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Artigo Bauhaus - Maria

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CEM ANOS DA BAUHAUS: INFLUÊNCIA NO DESIGN ATUAL E OS SEUS 
CONTRAPONTOS 
 
Autoria: ​BARBOSA, Maria Clara Rezende 
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Uberlândia 
Teoria do Urbanismo II - Matrícula: 11811ARQ034 
 
Resumo: ​O artigo a seguir trata sobre os cem anos da Bauhaus, uma das maiores 
escolas de design que já existiu, e sua influência no design dos mobiliários 
atualmente. Para realização da análise, teve-se como princípio o reconhecimento da 
história e trajetória dessa escola, bem como o conceito defendido por ela que 
mentem-se até hoje. A partir de então, pretendeu-se fazer um paralelo entre o 
conceito da Bauhaus e sua influência, que permanece mesmo depois de 100 anos 
de sua fundação. Foi analisado os pontos positivos e os pontos negativos que 
surgem a partir dessa referência, mostrando como o conceito inicial defendido por 
essa escola se tornou algo relacionado com as questões mercadológicas nos dias 
de hoje. 
 
Palavras-chave: ​Bauhaus, funcionalismo, influência, design. 
 
The following article is about the hundred years of Bauhaus, one of the largest design 
schools that ever existed, and its influence on furniture design today. For the 
accomplishment of the analysis, it was as a principle the recognition of the history 
and trajectory of this school, as well as the concept defended by her that lie until 
today. From then on, it was intended to make a parallel between the concept of the 
Bauhaus and its influence, which remains even after 100 years of its foundation. We 
analyzed the positives and the negative points that emerge from this reference, 
showing how the initial concept defended by this school became something related to 
the market issues these days. 
 
Keywords: ​Bauhaus, functionalism, influence, design. 
 
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1. INTRODUÇÃO 
 
A Bauhaus foi a primeira e mais importante escola de artes fundada em 1919 pelo 
arquiteto Walter Gropius ​(1883-1969)​, na cidade de Weimar, Alemanha. Criada com 
a associação da Academia de Belas Artes e com a Escola de Artes Aplicadas, 
pretendia articular e valorizar a arte e o artesanato. 
A escola surgiu no contexto pós Primeira Guerra Mundial, em um momento de 
insatisfações relacionadas às mudanças ocorridas desde a primeira Revolução 
Industrial, que extinguiu o trabalho manual dos artesãos e concebeu a produção 
rápida e alienada. Essas mudanças inquietava os idealizadores da Bauhaus, que 
admitiam que o modelo vigente deveria valorizar a estética e a funcionalidade e 
tornar seus produtos democráticos, de modo a serem acessíveis a todos. 
Essa concepção funcionalista da Bauhaus consolidou-se em sua segunda fase, 
entre 1925 e 1932, em Dessau, Alemanha. Preconizavam a máxima “a forma segue 
a função” e propunham um design simplificado, funcional e elegante que atenderia 
às necessidades da época. Nesse momento, os produtos foram ordenados com o 
objetivo de serem produzidos em série e concretizados em indústrias que fariam 
parceria com a escola, bem como iriam servir ao desenvolvimento da habitação 
social contemporânea. Esses produtos apresentavam configuração prático-funcional 
que se baseava na teoria estética da redução das formas. De acordo com Bernd 
Lobach (2001, p. 176) 
 
Ao contemplar os produtos da Bauhaus, reduzidos a formas geométricas 
simples, devido à simplificação prático-funcional, chega-se à conclusão de 
que estes produtos ofereciam uma quantidade insignificante de informação 
estética. Na época, tais produtos possuíam um valor surpreendente no 
contexto dos demais produtos industriais graças à sua aparência estética 
pouco comum. Devido à grande difusão das idéias da Bauhaus na 
configuração de produtos industriais, especialmente depois de 1945, os 
produtos pobres em informação se converteram em norma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2. O MOBILIÁRIO DA BAUHAUS 
 
