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[Psicologia]_A._R._Luria_-_Curso_de_Psicologia_geral_-_Vol._1

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Curso de Psicologia Geral
 				 Volume1
A presente obra compõe-se de quatro volumes, a saber:
I. Introdução Evolucionista à Psicologia
II. Sensações e Percepção
III. Atenção e Memória
IV. Linguagem e Pensamento
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A. R. Luria
Curso de Psicologia Geral
Volume I 2º Edição
Introdução Evolucionista. à Psicologia
Tradução de Paulo Bezerra
Sociedade Unificada Paulista de Ensino Renovado Objetivo – SUPERO data 11/01/99 nº da chamada 159.9 – 1967c - 2.ed.v.1 e.3 Nº de volume 14.013/99 registrado por liliane
civilização
brasileira \
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Título do original em russo:
EVOLYUTSIÕNNOE VVEDÊNIE VPSIKHOLÓGUIYU
Capa: Dounê
Diagramação: Léa Caulliraux
Revisão:
Umberto F. Pinto
e Mario Elber Cunha
1991
Direitos desta edição reservados à
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S.A.
Av. Rio Branco, 99-20? andar - Centro
20040 - Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (021) 263-2082 Telex: (21) 33798 Fax: (021) 263-61Í2
Impresso no Brasil Printed in Brazil
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Sumário
I — A Psicologia Como Ciência. O Objeto e a
Importância Prática 1
A história da Psicologia como ciência 		2
A Psicologia e outras ciências 		 7
Partes principais da Psicologia 11
Os métodos em Psicologia 17
A importância prática da Psicologia 23
II — A Evolução do Psiquismo 29
A origem do psiquismo 29
 Variabilidade do comportamento dos protozoários 32
 Mecanismos do comportamento dos protozoários 34
 Origem do sistema nervoso e suas formas mais simples 36 
O sistema nervoso ganglionar e o surgimento dos programas de comportamento mais simples 38 Surgimento das formas complexas de programação hereditária do comportamento ("instintivo") 42
 O sistema nervoso central e o comportamento individualmente variável dos vertebrados 50 Mecanismos do comportamento individualmente variável 56 O comportamento "intelectual" dos animais 62
 Fronteiras do comportamento individualmente variável dos animais 68 
A Atividade Consciente do Homem e Suas Raízes Histórigo-Sociais 71
Princípios gerais 71
O trabalho e a formação da atividade consciente 95
A linguagem e a consciência do homem 77
 A importância da linguagem para a formação dos
processos psíquicos 81
O Cérebro e os Processos Psíquicos 85
O problema da relação dos processos psíquicos com o cérebro 85 
Princípios da organização funcional do cérebro humano 93 
Os três "blocos" principais do cérebro 94
O bloco do tônus do córtex ou bloco energético do cérebro 95 
Bloco do recebimento, elaboração e conservação da informação 100 
O bloco da programação, regulação e controle de atividade 107 
O princípio da lateralização no funcionamento dos grandes hemisférios 113 �
I
A Psicologia Como Ciência.
O Objeto e a Importância
Prática
O homem vive e atua em um meio social. Sente necessidades e procura satisfazê-las, recebe informação do meio circundante e por ele se orienta, forma imagens conscientes da realidade, cria planos e programas de ação, compara os resultados de sua atividade com as intenções iniciais, experimenta estados emocionais e corrige os erros cometidos.
Tudo isto representa a atividade do homem no plano psicológico, que constitui o objeto de uma ciência: a Psicologia. Esta ciência se propõe a tarefa de estabelecer as leis básicas da atividade psicológica, estudar as vias de sua evolução, descobrir os mecanismos que lhe servem de base e descrever as mudanças que ocorrem nessa atividade nos estados patológicos. Só uma ciência capaz de estudar as leis da atividade psicológica com uma precisão possível pode assegurar o conhecimento dessa atividade e sua direção em bases científicas. É justamente por isso que a Psicologia científica se torna uma das disciplinas mais importantes, cujo significado crescerá cada vez mais com o desenvolvimento da sociedade e o contínuo aperfeiçoamento dos seus métodos.
A história da Psicologia como ciência
É muito breve a história da Psicologia como ciência. No entanto remontam a um passado muito distante as primeiras tentativas de descrever a vida psíquica do homem e explicar as causas dos seus atos. Na Antigüidade, por exemplo, os médicos já entendiam que para identificar as doenças era necessário saber descrever a consciência do homem e descobrir as causas dos seus atos.
Esse enfoque materialista do comportamento do homem foi, séculos a fio, combatido pela filosofia idealista e a Igreja, que viam na consciência do homem uma manifestação da sua vida espiritual, considerando que esta não obedecia às mesmas leis a que se subordinava toda a natureza material e por isto sua análise não podia ser feita a partir da explicação causai dos fenômenos.
Por esses motivos o mundo psicológico do homem e sua consciência foram vistos durante séculos como fenômenos de tipo especial, isolados de todos os outros processos naturais. Os filósofos assumiam diferentes posições em relação à consciência, considerando-a manifestação da razão divina ou resultado de sensações subjetivas, onde eles viam os "elementos" mais simples que serviam de base à consciência. Mas todos os filósofos idealistas estavam imbuídos da convicção de que a vida psíquica devia ser entendida como manifestação de um mundo subjetivo especial, que podia ser revelado somente na auto-observação, sendo inacessível à análise científica objetiva ou à explicação científica.
Séculos a fio esse enfoque dos processos psíquicos deteve a evolução da psicologia científicas e mesmo depois de os processos do mundo exterior se haverem tornado objeto de estudo científico preciso os fenômenos da vida psíquica do. homem continuaram sendo vistos como manifestação de um mundo espiritual específico, acessível apenas à descrição subjetiva.
A divisão de todos os fenômenos em duas grandes categorias — a categoria dos fenômenos físicos, acessíveis à explicação causai, e a dos fenômenos psíquicos, inacessíveis à análise cien-
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tífica objetiva — foi consolidada pelas teses básicas da filosofia dualística de Descartes, para quem todos os processos físicos, incluindo-se o comportamento animal, estão subordinados às leis da mecânica, ao passo que os fenômenos psíquicos devem ser considerados como formas do espírito, cuja fonte de conhecimento pode ser encontrada apenas na razão ou intuição.
O enfoque dualista se manteve até período recente na filosofia e Psicologia em muitos países. Se considerarmos que os pensadores do século XIX começaram a focalizar os processos elementares dos campos físico e psíquico (incluindo sensações e movimentos) como processos naturais suscetíveis de estudo por métodos científicos exatos, os fenômenos superiores do campo psíquico (consciência, pensamento) continuavam a ser considerados manifestação do campo espiritual, que podia ser abordado somente por meio da descrição subjetiva dos fenômenos que nele ocorrem. Essa tese levou à divisão real da Psicologia em dois campos no final do século XIX: a Psicologia naturalista científica ou Psicologia fisiologista, que tentava estudar com precisãoe explicar pela causalidade os processos psicológicos elementares e definir-lhes as leis objetivas, e a Psicologia descritiva ou subjetiva, que estudava as formas superiores do campo consciente do homem, enfocando-as como manifestações do espírito. O enfoque dualista aos fenômenos do campo psicológico refletiu-se nos trabalhos dos clássicos da psicologia como os psicólogos alemães Wilhelm Wundt (1832^1920), Hermann Ebbinghaus (1856-1909), o psicólogo americano "William James (1842-1910) e o representante da filosofia idealista Wilhelm Dilthey (1833-1911) e outros.
A influência do enfoque dualista dos fenômenos psicológicos levou a Psicologia ao impasse e provocou tentativas naturais de superar a estagnação surgida nessa ciência, de aplicar métodos das ciências naturais ao estudo dos processos psicológicos e fazer destes a mesma análise que se fazia de todos os outros fenômenos da natureza.
Essa tendência, que já surgira com os materialistas franceses e ganhara formulação nítida com os democratas revolucionários russos em meados do século XIX, teve sua patente mani festação na obra do célebre fisiologista russo Ivan Mikháylo-vitch Sétchenov (1829-1905).
Em sua famosa obra, Os reflexos do cérebro, Sétchenov expôs a idéia segundo a qual até os processos mais complexos do campo psíquico devem receber tratamento materialista e ser
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abordados como reflexos complexos; segundo essa idéia, o pensamento é um reflexo igualmente complexo porém inibido, carente de fim motor externo. Para ele, os fenômenos dg mundo psíquico devem ser estudados pelo naturalista com os mesmos meios empregados no estudo de outros fenômenos da natureza. Essa linha de pensamento foi seguida por outro notável fisiologista russo, Ivan Petrov Pávlov (1849-1936), criador do estudo objetivo da atividade nervosa (psíquica) superior com a aplicação dos reflexos condicionados. Outros notáveis representantes da ciência russa, como M. D. Bekhteryev (1857-1927), A. A. Ukhtomsky (1857-1942) e outros tentaram formalizar um enfoque das bases objetivas e fisiológicas da atividade psíquica e fundamentar a possibilidade de uma Psicologia objetiva e naturalista.
São essas as razões pelas quais o mundo psicológico do homem e sua consciência foram tratados, durante séculos, como fenômenos de tipo especial, isolados de todos os outros processos naturais.
