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A CLÍNICA DO SINTOMA EM FREUD E EM LACAN 
 
INTRODUÇÃO 
 
O sintoma é um conceito que nos remete à clínica, assim como ao nascimento 
da psicanálise. Freud o investiga em toda a extensão de sua obra, jamais deixando de 
marcar sua importância. Inicia seu trabalho se perguntando sobre o sentido do sintoma a 
partir do enigma trazido pelas pacientes histéricas, que elegiam um órgão através do qual 
seu corpo falava. 
Freud sempre marcou a relação do sintoma com a viscosidade da libido, que 
nada mais é do que um efeito do trauma, o sintoma aparecendo como um substituto da 
satisfação sexual. 
Os sintomas são ou uma satisfação de algum desejo sexual ou medidas para 
impedir tal satisfação e, via de regra, tem a natureza de conciliação, de formação de 
compromisso entre as duas forças que entraram em luta no conflito: a libido insatisfeita, 
que representa o recalcado, e a força repressora, que compartilhou de sua origem. 
 
RELAÇÃO ENTRE ANGÚSTIA, PULSÃO, CASTRAÇÃO E RECALQUE E A 
RELAÇÃO ENTRE OS MECANISMOS DE DEFESAS E A ANGÚSTIA 
 
Alguns conceitos essenciais para a compreensão do conteúdo posterior: 
1. Pulsão é uma necessidade psíquica e orgânica que sempre tem como 
finalidade a satisfação, seja ativa ou passiva, tem fontes, pressão e um objeto de desejo 
por natureza perdido. 
2. Pulsionalidade humana é a origem do conflito que forma o sintoma. 
3. A Castração – complexo de castração – é uma falta nuclear e eterna que 
é comum a todos, não apenas do pênis na infância em relação as meninas, mas a falta do 
falo (somos faltantes, limitados). 
O nosso aparelho psíquico está dividido, segundo a psicanálise, em consciente 
e inconsciente (parte mais ampla que guarda o conteúdo não suportado pelo ego), 
posteriormente é integrado por Freud a divisão em Id (impulsividade, busca o prazer, 
pulsões) Ego (racionalidade, consciência, realidade) e Superego (moralidade, regras, leis). 
Freud disse que “Não somos apenas o que pensamos ser. Somos 
mais: somos também o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as 
palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos 'sem 
querer'”. 
No inconsciente surgem através das pulsões, energias e impulsos (provocados 
pelo Id) conflitos que resultam no surgimento de sintomas. 
Exemplo: filho flagra o pai traindo a mãe. Pensamento insconsciente que surge 
imediatamente “vou matá-lo”, este pensamento causa grande mal estar, por ser 
considerado inaceitável pelo ego(consciência) e pelo superego(moralidade/leis). 
Uma vez que o nosso aparelho psíquico é programado para evitar a energia 
pesada e ruim causada pela angustia, este conteúdo precisa ser recalcado através de 
mecanismos de defesa acionados pelo ego. 
O processo do recalque nada mais é que transportar esse conteúdo agora 
consciente para o inconsciente. Lá, ficará “aprisionado” graças a uma barreira chamada 
Repressão, que exerce uma força sobre esse conteúdo com a finalidade de deixá-lo 
guardado no inconsciente, apesar de suas inúmeras tentativas de voltar a ser um conteúdo 
consciente. Para conseguir alcançar a finalidade de retornar a ser conteúdo do Ego, o 
conteúdo que antes fora recalcado, retorna agora mascarado, disfarçado, isto é, distorcido, 
em forma de sintoma (graças ao deslocamento ou condensação para Freud e graças a 
metáfora ou a metonímia para Lacan), conseguindo assim atravessar a barreira da 
Repressão em caminho de volta para o Ego. 
O Recalque é um dos mecanismos de defesa mais utilizados pelo Ego, mas não 
é o único. 
Os Mecanismos de Defesa do Ego são estratégias que o Ego coloca em ação 
para evitar a tensão, a angústia, o mal estar, o desprazer. A angústia aponta para o perigo 
da castração que é a perda do objeto de satisfação ou limite imposto ao desejo. 
Os mais conhecidos são os sonhos, as fantasias e os devaneios. 
Outros exemplos desses mecanismos são: 
Deslocamento 
É o mecanismo de defesa pelo qual o todo é representado apenas por uma parte 
ou é representada a parte como sendo o todo e isso sem compromisso nenhum com a 
lógica. 
 
