Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 PRINCÍPIOS E BASESPARA A PRÁTICAMÉDICA Arte clínica é levar para cada paciente a ciência médica.Esse é o objetivo de uma medicina de excelência. Medicina é o desenvolvimento de um método de diagnóstico e prognóstico de situações ligadas ao processo saúde e doença para que seja possível intervir depois. A bioética possui 4 princípios: beneficência, não maleficência, justiça e autonomia. A medicina de excelência só é possível se oexame clínico for excelente. MÉTODO CLÍNICO ► EXAME CLÍNICO O exame clínico é parte fundamental do tripé no qual se apoia a medicina moderna. Os outros 2 componentes deste tripé são os exames laboratoriais e os equipamentos mecânicos ou eletrônicos. Estes 2 componentes dependem dos dados clínicos para se transformarem em informações aplicáveis no tratamento do paciente. O método clínico é o único que permite uma visão humana dos problemas do pacientes. Suas principais características são flexibilidade e grande abrangência, tais características são fatores que costumam limitar o valor dos outros métodos. Por meio do método clínico é possível atribuir importância a fatores imponderáveis ou não mensuráveis, sempre presentes nas decisões diagnósticas e terapêuticas. Somente o método clínico com sua flexibilidade e abrangência consegue encontrar as chaves que personalizam cada diagnóstico realizado. Isso ocorre porque “as doenças podem ser semelhantes, mas os pacientes nunca serão exatamente iguais”. ● COMPONENTES DO EXAME CLÍNICO O exame clínico engloba a anamnese e o exame físico, os quais compreendem partes que se completam reciprocamente. Os elementos presentes na anamnese são: - Identificação - Queixa principal - História da doença atual - Interrogatório sintomatológico -Antecedentes pessoais e familiares - Hábitos de vida - Condições socioeconômicas e culturais O exame físico pode ser subdividido em: - Exame físico geral -Exame dos órgãos ou sistemas ● DIVISÃO DA SUPERFÍCIE CORPORAL A superfície do corpo humano pode ser dividida da seguinte maneira: I. Regiões da cabeça: 1. Frontal 2. Parietal 3. Occipital 4. Temporal 5. Infratemporal 2 II. Regiões da face: 6. Nasal 7. Bucal 8. Mentual 9. Orbital 10. Infraorbital 11. Da bochecha 12. Zigomática 13. Parotideomassetérica III. Regiões cervicais: 14. Cervical anterior 15. Esternocleidomastóidea 16. Cervical lateral 17. Cervical posterior IV. Regiões torácicas: 18. Infraclavicular 19. Mamária 20. Axilar 21. Esternal V. Regiões do abdome 22. Hipocôndrio 23. Epigástrio 24. Lateral (flanco) 25. Umbilical 26. Inguinal (fossa ilíaca) 27. Púbica ou hipogástrico VI. Regiões dorsais 28. Vertebral 29. Sacral 30. Escapular 31. Infraescapular 32. Lombar 33. Supraescapular 34. Interescapulovertebral VII. Região perineal 35. Anal 36. Urogenital VIII. Regiões do membro superior 37. Deltóidea 38. Braquial anterior 39. Braquial posterior 40. Cubital anterior 41. Cubital posterior 42. Antebraquial anterior 43. Antebraquial posterior 44. Dorso da mão 45. Palma da mão IX. Regiões do membro inferior 46. Glútea 47. Femoral anterior 48. Femoral posterior 49. Genicular anterior 50. Genicular posterior 51. Crural anterior 52. Crural posterior 53. Calcânea 54. Dorso do pé 55. Planta do pé 3 ANAMNESE Anamnese é a parte mais importante da medicina. Objetivos da anamnese: - Conhecer, por meio da identificação, os determinantes epidemiológicos do paciente que influenciam seu processo saúde-doença. - Fazer a história clínica, registrando, detalhada e cronologicamente, o problema atual de saúde do paciente. - Avaliar, de maneira detalhada, os sintomas de cada sistema corporal. - Registrar e desenvolver práticas de promoção da saúde. - Avaliar o estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo os fatorespessoais, familiares e ambientais que influenciam seu processo saúde-doença. - Conhecer os hábitos de vida do paciente, bem como suas condições socioeconômicase culturais. A história clínica é resultado de uma conversa com objetivo explícito. ► ELEMENTOS COMPONENTES DA ANAMNESE ● IDENTIFICAÇÃO A identificação é o perfil sociodemográfico do paciente que permite interpretação de dados individuais e coletivos. A data da anamnese é importante e, quando as condições clínicas modificam-se com rapidez, convém acrescentar a hora. É obrigatório conter: - Nome - Idade - Sexo/ Gênero - Cor/etnia: Como no Brasil há grande mistura de etnias, prefere-se registrar a cor da pessoa. - Estado civil - Profissão - Local de trabalho: Não basta registrar a ocupação atual. Faz-se necessário indagar sobre outras atividades exercidas em épocas anteriores. Por conta disso, nos prontuários a profissão e local de trabalho vão na identificação, já ocupação atual e ocupações anteriores nos hábitos de vida. Em certas ocasiões, existe uma relação direta entreo trabalho do indivíduo e a doença que lhe acometeu. Enquadram-se nessa categoria as chamadas doenças profissionaise os acidentes de trabalho. - Naturalidade: Local de nascimento - Procedência: Geralmente refere-se à residência anterior do paciente. - Residência: É a residência atual. - Nome da mãe: Serve mais para diferenciar pacientes homônimos. - Nome do responsável, cuidador e/ou acompanhante - Religião ● QUEIXA PRINCIPAL É uma afirmação breve e espontânea, geralmente um sinalou um sintoma. ● HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL É um registro cronológicoe detalhado do motivo que levou o paciente a procurarassistência médica, desde o seu início até a data atual. É a parte principal da anamnese. Determinar sintoma-guia (mais antigo/ mais salientado/ “queixa principal”) → Época de início do sintoma→ Investigar a maneira como evoluiu o sintoma. A análise do sintoma-guia e dos outros sintomas terminacom a obtenção de informações sobre como eles estão no presentemomento. 4 A meta almejada é obter uma história que tenha início, meio e fim. Deve-se fazer uma história que tenha o sintoma-guia como espinha dorsal, enquanto os outros sintomas se articulam com ele para formar um conjunto compreensível e lógico. Esquema Para Análise De Um Sintoma - Início Deve ser caracterizdo com relação à época de aparecimento Se foi de ínicio súbito ou gradativo Se teve fator desencadeante ou não “Quando surgiu?” / “Como ela começou” - Características do sintomas Definir localização, duração, intensidade, frequência, tipo, ou seja, características próprias a depender do sintoma. - Fatores de melhora ou piora Definir quais fatores melhoram ou pioram o sintoma, como, por exemplo, fatores ambientais, posição, atividade física ou repouso, alimentos ou uso de medicamentos. - Relação com outras queixas Registrar se existe alguma manifestação ou queixa que acompanha o sintoma, geralmente relacionado com o segmento anatômico ou funcional acomentido pelo sintoma. - Evolução Registrar o comportamento do sintoma ao longo do tempo, relatando modificações das características e influência de tratamentos efetuados. - Situação atual Registrar como o sintoma está no momento da anamnese. ● INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO Também chamado de interrogatório de sistemas. É um complemento da história atual. Documenta a existência ou ausência de sintomas comuns relacionados com cada um dos principais sistemas corporais. A principal utilidade prática do interrogatório sintomatológicoreside no fato de permitir ao médico levantar possibilidadese reconhecer enfermidades que não guardam relaçãocom o quadro sintomatológico registrado na HDA. Deve-se avaliar o passado e o presente. Toda queixa deve ser objeto de investigação. O esquema a ser seguido é: • Sintomas gerais Febre: Sensação de aumento da temperatura corporal acompanhadaou não de outros sintomas (cefaleia, calafrios, sedeetc.). Astenia: Sensação de fraqueza. Alterações do peso: Especificarperda ou ganho de peso, quantosquilos, intervalo de tempo e motivo (dieta, estresse, outrosfatores). Sudorese. Eliminação abundante de suor. Generalizada oupredominante nas mãos e pés. Calafrios: Sensação momentânea de frio com ereção de pelos earrepiamento da pele. Relação com febre. Cãibras: Contrações involuntárias de um músculo ou grupomuscular. 5 • Pele e fâneros Alterações da pele: Cor, textura, umidade, temperatura, sensibilidade,prurido, lesões. Alterações dos fâneros. Queda de cabelos, pelos faciais em mulheres,alterações nas unhas. Promoção da saúde. Exposição solar (hora do dia, uso de protetorsolar); cuidados com pele e cabelos (bronzeamento artificial,tinturas). • Cabeça e pescoço CRÂNIO, FACE E PESCOÇO Dor: Localizar o mais corretamente possível a sensação dolorosa. A partir daí, indagasse sobre as outras característicassemiológicas da dor. Alterações do pescoço. Dor, tumorações, alterações dos movimentos, pulsações anormais. • Tórax OLHOS Diminuição ou perda da visão. Uni ou bilateral, súbita ou gradual, relação com a intensidade da iluminação, visãonoturna, correção (parcial ou total) com óculos ou lentes de contato. OUVIDOS Sensação de estar girando em torno dos objetos(vertigem subjetiva) ou os objetos girando em tomo de si (vertigem objetiva). Dor ocular e cefaleia. Bem localizada pelo paciente ou de localização imprecisa no globo ocular. Sensação de corpo estranho. Sensação desagradável quase sempre acompanhada de dor. Prurido. Sensação de coceira. Queimação ou ardência. Acompanhando ou não a sensação dolorosa. Lacrimejamento. Eliminação de lágrimas, independentemente do choro. Sensação de olho seco. Sensação de secura, como se o olho não tivesse lágrimas. Xantopsia, iantopsia e cloropsia. Visão amarelada, violeta e verde, respectivamente. Diplopia. Visão dupla, constante ou intermitente. Fotofobia. Hipersensibilidade à luz. Nistagmo. Movimentos repetitivos rítmicos dos olhos, tipo de nistagmo. Escotomas. Manchas ou pontos escuros no campo visual, descritos como manchas, moscas que voam diante dos olhos oupontos luminosos. Secreção. Líquido purulento que recobre as estruturas externas do olho. Vermelhidão. Presença de congestão de vasos na esclerótica. Alucinações visuais. Sensação de luz, cores ou reproduções de objetos. 