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TEXTO: JAKOBSON, R. Poesia da gramáticae gramáticada poesia. In __ o Lingüística. Poética. Cinema. São Paulo: l~e~spectiva:-1970,p.65-79. .., - POESIA DA GRAMÁTICA E GRAMÁTICA DA POESIA SegundoEdward Sapir (a), a justaposiçãode se- qüênciascomo - the jarmer kills the duckling ["o la- vrador mata o patinho"] e theman takesthe chick ["o homemapanhao pintainho"] - faz-nos "sentir instin- tivamente,sema mais levetentativade análiseconscien- te, que as duassentençasadotamprecisamenteo mesmo padrão, que são na realidadeumamesmasentençafun- damentaCdiferindo apenaspelo revestimentomaterial. Em outros têrmos,exprimemde maneiraidênticaidên- ticos conceitos de relação". Inversamente,podemos modificar a sentençaou os vocábulosque a constituem, "sob o seu aspectopuramenterelacional,não-material", 65 sem alterar nenhumdos conceitosmateriaisexpressos. Se, igualmente,atribuirmosa certostêrmosda sentença uma posiçãodiferentedentrode sua estruturasintática, e substituirmos,por exemplo,a seqüência"A kills B" ["A mata B"] pela seqüência inversa "B kills A" ["B mata A"J, não estaremossubmetendoa nenhuma variaçãoos conceitosmateriaisem questão,mas unica- menteseu relacionamentomútuo. Da mesmaforma, a substituiçãode farmer ["lavrador"] por farmers ["la- vradores"] ou de kills ["mata"] por killed ["matou"] modifica unicamenteos conceitosde relação da sen- tença, não havendo alteraçãonos "recursos concretos da fala"; seus"acessóriosmateriais"permaneceminal- terados. Apesar da existência de algumas formações de transiçãoou limítrofes, há na língua, nítida e definida, uma discriminaçãoentreestasduasclassesde conceitos - materiaise de relação - ou, em têrmosmais téc- nicos, entreseuaspectolexical e seuaspectogramaticaL O lingüistadeveser fiel a estadicotomiaestruturalob- jetiva e traduzir cabalmenteem sua metalinguagemtéc-' nica os conceitosgramaticaisde fato existentesnuma dada língua, sem impor quaisquercategoriasarbitrárias ou estranhasà língua observada. As categoriasdescri- tas são constituintesintrínsecosdo códigoverbal,mani- puladospelosusuáriosda língua,não sendode maneira nenhuma"conveniênciasde gramáticas",como atémes- mo pesquisadoresatentosda gramáticados poetas- Donald Davie, por exemplo,- foram levadosa crer. Uma diferençanos conceitosgramaticaisnão re- presentanecessàriamentediferençano estadode coisas por êles referido. Se uma testemunhaafirma que "the farmer killed the duckling" ["o lavrador matou o pa- tinho"], enquantooutra afirma que "the duckling was killed by the farmer" ["o patinhofoi morto pelo lavra- dor"], os dois homensnão podemseracusadosde apre- ,entar testemunhosdiscrepantes,apesarda extremadi- ferença entre os conceitosgramaticaisexpressospelas construçõesativae passiva. Um único e idênticoestado de coisasé apresentadopelasfrases- Lie (ou lying ou to lie) is a sin (ou is sinful) *; To fie is to sin ["Men- (0) N. dos O.: o, exemploscorrespondemàs frasesportuguêsasA mentira é um pecado (ou é pecaminosa) e Mentir é pecado (ou é pe- camino~o). O sistema gramatical do português não possibilita, porém, uma construção idêntica à de L)'ing ls a sin (ou is sinful), com o gerúD- dia em funçãode sujeito, 66 ~ .. ~ (i i _~ tir é pecar"]; Liars sin ["Os mentirosospecam"] (ou are sinful ["são pecaminosos"] ou are sinners ["são pecadores"]) ou com um singularde generalização- The liar sins ["O mentirosopeca"] (ou is sinful ["é pecaminoso"], is a sinner ["éum pecador"]). Diferem apenasna forma de apresentação.Fundamentalmentea mesma proposição equacionalpode ser expressa em têrmosde agentes(l'iars ["mentirosos"],sinners ["pe- cadores"]) ou de ações(to fie ["mentir"1, to sin ["pe- car"] ); também podemosapresentartais ações como que abstratizadas (lyng) * e reificadas (fie ["men- tira"], sin ["pecado"]) ou atribuí-Iasao sujeitocomo propriedadessuas (sinful ["pecaminoso"]). As._classes de palavrassão categoriasgramaticaisque refletem,se- gundo o manual de Sâpir, "não tanto nossaanálise in- tuitiva da realidade, mas