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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS CENTRO DE CIÊNCIAS QUÍMICAS, FARMACÊUTICAS E DE ALIMENTOS Bioquímica I Profa. Massako Takahashi Dourado Vitaminas e Coenzimas Caroline Landim Corrêa - 16200922 Pelotas, 06 de junho de 2019. 1. Introdução O presente trabalho tem a finalidade de apresentar conhecimentos teóricos sobre as vitaminas, bem como sua relação com as coenzimas. Sendo assim apresentado com uma breve definição geral de vitaminas, seguido das especificidades de cada uma das 13 vitaminas (as 8 vitaminas do complexo B e as vitaminas A, C, D, E e K) e, por fim, o conceito básico de coenzimas e sua relação com as vitaminas. 2. Vitaminas A palavra vitamina vem da contração de duas palavras, vital (necessário) e amina (um composto orgânico nitrogenado). Originalmente, pensava-se que todas as vitaminas continham pelo menos um átomo de nitrogênio. As letras seguidas de “vitamina” simbolizam a ordem em que foram descobertas, como por exemplo o C de vitamina C indica que ela foi a terceira vitamina a ser identificada. Posteriormente, descobriu-se que apenas as vitaminas B e H possuem nitrogênio. Atualmente, o termo vitamina é utilizado para descrever um grupo de micronutrientes essenciais que são encontrados em pequenas quantidades na maioria dos alimentos. As vitaminas são essenciais para o funcionamento fisiológico normal do corpo humano (isto é, manutenção, crescimento, desenvolvimento e reprodução) e as quantidades necessárias variam em função de: sexo, idade, massa, altura, necessidades energéticas, período gestacional e puerperal, atividade física, etc. Seu consumo em excesso (hipervitaminose) ou em falta (hipovitaminose) pode acarretar em desbalanços metabólicos que podem desencadear doenças. As vitaminas são importantes em diversas e distintas funções bioquímicas, por isso elas são classificadas pelo seu papel funcional e não pela sua estrutura. Suas atividades biológicas são determinadas pelos vitâmeros que são as múltiplas formas de uma vitamina (todos os isômeros e análogos ativos). Assim, compostos diferentes que desempenham a mesma atividade biológica e, portanto, possuem o mesmo vitâmero, são agrupadas sob um título de uma letra. Por exemplo, o colecalciferol e o ergocalciferol são compostos diferentes, mas que possuem o mesmo vitâmero e por isso ambos compõem o grupo da vitamina D. 1 De acordo com suas funções metabólicas, as vitaminas são classificadas em quatro grupos: estabilizadores de membrana, doadores e receptores de hidrogênio e elétrons, hormônios e coenzimas. As vitaminas também podem ser classificadas de acordo com sua solubilidade em dois grupos: lipossolúveis e hidrossolúveis. As vitaminas são necessárias para a execução de funções celulares específicas, por exemplo, muitas das vitaminas hidrossolúveis são precursoras de coenzimas para as enzimas de metabolismo intermediário, em contraste somente uma vitamina lipossolúvel tem função de coenzima. As hidrossolúveis tendem a ter um ou mais grupos polares ou ionizáveis como carboxila, aminoácido, fosfato, entre outros. Já as lipossolúveis apresentam predominantemente grupamentos aromáticos e alifáticos. As vitaminas lipossolúveis são solúveis em gordura, sendo encontradas principalmente em alimentos com alto teor de gordura. Entre estas se encontram as vitaminas A, D, E e K. A absorção dessas vitaminas pelo intestino humano ocorre por meio da ação de sais biliares, sendo transportadas via circulação linfática juntamente com os lipídios de cadeia longa, como triacilgliceróis de cadeia longa, para o fígado, e são geralmente excretadas com as fezes por meio da circulação enterohepática. As vitaminas A e D são armazenadas principalmente no fígado, e a vitamina E nos tecidos adiposos e órgãos reprodutores. A capacidade de armazenamento de vitamina K é reduzida. As vitaminas hidrossolúveis compreendem todas aquelas que são solúveis em água, como a vitamina C e as vitaminas do complexo B, as quais se dividem em: tiamina (B1), riboflavina (B2), piridoxina (B6), cianocobalamina (B12), biotina, ácido fólico, niacina e ácido pantotênico. Estão presentes tanto em fontes animais quanto vegetais, possuem absorção facilitada, sendo conduzidas via circulação sistêmica e utilizadas quase em sua totalidade no metabolismo energético. Essas vitaminas não são armazenadas no organismo e todo excesso consumido é excretado através das vias urinárias. Um esquema para essa classificação é mostrado na Figura 1. 2 Figura 1 - Classificação das vitaminas. Para a especificação de cada vitamina, apresentada a seguir, as mesmas foram colocadas em ordem na qual facilitasse a exposição e compreensão das suas relações. 2.1. Ácido Fólico (B9) O ácido fólico, desempenha um papel importantíssimo no metabolismo dos grupos de um carbono, é essencial para a biossíntese de vários compostos. A deficiência do mesmo é, provavelmente, a deficiência vitamínica mais comum, principalmente em mulheres grávidas e entre alcoolistas. Folato é o termo utilizado para denominar compostos com atividade semelhante ao ácido pteroilglutâmico (PteGlu), também conhecido como ácido fólico. Os folatos são predominantemente poliglutamatos, contendo até sete resíduos de L-glutamato ligados ao grupo p-aminobenzoico por ligações peptídicas (Figura 2). Como os diferentes tipos de folato têm absorção e metabolismo diferentes, eles não podem ser quantificados como um só composto. 3 Figura 2 - Estrutura do ácido pteroilglutâmico. O ácido tetra-hidrofólico (folato reduzido) é a forma ativa do ácido fólico, uma coenzima. O THF resulta da redução de duas ligações duplas do ácido fólico (Figura 3). Essa redução ocorre dentro das células (principalmente no fígado, onde o ácido fólico é estocado) para tetrahidrofolato (THF) pela enzima dihidrofolato redutase (DHFR). Essas reações de transferência de carbono são necessárias na biossíntese de serina, metionina, glicina, colina e dos nucleotídeos de purina. Figura 3 - Estruturas do ácido fólico e de sua forma ativa, o ácido tetrahidrofolato. 2.1.1. Função do ácido fólico 2.1.1.1. Metabolismo de proteínas O folato funciona como coenzima em diversas reações envolvendo transferência de carbonos (radicais metílicos), incluindo síntese de purina e timidilato, metabolismo de diversos aminoácidos (especialmente serina e homocisteína, em ação conjunta com a 4 cobalamina e o ácido ascórbico), metilação de aminas biogênicas e síntese proteica da metionina. O 5-metil-THF atua como doador do grupo metil na conversão da homocisteína em metionina, em reação catalisada pela metionina sintase, enzima que também necessita da cobalamina para sua atividade. Sendo um elemento essencial que atua como co-fator no metabolismo da homocisteína, o ácido fólico controla os níveis circulantesdesse aminoácido. 