6 • Abdome • Sistema geniturinário • Sistema hemolinfopoético • Sistema endócrino • Coluna vertebral, ossos, articulações e extremidades • Músculos • Artérias, veias, linfáticos e microcirculação • Sistema nervoso • Exame psíquico e avaliação das condições emocionais. ● ANTECEDENTES PESSOAIS E FAMILIARES └ ANTECEDENTES PESSOAIS Considera-seavaliação do estado de saúde passado e presente do paciente, conhecendo fatores pessoais e familiares queinfluenciam seu processo saúdedoença. Às vezes, uma hipótese diagnóstica leva o examinador a uma indagação mais minuciosa de algum aspecto da vidapregressa. Antecedentes pessoais fisiológicos A avaliação dos antecedentes pessoais fisiológicos inclui os seguintes itens: gestação e nascimento, desenvolvimento psicomotor e neural e desenvolvimento sexual. Antecedentes pessoais patológicos Doenças sofridas pelo paciente, alergia, cirurgias, traumatismo, transfusões sanguíneas, história obstétrica, paternidade (número de filhos), imunizações. Medicamentos em uso. └ ANTECEDENTES FAMILIARES Os antecedentes começam com a menção ao estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do paciente. Se for casado,inclusiveo cônjuge e, se tiver filhos, estes são referidos. Não se esquecer dos avós, tios e primos paternos e maternos dopaciente. Se tiver algum doente na família, esclarecer a natureza da enfermidade. Em caso de falecimento, indagar a causa do óbito e a idade em que ocorreu. Quando o paciente é portador de uma doença de caráter hereditário (hemofilia, anemia falciforme, rins policísticos,erros metabólicos), torna-seimprescindível um levantamento genealógico mais rigoroso e, nesse caso, recorre-se àstécnicas de investigação genética. ● HÁBITOS DE VIDA ◗Alimentação No exame físico, serão estudados os parâmetros para avaliar o estado de nutrição do paciente; todavia, os primeiros dadosa serem obtidos são os hábitos alimentares do doente. Toma-secomo referência o que seria a alimentação adequada para aquela pessoa em função da idade, do sexo e dotrabalho desempenhado. Induz-seo paciente a discriminar sua alimentação habitual, especificando, tanto quanto possível, o tipo e a quantidadedos alimentos ingeridos – é o que se chama anamnese alimentar. Deve-se fazer uma avaliação quantitativa e qualitativa. 7 ◗ Ocupações atual e anteriores Obter informaçõessobre a natureza do trabalho desempenhado, com que substânciasentra em contato, quais as características do meioambiente e qual o grau de ajustamento ao trabalho. Os dados relacionados com este item costumam ser chamados história ocupacional. ◗ Atividades físicas ◗ Hábitos. Consumo de tabaco: Importante perguntar o quê a pessoa fuma,quantidade, frequência, duração do vício; abstinência (se já tentou parar de fumar). Consumo de bebida alcoólica: perguntar sobre o tipo de bebida e a quantidadehabitualmente ingerida, frequência, duração do vício; abstinência (se já tentou parar de beber). CAGE → C = Cut down: necessidade de diminuir o consumo de bebida alcoólica A = Annoyed: sentir-se incomodado por críticas à bebida G = Guilty: sensação de culpa ao beber E = Eye-opener: necessidade de beber no início da manhã para “abrir os olhos”, ou seja, para sentir-se em condições de trabalhar Uso de anabolizantes e anfetaminas Uso de drogas ilícitas ● CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS E CULTURAIS As condições socioeconômicas e culturais avaliam a situação financeira, vínculos afetivos familiares, filiação religiosa ecrenças espirituais do paciente, bem como condições de moradia e grau de escolaridade. DOR A dor é nosso mecanismo básico de defesa. Em primeirolugar, porque surge antes que ocorra uma lesão grave, comoquando se percebe um calor excessivo. Segundo, porque a dor serve como base parase aprender a evitar objetos ou situações com os quais ou nasquais uma lesão possa ocorrer posteriormente.Em terceirolugar, a dor causada por lesões de articulações, infecções abdominais,além de outras doenças, impõe limites na atividade ouprovoca a inatividade e o repouso, essenciais para a recuperaçãonatural do organismo doente. Mas há aquelas dores que não possuem nenhum propósito. O oposto à dor, ou seja, a falta de sensibilidade dolorosaque também pode ocorrer, é um fator limitante de sobrevida. ► ANATOMIA DA DOR ● TRANSDUÇÃO É o mecanismo de ativação dos nociceptores, fenômeno queocorre pela transformação de um estímulo nóxico - mecânico,térmico ou químico - em potencial de ação. 8 Os nociceptores nada mais são do que terminações nervosaslivres de fibras mielínicas finas (A-delta ou III) sensíveisaos estímulos mecânicos e/ ou térmicos nóxicos, ou amielínicas(C ou IV), sensíveis aosestímulos citados e aos químicos(nociceptores C polimodais). No ser humano, a estimulação isoladade fibras A-delta cutâneas produz dor em pontada, a defibras C cutâneas, dor em queimação, e a de fibras A-delta e Cmusculares, dolorimento (aching pain) ou cãibra. ● TRANSMISSÃO É o conjunto de vias e mecanismos que possibilita que oimpulso nervoso, gerado ao nível dos nociceptores,seja conduzidopara estruturas do sistema nervoso central comprometidascom o reconhecimento da dor. As fibras nociceptivas (A-delta e C), oriundas da periferia,constituem os prolongamentos periféricos dos neurôniospseudounipolares situados nos gânglios espinais e de algunsnervos cranianos (trigêmeo, principalmente, facial, glossofaríngeoe vago). As fibras nociceptivas (Adelta e C), oriundas da periferia, constituem os prolongamentos periféricos dos neurônios pseudounipolaressituados nos gânglios espinais e de alguns nervos cranianos (trigêmeo, principalmente, facial, glossofaríngeo e vago). Aquelas provenientes de estruturas somáticas cursam por nervos sensoriais ou mistos e apresentam uma distribuição dermatomérica. Já as provenientes das vísceras cursam por nervos autônomos simpáticos e parassimpáticos. Os prolongamentos centrais dos neurônios pseudounipolaresadentram a medula espinal (ou o tronco cerebral) sobretudopela raiz dorsal (porção ventrolateral), mas tambémpela raiz ventral, na qual se bifurcam em ramos ascendente edescendente, constituindo o trato dorsolateral ou de Lissauer. Tais ramos fazem sinapse com neurônios do corno dorsal. Dos neurônios do corno dorsal originam-se as vias nociceptivas,que podem ser divididas em dois grupos principais: - Vias do grupo lateral: quase totalmente cruzadas e representadas pelos tratos neoespinotalâmico( espinotalâmico lateral), de longe o maisconhecido, neotrigeminotalâmico, espinocervicotalâmicoe sistema pós-sináptico da coluna dorsal, terminam, predominantemente,nos núcleos talâmicos ventrocaudaleporção posterior do núcleo ventromedial, de ondepartem as radiações talâmicas para o córtex somestésico, orbitofrontal e insular. - Vias do grupo medial:parcialmentecruzadas, incluem os tratos paleoespinotalâmico, paleotrigeminotalâmico, espinorreticular e espinomesencefálicoe sistema ascendente multissináptico proprioespinal.Essas vias podem terminar direta ou indiretamente no tálamo medial,após sinapse na formação reticular do tronco cerebral ena substância cinzenta periaquedutal, de onde partem asvias reticulotalâmicas (emitem colaterais para o sistema límbico e para a substância cinzenta periventricular). Dotálamo medial partem radiações difusas para todo o córtex cerebral. Independentemente de sua origem (somática ou visceral),as fibras nociceptivas parecem trafegar no sistema nervosocentral pelas mesmas vias, cursando, em sua maioria,pelo quadrante anterolateral da medula espinal. Tem uma via exclusiva para a condução da dor visceral, localizada na porção mais anterior e medial do funículo posterior. Os nervos viscerais são extremamente ramificados (um mesmo nervo participa da inervação de diversas vísceras). Os aferentes nociceptivos viscerais e somáticos são com certa frequência bilaterais e não unilaterais. Há um número relativamente pequeno de aferentes viscerais (apenas 10% das fibras da raiz dorsal), além disso, é proporcionalmente elevado o número de fibras C (condução lenta) nos nervos viscerais (1 fibra A para 10 fibras C; na raiz dorsal, tal proporção é de 1 para 2), somado a isso há a chegada dos aferentes de uma mesma víscera em múltiplos segmentos medulares, estas características justificam a baixa precisão da dor visceral tanto em termos de localização como de qualificação. ● MODULAÇÃO Além de vias e centros responsáveis pela transmissão da dor, há também os responsáveis por sua supressão. As vias modulatórias são ativada pelas nociceptivas. 