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Cafeicultura e Grande Indústria

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Espírito Santo
Economia e Política
Cafeicultura e 
Grande Indústria
A TRANSIÇÃO NO ESPÍRITO SANTO • 1955-1985
Haroldo Corrêa Rocha e Angela Maria Morandi
Haroldo Corrêa Rocha 
Angela Maria Morandi
Cafeicultura e 
Grande Indústria
A TRANSIÇÃO NO ESPÍRITO SANTO • 1955-1985
2ª edição
Vitória 
Espírito Santo em Ação 
2012
ESPÍRITO SANTO EM AÇÃO
 Alexandre Nunes Theodoro Presidente
 José Armando de Figueiredo Campos Presidente do Conselho deliberativo
 Mario Amaro da Silveira viCe-Presidente oPeraCional
 José Teófilo de Oliveira viCe-Presidente
 Luiz Wagner Chieppe viCe-Presidente
ASSESSORIAS
 Orlando Caliman assessor de Planejamento e Gestão
 Eugênio Fonseca assessor de ComuniCação
 Pedro Amaral Oliveira assessor de seGurança
Rua José Alexandre Buaiz, 190. Ed. Master Tower – Sala 1414 – Enseada do Suá – Vitória/ES.
CEP: 29050-918 Tel: 3024-7700, Fax: 3024-7709 – www.espiritosantoemacao.org.br
 José Augusto Carvalho revisão
 Bios Projeto GráfiCo e editoração
 GSA Gráfica e Editora imPressão
1ª edição, 1991
Série
Espírito Santo : Economia e Política
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
(Isabel Cristina Louzada Carvalho, ES, Brasil – gestao.info@terra.com.br)
R672c Rocha, Haroldo Corrêa, 1956-
 Cafeicultura e grande indústria : a transição no Espírito Santo 1955-1985 / 
 Haroldo Corrêa Rocha; Angela Maria Morandi . – 2. ed. – Vitória : Espírito Santo
 em Ação, 2012.
 173 p. : 23 cm. – (Espírito Santo : Economia e Política ; v. 1)
 ISBN 978-85-64243-03-3 (impresso) 
 1. Espírito Santo (Estado) – Condicões econônmicas. 2. Café – Aspectos 
 econômicos – Espírito Santo (Estado). 3. Indústrias – Aspectos econômicos 
 – Espírito Santo (Estado). Café – Espírito Santo (Estado) – História. I. Morandi, 
 Angela Maria, 1953. II. Título. III. Série.
CDD: 338.1737098152
CDU: 338.45 (815.2)
Todos os direitos autorais estão reservados pelo Certificado de Registro nº 583.470, 
de 26/11/2012, emitido pelo Escritório de Direitos Autorais (EDA) da Biblioteca Nacional.
Sua reprodução, no todo ou em parte, constitui violação à Lei nº 9.610/1988.
Realização Patrocínio
© 2012 Haroldo Corrêa Rocha, Angela Maria Morandi
Agradecimentos 
constantes da 1ª edição
Este livro resultou do trabalho, apoio e incentivo de muitas pessoas 
e instituições, como sempre acontece com qualquer produção científica. 
Resultou, em primeiro lugar, do esforço que desenvolvemos juntamente 
com outros colegas da Ufes – Hildo Meirelles de Souza Filho, José Antonio 
Buffon, Sinésio Pires Ferreira e Sonia Dalcomuni dos Santos – e do Instituto 
Jones dos Santos Neves – Maria da Penha Cossetti e Ana Luzia Fregonassi 
Botecchia –, ao longo da década de 1980, no sentido de ampliar o conhe-
cimento da história econômica do Espírito Santo.
Resultou, ainda, do incentivo e da orientação metodológica do pro-
fessor Wilson Cano, da Unicamp, que muito contribuiu para a formação 
de nossa visão sobre a dinâmica regional da economia brasileira.
Resultou, também, da clareza com que Ricardo Ferreira dos Santos, 
Odilon Borges Junior e Orlando Calimam sempre encararam a necessidade 
de melhor conhecer a realidade econômica e social do Espírito Santo. Quan-
do na direção do Geres, do Bandes e do IJSN, respectivamente, apoiaram 
iniciativas de estudos sobre a realidade regional e, em particular, deposita-
ram confiança nas equipes de pesquisa do Departamento de Economia da 
Universidade Federal do Espírito Santo.
Este texto, que agora é levado ao público, foi elaborado em condições 
muito particulares. Sua primeira versão integrou um trabalho mais amplo, 
3ESPíRITO SANTO • Economia e Política
intitulado Avaliação do sistema de incentivos fiscais do DL-880, reali-
zado em 1985, pelo Geres e Bandes, com colaboração do IJSN e da Ufes. A 
coordenação geral do trabalho ficou a cargo do economista William Galvão 
Lopes, do Bandes, que nos solicitou a elaboração do segundo capítulo, in-
titulado “Antecedentes e evolução recente da economia capixaba”. Nesse 
capítulo desenvolvemos uma análise das origens do sistema de incentivos 
fiscais no Espírito Santo e abordamos o desenvolvimento econômico capi-
xaba do período de 1956 a meados dos anos 1980. Nesse texto não tivemos 
a pretensão de realizar uma análise teórica definitiva, mas, tão somente, 
a de recuperar as grandes linhas das transformações econômicas recentes 
do Espírito Santo.
Após a conclusão do trabalho, o referido capítulo dois foi reproduzido 
pelo Geres/Bandes em volume independente. A partir daí, esse volume 
teve circulação também independente e passou a ser usado e reproduzido 
por pesquisadores, por estudantes e pelos professores do Departamento de 
Economia da Ufes que lecionaram a disciplina Economia Capixaba para o 
curso de Ciências Econômicas.
Desta cada vez mais ampla utilização e circulação do texto original, 
surgiu a ideia de publicá-lo sob a forma de livro para facilitar o acesso dos 
leitores. Assim, passamos a empreender um trabalho de revisão geral do 
texto com vistas à publicação.
No verão de 1988, revisamos os três primeiros capítulos, atualizamos 
todos os dados estatísticos das tabelas e acrescentamos algumas notas ex-
plicativas; em fevereiro de1990, concluímos a revisão com a reelaboração 
do capítulo quatro, o que deu origem a um texto quase integralmente novo.
Durante todo esse período, contamos com a colaboração dos técnicos 
do IJSN, que foram incansáveis no trabalho de revisão ortográfica, dati-
lografia e normalização bibliográfica. Sob pena de não mencionar todos 
os envolvidos neste trabalho, queremos agradecer especialmente a Carlos 
Alberto Feitosa Perim, Fernando Lima Sanchotene, Djalma José Vazzoler, 
Terezinha Côgo Lodi, Clarisse Silva de Freitas, Francisca Proba Soares, Maria 
Cristina Dadalto Perez, Lastênio Scopel, Eliane Rezende, Eugênio Flores 
Herkenhoff e Maria da Conceição Lopes.
4 Cafeicultura & Grande Indústria
Também prestou importante colaboração a colega, professora do De-
partamento de Biblioteconomia da Ufes, Maria Luiza Loures Rocha Perota, 
que nos auxiliou no trabalho de normalização bibliográfica.
A etapa final do empreendimento foi cumprida após a decisão da 
FCAA de editar o livro e o apoio financeiro da Viação Águia Branca e da 
Aracruz Celulose, que compreenderam a importância da circulação mais 
ampla deste texto.
Destacamos também a colaboração dos nossos ex-estagiários e atual-
mente colegas economistas, Enilce Leite Mello e Helder Gomes, que tiveram 
uma participação muito especial na elaboração deste trabalho, pois foram 
responsáveis pelo levantamento dos dados estatísticos e pela elaboração 
da maior parte das tabelas que são apresentados no livro. Eles são, de uma 
forma ou de outra, coautores, embora não devam ser responsabilizados por 
eventuais erros ou equívocos que o texto possa apresentar.
Finalmente, queremos agradecer de forma muito especial e particular 
o permanente apoio, incentivo, e, porque não dizer, a cumplicidade dos 
nossos familiares com a nossa prática intelectual. Queremos, também, 
pedir perdão a Cristina, André, Vítor, Rodrigo e Renata pelas muitas horas 
de saudável convívio que lhes roubamos, o que é quase sempre inevitável 
nos momentos mais intensos de produção intelectual.
Vitória-ES, outubro de 1991
Haroldo Corrêa Rocha 
Angela Maria Morandi
5ESPíRITO SANTO • Economia e Política
Prefácio à 2ª edição
Merece louvor a iniciativa do Espírito Santo em Ação de reeditar uma 
obra tão influente como foi e ainda é esta que o leitor tem agora em mãos. 
Pois, antes mesmo de sua primeira edição definitiva, que ocorreu em 1991, 
ela já era utilizada de forma muito intensa desde a década anterior por alu-
nos e professores de nossa Universidade Federal, e continua assim até hoje. 
Nela eles encontravam um conjunto bem-organizado de dados a respeitoda evolução econômica do Espírito Santo e uma consistente interpretação 
deles, constituindo-se assim em um sólido apoio para suas pesquisas e 
reflexões a respeito da trajetória socioeconômica recente do Estado.
Ela mostra de forma convincente e plenamente articulada que, entre 
a década de 1960 e a de 1980 a economia e a estrutura social do Espíri-
to Santo sofreram uma inflexão extraordinária: com a implantação dos 
chamados “grandes projetos”, entrou em pauta de forma definitiva a tão 
acalentada diversificação de sua estrutura econômica até então assentada 
quase exclusivamente na cafeicultura.
A mobilização social decorrente da mudança econômica gerou um 
processo de urbanização e de concentração populacional na Grande Vi-
tória que assumiu proporções inéditas, redesenhando completamente sua 
configuração urbanística.
Mas essas transformações não poderiam deixar de se refletir também 
no campo cultural e intelectual e foram elas mesmas o principal tema da-
7ESPíRITO SANTO • Economia e Política
quilo que se pode chamar a “redescoberta” do Espírito Santo, pelos próprios 
capixabas, da qual este livro é um marco significativo.
