago e demoravam, e eu presa, minha criança 
chorava, eu não podia pegar para mamar. Quando a criança chega ainda é 
pior porque não tem berçário, minha galeria cheia de mosquitos, paredes 
MOREIRA, Rafada Araújo; FONSECA, Malan@ Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revista Brasileiro de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
sujas, encardidas, não tinha mosquiteiros, eu tive que pedir as irmãs freiras. 
O banho também era muito difícil, não queria dar banho frio no meu filho, 
sei que bebê não gosta e água morna demorava muito. Muito complicado, 
ninguém orienta nada (M2). 
[...] Amamentei até seis meses aí levaram meu filho, um dia antes me cha-
maram e disseram foi horrível... Chorei muito, com as mamas cheias de 
leite... Veio uma enfermeira aqui e me deu remédio para secar o leite. A pri-
meira visita demorou quase 1 mês. [...] Foi melhor ele ir mil vezes, porque 
aqui não é lugar para criança, e eu tenho que entender isso, que quem errou 
fui eu, aqui não é lugar para criança (M1). 
[...I No hospital eu tive que usar as algemas, porque no terceiro dia eu estava 
com outro agente e depende muito de quem está com a gente no dia. Teve 
um dia que o agente saiu e me deixou algemada, ele foi fumar, demorou para 
voltar e eu tive que urinar na cama mesmo, porque a enfermeira foi procurar 
e não achou ele. [...] Todas as orientações pra mim foram feitas no hospital, 
minha filha precisou de pediatra, às vezes quando chora elas dizem que é 
normal. Tudo aqui é normal (M3). 
[...I O que fiquei triste foi depois do parto, quando o policial me fez passar 
vergonha, quando chegou na minha cama e me viu sem algema, daí come-
çou a gritar comigo, fiquei com vergonha das colegas de quarto que ficaram 
me olhando (M5). 
Os relatos anteriores denotam que, embora existam leis preconizadas para 
garantir melhores condições às mulheres gestantes que se encontram em situa-
ção de prisão, na prática não são efetivas, necessitando de empenho por parte 
das autoridades públicas para garantia desses direitos. 
A Lei 13.257/2016 assegura que a prisão preventiva poderá ser substituída 
pela domiciliar, quando gestante, ou quando mãe de filhos de até 12 anos; an-
tes a concessão era apenas para gestantes a partir do 7° (sétimo) mês (BRASIL, 
2016). Essa mudança causou repercussões notáveis, já que no início da coleta 
de dados desta pesquisa o número de mulheres gestantes em situação de prisão 
era mais expressivo, porém, por conta da gradativa efetivação das leis criadas, 
houve significativa redução desse número. 
Publicada no Diário Oficial da União (DOU) no dia 13 de abril de 2017, a Lei 
13.434, discursa sobre a proibição do uso de algemas em mulheres presas en-
quanto elas estiverem em trabalho de parto e durante o puerpério, alterando as-
sim o Código de Processo Penal. Essa lei intensifica o trabalho de humanização 
nas penitenciárias femininas realizado pelo Departamento Penitenciário Nacio-
nal do Ministério da Justiça e Segurança Pública (DEPEN). O uso de algemas era 
habitual ante o argumento de ameaça de fuga, mesmo durante o parto, mas acre-
dita-se que o risco de uma presa evadir é mínimo (BRASIL, 2017). 
MOREIRA, Rafada Araújo; FONSECA, Ma i3r12 Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. Ri; agosto 2018. 
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DOSSIE ESPECIAL: "GÉNERO E SISTEMA PUNITIVO" 	 661 660 	 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS CRIMINAIS 2018 • RBCCRim 146 
Os direitos das mulheres que se encontram em situação de prisão muitas 
vezes não são respeitados, a devida assistência à saúde não é fornecida, ao se 
tratar de gestantes, a ausência de serviços de saúdecomo o acompanhamento 
pré-natal, no parto e puerpério, pode culminar em vários agravos tanto à saúde 
da mulher como à do feto, complicações essas, muitas vezes, irreversíveis, o 
que toma a garantia do cumprimento das diversas leis existentes que as prote-
gem fator de essencial importância em suas vidas. 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A prisão revelou-se fator estressor na vida das gestantes que se encontram 
em situação prisional, fato este muito compreensível ao analisarmos as condi-
ções nas quais são encontradas essas mulheres, alojadas em celas sem a míni-
ma estrutura para recebê-las, sem assistência à saúde necessária, somando-se a 
isso um período de grande fragilidade feminina, que é a gestação. 