9 As fibras amielínicas (C) e mielínicas finas (A-delta) conduzem sensibilidade termoalgésica, enquanto as fibras mielínicas grossas (A-alfa e A-beta) conduzem as demais formas de sensibilidade (tato, pressão, posição, vibração). Na teoria do portão ou das comportas da dor a ativação das fibras mielínicas grossas excita interneurônios inibitórios da substância gelatinosa de Rolando (lâmina II) para os aferentes nociceptivos, impedindo a passagem dos impulsos dolorosos, ou seja, haveria um fechamento da comporta. Ao passo que a ativação das fibras amielínicas e mielínicas finas inibiria tais interneurônios inibitórios, tornando possível a passagem dos impulsos nociceptivos (abertura da comporta). Além deste sistema de modulação de dor, há outro, em que a estimulação da substância cinzenta periaquedutal (PAG) e da substância cinzenta periventricular (PVG)produz elevada analgesia acompanhada de aumento da concentração de opioides endógenos no liquor. O mecanismo é o seguinte: PAG+PVG → bulbo rostroventral e tegmento pontinho dorsolateral → vias descendentes inibitórias para os neurônios nociceptivos do corno dorsal. Essas vias cursam bilateralmente pelos funículos dorsolaterais da medula espinal e utilizam como neurotransmissor, respectivamente, a serotonina (via rafe-espinal, proveniente do bulbo) e a norepinefrina (via reticuloespinal, oriunda da ponte). Outras estruturas também estão envolvidas na modulação da dor, como : córtex somestésico, córtex motor, cápsula interna, tálamo ventrocaudal, funículo posterior da medula espinal e lemnisco medial. Por isso há o circuito modulatório prosencéfalo-mesencefálico. Pode-seconcluir que a dor pode ser provocada tanto pela ativação das vias nociceptivas como pela lesão das vias modulatórias (supressoras). ● ASPECTOS AFETIVO-MOTIVACIONAL E COGNITIVO-AVALIATIVO DA DOR A resposta que uma pessoa tem diante a um estímulo álgico depende do aprendizado e memorização de experiências prévias, do grau de atenção ou distração, do estado emocional e do processamento e integração das diversas informações sensoriais e cognitivas. └ ASPECTO AFETIVO-MOTIVACIONAL As vias nociceptivas do grupo medial não são somatotopicamente organizadas, por essa razão não contribuem para o aspecto sensorial-discriminativo da dor. Por outro lado estão conectadas com estruturas comprometidas com a regulação das emoções e do comportamento, incluindo a dimensão afetiva (experiência desagradável, ruim, amedrontadora) e motivacional (ação causada pela sensação dolorosa, como a reação de retirada ou de fuga) da dor. O sistema límbico e o hipotálamo recebem estímulos internos e externos, parte deles conduzidos pelas vias do grupo medial. Os córtices temporal e parietal, responsáveis pela integração das informações sensoriais, visuais e auditivas, apresentam íntima conexão coma amígdala e o hipocampo. A área pré- frontal,considerada por muitos amais importante área associativa cortical, apresenta conexõesdiretas com o hipotálamo, o núcleo dorsomedial do tálamo(tálamo medial), o giro do cíngulo e a formação reticularmesencefálica e bulbar.As informações que alcançam o sistemalímbico são adequadamente avaliadas e, quando são significativase apropriadas, as emoções e os comportamentos sãoexteriorizados. Todas estas estruturas estão direta ou indiretamente conectadas com as vias nociceptivas do grupo medial. A lesão de alguma dessas áreas vai reduzir marcadamente o componente afetivo-motivacional da dor, sem que haja interferência no componente sensorial-discriminativo, isto é, o paciente continua capaz de perceber estímulos álgicos, mas eles perdem sua conotação desagradável e desprazerosa. Os núcleos intralaminares do tálamo, importantes terminações das vias do grupo medial, emitem suas eferências sobretudo para o striatum (putame + 10 caudato), que provavelmente estão relacionados com a resposta motora somática desencadeada pelo estímulo doloroso, para que a resposta motora possa ocorrer o córtex motor e a via corticoespinal também estão envolvidos com essa resposta. O hipotálamo é responsável pelas respostas motoras autonômicas (viscerais) frente aos estímulos dolorosos. └ ASPECTO COGNITIVO-AVALIATIVO As primeiras experiências dolorosasdo ser humano compreendem apenas seus aspectos sensorial- discriminativo e afetivo-motivacional. Com o passar dos anos, a sensação dolorosa passa a ser relacionada com certas polaridades como prazer ⁄castigo e bom ⁄mau. As influências culturais e religiosas tomamvulto no simbolismo da dor. O impulso doloroso chega ao córtex somestésico pelas viasnociceptivas de condução rápida do grupo lateral, nas quais ainformação é processada.Essa informação, juntamente comoutras de natureza tátil, proprioceptiva, auditiva e visual, tambémjá processadas, é integrada nas áreas corticais associativas,sobretudo no neocórtex temporal. Então,os componentesda memória são ativados à procura de uma experiência préviasimilar.Por fim, entra em ação o julgamento da experiênciasensorial, momento em que é definida como dolorosa ou não(nesse processo, a área pré-frontal é de grande relevância). ► CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DA DOR Do ponto de vista fisiopatológico, a dor pode ser classificadaem nociceptiva, neuropática, mista e psicogênica. ● DOR NOCICEPTIVA É causada pela ativação dos nociceptores e pela transmissãodos impulsos gerados, que percorrem as vias nociceptivas atéas regiões do sistema nervoso central, onde são interpretados.A dor secundária a agressões externas (picada de um inseto,fratura de um osso, corte da pele), a dor visceral (cólica nefrética,apendicite), a neuralgia do trigêmeo, a dor da artrite e dainvasão neoplásica dos ossos são exemplos de dor nociceptiva. └ CARACTERÍSTICAS A dor nociceptiva começa simultaneamente ao início daatividade do fator causal, o qual pode ser, em geral, identificado.Sua remoção frequentemente culmina com o alívio dasensação dolorosa. Nenhum déficit sensorial é identificadonesses pacientes, e a distribuição da dor corresponde à dasfibras nociceptivas estimuladas. Quanto menor é o número desegmentos medulares envolvidos na inervação de uma estrutura, mais localizada é a dor (somática superficial). Em contrapartida,quanto maior o número de segmentos medulares,mais difusa é a dor (visceral e somática profunda). A dor nociceptivas pode ser espontânea ou evocada. A espontânea pode ser expressa com as mais variadasdesignações: pontada, facada, agulhada, aguda, rasgando, latejante,surda, contínua, profunda, vaga, dolorimento. Todasessas denominações sugerem lesão tissular. A evocada pode ser desencadeada por algumas manobrascomo: manobra de Lasegue na ciatalgia, a dor provocada peloestiramento da raiz nervosa, obtida pela elevação do membroinferior afetado, estando o indivíduo em decúbito dorsal, elavar o rosto e escovar os dentes, nos pacientes com neuralgiado trigêmeo. Esse tipo de dor reproduz a sentida pelo paciente. ● DOR NEUROPÁTICA Também denominada dor por lesão neural, por desaferentação(privação de um neurônio de suas aferências), ou central(quando secundária às lesões do sistema nervoso central).Decorre de lesão de qualquer tipo infligida ao sistema nervoso periférico ou central, e pode apresentar-se de três formas:constante, intermitente e evocada. Esse tipo de dor é gerado dentro do sistema nervoso,independentemente de qualquer estímulo externo ou interno(componente constante).A secção do trato neoespinotalâmico,tão eficaz em eliminar a dor nociceptiva, agrava a neuropática(componente constante). Quando um neurônio é privado de suas aferências (desaferentação),aparecem diversas alterações: degeneração dos terminais pré-sinápticos, reinervação do sítio desaferentado por axônios vizinhos (brotamento ou sprouting), substituição de sinapses inibitóriaspor outras excitatórias, ativação de 11 sinapses anteriormente inativas e aumento da eficácia de sinapses antes pouco eficazes. A ocorrência dessasalteraçõesacaba por tornar as células desaferentadas hipersensíveis(células explosivas ou bursting cells). Sua hiperatividadeespontânea, visto que são integrantes das vias nociceptivas,seria o substrato fisiopatológico para a dor constante (descritacomo em queimação ou formigamento) da qual sequeixamesses pacientes. A dor neuropática apresenta mais dois componentes,podendo ser intermitente ou evocada. A intermitente decorre da ativação das vias nociceptivaspela cicatriz formada no foco lesional ou por efapse (impulsos motores descendentes cruzam para as vias nociceptivas nosítio de lesão do sistema nervoso). A secção cirúrgica completada via neoespinotalâmica (ou neotrigeminotalâmica, nador facial) elimina essa modalidade de dor. A dor evocada, por sua vez, se deve aos rearranjos sinápticosdecorrentes da desaferentação. A reinervação de célulasnociceptivas desaferentadas por aferentes táteis, por exemplo,faria com que a estimulação tátil, ao ativar neurônios nociceptivos,produzisse uma sensação dolorosa, desagradável (alodínia).A substituição de sinapses inibitórias por excitatórias,o aumento da eficácia de sinapses outrora pouco efetivas e aativação das anteriormente inativas, por outro lado, poderiamtomar tais células hiper-responsivas aos estímulos dolorosos,manifestando-se clinicamente sob a forma de hiperpatia. Como a dor evocada depende da estimulação dos receptorese do tráfego dos impulsos pelas vias nociceptivas, ela pode seraliviada pela secção cirúrgica da via neoespinotalâmica (ouneotrigeminotalâmica, na dor facial). └ CARACTERÍSTICAS Sua etiologia é variada. Seu início pode coincidir com a atuação do fator causal,porém, mais comumente, ocorre após dias, semanas, meses ouaté anos. Em geral, o fator causal não pode ser removido, porter deixado de agir ou por ser impossível interrompê-lo. A maioria dos pacientes apresenta déficit sensorial clinicamentedetectável. A distribuição da dor tende a sobrepor-se,pelo menos parcialmente, à perda sensorial. A dor neuropática apresenta-se pelo menos em uma dasseguintes formas: constante, intermitente (ambas são espontâneas)e evocada. A dor constante ocorre em praticamente 100% dos casos,sendo, em geral, descrita como dor em queimação ou dormenteou em formigamento, ou como um mero dolorimento.Trata-se de uma disestesia (sensação anormal desagradável)normalmente nunca experimentada pelo paciente. O componente constante da dor neuropática, ao contrário da dor nociceptiva, tende a ser agravado pela interrupçãocirúrgica das vias da dor, pois tais procedimentos acentuam a desaferentação. A dor intermitente é mais frequente nas lesões nervosas periféricas e da medula espinal, sendo rara nas lesões encefálicas,e relatada como dor em choque, aguda. Lembra a dor daciatalgia, mas, diferentemente desta, seu trajeto não segue o dequalquer nervo. A