Depois do primeiro levantamento econômico realizado pela Capes em 
1959, os primeiros diagnósticos sobre o Espírito Santo foram feitos ainda 
na década de 1960: um sob a coordenação do economista cearense Jacy 
Magalhães, da Confederação Nacional da Indústria, e os outros dois pelo 
sociólogo carioca José Arthur Rios, divulgador no Brasil da metodologia de 
pesquisa do padre dominicano francês Louis-Josef Lebret. Arregimentados 
por iniciativa da Findes, então liderada por Américo Buaiz e pelo Governo 
do Estado, chefiado por Carlos Lindenberg, foram eles que orientaram as 
ações pioneiras dos governos daquela época para a promoção do desenvolvi-
mento regional, para a atração de investimentos públicos e privados para o 
Espírito Santo e para a criação de fundos de incentivo ao desenvolvimento. 
Mas esses diagnósticos ainda foram efetuados por profissionais “de fora”, 
que não possuíam vínculos mais efetivos com o Estado.
Na sequência, a federalização da Universidade, - que tinha sido criada 
ainda na década de 1950 por Jones dos Santos Neves, - e sua ampliação 
nas décadas seguintes, propiciaram a oportunidade para o surgimento no 
próprio Espírito Santo de uma jovem geração de competentes pesquisado-
res, da qual fazem parte Haroldo Rocha e Angela Morandi, cuja produção 
científica iria se manifestar de forma acentuada nas década de 1980 e 
de 1990, de forma concomitante com o amadurecimento das mudanças 
socioeconômicas mencionadas anteriormente. Orientados por eminentes 
pesquisadores de universidades de ponta do país, - como foi o caso deste 
trabalho, orientado inicialmente por Wilson Cano da Unicamp, - eles for-
maram um núcleo informal de pesquisas que deu início à autonomização 
do Espírito Santo nesse campo científico.
A produção de inúmeras teses e monografias no campo das ciências 
econômicas e sociais e da própria história, aprofundou a construção de 
um amplo e consistente diagnóstico a respeito da trajetória regional: temas 
como o desenvolvimento da cafeicultura e sua relação com a indústria, a 
urbanização e o crescimento populacional, o coronelismo, a construção e a 
evolução do estado regional, o desenvolvimento da atividade portuária e a 
integração na economia nacional e internacional, a imigração estrangeira, 
o transporte ferroviário, e muitos outros, foram explorados e pesquisados 
8 Cafeicultura & Grande Indústria
de uma forma pioneira. Criou-se, a partir desses trabalhos, um núcleo re-
gional de produção acadêmica que inseriu o Espírito Santo nas discussões 
nacionais e revelou a especificidade de nossa formação.
Esses estudos, entre os quais esta obra se destaca, acabaram se con-
vertendo em verdadeiros paradigmas e constituem até hoje referência 
obrigatória. Alguns deles foram publicados mas já se encontram hoje 
completamente esgotados, e muitos outros nem sequer chegaram a sê-lo, 
dada a precariedade e a incipiência de nossa produção editorial, influen-
ciada negativamente por uma série de fatores. E é por causa disso que se 
torna urgente hoje a publicação dos trabalhos mais significativos que foram 
produzidos naquela época.
Aproveitando o ensejo desta reedição, e tendo em vista a conjuntura 
que estamos atravessando, marcada por desafios inesperados como a ex-
tinção do Fundap - que tinha sido um dos propulsores do desenvolvimento 
estadual na etapa estudada inicialmente neste livro - e a ameaça de perda 
de parte significativa dos royalties do petróleo, Haroldo Rocha e Angela 
Morandi brindaram-nos com um excelente posfacio em que traçaram 
um amplo quadro das transformações mais recentes que afetaram nossa 
economia e sociedade, complementando assim sua análise dos últimos 50 
anos de nossa evolução.
Neste último diagnóstico, redigido quase trinta anos depois do primei-
ro, mas coerente com ele, os autores encararam de forma engajada,mais 
uma vez, a tarefa que eles mesmos se propuseram de “fornecer inspiração 
e pistas estratégicas para o enfrentamento dos novos desafios que se apre-
sentam aos capixabas”.
Eles reconheceram claramente que, a partir dos desenvolvimentos que 
se tinham dado anteriormente, o Espírito Santo deparou no começo século 
XXI com um cenário de amplas possibilidades de crescimento, apresentan-
do, entretanto, ao mesmo tempo, um quadro de graves desigualdades, com 
problemas sociais e precárias condições de vida, afetando grande parte de 
sua população, principalmente a urbana.
Mas eles reconheceram também, com grande coragem, a prevalência 
entre nós, até aquela altura, de uma condição política que pouco ajudava 
no equacionamento desses problemas: ou seja, como eles disseram, o 
9ESPíRITO SANTO • Economia e Política
“domínio das instituições públicas pelo chamado crime organizado e por 
relações corrompidas entre agentes públicos e privados, que drenavam 
os crescentes recursos públicos para alimentar os canais da corrupção, 
reduzindo a capacidade do setor público de realização de investimentos 
em infraestrutura e de provimento à população de baixa renda de serviços 
públicos essenciais de qualidade, sobretudo saneamento básico, saúde, 
educação e segurança pública”.
De lá para cá, no entanto, superada aquela condição política desabo-
nadora dos valores republicanos, que incapacitava o Estado regional para 
o cumprimento de suas obrigações sociais, baixava nossa autoestima e 
projetava uma imagem extremamente negativa do Espírito Santo, e apesar 
dos novos obstáculos, Haroldo Rocha e Angela Morandi mostram-se final-
mente esperançosos de que o Estado, “saneado financeira e eticamente, 
responderá por um lado aos desafios do novo momento de crescimento, 
garantindo a modernização da máquina pública, os investimentos em in-
fraestrutura, a oferta de serviços sociais básicos de qualidade. E, por outro 
lado, pela utilização de diversas ferramentas de regulação, o desenvolvimento 
será distribuído de forma mais equitativa regionalmente, menos agressivo 
ao meio ambiente e com melhores condições de reduzir as desigualdades 
sociais, pela promoção da melhoria da distribuição de renda”.
Por tudo isso, reafirmamos a opinião de que a reedição desta importante 
obra hoje constitui um marco significativo de nossa história intelectual.
Estilaque Ferreira dos Santos 
Historiador/Professor da Universidade Federal do Espírito Santo
10 Cafeicultura & Grande Indústria
Prefácio à 1ª edição
Este texto que tenho o prazer de prefaciar constitui importante con-
tribuição para os estudos da economia capixaba, possibilitando um acesso 
mais detalhado aos estudiosos do Estado do Espírito Santo. Essa análise, 
cobrindo o período de 1955-1985, completa exame de importante período de 
expansão da economia do Estado do Espírito Santo, que tem suas raízes porvolta de 1850, quando da primeira fase da expansão cafeeira nessa região.
Com esse trabalho não é exagero dizer que o Estado do Espírito Santo 
passa a ser um dos mais bem estudados em termos da evolução de sua 
economia.
Desde o pioneiro estudo da Capes (1959), seguido mais tarde pelo 
coordenado por José A. Rios (1966), passaram-se quase duas décadas para 
que se constituísse um produtivo grupo de pesquisadores na Ufes e no IJSN, 
em Vitória, no qual se sobressaíram Angela Maria Morandi, Haroldo Corrêa 
Rocha, Hildo Meirelles de Souza Filho, Maria da Penha Cossetti, Sinésio 
Pires Ferreira e José Antônio Buffon, que deram excelente continuidade 
e profundidade àqueles estudos. Tive inclusive a satisfação de orientar 
alguns desses trabalhos, acompanhando de perto a evolução intelectual 
desse grupo. Destaco, entre seus principais trabalhos, o de Rocha e Cossetti 
(1983), que, seguindo de perto os rumos teóricos e metodológicos que 
usei em meus estudos sobre a economia paulista e regional, produziram 
o já clássico local Dinâmica cafeeira e constituição de indústrias no 
Espírito Santo – 1850/1930.
11ESPíRITO SANTO • Economia e Política
Esses estudos continuaram, entre outros, com o de Morandi e outros 
(1984), abarcando o período 1930-1970; e com o de Ferreira (1987), es-
tudando a integração do Espírito Santo no mercado nacional entre 1940-
1960, trabalho completado pelo presente texto.
Deve-se ainda acrescentar a esse conjunto bibliográfico sobre o Espírito 
Santo a importante tese de Almada (1984), que discute o escravismo no 
período 1850-1888, e também um pequeno ensaio que fiz (CANO, 1985c) 
sobre “Padrões diferenciados das principais regiões cafeeiras 1850-1930” 
onde, tomando por base alguns dos principais trabalhos acima citados, pude 
fazer algumas considerações sobre as diferenças marcantes que a economia 
cafeeira de São Paulo apresentou em relação às do Rio de Janeiro, Minas 
Gerais e Espírito Santo.
O estudo agora apresentado ao público analisa o período mais recen-
te, mostrando não só os efeitos de uma política regional de incentivos de 
várias modalidades, mas também a culminância da integração do mercado 
nacional, particularmente no período da atípica década de 1970, a do “Mi-
lagre Brasileiro”. O texto inova em relação aos demais, com um capítulo 
breve sobre as relações entre o crescimento econômico, a urbanização e o 
setor terciário, traço metodológico importante e necessário em trabalhos 
dessa natureza.
Como acontece com todo trabalho intelectual sério e relevante, es-
peramos que alguns de seus leitores e/ou seus próprios autores que deem 
continuidade a este esforço.
Wilson Cano2
2 Wilson Cano é economista pela PUC-SP, tem curso de pós-graduação pela Cepal e pelo Ilpes e doutorado pela Unicamp-SP, 
onde é também professor livre-docente, dando aulas no Curso de Pós-Graduação em Economia (Mestrado e Doutora-
do). Autor de vários trabalhos, entre os quais Raízes da Concentração Industrial em São Paulo e Desequilíbrios 
Regionais e Concentração Industrial no Brasil – 1930/1970. Conferencista, assessor, consultor e conselheiro de 
organismo e instituições nacionais e internacionais.