No desenho e produção do mobiliário os artistas buscaram conciliar as artes 
plásticas com o desenho industrial, unindo a estética moderna ao utilitário e 
comodidade. Na criação das cadeiras, por exemplo, havia uma grande preocupação 
com a postura de uma pessoa ao sentar-se. Em relação aos materiais, ​são usados 
tubos de metal cromado, aço, vidro, couro negro, madeira lacada, lona, verga 
trançada, palhinha, molas e tiras elásticas. As cores usadas são básicas e os 
elementos são simples, com formas geométricas reduzidas. 
O conceito por detrás do design bauhausiano se baseava na criação de móveis que 
possuía formas não intencionais e não expunha a individualidade dos usuários, 
sendo democráticos à medida que satisfaria as necessidades do maior número de 
pessoas. Os móveis deixam de ser uma mera composição do ambiente e passam a 
ter como principal objetivo a funcionalidade e praticidade, podendo ser usados em 
diferentes ambientes, “no processo de utilização são satisfeitas as necessidades do 
usuário por meio das funções dos produtos” (​LOBACH, 2001, p. 67)​. De acordo com 
um trecho presente do livro “Bauhaus e a institucionalização do design: reflexões e 
contribuições”, 
 
O desenvolvimento de objetos estandardizados para o uso cotidiano atende 
as necessidades de vida que são as mesma para a maioria das pessoas. Ao 
mesmo tempo, pode fazer com que os produtos sejam mais baratos e 
melhores que os produzidos à mão. Esse foi o princípio de produção da 
Bauhaus em Dessau (...) 
 
Dentre as icônicas produções do mobiliário da Bauhaus que de destacaram 
podemos citar as criações do arquiteto Ludwig Mies Van der Rohe, em que podemos 
ver com clareza a aplicação dos conceitos expostos anteriormente. 
Suas referências racionalistas e geométricas podem ser vistas em seus principais 
trabalhados, como as famosas Cadeira Barcelona e a Cadeira MR (imagens 1 e 2). 
 
 
 
 
 
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Com o preceito “menos é mais”, Mies Van der Rohe criava objetos com soluções 
simples, prezava a perfeição em cada detalhe e o conforto do usuário. Os materiais 
eram escolhidos visando, além do conforto e funcionalismo, uma produção que 
pudesse ser replicada com facilidade. ​A elegância das estruturas metálicas que 
quase sempre seguem formas curvilíneas ou anatômicas e o conforto dos assentos 
em couro resultam em móveis que se adaptam perfeitamente ao movimento do 
corpo. 
 
 Imagem 1 - Cadeira Barcelona, Mies Van der Rohe 
 Fonte: ​https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetos/cadeira-barcelona-mies-van-der-rohe/ 
 
 
 
 Imagem 2 - Cadeira MR, Mies Van der Rohe 
 Fonte: ​https://www.vivadecora.com.br/pro/arquitetos/cadeira-barcelona-mies-van-der-rohe/ 
 
 
2.1. Influência da Bauhaus Atualmente 
 
 
 
 
 
 
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A Bauhaus revolucionou o design moderno e mesmo depois de 100 anos sua linha 
de pensamento influencia muitos artistas. Essa influencia pode ser observada na 
busca pela valorização da naturalidade dos materiais e das estruturas,no uso de 
formas simples e aplicação dos princípios de racionalidade e funcionalidade. 
Uma das marcas que seguiu os princípios bauhausianos e segue até hoje é a 
grande IKEA. A loja apresenta o ​conceito de democratização do mobiliário, que era 
um dos princípios da Bauhaus​. Além disso, existe uma preocupação funcional e de 
conforto do usuário como podemos ver na poltrona ​POÄNG fabricada por eles 
(imagem 3). A estrutura curvada e o encosto alto com apoio mostram que o principal 
é a preocupação com o conforto do usuário. 
 
