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FACULDADES INTEGRADAS DE JAU – FIJ CURSO DE PSICOLOGIA ELAINE VALENTINA GIMENEZ REBECA OLIVEIRA DOS SANTOS ROJO A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MÃE-BEBÊ NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA JAÚ/SP 2013 ELAINE VALENTINA GIMENEZ REBECA OLIVEIRA DOS SANTOS ROJO A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MÃE-BEBÊ NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA JAÚ/SP 2013 Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Psicologia das Faculdades Integradas de Jaú, como parte dos requisitos para obtenção de BACHARELADO EM PSICOLOGIA, elaborada sob orientação da Prof.ª Drª. Elaine C. Gardinal Pizato. Autorizamos a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. Catalogação da Publicação Serviço de Documentação das Faculdades Integradas de Jaú Catalogação na fonte Bibliotecária: Yone da Silva – CRB 8/7465 G491i Gimenez, Elaine Valentina A importância do vínculo mãe-bebê no processo de desenvolvimento na primeira infância / Elaine Valentina Gimenez; Rebeca Oliveira Santos Rojo. Jaú : Faculdades Integradas de Jaú, 2013. 50f. Orientadora: Profª. Drª. Elaine Cristina Gardinal Pizato Monografia (Graduação) – Facu ldades Integradas de Jaú. Centro de Ciências da Saúde. Faculdade de Psicologia. 1. Vínculo. 2. Relação mãe-bebê. 3. Teoria do apego. I. Rojo, Rebeca Oliveira dos Santos II. Pizato, Elaine Cristina Gard inal. III Faculdades Integradas de Jaú. Centro de Ciências da Saúde. Faculdade de Psicologia. VI. Título. CDD 155 CDD 158.2 ELAINE VALENTINA GIMENEZ REBECA OLIVEIRA DOS SANTOS ROJO A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MÃE-BEBÊ NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA Data da aprovação: 24/10/2013. __________________________________ Drª ELAINE CRISTINA GARDINAL PIZATO __________________________________ Ms. GLAURA MARIA SAJOVIC VERDIANI ____________________________________________ Drª MARIA RENATA MACHADO VAZ PINTO COELHO Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Psicologia das Faculdades Integradas de Jaú, como parte dos requisitos para obtenção de BACHARELADO EM PSICOLOGIA, elaborada sob orientação da Prof.ª Drª. Elaine C. Gardinal Pizato. Dedico este trabalho à minha família, Pois cada um a sua maneira contribuiu para que eu pudesse avançar mais uma etapa da minha vida. Elaine Valentina Gimenez Dedico este trabalho aos meus filhos, Por terem sido o sentido, a força e motivação de continuar essa jornada que aqui se finda e principalmente por serem motivos para o meu viver. Rebeca O. dos Santos Rojo Acima de tudo agradeço a Deus nosso Senhor, Agradeço também à minha mãe Maria, ao meu irmão Fernando e a minha amiga Cris, pessoas maravilhosas que sempre me deram forças diante das dificuldades encontradas ao longo desses cinco anos. À minha orientadora pela atenção e paciência. Aos professores que contribuíram para minha formação como psicóloga. Elaine Valentina Gimenez Agradeço primeiramente a Deus, Nosso Pai, a minha mãe pelas noites de cuidado desprendidas a meus filhos, À querida Drª Camélia S. Murgo, pelo suporte, orientação e atenção direcionados a mim nas madrugadas da vida, À minha querida orientadora Drª Elaine G. Pizato por todo trabalho e atenção precisa nos momentos de dificuldades, Aos queridos professores que ajudaram a construir esta profissional prestes a graduar-se. Rebeca O. dos Santos Rojo “Epígrafe”. O que desfrutamos uma vez, jamais poderemos perder. Hellen Keller A IMPORTÂNCIA DO VÍNCULO MÃE-BEBÊ NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO NA PRIMEIRA INFÂNCIA Um tema de grande relevância para a Psicologia é sobre o vínculo mãe-bebê. Grandes teóricos elaboraram suas teorias diante de informações que resultam dos estudos acerca da influência da figura materna para o desenvolvimento da criança. Com isso surgiu à necessidade de conhecer e descrever a importância do papel da mãe na interação com o filho desde o nascimento ao final dos três anos de idade, onde a criança utiliza uma diversidade de fatores intrínsecos e extrínsecos para a construção de sua personalidade. Para esta finalidade investigou-se o vínculo mãe- bebê, como também se levantou e pontuou acerca dos benefícios desta inter- relação no processo de estruturação da personalidade do bebê, cujo trabalho utilizou-se uma revisão em livros e nas bases de dados. Sua estrutura se deu sobre um embasamento teórico focado principalmente na figura materna, permeando pelo desenvolvimento cognitivo, físico-motor e psicossocial e por último, discutindo o que as pesquisas atuais trazem sobre resultados diante da existência e privação do vínculo mãe-bebê. Com esta revisão conclui-se que, embora haja resultados positivos e negativos no que tange a vinculação mãe-bebê, a criança pode obter outros meios para que possa alcançar um bom desenvolvimento, mesmo que não possua a figura materna presente. Palavras-chave: Vínculo. Relação mãe-bebê. Teoria do apego. THE IMPORTANCE OF THE LINK BETWEEN MOTHER AND BABY INTO THE DEVELOPMENT PROCESS IN FIRST CHILDHOOD This is a huge theme about the link between mother and baby to Psychology. Many theorists prepare their theories with information that result from studies about the mother’s figure influence to the development of the child. Because of this, there is the necessity to know and describe the importance of the mother’s actuation in the interaction with the son-daughter from the birth to the end of the third year, where the child uses a diversity of factors, intrinsic and extrinsic ones, to build his/her personality. To this finality the link mother-baby was investigated, also it was pointed about the benefits of this inter-relationship into the process of the baby’s personality organization, which work used information form a review from books and data basis. Its structure was upon a based theory focused into the mother’s figure, through the cognitive, physical-motor and psych-social developments and at the end, discussing on what the actual researches show about the results front the existence and privation of the mother-baby link. With this review we can conclude that although positive and negative results about this link appear, the chi ld can obtain other means to reach a good development, even though without the mother’s figure presence. Key words: Link. Mother-baby relationship. Theory of affection. Quadro 1 - Os seis subestágios do Estágio Sensório-Motor do DesenvolvimentoCognitivo de Piaget............................................................................................................... 19 Tabela 1 - Marcos no Desenvolvimento da Linguagem do Nascimento aos 36 meses. ................................................................................................................................................. 29 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 12 1.1 OBJETIVOS GERAIS............................................................................................... 12 1.1.1 Objetivos Específicos............................................................................................ 13 1.2 METODOLOGIA........................................................................................................ 13 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO: A INFLUÊNCIA DA MÃE EM UMA PERSPECTIVA TEÓRICA .................................................................................................. 14 2.1 O Desenvolvimento Humano sob a luz da psicanálise....................................... 14 2.2 A contribuição de Jean Piaget ................................................................................ 18 2.3 Urie Bronfenbrenner e sua teoria contemporânea do Desenvolvimento ......... 22 3 DESENVOLVIMENTO HUMANO: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS ............. 25 3.1. Desenvolvimento Cognitivo ..................................................................................... 25 3.1.1. Abordagem behaviorista ...................................................................................... 25 3.1.2. Abordagem psicométrica ..................................................................................... 25 3.1.3. Abordagem piagetiana .......................................................................................... 27 3.1.4. Abordagem do processamento de informações............................................ 28 3.1.5. Abordagem da neurociência cognitiva: ........................................................... 28 3.1.6. Abordagem sociocontextual: .............................................................................. 28 3.2. Desenvolvimento Físico e Motor ............................................................................ 30 3.3. Desenvolvimento Psicossocial................................................................................ 33 4 O VÍNCULO E SUA IMPORTÂNCIA ........................................................................ 38 4.1 O Estabelecimento do vínculo: resultados de uma boa e má vinculação com a mãe...... ................................................................................................................................... 