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Resíduos em Serviços de Saúde (RSS) Alba Fabiola C. Torres Universidade Federal do Ceará Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem Departamento de Ciências Farmacêuticas Disciplina: Farmácia Hospitalar O saneamento do meio envolve o aperfeiçoamento de uma série de fatores, dentre eles, a questão dos resíduos, nem sempre bem gerenciados. O problema é mais grave quando se trata de resíduos produzidos em serviços de saúde, sendo a conscientização das pessoas e a atenção dos administradores de fundamental importância para a convivência equilibrada com o meio físico. Segundo Plascak (1982), “por maior que seja a influência dos serviços, nenhuma cidade terá um estado geral de limpeza satisfatório se a população não usar corretamente os recursos colocados à sua disposição”. Trajetória da embalagem de “bala” ...é jogada no chão de uma rua ou estrada. Se tudo correr como o previsto, este papel vai caminhar pelas galerias pluviais, até alcançar um curso d’água, que chegará até um rio, passando a provocar uma alta demanda bioquímica de oxigênio (DBO), com a proliferação das bactérias que, por questão de sobrevivência, estarão aí presentes na tentativa de “desintegrar” aquele inocente papel. Só que, imaginem milhões de pessoas tendo a mesma atitude de jogar de jogar inocentes papéis no chão. Problemática Os resíduos de serviços de saúde não são apenas àquele oriundos de hospitais, clínicas médicas e outros grandes geradores LIXO HOSPITALAR Também devem ser considerados os resíduos de farmácias, clínicas odontológicas e veterinárias, assistência domiciliar, necrotérios, instituições de cuidados para idosos, hemocentros, laboratórios clínicos e de pesquisa, instituições de ensino na área de saúde, etc. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico, realizada pelo IBGE, são coletados diariamente 228.413 toneladas/dia de resíduos no Brasil. Em geral, estima-se que 1% desses corresponde aos resíduos de serviços de saúde, totalizando aproximadamente 2300 toneladas/dia. Ainda segundo o IBGE, 74% dos municípios brasileiros depositam “lixo hospitalar” a céu aberto, 57% separam seus dejetos nos hospitais e apenas 14% das prefeituras tratam adequadamente os RSS Conceito RSS são todos àqueles resultantes de atividades exercidas nos serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os serviços de assistência domiciliar e de trabalho de campo; laboratórios analíticos de produtos para a saúde, necrotérios, funerárias, serviços de medicina legal, drogarias e farmácias inclusive as de manipulação etc., que, por suas características, necessitam de processos diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento prévio à sua disposição final. RDC ANVISA n° 306/2004. Legislação CONAMA n° 05/93 - relativa a definição de normas mínimas para tratamento de resíduos sólidos oriundos de serviços de saúde, portos e aeroportos, bem como a necessidade de estender tais exigências aos terminais ferroviários e rodoviários CONAMA n° 283/01 - Dispõe sobre o tratamento e a destinação final dos resíduos dos serviços de saúde. RDC ANVISA 33/2003 – Dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de RSS - enfoque na metodologia de manejo interno de resíduos, na qual consideram-se os riscos envolvidos para os trabalhadores, para a saúde e para o meio ambiente RDC ANVISA n° 306/2004 - Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde e revoga a RDC 33/1993 CONAMA n° 358/2005 – Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos RSS e dá outras providências. A Resolução CONAMA n° 005/1993 define resíduos sólidos como: Resíduos nos estados sólido e semi-sólido que resultam de atividades de origem industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola e de serviços de varrição. Ficaram incluídos nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, àqueles gerados por equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível. Classificação dos resíduos sólidos É feita em função dos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, como também em função da natureza e origem. Segundo a NBR 10 004/2004 Quanto aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública Classe I (perigosos): àqueles que, em função de suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à saúde e ao meio ambiente. inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade patogenicidade Classe II(não perigosos): Classe II-A: não inertes, podendo ter as seguintes propriedades Classe II-B: inertes e não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados em concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção aos aspectos de cor, turbidez, dureza e sabor Biodegradabilidade Combustilibilidade Solubilidade em água Quanto à origem e natureza Domiciliar Comercial Varrição e feiras livres Serviços de Saúde Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários Industriais Agrícolas Da construção civil Quanto à responsabilidade pelo gerenciamento Disposição final Aterro de resíduos da construção civil Solos agrícolas Aterro de Resíduos Perigosos Aterro de Rejeitos Radioativos Aterro de Resíduos Perigosos Aterro Sanitário Aterro Sanitário Classificação dos RSS De acordo com a RDC ANVISA 306/2004 e RE CONAMA 358/2005 Grupo A : presença de agentes biológicos que podem apresentar risco de infecção. Está subdividido em 1, 2, 3, 4, 5 Placas e lâminas de laboratório Carcaças Peças anatômicas (membros) Tecidos Bolsas transfusionais contendo sangue Grupo B : contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública e ao meio ambiente dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade Medicamentos apreendidos e /ou descartados por SS, farmácias e drogarias Reagentes de laboratório Resíduos contendo metais pesados Grupo C: quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionucleotídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) Serviços de medicina nuclear e radioterapia