12 Cafeicultura & Grande Indústria
Sumário
Lista de Tabelas ....................................................................................... 15
Apêndice Estatístico ............................................................................... 17
Lista de Siglas e Acrônimos .................................................................... 18
Apresentação........................................................................................21
Introdução ...........................................................................................23
Espírito Santo nos anos 1960 e 2010 .............................27
1. Introdução .................................................................................. 27
2. A crise dos anos 1960 e as estratégias 
de enfrentamento adotadas pelos capixabas .............................. 28
3. As mudanças sociais e econômicas 
de cinco décadas – 1960/2010 ................................................... 33
4. A superação dos problemas trazidos pela urbanização 
 acelerada, o crescimento industrial e o controle do 
estado pelo crime organizado ..................................................... 41
5. As ameaças e as oportunidades nos próximos 
anos e décadas – Espírito Santo 2030 ........................................ 44
Referências ........................................................................................ 50
CAPíTULO 1 
O Espírito Santo e a política 
de desenvolvimento regional ...........................................51
1.1 O problema das desigualdades regionais 
no Brasil e o sistema de incentivos fiscais ................................. 51
1.2 Origem dos incentivos fiscais no Espírito Santo ........................ 59
CAPíTULO 2
Antecedentes: crise agrícola 
e industrialização 1955/75 ....................................................71
2.1 Auge e crise da cafeicultura ........................................................ 73
2.2 Política econômica e crescimento industrial ............................. 98
2.3 A construção de infraestrutura ................................................ 108
CAPíTULO 3
Expansão recente: desenvolvimento 
econômico e hegemonia do 
grande capital – 1975/85 .........................................................113
3.1 Crescimento e modernização da agricultura ............................116
3.2 Grande capital e diversificação da estrutura industrial ........... 133
CAPíTULO 4
Crescimento econômico, urbanização 
e dinamização do setor terciário ..............................147
Apêndice Estatístico...................................................................161
Referências ..........................................................................................167
Lista de Tabelas
TABELA 1 Distribuição regional da renda interna e da população 
residente, Brasil e Espírito Santo, 1949-1980, em % ...................54
TABELA 2 Preço médio de exportação do café (verde e solúvel), 
Brasil, 1945-1987 (US$/sacas de 60 kg) ...................................... 61
TABELA 3 Número de cafeeiros plantados, Espírito Santo, 1940-1987 ........75
TABELA 4 Produção de café beneficiado (média trienal), Espírito Santo, 
1942/44-1987 (sacas de 60 kg) ................................................... 76
TABELA 5 Resultado da execução do Programa de Erradicação 
dos Cafezais, 1962-1967 ...............................................................78
TABELA 6 Participação relativa por estado no Programa 
de Erradicação dos Cafezais ..........................................................79
TABELA 7 Percentual da população cafeeira e da área 
cultivada com café atingidas pela erradicação ..............................79
TABELA 8 Estimativa do desemprego de mão de obra ocasionado 
pelo Programa de Erradicação dos Cafezais, 
Espírito Santo, 1962/67 ...............................................................81
TABELA 9 Diversificação agrícola nas áreas liberadas pela execução 
do Programa de Erradicação dos Cafezais, Jun/62 – Ago/66 .......83
TABELA 10 Lenha e madeira em toros extraídas de florestas nativas, 
Espírito Santo, 1952/54 – 1987 (média trienal) .......................... 87
TABELA 11 índice de crescimento das exportações de madeira 
segundo destino, Espírito Santo, 1935/37 – 1965 ....................... 87
TABELA 12 Participação relativa dos principais estados importadores 
no total das exportações de madeira, Espírito Santo, 
1935/37 – 1965 ............................................................................ 87
TABELA 13 Efetivo bovino e taxa anual de crescimento do 
rebanho, Espírito Santo, 1950-1985 ............................................89TABELA 14 Área e taxa anual de crescimento das pastagens, 
Espírito Santo, 1950/1985 ...........................................................89
TABELA 15 Atividades econômicas predominantes nos 
estabelecimentos rurais, Espírito Santo, 1960/1985 ....................93
TABELA 16 Quantidade produzida das principais culturas agrícolas (média 
trienal), Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (toneladas) ............94
15ESPíRITO SANTO • Economia e Política
TABELA 17 Área colhida1 das principais culturas agrícolas (média trienal), 
Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (hectares) ............................94
TABELA 18 Rendimento médio das principais culturas agrícolas, 
Espírito Santo, 1945/47 – 1987/88 (toneladas) ..........................95
TABELA 19 Taxa anual de crescimento do valor da produção da indústria 
de produtos alimentares, Espírito Santo, 1959 – 1980 ..............101
TABELA 20 Aplicações dos recursos do IBC/Gerca do Programa de 
Diversificação Econômica das Regiões Cafeeiras, 
Espírito Santo, 1967/70 .............................................................104
TABELA 21 Indústria extrativa mineral por subgênero, Espírito Santo, 
1949 -1980 ................................................................................. 107
TABELA 22 Área de matas naturais e de reflorestamento, 
Espírito Santo, 1960-1985 .......................................................... 119
TABELA 23 Área reflorestada incentivada por empresa 
reflorestadora, Espírito Santo, 1989 ...........................................120
TABELA 24 Produção de leite de vaca por região, Espírito Santo, 
1975 – 1985 (mil litros) .............................................................126
TABELA 25 Preço médio da carne bovina, Espírito Santo, 1973 – 1989 .......126
TABELA 26 Evolução do número de máquinas agrícolas, 
Espírito Santo, 1970 – 1985 .......................................................129
TABELA 27 Taxa anual de crescimento do número de tratores 
e arados, Espírito Santo, 1960 – 1985 ........................................129
TABELA 28 Evolução do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, 
Espírito Santo, 1960-1985 ..........................................................129
TABELA 29 Estrutura fundiária – percentual de participação por 
estrato de área no total, Espírito Santo, 1950-1985 ...................132
TABELA 30 Taxa anual de crescimento do valor da produção da indústria 
de transformação, Espírito Santo, 1949 – 1980 .........................134
TABELA 31 Participação relativa dos principais gêneros na formação 
do valor bruto da produção da indústria de 
transformação, Espírito Santo, 1949 – 1980 ..............................135
TABELA 32 Indústria extrativa mineral e de transformação, 
Espírito Santo, 1949 – 1980 .......................................................145
TABELA 33 População urbana e rural – comparação 
Espírito Santo e Brasil, 1950 – 1980...........................................150
16 Cafeicultura & Grande Indústria
TABELA 34 População urbana e rural estimada, 
Espírito Santo, 1980 – 1990 ....................................................... 151
TABELA 35 População urbana e rural estimada, Grande Vitória, 
1980 – 1990 ................................................................................152
TABELA 36 População Economicamente Ativa por setores e 
ramos de atividade, Espírito Santo, 1950 – 1980 ....................... 154
TABELA 37 Novos empregos criados, segundo setor e ramo 
de atividade, Espírito Santo, 1950 – 1980 ..................................155
TABELA 38 Taxas anuais de crescimento da PEA, Espírito Santo, 
1950 – 1980 ................................................................................156
TABELA 39 PEA por setor e ramos de atividades, segundo 
Microrregiões Homogêneas, Espírito Santo, 
1970 – 1980 (Em porcentagem) ................................................159
Apêndice Estatístico
TABELA 1 Quantidade produzida de algumas culturas agrícolas 
emergentes - Espírito Santo – 1970 - 1988 (toneladas) ............. 161
TABELA 2 Área de colheita de algumas culturas agrícolas 
emergentes Espírito Santo – 1970 – 1988 (hectares) .................162
TABELA 3 Rendimento médio de algumas culturas agrícolas 
emergentes Espírito Santo – 1970 - 1988 ...................................162
TABELA 4 Relação das cinco principais indústrias mecânicas 
produtoras de máquinas e equipamentos - 
Espírito Santo – 1986 .................................................................163
TABELA 5 Relação das oito principais indústrias de confecções - 
Espírito Santo – 1986 .................................................................163
TABELA 6 Usinas de álcool hidratado/anidro implantadas no 
Espírito Santo – Dados gerais - 1986 ..........................................164
TABELA 7 Usinas de pelotização de minério de ferro 
existentes no Espírito Santo - Dados gerais ................................165
17ESPíRITO SANTO • Economia e Política
Lista de Siglas e Acrônimos
Bandes – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A
BNCC – Banco Nacional de Crédito Cooperativo S/A
Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
CBF – Companhia Brasileira de Ferro
Cepa-ES – Comissão Estadual de Planejamento Agrícola-ES
Cepal – Comissão Econômica para a América Latina
Civit – Centro Industrial de Vitória
Cobraice – Companhia Brasileira de Indústria e Comércio
Codes – Companhia de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo
Cofavi – Companhia Ferro e Aço de Vitória
Comleste – Comissão de Desenvolvimento Econômico do Médio-Leste
Coopnorte – Cooperativa Agropecuária do Norte do Espírito Santo
CST – Companhia Siderúrgica de Tubarão
CVRD – Companhia Vale do Rio Doce
DEE – Departamento Estadual de Estatística do Espírito Santo
DER-ES – Departamento de Estradas de Rodagem do Espírito Santo
DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas
Eletrobras – Centrais Elétricas Brasileiras S/A
Emater – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Espírito Santo
Emcapa – Empresa Capixaba de Pesquisas Agropecuárias
Escelsa – Espírito Santo Centrais Elétricas S/A
Findes – Federação das Indústrias do Espírito Santo
Frinorte – Frigorífico do Norte do Espírito Santo
Frisa – Frigorífico Rio Doce S/A
Fundec – Fundo de Diversificação Econômica da Cafeicultura
Funres – Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo
Gerca – Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura
Geres – Grupo Executivo para a Recuperação Econômica do Espírito Santo
18 Cafeicultura & Grande Indústria
Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBC – Instituto Brasileiro do Café
IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ideies – Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo
Logasa – Louças Gaggiato S/A
Petrobras – Petróleo Brasileiro S/A
Portobras – Portos Brasileiros S/A
Proálcool – Programa Nacional do Álcool
Probor – Programa da Borracha
Samarco – Samarco Mineração S/A
Sima-ES – Serviço de Informação do Mercado Agrícola
SNCR – Sistema Nacional de Crédito Rural
SPVEA – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia
SPVERFSP – Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Região da 
Fronteira Sudoeste do País
Sudam – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
Sudeco – Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste
Sudene – Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
Sudhevea – Superintendência do Desenvolvimento da Borracha
Suframa – Superintendência do Desenvolvimento da Zona Franca de Manaus
Usiminas – Usina Siderúrgica Minas Gerais S/A
19ESPíRITO SANTO • Economia e Política
Apresentação
Em nove anos de história, o EspíritoSanto em Ação tem oferecido à 
sociedade capixaba o resultado de todo o seu esforço, empenho e dedica-
ção. São projetos e ações que promovem o desenvolvimento do Estado, o 
fortalecimento das instituições capixabas, a formação de novas lideranças 
e, principalmente, que estimulam, em nós, o orgulho de viver no Espírito 
Santo.