38 4.2 O psicólogo e sua importância à conscientização junto à família sobre o vínculo..................................................................................................................................... 45 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 47 REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 48 12 1 INTRODUÇÃO Este trabalho traz em sua pesquisa um tema muito pertinente para a atualidade, embora seja largamente estudado ao longo da Psicologia. O motivo que incentivou esta revisão literária é pautado nas informações que a mídia vem trazendo acerca das crianças em vulnerabilidade social, onde é observada a falta de um suporte familiar, em especial a ausência de um vínculo com os pais, enfatizando a figura materna. A literatura traz alguns teóricos fundamentais à Psicologia, que contribuíram acerca deste tema pertinente e ainda atual, haja visto que estudos ainda pontuam informações de suma importância buscando entender o comportamento do indivíduo que tenha ou não usufruído deste vínculo familiar, em especial à mãe. Com esta pesquisa busca-se conscientizar a sociedade sobre a importância de construir e manter junto à criança um bom relacionamento pautado na segurança e afetividade, para que ao necessitar de suporte familiar saiba que pode obter no seio familiar. Assim sendo, poder-se-á alcançar indivíduos mais seguros frente os revezes da vida. O trabalho está estruturado em três capítulos. O primeiro busca apresentar um embasamento teórico acerca do vínculo mãe-bebê. No segundo capítulo, é abordado a respeito do desenvolvimento humano físico- motor, psicossocial e cognitivo da criança na primeira infância. O terceiro e último capítulo prevê abordar a importância deste vínculo apresentando alguns resultados que os estudos mostram acerca da criança que possui uma boa vinculação com a mãe, em contraponto, as dificuldades que a criança apresenta com a privação de contato. Também encontrar-se-á o papel do psicólogo, visando enfatizar quão pertinente é disseminar as informações aqui apresentadas. Com isso espera-se promover esta conscientização tanto aos profissionais em contato com a criança como à família. 1.1 OBJETIVOS GERAIS Uma das perspectivas desta pesquisa é conhecer e descrever a importância do papel da mãe na interação com o filho desde o nascimento ao final dos três anos 13 de idade, quando a criança uti liza uma diversidade de fatores intrínsecos e extrínsecos para a construção de sua personalidade. 1.1.1 Objetivos Específicos Para tanto, é necessário: Investigar acerca da criação do vínculo mãe-bebê; Levantar os benefícios desta interrelação no processo do desenvolvimento da criança. 1.2 METODOLOGIA A metodologia desta pesquisa é um levantamento bibliográfico, o qual seu material utilizado originou-se de livros técnicos pertinentes ao tema escolhido, como também artigos científicos. As bases de dados utilizadas para a obtenção destes artigos foram: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Scientific Electronic Library Online, como também bibliotecas virtuais em universidades brasileiras. Vale ressaltar que foi encontrado um grande acervo de discussão sobre o tema referido. O critério utilizado para a seleção do material se deu sobre sua relevância na contribuição para esta pesquisa. 14 2 DESENVOLVIMENTO HUMANO: A INFLUÊNCIA DA MÃE EM UMA PERSPECTIVA TEÓRICA A relação mãe-filho é um tema amplamente discutido pela literatura, desde os tempos mais remotos até a atualidade. Através dos estudos desenvolvidos pela Psicologia observa-se que alguns comportamentos, pensamentos e até mesmo traços de personalidade origina-se do relacionamento mãe e filho. Embora com algumas vertentes teóricas distintas, é possível afirmar que todas convergem para a importância deste vínculo desde a mais tenra idade. Diante disso, esta pesquisa apresentará contribuições de alguns teóricos acerca do tema. 2.1 O Desenvolvimento Humano sob a luz da psicanálise Em se tratando do desenvolvimento humano, a psicanálise, uma das pioneiras, procurou esclarecer o mesmo através de fases. Bee (1997) relata que um dos precursores sobre o desenvolvimento da psique humana foi Freud, o qual apresentou uma estrutura da personalidade dividida em três partes, sendo elas: Id, ego e superego. Segundo ele o id obtém a libido (impulso instintivo), o ego, por sua vez, é composto por um conteúdo mais consciente que executa a personalidade, e por último o superego sendo o centroda consciência e moral, composto pelas regras e limites morais da família e da sociedade. Diante disso, Freud (1925) apud Bee (1997) ressalta que o bebê recém-nascido não possui tais estruturas delimitadas. O autor contribui com as pontuações acerca das características dos estágios psicossexuais. Para ele, o recém-nascido busca saciar seu prazer libidinal estimulando suas zonas erógenas orais, como o ato de sugar, conhecida como fase oral. Sandim (2011) exemplifica a fixação desta fase em um adulto cujo comportamento de se dá em fumar, comer demasiadamente, falar demais, roer unhas, ou seja, tudo que envolva a zona erógena – a boca. Posteriormente a criança adentra na fase anal, cujo prazer se dá no controle esfincteriano, pois consegue expelir os excretos por voluntariedade. Pode usar desse mecanismo de 15 expulsão para conseguir atenção desejada, ao expeli-la em local ou momento inoportuno visando à atenção da mãe. Nessa fase, percebem-se traços de personalidade de poder e controle, onde o adulto produz comportamentos de avareza, devido inconscientemente o dinheiro estar relacionado a algo sujo, assim como as fezes. (SANDIM, 2011). O desenvolvimento humano na teoria freudiana ainda segue pelas fases fálica, latência e genital. Um desenvolvimento livre de neuroses é aquele em que a criança obtém satisfação de suas necessidades como cada estágio prevê. Portanto, baseado nos escritos de Freud, os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento da personalidade do indivíduo, sendo a interação com a figura materna imprescindível nesse processo. Freud (1969) acrescenta ainda que, inicialmente, a criança busca satisfação sexual vinculando sua libido ao seio materno, fonte da sua nutrição, perdendo-o posteriormente, no qual é o período que já obtém a representação total da figura que detinha o objeto do prazer, ou seja, a figura completa da mãe, portanto, no ato da amamentação, a criança estrutura seus relacionamentos amorosos. Posteriormente, a criança busca este prazer anteriormente satisfeito através da nutrição, aprendendo a amar outras pessoas que saciam seus sentimentos de desamparo. Aponta ainda, que com os atos maternos emitidos ao bebê como beijo, abraço, carícia, entre outros, embora sejam de cunho terno, a mãe desperta na criança sua pulsão sexual, preparando para buscar este prazer posteriormente, ainda que em outro objeto. Contudo, enfatiza veemente a suma importância da mãe ter essa consciência diante da sexualidade do bebê e a importância da pulsão sexual ser saudável para a vida psíquica da criança, preparando-a para todas as suas realizações futuras, pois a mãe está ensinando seu bebê a amar. Um dos pontos cruciais nesse contexto se dá quando a criança emite uma insaciável demanda de ternura dos pais, o qual Freud (1969) alude um prenúncio de neurose posterior. Freud (1925) apud Klein (1969) relata que a criança possui um estado de angústia quando a figura materna é ausentada. Os autores convergem com a ideia de o bebê não possuir bem definida a sensação de ausência temporária ou uma perda definitiva da mãe. Sendo assim, Klein (1969) conclui que a criança busca a presença da mãe para suprir a sua angústia inspirada pelo superego, com isso a criança desenvolve seu ego. 16 Seguindo as ideias de Freud (1925) e Klein (1945) apud Bee (1997), Erik Erikson (1959) apud Bee (1997) parti lha dos preceitos básicos acerca do desenvolvimento, entretanto com algumas ressalvas. Uma delas é a não priorização do impulso sexual em sua teoria, mas sim, o surgimento do senso de identidade, gradativamente, enfocando no desenvolvimento psicossocial tendo sua conclusão na fase adulta, divergindo de Freud e Klein no que tange a construção da personalidade ser primordial nos primeiros anos de vida. Porém, como Freud, Erikson delimita fases para o desenvolvimento, com algumas peculiaridades com o foco fundamental nas relações sociais, como também a extensão das fases à idade adulta, contrapondo-se à Freud. Ele acreditava que é na infância onde se inicia um ciclo de desenvolvimento influenciável, modificando a personalidade da criança até atingir a fase adulta. O indivíduo cresce à medida que passa por exigências internas tanto do seu ego como do meio. Então, em cada estágio o ego passa por uma crise que resulta em positivo ou negativo, dando origem a um ego mais firme e rico ou enfraquecido e fragilizado, respectivamente (RABELLO E PASSOS, 2013). Para o autor acima citado, essas crises dão os nomes às fases que a criança presenciará. Passando positivamente por elas, o ego instaura-se mais forte ou fragilizado como já mencionado. As fases, segundo Erikson (1987) apud Rabello e Passos (2013) são: Confiança básica versus Desconfiança básica; Autonomia versus Vergonha e Dúvida; Iniciativa versus