2.1.1.2. Síntese de DNA Por ser necessário para a síntese de purinas e timidilato, o folato constitui-se em elemento essencial para a síntese de DNA e RNA, sendo elemento fundamental na eritropoiese. Dessa forma, é indispensável na regulação do desenvolvimento normal de células nervosas, na prevenção de defeitos congênitos no tubo neural e na promoção do crescimento e desenvolvimento normais do ser humano. O ácido fólico é um nutriente essencial para a síntese de S-adenosilmetionina (SAM), um potente doador de grupo metil necessário nas reações de metilação, tais como na síntese de creatina, fosfatidilcolina, mielina, metilação do DNA e de neurotransmissores. Como já exposto, o 5-metil-THF auxilia na conversão de homocisteína em metionina, que, por sua vez, é metabolizada em SAM, o principal doador de grupo metil na maioria das reações bioquímicas. Limitações desses nutrientes podem comprometer a metilação da citosina, portanto, alterando e prejudicando a síntese de DNA. 2.1.2. Deficiência de ácido fólico no organismo Níveis inadequados de folato podem ser causados pelo aumento da demanda (durante a gestação e lactação, por exemplo) ou por absorção deficiente, causada por patologia do intestino delgado, alcoolismo ou tratamento com fármacos inibidores. Uma dieta sem folato pode causar deficiência em poucas semanas. 2.1.2.1. Folato e anemia O principal resultado da deficiência de ácido fólico é a anemia megaloblástica (figura 4), causada pela diminuição na síntese de purinas e TMP, o que leva a uma incapacidade da célula (incluindo precursores de eritrócitos) de produzir DNA, o que a impede de se dividir. 5 Figura 4 - Histologia da medula óssea em indivíduos normais e com deficiência de folato. 2.1.2.2. Folato e defeitos do tubo neural em fetos A espinha bífida e a anencefalia, os defeitos mais comuns do tubo neural, afetam anualmente cerca de 4000 gestações. Tem sido relatado que a suplementação de ácido fólico antes da concepção e durante o primeiro trimestre de gestação diminui significativamente esses defeitos. Assim, a todas as mulheres em idade fértil é recomendado o consumo de 0,4 mg/dia de ácido fólico para reduzir o risco de ter uma gestação afetada por defeitos do tubo neural. 2.2. Cobalamina (B12) A vitamina B12 está funcionalmente relacionada ao ácido fólico e rendeu dois prêmios Nobel durante a história de sua descoberta. A busca por um princípio ativo no fígado culminou com o isolamento e a cristalização da vitamina B12 em 1948 por Rickes, Smith e Parker. Em 1964, o segundo Prêmio Nobel da história da cobalamina foi destinado a Dorothy Hodgkin, por determinar a estrutura química cristalina da vitamina a partir de cristalografia por raios- X. Em 1959, a cobalamina teve sua função bioquímica, bem como sua função como coenzima, estabelecida, e em 1963 descobriu-se sua atuação como cofator na reação de síntese da metionina a partir da metilação da homocisteína. Estabeleceu-se enfim as interações metabólicas da vitamina B12 com o ácido fólico, e sua associação com a anemia megaloblástica. Em 1973, Woodward e colaboradores conseguiram desenvolver a síntese total da cobalamina. Essa vitamina é sintetizada apenas por microorganismos e não está presente nos vegetais. Os animais obtêm a vitamina pré-formada a partir de sua flora bacteriana natural ou pela ingestão de alimentos derivados de outros animais. A cobalamina está presente em 6 quantidades apreciáveis no fígado, no leite integral, em ovos, ostras, camarões frescos e nas carnes de porco e de galinha. 2.2.1. Estrutura da cobalamina e suas formas de coenzimas A cobalamina contém um sistema de anel de corrina que difere das porfirinas, pois dois de seus anéis pirrol estão ligados diretamente, em vez de por meio de uma ponte de meteno. O cobalto é mantido no centro do anel corrina por quatro ligações coordenadas com os nitrogênios dos grupos pirrol. Em preparações comerciais da vitamina, as demais ligações coordenadas do cobalto são com o nitrogênio do 5,6-dimetilbenzimidazol e com o cianeto na forma de cianocobalamina (Figura 5). As formas de coenzima da cobalamina são 5’-desoxiadenosilcobalamina, em que o cianeto é substituído pela 5’-desoxiadenosina (formando uma ligação não usual carbono-cobalto), e a metilcobalamina, em que o cianeto é substituído por um grupo metila (Figura 5). Figura 5 - Estrutura da vitamina B12 (cianocobalamina) e suas formas de coenzima (metilcobalamina e 5’-desoxiadenosilcobalamina) 2.2.2. Função da cobalamina Em humanos, a vitamina B12 é necessária para duas reações enzimáticas essenciais: a remetilação da homocisteína em metionina e a isomerização da metilmalonil-coenzima A (CoA), que é produzida durante a degradação de alguns aminoácidos (isoleucina, valina, treonina e metionina) e ácidos graxos com número ímpar de átomos de carbono (Figura 6). Quando há deficiência dessa vitamina, ácidos graxos incomuns acumulam-se e são 7 incorporados nas membranas celulares, incluindo as do sistema nervoso. Isso pode contribuir para algumas das manifestações neurológicas da deficiência da vitamina B12. Figura 6 - Reações que necessitam de formas de coenzima da vitamina B12. 2.2.3. Deficiência de vitamina B12 A deficiência de vitamina B12 raramente resulta da ausência da vitamina na dieta. É muito mais comum encontrar deficiência em pacientes com falhas na absorção da vitamina pelo intestino. 2.2.3.1. Hipótese de captura do folato Os efeitos da deficiência de cobalamina são mais pronunciados em células que se dividem rapidamente, como o tecido eritropoiético da medula óssea e as células da mucosa intestinal. Esses tecidos necessitam das formas N5-N10-metileno e N10-formil do tetra-hidrofolato para a síntese de nucleotídeos, necessários para a replicação do DNA. Entretanto, na deficiência da vitamina B12, a utilização da forma N 5-metil-tetra-hidrofolato na metilação dependente de B12 da homocisteína à metionina é prejudicada. Uma vez que a forma metilada não pode ser convertida diretamente em outras formas de tetra-hidrofolato, o 8 folato é capturado na forma de N5-metil-tetra-hidrofolato, que se acumula. Os níveis das outras formas diminuem. Assim, levanta-se a hipótese de que a deficiência de cobalamina conduz à deficiência das formas de tetra-hidrofolato necessárias para a síntese de purinas e de TMP, resultando nos sintomas de anemia megaloblástica. 