A doutrina dos reflexos condicionados de Pávlov, que ele mesmo via como base fisiológica da ciência psicológica, exerceu influência marcante na evolução da Psicologia americana. Em fins do século XIX, o psicólogo americano Edward Lee Thorn-dike começou a estudar o comportamento dos animais, aplicando métodos que permitiam observar como os animais adquiriam novas habilidades em laboratório. Essas pesquisas serviram de base a uma nova corrente na Psicologia, denominada behavio-rismo (ciência do comportamento) pelo psicólogo americano J. B. Watson. Nessa corrente, Watson via a forma científica natural da ciência psicológica, que devia substituir a Psicologia. Partindo da tese segundo a qual a "consciência" não passa de um conceito subjetivo, inacessível à pesquisa objetiva, os beha-vioristas americanos propuseram que se considerasse objeto da pesquisa científica apenas o comportamento externo do animal, comportamento esse que eles consideravam resultado das inclinações (necessidades) biológicas dos animais e dos reflexos condicionados a eles sobrepostos. Assim surgiu uma nova corrente na ciência, que abandonava todo o estudo do mundo subjetivo e limitava-se à descrição das formas exteriores de comportamento, cujas leis eram tratadas como sistema de habilidades mecanicamente constituído, inteiramente suscetíveis de análise naturalista.
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A tentativa de substituir a Psicologia pelo estudo do comportamento exterior e das leis da aquisição de habilidades complexas era reflexo da luta por uma Psicologia científica objetiva e teve importância progressista em sua época.
Mas o behaviorismo americano, como exemplo de um enfoque excessivamente mecanicista da atividade psíquica, iria revelar muito breve as suas limitações e levar a Psicologia a uma crise não menos patente do que a crise do enfoque dualista dos fenômenos psíquicos.
Por outro lado, o que ficou evidente alguns anos após a tempestuosa evolução do behaviorismo americano, a explicação mecanicista nele dominante de processos como a formação de habilidades não mostrava os autênticos mecanismos fisiológicos destas e substituía sua pesquisa fisiológica científica por uma descrição exterior e uma interpretação mecanicista desses fenômenos. Por outro lado, a imensa parcela de formas complexas da atividade psíquica do homem, que se manifesta na atividade consciente dos modos e procedimentos superiores de comportamento especificamente humanos, de atenção ativa, da memorização arbitrária e do pensamento lógico era geralmente mantida à margem do campo da pesquisa científica.
Era por isso que nos limites do próprio behaviorismo já começava a surgir a necessidade de ultrapassar os limites das descrições mecanicistas simplificadas das habilidades elementares e passar a uma análise científica das formas mais complexas da. atividade psíquica do homem.
Foi essa necessidade de criação de uma Psicologia autenticamente científica, capaz de abordar com métodos científicos objetivos as formas mais complexas da vida psíquica do homem, que se converteu na questão fundamental que a década de 30 -do nosso século assimilou como condição que podia tirar a Psicologia do estado de crise.
As vias para superar a crise na Psicologia foram formuladas pela primeira vez pelo notável psicólogo soviético Lyev Semiônovitch Vigotsky (1896-1934); elas se converteram na base para a posterior evolução da Psicologia como ciência, a princípio na urss e em seguida além de suas fronteiras.
Como já tivemos oportunidade de salientar, o sentido histórico da crise da Psicologia deveu-se ao fato da evolução desta ciência ter assumido duas direções. A primeira, que dava continuidade às tradições do enfoque científico-natural dos fenômenos, propunha-se a tarefa de explicar os processos psí-
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quicos limitando-se de fato aos processos psicofisiológicas mais elementares e recusando-se a examinar os fenômenos complexos e especificamente humanos da atividade consciente. A segunda orientação tomou como objeto de sua análise justamente esses fenômenos exteriores da atividade consciente especificamente humanos, limitando-se, porém, à descrição das manifestações subjetivas de tais fenômenos, considerando-os manifestação do espírito e recusando-se a dar aos mesmos um enfoque científico causai.
Para Vigotsky, a tarefa principal para superar essa crise consistia em converter em objeto da pesquisa as formas superiores e especificamente humanas de atividade consciente e enfocá-las da ótica da análise científica, explicar por via causai a sua origem e definir as leis objetivas a que elas se subordinam.
Mas a execução dessa tarefa exigia uma revisão radical das teses básicas da Psicologia.
Como observou Vigotsky, a tentativa de enfocar o psiquismo como função imediata do cérebro e procurar a sua fonte no recôndito do cérebro é tão inútil quanto a tentativa de considerar o psiquismo como forma de existência do espírito. A vida psíquica dos animais surge no processo de sua atividade e é uma forma de representação da realidade, é realizada pelo cérebro mas pode ser explicada somente pelas leis objetivas dessa atividade representativa. De modo semelhante, as formas superiores de atividade consciente, de atenção ativa, memorização arbitrária e pensamento lógico que são específicas do homem não podem ser consideradas produto natural da evolução do cérebro, sendo o resultado da forma social específica de vida, que é característica do homem. Para explicar por via causai as funções psíquicas superiores do homem, é necessário ir além dos limites do organismo e procurar-lhes as fontes não no recôndito da ahna ou nas peculiaridades do cérebro mas na história social da humanidade, nas formas de linguageme trabalho social que se constituíram ao longo da história da sociedade e trouxeram para a vida tipos mais aperfeiçoados de comunicação e novas formas de atividade consciente.
Ao procurar tornar-se ciência autêntica, a Psicologia deve estudar a origem socialmente histórica das formas superiores de atividade consciente e assegurar uma análise científica das leis que lhes servem de base.
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Essas teses básicas mudam radicalmente as tradições da psicologia dualista e delineiam nitidamente o objeto de uma Psicologia científica.
A Psicologia do homem deve ocupar-se da análise das formas complexas de representação da realidade, que se constituíram ao longo da história da sociedade e são realizadas ]ielo cérebro humano. Ela deve substituir a anterior descrição subjetiva das formas complexas de atividade consciente por uma análise científica objetiva dessas formas, sem substituir essa tarefa pelo estudo dos processos fisiológicos que lhes servem de base nem limitar-se à descrição exterior dos mesmos. É essa a tarefa da ciência psicológica, que deve estabelecer as leis da sensação e percepção humana, regular os processos de atenção e memorização, de realização do pensamento lógico, formação das necessidades complexas e da personalidade, considerando todos esses fenômenos como produto da história social e sem separar esse estudo da análise dos mecanismos fisiológicos que lhes servem de base. É isto que constituirá a essência da Psicologia geral no todo e da psicologia do homem no particular.
A Psicologia e outras ciências
A Psicologia só pode desenvolver-se em estreita ligação com outras ciências, que não a substituem mas lhe asseguram informação importante para que ela possa ser bem-sucedida na elucidação do seu próprio objeto.
A biologia é a primeira ciência com a qual a Psicologia deve manter a mais estreita ligação.
Se a Psicologia animal opera com as formas de comportamento dos animais que se desenvolvem no processo de interação deles com o meio, torna-se absolutamente claro que a completa interpretação das leis do comportamento animal é impossível sem o conhecimento das formas básicas de vida que constituem o objeto da biologia. É necessário ter uma noção suficientemente nítida das diferenças que existem na vida dos vegetais e animais para perceber o principal que distingue todo tipo de comportamento ativo, baseado na orientação no meio circundante, das formas de vida que se esgotam com os processos de metabolismo e podem ocorrer fora das condições de uma orientação ativa na realidade. É necessário ter uma noção precisa do que muda nas condições de vida com a transição da existência de unicelu-lares num meio aquático homogêneo a formas incomparavelmente mais complexas de vida multicelular, sobretudo nas condições de existência terrestre, que apresenta exigências imensas à orientação ativa baseada nas condições do meio, orientação essa que é a única que pode assegurar sucesso na obtenção de alimentos e conjuração de perigos. É necessário conhecer bem a diferença de princípios de vida entre o mundo dos insetos, com sólidos programas congênitos que asseguram uma sobrevivência bem-sucedida em condições estáveis e são capazes de conservar a espécie até em condições de mudança, e o mundo dos vertebrados superiores com seus poucos descendentes, que podem sobreviver somente com a evolução de novas formas individualmente mutáveis de comportamento, que garantem a adaptação ao meio em mudança. Sem esses conhecimentos dos princípios biológicos gerais de adaptação não se pode assegurar nenhuma compreensão nítida das peculiaridades do comportamento dos animais e qualquer tentativa de interpretar as complexas formas de atividade psíquica do homem perderá sua base biológica.
Eis porque é absolutamente necessário para a Psicologia científica levar em conta as leis básicas da biologia e novas partes delas como a ecologia (doutrina que estuda as condições do meio e suas influências) e a etologia (doutrina das formas congênitas de comportamento). É natural que os fatos constituintes do objeto da ciência psicológica não podem, em hipótese nenhuma, reduzir-se a fatos biológicos.
A segunda ciência com a qual a Psicologia deve manter a mais estreita ligação é a jisiologia, sobretudo a parte referente à atividade nervosa superior.
A fisiologia trata dos mecanismos que exercem diferentes funções no organismo, ocupando-se da atividade nervosa superior dos mecanismos de trabalho do sistema nervoso que concretizam o "equilíbrio" do organismo com o meio.