Hoje, você tem em suas mãos mais um fruto do nosso trabalho. 
Trata-se do primeiro volume da coleção, um conjunto de estudos sobre um 
importante período da história desenvolvimentista do nosso Estado. São 
trabalhos profundos, produzidos e publicados por pesquisadores e acadê-
micos, sobretudo nas décadas de 1980-90, que serviram de referência para 
a construção do pensamento político e econômico acerca da modernização 
do nosso estado.
Nosso objetivo ao reeditar este primeiro volume - obra de dois im-
portantes economistas do nosso estado - é promover uma reflexão sobre o 
processo de industrialização do Espírito Santo, seus impactos e as oportu-
nidades que surgiram a partir deste processo. 
Na década de sessenta, com a erradicação dos cafezais, a economia 
capixaba sofreu um enorme abalo. Como sabemos, o Estado tinha perdido 
grande parte de sua principal atividade econômica e não havia alternativa 
imediata para sua substituição. O Espírito Santo estava em crise. Vivíamos 
21ESPíRITO SANTO • Economia e Política
um verdadeiro desastre econômico, fenômeno que ensejou uma reação em 
busca de alternativas mais sólidas e sustentáveis para o seu desenvolvimento.
Foi este preocupante cenário que levou os empreendedores e as au-
toridades políticas capixabas a perceberam que, somente com as ações 
articuladas e coordenadas, o Estado encontraria uma saída para a crise. 
Daí surgiram os novos planos para o desenvolvimento do Espírito Santo, 
sendo a atividade industrial o foco principal.
Os resultados desse novo modelo de desenvolvimento todos nós 
sabemos: nossa economia cresceu, diversificou e se integrou fortemente 
ao restante do Brasil. O Espírito Santo, hoje, é uma das economias que 
mais cresce no país e é, sem dúvida, a economia mais internacionalizada 
comparativamente aos demais estados brasileiros - se levarmos em conta 
as entradas e saídas para o mercado mundial.
Muitas vezes, quem vive neste cenário moderno e atrativo, desconhe-
ce os fatos históricos que conduziram o Espírito Santo a um futuro tão 
promissor, mas também desafiador. Esses acontecimentos, que têm suas 
bases no processo de colonização brasileira, deixaram marcas claras no 
desenvolvimento do Estado.
Ao ler este livro, você vai entender as profundas transformações vi-
vidas pela sociedade capixaba, a partir da década de 1960, e vai perceber 
que a história que o Espírito Santo escreveu é marcada por desafios. Aliás, 
esta é uma peculiaridade do nosso povo: vencer a falta de oportunidades e 
transformar as ameaças em benefícios.
Boa leitura.
Alexandre Nunes Theodoro
22 Cafeicultura & Grande Indústria
Introdução
A economia capixaba apresenta atualmente uma estrutura produtiva 
bastante diversificada e predominantemente industrial. Essa é uma nova 
realidade surgida e consolidada nas três últimas décadas, período em que 
se verificou um vigoroso processo de expansão econômica e modernização 
capitalista. As transformações econômicas decorrentes desse processo 
conformaram uma economia com um novo perfil produtivo e alteraram 
radicalmente o quadro de extrema dependência da atividade cafeeira, que 
caracterizou a economia capixaba durante mais de um século.2
Efetivamente, desde meados do século XIX, a cafeicultura, em função 
das vantagens econômicas que apresentava, tornou-se absorvedora dos re-
cursos econômicos disponíveis e assumiu a posição de principal atividade 
produtiva da economia estadual. A expansão da cafeicultura e a consequente 
inibição de outras lavouras submeteram a economia capixaba a elevado 
nível de especialização e de dependência em relação à lavoura cafeeira.
Inicialmente, a cafeicultura se desenvolveu em grandes proprieda-
des, com base no trabalho escravo, e, embora tenha havido significativa 
expansão da lavoura, as condições econômicas locais não permitiram que 
a atividade tivesse grande dinamicidade, como ocorreu em outras regiões 
cafeeiras do país.
2 O desenvolvimento da cafeicultura e a dinâmica da estrutura produtiva da agricultura no Espírito Santo no período de 
1850 a 1960 foi tema de vários trabalhos nos últimos anos. Entre eles recomendamos, por seguirem a mesma linha 
metodológica, os seguintes: de Rocha e Cossetti (1983); Morandi et al. (1984); Ferreira (1987); e de Almada (1984).
23ESPíRITO SANTO • Economia e Política
Após o fim da escravidão, a estrutura produtiva local transitou para 
um sistema de pequena propriedade e de trabalho familiar. A cafeicultura 
manteve o seu papel preponderante e passou a ser desenvolvida em pequena 
escala de produção, de acordo com a disponibilidade de força de trabalho 
das famílias dos pequenos proprietários e dos parceiros. A unidade pro-
dutiva era praticamente autossuficiente e tinha no café a sua quase única 
cultura mercantil.
As condições em que operava a economia cafeeira tornavam relati-
vamente lento o ritmo de expansão da lavoura e travavam a acumulação 
de capital, uma vez que as relações mercantis eram pouco desenvolvidas, 
e a rentabilidade bastante reduzida, o que não possibilitava um nível ra-
zoável de concentração de capitais. Assim, embora a cafeicultura tenha 
se expandido e mantido sua importância na economia estadual, ela não 
provocou grandes transformações na estrutura produtiva local, dadas as 
especificidades de sua dinâmica. Nos momentos de crise de superprodu-
ção e de queda dos preços do café, a economia capixaba, ao contrário do 
que acontecia na região cafeeira de São Paulo, não apresentava mudanças 
estruturais, nem realizava movimentos significativos de substituição de 
culturas. As unidades produtoras, a despeito da brutal redução do nível de 
renda advinda da queda dos preços do café, mantinham a lavoura cafeeira 
e reforçavam a produção de subsistência de forma a compensar a redução 
da compra de determinados produtos que adquiriam no mercado. Assim, 
as unidades produtoras tornavam-se ainda mais autossuficientes, os fluxos 
de comércio se reduziam e o processo de acumulação estagnava.
Essa estrutura produtiva e essa dinâmica muito particulares fizeram 
com que, desde que se introduziu a cafeicultura no Espírito Santo (em me-
ados do século XIX), até a década de 1950, a economia capixaba não tivesse 
grande dinamismo e se apresentasse altamente dependente da cafeicultura, 
sem vislumbrar nenhuma alternativa de diversificação econômica.
O círculo vicioso e a situação de extrema dependência do café que ca-
racterizavam nossa economia só foram alterados durante a última grande 
crise de superprodução e de preços, que afetou a cafeicultura nacional. Na 
segunda metade da década de 1950, a sequência de supersafras determinou 
a queda acentuada de preço, tal como já havia ocorrido em diversas ocasiões. 
Contudo a política governamental de enfrentamento dessa crise cafeeira foi 
24 Cafeicultura & Grande Indústria
radicalmente diferente das que já haviam sido utilizadas nas crises anteriores. 
Os órgãos federais responsáveis pela política cafeeira decidiram erradicar os 
cafezais até que a capacidade produtiva e as safras colhidas se equiparassem 
às necessidades do mercado consumidor. E, para viabilizar essa política, foi 
estabelecida uma considerável indenização por cova erradicada.
Essa política, embora tenha causado uma grave crise social, resultou 
numa significativa injeção de recursos na economia estadual, que buscou 
aplicações alternativas. Associaram-se a isso outras políticas de incentivos 
e financiamentos a atividades específicas, que possibilitaram viabilizar o 
início de um processo de diversificação econômica.Assim, a partir da crise cafeeira foi dada a partida num processo de 
transformações econômicas que viria alterar profundamente a estrutura 
produtiva da economia capixaba.
As três últimas décadas que foram palco dessas mudanças devem ser 
subdivididas em dois subperíodos.
No primeiro, que cobre aproximadamente duas décadas, de meados 
dos anos 1950 a meados dos anos 1970, o processo de acumulação foi 
comandado pelos pequenos capitais locais, que, ajudados pelas políticas 
estatais, lograram um bom nível de crescimento. Embora a cafeicultura tenha 
enfrentado uma grave crise de preços e uma grande redução de capacidade 
produtiva, a pecuária e a extração vegetal, ao lado dos gêneros tradicionais 
da indústria de transformação, apresentaram grande dinamismo e elevadas 
taxas de crescimento.
A fase recente do desenvolvimento econômico capixaba, que se verificou 
a partir de 1974/75, caracterizou-se pela hegemonia do grande capital, que, 
com raríssimas exceções, não era capixaba, mas nacional ou estrangeiro. 