2.2.3.2. Anemia Perniciosa Uma má absorção de vitamina B12 leva a anemia perniciosa. Na maioria dos casos, essa doença resulta da destruição autoimune das células gástricas parietais, que são responsáveis pela síntese de uma glicoproteína chamada fator intrínseco. Normalmente, a vitamina B12 obtida na dieta liga-se ao fator intrínsecono intestino (Figura 7). O complexo passa pelo intestino e liga-se a receptores específicos na superfície das células mucosas. A cobalamina ligada é transportada para dentro das células mucosas e, posteriormente, à circulação geral, onde é transportada por proteínas de ligação B12. A falta do fator intrínseco impede a absorção da vitamina B12, resultando na anemia perniciosa. Figura 7 - Absorção da vitamina B12. FI = fator intrínseco. 2.3. Ácido Ascórbico (Vitamina C) A Era dos Descobrimentos foi movida pelo comércio de moléculas contidas nas especiarias, mas foi a falta de uma molécula, bastante diferente, que quase a encerrou. Mais de 90% da tripulação de Magalhães não sobreviveu à sua circunavegação de 1519-1522, em grande parte por causa do escorbuto, uma doença devastadora causada por deficiência da molécula do ácido ascórbico, a forma ativa da vitamina C. Em 1746, o médico-cirurgião da marinha britânica James Lind realizou experiências clínicas com portadores de escorbuto, referindo a cura da doença com a ingestão de frutas cítricas. Mas, por causa da dificuldade em transportar frutas frescas em viagens de longa 9 duração, pesquisadores britânicos substituíram as frutas por substâncias ácidas, pensando ser a acidez a causa da cura e prevenção do escorbuto. Devido ao esforço do médico escocês sir Gilbert Blane, em 1775, a companhia de navegação British Royal Navy foi obrigada a prover diariamente o consumo de suco de frutas cítricas aos seus marinheiros em viagens com duração maior que duas semanas. Porém, essa determinação não foi seguida em outras companhias de navegação. Os marinheiros de navios mercantes continuavam a ser acometidos pelo escorbuto, até que a provisão de frutas cítricas tornou-se obrigatória pelo Ato de Navegação Mercante de 1854. Foi no século XIX que o escorbuto teve sua incidência diminuída, devido à obtenção de alimentos frescos pela tripulação sempre que aportavam e à tecnologia na fabricação dos navios, que passaram a proporcionar viagens mais rápidas. Em 1928, usando glândulas suprarrenais, laranjas e repolho, o pesquisador húngaro Albert SzentGyorgyi isolou o princípio antiescorbútico, que nomeou de ácido ascórbico e, em 1937, recebeu o Prêmio Nobel por essa descoberta. Sua importância cresceu ao longo do tempo devido à descoberta de seu potencial antioxidante. Entre os mamíferos, somente os primatas, os ratos de cobaia e o morcego-da-fruta indiano requerem vitamina C em sua dieta. Isso porque dos demais vertebrados o ácido ascórbico é fabricado no fígado a partir da simples glicose do açúcar por meio de uma série de quatro reações, cada uma catalisada por uma enzima. Por isso o ácido ascórbico não é uma necessidade dietética para esses animais. Um série semelhante de reações, numa ordem um pouco diferente, é a base do método sintético moderno, também a partir da glicose, para a preparação industrial do ácido ascórbico. O primeiro passo é uma reação de oxidação, que significa acréscimo de oxigênio a uma molécula, ou remoção de hidrogênio, ou ambas as coisas. No processo inverso, conhecido como redução, há remoção de oxigênio, ou adição de hidrogênio, ou ambos. O segundo passo envolve redução na extremidade da molécula de glicose oposta à da primeira reação, formando um composto conhecido como ácido gulônico. A etapa seguinte da sequência, o terceiro passo, envolve a formação pelo ácido gulônico de uma molécula cíclica ou em anel na forma de uma lactona. O passo final na oxidação produz a ligação dupla da molécula de ácido ascórbico. É a enzima para esse quarto e último passo que falta ao homem (Figura 8). 10 Figura 8 - Síntese do ácido ascórbico. Mais de 90% da vitamina C presente na dieta humana é proveniente de frutas e vegetais, principalmente em frutas cítricas como laranjas e seus sucos. O teor pode variar significativamente de acordo com as condições de cultivo, a época de plantio, a incidência solar, o estágio de maturação, o manuseio pós-colheita e qualidade do solo. A dose recomendada de vitamina C para um adulto é geralmente estabelecida em 60 miligramas, mais ou menos a que está presente numa laranja pequena. Uma dose mais elevada é necessária durante a gravidez, amamentação e para idosos. O ácido ascórbico apresenta uma estrutura com seis carbonos e pode ser encontrado em algumas formas isoméricas: ácido L-ascórbico (LAA), ácido D–ascórbico (DAA), ácido L– iso-ascórbico (LIAA) e ácido D–iso-ascórbico (DIAA) (Figura 9). O isômero mais encontrado naturalmente em frutas é o LAA, que também é o mais utilizado no organismo para as funções biológicas. DIAA, também conhecido como ácido eritrórbico e ácido D-araboascórbico apresenta propriedade antioxidante similar ao LAA, mas apenas 5% de sua atividade é pró-vitamínica C. Este fato está associado à diferença estrutural na posição do 11 grupo hidroxila no carbono 5. DIAA não é normalmente encontrado em alimentos naturais, mas apresenta grande importância na tecnologia alimentar, podendo ser adicionado como antioxidante em bebidas, vinhos e carne, substituindo o LAA, com ganhos econômicos, sem que a capacidade antioxidante seja perdida. Figura 9 - Formas isoméricas do ácido ascórbico. 2.3.1. Função da vitamina C A sua principal função é a de agente redutor em diversas reações diferentes. A vitamina C tem um papel bem-documentado como coenzima nas reações de hidroxilação, como por exemplo na hidroxilação dos resíduos propil- e lisil- do colágeno. Sendo, dessa forma, necessária para a manutenção do tecido conjuntivo normal, bem como para recompor tecidos danificados. A vitamina também facilita a absorção intestinal do ferro da dieta. 2.3.2. Deficiência de vitamina C Como já citado, o escorbuto é a principal doença causada pela deficiência do ácido ascórbico. A doença é caracterizada por gengivas doloridas e esponjosas, dentes frouxos, fragilidade dos vasos sanguíneos, edemas nas articulações e anemia. Muitos sintomas da deficiência podem ser explicados por deficiência na hidroxilação do colágeno, que resulta em um tecido conjuntivo defeituoso. 