Culpa; Diligência versus Inferioridade; Identidade versus Confusão de Identidade; Intimidade versus Isolamento; Generatividade versus Estagnação; Integridade versus Desespero. Este trabalho se atentará às fases “Confiança básica versus Desconfiança básica” e “Autonomia versus Vergonha e Dúvida” por abarcar a faixa etária proposta. Inicialmente, trata-se do estágio “Confiança básica versus Desconfiança” (grifo 17 nosso), que corresponde à fase oral citada por Freud em seus estudos. De acordo com Erik Erikson (1959) apud Bee (1997) esse estágio é marcado pela figura materna como fundamental para o estabelecimento de confiança básica para a criança. O bebê necessita satisfazer seus anseios de aconchego, conforto e saciedade, o qual para satisfazer tal necessidade, a mãe necessita amar consistentemente e responder prontamente às necessidades do bebê para que a confiança vá tecendo-se, caso contrário, a criança torna-se desprovida de confiança, cujo conceito é utilizado posteriormente por Bowlby (1989) em sua teoria do apego. É a primeira relação social do bebê, onde ele aprende a lidar com a força básica (grifo do autor), que para Erikson (1987) apud Rabello e Passos (2013) cada fase produz uma força, sendo essa a originária a chamada “esperança”. Diante da ausência da mãe, o bebê cria esperança de tê-la novamente, e com seu regresso, o bebê percebe que é possível querer e esperar porque irá alcançar seu desejo. Sendo assim aprende a concepção de confiança, pois o mundo é bom, caso contrário, cria decepções, tendo o sentimento que o mundo é mau. Para o bebê a mãe é um ser supremo e diante da experiência positiva, seu ego fortalece, caso contrário, o bebê cria o idolismo, ou seja, o culto ao heroi, achando que nunca superará o nível da mãe. (RABELLO E PASSOS, 2013). A fase seguinte é “Autonomia versus Vergonha e Dúvida”, correspondente à fase anal da contribuição de Freud (1925) apud Bee (1997). A criança já possui mais autonomia, devido obter controles musculares, ocorre então à fase da exploração ao novo. Com isso percebe que não pode fazer tudo o que quer, pois é o momento em que as regras começam a serem presentes em suas ações. Esse controle social dá início ao aprendizado. Rabello e Passos (2013) incita que os adultos utilizam do conceito “vergonha” para ensinar a criança o certo e errado, como também desprendendo autonomia para a criança aprender. Porém, ressalta-se a importância para não expor demasiadamente a criança a essa vergonha, pois é possível desencadear um indivíduo dissimulado ou com extrema vergonha pondo em dúvida duas potencialidades e capacidades. Para Rabello e Passos (2013) que citam Erikson (1976, p. 234): “A vergonha precederia a culpa, sendo esta última derivada da vergonha avaliada pelo superego”. Com a aprendizagemdo controle social e autocontrole a criança adquire o conceito de “vontade”, aprendendo a utilizá-la na manipulação de objetos, 18 locomoção, o conceito de “eu” no diálogo, tornando-se cada vez mais independente. É imprescindível cuidado dos pais para saber equilibrar a autonomia da criança, pois se exigida demais, diminuirá sua autoestima, em contrapartida, se pouco exigida causará sensação de abandono e dúvidas de sua capacidade. Diante disso Rabello e Passos (2013) enfatizam a necessidade dos pais ensinarem a criança ter autonomia, entretanto é necessário também estar sempre presente para auxi liar nos momentos que a criança sentir dificuldades e duvidar de suas capacidades. 2.2 A contribuição de Jean Piaget Bee (1997) cita que na abordagem cognitivo-desenvolvimental, um grande teórico destaca-se por sua contribuição, seu nome é Jean Piaget. Diante de algumas observações acerca de comportamentos a um grupo de crianças com a mesma faixa etária, o teórico generaliza comportamentos semelhantes entre elas. Comportamentos esses, que preveem soluções de problemas e dificuldades de igual modo dentre este grupo. Seus estudos remetem ao pressuposto de que a criança busca adaptar-se ao meio, não apenas ser modelado por ele, mas, buscar ativamente a compreensão deste ambiente, examinando e manipulando os objetos e pessoas. (PIAGET, 1932; 1952; 1954; 1970; 1977 apud BEE, 1997). Para entender a contribuição de Piaget, é necessário atentar para o conceito de esquemas. O autor do livro “Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget” Barry J. Wadsworth (1997) diz que o esquema abarca a concepção de um repertório de ações, de cunho físico e mental, para efetuar algum ato ou comportamento. Sendo assim, o bebê possui uma limitação nesse repertório de esquemas inatos. De acordo com o seu desenvolvimento maturacional, a criança vai criando novas categorias baseadas nesses esquemas inatos, diante da comparação de um objeto a outro. Todo esse processo se origina de três processos básicos: assimilação, acomodação e equilibração, ou seja, absorver o novo evento, mudar o esquema mental (atualizar) e por último diante da adaptação do novo esquema equilibrar-se, respectivamente. 19 O desenvolvimento humano na visão de Freud, Erikson e Piaget, pode ser classificado em estágios e fases. Vale ressaltar, que Piaget (1971) apud Wadsworth (1997) enfatiza a importância do ambiente na influência da construção cognitiva do bebê. Bee (1997) menciona baseada em Piaget (1932; 1952; 1954; 1970; 1977), que, embora haja um desenvolvimento linear, nem todas as crianças conseguem atingir todos os estágios. Piaget (1971) apud Wadsworth (1997) pontua este desenvolvimento em quatro estágios, a saber: Estágio sensório-motor: período que compete do nascimento até os 18 meses; Estágio pré-operacional: dos 18 meses aos seis anos; Estágio operacional-concreto: dos seis aos 12 anos; e por último; Estágio operacional formal: a partir dos 12 anos (PIAGET, 1971 apud WADSWORTH, 1997). Esta pesquisa visa se atentar basicamente ao estágio sensório-motor e a partes do estágio pré-operacional pertinente à idade pontuada neste trabalho, o qual Piaget relata a formação dos esquemas da criança a partir de sua perspectiva do que sente e suas ações motoras. Quadro 1 - Os seis subestágios do Estágio Sensório-Motor e Estágio Pré-Operacional do Desenvolvimento Cognitivo de Piaget. SUBESTÁGIOS DESCRIÇÃO Subestágio 1 – nascimento até 01 mês (uso de reflexos) Os bebês exercitam seus reflexos inatos e ganham certo controle sobre eles. Não coordenam informações dos sentidos. Não pegam um objeto que estão olhando. Com algumas semanas, observa-se o bebê já procurando o seio materno para saciar a fome, invés de esperá-lo chegar à boca. Diante do estímulo externo, percebe-se que o bebê vai construindo seus esquemas primários, embora ainda não saiba diferenciar entre o objeto e a si mesmo, no âmbito afetivo não possui consciência de sentimentos, apenas a sensação de fome e saciedade; Subestágio 2 – 01 a 04 meses ( reações circulares primárias) Os bebês fazem as primeiras adaptações adquiridas, isto é, sugam objetos diferentes de maneiras diferentes. Eles começam a coordenar informações sensórias e a agarrar objetos. Alguns comportamentos vão se originando de acordo com as experiências do bebê através da interação com o meio, por exemplo, a coordenação de levar o dedo à boca, movimentação da cabeça em busca da direção sonora emitida, levando-se a concluir que o bebê começa a associar os sentidos de visão e audição, nesse período a criança já demonstra haver afeto, entretanto não emitido a outrem, pois ainda não diferenciasse de si e as demais pessoas; 20 Subestágio 3 – 04 a 08 meses (reações circulares secundárias) Os bebês interessam-se mais pelo ambiente e repetem ações que trazem resultados interessantes e prolongam experiências interessantes. As ações são intencionais, mas inicialmente, não são orientadas a metas. Período que a criança começa distinguir-se do outro, tanto a si como os objetos, já ocorre uma intencionalidade primitiva; Subestágio 4 – 08 a 12 meses (coordenação dos esquemas secundários) O comportamento é mais deliberado e proposital à medida que os bebês coordenam esquemas previamente aprendidos (como olhar e pegar o chocalho) e usam comportamentos anteriormente aprendidos para atingir seus objetivos (como engatinhar para alcançar o brinquedo). Podem antecipar acontecimentos. Consegue prevê e antecipar situações do objeto manuseado, tornando evidente que a criança demonstra ter consciência de que os objetos tem utilidade para diversas coisas. Sobre o afeto percebe -se que os sentimentos são utilizados para obterem algumas finalidades, diante disso a criança já experimenta conscientemente a sensação de sucesso e fracasso, no que tange o conteúdo afetivo da situação. Subestágio 5 – 12 a 18 meses (reações circulares terciárias) Os bebês demonstram curiosidade e experimentação; vairam propositalmente suas ações para obter resultados. Eles exploram ativamente seu mundo para saber em que aspecto um objeto, acontecimento ou uma situação são novos. Experimentam novas atividades e usam o método de tentativa e erro para resolver problemas. a criança utiliza de seus esquemas cognitivos para resolver situações em experimentação, criando assim novos esquemas cognitivos. Piaget, então, enfatiza que é nesse momento que se pode concluir que é um comportamento de inteligência, pois