a possibilidadede compor essarealidadesobpadrõesformaisdiversos". Posterior- mente,nas notaspreliminaresa seu projetadoFouruia- tions of Language,Sapir (b) apresentaem linhas'ge- rais os tipos fundamentaisde referentesque servemde "base natural para as classesde palavras", a saber, existentes,e sua expressãolingüística, o substantivo; ocorrentes,expressospelo verbo; e, finalmente,modos de existênciae de ocorrência,representadosna língua pelo adjetivoe pelo advérbio,respectiva..'TIente. Jeremy Bentham,talvezo primeiro a desvendaras múltiplas "ficções lingüísticas",-subjacentesà estrutura gramaticale usadasatravésde todo o campoda lingua- gem,como "re'cursosnecessários",chegouem sua Theo- ry of Fictions a estaconclusão,quevalepor um desafio: "B, pois, à língua- e somenteà língua- que as en- tidades fictícias devemsua existência,sua impossível, porém indispensávelexistência". As ficçõeslingüísticas não devemser "conÍundidascom realidades"nem ser atribuídasà imaginaçãocriadorados lingüistas;ao con- trário, "devem sua existência",efetivamente,"apenas à língua" e, particularmente,"à forma gramaticaldo discurso", nas palavrasde Bentharn. O papelindispensável,obrigatório,queosconceitos gramaticaisdesempenhamcoloca-nos face ao intrin- cadoproblemado relacionamentoexistenteentreo valor (' ), N. dos o,: Cf. nota anterior, A construçãoportuguêsaque mais se aproxima do car~te-rabstrato do..inglês Lying is a sin é JJ."fentindo peca-se. 67 ley Hopkins como o princípio constitutivodo verso,é ainda mais palpável nas formas poéticasem que unida- des métricascontíguasse combinamde forma mais ou menosconsistenteem dísticose, opcionalmente,em ter- cetos, atravésdo paralelismogramatical. A afirmação de Sapir, acimacitada, é perfeitamenteaplicávela essas seqüênciascontíguas: "são na realidade uma mesma sentençafundamental,diferindo ap<:naspelo revestimen- to material". V ários autores tentaramdelinear diferentesespé- cimes dêsseparalelismo canônico ou quase canônico, que J. Gonda denomina carmen style em monografia em que nos oferece muitas observaçõesinteressantes sôbre "grupos vocabularesbinários balanceados",pre- sentesnos Vedas e tambémnas baladase ladainhasli- túrgicasdos nias.Têm merecidoespecialatençãodoses- tudiososo parallelismusmembrorumdos textosbíblicos, com ráízes em antiga tradição cananéia, e o papel permanentee dominantedo paraleiismona poesiae na prosa chinesa. Um esquemasemelhanteapresenta-se subjacentena poesia oral fino-húngara,turca e mongó- lica, e tambémdesemp<:nhaum papel fundamentalnas cançõese recitativospopulares russos (1), como, por exemplo,nestepreâmbulo típico de um poema heróico russo (bilina): Kak vo stólnomg6rodievo KíeVe A u láskovakniázia u Vladímira, A i bilo stolovániepotchótni .5tol, A i bilo pirovánie potch6tnipir, A i vsié na piru da napiválisia, A i vsié na piru da poraskhvástalis, Omni khvástaietzolot6i kazn6i, Glúpi khvástaietmolod6i jenói. "Eis que na cidade capital de Kiev, No palácio do grandiosopríncipe Vladímir, Houve um banquete,um banquetede honra, Houve um festim, um festimhonorário, E todos no festim se embebedaram, E todos no festim se vangloriaram, O inteligentese vangloriade sua arca de ouro, O parvo se vangloriade sua jovem espôsa." (1) Para uma visão do estado atual das pe~quisas.no ca~po inter- nacional, sôbre os fundamentos ou bases paralelIstlc35 da poeSIa oral e escrita, ver: 'oGrammatical Para1telism and its Russian Facet", Languagr. XLll (1966). T --. __~~u • Si!I I I I I I I I I I I cognitivo,referencial,e a ficção lingüística. f questlo- nável, realmente,a significaçãodos conceitosgramati- cais ou representamêles, talvez, realidadessublimina- res a que estão simplesmentevinculados? Até que ponto o pensamentocientífico pode superar a pressão dospadrõesgramaticais?Independentementeda solução que se encontrepara questõesainda tãocontrovertidas, existecertamenteum domínio da atividadeverbal, no qual "as regrasclassificatóI'Íasdo jôgo" (Sapir, a) ad- quirem sua significaçãomais importante- é na FIC- çÃo, na arte verbal, que as FICÇÕES LINGüíSTICAS se realizam plenamente.