2.4. Piridoxina (Vitamina B6) Vitamina B6 é um termo coletivo para piridoxina, piridoxal e piridoxamina, todos os derivados da piridina. Diferem apenas quanto a natureza do grupo funcional ligado ao anel (Figura 10). A piridoxina ocorre principalmente nas plantas, ao passo que o piridoxal e a 12 piridoxamina são encontrados em alimentos de origem animal. Todos os três compostos podem servir como precursores da coenzima biologicamente ativa, o piridoxal-fosfato (Figura 10). Figura 10 - Estruturas da vitamina B6 e do fármaco isoniazida. 2.4.1. Função da vitamina B6 O piridoxal-fosfato funciona como coenzima para um grande número de enzimas, particularmente aquelas que catalisamreações envolvendo aminoácidos. Tipo de reação Exemplo Transaminação Oxalacetato + glutamato aspartato + cetoglutarato→ α − Desaminação Serina piruvato + NH3→ Descarboxilação Histidina histamina + CO2→ Condensação Glicina + succinil-CoA ácido aminolevulínico→ δ − 2.4.2. Deficiência de vitamina B6 A isoniazida (Figura 10), hidrazida do ácido isonicotínico, um fármaco frequentemente usado para o tratamento da tuberculose, pode induzir deficiência de vitamina B6 pela formação de um derivado inativo com o piridoxal-fosfato. A suplementação de B6 na 13 dieta é, assim, um adjuvante para o tratamento com isoniazida. Por outro lado, deficiências de piridoxina na dieta são raras, mas têm sido observadas em recém-nascidos alimentados com leite em pó com baixos níveis de vitamina B6, em mulheres que fazem uso de contraceptivos orais e em alcoolistas. 2.4.3. Toxicidade da piridoxina A piridoxina é a única vitamina hidrossolúvel com toxicidade significante. Sintomas neurológicos (neuropatia sensorial) têm sido observados com ingestão superior a 200mg/dia, uma quantidade 100 vezes maior que a quantidade diária recomendada. Uma melhora substancial, mas não recuperação completa, ocorre quando a vitamina é suspensa. 2.5. Tiamina (Vitamina B1) Estruturalmente é composta por um grupamento tiazol e uma pirimidina formando a vitamina Tiamina (Figura 11). Certos microrganismos são capazes de sintetizá-la naturalmente, como algumas bactérias, protozoários e fungos . Algumas plantas também têm maquinaria necessária para sua biossíntese. Os animais, no entanto, precisam obtê-la da alimentação pois mesmo que a microbiota seja capaz de sintetizá-la naturalmente, isso não acontece em quantidade suficientes para suprir as necessidades do organismo. O pirofosfato de tiamina é a forma biologicamente ativa dessa vitamina, formada pela transferência do grupo fosfato do trifosfato de adenosina (ATP) para a tiamina (Figura 11). 14 Figura 11 - Estrutura da Tiamina e sua forma de coenzima, tiamina-pirofosfato. 2.5.1. Função da vitamina B1 O pirofosfato de tiamina serve como coenzima na formação ou na degradação de cetois pela transcelotase (Fugura 12) e na descarboxilação oxidativa dos cetoácidos.α − α − Figura 12 - Reações que utilizam pirofosfato de tiamina (TPP) como 15 coenzima. A. Transcetolase. B. Piruvato-desidrogenase. Observa-se que o TPP também é utilizado pela desidrogenase dos cetoácidos de α − cadeia ramificada. 2.5.2. Deficiência de tiamina A descarboxilação oxidativa do piruvato e do cetoglutarato, que desempenham α − papel-chave no metabolismo energético da maioria da células, é especialmente importante em tecidos do sistema nervoso. Na deficiência da tiamina, a atividade dessas duas reações de desidrogenases é diminuída, resultando na diminuição da produção de ATP e, dessa forma, em prejuízo na função celular. A deficiência de tiamina é diagnosticada pelo aumento na atividade da transcetolase em eritrócitos, observado após a adição de pirofosfato de tiamina. 2.5.2.1. Baribéri Essa é uma grave síndrome de deficiência de tiamina, observada em áreas onde o arroz polido é o principal componente da dieta. Os sinais de beribéri em bebês incluem taquicardia, vômito, convulsões e, se não for tratada, morte. A síndrome da deficiência pode ter rapido inicio em lactentes cujas mães são deficientes em tiamina. O beribéri em adultos é caracterizado por pele seca, irritabilidade, pensamento desordenado e paralisia progressiva. 2.5.2.2. Síndrome de Wernicke-Korsakoff Nos Estados Unidos, a deficiência de tiamina, que é encontrada principalmente em associação a alcoolismo crônico, é devida a insuficiência dietética ou a diminuição na absorção intestinal da vitamina. Alguns alcoolistas desenvolvem síndrome de Wernicke-Korsakoff, um estado de deficiência de tiamina caracterizado com apatia, perda de memória, ataxia e movimentos rítmicos dos globos oculares (nistagmo). A síndrome é tratada com suplementação de tiamina. 2.6. Niacina (Vitamina B3) Niacina, ou ácido nicotínico, é um derivado substituído da piridina. A niacina ou vitamina B3 é sintetizada pelo nosso organismo em pequena quantidade a partir do triptofano 16 (Trp), entretanto não em quantidade suficiente para atender às nossas necessidades. As formas biologicamente ativas da coenzima são nicotinamida-adenina-dinucleotídeo (NAD+) e seu derivado fosforilado, nicotinamida-adenina-dinucleotídeo-fosfato (NADP+; Figura 13). A nicotinamida, um derivado do ácido nicotínico que contém uma amida substituindo um grupo carboxila, também ocorre na dieta. A nicotinamida é rapidamente desaminada no organismo e, dessa forma, é nutricionalmente equivalente ao ácido nicotínico. Figura 13 - Estrutura e biossíntese do NAD + e o NADP+. A niacina é encontrada em grãos enriquecidos e não refinados, em cereais, no leite e em carnes magras, especialmente fígado. 2.6.1. Função da niacina O NAD+ e o NADP+ servem como coenzimas em reações de oxidação-redução em que a coenzima sofre redução do anel piridina, pela incorporação de um íon hidreto (átomo de hidrogênio mais um elétron; Figura 14). As formas reduzidas do NAD+ e do NADP+ são NADH e NADPH, respectivamente. 17 Figura 14 - Redução de NAD+ a NADH. 2.6.2. Deficiência de niacina A deficiência de niacina causa pelagra, uma doença envolvendo a pele, o trato gastrointestinal e o sistema nervoso central. Os sintomas da evolução da pelagra compreendem dermatite, diarréia, demência e, se não tratada, pode levar a morte. 2.6.3. Tratamento da hiperlipidemia Em doses de 1,5 g/dia, ou 100 vezes a quantidade diária recomendada, a niacida inibe fortemente a lipólise no tecido adiposo, o produtor primário dos ácidos graxos livres na circulação. O fígado normalmente utiliza esses ácidos graxos circulantes como precursores para a síntese de triacilgliceróis. Assim, a niacina causa diminuição da síntese hepática de triacilgliceróis, necessários para a produção da lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL). A lipoproteína de baixa densidade (LDL, a lipoproteína rica em colesterol) é derivada da VLDL no plasma. Assim, são diminuídos no plasma tanto o triacilglicerol (na VLDL) como o colesterol (na VLDL e na LDL). Dessa forma niacina é especialmente útil no tratamento da hiperlipoproteinemia do tipo lib, na qual VLDL e LDL estão elevadas. 