dor evocada é mais comum nas lesões encefálicas; também é frequentenas lesões medulares e do sistema nervoso periférico,podendo manifestar-se sob a forma de alodínia ou de hiperpatia. ● DOR MISTA É aquela que decorre dos dois mecanismos anteriores.Ocorre, por exemplo, em certos casos de dor por neoplasiamaligna, quando ela se deve tanto ao excessivo estímulo dosnociceptores quanto à destruição das fibras nociceptivas. ● DOR PSICOGÊNICA Toda dor tem um componente emocional associado, oque varia é sua magnitude. A dor psicogênica, porém, é umacondição inteiramente distinta, para a qual não há qualquersubstrato orgânico, sendo gerada por mecanismos puramente psíquicos. └ CARACTERÍSTICAS Tende a ser difusa, generalizada, imprecisa. Algumas vezes,pode ser localizada e, nesse caso, em geral, sua topografia correspondeà da imagem corporal que o paciente tem da estruturaque julga doente.Sua intensidade é variável,sendo agravada pelas condições emocionais do paciente. ► TIPOS DE DOR 12 - Dor somática superficial: é a modalidade de dor nociceptiva decorrente da estimulação de nociceptores do tegumento.Tende a ser bem localizada e apresentar qualidade bem distinta (picada, pontada, sensação de rasgar, queimor), nadependência do estímulo aplicado. Sua intensidade é variável e, de certa maneira, proporcional à intensidade do estímulo.Decorre em geral de traumatismo, queimadura e processo inflamatório. - Dor somática profunda: é a modalidade de dor nociceptiva consequente à ativação de nociceptores dos músculos, fáscias, tendões, ligamentos e articulações. Suas principais causas são: estiramento muscular, contração muscularisquêmica, contusão, ruptura tendinosa e ligamentar, síndrome miofascial, artrite eartrose. Trata-sede uma dor mais difusa que a somática superficial, de localização imprecisa, sendo em geral descritacomo dolorimento (aching pain), dor surda, dor profunda e, no caso da contração muscular isquêmica, como cãibra. Suaintensidadeé proporcional à do estímulo causal, embora em geral seja de intensidade leve a moderada. Às vezes, podemanifestar-secomo dor referida. - Dor visceral:é a dor nociceptiva decorrente da estimulação dos nociceptores viscerais. Trata-sede uma dor profunda,tendo características similares às da dor somática profunda, ou seja, é difusa, de difícil localização e descrita como umdolorimento ou como uma dor surda, vaga, contínua, profunda, tendendo a acentuar-secom a solicitação funcional doórgão acometido. De modo geral, a dor visceral pode ser relacionada com as seguintes condições: comprometimento da própria víscera(dor visceral verdadeira), comprometimento secundário do peritônio ou da pleura parietal (dor somática profunda),irritação do diafragma ou do nervo frênico e reflexo viscerocutâneo (dor referida). Pode-sedizer ainda que determinadas modalidades de dor são mais específicas para determinado tipo de víscera.Assim, a dor das vísceras maciças e a dos processos não obstrutivos das vísceras ocas são descritas como dolorida, surda; a dor dos processos obstrutivos das vísceras ocas é do tipo cólica; a dor por comprometimento da pleura parietal (dorsomática profunda e não visceral) é em pontada ou fincada; a dor por isquemia miocárdica é constrictiva ou em aperto e ador por aumento da secreção do ácido clorídrico (úlcera duodenal), do tipo em queimação ou ardor. Dor referidapode ser definida como sensação dolorosa superficial, distante da estrutura profunda (visceral ousomática) cuja estimulação nóxica é responsável pela dor.Aexplicação mais aceita para esse fenômeno é a convergência de impulsos dolorosos viscerais e somáticos superficiais eprofundos para neurônios nociceptivos comuns localizados no corno dorsal da medula espinal. O tegumento tem um suprimento nervoso nociceptivos muito mais exuberante do que o das estruturas profundas somáticas e viscerais. - Dor irradiada: a dor sentida a distância de sua origem, porém obrigatoriamente em estruturas inervadas pela raiznervosa ou nervo cuja estimulação nóxica é responsável pela dor. Um exemplo clássico é aciatalgia, provocada pelacompressão de uma raiz nervosa por uma hérnia de disco lombar. - Dor de origem central: alterações em determinadas regiões encefálicas, tais como área somestésica primária, tálamo outronco cerebral, podem induzir a percepção de sensações desagradáveis, dentre elas a dor em diferentes regiões corporais. ►CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DA DOR ● LOCALIZAÇÃO Refere-seà região em que o paciente sente a dor. Também é relevante a avaliação da sensibilidade na área de distribuição da dor e adjacências. A presença de hipoestesiaé evocativa de dor neuropática, sobretudo se houver um componente descrito como emqueimação ou formigamento.Porvezes, porém, a sensibilidade parece estar aumentada. Tal aumento pode indicar hiperestesia (hipersensibilidade aosestímulos táteis) e hiperalgesia (hipersensibilidade aos estímulos álgicos), que ocorrem em uma área sem comprometimento da inervação sensorial, ou alodinia e hiperpatia. Alodinia e hiperpatia ocorrem em uma área dehipoestesia e são excelentes indicadores da dor neuropática. 13 Seu encontro é particularmente útil naqueles casos em que odéficit sensorial é subclínico, quando o diagnóstico de dor neuropática é mais difícil de ser firmado. ● IRRADIAÇÃO A dor pode ser localizada, ou seja, sem irradiação, irradiada (segue o trajeto de uma raiz nervosa ou nervo conhecido) oureferida: Dor irradiada: pode surgir em decorrência do comprometimento de praticamente qualquer raiz nervosa, podendo ser oterritório de irradiação predito pelo exame do mapa dermatomérico. Pode indicar a estrutura nervosa comprometida. Dor referida: não é o mesmo que dor irradiada. As causas e a fisiopatologia são diferentes. Exs: Apêndice: dor na região epigástrica Vesícula, fígado: dor na escápula e no ombro Ureter: dor na virilha e genitália externa Coração: dor na face medial do braço. Processos patológicos anteriores ou concomitantes, afetando estruturas inervadas por segmentos medulares adjacentes, aumentam a tendência para que ador seja sentida em uma área servida por ambos os segmentos medulares, resultando em localização atípica da dor. ● QUALIDADE OU CARÁTER Para se definir a qualidade ou caráter da dor, o paciente é solicitado a descrever como a sua dor se parece ou que tipo desensação e emoção ela lhe traz.O primeiro passo é definir se a dor é evocada e/ou espontânea (constante ou intermitente): Dor evocada: é aquela que só ocorre mediante alguma provocação. São exemplos a alodinia e a hiperpatia, presentes nador neuropática, e a hiperalgesia primária e secundária, presentes na dor nociceptivas. Hiperalgesia: resposta exagerada aos estímulos aplicados em uma região que se apresenta com limiar de excitabilidade reduzido, podendo manifestar-sesob a forma de dor a estímulos inócuos ou de dor intensa a estímulos leves ou moderadamente nóxicos. Dois tipos de hiperalgesia têm sido descritos: Hiperalgesia primária: é a que ocorre em uma área lesionada e se deve à sensibilização local dos nociceptores. Hiperalgesia secundária: é aquela que ocorre ao redor da área lesionada e parece ser secundária àsensibilização dos neurônios do corno dorsal decorrente da estimulação repetitiva e prolongada das fibras C. Dor espontânea: pode ser constante ou intermitente. Dor constante: é aquela que ocorre continuamente, podendo sua intensidade variar, mas sem nunca desaparecercompletamente. O indivíduo dorme e acorda com a dor. Na dor neuropática, a dor constante é mais comumentedescrita como em queimação ou dormência, formigamento (disestesia). Na dor nociceptiva, diversos termos sãoutilizados para qualificá-la. Dor intermitente: é aquela que ocorre episodicamente, sendo sua frequência e duração bastante variáveis. É, emgeral, descrita como dor em choque, aguda, pontada, facada, fisgada. Deve ser diferenciada dasexacerbações da dor. A qualidade da dor ajuda a definir o processo patológico subjacente. Assim: dor latejante ou pulsátil ocorre na enxaqueca, abscesso e odontalgia; dor emchoque, na neuralgia do trigêmeo, na lombociatalgia, na cervicobraquialgia e na dor neuropática (componente intermitente); dor em cólica ou emtorcedura, na cólica nefrética, biliar, intestinal ou menstrual; dor em queimação, se visceral, na úlcera péptica e esofagite 14 de refluxo e, se superficial, na dorneuropática (componente constante); dor constritiva ou em aperto, na angina de peito e infarto do miocárdio; dor em pontada, nos processos pleurais; dorsurda, nas doenças de vísceras maciças; dor “doída” ou dolorimento, nas doenças musculares, como a lombalgia, e das vísceras maciças; e dor em cãibra,em afecções medulares, musculares e metabólicas. Tipos especiais de dor: - Dor fantasma: Alguns indivíduos, após terem parte de seu corpo amputada, têm a sensação de que ela ainda está integrada a seu corpo (sensaçãofantasma) e que pode ser fonte de profunda dor. A dor fantasmaocorre mais comumente após amputação de um membro, embora possa tambémocorrer após a enucleação do globo ocular, remoção da mama (mastectomia) ou amputação do pênis. É um tipo de dor neuropática, sendo a secçãodos nervos mistos e sensoriais, no ato da amputação, sua causa. Não é raro que tais pacientes apresentem também a chamada dor do coto, a qualparece decorrer da hiperexcitabilidade do neuroma formado na extremidade proximal do nervo seccionado. A dor do coto de amputação e a dorfantasma são de dificílimo tratamento, sendo, atualmente, rebeldes a qualquer tipo de abordagem farmacológica ou cirúrgica disponíveis. - Síndrome complexa de dor regional (SCDR): É caracterizada pela presença de dor associada a alterações vasomotoras, sudomotoras e tróficas. Ador tende a ser excruciante e conta com 3 componentes: dor constante em queimação