- B bastante evidente que os conceitosgramaticais- ou, na acurada terminologia de Fortunatov, "os significados formais" - têm sua aplicaçãomais ampla na poesia enquantomanifestação mais formalizadada língua. No seu domínio, onde a função poética predomina sôbre a função estritament~ cognitiva,esta é mais ou menos obscurecidaou, como Sir Philip Sidney afirmou em sua Defence of Poesie: "Quanto ao poeta, êle nada afirma e, portanto, nunca mente". Em vista disso,para usar a formulação sucin- ta de Bentham,"as Ficções do poeta são isentasde in- sinceridade". Quando, no fim do poema "Khorochó", de Maiak6vski, lemos - i jizn' / khorochá, / / i jit / khoroch6 / / (literalmente: "a vida é boa e o viver é bom") - dificilmentese perceberáuma diferença de ordem cognitiva entre essasduas oraçõescoordenadas, mas na mitologia poética a ficção lingüística do pro- cesso substantivadoe, portanto, hipostasiadotransfor- ma-se numa imagem metonímica da vida como tal, tomadaem si mesmae como substitutada pessoaviva, - abstractumpro concreto, como Galfredus de Vino Salvo, o arguto erudito inglês do início do séculoXIII, diz em suaPoetria Nova (v. Faral). Contrastandocom a primeira oração, que apresentao adjetivopredicativo no feminino de pessoa,concordandocom o sujeito da oração, a segundaoração tem um infinitivo imperf~cti- vo e, assim, representa,com uma forma neutra e im- pessoalde predicado, um processopuro, sem qualquer limitação ou transposiçãoe com uma aberturapara um dativo de agente. A "figura de gramática" recorrente,que, ao lado - da "figura de som", era consideradapor Gerard Man- 68 69 ( .;.~ Os sistemasparalelísticosem arte verbal nos dão I . 'c! ~ uma visão direta da própria concepção dos falantes J.-..§ com respeito às equivalênciasgramaticais. A anális;; I 'tdos tipos de licençapoéticaque ocorremno domínio do ~' § paralelismo,comopor exemploo estudodasconvenções:trelativas.à rima, pode for~ecer-nospistas import.antes .~',para a Interpretaçãodo sistemade uma determmada ~.4~línguae dasclasse3emqueseordenamseusconstituintesj li,. / • •.•c.~(por exemplo,a equaçãocomumenteformada no fllllCOt~entre o aIativo e o ilativo ou entre o pretérito e o pre- :/. 'senteque se destacamdos casos e categoriasverbais () \.não emparelháveis,conformeas observaçõesde Steinitz \~•em seu trabalhopioneiro de investigaçãosôbre o para- ':6 lelismo na Carélia). Fenômeno:;como a interaçãoen- .;,' tre equivalênciase discrepânciassintáticas,morfológicas \ c-e léxicas,como os diferentestipos de contigüidadesse- .~ mânticas,similaridades,sinonímiase antonímias,enfim, ~ os dife'rentestipos e funçõesdos chamados"versos iso- ':t lados", todosêssesfenômenosestãoa exigir uma análi- ~ r se sistemática,análiseesta.indispensávelà compreensão .}. e interpretaçãodos vários mecanismosgramaticaisda'\S.:..~poesia. Um problemapoéticoe lingüísticode tamanha ~~importânciacomo o paralelismodificilmentepoderá ser ;. '::.tratadocom eficácia se sua análise ficar automàtica- ~ mente restrita à forma externae fôr excluída tôda e '.s.. qualquer discussãodos signifacadosgramaticaise le- xicais. Nas infindáveiscantigasde viagemdos lapões de Kola (v. Kh~ruzin), duas personagensse apresentam justapostas,executandoas mesmasações. f:sse tópico uniforme é responsávelpor uma concatenaçãoautomá- tica dos versosque se estruturamda seguintemaneira: "A estásentadodo lado direitodo barco,;B estásentado do lado esquerdo. A tem um remo na mão direita; B tem um remo na mão esquerda",etc. Nas estóriascantadasou narradasdo folclore rus- so que têmcomo personagensFomá e Ieriemá (Tomás e Jeremias), os dois irmãos semsorte são usadoscomo motivaçãocômicapara uma cadeia de orações parale- las que não passamde paródiasdo carmenstyle,típico da poesiapopular russa, e que apresentamcaracterísti- cas, por assimdizer,diferenciais,dos dois irmãos, atra- vés da justaposiçãode expressõesou de imagens de coincidênciaextrema: "Descobriram Ieriemá e encon- 70 1I I i I