2.7. Riboflavina (Vitamina B2) As duas formas biologicamente ativas são flavina mononucleotídeo (FMN) e flavina adenina dinucleotídeo (FAD), formadas pela transferência da porção monofosfato de adenosina do ATP para o FMN (Figura 15). 18 Figura 15 - Estrutura e biossíntese de flavina mononucleotídeo e de flavina adenina dinucleotídeo. 2.7.1. Função da riboflavina A FMN e a FAD são capazes de aceitar reversivelmente dois átomos de hidrogênio, formando FMNH2 ou FADH2, nessas formas ambas estão envolvidasno mecanismo de reações de oxidação. Tanto FMN quando FAD encontram-se fortemente ligadas, algumas vezes covalentemente, a flavoenzimas que catalisam a oxidação ou redução de um substrato. 2.7.2. Deficiência de riboflavina A deficiência de riboflavina não está associada a qualquer doença humana grave, embora frequentemente acompanhe deficiências de outras vitaminas. Os sintomas da deficiência incluem dermatite, queilose (fissuras nos cantos da boca) e glossite (a língua fica com aparência lisa e púrpura). 2.8. Biotina (Vitamina B5) Em 1901, Wildiers documentou um fator essencial para o crescimento de leveduras. A partir desta época, foram desenvolvidos estudos com animais, até que, em 1927, Boas observou que ratos alimentados com clara de ovo crua desenvolviam queda de pelos, lesões de pele e desordens neuromusculares. Em 1931, György denominou de vitamina H o fator presente no fígado bovino, alimento capaz de reverter o quadro de deficiência experimental. As formas cristalinas obtidas a partir da gema de ovo e do fígado foram comparadas e identificadas como sendo uma única substância. O papel da biotina como vitamina só foi reconhecido a partir de 1960. A estrutura da biotina é formada por dois anéis, sendo um com grupo ureído e o outro contendo cadeia lateral formada por átomo de enxofre e ácido valérico na cadeia lateral. 19 Nos alimentos de origem animal ou vegetal e no organismo, a maior parte da biotina encontra-se ligada a enzimas, sendo que apenas uma pequena parte é encontrada na forma livre. Quando ocorre proteólise da enzima, há liberação da biocitina, composto hidrossolúvel metabolicamente ativo. A biotina é largamente distribuída em alimentos, embora com baixa concentração. A maior fonte alimentar é o fígado bovino. Carnes, cereais, grãos, frutas e vegetais são fontes pobres nessa vitamina. A biodisponibilidade da biotina dos alimentos é desconhecida. A biotina pode ser sintetizada pela flora intestinal, mas não há informações sobre sua absorção. 2.8.1. Função da biotina A biotina é uma coenzima nas reações de carboxilação, em que serve como carreadora do dióxido de carbono ativado. A biotina liga-se covalentemente ao grupo ε − amino de resíduos de lisina nas enzimas dependentes de biotina (Figura 16). A biotina age como um cofator essencial para acetil-CoA, propionil-CoA, beta-metilcrotonilCoa e enzimas piruvato carboxilase, importantes na síntese de ácidos graxos, no catabolismo de aminoácidos de cadeia ramificada e na via gliconeogênica. A biotina também tem papel na regulação da expressão gênica. Figura 16 - A. Estrutura da biotina. B. Biotina, ligada covalentemente a um resíduo de lisina de uma enzima dependente de biotina. 2.8.2. Deficiência da biotina 20 A deficiência de biotina não ocorre naturalmente, porque a vitamina está amplamente distribuída nos alimentos. Além disso, uma grande porcentagem da biotina necessária para os humanos é suprida por bactérias intestinais. Entretanto, a adição de claras de ovos cruas à dieta como fonte de proteína induz sintomas de deficiência de biotina, isto é, dermatite, glossite, perda de apetite e náusea. A clara do ovo crua contém uma glicoproteína, a avidina, que se liga fortemente à biotina e impede a sua absorção pelo intestino. No entanto, em uma dieta normal seriam necessários 20 ovos por dia para induzir uma síndrome de deficiência. 2.9. Ácido Pantotênico (Vitamina B5) Em 1933, Williams descobriu uma substância essencial para o crescimento de leveduras, que denominou de ácido pantotênico, por estar presente em uma variedade de tecidos, pois em grego, a palavra panthos significa “em todos os lugares”. Primeiramente, foi verificado que uma doença denominada “pelagra dos pintos” podia ser curada com extrato de fígado, mas não com o ácido nicotínico. Wooley e Jokes demonstraram que o fator que curava a dermatite das aves era o ácido pantotênico. Em 1947, Lipmann mostrou que a acetilação da sulfanilamida necessitava de um cofator que continha ácido pantotênico. O ácido pantotênico é composto pelo ácido pantóico ligado a uma subunidade beta-alanina, por ligação peptídica. O ácido pantotênico é um componente da coenzima A (CoA). O ácido pantotênico dos alimentos ocorre principalmente como coenzima A (CoA). O ácido pantotênico é amplamente distribuído em todos os alimentos, especialmente em carnes de vaca e frango, batata, aveia e outros cereais integrais, tomate, fígado e vísceras, fermento, gema de ovo e brócolis. 2.9.1. Função do ácido pantotênico A CoA atua na transferência de grupos acila (Figura 17). A coenzima possui um grupo tiol que transporta os componentes acila, como ésteres de tiol ativados. Sendo o ácido um componente da coenzima A (CoA), assume um papel central nas reações de liberação de energia a partir dos carboidratos. Quando o ácido pantotênico liga-se a um grupo beta-mercaptoetilamina, torna-se panteteína. A fosfopanteteína faz ligação covalente a várias proteínas, particularmente aquelas envolvidas no metabolismo dos ácidos graxos, estando 21 envolvida na síntese de compostos como os hormônios esteróides, o colesterol e os fosfolipídios. Figura 17 - Estrutura da coenzima A. 2.9.2. Deficiência do ácido pantotênico A deficiência de ácido pantotênico não está bem caracterizada em humanos e não existe uma quantidade diária recomendada estabelecida. 2.10. Vitamina A Os retinoides, uma família de moléculas relacionadas ao retinol (Vitamina A), são essenciais para a visão, a reprodução, o crescimento e a manutenção dos tecidos epiteliais. O ácido retinoico, derivado da oxidação do retinol da dieta, medeia a maioria das ações dos retinoides, exceto para a visão, que depende do retinal, o derivado aldeídico do retinol. O termo vitamina A é frequentemente usado como coletivo para várias moléculas biologicamente ativas relacionadas (Figura 18). O termo retinóides inclui as formas naturais e sintéticas da vitamina A, que podem ou não ter atividade de vitamina A. ➔ Retinol: álcool primário que contém um anel ionona com cadeia lateral β − insaturada. É encontrado em tecidos de animais como um éster retinila com ácidos graxos de cadeia longa. ➔ Retinal: é o aldeído derivado da oxidação do retinol. O retinal e o retinol podem ser facilmente interconvertidos. ➔ Ácido retinoico: é o ácido derivado da oxidação do retinal. Não pode ser reduzido no organismo e, assim, não pode originar retinal ou retinol. 