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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA Cálculo de equilíbrio líquido-vapor vaporização Flash ISOTERMICO Discentes: CARLA LÚCIA BELÉM MODESTO RAFAEL SILVA DIAS BELÉM – PA 2019 INTRODUÇÃO A termodinâmica desempenha um papel fundamental no projeto e operação dos equipamentos utilizados nos processos de separação. Os conteúdos desta disciplina (e área do conhecimento) são tão abrangentes que permitem realizar o cálculo dos equilíbrios de fases, das necessidades energéticas dos equipamentos e do tamanho dos mesmos. A termodinâmica permite estabelecer e desenvolver as ferramentas apropriadas ao cálculo dos balanços mássicos e energéticos, das densidades e das composições das fases em equilíbrio. A aplicação prática destas equações exige o conhecimento de variadas propriedades termofísicas como é o caso da pressão e da temperatura de equilíbrio das fases em presença, da composição das fases, da densidade, da entalpia e da capacidade calorífica, da viscosidade, etc. Neste trabalho, discutimos inicialmente a natureza do equilíbrio, e então consideramos duas regras que fornecem o número de variáveis independentes que é necessário para determinar estados de equilíbrio. Uma importante aplicação do ELV é o cálculo de um flash. O nome tem a origem no fato de um líquido a uma pressão igual ou superior à sua pressão no ponto de bolha ''flashes" ou evapora parcialmente quando a pressão é reduzida, formando um sistema bifásico com vapor e líquido em equilíbrio. Consideramos aqui somente o flash-P,T, que se refere a qualquer cálculo das grandezas e composições das fases vapor e líquida que formam um sistema bifásico em equilíbrio a T, P, e composição global conhecidas (SMITH et al, 2007). Constitui objetivo essencial deste trabalho, formular e aplicar os modelos da termodinâmica ao cálculo do equilíbrio de fases líquido-gás (VLE) de substâncias puras e de misturas, para o cálculo de flash isotérmico. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Equilíbrio é uma condição estática na qual não ocorrem variações das propriedades macroscópicas de um sistema com o tempo. Isso implica uma igualdade de todos os potenciais que podem causar mudanças. Na prática da engenharia, a hipótese de equilíbrio é justificada quando ela leva a resultados com precisão satisfatória. Por exemplo, no refervedor de uma coluna de destilação, o equilíb1io entre as fases líquida e vapor é normalmente admitido. Para taxas de vaporização diferentes de zero isso é uma aproximação, porém não introduz erros significativos nos cálculos de engenharia. Equilíbrio Líquido-Vapor (ELV) Os problemas de equilíbrio de fases encontrados frequentemente pelos engenheiros químicos envolvem o equilíbrio líquido-vapor (ELV). No equilíbrio, as fugacidades do componente l no vapor e no líquido são iguais: Se escolhermos quantificar a não-idealidade da fase vapor usando o coeficiente de fugacidade e a não idealidade da fase líquida usando o coeficiente de atividade, obteremos (KORETSKY, 2007): (2.1) Nesse caso, yi representa a fração molar na fase vapor, enquanto xi representa a fração molar na fase líquida. Uma vez escolhido o estado de referência apropriado para a fase líquida, este problema poderá ser resolvido se tivermos conhecimento da dependência do coeficiente de atividade e do coeficiente de fugacidade, em relação à composição. Na verdade, a equação (2.1) seja estritamente rigorosa (e, portanto, sempre correta), vimos que ne sempre é trivial calcular esses termos (KORETSKY, 2007). Consequentemente, começaremos nossa investigação do ELV considerando o caso limite da equação (2.1), que é valido somente em certas circunstancias. Quando fizermos as aproximações para essa equação, teremos que ter em mente que a análise subsequente só será válida para os casos específicos em que as aproximações são pertinentes (KORETSKY, 2007). A Lei de Raoult (Gás Ideal e Solução Ideal) Considere o caso em que a pressão é baixa e todas as forças intermoleculares são aproximadamente iguais. Podemos tratar o vapor como um gás ideal e o líquido