Este estudo evidenciou que, apesar de o acesso à saúde ser um direito de 
todos e um dever do Estado, este ainda não é colocado em prática quando se 
refere às mulheres gestantes em situação de prisão. Urge uma revisão com re-
lação à execução desses direitos de forma integral, principalmente por tratar-
-se de uma minoria, discriminada e muitas vezes invisível perante a sociedade, 
condição que as tornam vulneráveis e sem voz. 
Algumas medidas precisam ser adotadas para que o sistema prisional fun-
cione de forma correta, garantindo e preservando os direitos dessas mulheres. 
Inspeções rigorosas, frequentes e sem aviso prévio se fazem necessárias para 
assegurar o cumprimento das leis de forma eficaz. 
No âmbito da assistência, verificou-se a necessidade de reciclagem dos pro-
fissionais que lidam diretamente com essas mulheres. Estes devem ser subme-
tidos ao processo de educação continuada, a fim de torná-los mais conscientes 
de seu papel nesse cenário. Também é de suma importância que esses profis-
sionais reconheçam os reais desígnios do sistema prisional, que são a reforma, 
a correção e a reintegração dos detentos à sociedade. 
É importante ressaltar que, no inicio da pesquisa, evidenciou-se um núme-
ro significativo de gestantes em situação de prisão, apesar da existência da Lei 
13.257/2016, que vai de encontro com esses achados, realidade esta que se-
guiu em mudança posteriormente, sendo notada gradativa diminuição no nú-
mero de mulheres gestantes em situação de prisão na penitenciária localizada 
em Salvador-BA. 
A utilização de algemas, mesmo durante o trabalho de parto e também no 
pós-parto, foi fato que se revelou corriqueiro nos relatos das entrevistadas, 
MOREIRA, Rafaela Araújo; Faie, Maiana Vargas; PRAXEDES, Jean Carlos Carvalho; BISPO, Tânia C. Ferreira; 
SANTOS, Denise Santana Silva dos. Com a palavra, as mulheres: maternidade por trás das grades. 
Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
subsequentemente à nossa coleta de dados, foi garantido pela Lei 13.434 a abo-
lição do uso de algemas nas situações supradescritas, tornando esse um passo 
importante na humanização do cuidado junto às gestantes. 
A importância da atuação dos profissionais de saúde treinados e capacita-
dos, visando a melhoria na estadia das mulheres gestantes no presídio, mos-
trou-se fator relevante, visto que esses profissionais podem amenizar de forma 
significativa o sofrimento e a ansiedade dessas mulheres, além de lhes oferecer 
assistência em um momento imprescindível, no qual vários agravos à saúde da 
mulher e do feto podem ser sanados se tratados com brevidade. 
Almejamos com esta pesquisa tornar as mulheres gestantes em situação de 
prisão visíveis à sociedade, fazendo assim com que seus problemas e mazelas 
também sejam vistos como importantes e passíveis de resolução, que seus di-
reitos sejam reconhecidos e cumpridos conforme legislação. 
Ansiamos que essa temática seja cada vez mais comum e frequente, que as 
discussões e pesquisas científicas nessa área sejam ricas e significativas, traçan-
do assim um futuro promissor e menos sofrido na vida das gestantes em situa-
ção de prisão e dos seus filhos. 
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PESQUISAS DO EDITORIAL 
Veja também Doutrina 
• As implicações do aprisionamento materno na vida dos(as) filhos(as), de Claudia Stella - 
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Revista Brasileira de Ciências Criminais. vol. 146. ano 26. p. 649-662. São Paulo: Ed. RT, agosto 2018. 
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