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Literatura ARCADISMO 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. O que é Arcadismo? ....................................................................................................................2 1.1. Conceito ..............................................................................................................................2 1.2. Características principais ..................................................................................................3 2. Arcadismo no Brasil .................................................................................................................. 5 2.1. Tomás Antônio Gonzaga ...................................................................................................6 2.2. Marília de Dirceu .................................................................................................................7 2.3. Cartas Chilenas ...................................................................................................................8 Exercícios .......................................................................................................................................... 10 Gabarito ............................................................................................................................................ 11 Resumo ............................................................................................................................................. 11 2 Introdução Na aula passada, falamos sobre o Barroco. Nesta apostila, vamos abordar o Arcadismo e as suas principais características no Brasil, sob a ótica da Inconfidência Mineira. Objetivos • Conceituar e apresentar o Arcadismo e suas características na Europa e no Brasil. • Analisar a influência da Inconfidência Mineira para o Arcadismo. 1. O que é Arcadismo? 1.1. Conceito O Arcadismo foi um período literário caracterizado pela valorização humanista, ou seja, que privilegiava o homem como centralizador de conhecimento. Ao contrário do Barroco, que buscava o equilíbrio entre os valores humanos e os valores divinos, o Arcadismo busca inspiração na Antiguidade Clássica, sendo por isso também chamado de Neoclassicismo. O Iluminismo, que apregoava a valorização do homem pela razão, foi um dos aspectos que influenciou bastante a busca por liberdade da Inconfidência Mineira. Neste sentido, o homem seria senhor das suas próprias escolhas, sem o viés de caráter medieval da noção de que Deus determinava o destino da humanidade. IMPORTANTE! A síntese deste movimento é a busca pela paz, pelo retorno à vida no campo, longe dos avanços científicos e sociais que desafiavam o homem no Barroco: descoberta da pólvora, grandes navegações, amplitude das relações mercantis e ascensão da burguesia. Contribuíram também para o início de uma nova visão de mundo: a perda de poder da Igreja e da Nobreza, ameaçada pelos burgueses. Em O Iluminismo, também chamado de Ilustração, buscava trazer o Homem para a razão, ou seja, a “luz”, em contraposição ao desequilíbrio e às “trevas” em que se encontrava o Homem no período Barroco. 3 escala mundial, com a influência dos ideais iluministas em toda a Europa, países como Inglaterra e França romperam com o modelo absolutista e instituíram o modelo político que vigora até os nossos dias: a tripartição dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário. IMPORTANTE! Em Portugal, a expulsão dos jesuítas e a instituição das escolas pelo Estado, assim como a fundação da Arcádia Lusitana marcam o período árcade. Apesar de ter se baseado nos ideias iluministas, a base do governo era ditatorial, sendo instituída a Real Mesa Censória, que proibia a leitura de autores como Voltaire e Rousseau. Mesmo com a perda de poder pela Igreja, alguns artistas portugueses se intitulavam árcades católicos, o que demonstra a resistência da ideologia religiosa em Portugal. 1.2. Características principais O Arcadismo surge como reação ao incômodo gerado pelas formas pesadas assumidas no Barroco, e se manifesta por meio da simplicidade, da clareza e da verossimilhança. Podemos subdividir o período em dois momentos: o encontro com a natureza e com os sentimentos humanos, de um lado; o ideológico, que traz à tona a razão e a busca pelo prazer do momento, do outro. Vamos ver, então, as principais características que marcaram o Arcadismo de uma maneira geral: Culto à razão Contraposição ao culto à fé Repúdio ao Barroco (inutilia truncat) Os árcades consideravam a estética barroca como de “mau gosto” Vida em harmonia com a natureza (locus amoenus) Lugar ameno: a Arcádia Fuga da cidade (fugere urbem) Valorização da vida campestre Desvalorização do luxo e da riqueza Contra a aristocracia absolutista A palavra Arcadismo vem do termo Arcádia, lugar de vida simples, pastoril. Na Europa do século XVIII, era o refúgio imaginário dos poetas, que se transformavam em pastores. 