a criança está formulando resoluções de problemas. No campo da afetividade, instala-se o gostar ou não gostar das situações, pessoas, entre outros, pois a criança já tem noção do seu eu. Subestágio 6 – 18 a 24 meses Uma vez que sabem representar os acontecimentos mentalmente, as crianças não se restringem mais à tentatia e ao erro para resolver problemas. O pensamento simbólico permite que a criança comece a pensar sobre os acontecimentos, antecipe suas consequencias sem sempre ter que recorrer à ação. As crianças começam a demonstrar compreensão. São capazes de utilizar símbolos, como gestos e palavras, e saber fazer de conta. Por exemplo, se a criança ouve a palavra cadeira, em sua mente constrói a imagem ilustrada referente a palavra ouvida. Através de sua capacidade de gostar e não gostar, ela a utiliza para escolher o que quer ou não. O mesmo ocorre em situação de inter-relação com os demais membros de seu convívio. Fonte: Adaptado de Papalia, Olds e Feldman (2008). Dando continuidade ao que Piaget (1971) apud Wadsworth (1997) menciona acerca sobre o desenvolvimentohumano à fase que é previsto neste trabalho, a criança ao atingir os 24 meses, já não se encontra mais no estágio sensório-motor, entrando agora o estágio pré-operacional que permeia até os sete anos. Entretanto será relatado apenas o que compete ao início. É observado que a criança apresenta eventos já internalizados com a construção de novos esquemas adquiridos na fase sensório-motora. A imitação 21 diferida agora é evidente, ou seja, a imitação de objetos e eventos que se encontram distantes da criança há algum tempo. Com isso Wadsworth (1997) enfatiza que a criança emite a representação mental do evento ou objeto, em outras palavras, existe a recordação. A criança passa também a utilizar de alguns objetos imputando nestes, outros conceitos, como por exemplo: pegar uma calculadora e brincar de telefone com ela. Esse recurso é chamado de jogo simbólico. As garatujas 1 agora estão presentes procurando externalizar aquilo que a criança tem em mente. Ocorre o desenvolvimento da linguagem falada, o qual a criança pode obter uma interação muito mais ampla e precisa. Em suma, a partir do estágio pré-operacional, a criança abrange seu meio, trocando e recebendo informações que influenciam grandemente em seu desenvolvimento. Piaget (1971) apud Wadsworth (1997) enfatiza que é na interação com outras pessoas que a criança obtém a desequilibração relativa para obtenção de novos esquemas, interação essa que abrange todos os ambientes oferecidos para a criança. Papália, Olds e Feldman (2006) baseados na conceituação de Rogoff, (1990, 1998), Rogoff, Mistry, Göncü e Mosier (1993) vem acrescentar acerca da importância na relação da criança com a família ressaltando a importância da participação guiada, como as interações recíprocas com adultos que organizam as atividades a serem desenvolvidas pelas crianças, criando uma conexão entre o entendimento da criança e do adulto. Comparti lhando a ideia de Piaget, Papália et al. (2006) adentra que essa participação acontece comumente nas brincadeiras e atividades diárias, onde as crianças conquistam de forma natural, habilidades, conhecimento e valores relevantes em sua cultura. Papália et al. (2008) convergem com Piaget onde enfatizam que da maturação do cérebro, informando que é durante os primeiros meses e anos de vida que este órgão passa por um crescimento notório e também por uma reorganização, porém algumas dessas mudanças estão diretamente ligadas ao desenvolvimento da linguagem. A frequência com que os pais ou cuidadores leem para as crianças e a 1 Garatujas: É experimentando traços aparentemente sem nexo - as chamadas garatujas - que as crianças pequenas desenham na tentativa de representar o que interpretam do mundo à sua volta. (Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/desenvolvimento-e- aprendizagem/importancia-garatuja-educacao-infantil-crianca-520247.shtml). 22 forma com que essa leitura é feita podem interferir em sua habilidade para falar, depois em sua competência para leitura e o tempo que demora em começar a ler (PAPALIA, OLDS E FELDEMAN, 2006). Para Rice, (1989) apud Papália, Olds e Feldman, (2006) quando a criança pequena tem pais ou cuidadores que se dispõe a ler histórias para a criança, cria-se uma intimidade emocional neste bebê fortificando o vínculo e a comunicação entre pais e filhos. 2.3 Urie Bronfenbrenner e sua teoria contemporânea do Desenvolvimento Outra grande contribuição para o desenvolvimento humano na atualidade é de Urie Bronfenbrenner, que divergindo do modelo clássico do estudo sobre tal tema, enfatiza as múltiplas influências nos mais diversos contextos. (BRONFENBRENNER 1977; 1996 apud MARTINS E SZYMANSKI, 2004). Para Bronfenbrenner e Morris (1998) citados por Martins e Szymanski (2004) as crianças influenciam o ambiente que vivem, entretanto são influenciadas não apenas por pessoas, como também objetos e símbolos. No que tange propriamente sobre o início do desenvolvimento humano, Bronfenbrenner e Morris discorrem sobre os processos proximais, descrevendo-os como: “formas particulares de interação entre organismo e ambiente, que operam ao longo do tempo e compreendem os primeiros mecanismos que produzem o desenvolvimento humano” (BRONFENBRENNER: MORRIS, 1998, p 994 apud MARTINS E SZYMANSKI, 2004). Alves (1997) diz que a Teoria da Ecologia do Desenvolvimento de Bronfenbrenner, busca compreender, basicamente, o contexto de quatro níveis básico, sendo eles, a saber: 1. A Pessoa: Os autores citados por Martins e Szymanski (2004) traçam três características existentes na pessoa o qual influenciam e modificam seu desenvolvimento, sendo eles: Disposições: coloca os processos proximais em movimento e os mantém; 23 Recursos bioecológicos: são os recursos e habilidades, experiências e conhecimentos que levam os processos proximais existirem e efetivarem-se de acordo com a fase do desenvolvimento; Demanda: contextos que podem ou não encorajar a pessoa em determinada circunstância, influenciando assim, os processos proximais. 2. O Processo: Martins e Szymanski (2004) diz estar relacionado às ligações nos mais diversos níveis que propulsionam o indivíduo ao crescimento e desenvolvimento, sendo de âmbito intelectual, emocional, social e moral, tendo uma participação ativa e constante para que assim possa ser instalado o progresso do aprendizado. Com isso, o processo de aprendizagem vai solidificando-se na criança no que tange a conteúdos já adquiridos, como também novas informações, onde Bronfenbrenner denominou processo proximal. 3. O Contexto: baseado na definição de Bronfenbrenner, Martins e Szymanski (2004) incitam que contexto é o ambiente global em que toda a história e processos desenvolvimentais ocorrem, desde ambientes habituais como os mais remotos em que o indivíduo venha encontrar-se, ambientes estes que se discorrerá adiante neste presente trabalho. 4. O Tempo: Encerrando esta pontuação, Martins e Szymanski (2004) explicam que este desenvolvimento decorre de fatos históricos da vida do indivíduo, onde algum evento ocorrido veio a influenciar mudanças significativas, tanto de ordem familiar quanto eventos sociais de grande magnitude. Não esquecendo as consideráveis mudanças ocorrentes de geração a geração no quesito educação familiar, aprendizagem, etc. Para Kreppner (2000) apud Mondin (2005) o estudo sobre a família é imprescindível para a contribuição na psicologia contemporânea, pois Kreppner partilha da ideia de Bronfenbrenner focando e compreendendo a dinâmica entre os membros desse microssistema, tendo em vista que tanto influencia como é influenciada pelos demais meios, alterando assim o desenvolvimento do ser humano que compõe este sistema. Sendo assim, Gomes (1995) apud Mondin (2005) afirma que o autoconceito é construído pelos fatores biológicos em contato com influências contextuais, tanto sociais como afetivas. Conforme dito acima, Martins e Szymanski (2004) mencionam Bronfenbrenner então exemplifica as estruturas ecológicas do 24 desenvolvimento como uma boneca russa, onde uma se encaixa dentro da outra. Sendo tais estruturas: Microssistema: no que diz respeito ao núcleo familiar, escola, ou seja, todo ambiente que promove uma influência imediata na criança: Mesossistema: no que tange a interação dos microssistemas em conjunto influenciando o indivíduo; Exossistema: se refere à interação de ambientes o qual, ao menos um deles, não obtém a presença direta do individuo a ser influenciado por tal ambiente, como por exemplo, o ambiente de trabalho do paida criança, e por último, Macrossistema: de dimensão mais abrangente, envolvendo cultura, crenças, sistemas econômicos, entre outros, os quais influenciam indiretamente no desenvolvimento humano. Urie Bronfenbrenner, segundo Martins e Szymanski (2004), é um dos teóricos mais aceitos na atualidade, devido seu modelo de desenvolvimento humano dividido em camadas, onde todas interagem num contexto direta e indiretamente na criança, como também no adulto, abarcando assim todos os fatores existentes na vida do indivíduo. Alves (1997) concorda com Martins e Szymanski (2004) e complementa com a afirmativa que a abordagem prevê uma constante construção fortemente ligada a seus próprios autores. 