ou disestésica, dor intermitente fugaz emchoque,provocada por praticamente qualquer movimento, e dor evocada, caracterizada por alodinia e hiperpatia. A dor é tão intensa que o paciente assumeuma postura de constante defesa do segmento corporal afetado. Há, em geral, aumento local da sudorese (hiperidrose) e variação da coloração da extremidade acometida(pálida, hiperemiada ou arroxeada). As articulações tornam-se rígidas e osteoporose se desenvolve. A síndrome complexa de dor regional pode ser classificada em dois tipos: SCDR-I, quando não há lesão demonstrável de nervo periférico, e SCDR-II, quando há lesão nervosa. O substrato fisiopatológico subjacente parece ser a hiperatividade do sistema nervoso autônomo simpático. ● INTENSIDADE É um componente extremamente relevante da dor, aliás, o de maior importância para o paciente. Resulta da interpretaçãoglobal dos seus aspectos sensoriais, emocionais e culturais. A determinação do grau (leve, moderado ou intenso) de interferência da dor com relação ao sono, trabalho, relacionamento conjugal e familiar e atividades sexuais, sociais e recreativas fornece pistas indiretas, porém, de certamaneira, objetivas, da intensidade da dor. ● DURAÇÃO Inicialmente, determina-secom a máxima precisão possível a data de início da dor. Em se tratando de uma dor contínua, aduração da dor é o tempo transcorrido entre seu início e o momento da anamnese. No caso de uma dor cíclica, interessaregistrar a data e a duração de cada episódio doloroso. Se a dor é intermitente e ocorre várias vezes ao dia, é suficiente quese registre a data de seu início, a duração média dos episódios dolorosos, o número médio de crises por dia e o númeromédio de dias por mês em que a dor se apresenta. 15 Dependendo de sua duração, a dor pode ser classificada em aguda e crônica: - Dor aguda: é uma importantíssima modalidade sensorial, desempenhando, entre outros papéis, o de alerta, comunicando ao cérebro que algo está errado. Acompanha-sede manifestações neurovegetativas e desaparece com aremoção do fator causal e resolução do processo patológico. - Dor crônica: é a que persiste por um período superior àquele necessário para a cura de um processo mórbido (em geral4 a 6 semanas) ou aquela associada a afecções crônicas (câncer, artrite reumatoide, alterações degenerativas da coluna) ou,ainda, a que decorre de lesão do sistema nervoso. A dor crônica sem papel fisiológico ou de alerta passa a ser um estadomórbido por si só. ● EVOLUÇÃO Esta característica semiológica revela a trajetória da dor, desde o seu início até o momento da anamnese e, a partir daí, aolongo do acompanhamento do paciente.Iniciamos sua investigação pelo modo de instalação da dor: se súbito ou insidioso. É também relevante definir a concomitância da atuação do fator causal e o início da dor. A dor neuropática pode iniciar-sesemanas, meses ou mesmo anos após a atuação do fator causal em mais da metade dos casos. Já o início da dornociceptiva é sempre simultâneo ao da atuação do fator causal. Durante sua evolução, a dor pode sofrer as mais variadas modificações. Nos pacientes com dor neuropática, os seus componentes (dor constante, intermitente e evocada) frequentementesurgem em épocas diferentes. A intensidade da dor pode também variar em sua evolução. A dor crônica, em sua evolução, pode também mostrar ritmicidade(surtos em relação às ocorrências em um mesmodia) e periodicidade(surtos periódicos ao longo dos meses e anos). Além de todas essas alterações evolutivas, a dor pode mudar seu padrão em função do tratamento instituído. Tal é ocaso do paciente com dor nociceptiva em um membro inferior ocasionada pela invasão óssea por câncer submetido acordotomia anterolateral (secção do trato neoespinotalâmico na medula espinal) para alívio da dor; embora a dor inicialpossa ser totalmente eliminada, meses após pode surgir um novo tipo de dor (dor neuropática), decorrente dadesaferentação provocada pela cirurgia. Como se pode notar, a mudança das características clínicas de uma dor pode indicar apenas uma alteração evolutiva (p.ex., ampliação da área da dor na causalgia), complicação da mesma enfermidade (p. ex., perfuração da úlcera) ou umaafecção distinta (p. ex., pancreatite aguda na paciente com doença biliar prévia). ● RELAÇÃO COM FUNÇÕES ORGÂNICAS A relação da dor com as funções orgânicas é avaliada considerando- se,em primeiro lugar, a localização da dor e os órgãose estruturas situados na mesma região. Como regra geral, pode-sedizer que a dor é exacerbada pela solicitação funcional da estrutura em que se origina. ● FATORES DESENCADEANTES OU AGRAVANTES São aqueles fatores que desencadeiam a dor, em sua ausência, ou que a agravam, se estiver presente. As funções orgânicasestão entre eles. Muitos outros fatores, porém, podem ser determinados. Devemos procurálosativamente, pois, além denos ajudarem a esclarecer a enfermidade subjacente, seu afastamento constitui parte importante da terapêutica a serinstituída.Emoção e estresse, em qualquer tipo de dor é um fator desencadeante ou agravante. 16 ● FATORES ATENUANTES São aqueles que aliviam a dor. Entre eles encontram-sealgumas funções orgânicas, posturas ou atitudes que resguardem aestrutura ou órgão em que se origina a dor (atitudes antálgicas), distração, ambientes apropriados, medicamentos, fisioterapia, acupuntura, bloqueios anestésicos eprocedimentos cirúrgicos. Tanto o componente intermitente como o evocado da dor neuropática respondem às mesmas estratégias adotadas para ador nociceptiva. A dor intermitente, adicionalmente, responde aos anticonvulsivantes e, aparentemente, aos anestésicoslocais (mexiletina). O componente constante da dor neuropática, excetuando-seos bloqueios anestésicos proximais, costuma ser resistenteàs demais terapêuticas mencionadas, podendo, inclusive, ser agravado pela interrupção cirúrgica da via neoespinotalâmicaou neotrigeminotalâmica. É, por outro lado, responsivo aos antidepressivos tricíclicos, neurolépticos (quando associadosaos antidepressivos), anestésicos locais (em alguns casos, como na polineuropatia diabética), à destruição cirúrgica dasvias reticulotalâmicas. ● MANIFESTAÇÕES CONCOMITANTES A dor aguda, nociceptiva, sobretudo quando intensa, costuma acompanhar-se de manifestações neurovegetativas, que se devem à estimulação do sistema nervoso autônomo pelos impulsos dolorosos, incluindo sudorese, palidez, taquicardia, hipertensão arterial, mal-estar, náuseas e vômitos. Tais características não têm qualquer valor para o diagnóstico etiológico da dor. Por outro lado, várias outras manifestações clínicas associadas à dor e relacionadas com a enfermidade de base são de grande valia para o diagnóstico. Dor e envelhecimento:Com o envelhecimento, o limiar de dor aumenta e, consequentemente, os pacientes idosos podem apresentar problemas graves sem que a dor seja umsinal de alarme. TÉCNICAS BÁSICAS DO EXAME FÍSICO ► INSPEÇÃO É a exploração feita a partir da visão. Investigam-sea superfície corporal e as partes mais acessíveis dascavidades em contato com o exterior. A inspeção começa no momento em que se entra em contato com o pacienterealizando-seuma “inspeção geral”. Há duas maneiras fundamentais de se fazer a inspeção: - Olhando frente a frente a região a ser examinada: a isso se designa inspeção frontal, que é o modo padrão desseprocedimento; - Observando a região tangencialmente: essa é a maneira correta para pesquisar movimentos mínimos na superfíciecorporal, tais como pulsações ou ondulações e pequenos abaulamentos ou depressões. ► PALPAÇÃO A palpação frequentemente confirma pontos observados durante a inspeção. A palpação recolhe dados por meio do tatoe dapressão. O tato fornece impressões sobre a parte mais superficial, e apressão, sobre as mais profundas. Pela palpação percebem-semodificações de textura, temperatura, umidade, espessura, consistência, sensibilidade,volume,dureza, além da percepção de frêmito, elasticidade, reconhecimento de flutuação, crepitações, vibração, pulsação everificação da presença de edema,... Palpação com o dorso dos dedos ou das mãos. Esse procedimento é específico para avaliação da temperatura. 17 Digitopressão, realizada com a polpa do polegar ou do indicador. Consiste na compressão de uma área com diferentesobjetivos: pesquisar a existência de dor, avaliar a circulação cutânea, detectar a presença de edema. Puntipressão, que consiste em comprimir com um objeto pontiagudo um ponto do corpo. É usada para avaliar asensibilidade dolorosa e para analisar telangiectasias tipo aranha vascular. Vitropressão, realizada com o auxílio de uma lâmina de vidro que é comprimida contra a pele, analisando- sea áreaatravés da própria lâmina. Sua principal aplicação é na distinção entre eritema de púrpura (no caso de eritema, avitropressão provoca o apagamento da vermelhidão e, no de púrpura, permanece a mancha). Fricção com algodão, em que, com uma mecha de algodão, roça-selevemente um segmento cutâneo, procurando vercomo o paciente o sente. É utilizada para avaliar sensibilidade cutânea. Pesquisa de flutuação, em que se aplica o dedo indicador da mão esquerda sobre um lado da tumefação, enquanto o daoutra mão, colocado no lado oposto, exerce sucessivas compressões perpendicularmente à superfície cutânea. Havendolíquido, a pressão determina um leve rechaço do dedo da mão esquerda, ao que se denomina flutuação. Outro tipo de palpação bimanual combinada é a que se faz, por exemplo, no exame das glândulas salivares,quando o dedo indicador da mão direita é introduzido na boca, enquanto as polpas digitais dos outros dedos – exceto opolegar – da outra mão fazem a palpação externa na área de projeção da glândula. ► PERCUSSÃO A percussão baseia-seno seguinte princípio: ao se golpear um ponto qualquer do corpo, originam- sevibrações que têmcaracterísticas próprias quanto à intensidade, ao timbre e à tonalidade, dependendo da estrutura anatômica percutida. Ao se fazer a percussão, observa-senão só o som obtido, mas também a resistência oferecida pela região golpeada. A técnica da percussão sofreu uma série de variações no decorrer dos tempos; hoje, usa-sebasicamente a percussão diretae a percussão digitodigital, e, em situações especiais, a punho-percussão,a percussão com a borda da mão e a percussão tipo piparote. A percussão direta é utilizada na percussão do tórax do lactente e das regiões sinusais do adulto. A percussão digitodigital é executada golpeando-secom a borda ungueal do dedo médio ou do indicador da mão direitaa superfície dorsal da segunda falange do dedo médio ou do indicador da outra mão. Ao dedo que golpeia designa-seplexor, e o que recebe o golpe é o plexímetro. 