I) traramFomá; bateramem Ieriemá e não perdoarama Fomá; Ieriemá fugiu para um bosque de bétulas, e Fomá para um de carvalhos", etc. (consultara respeito os trabalhosde Aristov e Adriânova-Piérietz, que con- têm'muitasinformaçõessôbreestasestórias,assimcomo a análisecuidadosafeita por Bogatirióv). Na balada "Va~síli e Sofia", pertencenteao fol- clore da Rússia Setentrional(v. particularmenteas va- riantes publicadas por Soboliévski e Astákhova e as notasde sumáriodêstaúltima), o paralelismogramati- cal binário funciona como eixo da intriga, a êle se vin- culandotodo o desenvolvimentodramáticodessabela e concisabilina, Em têrmosde paralelismoantitético,a cena inicial na igrejaapresentao contrasteentre a pie- dosa invocaçãodos fiéis·- "Deus Pai!" - e o apêlo incestuosode Sofia - "Meu irmão Vassíli!". A mali- ciosa intervençãoda mãe vem a seguir, introduzindo uma cadeiade dísticosem que o herói e a heroínaapa- recemunidos por uma correspondênciaestritaexistente entrecadaversodedicadoao irmão e a contraparteque fala da irmã. Alguns dêssesparês de membrospara- leios lembramem sua construçãoestereotipadaos cli- chésdas cantigaslapôniasmencionadasacima: "Vassíli foi enterradoà direita / E Sofia foi enterradaà esquer- da / /". O entrelaçamêntodos destinosdos dois aman- tesé reforçadopor construçõesem quiasmo- "Vassíli, beba mas não dê a Sofia, / E Sofia, beba,mas'não dê a Vassíli! / / Mas Vassíli bebeu e brindou a Sofia, / Mas Sofia bebeu e brindou a Vassíli /1". Têm a mesma função as imagensde um kiparis (cipreste), árvore de nome masculino,no túmulo de Sofia, e de uma vierba (chorão), de nome feminino, no túmu]ode Vassíli, ao lado da tumba da irmã: "tles entrelaçaram as suasfrondês/ e êlesconfundiramas suasfôlhas. /1" A destruiçãoparalela das duas árvores pela mãe faz eco à morteviolentados dois-amantes. Duvido que os esforçosde estudiososcomo Christine Brooke-Rose, no sentidodê traçaruma linha rigorosa de demarcaçãoen- tre tropos e cenário poético, sejam aplicáveis a es~a balada. f:, em geral, muito restrito o númerode poe- mas e correntespoéticasem qUê se comprova a exis- tência dêsselimite. Numa de suasmais brilhantescontribuiçõesà poé- _ tica - um trabalhoescritoem 1865, On rhe Origin of 71 8eauly, - Hopkins afirma que estruturascanbmcas como as da poesiahebraica,"agrupadasem paralelis- mos", sãobemconhecidas,"masqueo importantepapel desempenhadopelo paraleJismode expressãoem nossa poesianão é bem conhecido:acho que surpreenderáa todos quando fór apontado pela primeira vez". Não considerandoalgumasexceçõesisoladas,como o reco- nhecimentorecente de Berry, o papel desempenhado pela "figura de gramática"na poesiamundial da anti- güidade até o momentopresentesurpreendeainda os estudiososde literatura,quaseum séculodepois de ter sido apontadopor Hopkins. A poéticaantigae medie- val teve um vislumbreda gramáticapoéticae parecia prestesa discriminaros tropos lexicais das figuras de construção (jigurae verborum), mas perderam-seem seguidaêstes rudimentospositivos. Pode-se afirmar que na poesia a similaridade se superpõe à contigüidadec, assim, "a equivalência é promovida a princípio constitutivoda sequência" (2). Nela tóda reiteração perceptível do mesmo conceito gramatical torna-se um procedimentopoético efetivo. Uma descriçãonão-apriorística,atenta,exaustiva,com- (2) Ver '"Linguistics and Poetics". 5ry!e in Language. ed. por T. Sebeok (New York 1960). (N. dos O.: Tradcção brasileira: "Lingüística e Poética", Lingüislica t! Comunicação, São Paulo 1969). A estrutura gramatical de diversos poemas do sécLllo IX ao século XX foi analisada pelo alllor nos seguintes trabalhos: "Pokhvaia Konstantina FilóssofaGti· goriu Bogoslovu", Gt:urge Florovsky Festscnrift (New York, no prelo): (com P ValeslO) "Vocabulorurn constructio in Danrc's sonnet 'Se vedt li occhi miei·..