Formação Reativa 
É o mecanismo de defesa que se caracteriza pela adoção de uma atitude de 
sentido oposto a um desejo que foi recalcado. 
A Formação Reativa é o processo psíquico em que um impulso indesejável é 
mantido inconsciente e é expressado em seu sentido oposto. 
Exemplos: superproteção, ternura excessiva e atitudes exageradas. 
Um exemplo prático é o da mãe que inconscientemente tem raiva do filho por 
algum motivo (como o de vê-lo inconscientemente como aquele que lhe roubou a sua 
liberdade), mas que ela não se vê podendo admitir tal raiva e então de forma reativa 
superprotege este filho. 
 
Identificação 
É o mecanismo de defesa em que a pessoa assimila um aspecto ou 
característica de outra pessoa e passa a se apresentar conforme o modelo dessa outra 
pessoa. 
Isolamento 
É o mecanismo de defesa típico das neuroses obsessivas. 
Este mecanismo de defesa atua de forma a isolar um comportamento ou 
pensamento fazendo com que as demais ligações com os outros pensamentos ou com o 
conhecimento de si mesmo fiquem totalmente interrompidas. 
Desta forma, os demais pensamentos e comportamentos são excluídos do 
consciente. 
O mecanismo de defesa do isolamento gera: 
-Pausas no decurso do pensamento 
-Fórmulas e rituais 
-Ações que criam um hiato na sucessão temporal 
 
Negação 
Este mecanismo de defesa consiste na tendência a negar sensações dolorosas 
e sentimentos de dor. 
A negação é muito comum nas crianças pequenas e em situações altamente 
dolorosas como a notícia de uma traição ou a morte de alguém querido. 
 
Projeção 
Este mecanismo de defesa acontece quando o ego não consegue aceitar algo 
que é seu e então atribui o que é inaceitável para si no outro. 
O indivíduo projeta algo de si no mundo externo sem perceber que aquilo que foi 
projetado é algo seu que considera indesejável. 
Um exemplo prático é o da pessoa que fala: “você reparou como aquela pessoa 
é fofoqueira e está sempre falando pelas costas dos outros?”. A pessoa acabou de se 
mostrar fofoqueira, mas projetou esta característica indesejada no outro. 
 
Racionalização 
Este mecanismo de defesa acontece quando o indivíduo constrói uma 
argumentação intelectualmente aceitável e que justifica a deformação da realidade ou da 
verdade, ou seja, algo que “justifica” o seu pensamento ou comportamento. 
A racionalização seria como uma mentira inconsciente que se põe no lugar da 
verdade que não se quer aceitar. 
 
Regressão 
É o mecanismo de defesa em que o ego recua para um estágio anterior para 
fugir de situações conflitivas atuais. 
Neste mecanismo de defesa a pessoa retorna a etapas anteriores de seu 
desenvolvimento. 
 
Repressão 
É o mecanismo de defesa que atua de forma a fazer desaparecer da consciência 
os impulsos ameaçadores; os sentimentos, os desejos ou qualquer conteúdo tido como 
desagradável ou inoportuno. 
 
Inibição 
 Freud demonstra que os mecanismos de inibição ocorrem a serviço do Eu, como 
uma forma de proteção contra a angústia, e podem não se transformar em sintomas. A 
inibição pode estar associada a diferentes fatores, que vão desde a curiosidade sobre a 
própria origem, ou até mesmo, estar a serviço de um desejo impossível de ser admitido 
conscientemente. A inibição pode estar relacionada com o fato de se desejar permanecer 
na ignorância, para evitar a confrontação, com o saber sobre a falta do Outro. 
 
Sublimação 
Este é o mais eficaz dos mecanismos de defesa porque canaliza os impulsos 
libidinais para uma postura socialmente produtiva e aceitável. 
A sublimação acontece quando a libido com finalidadesexual ou agressiva é 
direcionada para fins nobres, geralmente para finalidades artísticas, intelectuais, sociais ou 
culturais. 
Angústia 
A angústia é apresentada como um sinal de um perigo, que se produz ao nível 
do eu, uma forma de limitação imposta ao eu, para se proteger de algo chamado “perigo 
vital”. Distingue-se em dois tipos de angústia: a neurótica e a realística. A angústia realística 
teria como característica o fato de o perigo ser conhecido, enquanto que, na angústia 
neurótica, o perigo seria pulsional e desconhecido. 
Diante de uma ameaça real existem duas formas possíveis de reação: a irrupção 
do afeto ou angústia e uma ação que seria protetora. Ambas podem associar-se de forma 
apropriada, conjugando sinal e ação protetora, ou podem aparecer de forma inadequada a 
evitação do perigo. As angústias realística e neurótica, neste caso, estariam associadas de 
tal forma que, mesmo que o perigo fosse conhecido e real, a angústia se mostraria 
excessiva. 
A “Angústia” passou por diversos momentos de dificuldade em relação ao seu 
conceito, até adquirir uma forma mais consistente a respeito da sua definição. A angústia, 
real ou neurótica, é causada por um perigo externo. O sinal de perigo é algo que precede 
a satisfação e permite ao desprazer aparecer no começo de uma situação temida. 
 