Nesse período, o setor agrícola estadual foi dominado por um intenso pro-
cesso de modernização capitalista decorrente do avanço da empresa rural 
e das relações de assalariamento. O setor, em conjunto, apresentou uma 
retomada do crescimento, particularmente derivada da expansão do café, 
da cana-de-açúcar e da atividade de reflorestamento. Da mesma forma, o 
setor industrial recebeu grandes investimentos, o que determinou alterações 
substantivas na sua estrutura, com o surgimento e expansão de gêneros 
mais dinâmicos e complexos.
25ESPíRITO SANTO • Economia e Política
Este trabalho analisa a economia capixaba justamente nessas três úl-
timas décadas, procurando mostrar de forma detalhada as mudanças que 
conformaram a sua nova “face” e sua nova forma de inserção na economia 
brasileira. No primeiro capítulo procura-se resgatar as transformações no 
nível político-institucional, especialmente os determinantes da criação 
do sistema de incentivos fiscais do Funres. O segundo capítulo trata da 
crise da economia cafeeira e do desenvolvimento industrial no período de 
1955/75. O terceiro capítulo corresponde ao período mais recente, cujas 
características centrais estão na modernização da agricultura e diversifica-
ção da estrutura industrial comandada pelo grande capital. E, por fim, no 
capítulo quatro, abordam-se, de forma breve, as relações existentes entre 
o crescimento econômico havido no período considerado neste trabalho 
e o processo acelerado de urbanização verificado nesse mesmo período no 
Espírito Santo, e, relacionam-se ainda esses dois processos com a dinami-
zação do setor terciário.
26 Cafeicultura & Grande Indústria
Espírito Santo 
nos anos 1960 e 2010
1. INTRODUÇÃO
A reedição deste livro, Cafeicultura e Grande Indústria: a transição no 
Espírito Santo 1955-1985, foi um sonho acalentado há vários anos, desde 
que se esgotou sua primeira e única edição. À medida que os anos foram 
passando, foi sendo reforçada a necessidade de uma nova edição, pois foi 
crescente o uso do texto, especialmente em cursos universitários que mi-
nistram disciplinas sobre a realidade capixaba. Não faltaram palavras de 
estímulo de professores, pesquisadores, empresários e políticos para essa 
realização.
Isso veio a se tornar viável a partir do momento em que o Espírito 
Santo em Ação, sob a inspiração de João Gualberto de Vasconcellos e do 
ex-Governador Paulo Hartung, e sob a competente coordenação de Altier 
Moulin, Gerente de Comunicação, decidiu implementar uma nova linha 
editorial denominada Espírito Santo: economia e política.
Cafeicultura e Grande Indústria foi um dos títulos selecionados para 
compor a nova coleção e recebeu o privilégio de ser o texto inaugural, 
lançado no primeiro semestre de 2013.
27ESPíRITO SANTO • Economia e Política
O critério de escolha teve como base o conteúdo do livro, que examina 
em detalhe os impactos da política nacional de erradicação dos cafezais e as 
alternativas de desenvolvimento geradas nos anos 1960, e o momento con-
juntural que passa o Espírito Santo marcado por várias ameaças econômicas 
a partir de decisões originárias do contexto econômico e político nacional.
Há semelhanças e diferenças entre os dois momentos conjunturais. 
Um olhar sobre a história capixaba neste momento pode ser muito útil no 
sentido de fornecer inspiração e pistas estratégicas para o enfrentamento 
dos novos desafios que se apresentam aos capixabas.
Pode-se resgatar dos anos 1960, como elementos positivos do enfren-
tamento da crise econômica, social e política, quatro linhas de ação, que 
foram por demais evidenciadas: a união de esforços das elites política e 
empresarial em nível estadual; a mobilização para a implantação e a mo-
dernização da infraestrutura econômica adequada a novos investimentos; 
a criação/modernização das instituições públicas voltadas para o apoio ao 
desenvolvimento; e a criação de fundos de financiamento do setor público 
e dos investimentos privados (Funres e Fundap).
Como forma de colocar em evidência as semelhanças e as diferenças 
entre os dois momentos históricos, resolvemos elaborar este texto espe-
cificamente para a 2ª edição. Esperamos, assim, contribuir para elevar a 
autoestima dos capixabas e para identificar novos caminhos para o desen-
volvimento estadual nas próximas décadas.
2. A CRISE DOS ANOS 1960 E AS ESTRATÉGIAS 
DE ENFRENTAMENTO ADOTADAS PELOS 
CAPIXABAS
É interessante frisar, de antemão, que ao longo da história do Espírito 
Santo, os capixabas foram confrontados, em alguns momentos cruciais, 
por fatores externos e alheios à sua dinâmica interna, sem que estivesse 
preparado para recebê-los, que provocaram verdadeiras mudanças no rumo 
da economia e da sociedade.
28 Cafeicultura & Grande Indústria
Nos três séculos do período colonial, o Espírito Santo foi mantido à 
margem do desenvolvimento brasileiro, tendo, inclusive, perdido grande 
parte do seu território original e isolado, ao longo do século XVIII, dos 
possíveis impactos positivos da mineração no Estado de Minas Gerais por 
orientação da Coroa Portuguesa a seus representantes no Brasil, que impediu 
a abertura de vias de transporte ligando o Espírito Santo a Minas Gerais. 
Dessa forma, todo o fluxo de minerais destinado à Metrópole europeia foi 
direcionado para o Rio de Janeiro.
Ao longo do período imperial, no século XIX, e da primeira república, 
no século XX, a realidade de profundo atraso econômico foi sendo gra-
dativamente alterada com o povoamento realizado em grandes unidades 
produtivas escravocratas e em pequenas propriedades familiares constituídas 
a partir da colonização europeia. A cafeicultura, atividade econômica de 
maior relevância nacional, propiciou a formação de uma base econômica 
no Espírito Santo, em contínua, ainda que lenta, expansão.
A marcha do café, ao longo de um século, foi gradativamente ocu-
pando o solo capixaba, do sul para o norte, criando centros urbanos em 
seu interior, construindo uma infraestrutura adequada à atividade cafeeira, 
como as estradas de ferro e o porto de Vitória, e moldando uma estrutura 
produtiva de comércio e de serviços que serviam como apoio à dinâmica 
do café.
Assim, o estado chegou aos meados do século XX com forte dependên-
cia da atividade cafeeira. Em 1960, o PIB estadual apresentava a seguinte 
composição: 41,8% gerado pela agropecuária e pesca, 5,3% pelo setor 
industrial e 52,9% pelo setor terciário. Neste mesmo ano, a cafeicultura 
empregava 55% da população economicamente ativa capixaba e gerava 22% 
da renda estadual. Por outro lado, o beneficiamento de café representava, 
aproximadamente, 17% do valor da produção industrial e o ICMS café 
respondia por 62% da receita pública estadual. Além desta atividade, as 
pequenas propriedades rurais, que se tornaram predominantes, e os parceiros 
desenvolviam outras atividadesrurais produtoras de alimentos básicos, tais 
como milho, feijão, pecuária leiteira, criação de pequenos animais, etc. O 
comércio exterior tinha como base as exportações de café e de minério de 
ferro, esta última atividade iniciada em 1945 e com boas perspectivas de 
expansão a partir da inauguração do Porto de Tubarão, em 1966.
29ESPíRITO SANTO • Economia e Política
A infraestrutura de estradas de rodagem era muito precária e o abas-
tecimento energético insuficiente para suportar um processo de desenvol-
vimento mais complexo, com base no crescimento das cidades e do setor 
industrial. Em 1960, quase ¾ (71,6%) da população capixaba ainda vivia 
e trabalhava no campo.
De qualquer forma, a sociedade e a economia estadual se transforma-
vam de forma lenta e em condições de relativo equilíbrio.
Um problema nacional e a sua política de enfrentamento vieram al-
terar profundamente as condições de funcionamento e de reprodução da 
economia e da sociedade capixabas.
Os preços do café, principal produto gerador de divisas para o país, 
sofreram forte redução no mercado internacional, gerando grave desequi-
líbrio no balanço de pagamentos. Os preços médios do café verde e solúvel 
passaram de U$S 86,83, em 1954, para U$S 38,27, em 1963, representando 
uma redução de 56%. O governo federal, a partir de um diagnóstico de 
queda dos preços por excesso de oferta, decidiu implementar uma política 
cafeeira jamais adotada em qualquer outra época, em mais de um século 
de desenvolvimento da cafeicultura brasileira. Assim, o Instituto Brasileiro 
do Café - IBC - adotou, como um dos pilares dessa política, a erradicação 
dos cafezais antieconômicos ou de menor produtividade, e criou um órgão 
específico para implementá-la, o Grupo Executivo de Racionalização da 
Cafeicultura - Gerca.
No Brasil, entre junho de 1962 e maio de 1967, foram erradicados 
32,0% dos cafeeiros existentes e 30,5% da área ocupada com plantações 
de café. O Espírito Santo foi o estado mais atingido, pois teve 53,8% dos 
cafeeiros erradicados e 71,0% da área plantada liberada. No meio rural ca-
pixaba esta política resultou no desemprego direto de aproximadamente 60 
mil pessoas e na precarização das condições de vida de 240 mil capixabas, 
aproximadamente 25% da população rural de 1960. Nos outros setores da 
economia, como comércio, serviços de exportação, atividade industrial, 
receita pública, etc., o impacto deu-se de dupla forma, tanto pela queda dos 
preços como pela redução de volume do café produzido e comercializado.
A economia estadual foi profundamente abalada com a política federal 
de erradicação dos cafezais, pela forma radical e pela rapidez de sua imple-
30 Cafeicultura & Grande Indústria
mentação. É importante destacar que já se formava uma consciência política 
regional de que a extrema dependência da cafeicultura tornava a economia 
capixaba vulnerável e sem perspectivas de crescimento e diversificação. Em 
1952, o Governador Jones dos Santos Neves advertia que os galhos dos 
cafezais eram frágeis demais para sustentar nossos sonhos de progresso.