25 3 DESENVOLVIMENTO HUMANO: PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS É na primeira infância que os principais vínculos são construídos, assim como os cuidados e estímulos necessários para o desenvolvimento da criança, o qual é a família a responsável por fornecer essas condições (ZAMBERLAN; BIASOLI-ALVES, 1996 apud ANDRADE et al 2003). Com a qualidade dos cuidados físico, afetivo e social, proporciona uma segurança e melhor qualidade de vida à criança. Para os autores Mussen, Conger, Kagan e Hutson (2001), na perspectiva biológica do desenvolvimento, há um padrão de comportamento da criança, independente de seu país, onde basicamente, alguns comportamentos são observados numa mesma faixa etária, sendo então fatores biológicos inatos. Este capítulo visa pontuar algumas informações acerca dos três tipos de desenvolvimento que o individuo possui, embora apresentados distintivamente, vale ressaltar que são um conjunto interagindo e influenciando entre si. 3.1. Desenvolvimento Cognitivo Papalia, Olds e Feldman (2008) relatam que pesquisadores do desenvolvimento cognitivo se pautam em três vertentes clássicas, abordagem behaviorista, abordagem psicométrica e abordagem piagetiana, descritas abaixo em maiores detalhes: 3.1.1. Abordagem behaviorista É responsável por investigar a aprendizagem básica através do comportamento adaptado conforme o estímulo e resposta. A abordagem behaviorista prevê alguns comportamentos aprendidos pelo bebê como ouvir, cheirar, tocar e degustar onde a criança possui uma capacidade, ainda que primitiva, de se recordar de tal aprendizagem. Papalia, Olds e Feldman (2008) enfatizam que para tal processo de aprendizagem é crucial a maturação, embora os teóricos behavioristas reconheçam a maturação “como um fator de limitação” (p.190), não se atém muito a ela, enfatizam os mecanismos usados para a aprendizagem. 3.1.2. Abordagem psicométrica 26 Calcula quantitativamente as diferenças individuais, onde quanto maior for o escore, a pessoa é julgada mais inteligente. Segundo Papalia, Olds e Feldman (2008), Sir Francis Galton (1822-1911) afirmou que a inteligência poderia ser medida através do tamanho da cabeça e o tempo de reação. Os autores também relatam que Cattell (1860-1944) desenvolvera testes cujo objetivo era medir “a intensidade da pressão da mão, sensibilidade à dor, discriminação de peso, julgamento de tempo e memória automática” (p. 192). Embora Papalia, Olds e Feldman (2008) enfatizem que o uso destes testes seja relativamente inviável a bebês, destaca grande utilidade a idade escolar, predizendo o desempenho da criança com grande precisão e confiança. Com isso Papalia, Olds e Feldman (2008) referem-se que dificilmente o teste de inteligência com bebês é preciso, haja vista que não possuem comunicação precisa com o ambiente. Entretanto, de acordo com a necessidade que os pais julgam obter uma avaliação sobre a criança, observando esta não estar dentro dos comportamentos padrões para a idade, é possível efetuar testes de desenvolvimento que comparam tais comportamentos da criança a uma série de tarefas almejadas que sejam efetuadas de acordo com a idade. Os autores relatam também diante de alguns estudos observados, conclui-se que a condição socioeconômica influencia no desenvolvimento cognitivo da criança, por limitar a capacidade dos pais fornecerem recursos educacionais, como também exercer um efeito psicológico negativo nos genitores. Outra questão que Papalia, Olds e Feldman (2008) citam ser importantes para a avaliação do desenvolvimento da criança é o Impacto do Ambiente Doméstico, mensurado através do teste de Observação Doméstica para Medição do Ambiente (HOME) (Bradley, 1989; Caldwell e Bradley, 1984 apud Papalia, Olds e Feldman, 2008), onde avaliam os recursos e o ambiente que a criança vive como também utilizam a entrevista com os genitores. Vale ressaltar que este teste possui versão para bebês como crianças de idade pré-escolar e escolar. É observado durante a sua aplicação junto à família de um bebê, a questão de atenção e carícia desprendida à criança, ou bebê, que o examinador se atenta, dentre outras questões. Diante disso, Papalia, Olds e Feldman (2008) concluem que pais inteligentes podem proporcionar um ambiente doméstico muito favorável e 27 estimulante ao desenvolvimento cognitivo, além de passar seu material genético a esta criança vindo a ser um fator de grande influência também. Por último, nesta abordagem, Papalia, Olds e Feldman (2008) citam que a intervenção precoce também é outro fator a ser avaliado, fator este dividido em seis mecanismos de preparação para o desenvolvimento (grifo dos autores): Incentivo à exploração; Instrução em habilidades cognitivas e sociais básicas; Reforçamento de novas realizações; Orientação na prática e aquisição de novas habilidades; Cuidado contra punição inadequada diante da experimentação de novas habilidades Estimulação a comunicação e linguagem simbólica. Ramey e Ramey (1998a, 1998b) apud Papalia, Olds e Feldman (2008) relatam que uma criança normal é aquela que possui todos estes itens acima citados. Também se percebeu que crianças com intervenção educacional precoce tendem a se desenvolverem mais rápido. As intervenções precoces mais eficazes são as que iniciam cedo permeando ao longo da escola, necessitam ser intensas, de cunho educacional direto, com uma abordagem abrangente, incluindo saúde, orientação familiar. 3.1.3. Abordagem piagetiana Indica que o desenvolvimento cognitivo é construído à medida que os esquemas são construídos com a influência dos fatores internos e externos da pessoa. Ferreira (2009) relata que a preocupação de Piaget era saber todo o processo do desenvolvimento do ser humano desde o seu nascimento. Papalia, Olds e Feldman (2008) mencionam que os estudos de Piaget inicialmente ocorreram visando padronizar os testes de Binet, entretanto percebeu haver respostas erradas das crianças, intrigando-o e assim levando-o a pesquisar o motivo. Foi então que ao observar seus próprios fi lhos, Piaget concluiu que os pensamentos das crianças diferem-se dos pensamentos dos adultos, pois seu cognitivo se desenvolve no decorrer da infância e adolescência. 28 Os autores relatam ainda a suma importância para a construção cognitiva da criança o conceito de objeto, ou seja, saber que os objetos existem e tem características e localização distintas e independentes. Sendo assim a criança percebe que não faz parte do corpo da mãe, assim como todos os demais objetos a sua volta, diante disso a criança se interessa por alcançar coisas além de seu campo de alcance, evoluindo assim a buscar pelos seus objetivos. Papalia, Olds e Feldman (2008) pontuam essas três abordagens como as principais, entretanto, mencionam, ainda, algumas abordagens recentes, como: 3.1.4. Abordagemdo processamento de informações Para Papalia, Olds e Feldman (2008) é focada nos processos de aprendizagem, percepção, memória e resolução de problemas, visando descobrir o que o indivíduo faz com as informações antes de uti lizá-las. Muitas pesquisas acerca desta abordagem se atêm a habituação e desabituação do bebê como uma ferramenta de aprendizagem, sendo a habituação uma aprendizagem devida sua exposição constante e frequente tornando desconhecido em conhecido. A desabituação ocorre no momento em que esta quebra do habitual, leva a criança a se interessar novamente por este novo estímulo, aprendendo então essa nova informação. (PAPALIA, OLDS E FELDMAN, 2008). 3.1.5. Abordagem da neurociência cognitiva: Os autores ressaltam que esta abordagem está focada no funcionamento do sistema nervoso central, identificando as estruturas cerebrais importantes e imprescindíveis para a construção da cognição. Nesta abordagem a memória explícita remete à lembrança do consciente, já a memória implícita se dirige à questão de hábitos e habilidades. Embora seja de grande importância no processo cognitivo, não apenas tais memórias são ressaltadas, como também, o fator ambiental como estímulo nos primeiros anos de vida, que trazem conteúdos a traçar as memórias mencionadas acima. 