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Contribuições da Clínica da Atividade para o campo da segurança no trabalho Resenha O presente artigo foi publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional em junho de 2007 e foi escrito por Maria Elizabeth Antunes Lima. A autora possui graduação em Psicologia e é mestre em Administração, ambas pela Universidade Federal de Minas Gerais. E ainda, é doutora em Sociologia do Trabalho pela Universidade de Paris IX (Paris-Dauphine) e pós-doutora em Clínica da Atividade pelo Conservatoire National des Arts et Métiers - CNAM (Paris-França). Esta última, é a mesma instituição onde Yves Clot leciona e onde desenvolveu seu método da Clínica da Atividade. Lima atualmente é professora titular da UFMG, onde trabalhou com pesquisa na área de ergonomia, psicopatologia no trabalho e segurança do trabalho. Neste artigo a autora se propõe a fazer uma breve exposição sobre o método desenvolvido por Yves Clot, chamado Clínica da atividade. Ela inicia mencionando os teóricos que serviram de referência para o trabalho de Clot, a saber, Oddonne, Vygotski, Leontiev e Luria, além de M. Bakhtin e H. Wallon, I. Meyerson e L. Le Guillant. Ela ressalta que o autor apropriou-se dessas obras propondo uma abordagem original, da qual Lima aborda no presente texto, três dos seus conceitos: o real da atividade, o gênero de atividade e o estilo da ação. O real da atividade, refere-se à atividade do indivíduo sobre si mesmo. Ela é uma espécie de filtro subjetivo que proporciona um sentido para a vida do sujeito bem diverso daquele que lhe depositam as atividades de concepção. É o que pode ser feito mas não se faz. Gênero de atividade trata da cultura como prática. Definido como um conjunto de instrumentos coletivamente construído e que se encontra no interior da atividade individual. São técnicas, formas de fazer estabelecidas, uma reorganização do métier pelo coletivo e, dessa forma, pode ser compreendido como a parte subentendida da atividade, um estoque de possibilidades conhecido somente por aqueles que participam da mesma situação. Trata-se, portanto, de um instrumento coletivo da atividade individual. São regras e normas não escritas sobre as relações entres homens. A autora adverte, que segundo Clot, que é a atividade que explica o gênero e que é na atividade , ao lidar com os obstáculos, que o gênero é transmitido. É um aprendizado indireto, que se dá quando surgem as dificuldades e se tem de lidar com elas. Que o gênero não pode ser percebido como algo pronto, como se fosse um modelo, mas como algo em permanente construção. É do gênero que surge o estilo da ação. Quando o sujeito varia entre o aceitável e o inaceitável no trabalho, na adaptação dos recursos para sua atividade real. A autora aponta, no entanto, para uma tendência à degeneração do gênero. As políticas de demissão nas empresas,cada vez mais frequentes, colocando os trabalhadores sempre na expectativa de um eminente desemprego, além da implementação de programas desconsiderando a perspectivas do trabalhador, são apontados como fatores que estariam “amputando a história coletiva”, levando o trabalhador a um isolamento em suas atividades. O que propicia o aumento dos erros, uma vez que o coletivo é um fator de proteção, tanto repassando saberes, quanto impondo limites. Tudo isso, conclui a autora, leva ao aumento dos acidentes no trabalho. A autora alerta que no Brasil, o aumento das terceirizações, que trazem lucros para empresas, mas tiram direitos dos trabalhadores, está diretamente relacionado, conforme pesquisas, ao aumento dos acidentes no trabalho. Porém, simplesmente as condições mais precárias oferecidas aos terceirizados não explicam esse fenômeno. A contribuição de Clot, com a noção de gênero de atividades , traz uma nova explicação pra o problema. E para ilustrar essa teoria a autora traz um estudo feito em um dos terminais da Petrobrás. Esse estudo começa apontando o aumento das demissões nos terminais, simultâneo à intensificação do emprego de mão de obra terceirizada. E esta condição se deu de forma precária, levando a consequências nefastas, como o aumento da desigualdade, da exposição ao risco e a dificuldade de vínculo entre os funcionários, diminuindo o acúmulo de conhecimentos e a consolidação de compromisso. O estudo indica que o propósito da empresa é copiar o modelo de eficácia das refinarias dos EUA, que conta com um número mínimo possível de pessoal para realizar a atividade. No entanto, a Petrobrás não conta com um aparato tecnológico similar ao dos americanos, para dar suporte à essa redução do efetivo. O resultado é o aumento da carga de trabalho, levando a um desgaste pessoal e diminuição da segurança. A pesquisa concluiu que a diminuição do efetivo da empresa repercutiu seriamente na segurança e na saúde do trabalhador. O aumento de acidentes graves na Petrobrás após a implementação da política de redução de efetivo, indicia uma ligação causal operando. É evidente nesse caso a degeneração do gênero da atividade, que tem se perdido na alta rotatividade das equipes de trabalho. Tanay Bernadete da Silva, graduanda de Psicologia pela Universidade Federal de São João Del Rei.
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