Pois bem, entre 1966 e 1967, realizou-se o grande movimento de 
destruição da capacidade produtiva da agricultura cafeeira. Mas até aquele 
momento não haviam sido desenvolvidas outras atividades econômicas, 
seja no meio rural ou na área industrial, capazes de compensar a regressão 
do café e abrir outras frentes de desenvolvimento.
O Espírito Santo encontrava-se numa encruzilhada. Havia perdido 
boa parte de sua principal atividade econômica e não tinha atividades 
substitutas com a mesma capacidade de geração de emprego e renda. A 
pergunta que se fazia era: como superar a grave crise?
Algumas respostas fundamentais foram dadas naquela conjuntura. 
Por um lado, tornou-se claro para as elites políticas e empresariais que a 
gravidade da crise demandava união política e ação coordenada. Assim 
foi que, o Governo do Estado, a Federação das Indústrias e a Federação do 
Comércio, somaram esforços, numa ação conjunta, para a elaboração de 
diagnósticos precisos da situação econômica e social e, ao mesmo tempo, 
para a formulação de novas estratégias de desenvolvimento. Concluiu-se, 
acompanhando a grande tendência da economia brasileira, pela priorização 
do desenvolvimento da atividade industrial no Espírito Santo. Mas havia 
obstáculos a serem inicialmente superados.
O primeiro era a precária infraestrutura que não condizia com as 
necessidades que seriam derivadas das atividades industriais, ligadas espe-
cialmente aos meios de transporte e às fontes energéticas. O segundo era 
a quase inexistência de capitais privados acumulados ao longo dos anos 
anteriores, passíveis de serem investidos nas atividades industriais, e a falta 
de uma estrutura bancária capaz de aportar recursos a custos competitivos 
para investimentos produtivos de longo prazo de maturação. Havia, por 
assim dizer, uma deficiente infraestrutura de transportes e energia e uma 
escassez de poupança para financiar os investimentos industriais a serem 
realizados.
31ESPíRITO SANTO • Economia e Política
O desafio da infraestrutura já vinha sendo enfrentado desde o período 
do Plano de Metas, principalmente a partir de investimentos públicos em 
produção e distribuição de energia elétrica e nas principais vias de trans-
porte, as BR’s 101 e 262 e o Porto de Vitória. Nos anos que se seguiram 
importantes obras foram concluídas.
O segundo desafio enfrentado foi a estruturação de fontes de financia-
mento para viabilizar os investimentos industriais. Naquela época era difícil 
pensar em fontes privadas, a não ser de origem externa, pois a economia 
brasileira não havia criado ainda as condições objetivas de viabilidade de 
financiamento de longo prazo por parte dos bancos privados. Assim, passou-
-se a estruturar fontes públicas de financiamento voltadas para o apoio aos 
investimentos privados em agroindústrias e na indústria em geral.
Inicialmente, como forma de compensação aos estados produtores 
de café, foi criado, na esfera federal e implementado pelo IBC/Gerca, no 
período 1967/1969, o Programa de Diversificação Econômica das Regiões 
Cafeeiras, com o objetivo de apoiar com financiamento subsidiado a im-
plantação e/ou ampliação de agroindústrias e a formação de infraestrutura, 
de forma a criar as condições para a diversificação econômica. Para gerir 
os recursos deste fundo, o Governo Estadual criou, em 1967, a Companhia 
de Desenvolvimento Econômico do Espírito Santo – Codes.
Paralelamente, as elites políticas e empresariais locais desenvolveram 
várias ações visando a estruturar fontes de financiamento duradouras a 
partir da constituição de fundos compostos com recursos oriundos de re-
núncia fiscal federal e, principalmente, estadual. Depois de muitas gestões 
e negociações políticas mal sucedidas junto ao Governo Federal, enfim, 
em 1969 foi constituído o Grupo Executivo de Recuperação Econômica do 
Espírito Santo - Geres - e o Fundo de Recuperação Econômica do Espírito 
Santo - Funres, o primeiro como órgão gestor do segundo, que era um 
fundo de incentivos fiscais, composto com deduções do Imposto de Renda 
e do Imposto de Circulação de Mercadorias. Os recursos do Funres eram 
destinados à aplicação, sob a forma de participação societária, em novos 
investimentos, sobretudo industriais. Em sequência à criação do Funres, 
foi constituído, em 1970, em nível estadual, o Fundo de Desenvolvimento 
das Atividades Portuárias – Fundap, fundo de financiamento composto por 
recursos do ICMS oriundos de atividades de importações não tradicionais. 
32 Cafeicultura & Grande Indústria
Este fundo visava a dinamizar o comércio exterior e a otimizar o uso da 
infraestrutura portuária, que até então era usada apenas para realização de 
exportações e passaria a ser utilizada também no incremento das impor-
tações, gerando, assim, movimentação de cargas,empregos e renda, além 
de novos investimentos em logística.
A implementação destes dois fundos financeiros, um destinado à 
participação societária em novos empreendimentos e outro a financiar as 
atividades de comércio exterior, exigiu que a Codes fosse transformada no 
Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A – Bandes, estrutura mais 
complexa e adequada à operacionalização dos dois fundos.
Portanto, à crise de preços do café e à política federal de erradicação 
dos cafezais, o Espírito Santo reagiu com a união de ações das elites políticas 
e empresariais, com a captação de recursos federais na área de logística e 
de energia, com a modernização da estrutura de gestão pública estadual, 
especialmente com a criação da Codes/Bandes, e com a constituição de 
dois fundos financeiros voltados para o apoio aos investimentos privados 
nas atividades agroindustriais, industriais e de comércio exterior.
Nas cinco décadas que se seguiram o Espírito Santo passou por uma 
grande transformação econômica e social. A sociedade e a economia estadual 
do início da segunda década do século XXI são completamente diferentes 
do Espírito Santo de meio século atrás. Neste mesmo período, realizou-se, 
também, o processo de globalização, suportado, sobretudo, pela evolução 
e aplicação das tecnologias da microeletrônica em todas as atividades hu-
manas, pela multiplicação das relações financeiras e pela revolução nos 
meios de transportes e nos sistemas de logística. O Espírito Santo mudou, o 
Brasil mudou e o mundo mudou. Os desafios de hoje são qualitativamente 
diferentes dos desafios de cinco décadas atrás.
3. AS MUDANÇAS SOCIAIS E ECONÔMICAS 
DE CINCO DÉCADAS – 1960/2010
Os dados populacionais fornecem uma primeira visão da magnitude 
da transformação porque passou o Espírito Santo. De 1960 para 2010, a 
33ESPíRITO SANTO • Economia e Política
população cresceu 147,8%, tendo passado de 1.418.348 para 3.514.952. A 
população rural foi reduzida em 45,5%, tendo sido de 1.014.887, em 1960, 
e 583.480, em 2010. A população urbana, por outro lado, teve um cresci-
mento explosivo de 626,6%, tendo passado de 403.461 para 2.931.472. Se 
em 1960 a população rural constituía a ampla maioria, 71,6%, em 2010 
este quadro se inverteu completamente, representando a população urbana 
83,4% da população total.
TABELA 1 - Espírito Santo: População Residente por Situação de Domicílio e 
Metropolitana - 1960-2010
1960 1970 1980 1991 2000 2010
População total 1.418.348 1.599.324 2.023.338 2.600.618 3.097.232 3.514.952
Urbana % 28,4 45,1 66,8 74,0 79,5 83,4
Rural % 71,6 54,9 33,2 26,0 20,5 16,6
Região Metropolitana da Grande Vitória
População total 216.274 418.273 753.959 1.136.842 1.438.596 1.687.704
% no ES 15,2 26,2 37,3 43,7 46,4 48,0
Municípios 
Vila Velha 55.587 123.742 203.401 265.586 345.965 414.586
Serra 9.192 17.286 82.568 222.158 321.181 409.267
Cariacica 39.608 101.422 189.099 274.532 324.285 348.738
Vitória 83.351 133.019 207.736 258.777 292.304 327.801
Guarapari 14.861 24.105 38.500 61.719 88.400 105.286
Viana 6.565 10.529 23.440 43.866 53.452 65.001
Fundão 7.110 8.170 9.215 10.204 13.009 17.025
Fonte: IBGE (1949-1980, 1951, 1967, 1973, 1991, 2000, 2010).
Esta dinâmica demográfica, como reflexo das mudanças econômicas 
ocorridas ao longo das cinco décadas, gerou um intenso processo de con-
centração populacional na Região Metropolitana da Grande Vitória, cujas 
taxas médias geométricas de crescimento anual foram sistematicamente 
superiores à média estadual e com diferenças marcantes. Segundo dados do 
IBGE e cálculos do IJSN, entre 1960 e 1970, a população da RMGV cresceu 
à taxa de 6,8% ao ano, contra 2,1% para o Espírito Santo. Entre 1970 e 
1980, esses índices foram de 6,07% e de 2,38%, respectivamente. Nas três 
décadas seguintes houve substancial redução das taxas de crescimento da 
população metropolitana, mas ainda assim se mantiveram superiores às 
taxas médias estaduais. Entre 1980 e 1991 as taxas de crescimento foram, 
respectivamente, de 3,8% e 2,31%. No período 1991/2000 se reduziram 
para 2,65% e 1,96% e na última década (2000/2010) passaram a 1,61% 
34 Cafeicultura & Grande Indústria
e 1,27%. Estes dados revelam uma situação animadora que é o menor 
ritmo de crescimento populacional do estado e principalmente da Região 
Metropolitana, havendo uma tendência de convergência de suas taxas. De 
qualquer forma o crescimento da população nas últimas cinco décadas fez 
com que a RMGV, que abrigava 15,2% da população estadual, em 1960, 
passasse, em 2010, a 48,0% da população total do estado. Estamos assim 
diante de uma metrópole de tamanho médio que apresenta problemas 
urbanos e sociais de significativa complexidade.