como uma solução ideal. Se escolhermos o estado de referência de Lewis/Randall (fiº = fi), o critério para o equilíbrio poderá ser simplificado para yiP = xiPisat (2.2) Você reconhecerá a Equação (2.2) como a lei de Raoult. Ela resulta diretamente do critério para o equilíbrio nas circunstancias especiais descritas anteriormente (gás ideal, solução ideal, estado de referência de Lewis/Randall). Essa equação é conveiente, uma vez que a pressão de saturação do componente i dependente somente da temperatura do sistema. A relação entre Pisat e T geralmente é ajustada à equação de Antoine. A equação (2.2) geralmente é escrita como yi = Kixi (2.3) Quando a lei de Raoult é válida, temos Ki = (2.4) Ki é denominado o valor de K do componente i, CÁLCULO DE FLASH O flash é um método de separação liquido-gás, contínuo, onde uma mistura de componentes (Zi) é separada. Essa separação ocorre em um separador (vaso de flash), que opera à pressão P e à temperatura T, em que na parte superior retira-se a fase gasosa (Yi) e na fase inferior retira-se a fase líquida (Xi). Para os cálculos de flash serem realizados devemos conhecer C + 2 variáveis de alimentação e C – 1 valores de z, isso é o suficiente para que todas as vazões do sistema, tanto na entrada (F), quanto nas saídas (V e L), e as frações dos componentes em cada uma delas, sejam possíveis de ser calculadas. Flash Isotérmico Para o cálculo de Flash isotérmico, devem ser conhecido os valores PL(ou PV) e TL(ou TV)e a partir das equações abaixo é possível determinar as variáveis restantes. Equação Número de equações Eq. Nº PV = PL 1 (3.1) TV = TL 1 (3.2) yi = Kixi C (3.3) Fzi = Vyi + Lxi C – 1 (3.4) F = V + L 1 (3.5) HFF + Q = HvV + HLL 1 (3.6) ∑zi = 1 1 (3.7) ∑yi = 1 1 (3.8) ∑xi = 1 1 (3.9) Para resolver de forma sequencial, substitui-se (3.5) em (3.4) para eliminar L. Fzi = Vyi + xi(F – V) (3.10) E obter duas novas equações substituindo (3.8) na equação (3.10) Para obter uma equação em termos de yi: Fzi = Vyi + (F-V) , Colocando yi em evidencia: Fzi = yi(V + ) , Isolando yi: yi = , Dividindo o numerador e o denominador por F: yi = , Colocando ψ = V/F em evidencia: yi = , Por fim, multiplicando no numerador e no denominador por ki: yi = (3.11) Para obter uma equação em termos de xi: Fzi = Vki*xi + xi(F – V) , Colocando xi em evidência: Fzi = xi(Vki + F – V) , Isolando xi: xi = , Dividindo por F no numerador e no denominador: xi = , Por fim, Colocando ψ em evidência: xi = (3.12) Subtraindo (1-11) de (1-12): ∑xi - ∑yi = , Como ∑xi - ∑yi = 0: 0 = (3.13) Para resolver esta equação, é necessário realizar métodos matemáticos, como o de Newton, ou o método da tentativa e erro. Percebe-se a necessidade de utilizar a Lei de Antoine, em que é possível calcular a pressão de vapor sabendo a temperatura do fluido, e as constantes termodinâmicas A, B e C, para que seja possível calcular ki = Pisat/P. Pisat = Tendo estas equações, podemos resolver o flash isotérmico executado o seguinte algoritmo: 1. Entrada (T, P,zi,..., zn-1) 2. Determine Pisat = para todos os componentes na temperatura de alimentação. Calcule a Pressão de ponto de bolha Pi – Problema Tipo II a) Determine a pressão do ponto de bolha fazendo x=ze usando a relação: Pi = ∑xPisat 3. Calcule a pressão do ponto de orvalho Pn – Problema Tipo IV a) Determine a pressão do ponto de bolha fazendo y=z e usando a relação: Pn = ∑Pnsat 4. Verificação da existência das duas fases Se Pi < P < Pn Então Vá para Etapa 6. Se não Para o procedimento, pois não existem duas fases em equilíbrio Fim 5. Estime a fração vaporizada por interpolação linear: (V/F) = 6. Calcule a constante de equilíbrio: K = Pisat/P 7. Calcule: A função F(V/F) = A derivada da função: F(V/F) = Se (|F(V/F)|> tol) Então (V/F) = (V/F) - Volte para 8. Se não Composição do líquido: xi = Composição do vapor: yi = Kixi Fim Fim do Algoritmo Utilizado esse método, obtemos o valor de ψ, que vem da relação ψ = V/F (ou L/F), logo, se é conhecido o valor da alimentação ou de qualquer saída, é possível calcular F, V e L, pela equação (3.5). PROBLEMAS PROPOSTOS Problema 1 Um tambor flash recebe uma