É fácil perceber a absoluta necessidade de conhecer o papel desempenhado nesse último processo pelas diferentes fases do sistema nervoso, de conhecer as leis pelas quais realiza-se a regulação dos processos de metabolismo no organismo, pelas quais se regulam as leis de funcionamento do tecido nervoso, que materializa os processos de excitação e inibição, e das complexas formações nervosas que executam os processos de análise e síntese, de confluência das conexões nervosas, e asseguram os processos de irradiação e concentração da excitação; é igualmente importante o^ conhecimento das formas básicas de trabalho das células nervosas, que se encontram em estado normal ou inibido (fásico). Tudo isso é absolutamente necessário para que o psicólogo, que estuda os tipos principais de atividade psíquica do homem, não se limite à simples descrição desses tipos mas saiba em que mecanismos se baseiam essas formas altamente complexas de atividade, conheça os dispositivos que as executam, os sistemas em que elas ocorrem. Desconhecer as leis da fisiologia implicaria em privar a Psicologia de uma das fontes mais importantes de conhecimento científico. Para a Psicologia, tem importância decisiva a sua ligação com as ciências sociais.
As formas principais de atividade psíquica do homem surgem nas condições da história social, desenvolvem-se no processo de atividade material surgido ao longo da história, baseiam-se nos meios que se formaram no processo de trabalho, de emprego dos instrumentos de trabalho e da linguagem. Se não usasse os instrumentos de trabalho e a linguagem, o homem não disporia sequer de uma ínfima parte das possibilidades de que dispõe o seu comportamento concreto, ficaria privado da comunicação com o meio ambiente, evoluiria à margem das condições do mundo material — surgido no processo da história da sociedade — nem assimilaria a experiência de toda a humanidade, que é transmitida por meio da linguagem, esse receptáculo da informação. É natural que as formas de'atividade do homem são executadas pelo cérebro e se apoiam nas leis dos seus processos nervosos superiores. Por si mesmo nenhum sistema nervoso é capaz de assegurar a formação da capacidade de usar instrumentos de trabalho e linguagem e explicar o surgimento das formas altamente complexas de atividade humana, surgidas no processo da história social.
A verdadeira relação entre a Psicologia e a fisiologia consiste em que a primeira estuda as formas e meios de atividade que surgiram no processo da história social e determinam o comportamento, enquanto a fisiologia da atividade nervosa superior estuda os mecanismos naturais que materializam ou realizam esse comportamento.
Tentar reduzir a Psicologia do homem à fisiologia da atividade nervosa superior — como em certa época propunham os pensadores mecanicistas — implicaria em cometer o mesmo erro do arquiteto que tentasse reduzir a origem e a análise dos estilos gótico e barroco ou o estilo Império às leis da resistência dos materiais que ele naturalmente deve levar em conta mas que em hipótese nenhuma podem explicar a origem dos estilos arquitetônicos.
O êxito do desenvolvimento da Psicologia depende grandemente da correta compreensão da correlação dessas duas ciências e tanto o desconhecimento da fisiologia como a tentativa de reduzir a Psicologia à fisiologia retardariam o desenvolvimento da ciência psicológica.
O que acabamos de afirmar deixa clara a imensa importância que tem para a Psicologia a sua ligação com as ciências sociais. Se na formaçãodo comportamento do animal as condições biológicas de vida desempenham papel determinante, na formação do comportamento do homem esse papel é desempenhado pelas condições da história social, que cria formas novas de uma complexa relação com a realidade, mediada pelas condições de trabalho, formas essas que são as fontes de novas formas especificamente humanas de atividade psíquica.
Adiante teremos oportunidade de ver que o primeiro emprego de instrumentos de trabalho e a primeira forma de trabalho social introduziram mudança radical nas principais leis biológicas de construção do comportamento e que o surgimento e, posteriormente, o emprego da linguagem — que permite conservar e transmitir a experiência de gerações — levaram ao surgimento de uma nova forma de evolução inexistente entre os animais: a forma de evolução mediante a assimilação da experiência social. A ciência psicológica atual, que estuda antes de tudo as formas especificamente humanas de atividade psíquica, não pode dar um só passo sem levar em conta os dados que obtém das ciências sociais: do materialismo histórico, que enriquece as leis básicas do desenvolvimento da sociedade, e da lingüística, que estuda as formas básicas de linguagem, surgida na história da sociedade.
Só levando minuciosamente em conta as condições sociais, que formam a atividade psíquica do homem, pode a Psicologia obter uma sólida base científica. Encontraremos a aplicação desse princípio em todas as páginas seguintes, quando examinaremos todos os fatos psicológicos concretos. É essa a relação da Psicologia científica com as outras ciências, com as quais ela se desenvolve em estreito contato.
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Partes principais da Psicologia
A Psicologia, que até recentemente não era uma ciência dividida, representa hoje um sistema amplamente ramificado de disciplinas, que estudam a atividade psíquica do homem em diferentes aspectos. O que já dissemos antes deixa claro que algumas partes da Psicologia estudam as bases naturais dos processos psíquicos, aproximando-se da biologia e fisiologia, enquanto outras partes estudam os fundamentos sociais da atividade psíquica, aproximando-se das ciências sociais.
A posição central cabe à Psicologia Geral, que estuda as formas básicas de atividade psíquica e constitui a viga-mestra de todo o sistema de disciplinas psicológicas. Afora a introdução teórica evolucionista, o exame de várias partes científicas faz parte da composição da Psicologia Geral. Entre essas partes incluímos a análise dos processos cognitivos (começando pelas sensações e percepções e terminando nas formas mais complexas de pensamento; compõem essa parte a análise das condições em que ocorrem os processos psíquicos e a análise das leis do pensamento, da memória, imaginação, etc), a análise dos processos afetivos (as necessidades do homem, as formas complexas de emoções), a análise da estrutura psicológica da atividade do homem e da regulação do seu desempenho e, por último, a análise da psicologia do indivíduo e das diferenças individuais.
As partes aqui referidas serão objeto de exame das próximas páginas do presente livro.
A elaboração dos problemas gerais da Psicologia foi objeto de trabalhos de muitos pensadores célebres, entre os quais sé situam clássicos como W. Wundt na Alemanha, W. James nos eua, A. Binet e P. Janet na França e contemporâneos como-L. S. Vigotsky, S. L. Rubinstein, A. N. Leôntyev, A. A. Smirnov e V. M. Têplov na urss, A. Vallon, A. Piéron e P. Fraisse na França, E. Nolman, G. Miller e J. Bruner nos eua, Donald Hebb no Canadá e J. Broadbent na Inglaterra, etc.
É contíguo à Psicologia Geral o grupo de partes biológicas da Psicologia. Todas elas estudam as bases naturalistas da atividade psíquica do homem.
A primeira dessas disciplinas é a Psicologia comparativa ou Psicologia animal. Esta disciplina estuda as peculiaridades do comportamento animal em etapas sucessivas da evolução, aque-
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Ias peculiaridades que dependem das condições de vida e da estrutura anatômica dos animais. Ela descreve os processos de mudança das formas de comportamento animal dependendo das exigências que o meio lhes impõe e dos principais tipos de adaptação às condições de vida, que são de caráter muito variado quando se tornam complexas as formas de vida.
A segunda das disciplinas pertencentes ao grupo biológico das ciências psicológicas é a Psicologia fisiologista ou Psico-jisiologia.
As bases dessa ciência foram lançadas na segunda metade do século XIX por pensadores que se propunham a tarefa de estudar os processos psicológicos do homem com a aplicação de diversos métodos fisiológicos, de estudar os mecanismos fisiológicos dos processos psicológicos. Foram precisamente esses pensadores que organizaram os primeiros laboratórios de Psicologia e elaboraram minuciosamente partes da Psicologia como a doutrina das sensações, sua medida e seus mecanismos básicos, a doutrina das leis básicas da memória e da atenção, a doutrina dos mecanismos psicofisiológicos do movimento, etc.
É natural que a Psicologia fisiologista se aproxime da fisiologia, particularmente da fisiologia dos órgãos dos sentidos e da fisiologia da atividade nervosa superior. A diferença consiste em que os cientistas que se ocupam desse problema tomam como objeto a análise das formas concretas de atividade psíquica, estudando as sensações e percepções, a atenção e a memória do homem, bem como a estrutura dos seus processos motores e a mudança destes no processo de exercício e fadiga, procuram, empregando os métodos mais precisos, estabelecer os mecanismos fisiológicos e as leis pelas quais esses processos se realizam. A psicofisiologia, permanecendo disciplina psicológica especial, está para a fisiologia assim como a bioquímica está para a química ou a biofísica para a física. Ela não abstrai um instante sequer o fato de que os processos por ela estudados fazem parte da complexa atividade psíquica do homem, não esquece as complexas peculiaridades da estrutura desses processos e apenas tenta descobrir os mecanismos fisiológicos que lhes servem de base.