 
 
 
 
SINTOMAS DE FREUD A LACAN 
O tema do sintoma é discutido em toda a Psicanálise por ser um conceito 
fundamental, que orienta a prática e demarca os limites terapêuticos desse campo de saber. 
O Sintoma na obra de Sigmund Freud 
O sintoma na origem da psicanálise, como fenômeno que convoca o ato 
freudiano de escutar um sentido onde antes o saber instituído afirmava só haver mentira. 
Esse posicionamento inaugural de Freud irá lançar as bases para a ética psicanalítica de 
escutar o sujeito em sua radical singularidade. 
O conceito de sintoma antes de 1900 
Freud defende que a histeria é o produto de um conflito psíquico gerado por um 
evento traumático que deixou marcas, mas que não é lembrado no estado de vigília. 
"Os histéricos sofrem principalmente de reminiscências" Restos de eventos que 
haviam sido esquecidos retornam no corpo causando paralisias, dores inexplicáveis, 
cegueira. Relacionar com seus sintomas são marcados por sentimentos de vergonha, 
menos-valia, rejeição. 
 A fala em transferência mostra-se mais eficiente na resolução dos sintomas, 
mesmo revelando as resistências de modo mais contundente. 
Esta aparece quando o tratamento pode mexer no arranjo feito pelo paciente 
para manter fora de sua consciência as lembranças traumáticas, e assim surge um sintoma 
primário. 
O estabelecimento do sintoma promove um período de relativa tranquilidade 
psíquica, por contar com uma defesa eficiente, embora o paciente passe a conviver com a 
dor do sintoma primário. Posteriormente, as ideias recalcadas retornam e desse novo 
conflito surgem novos sintomas que "são os da doença propriamente dita: isto é, uma fase 
de ajustamento, de ser subjugado, ou de recuperação com uma mal formação" 
 
 
O conceito de sintoma entre 1900-1920 
O ano de 1900 é lembrado como o ano de fundação da psicanálise, com a 
publicação de "A interpretação dos sonhos". Sempre na tentativa de compreender a origem 
dos sintomas Freud (1900/1996f) postula que os sonhos são fenômenos que deixam 
entrever os conteúdos inconscientes. 
Assim como os sonhos, o sintoma também é a realização de um desejo, que é 
sempre sexual. Desse modo, o sujeito que sofre com seu sintoma não reconhece nele uma 
satisfação. 
O que Freud vai encontrando em sua prática clínica é que os sintomas carregam 
em si uma satisfação que torna o tratamento difícil. Ele se dá conta que é com muita 
resistência que os pacientes abrem mão se seus sintomas e, ainda assim, não de modo 
total e definitivo. Essas conclusões o levam à elaboração de uma hipótese além da 
homeostase, do equilíbrio e do princípio de realidade e do prazer. 
O conceito de sintoma após 1920 
A meta de toda vida é a morte .... O inanimado está ali antes do vivo .... Em 
algum momento, por intervenção de forças que são para nós totalmente inimagináveis, 
suscitaram-se na matéria inanimada as propriedades da vida. A tensão assim gerada no 
material até então inanimado lutou por se libertar, assim nasceu a primeira pulsão, a de 
retornar ao inanimado. 
Se, a princípio, Freud havia seguido sua formação médica e considerou o 
sintoma como sinal da quebra de harmonia na vida orgânica e psíquica das pessoas, sua 
experiência como analista vai evidenciando as dificuldades no trabalho com a resistência e 
a compulsão à repetição. "Sua prática clínica foi mostrando que a decifração dos 
significados não era suficiente". Alguns pacientes não conseguiam abrir mão de seus 
sintomas. 
O Sintoma na obra de Jacques Lacan 
A elaboração do conceito de sintoma aparece em diversos momentos da obra 
deste autor, passando por reformulações, ganhando novas nuances e guiando, até o final, 
sua noção de tratamento e cura. O tema do sintoma em Lacan pode ser compreendido de 
três modos: o sintoma como mensagem endereçada ao outro, como gozo, e como produção 
e invenção do sujeito. 
O SINTOMA DO GOZO NA OBRA DE JACQUES LACAN 
O conceito de sintoma são resumidos em dois momentos. O primeiro é aquele 
em que o sintoma é pensado como metáfora, referido ao campo das identificações e do 
sentido, isto é, um tempo no qual o symptôme remete à estrutura e se relaciona ao campo 
do Outro. Nesse período, as referências cruciais são o complexo de Édipo, o significante 
do Nome-do-Pai, o diagnóstico diferencial. O segundo é o do sinthoma, descrito como 
prática da letra, relativo ao campo do gozo e também ao da fantasia. A partir da topologia 
dos nós, especificamente em RSI, Lacan modifica o conceito de sintoma abordando-o pela 
via da père-version. No lugar do pai, surge um homem que tem seu desejo orientado para 
uma mulher no lugar de causa. 
No último ensino de Lacan, temos a dominância do UM que não se reporta ao 
Outro, havendo uma certa depreciação do saber e a valorização da prática, orientada pelas 
modalidades de gozo. Assim, o inconsciente aparece menos como um saber que não se 
sabe, e mais como um savoir y faire. O sintoma é pensado como suplência, como aquilo 
que sustenta o falasser em relação ao incurável do seu sinthoma. O neologismo sinthoma 
aponta para a forma singular de gozar do inconsciente. A suplência não é necessariamente 
apenas do registro da psicose, como na clínica estrutural, mas uma forma de expressar o 
matema da inexistência da relação sexual. A direção da análise tem por objetivo localizar 
no sujeito o seu ponto de incurável e propiciar uma nova solução frente ao gozo. 
 