De fato, o projeto de desenvolvimento formulado nos anos 1960 de 
diversificação/modernização econômica sob a liderança do setor industrial 
foi muito bem sucedido. O PIB capixaba ao longo de cinco décadas cresceu 
acima do PIB brasileiro.
TABELA 2 - Taxa média de crescimento do PIB, ES e BR - 1960-2009
1960/70 1970/80 1980/90 1990/00 2000/06 2002/09
Espírito Santo 8,1 11,5 2,9 3,9 5,3 3,8
Brasil 7,7 10,3 2,0 2,4 3,7 3,4
Fonte: Elaboração de Sávio Caçador a partir de dados do Ipeadata (2009b) e IJSN.
A composição do PIB estadual evidencia o tamanho da transformação. 
O setor primário (agropecuária e pesca) respondia por 41,8% do PIB, em 
1960, e, em 2009, passou a 6,8%. O setor secundário (indústria) passou 
de 5,3 para 29,8%. O setor terciário (comércio e serviços) passou de 52,9% 
para 63,5%.
TABELA 3 - Espírito Santo: Composição Setorial do PIB - 1960-2009
Setores 1960 1970 1980 1990 2000 2002 2009
Agropecuária e pesca 41,8 20,8 14,7 6,0 8,8 8,2 6,8
Indústria 5,3 13,2 36,2 36,4 37,1 31,8 29,8
Comércio e serviços 52,9 66,1 49,1 57,6 54,1 60,1 63,5
Fonte: Elaboração de Sávio Caçador a partir de dados do Ipeadata e IJSN (2002 e 2009). 
O Espírito Santo teve, portanto, uma forte mudança estrutural. Transi-
tou de uma sociedade rural/agrícola para uma sociedade urbana/industrial.
O setor primário teve sua participação reduzida em função do forte 
crescimento industrial e dos serviços. Mas a agropecuária estadual não 
andou para trás, ao contrário, passou por dinâmico processo de diversifica-
ção de culturas e de melhoria de produtividade. O café continua sendo sua 
35ESPíRITO SANTO • Economia e Política
principal atividade, pois superada a crise dos anos 1960 houve a retomada 
do plantio, sobretudo do café conilon, e sucederam-se safras recordes, res-
pondendo, atualmente por 41% do PIB agrícola estadual. O Espírito Santo, 
no início dos anos 1960, era o quarto maior produtor nacional, tendo tido 
como safra recorde 2,3 milhões de sacas. Nos últimos anos, o Espírito Santo 
ascendeu ao posto de segundo maior produtor e em 2011 respondeu por 
27% da produção nacional, tendo tido a maior safra de sua história, 11,5 
milhões de sacas, sendo 2,7 milhões de sacas de café arábica (1 milhão de 
sacas de café de alta qualidade) e 8,8 milhões de sacas de conilon. Em 1965, 
a área ocupada com café era de aproximadamente 420 mil/ha e, em 2011, 
a área foi ampliada para 450 mil/ha, o que indica que a produtividade teve 
um aumento de 400%, tendo passado de 5,5 para 25,5 sacas por hectare. 
Esta evolução se deu principalmente em função do desenvolvimento, pelo 
Incaper, de espécies mais produtivas e da disseminação de tecnologia junto 
aos produtores rurais.
O café no Espírito Santo sempre foi uma atividade em expansão, 
com a única exceção dos anos sessenta quando houve a erradicação dos 
cafezais e a consequente queda das safras subsequentes. Desde meados 
da década de 1840, quando se iniciou o plantio de café no Espírito 
Santo, até os dias atuais, a cafeicultura sempre se expandiu, uma vez 
que se constitui em uma das melhores fontes de renda para os pequenos 
produtores rurais.Também a tradicional pecuária estadual, leiteira e de corte, passou 
um processo de modernização, embora em menor escala que a cafeicultu-
ra. Outras atividades foram introduzidas e desenvolvidas, como é o caso 
da cana de açúcar, fruticultura (abacaxi, banana, coco, goiaba, manga, 
maracujá, morango, uva, etc.), avicultura e silvicultura, principalmente o 
plantio de eucalipto.
O setor industrial foi onde ocorreu a maior mudança. Foi significati-
vo o crescimento da indústria extrativa (extração de rochas ornamentais, 
pelotização de minério de ferro e extração de petróleo e gás natural), dos 
serviços industriais de utilidade pública (energia elétrica e abastecimento 
d’água/saneamento) e da indústria da construção civil. Na indústria de 
transformação, tanto os segmentos tradicionais, processadores de matérias 
primas locais e produtores de bens de consumo, como novos segmentos 
36 Cafeicultura & Grande Indústria
produtores de commodities para exportação, apresentaram forte crescimen-
to. O Espírito Santo se especializou, no contexto nacional, na produção e 
exportação de commodities, a saber: café verde, rochas ornamentais, placas 
e chapas de aço, minério de ferro, pellets de minério de ferro, celulose de 
eucalipto e, nos últimos anos, em óleo bruto de petróleo.
O setor terciário (comércio e serviços) também ampliou sua parti-
cipação no PIB basicamente por dois motivos. O acelerado processo de 
urbanização levou ao crescimento destas atividades nos meios urbanos para 
atendimento direto à população consumidora e também se desenvolveram 
os serviços ligados ao comércio exterior, tais como os serviços portuários, 
transportes de cargas, serviços financeiros, etc.
Nos anos 1960 e 1970, o sistema de incentivos fiscais administra-
do pelo Geres teve importante papel na viabilização dos investimentos 
industriais dos segmentos industriais tradicionais. Mas, paralelamente a 
isto, foram realizados os investimentos nas grandes plantas industriais 
com capitais oriundos do Estado brasileiro e de grupos internacionais, 
cabendo destacar a implantação das unidades de pelotização da Vale, em 
associação com empresas estrangeiras; a planta de celulose da Fíbria, 
controlada por grandes grupos nacionais; das unidades de pelotização da 
Samarco, controlada pela Vale e por um grupo estrangeiro; e da unidade 
de placas e chapas de aço da ArcelorMittal Brasil, controlada pelo maior 
grupo siderúrgico do mundo.
O Sistema Fundap teve um desempenho modesto nas décadas de 1970 
e 1980, pois as importações no Brasil ainda eram submetidas a rigoroso 
controle administrativo e a elevadas tarifas, mecanismos de proteção ado-
tados com forma de garantir o mercado doméstico à produção nacional. 
Nos anos 70 a média de arrecadação anual do sistema foi de 20,7 milhões 
de dólares, valor que pouco se expandiu na década de 80 quando foi de 
23,7 milhões de dólares.
Nas duas últimas décadas o sistema Fundap apresentou um signi-
ficativo crescimento e as importações assumiram um papel grande rele-
vância no desenvolvimento estadual, com a multiplicação das atividades 
de comércio exterior e a construção de uma rede logística de suporte às 
suas operações.
37ESPíRITO SANTO • Economia e Política
TABELA 4 - Espírito Santo: Arrecadação de ICMS Fundap (Importações) - 1971/2000
(US$ mil)
Ano Valor Ano Valor Ano Valor
1971 1.336,8 1981 45.531,7 1991 50.938,0
1972 7.308,7 1982 33.063,5 1992 55.933,2
1973 13.737,2 1983 18.513,0 1993 59.616,3
1974 19.624,9 1984 16.766,5 1994 245.649,6
1975 9.344,2 1985 8.069,0 1995 535.280,9
1976 13.516,8 1986 8.923,2 1996 431.606,2
1977 13.773,6 1987 19.625,6 1997 658.912,9
1978 16.705,6 1988 19.899,8 1998 521.505,3
1979 41.890,9 1989 32.229,9 1999 301.755,0
1980 70.570,8 1990 34.419,5 2000 380.165,4
Média Anual 20.781,0 Média Anual 23.704,2 Média Anual 324.136,3
Fonte: Os valores do ICMS - FUNDAP, no período 1971-1993, foram extraídos Pereira (1998). Os demais 
dados foram calculados por Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado do Espírito 
Santo [2000?].
Na década de 1990 o valor anual médio da arrecadação do Fundap 
passou a 324,1 milhões de dólares, quase treze vezes maior que na década 
anterior. O bom desempenho no período mais recente se deu em função 
de mudanças na política econômica e nas relações da economia brasileira 
com a economia global, que possibilitaram uma significativa expansão do 
comércio exterior brasileiro (exportações e importações), cabendo desta-
car: a partir de 1990, a abertura econômica e a liberalização comercial; de 
1994 a 1999 com o Plano Real e a paridade cambial de R$ 1 por US$ 1; e 
nos anos mais recentes, a valorização do Real frente ao dólar em virtude 
da boa performance da economia brasileira numa realidade global de ex-
pansão acelerada dos países emergentes e crise dos países desenvolvidos. 
Nestes três momentos conjunturais, as condições econômicas brasileiras 
foram amplamente favoráveis às importações, o que possibilitou um ex-
traordinário crescimento das operações realizadas com o apoio do sistema 
Fundap, que financiava as empresas importadoras e viabilizou o aumento 
em grande escala do volume de transações através dos portos capixabas. 
Estima-se que o complexo de comércio exterior instalado no Espírito Santo 
seja constituído por 500 empresas operadoras, que empregam de forma di-
reta aproximadamente 50 mil trabalhadores, sendo muitos especializados, 
e responda pela geração de 7% do PIB estadual.
Na primeira década do século XXI, a atividade de prospecção, extra-
ção e processamento de petróleo e gás natural, que foi iniciada no Espírito 
38 Cafeicultura & Grande Indústria
Santo em 1957 e teve a descoberta de seu primeiro campo com produção 
comercial em 1969, sofreu um grande impulso com novas descobertas na 
plataforma continental, inclusive na camada do pré-sal. Segundo a Agência 
Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP as reservas 
totais de petróleo no Brasil atingiram, em fins de 2010, um total de 28,5 
bilhões de barris, sendo que as do Espírito Santo atingiram 2,7 bilhões, o 
equivalente a 9,5% do total e a segunda maior reserva brasileira, só superada 
pelo Rio de Janeiro, que responde por 82,9% das reservas com 23,6 bilhões 
de barris. Também em gás natural, o Espírito Santo tem uma posição de 
destaque, pois detém a terceira maior reserva (13% das reservas nacionais), 
atrás do Rio de Janeiro e do Amazonas.