• S",di Danleschi. XLII! (Florença 1966); "Struktura dveju srbohrvalskih pesama", Zbarnik za fila/ogi;u i lingvis'iku, IV-V (Novi Sad 1961-6ê); "The Grammatical Texture of a Sonnet from Sir Philip Sidney's 'Arcadia' ", Studies ill Language and Lizerawre in Honour of M. Schlallch (Varsóvia 1966): "Razbor tobólskikh stikhov Radích· cheva··. XV!1I ,·iek. Vfl (Leningrado 1966); "The Grammatica! Structure of Janko Král"s Verses". Sbarnik fi/o~olicke; lakulry Univerzjry KomellJ- kéllO, XVI (Bratislava 1964;; (com C. Lévi-Strauss) "Les Chats de Charles Baudelaire". L·Hom", •• II (1962): ·'Une microscopie du dernier Sp1een dons les FJeurs du Mal •.•.T.I Que!. :-.10 29 (Paris 1967); "Struk- tura na poslednoro Botevo stihotvorenie", E::.ik i literatura, XVI (Sofia 1961); (com B. Casacu) "Ana!yse du poeme 'Revedere' de Mihai Emi- ncscu" Cahiers de linguistique rhéorique ef appliquée. I (Bucareste 1962);' "Díévuchka piela" (poema de A. B10k), Orbis scriprus D. Tschizewk.<i; zum 70. Geburtsrag (Munique 1966); (com P. Co!aclides) "Grammaticai Imagery in Cavafy's Poem 'Remember, Body' ", Lill- 8l1isricJ. XX (The Hague (966): "Der grammatische Bau des Gedichts von B, Brecht '\-Vir sind sie''', Beitraege zur Spracnwissenschaj/, Volks~ kllfl(/e lma LUf!rQwrjorJchllng, W, Steillitz. dargebracht (Berlim 1965) (N. dos O.' Traduzido neste volume sob o titulo: "A construção gra- matical do poema '\Vir sind sie' I 'Nós somos i!le' de B. Brecht"); e Os trabalhos a que nos rcf&imos nas notas 3 e 5. (N. dos O.: Acres- centar a esta lista o ensaIO (com L. S. Picchío) "Os oxfmoros dia- I~ticos de Fernando Pessoa" e a "Carta a Harcldo de Campos sôbre a textun\ po~tlca de Martin Codax", contidos neste volume.) Todo o terceiro volume dos Selected Writings de Roman Jakobson, atualmente :m preparação. é dedicada a "Poesia da Gramática e Gramática da Poesll1" 72 I I ./ I j I I I ! pJeta, dos processosde seleção,distribuiçãoe inter-re- lacionamentodas diferentesclassesmorfológicase das diferentesconstruçõessintáticaspresentesem um dado poema surpreendeaté mesmo o investigadorque a realiza. Surpreendem-no simetrias e anti-simetrias inesperadas~notáveis,as estruturasbalanceadas,a acu- mulaçãoeficientede formasquese equivaleme contras- tes que sobressaeme, finalmente,as eliminações,con- seqüentese severasrestriçõesno repertório dos consti- tuintes morfológicose sintáticosw,ados no poema, as quais permitem,por outro lado, acompanhara hábil íntegração dos constituintes nêle realizados. Vale a pena insistir no caráter extraordináriodêsseinstrumen- tal poético;qualquerleitor sensívelperceberia,como di- ria Sapir, instintivamente,o efeito poético e a cara,a .S~JllâD.licadês_sesmecanism~amãtíCãls,-c'Sem-a maIs leve tentativade análiseconsciente". Em muitos casos, o próprio poetase coloca nestesentidoem posição Se- melhanteà do leitor. Da mesmaforma, tanto o indiví- duo habituado a ouvir, como o que canta ou recita poemas folclóricos baseados num paralelismo qua<;e constante, percebemquando ocorre algum desvio na cemposição, sem, contudo, mostrarem-sec~ de analisá-Io,comoos guslars * sérviose sua audiênciano- tame muitasvêzesreprovamqualquerdesviono padrão silábico e na posição regular da ceHsuradas canções épicas,masnão sabemdefinir o que consideramerrado. São muitas vêzes os contrastesna estrutura gra- matical que servemde apoio à divisão métrica de um poema em estrofese segmentosmenores,como ocorre, por exemplo,na dupla tricotomiada canção de batalha hussita,do início do século XV (3). Tais contrastes podem até mesmo funcionar subjacentementecomo alicercesde uma composiçãoem slrala, como podemos observarno poemadeMarvell, "To his Coy Mistress"**, cem três parágrafos tripartidos, gramaticalmentede- limitados e subdivididos. A justaposiçãode conceitosgramaticaiscontrastan- tes ;:,odeser comparadaao chamado"corte dinâmico", ( .•.) .\1. uns o.: Tllcadores de gúslia, antigo instrumento de cordas. (3) Ver: "Ktul jsú bozí bojovníci", ["rernal/ana! JOllrnal 01 S/avie Lingu;srlcs a"d Pomo',. VII (1963). (") N. dos O.: Traduzido para o português por Augusto de Campos; v. Augusto e Haroldo de Campos, Tradllzir '" Trovar (São Paulo 1968). pp. 139-14;. 