22 ➔ Caroteno: está presente nos alimentos de origem vegetal, pode ser clivadoβ − oxidativamente no intestino em duas moléculas de retinal. Em humanos, a conversão é ineficiente, e a atividade de vitamina A é bem menos (cerca de 12 vezes) que a do retinol. Figura 18 - Estrutura dos retinoides. Fígado, rim, nata,manteiga e gema de ovo são boas fontes de vitamina A pré-formada. Frutas e vegetais amarelos e verde-escuros são boas fontes dietéticas de carotenos, que servem como precursores da vitamina A. A quantidade diária recomendada para adultos é 900 equivalentes de atividade de retinol (ER) para indivíduos do sexo masculino e 700 ER para indivíduos do sexo feminino. 1 ER = 1 mg de retinol, 12 mg de β − Caroteno ou 24 mg de outros carotenos. 2.10.1. Absorção e transporte da vitamina A 2.10.1.1. Transporte para o fígado Os ésteres de retinol presentes na dieta são hidrolisados na mucosa intestinal, liberando retinol e ácidos graxos livres (Figura 19). O retinol derivado dos ésteres e da clivagem e redução de carotenos é novamente esterificado a ácidos graxos de cadeia longa na 23 mucosa do intestino e secretado como componente dos quilomicra no sistema linfático. Os ésteres de retinila contidos no quilomicra remanescentes são captados pelo fígado e nele armazenados. Figura 19 - Absorção, transporte e armazenamento da vitamina A e seus derivados. 2.10.1.2. Liberação a partir do fígado Quando necessário, o retinol é liberado do fígado e transportado para os tecidos extra-hepáticos por uma proteína plasmática, a proteína ligadora de retinol (PLR). O complexo PLR-retinol liga-se a receptores específicos na superfície das células dos tecido periféricos, permitindo a entrada do retinol. Muitos tecidos possuem uma proteína celular ligadora de retinol que transporta o mesmo para sítios no núcleo onde a vitamina atua de maneira análoga aos hormônios esteróides. 2.10.2. Mecanismo de ação da vitamina A O retinol é oxidado a ácido retinoico. O ácido liga-se com alta afinidade a proteínas receptoras específicas, no núcleo de células-alvo, como as células epiteliais (Figura 20). O 24 complexo ativado receptor-ácido retinoico interage com a cromatina nuclear, regulando a síntese de RNA retinoide-específico, resultando no controle da produção de proteínas específicas que medeiam várias funções fisiológicas. Por exemplo, os retinoides controlam a expressão do gene da queratina na maior parte dos tecidos epiteliais do corpo. As proteínas receptoras específicas do ácido retinoico são parte da superfamília dos reguladores transcricionais. Figura 20 - Ação dos retinoides. 2.10.3. Funções da vitamina A 2.10.3.1. Ciclo visual A vitamina A é componente dos pigmentos visuais das células cones e bastonetes. A rodopsina, o pigmento visual dos bastonetes na retina, consiste em 11-cis-retinal ligado especialmente a proteína opsina. Quando a rodopsina é exposta a luz, ocorre uma série de 25 isomerizações fotoquímicas, as quais resultam no desbotamento do pigmento visual e na liberação retinal todo-trans e opsina. Esse processo origina um impulso nervoso, que é transmitido pelo nervo óptico para o encéfalo. A regeneração da rodopsina necessita da isomerização do todo-trans-retinal, formando novamente o 11-cis-retinal. O todo-trans-retinal, após ser liberado da rodopsina, é reduzido a todo-trans-retinol, esterificado, isomerizado a 11-cis-retinol, que é oxidado a 11-cis-retinal. O último combina-se com a opsina, para formar a rodopsina, completando o ciclo. Reações similares são responsáveis pela visão de cores nos cone. 2.10.3.2. Crescimento A deficiência de vitamina A resulta em uma diminuição na taxa de crescimento em crianças. O desenvolvimento ósseo também é mais lento. 2.10.3.3. Reprodução O retinol e o retinal são essenciais para a reprodução normal, mantendo a espermatogênese nos machos e prevenindo a reabsorção fetal nas fêmeas. O ácido retinoico é inativo na manutenção da reprodução e no ciclo visual, mas promove o crescimento e a diferenciação das células epiteliais; assim, animais que recebem vitamina A somente como ácido retinoico desde o nascimento são cegos e estéreis. 2.10.3.4. Manutenção das células epiteliais A vitamina A é essencial para a diferenciação normal dos tecidos epiteliais e para a secreção normal de muco. 2.10.4. Deficiência de vitamina A 2.10.4.1. Deficiencia dietética A vitamina A, administrada como retinol ou ésteres de retinila, é utilizada para o tratamento de pacientes deficientes nessa vitamina (Figura 21). A cegueira noturna é um dos primeiros sinais de deficiência em vitamina A. O limiar visual aumenta, dificultando a visão em ambientes com pouca luminosidade. A deficiência prolongada leva a perda irreversível do número de células visuais. A deficiência grave leva a xeroftalmia, o ressecamento patológico 26 da conjuntiva e da córnea. Se não for tratada, a doença leva a ulceração da córnea e, por fim, cegueira, devido a formação de tecido de cicatrização opaco. 2.10.4.2. Acne e psoríase Problemas dermatológicos, como acne e psoríase, são tratados efetivamente com ácido retinoico ou seus derivados (Figura 21). Casos menos graves de acne, doença Darier (ceratose folicular) e envelhecimento da pele são tratados com aplicação tópica de tretinoína (todo-trans-ácido retinoico). Em pacientes com acne cística recalcitrante grave, o fármaco usado é a isotretinoina (13-cis-ácido retinoico). Figura 21 - Resumo da ação dos retinoides. 2.10.5. Toxicidade dos retinoides 2.10.5.1. Vitamina A A ingestão excessiva de vitamina A produz uma síndrome denominada hipervitaminose A. Quantidades que excedam 7,5 mg/dia de retinol devem ser evitadas. Os sinais iniciais refletem-se na pele, que torna-se seca e prurítica (devido a uma diminuição da síntese de queratina), no fígado, que apresenta um aumento e pode tornar-se cirrótico, e no sistema nervoso, onde um aumento da pressão intracraniana pode mimetizar sintomas de tumor encefálico. Gestantes, especialmente, devem ter um cuidado especial, em função da possibilidade de má formação congênitas no feto. 27 2.10.5.2. Isotretinoína O fármaco teratogênico é absolutamente contraindicado para mulheres que potencialmente possam engravidar. Tratamento prolongado com isotretinoina leva a hiperlipidemia e a um aumento na relação LDL/HDL o que pode ser preocupante em função de um risco aumentado de doença cardiovascular. 