SINTOMA NA ESTRUTURA FAMILIAR 
 
 Em “Os complexos familiares na formação do indivíduo”, Lacan (1938) formula 
que o destino psicológico da criança depende da relação que esta estabelece entre si e 
suas imagens parentais. Lacan afirma que há algo na estrutura familiar que faz sintoma 
apontando assim para uma irredutibilidade em relação á transmissão. A história de cada 
neurose se reporta à pré-história do sujeito, à trama que envolveu e estruturou as relações 
de seus pais, e que ressoará na história que o sujeito construirá. 
 O falo, Lacan o demonstra, não deve ser confundido com o pênis. Tem uma 
função decisiva, que parece ser mais relevante para as mulheres que para os homens. 
Seguindo o percurso freudiano, ele indica o fato de, entre as faltas de objetos essenciais 
para a mulher, estar o falo, estreitamente ligado a sua relação com o filho: “Se a mulher 
encontra na criança uma satisfação, é, muito precisamente, na medida em que encontra 
nestaalgo que atenua, mais ou menos bem, sua necessidade de falo, algo que a satura”. 
A questão fundamental é como a criança se inscreve na relação da mulher com o falo, uma 
vez que sua tendência é localizar a criança como um substituto deste. 
 
A TEORIA DO GOZO E A TEORIA DO PARCEIRO-SINTOMA 
Teoria do parceiro-sintoma: “o sintoma inscreve-se no lugar do que se apresenta 
como falta, falta do parceiro natural sexual. A relação estabelecida é sempre sintomática, 
ou seja, não existe relação entre dois seres que não passe pelo sintoma. 
Miller apresenta o parceiro essência do sujeito, o objeto A, a partir da fantasia. 
Dessa forma podemos entender a elaboração de Lacan do parceiro essencial do sujeito, 
ou seja, o parceiro-gozo do sujeito. 
Existe uma diferença entre significação e satisfação quando se trata de sintoma, 
na clínica é possível observar que algo na satisfação pulsional é mais forte, o gozo. No 
sintoma há “uma pedra no caminho”, que não pode ser movida. Miller nos convida sempre 
a inventar uma nova pratica de manejar o incurável do sintoma, transformando-o. 
 