3.1.6. Abordagem sociocontextual: Papalia, Olds e Feldman (2008) mencionam que tal abordagem direciona o desenvolvimento cognitivo para aspectos de influência ambiental no processo de aprendizagem, focando principalmente o papel dos pais e outros cuidadores. Isso vem confirmar o que já exposto neste trabalho acerca da permissão de um ambiente 29 propenso e estimulante a aprendizagem que os pais possam proporcionar à criança. Sabendo também que o contexto cultural é de suma importância no processo de aprendizagem da criança, pois influencia os cuidadores à educação. Papalia, Olds e Feldman (2008) referem à linguagem como algo de suma valia para o desenvolvimento cognitivo, pois através dela a criança tem contato com informações e situações influenciando a sua estrutura cognitiva. Segue abaixo quadro com marcos importante sobre a aquisição da linguagem na primeira infância: Tabela 1 - Marcos no Desenvolvimento da Linguagem do Nascimento aos 36 meses. Fonte: Extraído do blog Danieli Scherer Pires, 2013. Papalia, Olds e Feldman (2008) mesclam a influência da maturação cerebral como a interação social, em especial o papel dos pais e dos cuidadores. O modo 30 como se processa a linguagem no cérebro varia de acordo com o indivíduo, entretanto Papalia, Olds e Feldman (2008) ressalvam que cerca de 98% da população utiliza o hemisfério esquerdo à linguagem, incluindo as crianças. Vale ressaltar que o hemisfério direito participa deste processo, em menor contribuição, por isso Papalia, Olds e Feldman (2008) concluem que funções de linguagem estão ligadas a maturação de estruturas cerebrais como experiências contextuais. Contudo, a linguagem é um fenômeno estritamente social, o qual a importância dos pais como cuidadores em interação com a criança vem contribuir grandemente para essa aquisição. Em cada etapa da linguagem, desde o balbucio até a formulação oral de sentenças gramaticais, o papel do outro está inserido para essa evolução. Por isso é importante a pronúncia e repetição das palavras à criança. Embora não sejam propriamente os genitores em contato com o bebê, é importante haver uma “fala dirigida à criança” (p. 222), pois desempenha o papel além de cognitivo, social e emocional. Papalia, Olds e Feldman (2008) mensura a importância de ler em voz alta para a criança e questioná -la acerca das ilustrações, pois isso criará hábitos de leitura e linguagem à criança. Piaget em seus estudos afirma que a interação que a criança produz em sua infância resulta no desenvolvimento das relações no âmbito social, ou seja, além de instigar o desenvolvimento afetivo e social, seu papel também é contribuir na construção do desenvolvimento cognitivo. Cavicchia (2001) finaliza dizendo que Piaget incita a interação como o principal elemento para o desenvolvimento intelectual, ou seja, a interação do objeto ao sujeito através da assimilação, acomodação e equilibração. Esse construtivismo vê tanto o objeto já conhecido como o sujeito como resultado de um processo em constante construção. 3.2. Desenvolvimento Físico e Motor Para Young et al. (2010), o desenvolvimento cerebral se dá através das experiências que o indivíduo tem desde a vida intrauterina. Suas vias sensoriais são responsáveis pela maior parte das interpretações que o cérebro possui frente ao estimulo de ordem emocional, psicológica, intelectual, física e de linguagem. Tal situação é originada a partir daquilo que o feto vivenciou em sua formação neural. 31 Pesquisas apontam que na fase da construção dos genes (processo epigenética2) alguma experiência pode influenciar neste processo, tornando esta mudança no gene persistente até a vida adulta. Em suma, toda mudança genética influenciada por estímulos vividos na vida intrauterina, permanece por toda a vida do indivíduo. Papalia et al. (2006) apud Lopes, Nascimento, Souza e Mallet (2010) pontuam dois importantes momentos desenvolvimento físico e motor ainda na vida intrauterina. O primeiro é denominado Princípio Céfalo-caudal, ou seja, o desenvolvimento avança da cabeça às partes inferiores. Posteriormente vem o Princípio Próximo-distal, cujo desenvolvimento segue do centro às partes externas do corpo. Os bebês então desenvolvem a capacidade de utilizar os braços e pernas, após isso mãos e pés, terminando nos dedos. Ao longo dos dois últimos meses de vida fetal os bebês de termo saudáveis ganham camadas de gordura que servem para manter a temperatura corporal após o nascimento e de se adaptar as mudanças da temperatura do ambiente (PAPALIA, 2006). Os batimentos cardíacos e os sistemas circulatórios da mãe e do feto são separados, porém quando o bebê ainda está no útero seus sistemas corporais como circulação do sangue, respiração, alimentação, eliminação de resíduos e regulação da temperatura são feitas pelo corpo da mãe. Ao final, em média, o bebê nascerá com o tamanho de cinquenta centímetros e por volta de três quilos. O bebê que é privado de nascer através de parto vaginal pode sofrer prejuízo por não ter o estímulo da produção de hormônios de estresse que podem ajudá-lo a se adaptar a vida fora do útero (LARGERCRANTZ e SHOTKIN, 1986 apud PAPALIA e COLS, 2006). Para Fontanel e d’Harcourt (1997) apud Papália et al. (2006) o nascimento era considerado um ritual social feminino, onde a figura paterna não havia tanta importância. A gestante ficava sentada numa cama coberta apenas por um lençol e dava à luz sob os cuidados de uma parteira que a oferecia “conselhos, massagens, poções, irrigações e talismãs”. Algumas mulheres da família e da vizinhança ficavam 2 O termo epigenética é definido pela alteração herdável na expressão gênica, sem que haja mudança na sequência primária de DNA (WOLFFE; GUSCHIN, 2000 apud OLIVEIRA, 2012) 32 junto à gestante. Os gritos da mãe assim, como os do bebê, eram considerados naturais na hora do parto. Após o nascimento, o recém nascido passa por uma avaliação que visa cor, frequência cardíaca, irritabilidade reflexa (careta), tônus muscular e respiração, efetuada no primeiro minuto e ao 5º minuto após o parto, cuja avaliação chama-se Avaliação com Escore de Apgar3. Seus ossos cranianos estarão totalmente unidos somente após os 18 meses de idade. Alguns neonatos, durante osprimeiros dias são peludos, porque a penugem pré-natal ainda não caiu e todos os bebês novos são revestidos de vernix caseosa (“verniz caseoso”) que é uma espécie de capa protetora gordurosa contra infecções, que desaparece dentro de alguns dias (PAPALIA ET AL., 2006). Após o nascimento, os bebês necessitam fazer tudo sozinhos. Os neonatos possuem batimentos cardíacos rápidos e irregulares e a pressão arterial só se estabiliza após o décimo dia de vida. Na maioria das vezes o recém-nascido começa a respirar assim que fica em contato com o ar, mas se o bebê não conseguir respirar em cinco minutos ocorre a anoxia, ou seja, a falta de oxigênio, causando danos cerebrais irreversíveis. É também durante os primeiros dias de vida que os bebês eliminam o mecônio que são fezes verde-escuras e viscosas que se formam no intestino do feto. Para aprender a controlar os esfíncteres o bebê levará vários meses, pois no inicio da vida esses esfíncteres se abrem automaticamente quando a bexiga e o intestino estão cheios. (PAPALIA, 2006). Lopes, Nascimento, Souza e Mallet (2010) relatam que a audição do bebê é desenvolvida na vida intrauterina, para afirmar isso, em alguns estudos observaram- se reações dos bebês a diversos estímulos de cunho auditivo. Embora primitivo, o olfato é atuante, pois é observado que o bebê diferencia a mãe dos demais indivíduos, entretanto, segundo as autoras, isso não ocorra nos dois primeiros dias de vida. Quanto à questão gustativa, os bebês já nascem com os quatro sabores 3 É o método mais comumente empregado para avaliar o ajuste imediato do recém-nascido à vida extra-uterina, avaliando suas condições de vitalidade. Consiste na avaliação de 5 itens do exame físico do recém-nascido, com 1, 5 e 10 minutos de vida. Os aspectos avaliados são: freqüência cardíaca, esforço respiratório, tônus muscular, irritabilidade reflexa e cor da pele . ( http://www.uff.br/disicamep/escala_de_apgar.htm acessado em 09 de jul de 2013) 33 básicos – salgado, doce, azedo e amargo -, já a visão é menos desenvolvida ao nascer, embora responda a estímulos luminosos, sua visão é turva, entretanto discrimina o rosto da mãe aos demais. Bee (1997) apresenta dois tipos de reflexos que o bebê possui. O reflexo primitivo prevê de partes primitivas do cérebro, o qual ela já nasce com ele. Por volta dos seis meses o bebê deixa este reflexo primitivo, dando lugar ao reflexo adaptativo, sendo estruturas mais complexas do cérebro responsáveis por ele. Esses reflexos adaptativos dão suporte à criança adaptar-se e sobreviver no mundo. Para Lopes, Nascimento, Souza e Mallet (2010) o primeiro indício do desenvolvimento motor no bebê é acerca da sua capacidade de ficar de bruços, cujos joelhos dobrados procuram impulsioná-lo. Seguindo por tentar sustentar a cabeça ao tronco. O desenvolvimento motor é possível a partir da maturação muscular dos ombros, braços, mãos e dedos. Aliado a isso, a maturação das áreas corticais responsáveis pela parte sensorial como também coordenação motora. Com isso, sua percepção acerca dos objetos aprimora-se e, em conjunto com as mãos, podendo tentar levantar-se e quiçá dar os primeiros passos. Com o constante manuseio dos objetos vai adquirindo o movimento de pinça que resultará, futuramente, na habilidade do traço fino. Para isso Lopes, Nascimento, Souza e Mallet (2010) enfatiza a necessidade da maturação do corpo todo para que a criança adquira a condição de caminhar e manusear objetos, não esquecendo que este desenvolvimento é gradativo e ocorre em diversas circunstâncias, sendo o tempo de evolução relativamente diferente de uma criança para a outra. 3.3. Desenvolvimento Psicossocial Para DiPietro, Hodgson, Costigan e Johson (1996) apud Papália et al.