2.11. Vitamina D As vitaminas D são um grupo de esteróides que apresentam funções similares às dos hormônios. A molécula ativa, 1,25-di-hidroxicolecalciferol (1,25-diOH-D 3), liga-se a proteínas receptoras intracelulares. O complexo -receptor interage com o DNA no núcleo de células-alvo de modo semelhante a vitamina A (Figura 20) e estimula seletivamente a expressão gênica ou reprime a transcrição gênica. A ação mais proeminente da molécula ativa é a regulação dos níveis plasmáticos de cálcio e fósforo. Encontra-se em plantas e em tecidos animais, respectivamente, as formas ergocalciferol (vitamina D2) e colecalciferol (vitamina D3) de vitamina D pré-formada (Figura 22). Eles diferem quimicamente apenas pela presença de uma ligaçãodupla adicional e um grupo metila no esterol vegetal. Outra fonte de vitamina D é o 7-desidrocolesterol, um intermediário na síntese do colesterol, é convertido em colecalciferol na derme e na epiderme de humanos expostos a luz solar. 28 Figura 22 - Fontes de vitamina D. A vitamina D ocorre naturalmente em peixes gordurosos, fígado e gema de ovo. O leite, a menos que seja fortificado artificialmente, não é boa fonte dessa vitamina. A ingestão adequada é de 200 unidades internacionais (UI), que corresponde a 5 g, até os 50 anos e 400 μ a 600 UI após essa idade. 2.11.1. Funções da vitamina D A função geral do 1,25-diOH-D3 é a manutenção de níveis plasmáticos adequados de cálcio. Essa função é realizada com as seguintes estratégias: aumento da captação de cálcio pelo intestino, minimização da perda de cálcio pelo rim e estímulo da reabsorção óssea quando necessário (Figura 23). 29 Figura 23 - Metabolismo e ações da vitamina D. 2.11.1.1. Efeito da vitamina D sobre o intestino O 1,25-diOH-D3 estimula a absorção intestinal de cálcio e fosfato. O composto entra na célula intestinal e liga-se a um receptor citosólico. O complexo 1,25-diOH-D3 - receptor move-se para o núcleo, onde interage seletivamente com o DNA celular. Como resultado, a captação de cálcio é aumentada pelo aumento na síntese de uma proteína ligadora de cálcio especifica. Assim, o mecanismo de ação do 1,25-diOH-D3 é típico dos hormônios esteróides. 2.11.1.2. Efeito da vitamina D sobre os ossos O 1,25-diOH-D3 estimula a mobilização do cálcio e do fosfato dos ossos por um processo que necessita da síntese proteica e da presença de PTH. O resultado é o aumento no cálcio o no fosfato plasmáticos. Assim, os ossos são reservas importantes de cálcio, que podem ser mobilizadas para manter os níveis plasmáticos . 2.11.2. Metabolismo da vitamina D 2.11.2.1. Formação do 1,25-diOH-D3 As vitaminas D2 e D3 não são biologicamente ativas, mas são convertidas in vivo na forma ativa por duas reações sequenciais de hidroxilação (Figura 23). A primeira hidroxilação ocorre na posição 25 e é catalisada por uma hidroxilase específica, no fígado. O produto da 30 reação 25-OH-D3 (calcidol) é a forma predominante da vitamina D no plasma e a principal forma de armazenamento da vitamina. Ele é posteriormente hidroxilado na posição 1 pela 25-hidroxicolecalciferol-1-hidroxilase, encontrada no rim, resultando na formação de 1,25-diOH-D3 (calcitriol). 2.11.2.2. Regulação da 25-hidroxicolecalciferol-1-hidroxilase O 1,25-diOH-D3 é o mais potente metabólico da vitamina D. Sua formação é fortemente regulada pelos níveis plasmáticos de íons fosfato e cálcio (Figura 24). A atividade da 25-hidroxicolecalciferol-1-hidroxilase aumenta diretamente em função de baixo fosfato plasmático ou indiretamente por diminuição do cálcio no plasma, que dispara a liberação do hormônio paratireóideo (PTH). A hipocalcemia, causada por deficiência de cálcio na dieta, resulta assim em níveis elevados de 1,25-diOH-D3 no plasma. A atividade de 1-hidroxilase é também diminuída por excesso de 1,25-diOH-D 3 , o produto da reação. Figura 24 - Resposta ao baixo cálcio plasmático . 2.11.3. Deficiência de vitamina D 2.11.3.1. Raquitismo nutricional 31 A deficiência de vitamina D causa a efetiva desmineralização dos ossos, resultando em raquitismo nas crianças e eu osteomalácia nos adultos (Figura 25). O raquitismo caracteriza-se pela formação contínua da matriz de colágeno dos ossos, mas com mineralização incompleta, resultando em ossos flexíveis e maleáveis. Na osteomalacia, a desmineralização de ossos preexistentes aumenta a suscetibilidade a fraturas. Exposição insuficiente à luz solar e deficiência no consumo da vitamina ocorre predominantemente em bebês e adultos. Figura 25 - Pernas em arco de um homem de meia idade com osteomalacia. 2.11.3.2. Osteodistrofia renal A falência renal crônica resulta na diminuição da capacidade de produzir a forma ativa da vitamina D. A suplementação com calcitriol é uma terapia eficiente. A suplementação deve ser acompanhada pela terapia de redução do fosfato para prevenir a hiperfosfatemia, devido a falência renal, e a precipitação de cristais de fosfato de cálcio. 2.11.3.3. Hipoparatireoidismo A ausência do hormônio paratireóideo causa hipocalcemia e hiperfosfatemia. Necessitando de tratamento pela suplementação com calcitriol e cálcio. 2.11.4. Toxicidade da vitamina D 32 COmo as demais vitaminas lipossolúveis, a vitamina D pode ser armazenada no organismo, sendo apenas vagarosamente metabolizada. Doses altas por semana ou meses podem causar perda de apetite, náusea, sede e estupor. Aumento na absorção de cálcio e reabsorção óssea resultam na hipercalcimia, que pode levar à deposição de cálcio em muitos órgãos, especialmente nas artérias e nos rins. 2.12. Vitamina K O principal papel da vitamina K é a modificação pós-traducional de vários fatores de coagulação sanguínea, em que essa vitamina serve como coenzima na carboxilação de certos resíduos de ácido glutâmico presentes nessas proteínas. A vitamina K existe em diversas formas, por exemplo, como filoquinona (ou vitamina K1) nas plantas e como menaquinona (ou vitamina K2) nas bactérias da flora intestinal. Para tratamentos com vitamina K, está disponível um derivado sintético, a menadiona. 