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A dura realidade da economia brasileira

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A DURA REALIDADE DA ECONOMIA BRASILEIRA
Junho fechou como mais um mês perdido de um ano que o país prefere esquecer. O agravamento da crise que o Brasil enfrenta bate forte nos mais diversos segmentos economia, com profundo reflexo nos setores produtivos e no bolso do brasileiro.
Combinadas, escalada da inflação e alta dos juros comprometem o Produto Interno Bruto e provocam desemprego. Como um dos carros-chefes da economia brasileira, o setor automotivo paga parcela elevada da conta deixada pelos desmandos dos gabinetes de Brasília.
O semestre terminou com os piores resultados de produção e vendas de veículos dos últimos dez anos, e o atual começou com linhas de montagem paradas e a maioria dos 180 mil funcionários de fabricantes e fornecedores em casa, aguardando dias melhores.
O tombo no semestre próximo de 20% – foi agravado pela capotagem de quase 50% das vendas de caminhões, segmento que mais sofre pelo desabamento da economia em um país em que a riqueza é transportada por rodovias. Nem mesmo as safras recordes de grãos estão ajudando, pois o governo federal deixou de fazer a sua parte, aumentando os juros e tirando os incentivos para a troca dos veículos de carga.
O poder de compra do brasileiro fica comprometido, o endividamento está em alta, e o risco de desemprego é potencial. São fatores que provocam incertezas e o adiamento da decisão de compras de bens essenciais, quanto mais de bens duráveis, como veículos, em longo prazo. Campanhas promocionais, juro zero e descontos já não atraem o consumidor, amargurado com o dinheiro cada vez mais curto.
Sem meias palavras
O desabafo do principal executivo da Mercedes-Benz para a Folha de S. Paulo, no final de junho, mostra a preocupação do setor pela falta de medidas corretivas e a desconfiança com o futuro – pela incapacidade administrativa do governo federal e pela constante quebra de compromissos assumidos.   A esperança de recuperação é adiada a cada mês por resultados comprometidos pela economia cambaleante.
Há executivos que preferem nem mais falar, para não cair na repetição da expectativa de dias melhores. Seria mais certo apostar todas as fichas em julho, mas sabem que os próximos meses continuarão abaixo do desejável. Agora, quem sabe, a estabilização das vendas ocorra até o final do ano, ou nos primeiros meses de 2016. Crescimento, na melhor das hipóteses, só em 2017. É um quadro duro, mas real.
O Banco Central admitiu nesta quarta-feira (24) que a inflação deve atingir 9% em 2015 e, com isso, estourar o teto do sistema de metas de inflação. Além disso, o BC também admitiu que a economia brasileira deve "encolher" 1,1% neste ano – a maior contração em 25 anos. Os dados fazem parte do relatório de inflação do segundo trimestre deste ano. No relatório do primeiro trimestre, o BC estimava uma contração de 0,5% na economia de 2015.
Segundo o diretor de Política Econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira da Silva, a principal mensagem do relatório é que a política monetária esteja e se mantenha “vigilante para assegurar a convergência da inflação à meta de 4,5% ao final do ano de 2016”. O documento reconhece inflação elevada em 2015 e reitera a “necessidade de determinação e perseverança no combate à inflação no curto, médio e longo prazos”.
MUDANÇAS NAS ESTIMATIVAS
Fonte: BC
Nos três primeiros meses de 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) teve retração de 0,2% e dados do próprio BC indicam que o nível de atividade iniciou o segundo trimestre de 2015 em queda.  Com isso, não pode ser descartada uma possível recessão técnica na economia brasileira – que se caracteriza por dois trimestres seguidos de recuo do nível da atividade econômica.
A previsão do Banco Central para o PIB de 2015, porém, ainda está melhor que a dos economistas do mercado financeiro, que esperam uma contração de 1,45% no PIB. Se confirmado, será o maior recuo desde 1990. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, e serve para medir a evolução da economia.
"O processo de ajuste macroeconômico em curso na economia brasileira – necessário e essencial para a consolidação de fundamentos que favoreçam a convergência da inflação para a meta no final de 2016 – associado a efeitos de eventos não econômicos têm impactado negativamente o dinamismo da atividade no curto prazo", avaliou o Banco Central.
Ano de 2016
O Banco Central informou ainda, no relatório de inflação divulgado hoje, que sua estimativa de inflação para o ano de 2016 fechado ficou praticamente estável. No cenário de referência – que considera câmbio e juros estáveis – a previsão recuou de 4,9% em março para 4,8% e, no cenário de mercado, permaneceu estável em 5,1%.
Em 2016, ainda de acordo com o BC, a probabilidade de estouro do teto de 6,5% do sistema de metas de inflação meta é de 11% a 15%.
Sistema de metas brasileiro
Pelo sistema que vigora no Brasil, a meta central tanto para 2014 como para 2015 e 2016 é de 4,5%. Entretanto, há um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 6,5%, sem que a meta seja formalmente descumprida.
Quando a inflação fica mais alta do que o teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro, o presidente do Banco Central precisa escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda explicando as razões que motivaram o "estouro" da meta formal. A última vez em que isso aconteceu foi em 2003, ou seja, há mais de dez anos, e o documento foi assinado pelo então presidente da autoridade monetária, Henrique Meirelles.
O Banco Central tem informado que o objetivo da instituição é trazer a inflação para o centro da meta de 4,5% no ano de 2016. O principal instrumento do BC para conter as pressões inflacionárias é a taxa básica de juros da economia, que avançou de 11% ao ano, em outubro do ano passado, para 13,75% ao ano em junho – o maior patamar em quase nove anos. A expectativa do mercado financeiro é de a taxa termine 2015 em 14,25% ao ano.
Com uma taxa mais alta de juros, o Banco Central tenta controlar o crédito e o consumo, atuando assim para segurar a inflação. Por outro lado, ao tornar o crédito e o investimento mais caros, os juros elevados prejudicam o crescimento da economia.
"A propósito, o Copom avalia que o cenário de convergência da inflação para 4,5% no final de 2016 tem se fortalecido. Para o Comitê, contudo, os avanços alcançados no combate à inflação – a exemplo de sinais benignos vindos de indicadores de expectativas de médio e longo prazo – ainda não se mostram suficientes. Nesse contexto, o Copom reafirma que a política monetária deve manter-se vigilante", informou o Banco Central no relatório de inflação.

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