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LEI PENAL NO TEMPO Princípio da extra-atividade É a possibilidade dada a lei penal de, mesmo depois de revogada, poder continuar a regular fatos ocorridos durante sua vigência ou retroagir para alcançar aqueles que aconteceram anteriormente à sua entrada em vigor. Regra geral! A regra geral trazida no art.5º da Constituição federal é a da irretroatividade in pejus, que é a absoluta impossibilidade de a lei penal retroagir para prejudicar o agente. A exceção é a retroatividade in mellius, quando a lei vier a favorecer o agente. Tempo do Crime O tempo do crime é o primeiro marco, necessário ao confronto das leis que se sucederam no tempo. Teoria da Atividade: O tempo do crime será o da ação ou da omissão Teoria do Resultado: O tempo do crime será o da ocorrência do resultado Teoria Mista ou da ubiquidade: O tempo do crime será o da ação ou da omissão, bem como o do momento do resultado. O Código Penal adota a teoria da atividade, segundo o art. 4º. Sucessão da lei penal O ato praticado é regido pela lei no tempo em que ele ocorre. Desse modo, a lei penal vigente é a lei que regula a hipótese. Na situação de sucessão de leis penais, vale a regra da extra-atividade da lei penal mais benéfica ao infrator. a) Nova lei para criação de um crime: irretroativa O comportamento não era crime e passou a ser. A lei penal que criou um crime não retroage para alcançar o fato antes do início de sua vigência. b) Nova lei para beneficiar a situação do réu: retroativa Nesse caso excepcional, a nova lei é retroativa. c) Nova lei para piorar a situação do réu: irretroativa Nesse caso, a nova lei é irretroativa e a lei revogada é ultrativa (ela continua regendo a hipótese mesmo depois de sua revogação). d) No caso de a lei nova “abolir o crime” (Abolitio Criminis) Situação em que a conduta era crime e deixou de ser: a lei nova é retroativa, de modo que todos os fatos relacionados ao crime que deixou de existir cessam com a extinção do crime. Obs! Abolitio criminis e a nova lei para beneficiar → coisa julgada Quando já houver o trânsito em julgado, quem aplicará a “lei nova para beneficiar o réu”? Em regra, o juízo da execução penal é o competente para aplicar a lei mais favorável. Excepcionalmente será um Tribunal, quando for necessária a “revisão criminal” (uma peça processual específica). Lei intermediária! Quando há mais de uma sucessão da lei penal, analisa-se sucessão por sucessão. I. A regra geral é a aplicação da lei em vigor. Como diz expressamente o penalista espanhol José Cerezo Mir e Gonzalo Rodríguez Mourullo, a lei penal intermediária que não estava em vigor em nenhum momento — nem no do fato nem no início do julgamento – não pode ser aplicada. II. Tese que tem apoio de vários autores brasileiros: Lei mais benéfica retroage em qualquer caso. Art. 2º, §.ú, CP Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Leis temporárias ou excepcionais! A lei temporária traz expressamente em seu texto o dia do início, bem como do término de sua vigência. A lei excepcional é aquela editada em virtude de situações também excepcionais (anormais), cuja vigência é limitada pela própria duração da aludida situação que levou à edição do diploma legal. Art. 3º, CP: A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Obs! Entende-se que a Constituição federal não recepcionou o art. 3º do Código Penal para fins de aplicação da lei anterior in pejus. Portanto, não se podendo excepcionar a regra constitucional, havendo sucessão de leis temporárias ou excepcionais, prevalecerá a regra constitucional da extra-atividade in mellius: lei anterior benéfica goza dos efeitos da ultra-atividade, lei posterior benéfica goza dos efeitos da retroatividade. Norma penal em branco! A norma penal em branco é aquela que necessita de um complemento. Ela pode ser: a) homogênea: complemento tem a mesma fonte de produção, p.ex. uma lei b) heterogênea: o complemento tem fonte de produção diferente, em regra do poder executivo. A modificação no complemento homogêneo (benéfico) retroage. A modificação no complemento heterogêneo, com viés de atualização, não retroage. Já a com viés de descriminalização (conduta desaparece) retroage. Lei nova mais benéfica na vacatio legis! Uma modificação legal benéfica ainda na vacatio pode retroagir? Primeira opinião: Não, pois não tem eficácia jurídica. Lei que não está em vigor não é lei. Segunda opinião: Se vacatio serve para o cidadão conhecer e entender a norma, quando a modificação é benéfica o Estado