Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
INSTITUTO BRASILEIRO DE MEDICINA DE REABILITAÇÃO ESCOLA DE SAÚDE CURSO DE PSICOLOGIA KAROLINA JORDÃO DA SILVA PSICOPATOLOGIA DO ADULTO RIO DE JANEIRO 2019 No final dos anos 70 foram vistos os primeiros movimentos relacionados a reforma psiquiátrica que se deu por profissionais da saúde recém formados que relataram um cenário de descaso e violência nos hospitais psiquiátricos. A reforma psiquiátrica deu inicio ao processo de desinstitucionalização, ou seja, retirou os pacientes das instituições denominadas “manicômios” que eram instituições hospitalocêntricas que eram guiadas pelo modelo biomédico e tinham a doença como foco de intervenção. Os manicômios da época eram constituídos por pacientes que tinham problemas mentais ou não e que eram levados por suas famílias que muitas vezes os abandonavam, o objetivo da reforma era desinstitucionalizar o paciente, mas não a atenção ao paciente em tratamento, a luta da reforma se consistiu contra a hospitalização e a desmedicalização desses pacientes que sofriam nessas instituições, que não davam o suporte adequado ao louco, que vivia em condições subumanas onde viviam sem autonomia, vivendo uma vida de preconceitos, exclusão e maus tratos. A Reforma veio para trazer autonomia ao paciente o fazendo ser o dono de sua vida lhe dando direitos como cidadão, e lhe dando singularidade. Em Abril de 2001 o governo criou uma lei (10.2016) que tem como objetivo proteger e dar direitos aos portadores de doenças mentais dando inicio a um novo cuidado da doença mental. Esta lei deu inicio ao dispositivo chamado CAPS que visa o atendimento integral nas redes buscando a integralidade da atenção por todas as áreas da saúde, esse novo dispositivo apresenta uma proposta diferente do modelo biomédico que era o modelo utilizado nos manicômios, substituindo a palavra “tratar para cuidar”, a criação desta rede de apoio foi muito importante pois deu escuta ao paciente e permitiu a reinserção social junto com sua família. Os CAPS são redes de atendimento em saúde mental que possibilitam ao paciente um cuidado intensivo de uma rede multidisciplinar. O CAPS possui alternativas terapêuticas, e é um dispositivo territorial. Ele possui equipes próprias para o seu funcionamento e atua juntamente com as equipes das redes de serviço a saúde e com os agentes comunitários trabalhando na produção de autonomia dos usuários. O documentário brasileiro “Estamira” que conta com a direção de Marcos Prado e José Padilha conta a história de uma senhora de 63 anos que vivia em um aterro sanitário. O documentário gera uma reflexão sobre a dicotomia entre o problema de saúde mental e a lucidez, a mesma que se diz “esquizofrênica, mas autocontrolada” vai nos mostrando isso durante todo o documentário. Vítima de uma vida difícil e da sociedade, Estamira conta sua trajetória até sua morada no lixão, passando por casos de estupros e perversidades ao longo da vida e mergulhando nas alucinações e fantasias. Trabalhando no lixão de Gramacho um lugar que recebe toneladas de lixos por dia e vivendo em condições precárias sem direito a saúde básica, o filme também nos mostra o quanto uma sociedade pode ser perversa ao ponto de excluir indivíduos vistos como grupos minoritários. Estamira afirma que adora morar naquele lugar, e durante a gravação nos proporciona reflexões sobre assuntos como religião, economia, filosofia entre outros. Apesar de apresentar delírios e alucinações, Estamira tem uma capacidade incrível de explicar fenômenos e de questionar acontecimentos, e em alguns momentos completamente lúcida. No decorrer do comentário, Estamira comenta sobre os abusos físicos e mentais que sofrera ao logo da vida, na infância tivera uma relação difícil com o pai e na vida adulta com seus dois maridos. Diante de todo o transtorno da sua vida, Estamira viu nas alucinações um meio de fuga e de se vingar de seu passado traumático. A psicanálise contribui para que o sofrimento humano seja visto de outro ponto, segundo FIGUEIREDO, Ana Cristina e TENORIO Fernando “Freud cria, assim, as condições para que se venha a reconhecer no louco o estatuto de um sujeito cuja fala tem positividade.” Mãe de três filhos, mas tendo criado só dois, Estamira passou a ter alucinações e a morar no lixão, lugar da onde ela tirava seu sustento. Sua filha mais velha declara que prefere ver a mãe no lixão do que trancada em um hospital psiquiátrico vivendo isolada, pois afirma que o convívio da mãe com outros moradores do lixão melhorou seu estado de saúde mental. Com um discurso livre, poético e reflexivo Estamira pode ser vista como uma pensadora e ela diz ter uma missão “revelar e cobrar a verdade”. A loucura em que vive é um retrato de questões sociais, como por exemplo, o machismo e de desigualde social. Estamira apresenta um quadro de esquizofrenia que segundo o texto “A realidade de viver com um esquizofrênico” é uma doença mental que se caracteriza por desorganização de diversos processos mentais; é uma das desordens psiquiátricas mais desafiadoras e complexas que afligem a humanidade, levando o