18 O dedo plexímetro – médio ou indicador da mão esquerda – é o único a tocar a região que está sendo examinada. Osoutros e a palma da mão ficam suspensos rentes à superfície. Caso se pouse a mão, todas as vibrações são amortecidas, e osom torna-seabafado. O golpe deve ser dado com a borda ungueal, e não com a polpa do dedo. Tanto a punho-percussão como a percussão com a borda da mão servem para observar se a manobra provoca alguma sensação dolorosa. Na percussão por piparote, com uma das mãos o examinador golpeia o abdome com piparotes, enquanto a outra,espalmada na região contralateral, procura captar ondas líquidas chocando-se contra a parede abdominal. A percussão porpiparote é usada na pesquisa de ascite. ● TIPOS DE SONS OBTIDOS À PERCUSSÃO - Som maciço: é o que se obtém ao percutir regiões desprovidas de ar. - Som submaciço: constitui uma variação do som maciço. A presença de ar em quantidade restrita lhe concedecaracterísticas peculiares. - Som timpânico: é o que se consegue percutindo sobre os intestinos ou no espaço de Traube (fundo do estômago) ouqualquer área que contenha ar, recoberta por uma membrana flexível. - Som claro pulmonar: é o que se obtém quando se golpeia o tórax normal. Depende da presença de ar dentro dosalvéolos e demais estruturas pulmonares. EXAME FÍSICO GERAL O exame físico pode ser dividido em 2 etapas: a 1ª é o exame físico geral/ somatoscopia/ ectoscopia, por meio do qual são obtidos dados gerais, possibilitando uma visão do paciente como um todo; a 2ª etapa corresponde ao exame dos diferentes sistemas ou segmentos corporais, com metodologia própria. O paciente deve ser examinado nas posições de decúbito, sentada, de pé e andando. ► AVALIAÇÃO DO ESTADO GERAL É uma avaliação subjetiva com base no conjunto de dados exibidos pelo paciente e interpretados de acordo com aexperiência de cada um. Para descrever a impressão obtida, usa-sea seguinte nomenclatura: Estado geral bom Estado geral regular Estado geral ruim A avaliação do estado geral tem utilidade prática, principalmente para se compreender até que ponto a doençacomprometeu o organismo, visto como um todo. Serve ainda de alerta para o médico nos casos com escassos sinais ou sintomas indicativos de uma determinadaenfermidade, obrigando-oa aprofundar sua investigação diagnóstica na busca de uma afecção que justifique a deterioraçãodo estado geral. Situação inversa também pode ocorrer, ou seja, a manutenção de um estado geral bom, na presença de uma doençasabidamente grave. Isso indica uma boa capacidade de reação do organismo que tem, inclusive, valor prognóstico. ► AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA A avaliação do nível de consciência e do estado mental implica dois aspectos da mesma questão: a avaliação neurológica ea psiquiátrica. A percepção consciente do mundo exterior e de si mesmo caracteriza o estado de vigília, que é resultante da atividadede diversas áreas cerebrais coordenadas pelo sistema reticular ativador ascendente. Entre o estado de vigília ou plena consciência e o estado comatoso (o paciente perde completamente a capacidade de identificar seu mundo interior e os acontecimentos do meio que o circunda), é possível distinguir diversas fases intermediárias graduando-as e o principal indicador é o nível de consciência. 19 Obnubilação = Consciência: comprometimento pouco intenso + Estado de alerta: moderadamente comprometido Sonolência = paciente é facilmente despertado, responde mais ou menos apropriadamente e volta logo a dormir Confusão mental = perda de atenção, o pensamento não é claro, as respostas são lentas e não há percepção normal do ponto de vista temporoespacial, podendo surgir alucinações, ilusão e agitação. Torporou Estupor = alteração de consciência mais pronunciada, mas o paciente pode ser despertado por estímulos mais fortes, tem movimentos espontâneos e não abre os olhos. Coma = paciente não desperta com estimulação forte, não tem movimentos espontâneos. Atualmente, usa-sea escala de coma de Glasgow (EG) para se avaliar alterações do nível de consciência.Tal avaliaçãoconsiste na análise de três parâmetros: abertura ocular, reação motora e resposta verbal, obtidos por vários estímulos,desde a atividade espontânea e estímulos verbais até estímulos dolorosos. ► FALA E LINGUAGEM Durante a entrevista, o examinador deve prestar atenção à linguagem do paciente, particularmente na linguagem falada. A fala depende de mecanismos bastante complexos que compreendem o órgão fonador (laringe), os músculos dafonação e a elaboração cerebral. ► AVALIAÇÃO DO ESTADO DE HIDRATAÇÃO O estado de hidratação do paciente é avaliado tendo-seem conta os seguintes parâmetros: ◗Alteração abrupta do peso ◗Alterações da pele quanto à umidade, à elasticidade e ao turgor ◗Alterações das mucosas quanto à umidade ◗Alterações oculares ◗Estado geral ◗Fontanelas (no caso de crianças). Desidratação, como o próprio nome indica, é a diminuição de água e eletrólitos totais do organismo, caracterizando-sepelos seguintes elementos: Sede Diminuição abrupta do peso Pele seca,com elasticidade e turgor diminuídos Mucosas secas Olhos afundados (enoftalmia) e hipotônicos Estado geral comprometido Excitação psíquica ou abatimento Oligúria Fontanelas deprimidas no caso de crianças. 20 ► ÍNDICE DE MASSA CORPORAL Cumpre salientar que o IMC não distingue massa gordurosa de massa magra; assim, um paciente musculoso pode serclassificado com “excesso de peso”. Deve-seainda estar atento ao biótipo do paciente. Um IMC entre 17 e 19 nãonecessariamente é indicativo de desnutrição, pois outros aspectos devem ser considerados no exame físico e na anamnese,como o histórico de evolução do peso. ► CIRCUNFERÊNCIA DA CINTURA A circunferência da cintura (CC) é utilizada para o diagnóstico de obesidade abdominal e reflete o conteúdo de gorduravisceral, ou seja, aquela aderida aos órgãos internos. ► AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL De maneira representativa, a obesidade abdominal ou central, também denominada obesidade androide, configura forma de maçã ao corpo, na quala gordura se concentra mais na região do tórax e abdome, sendo mais comum em homens. A deposição de gordura é visceral. Na obesidade periférica ou ginecoide, mais frequente em mulheres, o acúmulo de gordura predomina nos quadris e nas coxas. O corpo lembra oformato de uma pera. A deposição de gordura predominante é a subcutânea. ● DESNUTRIÇÃO Classifica-seoestado nutricional do paciente em bem nutrido, moderadamente desnutrido ou suspeito de desnutrição e gravementedesnutrido. A perda de gordura subcutânea e a massa magra devem ser avaliadas. Capacidade funcional diminuída está associada à desnutrição grave e à redução das atividades da vida diária. ► FÁCIES É o conjunto de dados exibidos na face do paciente. É a resultante dos traços anatômicos mais a expressão fisionômica.Não apenas os elementos estáticos, mas, e principalmente, a expressão do olhar, os movimentos das asas do nariz e aposição da boca. -Fácies hipocrática: olhos fundos, parados e inexpressivos chamam logo a atenção do examinador. O nariz afila-se,e oslábios se tornam adelgaçados. “Batimentos das asas do nariz” também costumam serobservados. Quase sempre o rostoestá coberto de suor. Palidez cutânea e uma discreta cianose labial completam a fácies hipocrática. - Fácies renal: o elemento característico desse tipo de fácies é o edema que predomina ao redor dos olhos. Completa oquadro a palidez cutânea. É observada nas doenças dos rins. - Fácies leonina: as alterações que a compõem são produzidas pelas lesões do mal de Hansen. A pele, além de espessa, ésede de grande número de lepromas de tamanhos variados e confluentes, em maior número na fronte. Os supercílios caem,o nariz se espessa e se alarga. Os lábios tornam-semais grossos e proeminentes. As bochechas e o mento se deformampelo aparecimento de nódulos. A barba escasseia ou desaparece. 