pode utilizá-la. Ultra-atividade e Retroatividade A ultra-atividade e a retroatividade são espécies do gênero extra-atividade. Ultra-atividade: mesmo depois de revogada, a lei continua a regular os fatos ocorridos durante a sua vigência. Retroatividade: possibilidade conferida à lei penal de regular os fatos ocorridos anteriormente à sua entrada em vigor. Novatio legis in mellius e Novatio legis in pejus A nova lei, editada posteriormente à conduta do agente, se for novatio legis in mellius (beneficia o agente) será sempre retroativa, ainda que os fatos ocorridos anteriormente tenham sido decididos por sentença condenatória já transitada em julgado. Crime continuado e Crime permanente Crime permanente é aquele que sua execução se prolonga no tempo ou o bem jurídico fica sob o julgo do dolo do infrator durante tempo relevante. A execução e a consumação do crime, como regra, acabam se confundindo, a exemplo do crime de sequestro. Crime continuado é aquele que, o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, e pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro. Obs! Em caso de crime continuado ou crime permanente, aplica-se a lei penal mais favorável? A lei penal súmula 711 do STF diz que: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”. Artigo 71 do Código Penal: Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. Sempre que houver uma nova lei penal mais grave durante a continuidade ou permanência, a lei anterior é afastada. Abolitio Criminis e efeitos extrapenais Art. 2º, CP. Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Descriminalizando aquela conduta até então punida pelo Direito Penal, o Estado abre mão do seu ius puniendi , e por conseguinte, declara a extinção da punibilidade. Os efeitos extrapenais são tratados nos artigos 91 e 92, CP. Efeitos da abolitio criminis Antes do trânsito em julgado Depois do trânsito em julgado da condenação Penais Afastados Afastados Extrapenais Afastados Mantidos Obs! Qual a natureza jurídica da abolitio criminis? A abolitio criminis é uma causa superveniente de exclusão da figura típica. Em consequência, a abolitio criminis éuma causa de extinção da punibilidade (107, III do CP). Obs! É possível uma abolição temporária de crime? A abolição temporária de crime, ou suspensão da tipicidade, é possível e o STJ (Súmula 513, STJ) considera que no intervalo entre a abolição de crime e a nova lei criminalizadora não há crime e há produção dos efeitos da abolição do crime (penais e extrapenais). Princípio da continuidade normativo-típica A continuidade normativo-típica ocorre quando determinado tipo penal incriminador é expressamente revogado, mas seus elementos migram para outro tipo penal já existente, ou é mesmo criado por nova lei. Portanto, não ocorrerá a abolitio criminis, mas sim a permanência da conduta anteriormente incriminada, só que constando de outro tipo penal. Abolitio criminis: Supressão da forma e do conteúdo X Continuidade normativo-típica: Supressão da forma e manutenção do conteúdo Combinação de leis Pode-se combinar leis penais? Tese 01: Sim! Eu devo buscar os casos mais benéficos sempre. Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. * O Anteprojeto do novo código penal na redação de seu art. 2, § 2º prevê que o juiz poderá combinar leis penais sucessivas. Tese 02: Súmula 501 - STJ “É cabível a aplicação retroativa da Lei 11.343/2006 [lei de drogas], desde que o resultado da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976 [revogada pela lei 11.343/06], sendo vedada a combinação de leis”. O STF pacificou o entendimento de que não é possível a combinação de leis, ressalvando a aplicação integral da lei mais favorável. Obs! STF, RE. 600817, ratificou a Súmula 501 do STJ. Obs! No caso de lei penal híbrida (lei penal e lei processual penal)? De acordo com o art. 2º do CPP, “Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior”. Sempre que houver uma norma híbrida, prevalece o conteúdo penal. Retroatividade da jurisprudência Quando a nova interpretação é produzida contrariamente ao réu, o agente não poderá ser prejudicado, uma vez que acreditava ser lícito o seu comportamento, tendo em vista a interpretação de decisões anteriores. Portanto deverá ser beneficiado com a excludente da culpabilidade, correspondente ao erro de proibição. Ao contrário, quando a nova interpretação jurisprudencial for benéfica ao agente, deverá obrigatoriamente, retroagir, a fim de alcançar os fatos ocorridos no passado.
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