Uma parcela considerável dos conhecimentos das leis de realização de processos psíquicos particulares foi acumulada justamente por essa área da ciência psicológica, à qual estão estreitamente ligados os nomes de grandes cientistas como Gustav Fechner e Weber (os primeiros a medir as sensações), Wilhelm
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Wundt (o primeiro a aplicar amplamente métodos psicofisioló-gicos de estudo dos processos psíquicos), Hermann Ebbinghâus e Hermann Joseph Müller (os primeiros a abordar métodos exatos de medição da memória e seus mecanismos específicos), assim como Piéron na França, Edward Titchener nos eua, os grandes psicólogos atuais como O. R. Lindsley (eua), Broad-bent (Inglaterra), Fraisse (França) e outros.
Essa área da ciência psicológica recebeu imensa informação dos trabalhos de clássicos notáveis da fisiologia como Pávlov, criador da doutrina da atividade nervosa superior, N. E. Vve-densky, criador da doutrina da gênese patológica, A. A. Ukhtomsky, cujos trabalhos permitiram introduzir uma aova área da ciência do comportamento: a doutrina dos dominantes, L. A. Orbeli, autor de importante contribuição à fisiologia evolu-cionista bem como fisiologistas contemporâneos como P. A. Anokhin, criador da doutrina dos sistemas funcionais, N. A. Bernstein, introdutor do novo conceito de organização do movimento, G. V. Gershuni e S. V. Kravkov, que enriqueceram a ciência com dados relativos ao funcionamento da audição e visão, etc.
A terceira disciplina componente do grupo biológico das ciências psicológicas é a neuropsicologia.
Esta disciplina tem por tarefa o estudo do papel que desempenham os aparelhos particulares do sistema nervoso na estruturação dos processos psíquicos.
É fácil perceber que o papel das formações subcorticais e do paleocórtex no processo da atividade psíquica é inteiramente diferente do papel do neocórtex e dos grandes hemisférios cerebrais . Há, porém, fundamentos para supor que também o papel de algumas regiões do córtexcerebral na organização dos complexos processuais psíquicos não é idêntico e que todas as áreas do cérebro — parietais, temporais e occipitais — dão sua contribuição toda especial para o processo de atividade psicológica.
Esse novo campo da Psicologia emprega em suas pesquisas uma análise psicológica minuciosa tanto das irritações como das destruições de áreas isoladas do cérebro, estuda as mudanças dos processos psíquicos que surgem quando ocorram afecções locais do cérebro e tira, de suas observações, conclusões relacionadas com a estrutura interna dos processos psíquicos.
Esse campo da Psicologia é representado por estudiosos de diversos países como K. S. Lashley e K, H. Pribram (eua),
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A. R. Luria (urss), O. L. Zangwill (Inglaterra), B. Milner (Canadá) e outros. Podemos colocar ao lado da neuropsicologia a psicopatologia, que estuda as peculiaridades "dos processos psíquicos observáveis nos doentes psíquicos, e permite que nos aproximemos mais de um estudo científico das doenças mentais e do descobrimento de algumas leis gerais da atividade psíquica que se manifesta nos estados patológicos.
A psicopatologia foi elaborada com êxito por muitos psiquiatras (Kraepelin, na Alemanha, Janet, na França, Békhterev, na Rússia) e pelos psicólogos contemporâneos (B. V. Zeygar-nik, na urss, Pecheau, na França, e outros).
Uma área especial, situada nas fronteiras da psicofisiologia e da neuropsicologia, é representada pelo estudo dos mecanismos neurônicos da atividade psicológica. Os cientistas que elaboraram essa área (D. H. Hubel e T. N. Wiesel na Inglaterra, Jung na Alemanha, H. H. Jasper no Canadá, E. N. Sokolov e O. S. Vinográdov na urss) se propõem a tarefa de investigar as formas de funcionamento de grupos isolados de neurônios e efetuar uma análise dos processos nervosos mais elementares, que servem de base ao comportamento. Importantes descobertas dos mecanismos fisiológicos de ativação e habituação foram obtidos no estudo das formas mais simples de comportamento em base neurônica.
No sistema das ciências psicológicas, cabe posição especial à psicologia infantil ou genética.
A importância dessa área das ciências psicológicas para a Psicologia geral consiste em que a Psicologia genética ou infantil estuda a formação da atividade psíquica no processo de evolução da criança e permite acompanhar a formação dos complexos processos psíquicos e das etapas pelas quais eles passam em sua evolução.
A Psicologia genética permite abordar os processos psíquicos superiores do homem como produto da evolução, dando, com isto, a possibilidade de considerar as formas complexas de atividade psíquica do homem não como "propriedades" ou "faculdades" do psiquismo primitivamente existentes mas como resultado de uma longa formação, que deixou vestígios na estrutura dos processos psíquicos.
Foi justamente por isto que a Psicologia genética, que estuda a formação (gênese) das formas superiores de atividade psíquica, adquiriu importância decisiva tanto para uma área prática
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como a pedagogia quanto para a Psicologia geral. Foi justamente graças aos êxitos da Psicologia genética, relacionados com a contribuição dada ao estudo dessa disciplina pelos notáveis estudiosos Jean Piaget e Lyév S. Vigotsky, que a Psicologia geral obteve provas convincentes de que as formas básicas dos processos psíquicos (percepção e ação, memorização e pensamento) possuem estrutura complexa que se forma no processo de evolução da criança. A importância da Psicologia genética lhe, permitiu ocupar posição central na Psicologia atual.
Outro campo da Psicologia, que deve ser colocado ao lado da Psicologia genética e costuma ser chamado de psicologia diferencial ou psicologia das diferenças individuais, ocupa posição importante.
Sabe-se que as pessoas têm traços comuns, estudados pela Psicologia geral, e revelam diferenças individuais. Estas podem ser diferenças de propriedades do sistema nervoso, de peculiaridades individuais do campo emocional e do caráter, traços característicos do processo cognitivo e do talento.
A Psicologia diferencial se propõe a tarefa de estudar essas diferenças individuais, descrever os tipos de comportamento e atividade psíquica das pessoas que se distinguem umas das outras por traços característicos.
A Psicologia diferencial é de importância decisiva para a avaliação do nível de evolução da criança, das formas individuais de assimilação do trabalho e para a análise das peculiaridades tipológicas cujo conhecimento é indispensável à solução das questões práticas da Psicologia.
Os fundamentos da Psicologia diferencial foram lançados em sua época pelo psicólogo alemão W. Ster (1871-1938); em nossa época os problemas das diferenças individuais foram estudados com êxito por cientistas como Charles Edward Spear-man, na Inglaterra, L. L. Thurstone, nos eua, e B. M. Teplov, na urss.
Aos referidos campos da Psicologia incorpora-se um grupo de áreas intimamente vinculadas às ciências sociais. Nessas áreas examinam-se as condições histórico-sociais em que se formou a atividade psíquica do homem e as formas sociais em que essa atividade se manifesta.
Nesse grupo ocupa posição essencial a etnopsicologia ou ciência das particularidades que distinguem os processos psíqui-
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cos em diferentes formações e estruturas históricas e em diferentes culturas.
Nas etapas iniciais do desenvolvimento da Psicologia, fizeram-se tentativas de criar uma "psicologia dos povos" corr.: forma especial de psicologia social e de elaborar uma ciência que fosse capaz de revelar as bases psicológicas da formação da linguagem, dos mitos, crenças, do direito, etc. Fracassou essa tentativa, que partiu de um dos criadores da Psicologia moderna, W. Wundt, autor do livro A psicologia dos povos.
Wundt tentou dar uma explicação psicológica dos fenômenos da vida social, cujas bases não são psicológicas mas econc-micas ou histórico-sociais. Por este motivo as tentativas de "ps:-cologizar a história" retiveram durante muito tempo o desenvolvimento desse importante campo da ciência psicológica, qa: devia investigar um processo inverso: a influência formadora exercida pelas condições histórico-sociais sobre o desenvoh:-mento da atividade psicológica do homem.
Essa tarefa se converteu em objeto das pesquisas de grandes cientistas de diversos países (Frazer e Malinowsky, na Inglaterra, Janet e Lévy-Bruhl, na França, Turnwald, na Alemanha e M. Mead, nos eua) e foram justamente essas pesquisas qu: lançaram as bases da etnopsicologia atual. O estudo das peculiaridades da atividade psíquica de pessoas pertencentes -diferentes culturas constitui atualmente uma área importan:; da ciência psicológica.
A psicolingüística, disciplina que nos últimos decênios s: converteu em área independente e se situa na fronteira entre a Psicologia e a lingüística, representa um campo especial d-Psicologia. A psicolingüística se propõe o estudo das leis básica: da linguagem enquanto meio de comunicação, dos processos d. codificação e decodificação da informação veiculada pela linguagem e dos processos psicológicos que se baseiam nos códigos da língua e se materializam na linguagem do homem.
A Psicologia social é uma área importante porém pouco desenvolvida. Esta disciplina estuda as leis psicológicas da comunicação entre os homens, as peculiaridades psicológicas da divulgação de informação por meios como a imprensa e o cinema, as particularidades do comportamento no processo de trabalho, competição, etc. Um campo especial da Psicologia social tem como objeto o estudo das inter-relações humanas em pequenos grupos, a análise dos fatores que servem de base a
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tipos concretos de interação entre os homens, de formação da autoridade, promoção de líderes, etc.
Entre essas disciplinas, que mantêm afinidades com as ciências sociais, inclui-se a Psicologia da arte, que estuda as bases psicológicas da criação artística e as leis psicológicas que servem de base às obras de arte que aplicam diversos procedimentos e asseguram uma influência máxima das obras sobre o leitore espectador.