21 - Fácies parkinsoniana, cérea ou em máscara: caracteriza-sepor ser inexpressiva, com rigidez facial. - Fácies acromegálica: caracterizada pela saliência das arcadas supraorbitárias, proeminência das maçãs do rosto e maiordesenvolvimento do maxilar inferior, além do aumento do tamanho do nariz, lábios e orelhas. Nesse conjunto de estruturashipertrofiadas, os olhos parecem pequenos. - Fácies cushingoide ou de lua cheia: Chama atenção o arredondamento do rosto, com atenuação dos traços faciais. Há também o aparecimento de acne. Isso pode ser visto na síndrome de Coshing, em que há hiperfunção do córtex da suprarrenal. Também pode ocorrer nos pacientes que fazem o uso prolongado de corticóides. - Fácies mongolóide: possui uma prega cutânea (epicanto) que torna os olhos oblíquos, bem distantes uns do outro. O rosto é redondo, boca quase sempre entreaberta. Pode ser vista, por exemplo, na síndrome de Down. - Fácies de depressão: há inexpressividade do rosto. O paciente apresenta-se cabisbaixo, os olhos com pouco brilho e fixos em um ponto distante. Muitas vezes o olhar permance voltado para o chão. O conjunto fisionômico denota indiferença, tristeza e sofrimento emocial. - Fácies pseudobulbar: Tem como principal característica súbitas crises de chroro ou riso, que são involuntárias, porém conscientes. O paciente tenta contê-las, o que dá um aspecto espamódico à fácies. - Fácies miastênica ou de Hutchinson: pstose palpebral bilateral. Ocorre na miastenia gravis e em outras miopatias que comprometem os músculos da pálpebra superior. ► ATITUDE E DECÚBITO PREFERIDO NO LEITO ● ATITUDES VOLUNTÁRIAS ATITUDE ORTPNEICA (ORTOPNEIA): o paciente adota essa posição para melhorar a falta de ar. Ele permanece sentado à beira do leito com as mãos apoiadas no colchão para melhorar um pouco a respiração, que se faz com dificuldade. Nos pacientes em estado grave, esta posição é um pouco diferente: o paciente fica deitado com os pés estendidos ao longo da cama, mas rescosta-se com a ajuda de 2 ou + travesseiros, na tentativa de colocar o tórax o mais ereto possível. Ex.: insuficiência cardíaca, asma brônquica e ascite volumosa ATITUDE GENUPEITORAL (“PRECE MAOMETANA”): o paciente posiciona-se de joelhos com o tronco fletido sobre as coxas, enquanto a face anterior do tórax (peito) fica em contato com o chão/colchão. O rosto fica sobre as mãos, as quais também ficam no chão/colchão. Essa posição facilira o enchimento do coração em caso de enchimento pericárdico. ATITUDE DE CÓCORAS (SQUATTING: é observado em crianças com cardiopatia congênita cianótica. ATITUDE PARKINSONIANA: o paciente com doença de Parkinson, quando fica de pé, apresenta semiflexão da cabeça, do tronco e dos membros inferiores e, quando caminha parece estar correndo atrás do seus próprio eixo de gravidade. ATITUDE EM DECÚBITO: os tipos de decúbito são: Lateral (direito ou esquerdo); dorsal; ventral ● ATITUDES INVOLUNTÁRIAS ATITUDE PASSIVA: quando o paciente fica na posição em que é colocado no leito, sem que haja contratura muscular. É observada nos pacientes comatosos ou inconscientes. 22 ORTÓTONO (orthos= reto; tonus= tensão): Todo o tronco e membros estão rígidos, sem se curvarem para diante, para trás ou para um dos lados. OPISTÓTONO (opisthen= para trás; tonus= tensão): Atitude decorrente da contratura da musculatura lombar. Ex: tétano e meningite. O corpo apoia-se na cabeça e nos calcanhares, emborcando-se como se fosse um arco. EMPROSTÓTONO: (emprosthen= para diante): observada no tétano, na meningite e na raiva. O corpo do paciente forma uma concavidade voltada para diante. PLEUROSTÓTONO (pleurothen= de lado): é de observação rara no tétano, na meningite e na raiva. O corpo se curva lateralmente. ► EXAME DAS MUCOSAS As mucosas examináveis são: labiobucal, conjutivais, lingual e gengival. O método de exame é a inspeção, coadjuvado por manobras singelas que exponham as mucosas à visão do examinador. Assim, no caso das mucosas orais, solicita-se ao paciente que abra a boca e ponha a língua para fora. ● COLORAÇÃO A coloração normal é róseo-avermelhada, decorrente da rica rede vascular das mucosas. A nomenclatura habitual é mucosas normocoradas. Descoramento das mucosas: É a diminuição ou a perda da cor róseo-avermelhada. Designa-se este achado mucosas descoradas ou palidez das mucosas. Procura-se fazer também uma avaliação quantitativa usando-se a escala de 1 a 4 cruzes (+, + +, + + + e + + + +). Mucosas descoradas (+) significam leve diminuição da cor normal, enquanto mucosas descoradas (+ + + +) indicam desaparecimento da coloração rósea. As mucosas tornam-se, então, brancas como uma folha de papel. O encontro de mucosas descoradas é um achado semiológico de grande valor prático, pois indica a existência de anemia. Anemia é uma síndrome de grande importância prática. Há muitos tipos de anemia, e cada uma pode ser determinada por várias causas. O denominador comum é a diminuição das hemácias e da hemoglobina no sanguecirculante, responsável pelo descoramento das mucosas. Além de mucosas descoradas, fazem parte desta síndrome os seguintes sintomas e sinais: palidez da pele, fatigabilidade, astenia, palpitações. Em função do tipo de anemia, outros sinais e sintomas vão se associando. Assim, nas anemias hemolíticas observa-se icterícia, nas anemias megaloblásticas aparecem alterações nervosas localizadas nos membros inferiores, e assim por diante. Mucosas hipercoradas: Significam acentuação da coloração normal, podendo haver inclusive mudança de tonalidade, que passa a ser vermelho-arroxeada. Mucosas hipercoradas traduzem aumento das hemácias naquela área, como ocorre nas inflamações (conjuntivites, glossites, gengivites) e nas policitemias. Cianose: Consiste na coloração azulada das mucosas. Icterícia: As mucosas tornam-se amarelas ou amarelo-esverdeadas; da mesma maneira que na pele, resulta de impregnação pelo pigmento bilirrubínico aumentado no sangue. Os locais mais adequados para detectar icterícia são a mucosa conjuntival, a esclerótica e o freio da língua. As icterícias mais leves só são perceptíveis nessas regiões. Nas pessoas negras, a esclerótica costuma apresentar uma coloração amarelada, que não deve ser confundida com icterícia. ● UMIDADE Em condições normais são úmidas, especialmente a lingual e a bucal, traduzindo bom estado de hidratação. Podemos ter: umidade normal ou mucosas secas. 23 As mucosas secas perdem o brilho, os lábios e a língua ficam pardacentos, e todas essas mucosas adquirem aspecto ressequido. ► MUSCULATURA Utiliza-se a inspeção e a palpação. A palpação é feita com as polpas digitais colocadas em forma de pinça, com o polegar em oponência aos demais dedos da mão. As alterações encontradas devem ser descritas topograficamente. Exemplos de alterações da musculatura: nas hemiplegias, encontra-se espasticidade da musculatura correspondente; nas lesões extrapiramidais, é típico o aumento da tonicidade sem alterações da troficidade; os atletas e os trabalhadores braçais desenvolvem os grupos musculares mais diretamente relacionados com seu trabalho, que se tornam hipertróficos; os idosos e os pacientes acamados durante longo tempo ficam com a musculatura hipotrófica (sarcopenia) e flácida. Nas crianças e nas mulheres, há normalmente certo grau de hipotonia. Rigidez muscular: É expressa pela resistência aumentada à movimentação passiva e que afeta a musculatura estriada. Na rigidez parkinsoniana, o exagero dos reflexos tônicos de postura determina o aparecimento do “sinal da roda dentada”. ► EDEMA É o excesso de líquido acumulado no espaço intersticial ou no interior das próprias células (edema intracelular). Pode ocorrer em qualquer sítio do organismo, mas, do ponto de vista semiológico, interessa- nos apenas o edema cutâneo, ou seja, a infiltração de líquido no espaço intersticial dos tecidos que constituem a pele e o tecido celular subcutâneo. ● LOCALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO A primeira grande distinção a ser feita é se o edema é localizado ou generalizado. ● INTENSIDADE Para determinar a intensidade do edema, emprega-se a seguinte técnica: com a polpa digital do polegar ou do indicador, faz-se uma compressão, firme e sustentada, de encontro a uma estrutura rígida subjacente à área em exame, seja a tíbia, o sacro ou os ossos da face. Havendo edema, ao ser retirado o dedo vê-se uma depressão, no local comprimido, chamada de fóvea. Estabelece-se a intensidade do edema referindo-se à profundidade da fóvea graduada em cruzes (+, + +, + + + e + + + +). - Edema elástico: a pele retorna imediatamente à sua situação normal, ou seja, a fóvea perdura pouquíssimo tempo. O edema elástico é típico dos edemas inflamatórios. - Edema inelástico: é aquele cuja pele comprimida demora a voltar à posição primitiva, ou seja, a depressão persiste por certo tempo. A formação do edema depende de vários fatores, incluindo alteração da pressão hidrostática, da pressão oncótica das proteínas, do fluxo linfático, da permeabilidade capilar e do balanço hidrossalino, em especial retenção de sódio. Dependendo da causa, predomina um ou mais destes fatores no aparecimento de edema. A retenção de sódio e água constitui fator importante em todo edema generalizado. EDEMA LOCALIZADO: Varizes Flebites e trombose venosa Processos inflamatórios Afecções dos linfáticos Postura. ► TEMPERATURA CORPORAL ● LOCAIS DE VERIFICAÇÃO DA TEMPERATURA E VALORES NORMAIS 24 ◗ Temperatura axilar: 35,5 a 37°C, com média de 36 a 36,5°C ◗ Temperatura bucal: 36 a 37,4°C ◗ Temperatura retal: 36 a 37,5°C, ou seja, 0,5°C maior que a axilar. Início Súbito ou gradual. Intensidade -Febre leve ou febrícula: até 37,5°C -Febre moderada: de 37,6° a 38,5°C -Febre alta ou elevada: acima de 38,6°C. Duração Modo de evolução Febre contínua: aquela que permanece sempre acima do normal com variações de até 1°C e sem grandes oscilações. Febre irregular ou séptica: registram-se picos muito altos intercalados por temperaturas baixas ou períodos de apirexia. Não há qualquer caráter cíclico nestas variações. Mostram-se totalmente imprevisíveis e são bem evidenciadas quando se faz a tomada da temperatura várias vezes ao dia Febre remitente: há hipertermia diária, com variações de mais de 1°C e sem períodos de apirexia. Febre intermitente: nesse tipo, a hipertermia é ciclicamente interrompida por um período de temperatura normal; isto é, registra-se febre pela manhã, mas esta não aparece à tarde; ou então, em 1 dia ocorre febre, no outro, não. Por vezes, o período de apirexia dura 2 dias. A primeira se denomina cotidiana, a segunda terçã e a última quartã. O exemplo mais comum é a malária. Febre recorrente ou ondulante: caracteriza-se por período de temperatura normal que dura dias ou semanas até que sejam interrompidos por períodos de temperatura elevada. Durante a fase de febre