4 Valorização da velhice (aurea mediocritas) Período de tranquilidade da vida O homem natural O homem árcade é simples, mas ao mesmo tempo cordial Aproveite o dia (carpe diem) A incerteza do amanhã gera a necessidade de gozar o momento presente Referência à Mitologia Clássica Uso de nomes e expressões oriundas do grego e do latim Crença no estoicismo, a “arte do bem viver” Filosofia grega Em meio a um cenário em que a burguesia buscava romper com os excessos cometidos pela nobreza e pela própria Igreja, a fuga da realidade foi a saída encontrada pelos árcades. A influência aristocrática é nítida, pois apesar de valorizar o simples e a pureza humana, as obras refletem o requinte e o refinamento, até mesmo na linguagem. O homem natural encarna o homem árcade, moldado pelo Iluminismo e que defende a valorização do trabalho e da meritocracia burgueses em detrimento da aristocracia, que se justificava pelo sangue de origem nobre. Outro aspecto interessante é a relação com a Mitologia Clássica, que podemos visualizar na utilização de expressões latinas e no uso dos pseudônimos pelos artistas, que obtinham nos gregos e nos latinos a inspiração para se identificarem. Se pensarmos que em pleno século XVIII a tecnologia não era das mais avançadas, como vemos atualmente, já imaginou como seria criar um livro que abarcasse boa parte do conhecimento científico daquela época? Pois foi o que fizeram os filósofos iluministas: DICA! Entre 1751 e 1780, os filósofos iluministas organizaram a Enciclopédia, fonte de conhecimento das ciências naturais e humanas. O objetivo era possibilitar o acesso ao conhecimento aos cidadãos, a fim de que os dogmas religiosos e a ideologia absolutista pudessem ser questionados. 5 2. Arcadismo no Brasil Já no Brasil, o Arcadismo é marcado pela extração do ouro nas terras mineiras e pelo início do declínio dessa atividade. A insatisfação de um grupo de homens letrados, de proprietários de terras e de minas e de membros da administração, que buscavam reagir à cobrançaabusiva de impostos pela Metrópole, aliado à queda na extração de ouro da colônia, desencadeou no movimento conhecido como Inconfidência Mineira. De importância não somente estética, mas também histórica, o Arcadismo Brasileiro foi palco de um movimento que tentava romper com as imposições portuguesas sobre o Brasil, fato que se concretizou apenas em 1822, com o Grito da Independência proclamado por D. Pedro I. IMPORTANTE! Os inconfidentes pretendiam libertar o Brasil do quadro exploratório implantado pela Coroa Portuguesa, que impedia o crescimento da colônia como nação. Diferentemente do que ocorreu na Europa, no Brasil não houve a instituição de uma agremiação de intelectuais reunidos em torno do ideal iluminista. Daí a denominação de “árcades sem Arcádia”, em referência aos intelectuais árcades brasileiros. A reunião de poetas possibilitou a busca pela liberdade contra a situação de submissão em que se encontravam os colonos brasileiros. Suas obras manifestavam os anseios por mudanças políticas, que pudessem reverter, dentre outras, as abusivas taxas sobre a exploração do ouro na colônia. O sentimento de insatisfação gerado pela má administração da metrópole fortaleceu a ação desses poetas, que, inspirados pelo Iluminismo, buscaram criticar a realidade em que se encontrava o Brasil naquele período. Além disso, o desejo de liberdade que se manifestava contribuiu para o início do que viria a ser a consciência nacional, tendo os inconfidentes traçado os primeiros passos em direção ao Brasil independente. O movimento da Inconfidência Mineira foi a primeira manifestação de caráter libertador da História do Brasil. A bandeira de Minas, idealizada pelos inconfidentes, possuía um triângulo ao centro, em reverência à Santíssima Trindade, além da inscrição em latim “Libertas quae sera tamen” (Liberdade ainda que tardia), do poeta Virgílio. 