alimentação de 50 kg/h de tolueno. As condições para o flash são T=366k e P=1.10133 bar. Resolva o sistema determinando as concentrações de ambos os componentes nas duas fases (xi, yi) mais L e V. Cte Benzeno Tolueno A 8,59192 9,43967 B 2414,7 3122,72 C -71,7989 -52,4912 Solução: Determinando o fluxo de mássico na alimentação: F = (fluxo de benzeno) + (fluxo de tolueno) = 50kg.h-1 + 50kg.h-1 = 100 kg.h-1 Determinando as pressões de vapor pela Equação de Antoine P1sat = = 1,4685 bar P2sat = = 0,594 bar Determinando os fatores Ki K1 = = 1,449 K1 = = 0,586 Determinando V/F 0 = + O termo ψ pode ser encontrado pelo método de Newton, onde: f(ψ) = + f’(ψ) = + ψK+1 = ψ Ψ f(ψ) f’(ψ) ΨK+1 0,5 0,07137 0,0625 -0,64192 0,28384 -0,64192 -0,15438 0,25083 -0,02644 0,95881 -0,02644 -0,02635 0,18391 0,11684 5.41906 0,11684 -0,0002 0,18183 0,11794 0,00941 0,11794 2,45x10-7 018183 0,11794 0,00000 Observamos que houve convergência para ψ = 0,11794 Sendo ψ = V/F, V = 0,11794*100 = 11,794 kg.h-1 E também, F – V = L, logo 100 – 11,794 = 88,206 kg.h-1 As frações xi e yi podem ser calculadas, sendo ψ conhecido Benzeno Tolueno ∑ xi = 0,4749 0,5251 1 yi = 0,2374 0,7626 1 Problema 2 1000 kg/h de uma mistura 50% em peso de etano e octano são submetidos a uma destilação flash à 200 psia e 100°F. Calcular a composição (em termos de fração mássica) e a vazão mássica de cada fase formada. Dados: K(etano) = 4,25 e K(octano) = 0,008. Solução: Sendo conhecidos os zi, Ki, e F, já é possível encontrar V/F 0 = + Utilizando a ferramenta de convergência da calculadora, obtemos Ψ = 0,3502. Logo, V = 0,3502*1000 = 350,2 kg.h-1 E também 1000 – 350,2 = 649,8 kg.h-1 Etano Octano ∑ xi = 0,2338 0,7662 1 yi = 0,9938 0,0062 1 Problema 3 Uma alimentação de 100 kmol/h que contém 10, 20, 30, e 40 moles % de propano (3), n-butano (4), n-pentano (5) e n-hexano (6), respectivamente, entra em uma coluna de destilação a 100 psia (689,5 kPa) e 200°F (3665°K). Supondo que existe equilibrio, qual fração da alimentação entra como líquido e quais são as composições do líquido e do vapor? Solução: Para as condições do flash, K3 = 4,2, K4 = 1,75, K5 = 0,74, K6 = 0,34. Por tanto, para a raíz ψ se temos que A solução desta equação pelo método de Newton utilizando uma estimativa inicial para ψ de 0,50 conduz a seguinte sequência de iterações: k 1 0,5000 0,2515 0,6259 0,0982 0,8037 2 0,982 -0,0209 0,9111 0,1211 0,2335 3 0,1211 -0,0007 0,8539 0,1219 0,0065 4 0,1219 0.0000 0,8521 0,1219 0,0000 As composições do líquido e o vapor foram calculadas a partir das equações: Obtendo-se os seguintes resultados: x Y Propano 0,0719 0,3021 n-Butano 0,1833 0,3207 n-Pentano 0,3098 0,2293 n-Hexano Problema 4 Um fluxo de alimentação de um líquido comprimido, que contém uma mistura equimolar de n-pentano e n-hexano, flui na vazão F para dentro de uma unidade de flash, como mostra a Figura ***. No estado estacionário. 33,3% do fluxo de alimentação são vaporizados e saem do tanque como um fluxo de vapor, com uma vazão V. O restante sai como líquido, com vazão L. Se a temperatura de flash é 20ºC, qual é a pressão necessária? Quais são as composições dos fluxos de saída do líquido e vapor? Solução: Um balanço de massa para o componente a dá Admitindo-se comportamento de gás ideal e de solução ideal, a relação de equilíbrio no tanque de flash pode ser escrita de acordo com a equação ***: Isolando e substituindo na equação ****, temos: Isolando Analogamente para a fração molar b Como a soma das frações molares tem que ser igual a 1, podemos somar as equações de e , obtendo-se: Utilizando a equação de Antoine, a 20, obtemos e , substituímos os valores na equação ***, chegamos a: Como a pressão de 0,32 é baixa, a suposição de gás ideal é justificada. Substituindo P e na equação , obtemos: REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS https://www.eq.uc.pt/~abel/flashlv.html KORETSKY, Milo D. Termodinâmica para engenharia química. 1 Ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2007. SMITH, J.M.; VAN NESS, H.C.; ABBOTT, M.M. Introdução à Termodinâmica da Engenharia Química. 7. Ed. Rio de Janeiro: Editora LTC, 2007.