Tomamos conhecimento apenas dos ramos fundamentais da Psicologia, mas estes podem mostrar que sistema ramificado de disciplina a Psicologia moderna representa.
Os métodos em Psicologia
É condição fundamental da evolução de toda ciência a existência de métodos suficientemente objetivos, precisos e seguros.
O papel do método de uma ciência deve-se ao fato de que a essência do processo em estudo não coincide com as manifestações em que ela aparece. São necessários procedimentos especiais, que permitam penetrar além dos limites dos fenômenos acessíveis à observação imediata, penetrar nas leis internas que constituem a essência do processo em estudo. Esse caminho do fenômeno à essência, que lança mão de toda uma série de procedimentos objetivos de pesquisa, caracteriza as pesquisas verdadeiramente científicas.
Em que consistem os métodos empregados pela Psicologia?
Houve um longo período em que a Psicologia era definida como ciência do mundo subjetivo do homem; à definição do conteúdo da ciência correspondia a escolha dos seus métodos. Segundo a concepção idealista, que separava o psiquismo de todos os outros fenômenos da natureza e da sociedade, a Psicologia tinha como objeto o estudo dos estados subjetivos da consciência. Segundo os psicólogos idealistas, esses- processos da consciência se distinguiam dos outros processos da realidade objetiva pelo fato de que o fenômeno coincidia com a essência: as formas de consciência que o homem podia observar em si mesmo (clareza ou imprecisão de consciência, vivência da liberdade do ato volitivo, etc.) eram consideradas por esses
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psicólogos como propriedades fundamentais do espírito ou como essência dos processos psíquicos subjetivos. Para eles, essa coincidência dos fenômenos com a essência constituía o fundamento da Psicologia e lhe definia o método, ou seja, consideravam como fundamental e única a descrição subjetiva dos fenômenos da consciência, descrição essa que se obtinha no processo de introspecção. O reconhecimento da introspecção como método fundamental da Psicologia não apenas separava esta ciência das outras como fechava de fato todos os caminhos para a evolução da Psicologia enquanto ciência autêntica. Excluía, ainda, a explicação objetiva e causai dos processos psíquicos, reduzindo a Psicologia à descrição subjetiva de formas da vida espiritual e dos fenômenos psíquicos.
É fácil entender que uma "ciência" que se negava a considerar os processos psíquicos como produtos do desenvolvimento objetivo, que não levantava os problemas da origem e dos mecanismos objetivos desses processos não podia ter existência própria; durante muito tempo continuou sendo uma área singular da filosofia idealista sem se incluir no círculo das ciências autênticas.
Por isto mudou radicalmente o tratamento dispensado ao método básico da Psicologia desde o período em que esta disciplina passou a ser interpretada como ciência de uma forma específica de atividade psíquica, que permite ao homem orientar-se na realidade ambiente, refleti-la, formar programas de comportamento e controlar a sua execução.
A tarefa dos psicólogos consistia em criar métodos objetivos de estudo dos processos psíquicos do homem, sem nunca se limitar ao método da introspecção, referindo-se a ele apenas como um procedimento auxiliar de sentido antes heurístico, que permitia levantar questões, o que dava a possibilidade de explicar por via causai os fenômenos e encontrar as leis que lhes serviam de base. A revisão radical da introspecção como método de conhecimento científico devia-se ao fato de que a própria introspecção passara a ser vista como um tipo complexo de atividade psíquica, que era produto de uma longa evolução, empregava formulação discursiva dos fenômenos observados e tinha aplicação muito restrita porque nem de longe os processos psíquicos ocorrem todos por via consciente, bem como porque a auto-observação dos seus processos psíquicos pode introduzir mudanças consideráveis na ocorrência desses processos.
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A Psicologia passou a ter como tarefa fundamental a elaboração de métodos objetivos de pesquisa que usassem os mesmos procedimentos que todas as outras ciências usavam para observar o desenvolvimento desse ou daquele tipo de atividade e da mudança experimental das condições do seu exercício, de métodos que fossem capazes de ir além dos limites da descrição exterior dessa atividade no sentido das leis que lhe servem de base.
O procedimento principal da Psicologia passou a ser a observação do comportamento do homem em condições naturais e experimentais, com a análise das mudanças que ocorrem em determinadas condições que podem ser mudadas pelo experi-mentador. Foi nesse caminho que surgiram os três métodos básicos de pesquisa psicológica, convencionalmente chamados de método de análise estrutural, método genético-experimental e método patológico-experimental (ou método de análise sindrô-mica).
O método de análise estrutural dos processos psicológicos consiste no seguinte: o psicólogo, ao estudar essa ou aquela forma de atividade psíquica, coloca diante do sujeito experimental uma tarefa correspondente e acompanha a organização estrutural dos processos (procedimentos, meios, formas de comportamento) mediante os quais o sujeito experimental resolve a tarefa dada.
Isto significa que o psicólogo não apenas registra o- resultado final (memorização do material proposto, reação motora ao sinal, resposta à tarefa proposta) mas acompanha atentamente o processo de solução da tarefa proposta, os meios auxi-liares em que ele se baseou, etc. Essa descrição da estrutura psicológica do processo estudado e a análise das suas partes componentes representam dificuldades consideráveis e exigem vários procedimentos auxiliares especiais.
Esses procedimentos, que permitem efetuar uma análise estrutural bastante completa, podem ter caráter direto ou indireto.
Pertence aos procedimentos diretos a mudança da estrutura da tarefa proposta ao sujeito experimental (com dificultação paulatina, inclusão de novas exigências, que tornam necessária a inserção de novas operações na solução da tarefa), bem como a proposta de vários procedimentos que ajudam à solução (escolha de apoios externos, procedimentos auxiliares, etc). O emprego desses procedimentos diretos de análise estrutural muda
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o curso objetivo do processo psicológico e permite estabelecer quais dentre os procedimentos empregados surtem um efeito máximo.
As referidas formas de análise estrutural se aplicam antes de tudo ao estudo objetivo de formas contíguas de atividade psíquica como a assimilação ou memorização do material, a solução das tarefas, a realização de operações construtivas ou lógicas, o estudo da estrutura das formas complexas dos atos conscientes.
Entre os procedimentos indiretos ou complementares situa-se o emprego de indícios, que, não sendo eles mesmos elementos, de atividade do homem, podem ser índices do seu estado geral, das tensões por ele experimentadas, etc. Entre esses procedimentos, por exemplo, incluímos a aplicação de métodos de registro dos processos fisiológicos (eletroencefalogramas, eletro-miogramas, reação galvânica da pele, pletismograma), que por si mesmos não revelam as peculiaridades da realização da atividade psíquica mas podem refletir as condições fisiológicas gerais que caracterizam essa realização.
Ê natural que a aplicação desses procedimentos indiretos ou complementares pode adquirir sentido somente havendo organização precisa da própria atividade psíquica estudada pelo psicólogo.
Ao lado do método analítico-estrutural, que ocupa posição central na Psicologia, podemos colocar o método genético-expe-rimental, que tem importância especialmente grande para a Psicologia genética.
Sabe-se que todos os processos psicológicos superiores são produto de uma longa evolução. Por isto é sobretudo importante para o psicólogo acompanhar a marcha desse processo de evolução, que etapas foram incluídas nele e que fatores determinam o surgimento de processos psicológicos superiores.Pode-se obter resposta a esta questão não apenas acompanhando a execução das mesmas tarefas em fases sucessivas do desenvolvimento da criança (esse método recebeu na Psicologia a denominação de método dos cortes genéticos) como também criando condições experimentais que permitam mostrar como se forma essa ou aquela atividade psíquica. Com este fim coloca-se em diferentes condições o sujeito experimental, a quem se propõe resolver essa ou aquela tarefa. Nuns casos exige-se dele solução independente da tarefa, noutros, presta-se-lhe ajuda, empregando diversos meios de apoios extremos evidentemente-
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eficazes, sugerindo em voz alta as vias de solução, por um lado, observando como ele aproveita essa ajuda, por outro.
Aplicando os procedimentos que constituem a essência do método genético-experimental, o estudioso se mostra capaz não apenas de revelar as condições com cujo aproveitamento o sujeito experimental pode assimilar de modo ideal dada atividade, como também de formular experimentalmente os complexos processos psíquicos e abordar mais de perto a sua estrutura. O método genético-experimental foi amplamente aplicado na Psicologia na urss por Vigotsky, A. V. Zaporojets, P, Y. Galpe-rina e produziu muitos fatos valiosos que se incorporaram soli-damente à Psicologia.
O terceiro método da Psicologia, especialmente importante para a neuropsicologia e psicopatologia, é o método patológico-éxperimental ou método da análise sindrômica das mudanças de comportamento que ocorrem nos estados patológicos do cérebro ou num desenvolvimento exclusivo de um setor dos processos psíquicos.
Esse método é aplicável em casos relativamente raros. Conhecendo um fator que muda notoriamente o curso dos processos psíquicos, o psicólogo pode saber qual a influência que esse fator exerce sobre o curso de toda a atividade psíquica do sujeito.