6 SAIBA MAIS! O poeta árcade brasileiro utiliza o cenário bucólico e pastoril típico deste período para narrar suas desventuras amorosas, enquanto contemplam a beleza natural do lugar. Por outro lado, há a reação contra as injustiças cometidas pelas autoridades metropolitanas e a produção de obras críticas. Assim, mesmo sem a organização da Arcádia, os poetas utilizam características do Arcadismo para a produção literária. A nomenclatura grega aparece nos nomes dos pastores, o poeta contempla o belo e evoca a razão humana. Aqui podemos observar que o ideal de fuga da realidade se estabelece tal qual na Europa. Porém, vemos também a insatisfação do grupo de letrados com a Coroa, por meio da exploração desenfreada da colônia. DICA! Os principais autores do período são Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa. 2.1. Tomás Antônio Gonzaga Apesar de ter nascido em Portugal, Gonzaga veio estudar no Brasil ainda criança. Formou-se em Direito em Coimbra e retornou ao Brasil, em Vila Rica (MG) hoje Ouro Preto, onde foi nomeado ouvidor. Apaixonado por Maria de Seixas, sua Os ideais iluministas aparecem na descrição da razão, da natureza, da volta à luz, ao passo que o herói, antes armado para enfrentar o inimigo, agora é pacífico e dotado de ideais de justiça. Leia “Autos de Devassa da Inconfidência Mineira”, Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro. 7 musa Marília, não pôde concretizar o sonho de casamento, pois fora preso e exilado devido ao desfecho da Inconfidência Mineira. Após o julgamento, foi exilado para Moçambique, onde se casou com Dona Juliana Mascarenhas, filha de um mercador de escravos. Foi um poeta genuinamente árcade, apresentando, em raros momentos, traços de pré-romantismo em suas obras. Além do famoso poema “Marília de Dirceu” no qual Gonzaga narra seu amor, escreveu as “Cartas Chilenas”, obra de caráter satírico, que criticava o governo português e o abuso das autoridades à época. 2.2. Marília de Dirceu Nas liras de “Marília de Dirceu”, vemos o Gonzaga árcade, bucólico, que busca refúgio à dor da ausência de sua amada em um lugar ameno. É possível ver também a dualidade do poeta, em um misto de ficção e de vida real, ao se colocar na pele de Dirceu, ora como gentil pastor, ora como homem das leis: EXEMPLO! Marília é a musa dos sonhos do poeta apaixonado: “Eu, Marília, não fui nenhum vaqueiro, fui honrado pastor da tua aldeia...” “Verás em cima da espaçosa mesa altos volumes de enredados feitos; ver-me-ás folhear os grandes livros, e decidir os pleitos”. 8 EXEMPLO! Podemos verificar, neste trecho, as marcas da Antiguidade Clássica, na figura do Deus Apolo. Além disso, a exaltação da musa, que revela toda a paixão de Dirceu. Já na prisão, mesmo submetido a uma condição degradante, Gonzaga continua a produzir seus versos de amor, transmitindo-nos a visão da amada em pleno cárcere: EXEMPLO! 2.3. Cartas Chilenas Ao conjunto de poesias de viés satírico, que ridicularizava o Fanfarrão Minésio, que era, na verdade, o governador da Capitania de Minas Gerais (Luís da Cunha Meneses), deu-se o nome de Cartas Chilenas. A referência ao país latino- americano é estipulada com base na conhecida corrupção dos governadores chilenos à época, todos enviados pelos reis absolutistas. A autoria da obra permaneceu desconhecida por longos anos, até ser atribuída a Tomás Antônio Gonzaga. O amigo Critilo escreve as cartas para Doroteu. Apesar de ser instrumento de rebeldia contra Portugal, o tom da obra é satírico, insatisfeito, ao invés de rebelde: " Nesta cruel masmorra tenebrosa ainda vendo estou teus olhos belos, a testa formosa, os dentes nevados, os negros cabelos.”. " Os seus compridos cabelos, que sôbre as costas ondeiam, são que os de Apolo mais belos, mas de loura côr não são. Têm a côr da negra noite;”. 9 EXEMPLO! O destinatário das Cartas são os grandes de Portugal, em alusão às autoridades portuguesas. As cartas, que na estória foram encontradas acidentalmente com um viajante proveniente das Américas espanholas, foram então supostamente traduzidas pelo autor, a fim de servir de exemplo para outras sociedades, cujas autoridades se comportem como o Fanfarrão Minésio. Assim, a obra foi um importante instrumento de reação literária contra a má gestão das riquezas extraídas da colônia e igualmente contra a situação de submissão à qual os colonos estavam sujeitos. Apesar disso, Gonzaga deixa transparecer a sua própria ideologia, a qual nos revela um homem de identidade burguesa e mentalidade colonial: EXEMPLO! " Amigo Doroteu, prezado amigo, abre os olhos, boceja, estende os braços e limpa das pestanas carregadas o pegajoso humor, que o sono ajunta. Critilo, o teu Critilo, é quem te chama; ergue a cabeça da engomada fronha, acorda, se ouvir queres cousas raras”. " Tu também não ignoras que os açoutes só se dão, por desprêzo, nas espáduas, que açoutar, Doroteu, em outra parte só pertence aos senhores, quando punem os caseiros delitos dos escravos”. 