SEIS PARADIGMAS DO GOZO 
1. A imaginarização do gozo 
O sintoma aparece como uma mensagem cifrada, como um enigma endereçado 
ao Outro. A libido tem um estatuto imaginário e o gozo faz obstáculo à elaboração simbólica. 
2. Significantização do gozo 
Temos o falo como operador fundamental da libido inscrita no significante. 
3. Gozo impossível: 
Se centra em Das ding, algo que se situa fora da experiência, portanto da ordem 
do real. 
4. Gozo fragmentado 
É um índice da parcialidade da satisfação corporal, e o sintoma inscreve-se na 
estrutura como efeito das operações de alienação-separação. 
5. Gozo discursivo 
É aquele em que o sintoma é a repetição. A noção de mais-de-gozar traz, em 
decorrência, algo novo sobre o gozo. 
6. Gozo disjuntivo: 
o sintoma é pensado como letra, passando a ser interpretado não mais do lado 
do significante, mas sim do signo. Ou seja ele não vai ser somente como significante, será 
algo mais com signo, mais real. 
 
O CASO DAS IRMÃS PAPIN 
 No dia 2 de fevereiro de 1933, Leone Lancelin e sua filha, Genevive, foram 
encontradas mortas em sua casa em Le Mans, na França. Sra. Lancelin e sua filha foram 
descobertas mortas quando o Sr. René Lancelin chegou em casa acompanhado de seu 
genro e viu a casa toda escura com apenas uma luz acesa no segundo andar, além de 
perceber que a porta estava trancada por dentro. Diante desse contexto, o homem chamou 
a polícia, e esta ao entrar na casa encontra mãe e filha espancadas com um martelo, 
esfaqueadas, cortadas e arrancados seus olhos (deduz-se que por cerca de 30 minutos) 
por suas duas empregadas, as irmãs Christine e Léa Papin. 
 O caso foi dado ao psicanalista e psiquiatra francês Jaques Lacan com a 
tarefa de que esse concretizasse a personalidade e os sintomas expressados pelas irmãs, 
no qual o mesmo denominou o ato como “orgia de sangue”, o qual expressa vividamente a 
atrocidade cometida por Christine e Léa Papin. 
 
O SINTOMA NA CONTEMPORANEIDADE 
Na contemporaneidade, a prática clínica confronta o analista com novas formas 
do sintoma, que têm sido denominadas por vários autores de “novos sintomas”. O sintoma 
situa-se em relação ao discurso do mestre. Assim, para estudar os novos sintomas, 
precisamos estar atentos à mudança dos significantes-mestres que ordenam o social e aos 
modos de gozo que respondem a estes. Isto implica em voltar-se para o discurso do mestre 
contemporâneo e nele buscar o lugar da psicanálise. 
No sentido clássico, o sintoma é pensado como uma barreira ao gozo, mantendo 
a busca de satisfação dentro dos limites do prazer. É pela via da palavra que o sujeito 
confere ao objeto e ao gozo deste seu caráter mítico, pois o objeto é perdido para sempre, 
o que abre a possibilidade de objetos e gozos substitutos, inscritos na lógica fálica. 
Freud formula duas abordagens do sintoma. A primeira é construída a partir do 
modelo da histeria, na qual o que sofre recalque é o desejo. Neste modelo, aquilo que, do 
desejo, é recalcado aparece no corpo como mensagem ao Outro. A outra concepção do 
sintoma é baseada no modelo da neurose obsessiva. Nela, a pulsão aparece como objeto 
de recalque. Ou seja, aqui está em causa uma satisfação pulsional da ordem do excesso, 
marcada pela repetição do que retorna sempre ao mesmo lugar, que aponta para um gozo 
excessivo e fixo. 
Os novos sintomas inscrevem-se no modelo obsessivo, enquanto marcados pelo 
real da pulsão, refratários à palavra. Não são sintomas estruturados como linguagem, não 
se dirigem ao Outro; eles se referem, pelo contrário, a um gozo que se presentifica no corpo 
de forma repetitiva. 
Diante deste Outro, o analista opera no sentido de extrair algo deste Outro não 
barrado para que o sujeito possa apresentar-se. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BINE. G. V; CORIAT. A. Um caso de J. Lacan: As irmãs Papin ou a loucura 
a dois. 
BATISTA. A. A clínica do sintoma em Freud e em Lacan. Latusa digital – ano 
2 – N° 13 – abril de 2005. 
 
DIAS. M. G. L. V. O SINTOMA: DE FREUD A LACAN. Psicologia em Estudo, 
Maringá, v. 11, n. 2, p. 399-405, mai./ago. 2006. 
 
MAIA. A. B; MEDEIROS. C. P; FONTES. F. O conceito de sintoma na 
psicanálise: uma introdução. Estilos clin. vol.17 no.1 São Paulo jun. 2012.

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