(2006) ainda no útero os fetos evidenciam personalidades diferentes, apresentando diversos níveis de atividade e frequências cardíacas, resultando num prognóstico de diferenças de disposição após o nascimento. Um estudo transcultural com crianças chinesas e canadenses de dois anos de idade mostra que mães canadenses de crianças inibidas tendiam a ser punitivas ou superprotetoras, enquanto que as mães chinesas do grupo estudado eram afetuosas e acolhedoras e incentivavam os filhos 34 em suas ações. Nos países ocidentais como o Canadá as crianças que são tímidas podem ser vistas como incompetentes imaturas e incapazes de obter sucesso na vida. Já na China a timidez e a inibição são socialmente bem aceitas onde uma criança tímida é vista como bem comportada, sendo então aprovada pelos adultos (CHEN ET AL., 1998 apud PAPALIA E COLS., 2006). Outro estudo realizado por Harry Harlow e colaboradores, onde macacos rhesus foram separados de suas mães e colocados em jaulas cada um com uma “mãe” substituta feita de arame ou feita de tecido. Alguns desses macacos foram alimentados por mamadeiras ligadas a “mãe” de arame enquanto outros foram “amamentados” pelos bonecos feitos de tecido que são quentes e aconchegantes. Porém quando os macacos podiam escolher com qual “mãe” ficar, todos eles ficavam a maior parte do tempo abraçados às “mães” substitutas de tecido, mesmo que estivessem sendo alimentados pelas “mães” de arame. E quando colocados em outro ambiente desconhecido os macacos que foram “criados” pelas substitutas de tecido mostravam um interesse natural maior do que os outros que foram “criados” pelas substitutas de arame em explorar o ambiente mesmo com a presença das “mães” apropriadas. Esse estudo mostra claramente que a alimentação não é a coisa mais importante que os bebês recebem das mães, ser mãe abrange o conforto do contato físico íntimo e nos macacos atender a necessidade inata de estarem agarrados (PAPALIA ET AL., 2006). A hipótese de que os bebês utilizam referencial social foi questionada, pois bebês com menos de um ano de idade, sabem quais são suas próprias necessidades de conhecimento e a capacidade de outras pessoas em disponibilizar tal conhecimento? Ainda que os bebês com oito ou nove meses olhem de forma espontânea para os cuidadores em situações ambíguas não se sabe ao certo se estão buscando informação, conforto, atenção, querendo dividir sentimentos, ou garantir sua tranquilidade em relação à presença do cuidador – que são comportamentos típicos de apego. (BALDWIN E MOSES, 1996 apud PAPALIA E COLS, 2006). Papalia et al. (2006) relatam que antes mesmo de serem responsáveis por suas próprias atividades, as crianças precisam se identificar cognitivamente e como pessoas diferentes, apartadas do resto do mundo onde suas características e 35 comportamentos podem ser descritos e avaliados. A autoconsciência é o inicio do desenvolvimento de padrões de comportamento, possibilitando que as crianças entendam que a resposta de um dos pais a algo realizado por elas, é direcionada a elas e não ao ato em si. Segundo os pesquisadores Stipek, Gralinski e Kopp (1999) apud Papalia (2006) o autoconceito se desenvolve em três etapas: 1- Autorreconhecimento físico e autoconsciência: Crianças entre 18 e 24 meses se reconhecem no espelho ou em fotografias, indicando que possuem consciência de si mesmas como seres diferentes fisicamente. Entre 20 e 24 meses o uso de pronomes em primeira pessoa é um sinal do desenvolvimento da autoconsciência (LEWIS, 1997 apud PAPALIA E COLS., 2006). 2- Autodescrição e autoavaliação:Inicia-se logo após a aquisição do conceito de si mesmas como seres diferentes, quando as crianças utilizam termos descritivos e de avaliação, ou seja, descrevem-se como grandes, pequenas, se tem cabelos curtos ou longos e se avaliamcomo bonitas, feias, boas ou más. Isso ocorre entre os 19 e 30 meses, quando a capacidade de representar e o vocabulário se ampliam (STIPEK ET AL., 1990 apud PAPALIA E COLS., 2006). 3- Resposta emocional a más ações: É quando as crianças ficam desapontadas, aborrecidas com um dos pais quando ele não concorda com o que estão fazendo e elas param de fazer ao menos durante o período em que estão sendo monitoradas. Portanto esta etapa que proporciona as bases para o desenvolvimento da consciência acontece de maneira mais gradativa do que a segunda etapa, porém uma se sobrepõem a outra (STIPEK ET AL., 1990 apud PAPALIA E COLS., 2006). Amparo et al. (2008) apud Cunha e Rodrigues (2010) apontam três tipos de fatores de proteção importantes para o desenvolvimento psicossocial da criança: Fatores individuais: como autoestima, autocontrole, autonomia e temperamento afetivo; Fatores familiares: estabilidade, respeito mútuo, suporte; 36 Fatores relacionados ao meio ambiente: pessoas que “interpretem” de forma assertiva para com a criança fazendo-a sentir-se amada e querida. Pinheiro (2004) apud Cunha e Pinheiro (2010) relata que tal fator de proteção busca reduzir o impacto negativo nas situações de exposição ao risco. Em concordância aos autores, Pesce, Assis, Santos e Oliveira (2004) apud Cunha e Pinheiro (2010) ainda acrescentam que isso prenuncia a resiliência na infância, onde Gil (2006) apud Cunha e Pinheiro (2010) explica que tal resiliência envolve a capacidade da criança resolver os problemas, já indicando suas competências individuais. Cecconello e Koller (2000, 2003) apud Cunha e Pinheiro (2010) supõem que com estes comportamentos, é possível afirmar a existência de habilidades e estratégias de enfrentamento, mostrando a capacidade de adaptação favorável diante dos revezes. Os autores ainda relatam que a competência é um fenômeno psicossocial. Vale ressaltar que competência social não é o mesmo que habilidade social, mesmo sendo íntimos. Para Del Prette e Del Prette (2006) apud Cunha e Pinheiro (2010) “competência social é a capacidade de articular emoções, pensamentos e comportamentos em relação a metas pessoais e circunstanciais”. Os autores conceituam habilidade social como “diversas classes de comportamentos sociais que contribuem para competência social, favorecendo um relacionamento interpessoal saudável e produtivo ”, ou seja, habilidade social denota identificar os componentes comportamentais, afetivos, cognitivos e fisiológicos, já competência social permeia em avaliar a coerência e funcionalidade do desempenho social. Alguns conceitos são formados de acordo com as interações das relações interpessoais, como o autoconhecimento, a empatia, e a comunicação eficaz. O autoconhecimento é a capacidade do individuo conscientizar-se acerca de si, suas habilidades, seus limites. As relações interpessoais é saber relacionar-se satisfatoriamente com os demais. O autoconhecimento envolve conhecer as próprias habilidades, limites, pensamentos e sentimentos. Já a empatia é a capacidade de compreender o outro, entendendo assim o comportamento distinto deste diante das situações. E por último a comunicação eficaz é saber expressar-se verbalmente ou não, de forma apropriada as demais situações. Para Cecconello e Koller (2000, 2003) apud Cunha e Pinheiro (2010) uma criança competente é aquela que sabe das suas potencialidades e demonstra 37 sentimentos positivos sobre si mesmos. Entretanto Morais, Otta e Scala (2001) apud Cunha e Pinheiro (2010) citam que déficits de competência psicossocial podem resultar reações de caráter grave, tais como, raiva, autopiedade, entre outros, que podem gerar depressão à drogadição. 38 4 O VÍNCULO E SUA IMPORTÂNCIA A importância do vínculo mãe-bebê é um tema amplamente discutido pela literatura, conforme já apresentado no segundo capítulo. Portanto, atentar-se-á para o importante papel do psicólogo no que tange a conscientização junto a esta mãe e a importância de vincular-se com este fi lho deste a vida intrauterina. 4.1 O Estabelecimento do vínculo: resultados de uma boa e má vinculação com a mãe. A formação do vínculo de acordo com Klaus, Kennel e Klaus (2000) apud Borsa (2006) é uma espécie de investimento emocional dos pais para com seu filho, um processo que aumenta de acordo com a frequência de experiências significativas, prazerosas e simultaneamente outro vínculo é construído, o apego, que é desenvolvido nas crianças em relação aos pais ou qualquer outra pessoa que também cuidam delas. É através dessa relação emocional que os bebês podem desenvolver um sentido do que eles são, e a partir do que a criança pode evoluir e tornar-se capaz de se aventurar no mundo. Borsa (2006), afirma que as crianças que não desenvolveram esse apego seguro com suas mães podem tornar-se emocionalmente afastadas, hostis ou antissociais, segundo o autor, crianças que desenvolvem um apego seguro com suas mães estão propensas a serem futuramente cooperativos autoconfiantes e sociáveis. Conforme as crianças vão crescendo, o apego, que foi construído com a mãe se tornará próprio da criança e mais tarde ela poderá usar esse apego ou algo a que esteja ligada nas futuras relações ao longo da vida (WENDLAND, 2001; BOWLBY, 1989; MONDARDO; VALENTINA, 1998). Bowlby (1989) cria acerca da teoria do apego, que foi criada com o objetivo de explicar certos modelos de comportamentos provenientes não só de crianças, mas também de adolescentes e adultos que foram definidos em termos de dependência e superdependência. O desenvolvimento dessa teoria se deu a partir 39 da tradição psicanalítica das relações objetais, porém pautada também em definições da teoria da evolução, etologia4, teoria do controle e psicologia cognitiva. O autor reforça que é na primeira infância onde os laços são estabelecidos com os pais (ou pais