não há grandes oscilações; por exemplo: brucelose, doença de Hodgkin e outros linfomas. Término Crise: quando a febre desaparece subitamente. Neste caso costumam ocorrer sudorese profusa e prostração. Exemplo típico é o acesso malárico. Lise: significa que a hipertermia vai desaparecendo gradualmente, com a temperatura diminuindo dia a dia, até atingir níveis normais. Observado em inúmeras doenças. EXAME DA PELE, DAS MUCOSAS E DOS FÂNEROS ►HIPODERME OU TECIDO CELULAR SUBCUTÂNEO A avaliação semiológica do panículo adiposo se faz pela palpação, embora pela inspeção se possam obter alguns dados. Por este procedimento, avalia-se a espessura do panículo adiposo, mas não é apenas sua quantidade que interessa à clínica médica, também a sua distribuição pelo corpo, variável em condições fisiológicas, conforme a idade e o sexo, e patológicas. É preciso diferenciar o aumento do tecido adiposo de duas outras condições: pele espessada e edema intersticial. As sensações táteis e as características semiológicas de um e outro possibilitam a correta diferenciação. ► PELE Serão sistematicamente investigados os seguintes elementos: 25 ◗ Coloração Relembrar que a “cor da pele”, como um todo, foi anotada na identificação do paciente. Esse dado influi de modo considerável na apreciação das modificações da coloração. As principais alterações da coloração da pele são: - Palidez A palidez deve ser pesquisada em toda a extensão da superfície cutânea, inclusive nas regiões palmoplantares. Para pessoas pardas e negras é interessante observar principalmente as regiões palmoplantares. Palidez generalizada: - Vasoconstrição generalizada em consequência de estímulos neurogênicos ou hormonais; - Redução real das hemácias – hemoglobina. Palidez localizada ou segmentar – Isquemia é a causa principal. Deve-se pressionar a polpa do polegar por alguns segundo e observar que, em condições normais, o tempo necessário para que seja recuperada a cor rósea, indicadora do retornodo fluxo sanguíneo, é inferior a um segundo. -Vermelhidão ou eritrose Significa exagero na coloração rósea da pele e indica aumento da quantidade de sangue na rede vascular cutânea, podendo decorrer de vasodilatação. A vermelhidão compreende os seguintes tipos: • Generalizada: observada nos pacientes febris, nos indivíduos que ficaram expostos ao sol, nos estados policitêmicos e em algumas afecções que comprometem toda a pele (escarlatina, eritrodermia, psoríase); • Localizada ou segmentar: pode ter caráter fugaz quando depende de um fenômeno vasomotor (ruborização do rosto por emoção, ‘fogacho" do climatério), ou ser duradoura. - Cianose Significa cor azulada da pele e das mucosas. Manifesta-se quando a hemoglobina reduzida alcança no sangue valores superiores a 5 g/100 ml. A cianose deve ser pesquisada no rosto, especialmente ao redor dos lábios, na ponta do nariz, nos lobos das orelhas e nas extremidades das mãos e dos pés (leito ungueal e polpas digitais). Nos casos de cianose muito intensa, todo o tegumento cutâneo adquire tonalidade azulada ou mesmo arroxeada. Quanto à localização, a cianose diferencia-se em: • Generalizada: observada em toda a pele, embora predomine em algumas regiões. • Localizada ou segmentar: apenas segmentos corporais adquirem coloração anormal, significando sempre obstrução de uma veia que drena uma região, enquanto a cianose generalizada ou universal pode ser causada por diversos fatores. Quanto à intensidade, a cianose é classificada em três graus: • Leve • Moderada • Intensa. Há 4 tipos de cianose: 26 • Cianose central: nesses casos, há insaturação arterial excessiva, permanecendo normal o consumo de oxigênio nos capilares. Ocorre principalmente nas seguintes situações: o Diminuição da tensão do oxigênio no ar inspirado, cujo exemplo é a cianose observada nas grandes altitudes. o Hipoventilação pulmonar: não há ar atmosférico em quantidade suficiente para que se faça a hematose, por obstrução das vias respiratórias, diminuição da expansibilidade toracopulmonar, aumento exagerado da frequência respiratória ou por diminuição da superfície respiratória ( atelectasia, pneumotórax). o Curto-circuito (shunt) venoarterial, como se observa em algumas cardiopatias congênitas (tetralogia de Fallot e outras). • Cianose periférica: ocorre em consequência de perda exagerada de oxigênio na rede capilar, devido a estase venosa ou diminuição funcional ou orgânica do calibre dos vasos da microcirculação. • Cianose mista: assim chamada, quando se associam mecanismos responsáveis por cianose central e periférica. Exemplo típico é a cianose em consequência de insuficiência cardíaca congestiva grave, na qual se relatam congestão pulmonar, impedindo adequada oxigenação do sangue, e estase venosa periférica, com perda exagerada de oxigênio. • Cianose por alteração da hemoglobina: alterações bioquímicas da hemoglobina podem impedir a fixação do oxigênio neste pigmento. O nível de insaturação eleva-se até alcançar valores capazes de ocasionar cianose. É o que ocorre nas metemoglobinemias e sulfonoglobinemias provocadas por ação medicamentosa (sulfas, nitritos, antimaláricos) ou por intoxicações exógenas. - Icterícia Coloração amarelada da pele, das mucosas visíveis e da conjuntiva bulbar, resultante de acúmulo de bilirrubina no sangue. A icterícia deve ser diferenciada de outras condições em que a pele, mas não as mucosas, pode adquirir coloração amarelada: uso de determinadas substâncias que impregnam a pele (p. ex., quinacrina), uso excessivo de alimentos ricos em carotenos (cenoura, mamão, tomate). As principais causas são: hepatite infecciosa, hepatopatia alcoólica, hepatopatia por medicamentos, leptospirose, malária, septicemias, lesões obstrutivas das vias biliares extra-hepáticas (litíase biliar, câncer da cabeça do pâncreas) e algumas doenças nas quais ocorra hemólise (icterícias hemolíticas). • A oxigenoterapia é eficaz no tratamento da cianose central e não influi na periférica; melhora também a cianose do tipo misto • A cianose periférica diminui ou desaparece quando a área é aquecida • A cianose das unhas concomitantemente com calor nas mãos sugere cianose central. ◗ Continuidade ou integridade ◗ Umidade A verificação da umidade inicia-se pela inspeção, mas o método adequado é a palpação, por meio das polpas digitais e da palma da mão. Pela sensação tátil, pode-se avaliar a umidade da pele com razoável precisão. Observa-se uma das seguintes possibilidades: • Umidade normal: geralmente a pele tem certo grau de umidade que pode ser percebido ao se examinarem indivíduos hígidos • Pele seca: a pele seca confere ao tato uma sensação especial. É observada em pessoas idosas, em algumas dermatopatias crônicas (esclerodermia, ictiose), no mixedema, na avitaminose A, na intoxicação pela atropina, na insuficiência renal crônica e na desidratação 27 • Umidade aumentada ou pele sudorenta: pode ser observada em alguns indivíduos normais ou pode estar associada a febre, ansiedade, hipertireoidismo e doenças neoplásicas. Em mulheres na menopausa, a umidade excessiva da pele (sudorese) provém das ondas de calor. ◗ Textura A textura da pele é avaliada deslizando-se as polpas digitais sobre a superfície cutânea, sendo possível constatar uma das seguintes alternativas: Textura normal: desperta uma sensação própria que a prática vai proporcionando, e é encontrada em condições normais Pele lisa ou fina: observada nas pessoas idosas, no hipertireoidismo e em áreas recentemente edemaciadas Pele áspera: observada nos indivíduos expostos às intempéries e que trabalham em atividades rudes, tais como lavradores, pescadores, garis e foguistas, e em algumas afecções como mixedema e dermatopatias crônicas Pele enrugada: que se nota nas pessoas idosas, após emagrecimento rápido, ou quando se elimina o edema. ◗ Espessura Para se avaliar a espessura da pele faz-se o pinçamento de uma dobra cutânea usando-se o polegar e o indicador. Há de se ter o cuidado de não englobar o tecido celular subcutâneo. Em outras palavras: pinçam- se apenas a epiderme e a derme. Essa manobra deve ser feita em várias e diferentes regiões, tais como antebraço, tórax e abdome. Podem-se encontrar: Pele de espessura normal: é a observada em indivíduos hígidos Pele atrófica: acompanha-se de certa translucidez que permite ver a rede venosa superficial. É observada nos idosos, nos prematuros e em algumas dermatoses Pele hipertrófica ou espessa: é vista nos indivíduos que trabalham expostos ao sol. A esclerodermia é uma colagenose que tem no espessamento do tegumento cutâneo uma de suas características clínicas mais fáceis de observar. ◗ Temperatura Antes de tudo, deve-se chamar atenção para não se confundir temperatura corporal com temperatura da pele. São coisas diferentes, embora com certa frequência estejam intimamente relacionadas. Para avaliação da temperatura da pele usa-se a palpação com a face dorsal das mãos ou dos dedos, comparando-se com o lado homólogo cada segmento examinado. A temperatura da pele varia entre amplos limites. Nas extremidades essas variações são mais acentuadas. É muito influenciada pela temperatura do meio ambiente, emoção, ingestão de alimentos, sono e outros fatores. O aumento da temperatura da pele pode ser universal ou generalizado, e aí, então, trata-se da exteriorização cutânea do aumento da temperatura corporal (febre). A causa principal do aumento da temperatura em áreas restritas ou segmentos corporais são os processos inflamatórios. A presença de calor e rubor é suficiente para o reconhecimento de um processo inflamatório. A dor pode ocorrer apenas quando provocada. Quando há diminuição generalizada da temperatura corporal, trata-se de uma hipotermia. A hipotermia localizada ou segmentar traduz quase sempre redução do fluxo sanguíneo para uma determinada
Compartilhar