10 Exercícios 1. (VUNESP) Leia com atenção: "O ser herói, Marília, não consiste Em queimar os impérios: move a guerra, Espalha o sangue humano, E despovoa a terra Também o mau tirano. Consiste o ser herói em viver justo: E tanto pode ser herói o pobre, Como o maior Augusto". O trecho acima exemplificauma das características do homem ilustrado do século XVIII e pertence a um dos poetas que conseguiu aliar a ideologia do Iluminismo com a sensibilidade poética própria do Arcadismo. O autor do trecho e a característica aí patente são, respectivamente: a) Cláudio Manuel da Costa e o repúdio do poder militar representado por César Augusto e por Alexandre, o Grande, presentes em outras estrofes do poema. b) Silva Alvarenga e o elogio do homem comum que, por sua bondade inata e sua vida justa, contrasta com os grandes conquistadores militares. c) Alvarenga Peixoto e o louvor do homem que consegue assimilar o social ao natural. d) Tomás Antônio Gonzaga e a exaltação do homem comum que se forma e se constrói segundo um ideal de bondade inata e de urbanidade. e) Tomás Antônio Gonzaga e a construção ideal de um homem heroico, cuja medida seria a bondade inata, base de uma vida harmonizadora das disposições individuais e das vicissitudes sociais. 2. (F.C.CHAGAS-BA) "A ciência e o racionalismo constituem as 'luzes' com que se costuma caracterizar o século. Razão que 'ilumina', que ilustra, que esclarece os homens, que os conduz ao progresso. Daí as palavras 'Iluminismo' e 'Ilustração', que caracterizam as manifestações culturais do momento, o conjunto de tendências características do século." 11 O texto refere-se: a) ao século XVI, correspondente ao florescimento da literatura informativa no Brasil. b) ao século XVII, momento em que se cultiva a literatura barroca. c) ao século XVIII, época que se identifica com o Neoclassicismo. d) às primeiras décadas do século XIX, quando se instaura o Realismo na literatura brasileira. e) à última década do século XIX, correspondente à vigência da literatura simbolista. Gabarito 1. Resposta correta: Letra E, o trecho pertence a Tomás Antônio Gonzaga, em que Dirceu se dirige à musa Marília. É visível o ideal de um homem heroico, de bondade inata, que vive em harmonia com a vida e com o seu meio social. 2. Resposta correta: Letra C, ao século XVIII, época que se identifica com o Neoclassicismo. O texto faz alusão ao Iluminismo e à razão que esclarece os homens, algumas das características do Arcadismo ou Neoclassicismo. Resumo O Arcadismo é o período marcado pelas ideias iluministas, de retorno à razão, à luz, à valorização do homem, em detrimento aos valores religiosos. Um dos aspectos marcantes dessa época é o repúdio ao Barroco, com seus desequilíbrios e estética rebuscada. O homem árcade é pacífico, busca a paz e vive em um clima pastoril, em harmonia com a natureza. Este quadro revela a fuga da realidade, pois na Europa eclodiam os primeiros movimentos contra os poderes absolutistas e os católicos. A burguesia assumia a liderança desses movimentos, em busca de afirmar-se e de romper com os abusos dos nobres. No Brasil, a insatisfação era contra o excesso de impostos cobrados sobre a extração do ouro, que, começando a se tornar escasso, dificultava o pagamento à metrópole. Por isso, um grupo de homens letrados e proprietários de terras se unem, a fim de se liberar do controle português. Foi o primeiro movimento voltado ao ideal de libertação e ficou conhecido como Inconfidência Mineira. Apesar de tudo, o plano dos inconfidentes é delatado à Coroa Portuguesa e os envolvidos são punidos, entre eles Tiradentes, que foi morto e esquartejado. Na Literatura, Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa são os destaques. Gonzaga escreve o famoso poema “Marília de Dirceu”, no qual narra seu 12 amor por Marília, a musa inspiradora. Escreve ainda as “Cartas Chilenas”, poema satírico que buscava ridicularizar o governador da capitania de Minas Gerais. Em linhas gerais, as cartas criticavam o modelo de gestão utilizado pela Coroa Portuguesa em relação à colônia, os abusos e a corrupção desmedidas, com os quais os colonos eram obrigados a conviver. Mais uma vez, vemos um mundo em transformação, e a queda da nobreza instaura uma nova ordem, que abrirá o caminho para a Primeira Revolução Industrial e seus reflexos. 13 Referências bibliográficas Literatura comentada: Disponível em: <http://www.literaturacomentada.com.br/livro/historiadaliteraturabrasileira.pdf>. Acessado em: 17/10/2018 às 17h50 Passei Direto: Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/10822916/bosi-a---historia- concisa-da-literatura-brasileira>. Acessado em: 17/10/2018 às 17h45 Passei Direto: Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/21440908/antonio-candido--- formacao-da-literatura-brasileira---vol-ii>. Acessado em: 17/10/2018 às 17h45 UFMG: Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/site/elivros/Inconfid%C3%AAncia%20Mineira%20- %20A%20hist%C3%B3ria% 20dos%20sentidos%20de%20uma%20hist%C3%B3ria.pdf>. Acessado em: 19/10/2018 às 19h30
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