2.12.1. Funções da vitamina K 2.12.1.1. Formação do -carboxiglutamato (Gla)γ A vitamina K é necessária para a síntese hepática de protrombina e dos fatores de coagulação sanguínea II, VII, IX e X. Essas proteínas são sintetizadas como moléculas precursoras inativas. A formação dos fatores de coagulação requer carboxilação de resíduos de ácido glutâmico, que é dependente da vitamina K, produzindo resíduos de Gla (Figura 26). Com isso, forma-se um fator de coagulação maduro, que contém, Gla e é capaz de subsequente ativação. A reação requer O2, CO2 e Gla e a forma hidroquinona da vitamina K. 33 Figura 26 - Carboxilação do glutamato. 2.12.1.2. Interação da protrombina com plaquetas Os resíduos de Gla da protrombina são bons quelantes de íons de cálcio, carregados positivamente, devido a presença de dois grupos carboxilato adjacentes, negativamente carregados. O complexo protrombina-cálcio é então capaz de ligar-se a fosfolipídeos essenciais para a coagulação sanguínea, na superfície das plaquetas. A ligação às plaquetas aumenta a taxa da conversão proteolítica de protrombina em trombina (Figura 27). Figura 27 - Papel da vitamina K na coagulação sanguínea. 2.12.1.3. Papel dos resíduos de Gla em outras proteínas O Gla está também presente em outras proteínas, como na osteocalcina dos ossos e na proteína C, envolvida em limitar a formação de coágulos sanguíneos. 34 2.12.2. Deficiência de vitamina K Uma deficiência verdadeira de vitamina K é incomum, pois quantidades adequadas são geralmenteproduzidas pelas bactérias intestinais ou obtidas através da dieta. Se a população bacteriana diminui, por exemplo pelo uso de antibióticos, a quantidade de vitamina formada endogenamente diminui e pode levar à hipoprotrombinemia. Recém nascidos possuem intestinos estéreis e, inicialmente, não possuem as bactérias que sintetizam a vitamina K. Uma vez que o leite humano fornece cerca de um quinto das necessidades diárias de vitamina K, é recomendado que todos os recém nascidos recebam uma dose única intramuscular de vitamina K contra doenças hemorrágicas. 2.12.3. Toxicidade da vitamina K A administração prolongada de doses elevadas de vitamina K sintética pode produzir anemia hemolítica e icterícia no bebê, devido a efeitos tóxicos na membrana dos eritrócitos. 2.13. Vitamina E O termo vitamina E é usado para uma família de oito moléculas de estrutura semelhante. Os quatro tocoferóis consistem de um anel cromanol com padrões diferentes de substituição de grupos metil nas posições 5,7 e 8 do grupo principal (α, β, δ, γ) e uma cadeia lateral fitil com 16 carbonos saturados. Os tocoferóis possuem três centros quirais nos carbonos 2, 4’ e 8’, e os isômeros de ocorrência natural possuem a configuração R nas 3 posições. Os tocotrienóis possuem o mesmo padrão de substituição no anel cromanol com uma cadeia lateral isoprenoide com 16 carbonos insaturados e ligações duplas nas posições 3’, 7’ e 11’ (Figura 28). Sendo o tocoferol o mais ativo (Figura 29).α − 35 Figura 28 - Estrutura química de tocoferóis e tocotrienóis. Figura 28 - Estrutura da vitamina E ( tocoferol).α − Óleos vegetais são fontes ricas em vitamina E, ao passo que fígado e ovos contém quantidade moderada. A quantidade diária recomendada é de 15 mg para adultos. 2.13.1. Função da vitamina E A principal atividade fisiológica da vitamina E é a sua ação antioxidante, sendo o alfa-tocoferol a isoforma com maior atividade. A vitamina E está presente de forma abundante nas membranas biológicas, onde protege os ácidos graxos poli-insaturados da peroxidação, contribuindo assim para a manutenção da integridade e estabilidade de estruturas celulares. O a-tocoferol reage com radicais peroxila e hidroxila, impedindo a propagação das reações em cadeia induzidas pelos radicais livres. 2.13.2. Deficiência de vitamina E A deficiência está quase inteiramente restrita a bebês prematuros, Quando observada em adultos, normalmente está associada a defeitos de absorção ou no transporte de lipídeos. Os sinais de deficiência incluem a sensibilidade dos eritrócitos a peróxidos e o aparecimento de membranas celulares anormais. 2.13.3. Toxicidade de vitamina E A vitamina E é a menos tóxica das vitaminas lipossolúveis e nçao tem sido observada qualquer toxicidade em doses de 300 mg/dia. 3. Coenzimas Coenzima é, de maneira simples, uma molécula orgânica unida a uma proteína que juntos tem uma função enzimática catalítica, e que é necessária ao funcionamento de certas 36 enzimas, e que se caracterizam por se ligarem fraca e não permanentemente às enzimas (em oposição aos agentes prostéticos), sendo libertadas após a catálise. Ou seja, São chamados de coenzimas os derivados vitamínicos que auxiliam as enzimas em suas catálises. 3.1. Relação das vitaminas com coenzimas Em 1934, Kuhn e P. Karrer, simultaneamente, determinaram a estrutura química de uma proteína amarela, chamada riboflavina, presente como pigmento amarelo na gema de ovo e no leite, e sua coenzima é o monofosfato da vitamina.Assim, o papel coenzimático da riboflavina foi a primeira demonstração da relação vitamina-coenzima. Como visto, as vitaminas são fundamentais para o bom funcionamento de nosso organismo. E embora nem todas produzam coenzimas, todas participam ativamente dos processos bioquímicos. Dentre as vitaminas hidrossolúveis, apenas a vitamina C não gera coenzima, isso se justifica já que a maioria das reações enzimáticas ocorre em meio aquoso. Já entre as lipossolúveis, apenas a vitamina K gera coenzima. 4. Referências Bibliográficas HARVEY, R. A.; FERRIER, D. R. Bioquímica ilustrada. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. 520 p. COHEN, C.; SILVA, C. S.; VANNUCCHI, H. Vitamina E. São Paulo: ILSI Brasil-International Life Sciences Institute do Brasil, 2014. VANNUCCHI, H.; CUNHA, S. F. C. Vitaminas do Complexo B: Tiamina, Riboflavina, Niacina, Piridoxina, Biotina e Ácido Pantotênico. Força-tarefa Alimentos Fortificados e Suplementos Comitê de Nutrição ILSI Brasil, 2009. OLIVEIRA, R. G.; GODOY, H.T.; PRADO, M. A. Quantificação dos isômeros ácido L-ascórbico e ácido D-iso-ascórbico em geleias de frutas por cromatografia líquida de alta eficiência. Quím. Nova, vol.35, no.5. São Paulo, 2012. VANNUCCHI, H.; ROCHA, M. M. Ácido ascórbico (Vitamina C). Força-tarefa Alimentos Fortificados e Suplementos Comitê de Nutrição ILSI Brasil, 2012. VANNUCCHI, H.; MONTEIRO, T. H. Cobalamina (Vitamina B12). Força-tarefa Alimentos Fortificados e Suplementos Comitê de Nutrição ILSI Brasil, 2010. 37 VANNUCCHI, H.; MONTEIRO, T. H. Ácido Fólico. Força-tarefa Alimentos Fortificados e Suplementos Comitê de Nutrição ILSI Brasil, 2010. LUCIA, C. M. D. et al. Otimização de método para análise de folatos em hortaliças folhosas por cromatografia líquida de alta eficiência com detecção por fluorescência. Quím. Nova, vol.34, no.2. São Paulo, 2011. 38
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