indivíduo a apresentar vários sintomas. Estamira apresenta vários sintomas positivos, negativos, cognitivos e afetivos, e o texto descreve isso explicando que “Na esquizofrenia o individuo perde a noção da realidade passando a viver em um mundo substituto repleto de percepções visuais, auditivas e sensitivas que somente ele vê”, um exemplo disso é quando Estamira diz estar escutando vozes e pede que o cinegrafista escute também. A pesquisa feita no texto relata: “O significado que os portadores de esquizofrenia atribuem à doença é fortemente influenciado por fatores culturais, relacionamento familiar e tipo de tratamento recebido.” o que é exatamente o caso de dona Estamira. Com relação ao CID-10 esquizofrenia é caracterizada como uma alteração das funções básicas que dão a pessoa senso de individualidade, inocidade e direção de si mesma. Alucinações persistentes de qualquer modalidade sem claro conteúdo afetivo também é caracterizada no documentário. Não sendo necessário ceda-la com medicamentos, uma finalidade para o caso de Estamira seria por meio da psicoeducação, que segundo o texto “A realidade de viver com um esquizofrênico” é uma maneira de ampliar e melhorar o conhecimento da família sobre o caso e de como lidar, já que vivem sem condições básicas para viver. Estamira relata que sua mãe tinha os mesmos problemas que ela e que era tão “maluca” quanto por “conhecer a realidade”. Segundo o texto “Esquizofrenia: uma revisão”, as causas da esquizofrenia ainda são desconhecidas, porém acredita-se que diversos fatores influenciam, um desses fatores seria a desordem hereditária, ou seja, possuir um parente com a doença aumenta os riscos de se desenvolver a doença em alguém da família. A esquizofrenia tem como característica a dificuldade do indivíduo de se relacionar com outras pessoas e de manter laços sociais. O esquizofrênico apresenta dificuldades para lidar com momentos conflitantes, com perdas e mudanças. Segundo o texto “Esquizofrenia, uma revisão” foi no séc XX que começou a Reforma farmacológica da Psiquiatria, pois neste momento que se introduziu aos pacientes psiquiátricos os medicamentos psicoterapêuticos que foram capazes de melhorar consideravelmente a vida dos pacientes. Dai em diante foram descobertos muitos outros antipsicóticos que tem o objetivo de evitar que o paciente tenha crises psicóticas agudas, porém esses remédios, além do efeito terapêutico possuem efeitos colaterais e Estamira criticou a forma como é medicalizadae de como os efeitos colaterais prejudicam ela, o texto diz que “Por bloquearem receptores dopaminérgicos estriatais, os antipsicóticos típicos podem produzir o aparecimento de efeitos adversos extrapiramidais. Estes incluem a síndrome de Parkinson, reações distônicas agudas, acatisia, acinesia e síndrome neuroléptica maligna.” Nos seus períodos de delírio, Estamira é muito intensa e diz muitas coisas que fazem sentido na sociedade hoje em dia e que nós “sãos” não temos coragem de dizer ou não fazemos reflexão sobre o assunto, um exemplo disso é quando ela critica os valores da sociedade e a compara com o lixão, Estamira diz que “O verdadeiro lixão são os valores falsos que a sociedade vive. Os valores que a sociedade tem são pequenos.”. Deus também é um tema muito falado sobre ela, pois devido a todos os traumas passados, Estamira não acreditava mais em Deus, e a palavra Deus a causava certo desespero, raiva e angústia, pois conta a história do momento que estava sendo estuprada e que pediu a ajuda divina e de nada adiantou. Chegou um ponto da vida que Estamira se viu desacredita de tudo vendo tanta desigualdade social, violência e miséria e passou não acreditar mais em Deus. Em muitos momentos ela expõe sua indignação com o sofrimento que passa para se alimentar, ela diz “Foi combinado alimentar o corpo como suor do próprio rosto, não com sacrifício. Sacrifício é uma coisa, trabalhar é outra coisa. Trabalhar sim, não sacrificar.” E discorda dos médicos os intitulando de meros copiadores, Estamira diz que eles só copiam o que aprendem e nada mais. O texto “Esquizofrenia: uma revisão” diz que “Infelizmente, os antipsicóticos não fazem mais que atenuar a intensidade das manifestações psicóticas agudas, sendo incapazes de curar o paciente.”, e apesar de Estamira reclamar da medicação, o texto diz que a medicalização é a espinha dorsal de tratamento, porém a mesma foi privada de ter outro tipo de tratamento com medidas integradas que incluem todos os níveis de intervenção incluindo a terapia. BIBLIOGRAFIA BARBOSA, Regina Cláudia. Esquizofrenia: Uma revisão. UNIFESP FIGUEIREDO, Ana Cristina e TENORIO Fernando. O diagnóstico em Psiquiatria e Psicanálise. SERTORI, Ana Maria e CONCEIÇÃO, Maria. Cotidiano dos portadores de Esquizofrenia, após uso de um antipsicótico atípico e acompanhamento em grupo: visão familiar. NASI, Cintia e SERDOTTE, adriana. Conceito de integralidade na atenção em saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica. CRISTINA, Erica e COSTA, Abilio. Problematizando a reforma psiquiátrica na atualidade: a saúde mental como campo de práxis.
Compartilhar