73 utilizado na montagem cinematográfica,um tipo de corte em que, na definiçãode Spottiswoode,por exem- plo, a justaposiçãode tomadasou seqüênciascontras- tantesé utilizadapara suscitaridéiasna mentedo espec- tador, idéiasestasque não são veiculadaspor cadato- mada ou seqüênciaem si. Entre as categoriasgramaticaisutilizadas em pa- ralelismose contrastesestão,comefeito, tôdasasclasses de palavras,varráveise invariáveis,as categoriasde nú- mero, gênero,caso, grau, tempo,aspecto,modo e voz, as classesde concretose abstratos,de animadose ina- nimados,os nomespróprios e comuns, as formas afir- mativase negativas,as formasverbaisfinitas e infinitas, pronome3e artigosdefinidose indefinidose os diversos elementose construçõessintáticos. r o escritor russo Vieriessáiev confessa, em suasI notas íntimas,ter, por vêzes,sentidoa poesia de ima- "I gerrscomo "uma mera contrafacçãoda verdadeirapoe- _, sia". Em regra geral, nos poemas sem imagens,é a _.~ "figura de gramática"que domina e sobrepujaos tro- " poso Tanto a canção de batalhahussita quanto as IÍ- 1 ricas de Púchkin - corno "Ia vas liubil" ["Eu vos ~ amei"] - são exemplos eloqüentesdêsse monopólio dos procedimentosgramaticais. O que ocorre mais '; comumente,porém, é a interação intensiva dos dois elementos,como por exemplonas estrofesde Púchkin "Tchtó v imieni tiebie moióm" ["Que te importa meu nome?"], que contrasta de forma evidente-com a composição "sem imagens" acima citada, ambas escritasno mesmo ano e provàvelme"ntededicadasà mesmadama, Karolina Sobanska (4). Os veículos metafóricos e imaginativos de um poema podem opor-se ao seu nível factual, através do contras- te concomitantee incisivo de seusconstituintesgrama- ticais, como observamos,por exemplo,nas meditações concisasdo polonês Cyprian Norwid, um dos maiores poetasuniversaiscio fim do séculoXIX (5). O caráter obrigatório dos processose dos con- ceitos gramaticaisnão permite ao poeta outra atitude senâl)a de enfrentá-Ias;ou êle procura a simetria e (4) Cf. o estudo comparativo dêstes dois poemas de Púchkin, constante da versão russa do presente trabalho, que faz parte do vo- lume publicado pela AcademIa Polonesa de Ciências - Poecics Poelyka Poérika (Vars6via 196I ). (5) Ver: "'Przt'~7tds'é'Cypri:tna Norwida". Parmen1ik literarkl, LVI (Varsóvia 1963), 74 aderea êssespadrõessimples,diáfanos,reiteráveis,ba- seados num princípio binário, ou luta com êles, em buscade um "caos orgânico". Já por váriasvêzesafir- mei que a rima como técnica"ou é gramaticalou antÍ- gramatical",mas nuncaagramatical,e o mesmose apli- ca à gramáticados poetasem geral. Neste sentidohá uma analogia notável entre o papel da gramáti- ca na poesia e a composição pictórica baseada numa ordem geométricalatente ou manifestae a que se baseianuma reaçãocontra a disposiçãogeométrica. Nas artes figurativas,os princípios geométricosrepre- sentamuma "bela necessidade"[" óeautifulnecessity"J, segundoa expressãoque Bragdon tomou a Emerson. Éa mesmanecessidadequena língua caracterizaos sig- nificados gramaticais (6) . A corre3pondênciaexis- tenteentre essasduas áreas-- que já no séculoXIII fôra apontada por Robert Kilwardby (v. Wallerand, p. 46), e que levou Spinoza a tratar a gramáticamo- re geometrico,- ressurgiunum ensaio lingüística de BenjaminLee Whorf - "Language,Mind andReality", publicado logo após sua morte: Madras, 1942. Nesse estudo, o autor analisa os "esquemasde estruturada frase" abstratosem oposição às "frases individuais" e ao vocabulário que é "de certa formarudimentar e constituiparte por si só insuficiente"da ordemlingüís- tica, e tem em vista "uma 'geometria'de princípio~ formais característicade cada língua". Outra fompa- ração entre gramáticae geometria foi esboçadapaI Stálin na polêmicaque travou em 1950 contra a visão lingüística de Marr: a propriedade relevanteda gra- mática assentaem seu poder de abstração;"abstrain- do-se de tudo o que é particular e concreto nas pa- lavras e nas frases,a gramáticatrata apenasdo padrão geral, subjacenteàs mudançase à combinaçãodas pa- lavras em frases, construindo dêsse modo leis e re- gras. .. Neste sentido, a gramática se assemelhaà geometriaque, com suas leis, abstrai-se a si própria dos objetos concretos,considera os objetoscomo COf- pos despojadosde sua existênciaconcretae define suas mútuas relações não como relações concretasde de- terminados objetos concretos, mas como relações de (6) Cf. IlBoas' View of Giammatical Meaning", American Anrhro- pologisr. LXI. 5, pane 2, Memoir 89 (1959). N. dos O.: Tradução brasileira: "A concepção de significação gramatical segundo Boas", LingiiíJlica e Comllnicaç{io (São Paulo 1969). 