Esse método se manifesta nas formas mais claras nas pesquisas neuropsicológicas, consistindo no seguinte: o psicólogo que estuda minuciosamente os pacientes nos quais a afecção local do cérebro provoca o deslocamento ou a deformação de uma das condições do curso normal dos processos psíquicos (por exemplo, da percepção visual, da memória auditiva ou da sólida manutenção do programa de atividade), analisa detalhadamente a realização de todo um conjunto de processos psíquicos e define quais desses processos se mantêm intactos e quais ficam perturbados. Semelhante análise permite estabelecer quais são precisamente os processos psíquicos internamente relacionados com o fator perturbado (ou excluído) e quais são independentes deste; permite descrever toda uma síndrome (por outras palavras, todo um conjunto de mudanças) que surge com a mudança de uma função e dá a possibilidade de mostrar a interdependência (correlação) de processos psicológicos isolados.
O mesmo método pode ser aplicado na Psicologia geral ou na>Psicologia das diferenças individuais, nas quais a superevolu-ção de um aspecto do campo psíquico (por exemplo, da memória
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visual clara) ou alguma peculiaridade individual dos processos nervosos (por exemplo, a fraqueza ou a mobilidade insuficiente dos processos nervosos) pode provocar a reestruturação de todos os processos psicológicos e tornar-se fator decisivo no surgimento de todo um conjunto de peculiaridades individuais da pessoa.
Todos os métodos que descrevemos em linhas gerais são métodos da pesquisa psicológica. A par com eles, entretanto, têm grande importância para a Psicologia os métodos breves de avaliação qualitativa e quantitativa dos processos psíquicos (dos conhecimentos, habilidades, aptidões) e os métodos simples de medição do nível de evolução dos processos psíquicos.
Esses métodos se aplicam amplamente na Psicologia e são conhecidos pela denominação de testes psicológicos. Os testes psicológicos consistem de tarefas, que se propõem a um amplo círculo de sujeitos experimentais para estabelecer seus conhecimentos, habilidades ou aptidões. Para que esses testes possam produzir dados objetivos e mensuráveis, são feitos previamente com um grande número de sujeitos experimentais (crianças de uma determinada idade ou pessoas do mesmo nível de educação). Entre essas tarefas escolhem-se aquelas'que um número considerável (dois terços, por exemplo) de sujeitos experimentais consegue resolver com êxito e só depois disto elas são propostas àqueles sujeitos cujos conhecimentos, habilidades ou aptidões são mensuráveis. Os resultados dessas pesquisas são avaliados por pontos ou por lugar (indica-se o lugar que um dado sujeito experimental poderia ocupar em relação ao grupo correspondente de sujeitos).
A aplicação dos testes psicológicos pode ter certa importância para que se tenha uma orientação, acerca das peculiaridades psicológicas dos grandes hemisférios. Faremos adiante uma apreciação crítica desse método, quando examinarmos a sua importância para a medição das diferenças individuais de diferentes sujeitos.
É fácil ver que a importância de todos os referidos métodos nã.p é a mesma para as diferentes áreas da Psicologia a que nos referimos, e se o método de análise estrutural continua sendo o método básico para todas as áreas psicológicas, o método gené-tico-experimental ocupa posição dominante na Psicologia genética, ocupando o método de análise sindrômica posição-chave na Psicologia patológica ou diferencial.
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A importância prática da Psicologia
A Psicologia tem grande importância não apenas para a solução de uma série de questões teóricas do campo psicológico e da atividade consciente do homem.
Ela tem importância também prática, que aumenta à medida que a direção do comportamento do homem em bases científicas e a consideração do fator humano na indústria e nas relações sociais se tornam questão central da vida social.
A ciência psicológica é de grande importância prática para vários campos, dentre os quais mencionamos apenas os mais importantes.
O primeiro desses campos é o da indústria e do trabalho; a área da Psicologia aplicada que se dedica a questões ligadas a esses campos é denominada engenharia psicológica e psicologia do trabalho.
A indústria moderna, que compreende a direção de mecanismos, do transporte, aviação, etc, subentende uma complexa interação do sistema homem-máquina. A técnica complexa deve estar adaptada às possibilidades do homem. É necessário criar condições nas quais a direção dos sistemas transcorra numa variante ideal e possa realizar-se com a menor perda de tempo e o menor número de erros. Essas exigências devem referir-se principalmente à construção racional dos painéis de direção, que nos mecanismos modernos consistem de grande número de indicadores, que exigem revisão sumamente rigorosa e que a informação que recebem tenha a máxima acessibilidade. É natural que essas exigências podem ser atendidas somente levando-se em conta as leis da percepção humana, o volume da memória humana e os modos de originalizá-las, que poderiam, da melhor maneira, adaptar a máquina às possibilidades do homem. Por outro lado, a indústria moderna coloca uma série de questões atinen-tes à seleção de pessoas mais aptas para as condições dessas ou daquelas formas de trabalho, querendo, com isto, que se criem condições que assegurem circunstâncias ideais para a manutenção da atenção e o menor esgotamento do homem. Coloca-se a questão: que fatores psicológicos devem-se levar em conta para garantir a máxima segurança do trabalho e o mínimo de avarias?
Todas essas questões são elaboradas pela engenharia psicológica e pela Psicologia do trabalho, que estão se convertendo em importante componente da organização cientifica da produção.
Outra área de aplicação prática da Psicologia é o ensino e a educação da geração adolescente, em suma, a área da pedagogia. 
É sabido que o crescente volume de conhecimentos, que devem ser assimilados no processo de ensino escolar, exige organização mais racional dos métodos de ensino. Isto depende substancialmente das peculiaridades psicológicas da criança, da idade e dos seus processos cognitivos naaprendizagem escolar.
A Psicologia pedagógica é a área da Psicologia aplicada que deve assegurar a argumentação científica dos programas e métodos de ensino, estabelecer o círculo dos conceitos acessíveis às crianças da idade correspondente e os métodos de transmissão do material que garantirão sua melhor assimilação. O ensino programado (ou teoria da assimilação programada, por etapa, dos conhecimentos), nova área da pedagogia que se desenvolveu ultimamente, apresenta a base psicológica científica para a elaboração de uma seqüência otimal do material proposto bem como a'aplicação dos métodos mais eficazes de ensino. Questões como o grau de desdobramento do processo de assimilação dos conhecimentos por etapa, a correlação dos meios direto e lógico-verbais de ensino, os modos de formulação otimal de regras, os procedimentos que asseguram assimilação adequada dos conceitos e a transferência de princípios assimilados no processo de ensino constituem apenas uma parte das questões estudadas pela psicologia pedagógica, que dá contribuição substancial para a fundamentação científica do processo pedagógico.
O segundo aspecto do emprego da Psicologia para a construção racional do ensino e da educação é a análise das peculiaridades psicológicas das crianças, que cria obstáculo para levar-lhes instrução com êxito.
É sabido que o sucesso do ensino depende não só dos programas e métodos racionalmente organizados mas também da própria composição dos alunos. Em toda classe, paralelamente aos alunos adiantados, há aqueles que não conseguem assimilar com êxito o programa escolar e retardam o bom rendimento do trabalho de toda a turma.
O essencial, porém, é o fato de que a falta de aproveitamento que esses alunos demonstram pode ter fundamento variado. Uns alunos não acompanham o aproveitamento por serem mentalmente retardados e o atraso orgânico do seu cérebro os torna incapazes de assimilar material de complexidade mínima. Essas crianças devem ser transferidas da escola de massa para uma escola especial, auxiliar. As outras são crianças plenamente normais, mas o seu atraso deve-se ao fato de que, não tendo assistido a determinada parte do programa, elas não podem avançar com sucesso porque a assimilação do novo material não encontra nelas a necessária base de conhecimentos. Essas crianças necessitam de aulas complementares especiais que possam eliminar as suas lacunas.
Outros alunos (terceiros) demonstram dificuldades na aprendizagem por serem fisicamente fracos, por terem sofrido uma doença qualquer. Eles são capazes de concentrar com êxito suas atenções apenas durante tempo limitado, ficam rapidamente exaustos e não têm condições de assimilar o material correspondente. Eles devem estudar sujeitos a um regime correspondente e nessas condições podem cumprir com êxito o programa. Por último, o quarto grupo de alunos experimenta dificuldades de aprendizagem não porque as crianças que o compõem sejam mentalmente retardadas mas porque apresentam algumas deficiências, como deficiências auditivas, que dificultam a comunicação verbal oportuna e plena e provocam retardamento temporário do desenvolvimento. Essas crianças devem ser transferidas para escolas destinadas a alunos de audição difícil, onde procedimentos e métodos especiais permitirão compensar tais deficiências.
A tarefa mais importante deve ser a identificação oportuna das causas do atraso de diferentes grupos de crianças e o diagnóstico das diversas formas de atraso no programa. Essa tarefa pode ser cumprida somente com íntima participação dos psicólogos, que possam descrever as peculiaridades psicológicas das crianças que não conseguem acompanhar o programa, explicar as causas principais do retardamento da sua evolução e prestar ajuda substancial na eliminação das deficiências descritas.
O terceiro campo de aplicação prática da Psicologia é a medicina.