Imagem 3 - POÄNG, IKEA. 
Fonte: ​https://www.ikea.com/pt/pt/catalog/products/S19197780/ 
 
Em entrevista para o Design Week, ​Clotilde Passalacqua, líder de design de 
interiores da IKEA, diz: 
(...) tendemos a adotar uma abordagem mais ampla que abrange cinco 
elementos que chamamos de 'projeto democrático': forma, função, 
qualidade, sustentabilidade e preço. Independentemente disso, eu sinto que 
há muitas semelhanças entre os ensinamentos da Bauhaus e a maneira 
como fornecemos espaços (...). (Entrevista concedida a ​Alina Polianskaya​. 
Design Week​, 4 fev. 2019.) 
 
As influências da Bauhaus também podem ser vistas no próprio design dos 
produtos. Projetos com referências do design bauhausiano são atualmente 
produzidos por muitas marcas, tendo em vista que esse estilo se tornou sinônimo de 
modernidade e status. Neste contexto, o que não falta são exemplos desses 
produtos, como podemos ver em uma cadeira fabricada pela Italy Classics (imagem 
 
 
 
 
 
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4) que teve como inspiração a cadeira Brno desenhada pelo arquiteto Mies Van der 
Rohe (imagem 5). 
 
Imagem 4 - Cadeira inspirada na Cadeira Brno, Loja Italy Classics 
Fonte: ​https://www.italyclassics.com/en/mies-van-der-rohe-brno-chair-tubular-mvr47 
 
Imagem 5 - Cadeira Brno, Mies Van der Rohe 
Fonte: ​https://www.bauhausdesign.com.br/cadeira-brno 
 
 
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Cem anos se passaram desde a fundação da Bauhaus e,mesmo depois de décadas, 
suas ideias continuam vivas e são discutas e tidas como referência, o que prova a 
grande importância que ela teve e ainda tem na evolução do design. 
No entanto, ainda que exista exemplos como a IKEA e o legado do funcionalismo da 
Bauhaus tenha tomado grandes proporções, o design bauhausiano nos dias atuais 
 
 
 
 
 
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passou a servir principalmente às atividades mercadológicas. Esse contraponto foge 
do real legado da Bauhaus, que tinha como princípio atingir todo tipo de público. O 
estilo Bauhaus deixa de ser democrático na maior parte das vezes que é usado 
como referência e passa a ser acessível a poucas pessoas pelo alto valor dos 
produtos. 
Desse modo, cabe hoje aos designers a tarefa de encontrar novas soluções de 
projetos que tenham como objetivo não só o mercado, mas também o bem-estar 
social da maioria das pessoas. 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
SILVA, J.C.P; PASCHOARELLI, L.C.​ Bauhaus e a institucionalização do design: 
Reflexões e Contribuições​: 1. ed. São Paulo: Editora Estação das Letras e Cores. 
2011 
 
LOBACH, B. ​Design industrial ​: 1. ed. São Paulo: Editora Edgard Blucher, 2001 
BAYER, H. ​Bauhaus 1919 - 1928:​ 1. ed. Nova Iorque: ​Museum of Modern Art, 1976 
SAVAL, Nikil, ​Como o “bom design” nos falhou​. 2019. Disponível em: 
https://www.newyorker.com/culture/cultural-comment/how-good-design-failed-us​. 
Acesso em 15 jun. 2019. 
 
BAUHAUS: The Face of the 20th Century. Direção de Frank Whitford. S.i.: Arthaus, 
1994. (50 min.), son., color. Legendado. Acesso em: 15 jun. 2019. 
 
COOK, William. ​A escola alemã que até hoje influencia os objetos ao nosso redor. 
2017. Disponível em: ​https://www.bbc.com/portuguese/vert-cul-42117289​. Acesso 
em 15 jun. 2019. 
 
Köver, Cláudia. ​A Bauhaus tem 90 anos e ainda está muito viva. ​2009. Disponível 
em: 
https://www.publico.pt/2009/08/02/jornal/a-bauhaus-tem-90-anos-e-esta-muito-viva-0
. Acesso em: 15 jun. 2019 
 
 
 
 
 
 
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