75 corpos em geral, isto é, como relaçõesdestituídasde tódaconcretude."(7) É no poder de abstraçãodo pen- samentohumano, segundoos autorescitados,que as- sentamsuas basestanto as relaçõesgeométricasquan- to a gramática. f. êle que superpõefigurasgramaticais e geométricassimples ao universo pictórico dos obje- tos particularese aos"recursos'.'léxicosconcretosda arte verbal, como de maneira perspicaz o entenderam,no ,eculc XIII, Villard de Honneeourt com relação às artes gráficas e Galfredus com relaçãoà poesia. O papel axial desempenhadopelos diferentestipos de pronomesna tessituragramaticalda poesiaé devido ao fato de seremêles, ao contrário de todos os outros vocábulosautônomos0entidadespuramentegramaticais, unidadesrelacionais. DevemosinclUIrnestaclasse,a1érrí' dos pronomessubstantivose adjetivos,tambémos pro- nomes adverbiais e os chamados verbos-substantivos (melhor seria dizer pronominais) como ser e ter. A relação dos pronomes com os vocábulos não-prono- minais tem sido repetidasvêzes comparadaà relação entre corpos geométricose corpos físicos (v. por ex. Zariétzki). A tessituragramat\calda poesia apresenta,além dos procedimentoscomuns ou mais constantes,muitos traçosdifen;!lrÍaissalientes,característicosde uma dada literaturanacional ou de um período limitado, de uma tendênciaespecífica,de um determinadopoeta ou até mesmode uma única obra. Os estudiososde arte do século XIII cuios nomes citamos fazem-nos lembrar o senso de composiçãoe a perícia extraordináriosda época gótica e nos ajudam a interpretara estrutura impressionanteda canção de ba'alha hussita"Ktoi jsú boií bojovníci". E é deliberadamenteque insistimos neste estimulante poema revolucionário quase isento de tropas.' despojado de elementosdecorativose de maneirismos.A estruturagramaticaldesta obra apre- sentauma articulaçãoparticularmenteelaborada. Como ficou demonstradona análisedessacanção (v. nota 3), cada uma de suas três estrofesdispõe-se em forma trina, dividindo-se em três unidadesestrófi- cas menores- membra. Cada uma das três estrofes (7) V. A. Zviéguintzev chamou a minha atenção para o fato de que a comparação feita por Stálin entre a gramática e a geometria parece basear-se l1a visão áe V. Bogor6ditzki. um nctávei discípulo do jovem Balldollin de COllrtenay e de M. Kruszewski. 76 j possui traçosgramaticaisespecíficos,que denominamos "similaridadesverticais". Cada um dos trêsmembradas trêsestrofespossuipropriedadesquelhe sãoparticulares, denominadas "similaridadeshorizontais", propriedades estasque distinguemqualquermembrumda estrofedos cutros dois."O membruminicial e c membrumfinal da canção se acham ligados ao membrumcentral (o se- gundo membrum da segundaestrofe) e diferem dos demaismembrapor apresentardeterminadostraçoses- pecíficos. Isso nos permite ligar êssestrês membrapor uma "diagonal descendente",em oposiçãoa uma "dia- gonal ascendente",que liga o membrum central da canção ao membrumfinal da estrofeinicial ê ao mem- brum inicial da estrofefinal. Além disso,similaridades notáveis unem entre si, separando-osdo resto da can- ção, os membra iniciais da primeira e da terceira es- trofes com o segundomembrumda segundaestrofee, por outro lado, os segundosmembrada primeira e da terceira estrofescom o terceiromembrumda segunda estrofe. Podemos denominar à primeira disposição "arco perpendicular inicial", já que envolve membra iniciais, ao passo que a última, que envolveum mem- brum final, será chamada "arco perpendicularfinal". Aparecem