substi tutos), a fim de alcançar proteção, conforto e suporte. Esses laços persistem para uma adolescência saudável seguindo à vida adulta, permeando outros laços, sendo mais comum os de origem heterossexual. O desenvolvimento do comportamento de apego é um sistema organizado cujo objetivo é manter a proximidade ou estar junto à figura materna, exigindo que a criança tenha capacidade cognitiva para manter sua mãe à memória quando esta não está presente. Esse desenvolvimento cognitivo só ocorre durante a segunda metade do primeiro ano de vida. Um aspecto importante sobre esta teoria é a hipótese de que o comportamento de apego é definido através de um sistema de controle gravado no sistema nervoso central, similar aos sistemas de controle fisiológicos que conservam a pressão sanguínea e a temperatura corpórea. (BOWLBY, 1969, 1982 apud BOWLBY, 1989). Para Bowlby (1989) apud Borsa (2006) as relações de apego desenvolvidas primeiramente com os pais, e ulterior com outras pessoas, acontecem com o objetivo de garantir proteção à criança, como também, o suporte e a preservação necessária para sua saúde mental, diante disso Bowlby (1989) afirma que todo comportamento da criança permite que conquiste e mantenha esse vínculo com outro indivíduo, em especial a mãe, preparando-se para enfrentar o mundo. É primordial que os pais passem para seus filhos uma base sólida, dando suporte à criança e ao adolescente explorar o mundo sabendo que estão amparados física e emocionalmente, clarificando que em situações de sofrimento, ameaça, insegurança, serão protegidos, encorajados. Os primeiros anos de vida da criança são mais influenciados pelo modelo de self emergenteda relação vincular com a mãe, pois é sabido que em todas as culturas conhecidas, a maioria dos bebês e crianças tem uma ligação muito maior com a mãe do que com o pai. Segundo Winnicott, (1998, 2000, 2001) apud Borsa 4 Segundo o sitewww.portaleducacao.com.br“etologia” é a ciência que estuda a evolução do comportamento animal através da seleção natural. 40 (2006), se a díade mãe-bebê funciona bem, o ego da criança é fortalecido de maneira abrangente. Quando o bebê é bem cuidado, constrói-se rapidamente como indivíduo, em contrapartida, o bebê que não tem o ego apoiado de maneira abrangente pode apresentar um comportamento marcado por inquietude, estranhamento, apatia, inibição e complacência. Para Bowlby (1989) no início, a única forma de comunicação entre criança e a mãe é a expressão emocional e o comportamento proveniente desse sentimento. Para ele, a comunicação é feita pela emoção contínua, sendo traço principal das relações internas que se permeia por toda a vida. Tanto um bebê como uma criança que já esteja engatinhando exige cuidados intensos e constantes. Essa demanda de atenção desprendida pela mãe permanece por toda a vida. Com isso a mãe subvaloriza seus interesses e atividades visando dar mais atenção a esta criança. Ao final do primeiro ano de vida o comportamento começa a se organizar. O comportamento é provocado sempre que certas situações surgem, citando como exemplo o comportamento de apego de uma criança, que é desencadeado pela dor, fadiga ou qualquer outra coisa que provoque medo, como também com a percepção de que a mãe encontra-se longe de seu campo de visão. É nos primeiros meses de vida que a criança revela muitas das respostas que posteriormente se converterão em padrão de apego, porém esse comportamento organizado não se desenvolverá até a segunda metade do primeiro ano de vida. (STEM, 1985 apud BOWLBY, 1989) Kaye (1977), apud Bowlby (1989) relata a importância do comportamento da mãe no momento da amamentação onde interage com seu bebê de forma precisa e sincrônica entre o sugar e o descansar. No momento em que o bebê suga na maioria das vezes a mãe fica quieta e nos intervalos a mãe embala e conversa com seu bebê. Segundo Ainsworth et al (1978) apud Bowlby (1989), as crianças, cujas mães responderam de maneira sensível durante o primeiro ano de vida, choravam menos na segunda metade desse mesmo ano e se interessavam mais em realizar o desejo dos pais do que os bebês de mães que não responderam sensivelmente. Para Bowlby (1989), o cuidar (grifo nosso) é o papel mais importante dos pais e o complemento do apego. A exploração do meio ambiente, no que tange brincadeiras e outras atividades com crianças da mesma faixa etária, é considerada um terceiro componente básico e também como o contrário do comportamento de apego, pois, quando um sujeito de qualquer idade está se 41 sentindo seguro, ousa em explorar mais, distanciando-se assim, de sua figura de apego – neste caso a mãe -, contudo quando se cansa ou sente-se inseguro busca contatar novamente a figura do apego que lhe sacia essa fragilidade. Eis um modelo de interação entre a criança e um dos genitores, definido pelo autor como exploração a partir de uma base segura. A ligação entre o sistema de comportamento de apego e os modelos funcionais do self e da figura de apego que são formados na mente durante a infância é vista como traços centrais do desempenho da personalidade no decorrer de toda a vida do indivíduo. (BOWLBY, 1989) Outro autor que contribui com estudos sobre o vínculo mãe-filho é Spitz, que em sua obra de 1963, citado por ele mesmo em sua obra editada em 2004, enfatiza, sem dúvida, que o fator mais importante que torna a criança capaz de construir gradativamente uma imagem coerente de seu mundo provém da reciprocidade entre mãe e filho. O bebê recebe toda informação do mundo através de estímulos emitidos pela mãe, portanto, constrói o seu mundo diante desta reciprocidade. Uma ferramenta de extrema importância nesse processo é o diálogo mãe-filho originado das relações objetais. Pode-se concluir, como Von Sender (1932) apud Spitz (2004) que através das experiências dos “fluxos incessantes e em constante movimento” a percepção é aprendida. É sabido que quase todas as mães, ao nascimento de seus filhos, criam um clima emocional, ou seja, o sentimento materno, onde esse amor e afeição se tornam contínuo e de suma importância para a mãe. Para Spitz (2004) esse afeto é essencial para o bebê, sendo extremamente importante nesse período, muito mais que nos vindouros. Devido o fato do aparelho sensório e perceptivo do recém-nascido não estar maduro, é pautado nas atitudes emocionais da mãe que o afeto do bebê será orientado. O autor incita que cada bebê possui a sua característica própria, como a mãe, onde cada indivíduo varia de um a outro. Sobre isso, é explicado um processo circular, onde a personalidade do bebê pode-se influenciar pelo afeto e vínculo da mãe, e por sua vez, a mãe influencia-o de acordo com suas atitudes para com ele. Spitz (2004) enfatiza que a criança não sofre Influência emocional apenas da mãe, mas sim de todo ambiente que a cerca, entretanto, para a psicologia a relação mãe-filho é o fator psicológico mais sensível à uma intervenção terapêutica. Então, para o bebê a mãe é a representante do ambiente. 42 É por volta do fim da primeira semana de vida que o bebê começa a responder aos estímulos. Após o oitavo dia de vida, ao retirar o bebê do berço na posição horizontal e colocá-lo nos braços de uma pessoa, seja homem ou mulher, observa- se que o bebê vai virar a cabeça em direção ao seio por decorrência da posição de amamentação já associada como estímulo. Ainda Spitz (2004) baseado na ideia de Gesell e Ilg (1937), relata que durante as primeiras semanas de vida, um traço mnemônico5 do rosto humano é formado na memória infantil como primeiro símbolo da presença de uma satisfação das necessidades, pois o mesmo rosto alimenta, dá banho, troca as fraldas, ou seja, satisfaz suas necessidades. Como Klein (1969) se refere à importância do seio, Spitz menciona que durante a amamentação o bebê perde e recupera o bico do seio da mãe inúmeras vezes, assim o contato com o percepto satisfação de necessidade é perdido e recuperado por várias vezes. Entretanto o bebê continua com o olhar fixo no rosto da mãe (percepção à distância) durante o intervalo entre a perda e a recuperação de contato. Durante a ocorrência dessas experiências repetitivas a percepção visual não é interrompida, mostrando ser a mais constante e consequentemente a mais recompensadora de ambas. (HARTMANN, 1952 apud SPITZ, 2004). Spitz (2004) reforça a suma importância dos fatores genéticos e maturacionais, que por si, possuem uma sequência até alcançar o total desenvolvimento, e diante disso os fatores ambientais interagem juntamente, estruturando assim o processo cognitivo da criança, com isso o autor ainda diz sobre a mãe possuir um papel abrangente no aparecimento e desenvolvimento da consciência do bebê, sua participação é de suma importância nesse processo de aprendizagem. Spitz, (2004) considera o desenvolvimento neural embriológico e epigenético6 muito importante durante os primeiros meses e anos de vida, pois sem a maturação do sistema nervoso ações e padrões de comportamento seriam impossíveis. Dentro deste contexto é de extrema relevância os sentimentos da mãe em relação a ter um filho, o 5 Segundo o site http://conceito.de/mnemonica é um processo intelectualque consiste em estabelecer
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