etc. Grupo D: não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares Sobras de alimentos e do preparo de alimentos, resíduos das áreas administrativas etc. Grupo E: materiais perfurocortantes ou escarificantes Lâminas debarbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lâminas de bisturi,lancetas, espátulas e outros similares. Riscos de Contaminação em acidentes com Perfurocortantes (seringas e agulhas) Hepatite B risco de 30% 21 milhões de casos em 2000 ( 32% de todas as novas infecções) Hepatite C risco de 1,8 % 2 milhões de casos em 2000 ( 40% de todas as novas infecções) HIV risco de 0,3 % 260 mil casos em 2000 ( 5% de todas as novas infecções) Fonte – OMS agosto 2004 Os RSS representam um potencial risco em duas situações Para a saúde ocupacional de quem manipula esse tipo de resíduo; Para o meio ambiente, como decorrência da destinação inadequada de qualquer tipo de resíduos, alterando as características do meio Gerenciamento de Risco Usuário Trabalhador Meio ambiente Gerenciamento dos RSS Conjuntos de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar, aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro e eficiente visando a proteção dos trabalhadores,a preservação da saúde, dos recursos naturais e do meio ambiente Todo gerador deve elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) Transporte Segregação: separação dos resíduos no momento e local de sua geração, de acordo com as características físicas, químicas, biológicas, o seu estado físico e riscos envolvidos Acondicionamento: embalar os resíduos segregados, em sacos ou recipientes que evitem vazamento e resistam às ações de punctura e ruptura. Devem ser respeitados os limites de cada saco, sendo proibido esvaziamento ou reaproveitamento (NBR 9191/2000 da ABNT Os sacos devem estar contidos em recipientes laváveis, com tampa e pedal Os resíduos líquidos devem ser acondicionados em recipientes constituídos de material compatível com o líquido em questão Identificação: conjunto de medidas que permitem o reconhecimento dos resíduos contidos nos sacos e recipientes. Transporte interno: consiste no traslado dos resíduos dos pontos de sua geração até o local de armazenamento temporário ou armazenamento externo com a finalidade de apresentação para coleta Deve ser realizado atendendo a roteiro previamente definido Os recipientes devem ser constituídos de material rígido, lavável, impermeável, com tampa articulada ao corpo do equipamento, o qual deve estar devidamente identificado Armazenamento temporário: consiste na guarda temporária dos recipientes contendo os resíduos já acondicionados em local próximo aos pontos de geração Não deve haver disposição direta dos sacos sobre o piso É dispensado quando a distância do ponto de geração ao ponto de armazenamento externo justificam A sala deve apresentar pisos e paredes resistentes e laváveis Não é permitida a retirada dos sacos de resíduos de dentro dos recipientes armazenados O local para o armazenamento dos resíduos químicos deve ser de alvenaria, fechado, dotado de aberturas teladas para ventilação, com dispositivo que impeça a luz solar direta Tratamento: aplicação de método, técnica ou processo que modifique as características dos riscos inerentes aos resíduos, reduzindo ou eliminando o risco de contaminação, de acidentes ocupacionais ou dano ao meio ambiente. Fonte: Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, Ministério da Saúde- REFORSUS, 2001 Estas tecnologias alternativas de tratamento de resíduos de serviços de saúde permitem um encaminhamento dos resíduos tratados para o circuito normal de resíduos sólidos urbanos (RSU), sem qualquer risco para a saúde pública. Incinerador Microondas Autoclave Decaimento Armazenamento externo: guarda de recipientes de resíduos a realização da etapa de coleta externa, em ambiente exclusivo e com acesso facilitado para os veículos coletores Deve possuir ambiente exclusivo, com área reservada para cada tipo de resíduo Local para higienização Paredes e pisos resistentes e laváveis Iluminação adequada Coleta e transporte externos:remoção dos RSS do ambiente de armazenamento externo até a unidade de tratamento ou disposição final Deve estar de acordo com as regulamentações do órgão de limpeza urbana Disposição final: disposição dos resíduos no solo, previamente preparados para recebê-los, obedecendo a critérios de construção e operação, e com licenciamento ambiental de acordo com a Resolução CONAMA n 237/97. As formas atualmente utilizadas são: Aterro sanitário Aterro de resíduos perigosos Classe I (resíduos industriais) Aterro controlado Lixão ou vazadouro Valas Aterro sanitário: compactação dos resíduos em camada no solo devidamente impermeabilizado. Ocorre controle de efluentes líquidos e emissões gasosas Aterro de resíduos perigosos (aterro industrial): disposição de resíduos químicos Lixão ou vazadouro: simples descarga de resíduos sobre o solo, sem medidas de proteção ao meio ambiente ou à saúde. Lixão de Terezina / PI Lixão de Canabrava Salvador / Ba Lixão de Aracajú / SE Fonte: ANVISA/MS Aterro controlado: os resíduos são descarregados no solo, com recobrimento de camada de material inerte diariamente. Valas sépticas: preenchimento de valas escavadas, impermeabilizadas, com largura e profundidade proporcionais à quantidade de lixo a ser aterrada. SÍNTESE DOS ASPECTOS POLUIDORES E EPIDEMIOLÓGICOS DOS LIXÕES CEDIDO PELO DR. HÉLIO LOPES Referências GARCIA, L. P; ZANETTI-RAMOS, B. G. Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde: uma questão de biossegurança. Cad. Saúde Pública, RJ, v20, n3, p744-752, 2004. BRASIL. ANVISA RDC nº 306 de 7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos dos serviços de saúde. BRASIL. CONAMA RE nº358 de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e disposição final dos reíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. BRASIL. MS. ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde. Brasília, 2006.