ainda "arcos invertidos"igualmentedelimita- dos do ponto de vista gramatical- um "inicial", unin- do os membra iniciais da primeira e>;daúltima estrofe com o membrumcentralda segundaestrofe,e um "arco invertido final", ligandoos membracentraisda primeira e da última estrofescom o membrumfinal da segunda estrofe. A "membrificação" regular e a geometricidade congruentedessa composiçãopoética devem ser con- sideradase entendidasno contextoem que se inserema arte gótica e a escolástica,já comparadasentre si de forma convincentepor Erwin Panofsky. Em sua con- figuração, essa canção tchocado início do século XV aproxima-se dos preceitos consagradosda "clássica Summa com seus três requisitos de (1) totalidade (enumeraçãosuficiente), (2) disposição,segundouma sistemáticadas partes e das partes de partes homólo- gas (articulação suficiente), e (3) distintividadee ca- gência dedutiva (inter-relação suficiente)". Apesar da imensa diferençaque existeentre o tomismoe a ideo- logia do autor anônimo da Zisskiana cantio, formal- 77 mentea cançaosatlstazinteiramenteas conGlçoesesta- belecidaspor São Tomás com relaçãoà arte: "Os sen- tidos se comprazemem coisas devidamenteproporcio- nadascomo em algo que lhes é afim; são, pois, os sen- tidos uma espéciede razão, como todo poder cogni- tivo". A tessituragramaticaldo coral hussita obedece aos princípios que regiam a composição na pintura tchecaa êle contemporânea.Em suamonografiasôbre a pintura da épocahussita,Kropácek analisao estilodo início do séculoXV, caracterizando-opor uma articuia- ção sistemáticae congruentedo espaço,por uma subor- dinação estrita das partes aos objetivosdo todo com- posicional e pelo uso deliberadode contrastes. O exemplotcheconos encorajaa atreverum olhar pelo emaranhamentode correspondênciasentre as fun- ções da gramáticana poesiae as da geometriarelacio- nal na pintura. Defrontamo-nos,então,com o proble- ma fenomenológicode um parentescointrínseco entre os dois fatôrese com o rastreamentohistórico concreto do desenvolvimentoconvergentee da interaçãoda arte verbal com a arte representativa. Como, ademais,na busca das linhas diretrizes das tradições e tendências artísticas,a análise da tessituragramaticalvem forne- cer-nos pistas importantes,chegamosfinalmentea uma questão vital: de que maneira numa obra poética é explorado com um objetivo nôvo o acervo disponível de procedimentosde mestriaartesanale como são êles reavaliad03à luz de suasnovastarefas.À obra-primada poesia revolucionária hussita, por exemplo, couberam por herança,no opulento legado gótico, os dois tipos de paralelismo gramatical, "a comparação identifica- dora" e "a comparaçãodiferenciadora", no dizer de Hopkins; cabe-nos investigarde que maneira a com- binação dessasduas formas de procedimentonotada- mente gramaticalpermitiu ao poeta realizar uma tran- sição efetiva, convincente,coerente,do tom espiritual do início do poema, passandopela argumentaçãobe- ligeranteda segundaestrofe,para as vozes de comando e os gritos de guerra de seu final. Ou, em outras pa- lavras, como a fonte do prazer poético que mana de estruturasverbaisdevidamenteproporcionadasse trans- forma em energia doutrinária a impelir para a ação direta. (Tradução de Cláudia Guimarãesde Lemos)78 r ReferênciasBibliográficas V. Adriânova-Piérietz,Rúskaia demokratítcheskaiasatira XVII v. (Moscou-Leningrado1954). N. Aristov, "P(>viesto Fomié i Ieriemié", Driévniaia i nôvaiaRossia (1876), NI' 4. A. Astákhova, Bilíni Siéviera, II (Moscou-Leningrado 1951). .• J. Bentham, Theory of Fictions, org. e introdução de C. K. Ogden (Londres 1939). F. Berry,Poets'Grammar(Londres 1958). P. Bogatiriév, "Improvizátzia i n6rmi khud6jestvieJ1ikh, priomov na matierialep6viestieiXVIII V., nádpissieina lub6- tchnikh kartínkakb,skazoki piéssieno Ieriemié i Fomié", To honor Roman Jakobson, r (Haia - Paris 1967). C. Bragdon, The Beautiful Necessity (Rochester,Nova York 1910). ChristineBrooke-Rose,Ao Grammarof Metaphor (Londres 1958). D. 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