15 sabido que o desenvolvimento de uma doença depende não apenas do agente patogênico e do estado do organismo mas também de como o próprio doente encara sua doença e como a avalia; por outras palavras, depende daquilo a que os terapeu-tas chamam de "quadro interno da doença". No entanto, a própria atitude em relação à doença está relacionada com uma série de fatores psicológicos, com as peculiaridades da estrutura emocional do indivíduo, com o caráter das generalizações que o indivíduo faz. O estudo das peculiaridades caracterológicas e da estrutura do indivíduo, estudo esse feito pela Psicologia, tem por isto grande importância para a medicina, permitindo focalizar mais de perto o fundamento científico da prática da psico-terapia, da psico-higiene e da psicoprofilaxia.
A Psicologia ocupa posição especial em áreas específicas da medicina como a neurologia e a psiquiatria.
Nessa área ela pode prestar ajuda substancial na solução de duas importantíssimas questões: o diagnóstico e a natureza da doença, por um lado, e o restabelecimento das funções perturbadas, por outro.
Sabe-se que as afecções locais do cérebro só parcialmente se manifestam em sintomas da neurologia clássica como a mudança de sensibilidade, dos reflexos, do tônus e dos movimentos. Parte considerável dos grandes hemisférios cerebrais não tem relação direta com nenhum dos referidos processos e a afecção dessas áreas do cérebro não provoca perturbações visíveis nestes. Essas partes dos grandes hemisférios estão relacionadas com a realização das formas superiores de atividade psíquica como a análise do afluxo de informação, a formação de planos e programas de ação e o controle do desenvolvimento da atividade consciente. É justamente por isto que, sem provocar sintomas fisiológicos nítidos, a afecção dessas áreas do cérebro provoca perturbações visíveis das formas complexas de atividade psíquica.
Nos últimos decênios surgiu um novo campo da Psicologia — a neuropsicologia — já mencionado por nós. Este permitiu ver quais os fatores que, fazendo parte das formas complexas de atividade psíquica, estão relacionados com determinadas áreas do cérebro, permitindo ver, ainda, que tipos de perturbação dos processos psíquicos se verificam na afecção dessas áreas. Graças a isto tornou-se possível introduzir um método novo e prático de diagnóstico das afecções locais do cérebro, que aplica a análise psicológica do caráter das perturbações dos processos psíquicos superiores peio diagnóstico tópico das afecções cerebrais. Esse método consolidou-se na prática da neurologia e neurocirurgia clínicas. Nos capítulos correspondentes do presente livro mostraremos os dados de que dispõe a Psicologia para a solução dessas questões práticas. 
Não é menor a importância da Psicologia para precisar o diagnóstico das doenças mentais. As perturbações da percepção e da ação, da memória e do pensamento assumem caráter absolutamente diverso sob diferentes formas de retardamento mental e diferentes doenças mentais. Por isto a aplicação dos métodos da psicopatologia experimental na psiquiatria clínica permite precisar substancialmente o diagnóstico das doenças mentais e se converte em componente essencial da Psicologia geral.
É grande a importância prática da Psicologia na elaboração das bases científicas do restabelecimento das junções perturbadas nas afecções cerebrais.
Há relativamente pouco tempo ainda se considerava que as funções, perturbadas como resultados de afecções locais do cérebro, não se restabeleciam e a afecção do cérebro (principalmente do seu hemisfério central, dominante) provocava perturbações irreversíveis e condenava o doente à total invalidez.
Mas a doutrina da complexa construção sistêmica dos processos psíquicos superiores mostrou que cada forma complexa de atividade psíquica é realizada com o auxílio de todo um sistema de zonas cerebrais que trabalham conjuntamente e permitiu rever radicalmente essas teses. Mostrou que os sistemas funcionais, que se perturbam com qualquer afecção local do cérebro, podem ser reestruturados com base na criação de novos sistemas funcionais, baseados nas áreas cerebrais' não-afetadas. Deste modo, as funçõesperturbadas podem ser restabelecidas em novas bases.
A teoria do restabelecimento das funções psíquicas superiores (perturbadas durante afecções locais do cérebro) por meio de um restaurador especial da aprendizagem, elaborada pela Psicologia, tornou-se um importante componente da medicina moderna.
Por último, cabe mencionar o último campo de aplicação prática da Psicologia: a psicologia forense. O promotor e o juiz estão constantemente diante de formas complexas de atividade psíquica do homem, dos seus motivos e traços caracterológicos, da gradação da percepção e da memória, das peculiaridades do seu pensamento. Por isto a consideração das características psicológicas desses processos deve ser componente obrigatório da preparação e da atividade do pessoal de atividade forense.
A Psicologia elaborou um enfoque científico de duas importantes áreas da prática forense: a análise dos depoimentos das testemunhas e o diagnóstico psicológico da coparticipação no crime.
Ficou demonstrado que os depoimentos de testemunhas asseguram matéria autêntica apenas em certos limites e que o grau dessa autenticidade pode ser estabelecido mediante a aplicação de uma investigação psicológico-experimental.
Por outro lado, o crime cometido deixa vestígios não só na situação externa como também no próprio psiquismo do criminoso, daí existirem métodos psicológicos especiais pelos quais esses vestígios podem ser descobertos.
É natural que a incorporação da Psicologia à solução desses problemas permite dar uma contribuição importante para a construção da causa judicial em bases científicas e constitui área importante da aplicação prática da Psicologia.
Deste modo, a Psicologia não é apenas uma área importante da ciência como tem campos amplamente ramificados de aplicação prática, fornecendo bases científicas para importantes campos da prática.
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II
A Evolução do Psiquismo
capítulo anterior vimos como a ciência moderna entende o objeto da Psicologia e que aplicações práticas tem esse campo de atividade.
Agora enfocaremos um dos mais importantes problemas da evolução da atividade psíquica.
A origem do psiquismo
A Psicologia pré-científica, que se desenvolveu nos pri-mórdios da filosofia idealista, considerava o psiquismo como uma das propriedades primárias do homem e a consciência como manifestação direta da "vida espiritual". Por esta razão nem se colocava o problema das raízes naturais do psiquismo, de sua origem e dos graus de sua evolução. A filosofia dua-lista supunha que a consciência era tão eterna quanto a matéria, que aquela sempre existia paralelamente a esta.
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A Psicologia científica parte de teses inteiramente diversas e se propõe a tarefa de encontrar uma resposta para o problema da origem do psiquismo, de descrever as condições nas quais deve ter surgido essa forma altamente complexa de vida.
Sabe-se que a condição fundamental de surgimento da vida é o surgimento de complexas moléculas albuminosas, que não podem existir sem um constante metabolismo com o meio. Para sobreviver, elas devem assimilar do meio ambiente as substâncias que são objeto de alimentação e necessárias para mantê-las vivas. Ao mesmo tempo, elas devem segregar para o ambiente externo os produtos da desintegração cuja assimilação pode perturbar-lhes a existência normal. Esses dois processos — a assimilação e a eliminação — Integram o processo de metabolismo e são condição fundamental de existência dessas complexas formações albuminosas.
É natural que essas moléculas albuminosas altamente complexas (às vezes são chamadas coacervaíos) possuam propriedades especiais, que respondem à ação das substâncias úteis ou das condições que contribuem para a assimilação dessas substâncias, respondendo também à influência nociva que lhes ameaça a existência. Deste modo, essas moléculas reagem positivamente tanto às substâncias alimentícias como a condições como a luz e o calor, que também contribuem para a assimilação. Reagem negativamente aos efeitos mecânicos ou químicos superfortes que lhes dificultam a existência normal. Elas não reagem às influências "neutras" estranhas ao processo de metabolismo.
Chama-se excitabilidade a propriedade que têm os coacervaíos de responder às influências que integram o processo de metabolismo (sem dar resposta às influências exteriores "indiferentes" ). Essa propriedade fundamental se manifesta no processo de transformação da matéria inorgânica em orgânica. Junta-se a ela uma segunda propriedade: a possibilidade de conservação das propriedades altamente especializadas da excitabilidade diante das influências, transmitindo de geração a geração as respectivas modificações das moléculas albuminosas. Essa última propriedade parece relacionar-se com a modificação de algumas frações dos aminoácidos (particularmente do ácido ribonucléico, que constitui o funda-
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mento molecular da vida) e costuma ser considerada como importante processo que serve de base à memória biológica.
Os processos de excitação diante de influências bióticas de importância vital, a aquisição de formas de excitação altamente especializadas e sua conservação com a transmissão imediata às gerações seguintes caracterizam o estágio de evolução da vida habitualmente denominado vida vegetativa.
Esses processos caracterizam toda a vida, começando pelas algas mais simples e terminando com as formas complexas de vida vegetativa. Eles condicionam os chamados "movimentos dos vegetais", que, em essência, são apenas formas de uma intensa troca ou crescimento, dirigido pela excitação em relação às influências bióticas (umidade, iluminação, etc). Fenômenos como o crescimento da raiz do vegetal no sentido da profundidade do solo ou o crescimento irregular do tronco dependendo da iluminação ou a inclinação dos vegetais no sentido dos raios solares constituem apenas o resultado do fenômenos da "excitação" diante das influências bióticas (não indiferentes para a vida).
Há uma circunstância que é essencial para a vida vegetativa. O vegetal que responde com um intenso metabolismo às influências bióticas não reage às influências exteriores, que integram o processo imediato do metabolismo. Ele não se orienta ativamente no meio ambiente e pode, por exemplo, morrer por falta de luz ou umidade, mesmo que as fontes de luz e umidade estejam bem próximas mas não tenham efeito imediato sobre ele.