O Espírito Santo já se destaca também na produção de hidrocarbone-
tos, ocupando a segunda posição em petróleo e em gás natural. Segundo 
a ANP, em fevereiro de 2012 o Rio de Janeiro produziu 74,6% do total 
nacional de 2,2 milhões de barris por dia, enquanto o Espírito Santo, em 
segundo lugar, produziu 10,8% ou 343 mil barris/dia. Em gás natural, o 
estado produziu 10,8 milhões de m³, o equivalente a 16,1% da produção 
nacional de 67,1 milhões de m³.
A indústria do petróleo e gás é uma nova realidade emergente, que 
apresenta boas perspectivas de crescimento nas próximas décadas, consti-
tuindo-se no mais importante vetor de crescimento da economia estadual.
Esta mudança estrutural que passou a sociedade e a economia do 
Espírito Santo no curto espaço de tempo de cinco décadas, se por um lado 
mostrou grande dinamismo econômico, por outro foi causadora de graves 
problemas sociais.
O acelerado crescimento e a grande movimentação de população, por 
meio de fluxos migratórios do interior e dos estados vizinhos para o espaço 
urbano, formaram rapidamente um grande centro urbano marcado por sérios 
problemas sociais e urbanos. A Região Metropolitana da Grande Vitória, 
composta pelos municípios de Cariacica, Fundão, Guarapari, Serra, Viana, 
Vila Velha e Vitória, teve sua população aumentada em 950% entre 1960 
e 2010, pois passou de 169.647 para 1.687.704 habitantes, representando 
48% da população estadualem 2010. Do meio rural e de cidades do interior 
capixaba veio aproximadamente um terço do contingente populacional da 
39ESPíRITO SANTO • Economia e Política
Grande Vitória e de outros estados brasileiros também se formaram fluxos 
migratórios de relevância, que se dirigiram ao estado, atraídos pela possi-
bilidade de emprego nos grandes empreendimentos industriais.
Assim, constituiu-se uma metrópole de porte médio num curto espaço 
de tempo, criando-se uma aglomeração de pessoas que deixaram as suas 
raízes sociais nos seus locais de origem, no interior do estado ou em outras 
localidades de estados vizinhos, especialmente, Minas Gerais, Bahia e Rio 
de Janeiro. O afastamento de suas raízes e a inserção em novas regiões de 
domicílio da Região da Grande Vitória levou à formação de uma nova so-
ciedade sem relações estruturadas e de baixa solidariedade social. Somava-se 
a isto a falta de emprego para todos e as carências sociais decorrentes da 
falta de renda mínima para suportar as necessidades básicas de cada família. 
Destas condições resultaram vários problemas sociais, tais como: habitações 
inadequadas, condições precárias de saneamento, de transporte coletivo e 
de atendimento à saúde, além da educação pública com oferta insuficiente e 
de baixa qualidade. Instalou-se, também, um ambiente propício à violência 
e ao comércio e consumo de drogas de forma descontrolada e disseminada.
Ao longo das décadas de 1960, 1970 e 1980, o conglomerado urbano 
foi se expandindo e os problemas sociais se multiplicando. Com o resta-
belecimento da democracia no país, a partir de 1982, e com as eleições de 
governadores e de prefeitos em 1984, formou-se o ambiente propício para 
que, por meio do voto popular, indivíduos e redes criminosas pudessem 
acessar o Poder Político no Executivo e principalmente no Legislativo. A 
partir da ocupação estratégica destas posições, os tentáculos do crime or-
ganizado foram expandidos para o Poder Judiciário, o Ministério Público 
e o Tribunal de Contas. Na década de 1990 até 2002 o Espírito Santo teve 
suas instituições públicas submetidas ao crime organizado e mergulhado 
nos desmandos e na corrupção. Foram anos difíceis e de muita angústia 
para a população.
As instituições públicas foram desestruturadas e perderam eficácia 
em suas ações e a qualidades dos serviços públicos essenciais, de saúde, 
educação e segurança pública, foram deterioradas penalizando a maioria 
da população de baixa renda, que deles é usuária.
40 Cafeicultura & Grande Indústria
As rápidas mudanças econômicas e sociais trouxeram também im-
pactos negativos para o meio ambiente. Os serviços de saneamento básico 
(drenagem, abastecimento de água e coleta/tratamento de esgoto) não 
acompanharam a urbanização, áreas de risco com alta declividade e de 
proteção ambiental e os mangues foram ocupados com submoradias, a 
poluição do ar por partículas em suspensão se tornou um problema coti-
diano de grandes dimensões e a coleta e disposição dos resíduos sólidos se 
tornaram desafios de crescente magnitude.
4. A SUPERAÇÃO DOS PROBLEMAS TRAZIDOS 
PELA URBANIZAÇÃO ACELERADA, O 
CRESCIMENTO INDUSTRIAL E O CONTROLE 
DO ESTADO PELO CRIME ORGANIZADO
A abertura do século XXI se deu com um cenário de amplas possi-
bilidades de crescimento das principais atividades econômicas estaduais, 
mas que, por outro lado, apresentava graves problemas sociais e precárias 
condições de vida de significativo contingente da população, sobretudo 
população localizada na periferia dos centros urbanos. Agregava-se a este 
cenário dual o domínio das instituições públicas pelo chamado crime 
organizado e por relações corrompidas entre agentes públicos e privados, 
que drenavam os crescentes recursos públicos para alimentar os canais 
da corrupção, reduzindo a capacidade do setor público de realização de 
investimentos em infraestrutura e de provimento à população de baixa 
renda de serviços públicos essenciais de qualidade, sobretudo saneamento 
básico, saúde, educação e segurança pública.
O desânimo da população era muito grande. A autoestima do capixaba 
encontrava-se em baixa. Parecia impossível superar aquele estado de coisas, 
especialmente o domínio do aparelho de Estado pelo crime organizado. 
Mas, a sociedade capixaba, mais uma vez, deu mostras de sua capacidade 
de superar dificuldades. Apenas que, nesta conjuntura, se tratava de supe-
rar problemas de natureza política e social, pois a economia desde quatro 
décadas anteriores vinha demonstrando capacidade continuada de cresci-
41ESPíRITO SANTO • Economia e Política
mento e o cenário para a primeira década do século XXI era extremamente 
animador, sobretudo tendo em vista o crescimento dos países emergentes, 
grandes importadores de commodities, e a descoberta e exploração de 
petróleo e gás natural.
A tarefa primeira a ser realizada era o resgate do aparelho de Estado 
do controle do crime organizado e a consequente adoção de critérios éticos 
na gestão pública. Assim, seria possível restabelecer o controle sobre as 
finanças públicas, resgatar a capacidade de investimento, estruturar polí-
ticas sociais em favor da população de menor nível de renda, retomar os 
investimentos em infraestrutura e estabelecer um ambiente ético e favorável 
ao investimento privado.
Esta superação dependia de amplo pacto social e político que unifi-
casse as ações das mais diversas forças sociais, ou seja, lideranças políticas 
comprometidas com a ética, lideranças empresariais, lideranças religiosas, 
lideranças dos trabalhadores e lideranças populares. Vale dizer, era preciso 
uma ampla união da população estadual.
Este pacto foi sendo construído gradativamente nos primeiros anos do 
século XXI e em 2002 foi consolidado na eleição de governador. Conquis-
tado o Governo, ao longo da década foi posta em prática uma estratégia 
gradual e continuada de resgate dos órgãos públicos para uma gestão ética 
e eficaz na prestação de serviços à população. Assim, foi possível reforçar 
as relações de confiança da população no Governo e nos diversos órgãos 
públicos. Por outro lado, num processo combinado de acelerado crescimen-
to econômico, a partir de volumosos investimentos públicos e privados, e 
de mecanismos de melhoria da distribuição de renda, como o Programa 
Bolsa Família, a recuperação do valor do salário mínimo e a expansão da 
oferta e melhoria da qualidade dos serviços públicos essenciais, foi possível 
reduzir os níveis de indigência e de pobreza de ampla parcela da população. 
Houve significativa redução das desigualdades sociais como decorrência do 
aumento da renda familiar em todos os segmentos sociais, sendo que entre 
2003e 2009 o índice de indigência no estado se reduziu de 9,1% para 3,6% 
e o índice de pobreza de 29,4% para 15,0%.
A capacidade de investimento do setor público é outra importante con-
quista dos últimos anos. Segundo dados da Secretaria Estadual da Fazenda 
42 Cafeicultura & Grande Indústria
em 2003 o estado investiu R$ 108,9 milhões, o equivalente a 2,1% do seu 
orçamento, e em 2010 houve R$ 1.593,1 bilhão de investimento, o que 
representou 13,4% da receita estadual. Da mesma forma e em proporções 
semelhantes os municípios tiveram suas receitas e capacidades de investi-
mentos ampliadas. Segundo a revista Finanças dos Municípios Capixabas 
(Aequus, 2004 e 2010), o investimento do conjunto dos municípios passou 
de R$ 274,7 milhões em 2003, equivalente a 12,9 da receita total, para R$ 
1.013,5 bilhões em 2010, correspondendo a 15% da receita total.
TABELA 5 - Evolução dos investimentos públicos estaduais - 2003/2011
(R$ milhão)
Anos Receita estadual¹ Investimentos %
2003 5.258,7 109,9 2,1
2004 6.305,4 192,3 3,0
2005 7.810,9 434,3 5,6
2006 8.556,8 727,1 8,5
2007 10.006,0 757,8 7,6
2008 11.102,6 911,3 8,2
2009 10.888,8 1.178,0 10,8
2010 11.928,8 1.593,1

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