Dessa forma passiva de vitalidade distinguem-se acen-tuadamente as formas de existência na etapa seguinte da evolução: o estágio da vida animal.
Cada organismo animal, a começar pelos protozoários, caracteriza-se pelo fato de que o animal reage não só às influências bióticas, que integram o processo imediato do metabolismo, mas também às influências "neutras", não-bióti-cas, se estas anunciam o surgimento de influências ("bióticas") de importância vital. Noutros termos, os animais (mesmo os protozoários) se orientam ativamente na claridade, procuram condições de importância vital e reagem a todas as mudanças do meio, que são um sinal do surgimento dessas condições. Quanto mais intenso é o metabolismo, quanto maior é a necessidade de obter alimentação que o ser vivo simples sente, tanto mais ativos são os seus movimentos e
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tanto mais vivificadas são as formas em que se produz sua atividade de "orientação" ou "procura".
Essa capacidade de reagir aos instigadores "abióticos" neutros sob a condição de que eles sinalizem para o surgimento de influências de importância vital, capacidade essa que surge no estágio de transição para o mundo animal, é chamada sensibilidade, diferentemente dos fenômenos da ex-citabilidade. É o surgimento da sensibilidade que pode servir de indício biológico objetivo do surgimento do psiquismo.
Variabilidade do comportamento dos proiozoários
A sensibilidade aos instigadores "neutros", se estes começam a dar sinais do surgimento de influências de importância vital, provoca mudanças radicais nas formas de vida. O principal consiste em que o ser vivo começa a "orientar-se" no meio ambiente, a reagirativamente a cada mudança que neste se processa, ou seja, começa a adquirir formas de comportamento individualmente variáveis, que não existiam no mundo vegetal.
Nos primeiros períodos a aquisição desse comportamento individualmente variável se processa com relativa lentidão, mas apesar disto consegue-se observar o fenômeno até em condições de experimento.
Citemos um experimento típico, realizado pelo pesquisador alemão Bramstedt.
Sabe-se que os unicelulares, usados nesse experimento, são sensíveis ao calor (qué é para eles condição biótica de importância vital, indispensável ao metabolismo) mas são insensíveis à luz. Por isto se os colocarmos numa câmara igualmente aquecida, com uma parte clara e outra escura, eles se distribuem igualmente por toda a câmara. Se, ao contrário, aquecermos uma parte da câmara igualmente iluminada, eles se concentram no canto aquecido. Mas se durante longo período iluminarmos o canto aquecido e escurecermos o não-aquecido, a situação muda e os unicelulares se tornam sensíveis à luz, que agora adquire para eles o significado de sinal de elevação da temperatura e começam a concentrar-se no canto iluminado da câmara, apesar ias.diferenças de temperatura.
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É fato característico que essa sensibilidade à claridade se forma paulatinamente entre os unicelulares, podendo desaparecer inteiramente se durante longo período a luz não for reforçada pelo calor.
Essa mutabilidade individual do comportamento dos pro-tozoários pode ser provocada com base em suas reações defensivas, se mudarmos as condições que provocam essas reações. Pode servir de exemplo o experimento do conhecido pesquisador polonês Edward Dembowski.
Colocados numa proveta arredondada com água, os pro-tozoários fazem movimentos que lhes são característicos. Co-locados.em tubo idêntico porém com uma seção quadrangular, eles começam a bater-se contra os vidros dessa proveta mas logo seus movimentos adquirem caráter modificado, que garantem o mínimo de batidas contra as paredes do vaso. Por conseguinte, a trajetória desses movimentos começa a refletir a configuração do vaso. A trajetória por eles adquirida se mantém inclusive quando eles são recolocados num vaso arredondado e passam algum tempo fazendo os mesmos movimentos pela trajetória rômbica.
O processo de mutabilidade do comportamento-individual dos protozoários, que os distingue acentuadamente dos vegetais, transcorre com relativa lentidão e as mudanças que surgem desaparecem com a mesma lentidão. Mas essas mudanças são tão importantes que as novas formas de comportamento emergentes (de adaptação às novas condições) permitem realizar as respostas necessárias de adaptação às novas condições de modo muito mais rápido do que se verificava em nível inferior da escada evolutiva.
Exemplo típico desse processo encontramos no experimento do estudioso americano A. Smith.
Um ciliado (tipo de protozoário) foi colocado num vaso estreito com seção microscópica. A seção era tão pequena que para sair do tubo no sentido da ação do agente biótico (a luz) o ciliado tinha de virar-se, batendo contra as paredes do tubo. No começo do teste ele gastava de 3 a 6 minutos para virar-se. Mas se esses experimentos eram repetidos várias vezes durante 10-12 horas, o ciliado começava a virar-se com rapidez bem maior e no final do teste gastava apenas 1-2 segundos para virar-se. Assim, sob a influência das novas condições, obtinha-se uma nova "habilidade", que
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se processava com uma rapidez 180-200 vezes superior à reação inicial.
Como vemos, a formação de um novo tipo de comportamento, que corresponde às condições mudadas, exige dos protozoários bastante tempo. É característico que, uma vez surgida, a mudança do comportamento se mantém entre eles durante período bastante longo, sendo necessário muito tempo para desaparecer.
Isto pode ser observado tanto entre os protozoários uni-celulares como entre os pluricelulares de organização relativamente simples.
O exemplo, que mostra esse surgimento tão lento e o desaparecimento igualmente lento da nova forma de comportamento, pode ser visto no experimento realizado inicialmente pelo pesquisador belga Blesson, posteriormente pelo pesquisador soviético A. N. Leôntyev (cf. Leôntyev, A. N., Problemas da evolução do psiquismo).
Ainda não conhecemos os mecanismos biológicos dessa manifestação de sensibilidade ao agente neutro inicial. É possível que ela esteja relacionada com a mudança paulatina das propriedades bioquímicas do protoplasma. No entanto o fato da manifestação, em vida, de novas formas de reação indica o surgimento de urna mutabilidade individual no comportamento dos protozoários e dá fundamento para falar-se do surgimento de um comportamento autêntico, embora muito elementar, nessa fase da evolução.
Mecanismos do comportamento dos protozoários
A ciência ainda conhece muito pouco a respeito das condições físico-químicas do comportamento dos protozoários e das causas dos seus movimentos positivos ou negativos (movimento no sentido de uns objetos ou o movimento a partir de outros objetos, respectivamente).
Sabe-se que o protoplasma, que compõe o corpo do animal protozoário (unicelular), é constituído de uma camada exterior mais sólida (plasma-gel) e de uma camada interior mais líquida (plasma-sol). Sabe-se também que as camadas externas do protoplasma do unicelular são mais
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excitáveis do que as camadas internas, e cada ação externa provoca intenso metabolismo, que se estende paulatinamente das camadas externas às internas, extinguindo-se conforme o tipo de.gradiente de excitação paulatinamente decrescente. Esses gradientes de excitação, ao que parece, servem de base aos movimentos do unicelular, que surgem tão logo a influência externa provoca intenso metabolismo no ponto correspondente de sua superfície ou quando os processos internos levam à necessidade de procurar ativamente as substâncias necessárias para assegurar semelhante metabolismo.
Alguns autores supõem que influências adequadas de força moderada provocam reação positiva do unicelular e levam a um movimento no sentido da respectiva influência, ao passo que influências inadequadas (ultrafortes ou nocivas) provocam movimento negativo, dirigido a partir do objeto influente. O movimento positivo leva a que o ohjeto que provoca irritação é inicialmente envolvido pelos filetes do protoplasma, que, entre os unicelulares mais simples (amebas), é depositado no lugar de metabolismo mais intensivo e fecha-se em torno desse objeto, incíuindo-o na composição do corpo do unicelular. Se esse objeto é alimentício, ele é absorvido pelo corpo do unicelular, segregando-se para o meio o produto da desintegração. Não sendo aliníen-tício, ele é rejeitado para o meio ambiente pelo mesmo caminho que foi apanhado.
Seria, entretanto, incorreto supor que todos os movimentos dos unicelulares se processam por um esquema tão simples. Uma peculiaridade do comportamento dos unicelulares é o fato de que as influências que chegam até eles podem, elas mesmas, sofrer as mais complexas modificações. O próprio protoplasma do unicelular nunca se encontra em estado de tranqüilidade, mas se caracteriza por sistemas altamente diferenciados e seletivos de excitação, que mudam segundo o processo de metabolismo que nele se opera e leva ao surgimento de formas dominantes de excitação.
Como mostraram os experimentos de Fogler, a influência mecânica de certa força provoca apenas reações relativamente fracas do protozoário, sendo que a excitação pela luz pode não provocar nenhuma reação. Mas se sobre o protozoário agem simultaneamente a instigação mecânica de determinada força e a excitação por luz, esses dois estímulos se somam e levam a intensivas reações do protozoário.
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Sabe-se que a capacidade de reação da ameba faminta é maior do que a mesma capacidade da ameba saciada, e ela cria elevada disposição de responder aos estímulos positivos correspondentes ou às instigações que sinalizam o surgimento destes.
Por último, o unicelular pode "acostumar-se"

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